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Defeito social: há a intenção subsidiária de diminuir o patrimônio para impedir que seus
bens sejam objeto de constrição judicial na satisfação dos direitos de credores. Portanto,
a lei visa tutelar os interesses dos credores estranhos à relação negocial inválida.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Erro substancial ou essencial - sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio.
É o caso do colecionador que, pretendendo adquirir uma estátua de marfim, compra, por
engano, uma peça feita de material sintético.
Acidental é o erro que não acarretam efetivo prejuízo, ou seja, a qualidades secundárias
do objeto ou da pessoa. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negócio seria realizado.
Art. 139. O erro é substancial quando:
b) Erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore) – identidade do objeto. Ex: um terreno situado em
rua importante, mas, na verdade, localizado em rua do mesmo nome de outra localidade; pessoa que adquire um
quadro de um aprendiz, achando que era do pintor famoso;
c) Erro sobre qualidades essenciais do objeto (error in substantia) – suposição de que o objeto possui determinada
qualidade que se verifica inexistir. Ex: pessoa que adquire candelabros prateados, mas de material inferior, julgando
serem de prata; indivíduo compra um relógio dourado, folheado a ouro, como se fosse de ouro maciço.
d) Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa (error in persona) – Ex: doação ou deixa testamentária a
pessoa que o doador achou ser seu filho natural; casamento de uma jovem de boa formação com indivíduo que
vem a saber depois ser um desclassificado.
e) Erro de direito (error juris) – É o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica
aplicável à situação concreta. Ex: jurisprudência pacificada no TJSC, orienta-se por essa interpretação da lei. Sendo
diversa, no entanto, a jurisprudência do STJ ou STF sobre a mesma matéria, poder-se-á caracterizar o erro de
direito.
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de
vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por
pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Não se admite a alegação de erro por parte daquele que atuou com acentuado
grau de displicência. O direito não deve amparar o negligente.
Ex: a compra de uma joia falsa pode ser um erro escusável de um particular, mas muito
dificilmente de um especialista em tal comércio.
Não é qualquer erro que importa a anulabilidade do negócio jurídico.
Se uma pessoa faz uma doação, porque é informada de que o donatário é seu filho, a quem não conhecia, e
posteriormente descobre que tais fatos não são verdadeiros, a doação poderá ser anulada somente na
hipótese de os referidos motivos terem sido expressamente declarados no instrumento como razão
determinante. Se não o foram, não poderá ser invalidada.
TRANSMISSÃO ERRÔNEA: Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável
nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Se utiliza mensageiro ou meio de comunicação (e-mail) e a transmissão da vontade, nesses casos, não se faz
com fidelidade, causando divergência, caracteriza-se o vício que propicia a anulação do negócio.
ERRO DE CÁLCULO: Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Erro de cálculo é o erro na elaboração aritmética dos dados do objeto do negócio. Ex: a parte fixa o preço da
venda com base na quantia unitária e computa, de forma inexata, o preço global.
O erro substancial e escusável pode ser suprido:
• Quando a indicação errada de pessoa e coisa se, pelo contexto da declaração emitida ou pelas
circunstâncias em que se emitiu, for possível corrigir adequadamente
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio
quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
Ex: testamento consta legado ao terceiro filho de amigo do testador, que foi batizado em homenagem a este.
Se o amigo, na verdade, havia dado o mesmo nome do testador ao seu quarto filho, corrige-se o erro na
indicação sem se comprometer a validade do testamento.
• Se a pessoa a quem a declaração se dirige se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do declarante.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se
dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
Ex: comprador pensara ter comprado o terreno do lado esquerdo da rua, pode o alienante evitar a anulação
do negócio jurídico providenciando a compra do terreno conforme o erro.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO, CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO E INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. COMPRA E VENDA DE
VEÍCULO USADO. ALEGADO VÍCIO DE CONSENTIMENTO (ERRO SUBSTANCIAL).
PEDIDOS DE ANULAÇÃO DO ATO JURÍDICO E REPARAÇÃO DO DANO MATERIAL.
ALEGADA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SOBRE O VEÍCULO TER SIDO OBJETO DE
LEILÃO E A EXISTÊNCIA DE AVARIAS, CAUSA DE ANULAÇÃO DO NEGÓCIO
JURÍDICO. INSUBSISTÊNCIA. ERRO SUBSTANCIAL NÃO CARACTERIZADO. LIVRE
VONTADE DA PARTE DE ADQUIRIR O VEÍCULO. AUSÊNCIA DE PROVA
CONTUNDENTE DO DIREITO ALEGADO. ÔNUS QUE INCUMBIA AO AUTOR, NOS
TERMOS DO ART. 333, I, DO CPC/73 (ART. 373, I, CPC/15).. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0018659-
51.2010.8.24.0038, de Joinville, rel. Des. Denise Volpato, Sexta Câmara de
Direito Civil, j. 14-11-2017).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ACORDO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO.
IMPROCEDÊNCIA PROCLAMADA NO JUÍZO SINGULAR. ALEGAÇÃO DE INDUZIMENTO A
ERRO POR FORÇA DAS INFORMAÇÕES FALSAS ACERCA DAS BOAS CONDIÇÕES DO
AUTOMÓVEL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ALEGADO VÍCIO DE CONSENTIMENTO.
ÔNUS QUE COMPETIA À PARTE AUTORA, A TEOR DO ART. 333, INC. I, DO CPC.
INEXISTÊNCIA DE QUALQUER PROVA DE QUE A RÉ INFORMOU O ESTADO DO VEÍCULO NO
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO DO ACORDO. AUTOR QUE RECEBEU O BEM SEM MANIFESTAR
QUALQUER DESCONTENTAMENTO. INEXISTÊNCIA, ADEMAIS, DA DEMONSTRAÇÃO DE
COMO SE ENCONTRAVA O VEÍCULO NA DATA DO ACORDO. PLEITO DE ANULAÇÃO
FORMULADO APÓS DECORRIDO MAIS DE UM ANO DA CELEBRAÇÃO DA AVENÇA.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. O vício de consentimento não se presume,
devendo ser cabalmente demonstrado através de prova escoimada de dúvidas, sem o
que não se mostra possível invalidar transação perfeita e acabada, realizada por pessoas
maiores, capazes e livres para deliberarem sobre suas conveniências. RECURSO
CONHECIDO E IMPRÓVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2012.022535-5, de Criciúma, rel. Des.
Jorge Luis Costa Beber, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 06-03-2014).
MÉRITO. DEMANDANTE QUE ALEGA TER SIDO ENGANADO PELA REVENDEDORA RÉ. AQUISIÇÃO DE UM
VEÍCULO ACREDITANDO SE TRATAR DE OUTRO MODELO DE AUTOMÓVEL. DESCABIMENTO. ADQUIRENTE
QUE FEZ A ESCOLHA DO VEÍCULO QUE PRETENDIA ADQUIRIR. RECORRENTE QUE, QUANDO MUITO,
INCORREU EM ERRO VENCÍVEL (INESCUSÁVEL), O QUE NÃO AUTORIZA A RESCISÃO OU ANULAÇÃO DA
AVENÇA. "Os atos jurídicos são anuláveis quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial e
por isso mesmo escusável. [...]. Em se tratando de erro grosseiro, derivado de imprudência e negligência do
agente, não é viável a anulação da avença enfocada" (Apelação Cível n. 1999.009268-2, de Palmitos, Primeira
Câmara de Direito Comercial, rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 4-6-2002).
Artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro com o
propósito de prejudicar outrem, quando da celebração do negócio jurídico.
Ex: Caio, colecionador de vasos antigos, contrata os serviços de Tício, profissional especializado em
intermediar a compra e venda de objetos raros. Após alguns meses de busca infrutífera, Tício, atuando
dolosamente e objetivando não perder a sua remuneração, promoveu a negociação de um falso jarro da
dinastia Ming (réplica de um original), entre Caio, tomador de seus serviços, e ORFEU, proprietário do
referido artefato. Note-se que Caio fora induzido a erro pelo intermediário Tício, pessoa em quem depositava
sincera confiança. Conclusões:
a) se Orfeu tinha conhecimento da atuação maliciosa de Tício, caracterizando
verdadeiro conluio entre ambos, o negócio pode ser anulado;
b) se Orfeu não tinha conhecimento direto do dolo de Tício, mas podia presumi-lo,
em face das circunstâncias do fato, o negócio pode ser anulado;
c) se Orfeu não sabia, nem tinha como saber da atuação dolosa de Tício, em face da
boa-fé de Orfeu o negócio subsiste, respondendo apenas Tício pelas perdas e danos
devidos a Caio.
: O representado responde no limite do proveito que obteve.
: Responde solidariamente com o representante Assim, em
negócio jurídico marcado por dolo acidental imputável ao representante, enquanto o
absolutamente incapaz responde no limite do proveito que lhe trouxe o negócio, o
mandante responde ilimitadamente.
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou
aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz,
com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
– não ocorre consentimento ou manifestação da vontade. A
vantagem pretendida pelo coator é obtida mediante o emprego de força física.
Ex: a colocação da impressão digital do analfabeto no contrato, agarrando-se à força
o seu braço.
Não há manifestação de vontade, por isso, é nulo o negócio, é hipótese de
inexistência do negócio jurídico, por ausência de requisito de existência, que é a
declaração da vontade.
• Deve ser grave – intensidade que efetivamente incuta na vítima um fundado temor de dano a bem
que considera relevante. Esse dano pode ser moral ou patrimonial.
• Deve ser injusta – ilícita, contrária ao direito, ou abusiva. Ainda que se utilize dos meios legais para
obter vantagem indevida. Ex: credor que ameaça executar hipoteca caso esta não case com ele;
**Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito. Ex: não constitui coação a
ameaça feita pelo credor de protestar ou executar o título de crédito vencido e não pago. A
intimidação feita pela mulher a um homem de propor contra ele ação de investigação de paternidade.
• Deve dizer respeito a dano atual ou iminente – a ameaça de um mal impossível, remoto ou
evitável, não constitui coação capaz de viciar o ato.
• Deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoas de sua família –
pode ocorrer de diversas formas, sofrimentos físicos, cárcere privado, tortura etc. Pode configurar
coação também a ameaça de provocação de dano patrimonial, como incêndio, depredação.
A coação praticada por pessoa estranha à relação negocial é defeituosa nas
mesmas condições que o dolo. Isto é, depende da má-fé do declaratário.
Não tendo como saber dessa ameaça, não será inválido o negócio jurídico.
Na coação, porém, o destinatário sempre responde solidariamente com o agressor
pelas perdas e danos decorrentes
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a
parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela
tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver
causado ao coacto.
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. NEGÓCIO JURÍDICO. VÍCIO DE
CONSENTIMENTO NÃO EVIDENCIADO. CONFISSÃO DE DÍVIDA.
INEXISTÊNCIA DE COAÇÃO. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO DE
PROPOR AÇÃO JUDICIAL PARA DEFESA DE SEU INTERESSE. Não se verifica
possível a declaração de invalidade do negócio jurídico de confissão de
dívida, sob o pálio da coação, se o temor do devedor originou-se na
simples realização do exercício regular de um direito do credor de
promover a satisfação da dívida por meio de ação judicial. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2008.055081-5, de
Rio Negrinho, rel. Des. Altamiro de Oliveira, Quarta Câmara de Direito
Comercial, j. 20-04-2010).
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO. COMPROMISSO DE COMPRA E
VENDA. RÉU AGIOTA. PROVA TESTEMUNHAL UNÍSSONA. AUTORA QUE, SOB
COAÇÃO, A TÍTULO DE GARANTIA DE EMPRÉSTIMO, REGISTRA EM NOME DO
REQUERIDO BEM IMÓVEL DE SUA PROPRIEDADE. INDÍCIOS CONCLUSIVOS DA
INVALIDADE DO NEGÓCIO. RECURSO PROVIDO. Ressoando dos autos, de
forma conclusiva, através de prova testemunhal uniforme e documentos
acostados, que o réu varão coagiu a autora a assinar um contrato de
compromisso de compra e venda sob verdadeira farsa, pois o imóvel foi
transferido como garantia de empréstimo prestado a esta, inarredável a
anulação do negócio. (TJSC, Apelação Cível n. 1998.008826-7, de Biguaçu, rel.
Des. Carlos Prudêncio, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 10-11-1998).
A vontade é constrangida pelo estado de perigo quando o declarante,
para salvar-se ou a pessoa de sua família de grave dano conhecido pelo
declaratário, concorda em assumir obrigação excessivamente onerosa.
Ex: Germano foi sequestrado, e Hebe, sua mulher, promete dar a Irineu, policial
aposentado, todo o seu patrimônio se ele salvar o marido. Verifica-se o estado de
perigo se Irineu não desestimular o excesso de gasto prometido por Hebe no
desespero, com o objetivo de vir mesmo a receber quantia elevada por sua ajuda.
No estado de perigo causado por ação humana os graves danos a que se expõe o
declarante, ou pessoa de sua família, não partem de quem quer favorecer o declaratário; na
coação por terceiros, a ameaça é feita especificamente para que o declarante emita a
declaração defeituosa em benefício do declaratário.
• Entende-se existir má-fé na conduta do que se beneficia do temor do declarante, daí cabível o
rigor do sancionamento.
• Mas se o prestador de serviços esteja de boa-fé, a melhor solução seria a conservação do negócio
com a redução do excesso, equilibrando-se as posições das partes.
APELAÇÃO CÍVEL. PRÓTESE CARDÍACA IMPORTADA. NÃO COBERTURA PELO PLANO DE SAÚDE. CONTRATO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FIRMADO ENTRE O NOSOCÔMIO E O PACIENTE. DESPESAS MÉDICOS-
HOSPITALARES. ALEGAÇÃO DE ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO FIRMADO SOB ESTADO DE PERIGO.
DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. ÔNUS DO AUTOR DE DEMONSTRAR NOS AUTOS O FATO
ENSEJADOR DE SEU DIREITO (ART. 333, I, DO CPC/1973). TERMO DE RESPONSABILIDADE VÁLIDO DIANTE DA
AUSÊNCIA DE VÍCIO DE VONTADE. ONEROSIDADE EXCESSIVA NÃO DEMONSTRADA REMUNERAÇÃO DEVIDA
CONFORME O CONTRATADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA CONFIRMADA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. I - Para a configuração do estado de perigo, nos termos do art. 156 do Código Civil, é
necessária a comprovação tanto da onerosidade excessiva da obrigação assumida quanto do dolo de
aproveitamento, o que não se verifica na hipótese em comento. Não obstante, alegue o autor/Apelante
estado de perigo e invalidade do contrato, atraiu para si o ônus probandi, ou seja, de produzir a prova do
aludido vício, nos termos do artigo 333, I, do CPC/1973, o que não se desincumbiu, visto que não há prova
nos autos que o Recorrente tenha assumido obrigação excessivamente onerosa, requisito indispensável para
se anular o contrato pelo vício de estado de perigo. Neste contexto, deixando o Autor de atender ao ônus
processual que lhe competia, ou seja, de demonstrar nos autos o fato ensejador de seu direito, impõe-se a
improcedência do pleito inicial, mantendo-se incólume a sentença prolatada. (TJSC, Apelação Cível n.
0160092-21.2014.8.24.0000, da Capital, rel. Des. Rodolfo Cezar Ribeiro Da Silva Tridapalli, Quarta Câmara de
Direito Civil, j. 11-05-2017).
AÇÃO DE COBRANÇA FUNDADA EM CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES.
ASSINATURA DO PACTO, PELA RÉ, QUE SE ENCONTRAVA COM SUA VONTADE VICIADA, EM
RAZÃO DA SITUAÇÃO DE RISCO DE VIDA DO SEU GENITOR. APELADA QUE, AO ASSINAR
O CONTRATO DE ADESÃO, NÃO POSSUÍA CONDIÇÕES DE ANUIR COM OS TERMOS ALI
CONTRATADOS. VÍCIO DE CONSENTIMENTO EVIDENCIADO. CONFIGURAÇÃO DO ESTADO DE
PERIGO. INTELIGÊNCIA DO ART. 156, DO CÓDIGO CIVIL. PACTO, ADEMAIS, QUE PREVÊ, EM
SUA CLÁUSULA OITAVA, A POSSIBILIDADE DE ATENDIMENTO POR CONVÊNIO. PACIENTE,
QUE USUALMENTE ERA ATENDIDO NO ESTABELECIMENTO, ATRAVÉS DE SEU PLANO DE
SAÚDE. (...) O contrato de prestação de serviços hospitalares assinado pelo paciente - ou por
seu responsável - caracteriza relação de consumo e, como tal, deve seguir os preceitos éticos e
jurídicos atinentes à ela. Nesse passo, a assunção de prestação excessivamente onerosa,
agravada pela existência de situação de nítido perigo de vida do paciente não pode
subsistir, em razão do evidente vício de consentimento por parte do contratante,
que, diante de um pacto de adesão, não tem escolha senão assentir com os termos
ali apostos, sob pena de não ver garantido o atendimento médico. (TJSC, Apelação
Cível n. 2013.035089-5, de Santa Cecília, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves, Quinta Câmara
de Direito Civil, j. 28-11-2013)
Uma parte assume obrigações manifestamente desproporcionais à
prestação oposta, por premente necessidade ou inexperiência.
Sendo assim, não prospera a tese de onerosidade do contrato, tendo vista que os honorários
pactuados observaram o preconizado pela legislação no tocante.
• Quando a dívida não é paga no vencimento, o credor tem o direito de requerer ao juiz
que determine, com vistas à satisfação do seu crédito, a constrição de bens do
patrimônio do devedor.
• Essa constrição chama-se penhora.
• O bem penhorado é avaliado e vendido a quem ofereça o maior lance em leilão judicial.
• Com o dinheiro apurado na venda do bem que pertencia anteriormente ao devedor,
procede o juiz ao pagamento do credor.
• É dessa forma que o Judiciário assegura ao titular do crédito a eficácia de seu direito.
• Por isso, a garantia do credor é representada pelo patrimônio do devedor.
• Se a pessoa deve mais do que o valor dos bens que possui (patrimônio ativo é inferior ao passivo), diz-se
que o devedor está insolvente.
• Todos os credores são chamados a habilitar os seus créditos. Arrecadam-se, então, todos os bens do
devedor para serem vendidos em juízo.
• Com o dinheiro apurado na venda, paga-se o que é possível pagar aos credores.
• Como não há recursos para a satisfação integral de todos os créditos existentes perante o devedor
insolvente, faz-se uma distribuição justa dos recursos disponíveis.
• Na insolvência os credores devem ser tratados de forma paritária. Cada um receberá valor proporcional à
importância de seu crédito.
• Entre as diversas categorias em que são distribuídos os credores do devedor insolvente, interessa por
enquanto duas: os que titularizam garantias reais e os quirografários.
• Crédito real é garantido por um bem específico do patrimônio do devedor (o bem onerado), e o dos
quirografários é, em conjunto, garantido pelos bens não onerados.
João tem um imóvel não edificado no valor de $ 200, um automóvel de $ 8 e um outro
de $ 7; e deve a Lúcio $ 200, a Márcia, $ 30 e a Norberto, $ 15.
Está insolvente, já que, em seu patrimônio, o ativo, composto pelos bens que titulariza
($ 215), é menor que o passivo, composto por suas dívidas ($ 245).
Lúcio é credor com garantia real; seu crédito está garantido por uma hipoteca sobre o
terreno. Pois então, na execução concursal, o crédito dele será satisfeito integralmente,
já que o imóvel onerado em seu favor tem valor suficiente para saldar a dívida.
Já Márcia e Norberto são credores quirografários, porque os seus créditos não estão
garantidos por nenhum bem específico de João. Eles terão os seus créditos parcialmente
atendidos, porque não há recursos suficientes para o pagamento integral.
Estabelecida a proporcionalidade, Márcia receberá $ 10 e Norberto, $ 5; isto é, cada um
terá satisfeito apenas 1/3 do seu crédito, porque o valor dos bens não onerados, os
automóveis ($ 15), não é suficiente para pagar mais do que essa parcela do passivo
quirografário ($ 45).
Há fraude contra os credores quando o devedor insolvente aliena,
gratuita ou onerosamente, bens de seu patrimônio, reduzindo assim a
garantia dos que, perante ele, titularizam crédito.
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando
a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante
• Dois elementos compõem o conceito de fraude contra credores: a insolvência, que
constitui o ato prejudicial ao credor; e a má-fé do devedor, a consciência de
prejudicar terceiros.
• Se o adquirente ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para
conhecê-la, conservará o bem, não se anulando o negócio.
• O credor somente conseguirá invalidar a alienação se provar a má-fé do terceiro
adquirente, isto é, a ciência deste da situação de insolvência do alienante.
• Este é o elemento subjetivo da fraude: o consilium fraudis, ou conluio fraudulento.
Não se exige, no entanto, que o adquirente esteja mancomunado com o alienante
para lesar os credores deste. Basta a prova da ciência da sua situação de insolvência.
• Já nos atos gratuitos de alienação - doação feita por devedor reduzido à insolvência - ,
o requisito subjetivo representado pelo consilium fraudis (má-fé) é presumido.
• Só os credores existentes no tempo da alienação podem pleitear a invalidação do negócio (CC,
art. 158, § 2º). Os credores posteriores à alienação graciosa não podem reclamar.
• O adquirente dos bens, caso ainda não tenha pago, pode depositar o preço em juízo.
• A ação judicial para invalidar o negócio com fraude contra os credores e possibilitar que o bem
alienado, onerosa ou gratuitamente, retorne ao patrimônio do devedor chama-se revocatória ou
pauliana.
• A ação revocatória pode ser movida contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele
contratou e os terceiros adquirentes que tenham procedido de má-fé (CC, art. 161)
• Também é fraude contra credores: pagou uma dívida antes do vencimento, quem recebeu o
pagamento antecipado é obrigado a repor a quantia correspondente (CC, art. 162)
• E, ainda, o insolvente não pode conferir a qualquer dos credores quirografários uma garantia
real (CC, art. 163). Nos dois casos estará beneficiando um credor em detrimento dos demais.
• Permite-se ao devedor insolvente, evitar a paralisação de suas atividades (estabelecimento
mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO PAULIANA. FRAUDE CONTRA CREDORES. IMPROCEDÊNCIA. IMÓVEL.
ALIENAÇÃO ONEROSA. CONCILIUM FRAUDIS. NECESSIDADE DE SUA COMPROVAÇÃO. AUTOR
QUE NÃO SE DESINCUMBE A CONTENTO DE TAL ÔNUS. ACERVO PROBATÓRIO UNÍSSONO NO
SENTIDO DE QUE AS TRATATIVAS PARA A VENDA DO BEM SE INICIARAM MESES ANTES DO
EVENTO DANOSO QUE RESULTOU NA CONDENAÇÃO DO RÉU À REPARAÇÃO DOS PREJUÍZOS
ADVINDOS DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. (TJSC, Apelação Cível n. 0000275-77.2012.8.24.0003,
de Anita Garibaldi, rel. Des. Stanley da Silva Braga, 6ª Câmara de Direito Civil, j. 13-03-2018).