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VÍCIO DO ERRO

(Regime geral do Erro - Artigos 247 a 254)

O Erro: é uma falsa ou inexacta representação da realidade.

Modalidades de erro:

1) Erro na declaração ou erro obstáculo (artigos 247 a 250).

2) Erro na formação da vontade ou erro vício (artigos 251 e 252).

3) Erro simples Vs. Erro qualificado por dolo (quando o erro do


declarante foi causado deliberadamente por outra pessoa, pessoa essa, que age
com dolo, dizemos que é um erro qualificado por dolo e também há dolo
quanto se mantém o outro contraente em erro) (artigos 253 e 254).

ERRO NA DECLARAÇÃO (Artigos 247 a 250)

No erro da declaração existe uma divergência não intencional entre a


vontade e a declaração, divergência essa, que se deveu a um erro do
declarante.

Há erro na declaração quando o declarante faz uma declaração que


objectivamente tem outro sentido do que aquele que ele lhe quer dar,
havendo uma discrepância e uma falta de harmonia entre aquilo que é a
vontade real do declarante e aquilo que na realidade declarou.

Requisitos da anulabilidade é quem quer anular e terá que provar que:

a) Houve uma divergência entre a vontade e a declaração.

b) A sua declaração não corresponde á sua vontade real.

c) Que o elemento sobre o qual incidiu o erro era um elemento


essencial para si.

d) Tem que provar que o declaratário sabia, ou que pelo menos tinha
obrigação de saber que aquele elemento sobre o qual recaiu o erro era um
elemento essencial para o declarante.

ARTIGOS 251 e 252 - ERRO NA FORMAÇÃO DA VONTADE (ERRO VÍCIO)

Aqui estamos num erro na formação da vontade, porque como vimos há


pouco, no erro da declaração a vontade do declarante formava-se bem, o
problema do erro na declaração não foi a formação da vontade que se formou
sem vícios, o problema surgiu no momento em que a vontade foi exteriorizada,
portanto, nos casos que estivemos a ver até ao momento a pessoa não vem
dizer que a sua vontade se formou mal, mas quando chegou o momento de a
exteriorizar, devido a um erro houve uma discrepância entre o que pensava e
aquilo que se disse.

Mas agora vamos ver casos, em que logo á partida a vontade forma-se mal,
ou seja, uma pessoa vai querer algo, mas aquilo que vai querer só o quer
devido a um erro, pois se tivesse conhecimento da realidade não quereria
aquele negócio.

No erro da formação da vontade, o declarante declara o que quis, mas


aquilo que quis só o quis devido a um erro.

ERRO (Artigo 252 nº 1)

Quando existe um erro na formação da vontade, esse erro na formação da


vontade pode incidir sobre o objecto ou sobre a pessoa do declaratário, e
quando isso acontece aplica-se o artigo nº 251, que acaba por ter requisitos de
anulabilidade semelhantes ao do erro na declaração e o artigo 251 remete para
o artigo 247, mas como eu já frisei, o artigo 251 não é um erro na declaração,
mas sim um erro na formação da vontade, mas que tem requisitos iguais ao
erro na declaração. Mas pode haver um erro na formação da vontade que
incida sobre motivos diferentes daqueles que têm a ver com o objecto ou com
a pessoa do declaratário.

Mas aqui é diferente, pois para anular, não basta o errante provar que o outro
sabia que aquele elemento era essencial, é preciso que o errante prove que
tinha havido um acordo prévio das partes no sentido de fazer depender (o
negócio) no sentido de não se vir a apurar um erro, ou seja, as partes poderiam
ter combinado que, se por acaso, se vier a descobrir que eu estou bem de
saúde, então o negócio fica sem efeito e neste caso, aplicando o artigo 252 nº 1,
para se poderem anular as doações seria necessário que tivesse ficado
combinado que, se eu por acaso viesse a descobrir que estava de boa saúde e
só então é que o negócio seria anulado e era preciso que o outro tivesse
concordado com isso.

ERRO SOBRE A BASE DO NEGÓCIO (Conceito)

Fala-se em erro sobe a base do negócio quando o erro recai sobre um


elemento que foi decisivo para a vontade de ambas as partes contratarem, ou
seja, ambas as partes assentaram a sua decisão de contratar no mesmo
pressuposto erróneo.
Não se pode nem se deve confundir erro sobre a base do negócio com a
alteração normal de circunstâncias e por alguma razão há dois artigos
distintos. O erro sobre a base do negócio é o artigo 252 nº 2 havendo uma
remissão para o artigo 437. Se for alteração normal de circunstâncias cairia
exclusivamente no artigo 437 e não seria um caso de erro pois quando há uma
alteração normal das circunstâncias, não há erro nenhum e aplica-se o artigo
437. Quando há erro sobre a base do negócio, é que o artigo 252 nº 2 manda
aplicar os requisitos do artigo 437.

DOLO

No artigo 254, aquele cuja declaração está ferida de erro;

a) Vai ter que demonstrar o seu erro.

b) Vai ter que demonstrar que incidiu sobre o elemento essencial.

c) E depois vai ter que demonstrar o dolo, e demonstrado isso, o negócio é


anulável sem mais.

Ou seja, quando há dolo não é preciso provar que o outro conhecia a


essencialidade, nem é preciso provar que tinha havido um acordo entre as
partes acerca da essencialidade, e mesmo no caso do artigo 252 nº 1, (caso de
erro sobre os motivos), se houver dolo não é preciso provar aquele requisito da
parte final do artigo 252 nº 1, em que tinha havido um acordo prévio ente as
partes acerca da essencialidade do motivo, porque a partir do momento em que
prova o dolo, torna-se mais fácil a anulação do negócio, ou seja, a lei deixa de
ser tão exigente, precisamente, porque havendo dolo, a outra parte merece
menor protecção.

No entanto, é importante perceber, que há que distinguir consoante o autor do


dolo seja o declaratário, a outra parte do negócio, ou o autor do dolo seja um
terceiro, porque quando o autor do dolo é o declaratário, aí não há duvida
nenhum que se aplica o artigo 254 nº 1 sem restrições e desde que o declarante
prove o seu erro, a essencialidade e prove o dolo, o negócio é sempre anulável.
Mas se o autor do dolo é um terceiro, pois, por exemplo, alguém pode ter
induzido uma pessoa em erro para celebrar um contrato com uma pessoa de
família, na realidade houve dolo, mas neste caso o terceiro face ao negócio, pois
o contrato que vai ser celebrado é entre a pessoa interessada e o terceiro
(causador do dolo) que propõe o negócio, e neste caso, quando o dolo é do
declaratário, o negócio é sempre anulável nos termos do artigo 254 nº 1, já
quando o dolo é de terceiro, tem que se atender ao nº 2 do artigo 254
“quando o dolo provier de terceiro, a declaração só é anulável se o
destinatário tinha ou devia ter conhecimento dele; mas, se alguém tiver
adquirido directamente algum direito por virtude da declaração, esta é anulável
em relação ao beneficiário, se tiver sido ele o autor do dolo ou se o conhecia ou
devei ter conhecido”. Portanto, se eu induzir alguém em erro para celebrar um
contrato com algum familiar meu, este contrato só é anulável por dolo, se o
errante provar que aquele meu familiar sabia, ou devia saber que ele tinha sido
induzido em erro.

O dolo em certas circunstâncias facilita a anulação por erro, visto que o artigo
254 nº 1, permite que se anule o negócio em que há erro se houver dolo,
porque já não é preciso provar certos requisitos mais exigentes dos artigos
anteriores. Mas também é preciso não esquecer que o dolo é visto pela lei
como uma conduta ilícita, aliás, basta confrontar o artigo 253 nº 1 com o artigo
253 nº 2, pois no artigo 253 nº 2 fala-se no dolo que não é ilícito, o que quer
dizer que o que vem no artigo 253 nº 1 é um dolo ilícito.

A doutrina diz que o erro que é causa de anulação é o chamado erro


próprio, não sendo causa de anulação o chamado erro impróprio. Um erro
impróprio é o erro que recai sobre o requisito de validade do negócio, e
quando se diz que um erro improprio não é causa de anulação, o que se quer
dizer é que, quando o erro recai sobre um requisito de validade de um negócio,
o erro não releva.

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