Você está na página 1de 28

ELEMENTOS ACIDENTAIS

EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO


DIREITO CIVIL – PARTE GERAL II
São três os elementos acidentais do negócio jurídico:
a condição, o termo e o encargo ou modo.

São admitidos nos atos de natureza patrimonial em geral


(com algumas exceções, ex: aceitação e renúncia da herança),
mas não podem integrar os de caráter eminentemente pessoal,
como os direitos de família puros e os direitos personalíssimos.

São elementos que se acrescentam à figura típica do ato para


mudar seus respectivos efeitos, pois acarretam modificações em
sua eficácia ou em sua abrangência.
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

• Doação condicionada ao casamento;


• Venda da safra condicionada à colheita.

Elementos necessários:
a) que a cláusula seja voluntária;
b) que o acontecimento seja futuro (futuridade);
c) que também seja incerto (incerteza).
A : o indivíduo nasce e tem a
de que um dia irá morrer, mesmo que não saiba quando.
Trata-se de um .
Ex: doação condicionada ao falecimento de um parente: obrigo-me a
transferir a terceiro a minha fazenda, quando o meu tio, que lá mora, falecer.

Mas, existe a hipótese de a morte vir a ser considerada condição.


Se a doação, for subordinada à morte .

Ex: doarei a fazenda, se o meu tio falecer até o dia 5.

O acontecimento é uma condição, uma vez que, neste caso, haverá incerteza
quanto à própria ocorrência do fato dentro do prazo que se fixou.
As condições são admitidas nos atos de natureza patrimonial em geral, mas
não podem integrar os de caráter patrimonial pessoal, como os direitos
de família puros e os direitos personalíssimos.

Não comportam condição, por exemplo, o casamento, o reconhecimento


de filho, a adoção, a emancipação etc.

São atos geralmente ligados ao Direito de Família ou ao Direito das


Sucessões e que devem constituir-se de maneira definitiva,
criando uma situação permanente.

Os atos que não admitem condição denominam-se atos puros.


1º - Quanto ao modo de atuação a condição pode ser: suspensiva ou resolutiva.

2º - Quanto ao plano fenomenológico as condições podem ser: positivas ou negativas.

3º - Quanto à licitude, as condições podem ser ainda: lícitas ou ilícitas.

4º - Quanto à possibilidade as condições podem ser possíveis e impossíveis. Estas podem


ser física ou juridicamente impossíveis.

5º - Quanto à origem/fonte as condições poderão ser: casuais, potestativas ou mistas.


Art. 125. Subordinando-se a eficácia do Art. 127. Se for resolutiva a condição,
negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não realizar, vigorará o
enquanto esta se não verificar, não se negócio jurídico, podendo exercer-se desde a
terá adquirido o direito, a que ele visa. conclusão deste o direito por ele estabelecido.

A EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO O NEGÓCIO JURÍDICO É EFICAZ,


FICA SUSPENSA ATÉ A REALIZAÇÃO PRODUZ EFEITOS ATÉ QUE OCORRA
OU VERIFICAÇÃO DA CONDIÇÃO. A CONDIÇÃO, APÓS CONCRETIZADA A
CONDIÇÃO ELE É EXTINTO.
Tem apenas expectativa de direito.
Em regra, extingue o direito, mas se for um negócio de
execução continuada ou periódica, a sua realização não
tem eficácia quanto aos atos já praticados. (art. 128)
: consistem na verificação de um fato, ou seja, a
verificação do evento futuro e incerto desencadeia os efeitos do
negócio.
Ex: usufruto de um imóvel para obter de renda até a colação de
grau em curso superior.

: consistem na inocorrência de um fato, ou seja, não


verificação de um fato estabelecido.
Ex: empréstimo de uma casa a um amigo, até que a enchente deixe
de assolar a sua cidade.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou
aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito
o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

• A licitude exige compatibilidade, não apenas com o direito positivo, mas também
com o indispensável respeito ao padrão de moralidade média da sociedade,
enquadrável no conceito indeterminado de bons costumes.

• Serão ilícitas todas as que atentarem contra proibição expressa ou virtual do


ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes.

• Proíbe também as condições que privarem de todo efeito o negócio jurídico


(perplexas); as que o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes
(puramente potestativas).
As – incompreensíveis ou contraditórias – são aquelas
que privam de todo o efeito o negócio jurídico celebrado.
• Ex: um contrato de comodato em que se estabeleça o seguinte: “Empresto o imóvel,
desde que você não more nele e não o alugue”.
• As condições incompreensíveis ou contraditórias invalidam o próprio negócio jurídico
que lhes é subordinado (art. 123, III).

As , que são aquelas que


derivam do exclusivo arbítrio de uma das partes.
• Caracterizam-se pelo uso de expressões como: “se eu quiser”, “caso seja do interesse
deste declarante”.
• Traduzem arbítrio injustificado, senão abuso de poder econômico, em franco
desrespeito ao princípio da boa-fé objetiva.
Possíveis são aquelas que podem ser cumpridas, física e juridicamente,
não influindo na validade do negócio.

São irrealizáveis por qualquer pessoa, ou seja, cujo implemento exigiria


esforço sobrenatural. Ex: atravessar a cidade correndo em dois
segundos ou que toque o céu com o dedo.
Se tiver natureza suspensiva, invalidará o negócio que lhe for
subordinado Se tiver cunho resolutivo, ou for de não fazer coisa
impossível, será reputada inexistente (art. 124 do CC-02).

São consideradas ilícitas, por contrariarem o direito.


A consequência é a invalidade do negócio jurídico, assim como
ocorre em uma condição considerada ilícita.
Ex: negócio jurídico condicionado à alienação de bem de uso comum
do povo; condição de adotar pessoa da mesma idade; negócio que
tenha por objeto herança de pessoa viva; condição de cometer crime
ou de se prostituir.
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando


resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.
Casuais = dependem do acaso, evento fortuito, natural, alheio à vontade das partes. Ex.: “Doarei a
quantia em dinheiro se chover amanhã”. É também casual a condição que subordina a obrigação a um
acontecimento que depende da vontade exclusiva de um terceiro.

Potestativas = dependem da vontade de uma das partes, que pode provocar ou impedir sua
ocorrência. Simplesmente potestativas, não demonstram capricho, são admitidas pelo direito. Puramente
potestativas, são arbitrárias, por isso vedadas (ilícitas).
• Se a condição nasce potestativa, mas vem a perder tal característica por fato superveniente alheio à
vontade do agente, é promíscua. Por exemplo, é de início puramente potestativa a condição de escalar
determinado morro, mas perderá esse caráter se o agente sofrer algum problema físico torne incerto o
implemento da condição. Nesse caso, a condição transforma-se em promíscua.

Mistas = derivam não apenas da vontade de uma das partes, mas também de um fator ou
circunstância exterior, como a vontade de um terceiro. Ex.: “darei o capital de que necessita, se formares
a sociedade com fulano” ou se determinar o casamento com tal pessoa.
A eficácia da liberalidade, nesses casos, não depende somente da vontade do beneficiário, mas, também, do
consentimento de terceira pessoa para o casamento ou para a constituição da sociedade.
As condições podem ser consideradas sob três estados.
Enquanto não se verifica ou não se frustra o evento futuro e incerto, a
condição encontra-se pendente. A verificação da condição denomina-se
implemento. Não realizada, ocorre a frustração da condição.

• Pendente a condição suspensiva, não se terá adquirido o direito a que visa o negócio
jurídico.

• Na condição resolutiva, o direito é adquirido desde logo, mas pode extinguir-se, para
todos os efeitos, se ocorrer o seu implemento.

• Se for um negócio de execução continuada ou periódica, não tem eficácia quanto aos
atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
conforme aos ditames de boa-fé.
• Frustrada a condição considera-se como nunca tendo existido o negócio. Se a
condição for suspensiva, o ato não produzirá efeitos, não mais subsistindo os até então
verificados. Cessa a expectativa de direito.

• Se a condição for resolutiva, os efeitos tornam-se definitivos. O ato, que era


condicionado, considera-se simples.

• Art. 129: Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer,
considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada
a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.
Acontecimento futuro e certo que subordina o início ou o término da
eficácia jurídica de determinado ato negocial.

É o dia ou momento em que começa ou se extingue a eficácia do negócio


jurídico, podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano.

Não suspende a aquisição do direito por ser evento futuro, mas dotado
de certeza, por isso, não há pendência. O titular do direito a termo pode,
com maior razão, exercer sobre ele atos conservatórios.
Termo é o aposto no contrato pela vontade das partes. Termo
ou de direito é o que decorre da lei. Termo de é a dilação de prazo
concedida ao devedor.

Pode ocorrer que o termo, embora certo e inevitável no futuro, seja incerto quanto à
data de sua verificação. Exemplo: determinado bem passará a pertencer a tal pessoa a
partir da morte de seu proprietário.

A morte é certa, mas não se sabe quando ocorrerá. Neste caso, a data é .
Sob esse aspecto, o termo pode ser dividido em incerto, como no referido exemplo, e
, quando se reporta a determinada data do calendário ou a determinado lapso
de tempo: “no dia 13 de abril de 2020” ou “da data de hoje a 10 dias”.
Pode ser ou
É essencial quando o efeito pretendido deva ocorrer em momento bem preciso, sob pena
de, verificado depois, não ter mais valor. Exemplo: a entrega de um vestido para uma
cerimônia, se o vestido for entregue depois, não tem mais a utilidade visada pelo credor.

Há, também, termo ou suspensivo (dies a quo) e ou resolutivo (dies ad


quem). Se for celebrado, por exemplo, um contrato de locação no dia 20 de determinado
mês para ter vigência no dia 1º do mês seguinte, esta data será o termo inicial. Se também
ficar estipulada a data em que cessará a locação, esta constituirá o termo final.

Se não há data para o cumprimento, diz-se que é puro e instantâneo, de exigibilidade


imediata. Nada impede, outrossim, que as partes acordem data certa para extinção dos
efeitos do contrato, hipótese em que se estará diante de um termo final.
O período de tempo entre os termos inicial e final denomina-se PRAZO.
O prazo é certo ou incerto, conforme também o seja o termo.

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os


prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1.º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo
até o seguinte dia útil.
§ 2.º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3.º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou
no imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4.º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
• Exclui o dia do começo e inclui o do vencimento;
• Se cair em feriado é prorrogado o prazo até o seguinte dia útil;
• Meado = 15º (décimo quinto) dia;
• Prazo em meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou
no imediato – ex: 25/04/2018 – prazo de um ano = 25/04/2019;

• Prazos por hora são contados de minuto a minuto – ex: 48 horas.


Realizado o ato, já surgem o crédito e o débito, estando os
mesmos apenas com a exigibilidade suspensa.

Por isso, não há, no caso de antecipação do pagamento,


enriquecimento sem causa do credor, como ocorreria se se
tratasse de negócio sob condição suspensiva.

A antecipação do pagamento é simplesmente uma faculdade, e


não uma obrigação do devedor.
Determinação acessória acidental do negócio jurídico que impõe ao beneficiário um
ônus/obrigação a ser cumprido, em prol de uma liberalidade maior,
típica dos negócios gratuitos.

É admissível, também, em declarações unilaterais da vontade,


como na promessa de recompensa.

É comum nas doações feitas ao município, em geral com a obrigação de construir um


hospital, escola, creche ou algum outro melhoramento público; e nos testamentos, em que
se deixa a herança a alguém, com a obrigação de cuidar de determinada pessoa ou de
animais de estimação.

Identificado pelas expressões “para que”, “a fim de que”, “com a obrigação de”.
É OBRIGATÓRIO = cumprimento pode ser exigido por meio de ação cominatória.

Por essa razão, se o beneficiário morrer antes de cumpri-lo, a liberalidade prevalece.


Da mesma forma, na hipótese de ser sido previsto em testamento, aberta a sucessão,
o domínio e a posse dos bens deixados transmitem-se desde logo aos herdeiros
nomeados, com a obrigação, porém, de cumprir o encargo a eles imposto.
Se esse encargo não for cumprido, a liberalidade poderá ser revogada.

O art. 553 do Código Civil estabelece que “o donatário é obrigado a cumprir os


encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse
geral”. Acrescenta o parágrafo único: “Se desta última espécie for o encargo, o
Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este
não tiver feito”.
Não suspende a aquisição nem o exercício do direito, ressalvada a hipótese de haver sido
fixado o encargo como condição suspensiva.

Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no
negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

Por isso, o não cumprimento do encargo não gera a invalidade do negócio, e sim a
possibilidade de sua cobrança judicial, ou a posterior revogação, como no caso de ser
instituído em doação - Art. 562: a doação onerosa pode ser revogada por inexecução do
encargo, se o donatário incorrer em mora.

Ninguém pode ser obrigado a cumprir uma condição.


O encargo é coercitivo e não suspensivo.
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir
o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.

O encargo deve ser lícito e possível.

Se fisicamente impossível ou ilícito, tem-se como inexistente.

Se o seu objeto constituir-se em razão determinante da liberalidade, o defeito


contaminará o próprio negócio, que será declarado nulo.

Assim, por exemplo, se a doação de um imóvel é feita para que o donatário nele
mantenha casa de prostituição (atividade ilícita), sendo esse o motivo determinante ou a
finalidade específica da liberalidade, será invalidado todo o negócio jurídico.

Você também pode gostar