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Processo Coletivo
Processo Coletivo
PROCESSO COLETIVO
Organizado por CP Iuris
ISBN 978-85-5805-032-6
PROCESSO COLETIVO
1º Edição
Brasília
CP Iuris
2019
Sumário
1. ORIGEM: ...................................................................................................................................4
2. TUTELA COLETIVA NO BRASIL: ..................................................................................................5
3. CLASSIFICAÇÃO DOS INTERESSES METAINDIVIDUAIS: ..............................................................6
4. DIREITOS ACIDENTALMENTE COLETIVOS, DIREITOS PSEUDOINDIVIDUAIS E DIREITOS
PSEUDOCOLETIVOS: .....................................................................................................................7
5. PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO: ...................................................................8
5.4. Princípio da participação: ................................................................................................14
6. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E LITICONSÓRCIO NO PROCESSO
COLETIVO: .............................................................................................................................15
7. LEGITIMIDADE: .......................................................................................................................19
8. COISA JULGADA:..............................................................................................................27
9. LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DA SENTENÇA COLETIVA: .............................................................34
10. EXECUÇÃO ............................................................................................................................36
11. CONCLUSÃO .........................................................................................................................38
1. ORIGEM:
4
2. TUTELA COLETIVA NO BRASIL:
a) CF;
b) Ação Popular (Lei nº 4717/65);
c) Ação Civil Pública (Lei nº 7347/85);
d) Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92);
e) CDC (Lei nº 8.078/90);
f) ECA (Lei nº 8.069/90);
g) Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03);
h) Mandado de Segurança coletivo (Lei nº 12.016/09);
i) Estatuto da pessoa com deficiência (Lei nº 13.146/15).
5
➢ Processo coletivo especial: refere-se às ações objetivas para controle
abstrato de constitucionalidade. Exemplo: ADI, ADC, ADPF etc.
Inicialmente, impende destacar que não há na lei distinção entre direito coletivo e
interesse coletivo. Porém, é possível distingui-los da seguinte forma: interesse é o bem
da vida pretendido; já o direito é o reconhecimento, pelo ordenamento, daquele interesse.
O ordenamento jurídico brasileiro, contudo, trata-os como sinônimos.
Quando se fala em classificação dos interesses metaindividuais, a quase totalidade
dos estudiosos sobre o assunto classifica tais interesses a partir da relação jurídica em
litígio dos destinatários do interesse em jogo e, finalmente, da divisibilidade ou não
do bem da vida tutelado.
Atualmente, a matéria encontra respaldo no Artigo 81 do Código de Defesa do
Consumidor. Segundo Hermes Zaneti Jr., tem-se uma fusão entre o direito subjetivo
envolvido e a tutela jurisdicional buscada:
6
restituição de valores decorrentes de abusividade em cláusula de contrato
bancário de abertura de conta-corrente; ex.: acidente aéreo.
7
5. PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO:
➢ Art. 2º da LACP:
➢ Art. 93 do CDC:
8
Para o STJ, o art. 93 do CDC não se limita aos direitos individuais homogêneos e
muito menos às demandas que versam sobre relação de consumo. Aplica-se, portanto, a
todas as ações civis públicas.
Para o STF, não se aplica a regra do art. 109, § 3º, da CF, que se limita às ações
previdenciárias. Ademais, o art. 93 do CDC expressamente ressalva a competência da
justiça federal (“Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa
a justiça local:”)
9
➢ Função atribuída ao Conselho Superior do MP para rever pedido de
arquivamento do inquérito civil, formulado por Promotor de Justiça
(art. 9º e seus parágrafos da Lei 7347/85).
10
➢ Possibilidade de o MP assumir a titularidade da ação coletiva em caso
de desistência ou abandono da ação pela associação autora (art. 5º, §
3º, da Lei nº 7.347/85):
11
➢ 3ª Corrente: extinção do feito, nos termos do art. 485, VIII, do CPC. É a
corrente mais consentânea com o microssistema de tutela da coletividade,
ou seja, é a primeira.
Por fim, impende destacar que se o MP pode desistir da ação, por via
consequencial, não está obrigado a apelar da sentença.
Vê-se, assim, que não há uma taxatividade ou tipicidade de ações para a tutela dos
direitos e interesses coletivos. Logo, não é o nome dado à ação que revelará a sua natureza
coletiva, mas sim os direitos tutelados.
É importante registrar ainda que a despeito da redação do art. 3º da Lei nº
7.347/85, é plenamente possível a cumulação de pedido de condenação em dinheiro com
pedido de obrigação de fazer
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Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou
o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a
sentença condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de
recompor o meio ambiente degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de
compensação por dano moral coletivo. Isso porque vigora em nosso sistema jurídico o princípio
da reparação integral do dano ambiental, que, ao determinar a responsabilização do agente por
todos os efeitos decorrentes da conduta lesiva, permite a cumulação de obrigações de fazer, de
não fazer e de indenizar. Ademais, deve-se destacar que, embora o art. 3º da Lei 7.347/1985
disponha que "a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer", é certo que a conjunção "ou" - contida na citada norma, bem
como nos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei 6.938/1981 - opera com valor aditivo, não introduzindo,
portanto, alternativa excludente. Em primeiro lugar, porque vedar a cumulação desses remédios
limitaria, de forma indesejada, a Ação Civil Pública - importante instrumento de persecução da
responsabilidade civil de danos causados ao meio ambiente -, inviabilizando, por exemplo, as
condenações em danos morais coletivos. Em segundo lugar, porque incumbe ao juiz, diante das
normas de Direito Ambiental - recheadas que são de conteúdo ético intergeracional, o qual é
atrelado às presentes e futuras gerações -, levar em conta o comando do art. 5º da LINDB, segundo
o qual, ao se aplicar a lei, deve-se atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum". O corolário desse bem comum é a constatação de que, em caso de dúvida ou outra
anomalia técnico redacional, a norma ambiental demanda interpretação e integração de acordo
com o princípio hermenêutico in dubio pro natura, haja vista que toda a legislação de amparo dos
sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos há sempre de ser compreendida da
maneira que lhes seja mais proveitosa e melhor possa viabilizar, na perspectiva dos resultados
práticos, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma. Por fim, a interpretação sistemática
das normas e princípios ambientais leva à conclusão de que, se o bem ambiental lesado for
imediata e completamente restaurado, isto é, restabelecido à condição original, não há que se
falar, como regra, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no futuro, de restauração in
natura nem sempre se mostra suficiente para reverter ou recompor integralmente, no âmbito da
responsabilidade civil, as várias dimensões do dano ambiental causado. Por isso não exaure os
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deveres associados aos princípios do poluídor-pagador e da reparação integral do dano. Cumpre
ressaltar que o dano ambiental é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente
falando, sensível ainda à diversidade do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado
à coletividade, às gerações futuras e aos processos ecológicos em si mesmos considerados). Em
suma, equivoca-se, jurídica e metodologicamente, quem confunde prioridade da recuperação in
natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de
repristinação natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro
(obrigação de dar), e abstenção de uso e nova lesão (obrigação de não fazer). REsp 1.328.753-
MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013.
O processo coletivo permite uma atuação mais efetiva do julgador. O Brasil adota
um sistema misto (dispositivo e inquisitivo) de estruturação do processo, permitindo,
muitas vezes, atuação de ofício do juiz (ex.: determinação, de ofício, de produção de
prova – art. 370 do CPC).
O princípio do impulso oficial, todavia, está mais relacionado ao impulso oficial,
haja vista que prepondera o princípio do dispositivo (art. 2º do CPC).
Por fim, esse ativismo pode ser extraído de dois dispositivos importantes:
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➢ Art. 139, X, do CPC: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições
deste Código, incumbindo-lhe: X - quando se deparar com diversas
demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a
Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se
referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei
no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a
propositura da ação coletiva respectiva”.
6.1. Assistência:
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“Pode ser admitido litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério
Público Federal, o Ministério Público Estadual e o Ministério
Público do Trabalho em ação civil pública que vise tutelar pluralidade
de direitos que legitimem a referida atuação conjunta em juízo” (STJ,
INF 549 - REsp 1.444.484-RN).
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de
que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes,
sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social
por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
O legitimado ativo na ação popular é o cidadão eleitor (art. 1º, § 3º, da Lei nº
4.717/65). Logo, qualquer outro cidadão poderá ingressar na ação popular como
assistente. Nesse sentido é o § 5º do art. 6º da Lei 4.717/65:
16
6.2. Intervenção móvel (ou migração polar):
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta
dias da efetivação da medida cautelar.
Assim, a pessoa jurídica de direito público terá três opções: 1ª) manter-se no polo
passivo e responder à ação; 2ª) abster-se de responder; 3ª) não responder e deslocar-se do
polo passivo para o polo ativo, passando a atuar ao lado do autor.
Via de regra é possível em demandas coletivas. Há, entretanto, uma vedação legal
específica, contida no art. 88 do CDC:
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de
regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a
possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a
denunciação da lide.
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Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo
anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem
ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,
produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
segundo sua participação na causação do evento danoso.
Por se tratar de responsabilidade solidária, parte da doutrina defende que não seria
caso de denunciação da lide, mas sim chamamento ao processo. Ademais, embora o art.
13 do CDC esteja inserido na seção que trata da responsabilidade por fato do produto ou
serviço, o entendimento que vem prevalecendo é o de que a proibição do art. 88 do CDC
não se restringe à aludida seção.
Por fim, não se pode perder de vista que a alegação quanto à impossibilidade de
denunciação da lide em demandas envolvendo relação de consumo tem o propósito de
proteger o consumidor. Ressalta-se, então, que se o juiz admitiu e o consumidor não se
insurgiu, não cabe ao fornecedor alegar a regra do art. 88 em seu benefício. É esse o
entendimento do STJ:
Descabe ao denunciado à lide, nas relações consumeristas, invocar em seu benefício a regra
de afastamento da denunciação (art. 88 do CDC) para eximir-se de suas responsabilidades
perante o denunciante. Cingiu-se a controvérsia em analisar a exclusão de corréu denunciado
à lide em relação consumerista quando a insurgência não é arguida pelo consumidor. De fato, o
Superior Tribunal de Justiça já uniformizou entendimento de que a vedação à denunciação da
lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de comerciante por fato do
produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade civil
por acidentes de consumo. Foi propósito do legislador não permitir a denunciação da lide de modo
a não retardar a tutela jurídica do consumidor, dando celeridade ao seu pleito indenizatório,
evitando a multiplicação de teses e argumentos de defesa que dificultem a
identificação da responsabilidade do fornecedor do serviço. Assim, se, de um lado, a
denunciação da lide (CPC/1973, art. 70) é modalidade de intervenção de terceiros que favorece
apenas o réu denunciante (fornecedor, no caso), na medida em que este objetiva a
responsabilização regressiva do denunciado, de outro lado, a norma do art. 88 do CDC
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consubstancia-se em regra insculpida totalmente em benefício do consumidor, atuando em prol
do ressarcimento de seus prejuízos o mais rapidamente possível, em face da responsabilidade
objetiva do fornecedor. Na hipótese, porém, de deferimento da denunciação sem insurgência
do consumidor legitimado a tal, opera-se a preclusão, sendo descabido ao corréu fornecedor
invocar em seu benefício a regra de afastamento da denunciação. Trata-se de direito subjetivo
público assegurado ao consumidor para a facilitação de sua defesa. REsp 913.687-SP, Rel. Min.
Raul Araújo, por unanimidade, julgado em 11/10/2016, DJe 4/11/2016.
7. LEGITIMIDADE:
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Vem prevalecendo na doutrina e na jurisprudência a 1ª corrente (legitimação
extraordinária por substituição processual). Contudo, em relação às associações, veremos
mais adiante que há duas situações que não podem ser confundidas.
7.1. Legitimados:
7.1.1. Cidadão:
Sua legitimação é limitada à ação popular (art. 1º, caput, da Lei 4.717/65);
A legitimidade decorre das suas atribuições institucionais (art. 129, III, CF; art.
5º, I, da Lei nº 7347/85; art. 82, I, do CDC).
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE DO MP PARA AJUIZAR AÇÃO
COLETIVA EM DEFESA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DOS
BENEFICIÁRIOS DO SEGURO DPVAT. O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar
ação civil pública em defesa dos direitos individuais homogêneos dos beneficiários do seguro
DPVAT. Isso porque o STF, ao julgar o RE 631.111-GO (Tribunal Pleno, DJe 30/10/2014),
submetido ao rito do art. 543-B do CPC, firmou o entendimento de que Órgão Ministerial tem
legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos individuais homogêneos
dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente na tutela
jurisdicional das vítimas de acidente de trânsito beneficiárias pelo DPVAT, bem como as
relevantes funções institucionais do MP. Consequentemente, é imperioso o cancelamento da
súmula 470 do STJ, a qual veicula entendimento superado por orientação jurisprudencial do STF
firmada em recurso extraordinário submetido ao rito do art. 543-B do CPC. REsp 858.056-GO,
Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/5/2015, DJe 5/6/2015.
Por outro lado, o STJ entendeu que o Ministério Público não tem legitimidade
para ajuizar ação coletiva objetivando obter informações de consumidores protegidas pelo
sigilo bancário. Isso porque trata-se de interesse personalíssimo que diz respeito ao
próprio consumidor.
21
o exercício monopolista do poder sancionador do Estado, nos casos de prática de ilícitos penais e
administrativos. Por outro lado, não se pode ignorar que as informações prestadas no bojo de
processos judiciais ou administrativos deve observar a restrição de acesso às partes, que delas não
podem "servir-se para fins estranhos à lide" (art. 3º, da LC n. 105/2001). Observe-se que, quando
não se está diante de qualquer conduta imputável ao cliente bancário, mas de mera tutela de
interesse do consumidor, não se olvida que a proteção do sigilo possa ser objeto de afastamento
em benefício do titular do direito, uma vez que não pode a instituição financeira negar acesso
àquelas informações a seu cliente. Isso porque a proteção é instaurada em prol do consumidor,
daí que, por consequência lógica, não pode ser a ele mesmo oposta. Por outra via, porém, não se
pode pretender alargar a legitimidade para o afastamento temporário do sigilo legalmente
assegurado, a fim de abarcar o Ministério Público, enquanto autor de uma ação civil pública, a
dispor de uma garantia personalíssima e requerer a divulgação irrestrita de dados protegidos.
Ainda que o intuito declarado pelo parquet seja tão somente o de colher provas que demonstrem
a utilização reiterada da venda casada como prática de mercado pelas instituições financeiras, não
se pode chancelar tamanha invasão indiscriminada à intimidade do consumidor. Desse modo,
enquanto legitimado extraordinário, não é dado ao MP atuar de forma dispositiva, abrindo mão
de interesses personalíssimos, em nome de quem é por ele substituído na demanda. Por fim, deve-
se ainda assentar que a publicidade que deve ser dada à propositura de ação civil pública não tem
a propriedade de flexibilizar direitos a privacidade e intimidade com intuito, ao fim e ao cabo, de
facilitar o trabalho investigativo do parquet, aproveitando-se da natural assimetria de poder do
Estado frente os particulares. REsp 1.611.821-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por
unanimidade, julgado em 13/6/2017, DJe 22/6/2017.
7.1.3. Associações:
Trata-se de legitimação que decorre de previsão expressa dos arts. 5º, V, da Lei nº
7.347/85 e 82, IV, do CDC. Para que a associação proponha uma ação coletiva, devem
ser observados três requisitos:
➢ Constituição nos termos da lei civil: registro perante o Registro Civil das
P.Js;
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“O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz,
nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, OU pela relevância do bem jurídico a
ser protegido” (art. 82, § 1º, do CDC). (grigei)
1
10. FERRARESI, Eurico. Ação popular, ação civil pública e mandado de segurança
coletivo: instrumentos processuais coletivos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.112.
23
Não obstante a redação do § 1º do art. 82 do CPC, o STJ vem, a cada dia, exigindo
maior representatividade do autor da ação coletiva.
24
devidamente fundamentado, o magistrado exerça, mesmo que de ofício, o controle de idoneidade
(adequação da representatividade) para aferir/afastar a legitimação ad causam de
associação. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015, DJe
26/10/2015.
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associados? A resposta há de ser negativa. Isso porque o art. 5º, LXX, da CF, prevê que
“o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com
representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados” (grifei).
Note que o dispositivo não exige autorização dos associados para a impetração do
MS coletivo pela associação. Isso significa que quando se tratar de MS coletivo, a
associação não atuará como representante dos associados, mas sim como verdadeira
substituta processual (legitimação extraordinária).
Tem legitimidade para ajuizar ação coletiva as pessoas jurídicas que compõem a
administração púbica direta e indireta. A legitimidade da União, Estados, Municípios e
Distrito Federal está prevista nos arts. 5º, III, da Lei nº 7.347/85 e 82, II, do CDC. Já a
legitimidade das empresas públicas e sociedades de economia mista está prevista nos arts.
5º, IV, da Lei nº 7.347/85 e 82, III, do CDC.
A doutrina majoritária entende que em se tratando de pessoa jurídica da
administração pública, direta ou indireta, deve haver a demonstração da pertinência
temática para que a legitimidade seja admitida. Exige-se, assim, a pertinência entre o
interesse tutelado e os limites territoriais de atuação da pessoa jurídica ou de suas
finalidades institucionais.
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O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar os requisitos legais para a atuação
coletiva da Defensoria Pública, encampa exegese ampliativa da condição jurídica de
"necessitado", de modo a possibilitar sua atuação em relação aos necessitados jurídicos
em geral, não apenas dos hipossuficientes sob o aspecto econômico. (AgInt no REsp
1510999/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 08/06/2017, DJe 19/06/2017).
Com efeito, à luz do entendimento do STJ, podem ser apontadas, dentre outras, as
seguintes hipóteses de legitimidade da Defensoria Pública:
8. COISA JULGADA:
8.1. Conceito:
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8.2. Regime jurídico da coisa julgada coletiva:
O regime jurídico da coisa julgada coletiva é extraído do art. 103 do CDC, que
funciona como regra geral do microssistema da tutela coletiva. Vejamos as hipóteses:
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Trata-se de coisa julgada ultra partes e secundum eventum probationis. Será
formada nos processos envolvendo direitos coletivos em sentido estrito (por isso
ultrapartes e não erga omne).
Aplica-se, aqui, tudo o que foi dito no inciso anterior.
Registre-se, contudo, que o § 1º do art. 103 do CDC dispõe que os efeitos da coisa
julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos
integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81:
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impossível estender a autoridade da decisão proferida por esta Corte a
todas as demais ações em curso nos outros Estados da Federação e no
Distrito Federal, seja porque não dotado o acórdão de efeito vinculante,
seja por envolver, formalmente, processos distintos submetidos a
diferentes órgãos jurisdicionais. 5. Reclamação não conhecida. Pedido
de reconsideração prejudicado. (Rcl 32.937/RN, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/06/2017, DJe 01/08/2017).
Note, assim, que em caso de procedência, a coisa julgada será erga omnes, pois
beneficiará os indivíduos que foram lesados pelo ato que gerou a propositura da ação
coletiva. Trata-se da chamada extensão dos efeitos da coisa julgada ao plano individual
in utilibus, ou seja, o indivíduo poderá se valer da coisa julgada para requerer, no plano
individual, a liquidação e execução (cumprimento) da sentença coletiva.
Essa possibilidade de aproveitamento da coisa julgada coletiva no plano
individual é denominada de transporte in utilibus da coisa julgada e será estudado no
próximo item:
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desta, não poderá ser beneficiado pelos efeitos da coisa julgada produzidos na ação
coletiva.
É o que se infere do texto do art. 104 do CDC. Vejamos:
Art. 16 da LACP: “A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos
limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido
for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova”.
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objetivo de proteger a Fazenda Pública. A mesma regra consta do art. 2º-A da Lei nº
9.494/97.
Trata-se de regra muito criticada, pois apresenta uma limitação territorial à coisa
julgada, o que não poderia existir, haja vista o direito tutelado (transindividual) e a
necessidade de unidade da jurisdição e do próprio direito.
Num primeiro momento, a 2ª Seção do STJ, no EREsp 411.529/SP, entendeu quo
art. 16 aplicar-se-ia a qualquer espécie de direito tutelado pelo microssistema coletivo,
inclusive o direito individual homogêneo. O entendimento que vinha prevalecendo,
portanto, era o da aplicação literal do art. 16 (limitação territorial);
A Corte Especial do STJ, no REsp 1.243.887/PR, Rel. Luís Felipe Salomão, fez
uma interpretação do art. 16 da LACP, à luz dos arts. 93 e 103 do CDC, para afastar a
limitação territorial. Segundo o Relator, o aludido dispositivo confunde institutos
jurídicos (coisa julgada e competência territorial) e é incompatível com a natureza dos
direitos tutelados.
Esta é a posição atual do STJ (ausência de limitação territorial) dos efeitos da coisa
julgada coletiva.
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3. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp
1243887/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE
ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe 12/12/2011).
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Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança
coletivo podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou
categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
2
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo, volume único, 3ª
edição, revista e atualizada. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 368-370.
3
DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR, Hermes. Curso de direito processual civil, volume 4, 11ª
edição. Salvador: Juspodivm, 2017, p.439-441.
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A sentença proferida em processo coletivo é um título executivo judicial (art. 515
do CPC). Nas ações coletivas, a sentença será, via de regra, genérica (art. 95 do CDC).
Logo, será necessária a sua prévia liquidação antes de se iniciar a fase de cumprimento
(execução).
Quando se tratar de execução coletiva, a liquidação terá por objetivo a aferição do
quantum debeatur. Contudo, quando se tratar de liquidação individual da sentença
coletiva, a liquidação ganha contornos mais amplos. É que a liquidação servirá, a um só
tempo, para a aferição da titularidade do crédito (o indivíduo deve demonstrar que foi
atingido pelo ato e, consequentemente, beneficiado pela sentença coletiva) assim como
aferição do quantum debeatur.
Diante dessa peculiaridade, é que a doutrina a denomina de liquidação
imprópria.
9.1. Legitimidade:
9.2. Competência:
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➢ Tratando-se de liquidação como fase subsequente à fase de
conhecimento, por uma questão óbvia, a competência será do juízo que
processou e julgou o feito (competência funcional).
A sentença proferida em ação coletiva que verse sobre direitos difusos e coletivos
em sentido estrito pode ser líquida ou ilíquida, independentemente de o autor ter
formulado pedido determinado ou genérico.
Sendo a sentença ilíquida, a execução pressupõe a prévia liquidação, que será por
arbitramento ou artigos.
10. EXECUÇÃO
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➢ Execução coletiva: tratando-se de sentença coletiva fundada em direitos
difusos ou coletivos em sentido estrito, a execução será, via de regra,
coletiva, ou seja, o legitimado extraordinário requererá o cumprimento da
sentença, objetivando a satisfação do direito reconhecido na sentença. O
ideal é que a execução possibilite a obtenção de uma tutela específica (ex.:
tutela inibitória ou obrigação de fazer). Quando a execução tiver por objeto
a obrigação de pagar quantia certa, o valor auferido deverá ser revertido
para a pessoa jurídica de direito público lesada ou, quando não for o caso,
o valor será revertido ao fundo previsto no art. 13 da Lei nº 7.347/85.
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➢ Execução pseudocoletiva: o STF entende que os legitimados do art. 82
do CDC têm legitimidade tanto para a ação de conhecimento quanto para
a liquidação e execução, ainda que a ação verse sobre direitos individuais
homogêneos. Note que, em verdade, uma vez sentenciado, o interesse
passa a ser puramente individual. Diante disso, a doutrina chama essa
forma de execução pseudocoletiva (ou execução individual plúrima)
Impende destacar que ainda que transcorrido o prazo de um ano (art. 100 do CDC),
o lesado poderá requerer a liquidação e execução no plano individual. A inobservância
do referido prazo não gera perda do direito à liquidação e execução individual, mas apenas
compõe o suporte para o exercício da legitimação extraordinária subsidiária.
Por fim, registre-se que o STF firmou entendimento no sentido de que a liquidação
e execução dos acórdãos por ele proferidos em ações coletivas devem ser realizadas
perante o juízo de primeiro grau. Em outras palavras, não compete ao STF processar a
liquidação e execução de acórdão por ele proferidos em ações coletivas.
11. CONCLUSÃO
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servindo, ainda, de material de apoio para revisão do conteúdo ministrado em sala de aula
no curso CPIURIS.
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