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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Assistente Social
Fundamentos Teóricos, Históricos e Metodológicos do Serviço Social: pressupostos e fundamentos, relação sujeito-ob-
jeto, objetivos. .......................................................................................................................................................................................................... 01
A práxis profissional: relação teoria/prática; a questão da mediação. ............................................................................................... 11
Vertentes de pensamento: materialismo histórico, positivismo, fenomenologia. ......................................................................... 22
Metodologia em Serviço Social: alternativas metodológicas. Instrumentalidade: o atendimento individual, o trabalho
com grupos, comunidades, movimentos emergenciais, a questão das técnicas, o cotidiano como categoria de investi-
gação. ........................................................................................................................................................................................................................... 25
Documentação. ........................................................................................................................................................................................................ 26
Serviço Social e interdisciplinaridade. ............................................................................................................................................................. 31
Política Social e planejamento: a questão social e a conjuntura brasileira. Instituição e Estado. ............................................ 33
Movimentos sociais e participação popular. ................................................................................................................................................. 40
A prestação de serviços e a assistência pública. ......................................................................................................................................... 40
Espaços sócio-ocupacionais do assistente social. ...................................................................................................................................... 44
Projetos e Programas em Serviço Social. ....................................................................................................................................................... 45
Serviço Social e família. ......................................................................................................................................................................................... 45
Constituição Federal de 1988: Da saúde, Da promoção social e Da proteção especial. ............................................................. 57
Lei n.º 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente: linhas de ação, diretrizes e entidades. Medidas de proteção à
criança e ao adolescente. Da prática do ato infracional. Das medidas pertinentes ao pai ou responsável. Do Conselho
Tutelar. Do acesso à justiça da infância e da juventude. .......................................................................................................................... 58
Lei Federal n.º 8.742, de 07.12.93 – Lei Orgânica da Assistência Social. ............................................................................................ 75
Ética profissional....................................................................................................................................................................................................... 84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Para Vieira E. (1992), a história do capitalismo teste-
FUNDAMENTOS TEÓRICOS, HISTÓRICOS E munha contradição fundamental, de um lado, ininterrupto
METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL: crescimento do mercado e do consumo e de outro, sua
PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS, RELAÇÃO gradativa monopolização.
SUJEITO-OBJETO, OBJETIVOS. Com isso, o processo de acumulação do capital im-
põe à indústria a necessidade de alargar o mercado e de
aumentar o consumo, mas o resguardo e o incremento da
rentabilidade do capital já invertido exigem de quando em
O estudo das políticas sociais, na área de Serviço So- quando limitações de caráter monopolizador, entravando
cial, vem ampliando sua relevância na medida em que o próprio mercado e tolhendo as novas possibilidades de
estas têm-se constituído como estratégias fundamentais sua expansão. O abaixamento do nível de vida da popula-
de enfrentamento das manifestações da questão social na ção garante ao mesmo tempo uma taxa média de lucro e
sociedade capitalista atual. também a redução do mercado imprescindível à produção.
Não se pode precisar um período específico do sur- Dessa forma, pode-se afirmar que não há política so-
gimento das primeiras identificações chamadas políticas cial desligada das lutas sociais. De modo geral, o Estado
sociais, visto que, como processo social, elas se originam assume algumas das reivindicações populares, ao longo
na confluência dos movimentos de ascensão do capitalis- de sua existência histórica. Os direitos sociais dizem res-
mo como a Revolução Industrial, das lutas de classe e do peito inicialmente à consagração jurídica de reivindicações
desenvolvimento da intervenção estatal. dos trabalhadores. Certamente, não se estende a todas as
Sua origem relaciona-se aos movimentos de massa reivindicações, mas na aceitação do que é conveniente ao
socialmente democratas e à formação dos estados-nação grupo dirigente do momento. E com Faleiros (1991), pode-
na Europa Ocidental do final do século XIX, porém sua ge- se afirmar que as políticas sociais ora são vistas como me-
neralização situa-se na transição do capitalismo concor- canismos de manutenção da força de trabalho, ora como
rencial para o capitalismo monopolista, especialmente em conquista dos trabalhadores, ora como arranjos do bloco
sua fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial. no poder ou bloco governante, ora como doação das eli-
Historicamente, o estudo das políticas sociais deve ser tes dominantes, ora como instrumento de garantia do au-
marcado pela necessidade de pensar as políticas sociais mento da riqueza ou dos direitos do cidadão.
como “concessões ou conquistas”, na perspectiva marxista, O período que vai de meados do século XIX até os
a partir de uma ótica da totalidade. Dessa forma, as políti- anos de 1930, é marcado predominantemente pelo libe-
cas sociais são entendidas como fruto da dinâmica social,
ralismo e sustentado pela concepção do trabalho como
da inter-relação entre os diversos atores, em seus diferen-
mercadoria e sua regulação pelo livre mercado.
tes espaços e a partir dos diversos interesses e relações
O estado liberal é caracterizado pelo indivíduo que
de força. Surgem como “[...] instrumentos de legitimação
busca seu próprio interesse econômico proporcionando o
e consolidação hegemônica que, contraditoriamente, são
bem-estar coletivo, predomina a liberdade e competitivi-
permeadas por conquistas da classe trabalhadora”.
dade, naturaliza a miséria, mantém um Estado mínimo, ou
A política econômica e a política social estão relacio-
seja, para os liberais, o Estado deve assumir o papel “neu-
nadas intrinsecamente com a evolução do capitalismo
tro” de legislador e árbitro, e desenvolver somente ações
(conforme proposta de reflexão), fundamentando-se no
desenvolvimento contraditório da história. Tais políticas complementares ao mercado e as políticas sociais estimu-
vinculam-se à acumulação capitalista e verifica-se, a partir lam o ócio e o desperdício e devem ser um paliativo, o que
daí, se respondem às necessidades sociais ou não, ou se é significa que a pobreza deve ser minimizada pela caridade
mera ilusão. privada. É, portanto, o mercado livre e ilimitado que regula
Segundo Vieira E. (1995), a acumulação é o “[...] sen- as relações econômicas e sociais e produz o bem comum.
tido de concentração e de transferência da propriedade Mediante esses princípios defendidos pelos liberais
dos títulos representativos de riqueza”. As transformações e assumidos pelo Estado capitalista, o enfrentamento da
ocorridas nas revoluções industriais acarretaram uma so- questão social, neste período, foi sobretudo repressivo, e
ciedade com um vasto exército de proletários. seguido de algumas mudanças reivindicadas pela classe
A política social surge no capitalismo com as mobiliza- trabalhadora que foram melhorias tímidas e parciais na
ções operárias e a partir do século XIX com o surgimento vida dos trabalhadores, sem atingir as causas da questão
desses movimentos populares, é que ela é compreendida social.
como estratégia governamental. Com a Revolução Indus- Também as reformas sociais ocorridas no período pós-
trial na Inglaterra, do século XVIII a meados do século XIX, Segunda Guerra não atingiram esse objetivo. Assim as pri-
esta trouxe consequências como a urbanização exacerba- meiras ações de políticas sociais ocorrerão na relação de
da, o crescimento da taxa de natalidade, fecunda o germe continuidade entre Estado liberal e Estado social. Ambos
da consciência política e social, organizações proletárias, terão um ponto em comum que é o reconhecimento de
sindicatos, cooperativas na busca de conquistar o acolhi- direitos sociais sem prejudicar os fundamentos do capita-
mento público e as primeiras ações de política social. Ain- lismo. Isso porque não houve ruptura radical entre o Esta-
da nesta recente sociedade industrial, inicia-se o conflito do liberal (século XIX) e o Estado social capitalista (século
entre os interesses do capital e os do trabalho. XX). Mas, sim, uma nova visão de Estado, pressionado por

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mudanças (lutas das classes trabalhadoras), o “velho libe- uma nova racionalidade produtiva como afirma Antunes
ralismo foi cedendo espaço a um liberalismo mais social e tem-se um sistema que responde imediata e diretamente
incorporando orientações socialdemocratas em um novo às demandas que são colocadas e que possui a flexibilida-
contexto socioeconômico e da luta de classes, possibili- de para alterar o processo produtivo de modo que não se
tando uma visão social e, consequentemente, investimen- opere com grandes estoques, mas com estoque mínimo;
tos em políticas sociais (Behring & Boschetti, 2006). de modo que se tenha um sistema de produção ou de
O Estado europeu liberal do século XIX reconheceu acumulação flexível, que se adeque a essas alterações co-
direitos civis tais como: o direito à vida, à liberdade indivi- tidianas de mercado. Enfim, um processo produtivo flexível
dual e os direitos de segurança e de propriedade, mas com que atenda esta ou aquela rigidez característica de produ-
características de Estado policial e repressor (Pereira 2000) ção em linha de montagem do tipo fordista [...]. É então
e assim a população usufruiu especialmente do direito à um processo de organização do trabalho fundado numa
liberdade e à propriedade. resposta imediata à demanda, numa organização flexível
O fortalecimento e a organização da classe trabalha- do trabalho, numa produção integrada e que supõe neces-
dora foram determinantes para a mudança da natureza do sariamente o envolvimento do trabalho, acarretando o es-
Estado liberal no final do século XIX, e os ganhos sociais tranhamento do trabalhador, sua “alienação” do trabalho
e políticos obtidos mais precisamente no século XX pelos que se torna menos despótico e mais manipulatório [...].
trabalhadores. Um sistema de produção flexível supõe direitos do traba-
A busca da classe operária pela emancipação huma- lhador também flexíveis, ou de forma mais aguda, supõe a
na, a socialização da riqueza e uma nova ordem societária eliminação dos direitos do trabalho [...].
garantiram algumas conquistas importantes na dimensão Estas transformações afetam as relações de trabalho e
dos direitos políticos tais como: o direito de voto, de or- o cotidiano do trabalhador, em seus direitos como a edu-
ganização e a formação de sindicatos e partidos, de livre cação, a saúde, a habitação, o lazer, a vida privada. Contu-
expressão e manifestação, e de ampliar os direitos sociais. do, o que permanece é o modelo societário capitalista sob
Desta forma, segundo Behring & Boschetti, a generaliza- o qual ocorrem tais modificações. E assim, este se estabe-
ção dos direitos políticos é resultado da luta da classe tra- lece, no final do século XX, não mais como concorrencial.
balhadora e, se não conseguiu instituir uma nova ordem E com a Era Imperialista, tem-se uma hegemonia que se
social, contribuiu significativamente para ampliar os direi- efetiva a partir da consolidação de grandes grupos mono-
tos sociais, para tencionar, questionar e mudar o papel do polizados (concentração do capital).
Estado no âmbito do capitalismo a partir do final do século O capitalismo monopolista intensifica suas contradi-
XIX e início do século XX. ções oriundas da organização da produção capitalista, ou
Ainda segundo as autoras, o surgimento das políticas seja, sua produção cada vez mais socializada é restrita pela
sociais foi gradativo e diferenciado entre os países, com concentração mundial de renda por meio de apropriação
base nos movimentos e organizações reivindicatórias da privada dos produtos do trabalho. E assim, como afirma
classe trabalhadora e na correlação de forças no âmbito Netto, o capitalismo monopolista recoloca, em patamar
do Estado. A história relata que é no final do século XIX o mais alto, o sistema totalizante de contradições que con-
período em que o Estado capitalista passa a assumir e a fere à ordem burguesa os seus traços basilares de explora-
realizar ações sociais mais amplas, planejadas e sistemati- ção, alienação e transitoriedade histórica [...].
zadas sob caráter de obrigatoriedade. A fase monopólica firma-se por meio do controle dos
Assim o século XX vive transformações globais desen- mercados, garantindo maiores lucros aos capitalistas. Com
freadas que alteram a vida de bilhões de pessoas no mun- isso ocorrem diversas variações nas instituições capitalis-
do. As transformações no mundo do trabalho determina- tas, tais como: ampliação do sistema bancário e creditício,
ram novos padrões de organização e gestão da indústria, acordos empresariais para o aumento do lucro por meio
novos tipos de relações e contratos de trabalho e comer- do controle dos mercados, formando os chamados cartéis.
cialização, altos índices de investimentos em avanços tec- Surge grande acumulação de lucro, diminuição da taxa
nológicos e de automação. média de lucro e a tendência ao subconsumo aumenta.
O padrão dominante taylorista/fordista, surgido nos Os setores de grandes concorrências aumentam em seus
anos 30 (século XX), após a chamada Grande Depressão, investimentos demandando o surgimento de novas tecno-
fundamentado na produção maciça de mercadorias em logias e diminuindo os postos de trabalho.
grandes fábricas, concentradas e verticalizadas, com rígido Tais contradições geram uma concorrência acirrada
controle do processo de trabalho que reunia grande nú- de vários grupos monopolistas que disputam o mercado
mero de trabalhadores manuais, especializados, relativa- nacional e o mercado internacional. Contudo, criam-se
mente bem pagos e protegidos pela legislação trabalhista, mecanismos extra econômicos de controle, por meio do
passa a ser substituído ao entrar em crise, e é substituído Estado, na perspectiva neoliberal ou na perspectiva so-
pela chamada acumulação flexível, ou seja, a descentra- cial-democrática, para controlar as ameaças aos lucros dos
lização da economia, com o chamado modelo japonês monopólios.
toyotista que supõe um processo de modificações enfei-
xadas no mote da flexibilização. Este modelo apresenta

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Todas essas modificações estendem-se em nível pla- Com essa realidade, ampliaram-se as funções eco-
netário no chamado “mundo” de globalização, que se ex- nômicas e sociais do Estado que passou a controlar par-
pressa como nova modalidade de dominação imposta pelo cialmente a produção e a assumir despesas sociais. Essas
capital por meio da intensificação do intercâmbio mundial transformações do Estado foram de acordo com a força do
de mercadorias, preços, ideias, informações, relações de movimento trabalhista e ocorreram nos chamados países
produção, proporcionando mudanças significativas nas desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos.
relações humanas. Para Netto, a globalização, ainda, vem O Estado de Bem-Estar Social buscou assegurar um
agudizando o padrão de competitividade intermonopolis- acordo de neutralidade nas relações das classes sociais e
ta e redesenhando o mapa político-econômico do mundo: amortecer a crise do capitalismo com a sustentação públi-
para assegurar mercados e garantir a realização de super- ca de um conjunto de medidas anticrise. Entretanto, foram
lucros, as grandes corporações têm conduzido processos beneficiados os interesses monopólicos. E como afirmam
supranacionais de integração, os megablocos (União Eu- Behring & Boschetti (2006), as políticas sociais se generali-
ropeia, Nafta, APEC) que, até agora, não se apresentam zam nesse contexto, compondo o rol de medidas anticícli-
como espaços livres de problemas para a concentração cas do período, e também foram o resultado de um pacto
dos interesses do grande capital. social estabelecido nos anos subsequentes com segmen-
Dessa forma, o fenômeno da globalização se por um tos do movimento operário, sem o qual não podem ser
lado permite o intercâmbio mundial por meio da maior compreendidas.
interação entre os povos, por outro, tem trazido uma sé- Nos chamados países pobres e dependentes da Amé-
rie de contradições e divergências: o aumento do desem- rica Latina, especialmente no Brasil, nunca ocorreu a ga-
prego estrutural, a exclusão social, o aumento da pobreza, rantia do bem-estar da população por meio da universali-
guerras políticas e religiosas e outros, ratificando a lógi- zação de direitos e serviços públicos de qualidade. Segun-
ca do capital, que trazem a concentração da riqueza nas do Faleiros (1991), nos países pobres periféricos não existe
mãos dos setores monopolizados e o acirramento da de- o Welfare State nem um pleno keynesianismo em política.
sigualdade social. Devido à profunda desigualdade de classes, as políticas
Para atenuar as contradições postas pelas “crises cí- sociais não são de acesso universal, decorrentes do fato da
clicas de superprodução, superacumulação e subconsumo residência no país ou da cidadania. São políticas “catego-
da lógica do capital” e manter a ordem, ocultar as con- riais”, isto é, que tem como alvo certas categorias específi-
sequências nefastas do capitalismo, criam-se mecanismos cas da população, como trabalhadores (seguros), crianças
políticos e econômicos que garantem a reprodução do sis- (alimentos, vacinas) desnutridas (distribuição de leite), cer-
tema e formam um amplo aparato ideológico que procura tos tipos de doentes (hansenianos, por exemplo), através
naturalizar e perpetuar este modelo de sociedade. Após a de programas criados a cada gestão governamental, se-
Segunda Guerra Mundial, consolidou-se o chamado Esta- gundo critérios clientelísticos e burocráticos. Na América
do de Bem-Estar Social (Welfare State) e posteriormente o Latina, há grande diversidade na implantação de políticas
neoliberalismo. sociais, de acordo com cada país [...].
O ideário do Estado de Bem-Estar Social é proposto A década de 1970 enfrentou o declínio do padrão de
pela teoria keynesiana em países da Europa e nos Estados bem-estar por meio da crise capitalista agravada pelos re-
Unidos da América que tinha como princípio de ação o duzidos índices de crescimento com altas taxas de infla-
pleno emprego e a menor desigualdade social entre os ci- ção. A regulamentação do mercado por parte do Estado e
dadãos. É erigido pela concepção de que os governos são o avanço da organização dos trabalhadores passam a ser
responsáveis pela garantia de um mínimo padrão de vida considerados entraves à livre acumulação de capitais.
para todos os cidadãos, como direito social. É baseado no Na década seguinte, com a queda dos regimes socia-
mercado, contudo com ampla interferência do Estado que listas do leste europeu, a crise fiscal do Estado de Bem
deve regular a economia de mercado de modo a assegurar -Estar e a estagnação da economia ganham forças e os
o pleno emprego, a criação de serviços sociais de consu- argumentos neoliberais recuperando as ideias liberais pro-
mo coletivo, como a educação, saúde e assistência social põem a mínima regulamentação do mercado e a ampla
para atender a casos de extrema necessidade e minimizar liberdade econômica dos agentes produtivos.
a pobreza. Com o avanço das ideias neoliberais, ganha espaço o
Faleiros afirma, é pelo Estado Bem-Estar que o Estado discurso vitorioso do capitalismo. Tem-se uma realidade
garante ao cidadão a oportunidade de acesso gratuito a ideológica em defesa dos interesses do capital, favorecen-
certos serviços e a prestação de benefícios mínimos para do grupos monopolizados, em detrimento dos trabalha-
todos. Nos Estados Unidos, esses benefícios dependem dores, realidade essa, velada por um discurso de direitos
de critérios rigorosos de pobreza e os serviços de saúde individuais, tem-se a naturalização da desigualdade social,
não são estatizados, havendo serviços de saúde para os a busca pela eficiência e competitividade no mundo da
velhos e pobres. O “acesso geral” à educação, à saúde e globalização. Segundo Sposati (2000), o maior impacto da
à justiça existente na Europa decorre de direitos estabele- globalização se manifesta na desregulamentação da força
cidos numa vasta legislação que se justifica em nome da de trabalho, no achatamento de salários e no aumento do
cidadania. O cidadão é um sujeito de direitos sociais que desemprego. Esta é a face perversa da globalização, pois
tem igualdade de tratamento perante as políticas sociais em vez de traduzir melhores condições aos povos, ela vem
existentes. trazendo a globalização da indiferença com os excluídos.

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O neoliberalismo passou a ditar o ideário de um pro- O cumprimento do ideário neoliberal pelos diversos
jeto societário a ser implementado nos países capitalistas países terá influência sobretudo por sua tradição histórica
para restaurar o crescimento estável. Tendo como asserti- e cultural, pelo regime político vigente inserido no mundo
vas a reestruturação produtiva, a privatização acelerada, o globalizado, bem como pelo enfrentamento da questão
enxugamento do Estado, as políticas fiscais e monetárias social (que será abordado no último item deste capítulo) e
sintonizadas com os organismos mundiais de hegemonia pelo nível de organização da classe trabalhadora.
do capital como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não será aprofundada essa questão, senão apresen-
Para essa realidade, vive-se o desmonte da cidadania tada a implementação das políticas sociais no Brasil des-
social, uma das maiores conquistas democráticas e o abalo tinadas a minimizar a questão social que, nas primeiras
da utopia de construção de uma sociedade livre de incer- décadas do século XX, foi tratada como questão de polícia.
tezas e desamparos sociais (Estado de Bem-Estar Social). As políticas sociais brasileiras estão diretamente re-
Como afirma Pereira (2000), tem-se em quase todo o lacionadas às condições vivenciadas pelo País em níveis
mundo, o desmonte das políticas nacionais de garantias econômico, político e social. Estão, portanto, no centro do
sociais básicas, cujas principais implicações estão voltadas embate econômico e político deste início de século, pois
aos cortes de programas sociais à população de baixa ren- a inserção do Brasil (país periférico do mundo capitalista)
da, à diminuição dos benefícios da seguridade social e à no mundo globalizado, far-lo-á dependente das determi-
criminalização da pobreza com o incentivo às práticas tra- nações e decisões do capital e das potências mundiais he-
dicionais de clientelismo, à filantropia social e empresarial, gemônicas.
à solidariedade informal e ao assistencialismo, revestidos Para entender o real significado das políticas sociais,
de práticas alternativas e inovadoras para uma realidade deve-se relacioná-las estreitamente a suas funções, que,
de pobreza e exclusão social. segundo Pastorini (1997), partindo da perspectiva marxis-
No que diz respeito ao Estado Capitalista, este sem- ta, as políticas sociais devem ser entendidas como produto
pre assumiu historicamente os interesses da burguesia, da concreto do desenvolvimento capitalista, de suas contra-
classe dominante assegurando muitos favorecimentos e dições, da acumulação crescente do capital e, assim, um
benefícios para a primazia do lucro. Afirma Netto (1996) produto histórico, e não consequência de um desenvolvi-
que “[...] a desqualificação do Estado tem sido, como se mento “natural”. As políticas sociais desenvolvem algumas
sabe, a pedra-de-toque do privatismo da ideologia neoli- funções primordiais no mundo capitalista: função social,
econômica e política.
beral: a defesa do ‘Estado Mínimo’ pretende fundamental-
A começar pela função social, afirma-se que as polí-
mente o ‘Estado Máximo’ para o Capital”.
ticas sociais têm por objetivo o atendimento redistributi-
O enfrentamento do Estado Nacional mediante as exi-
vo dos recursos sociais, por meio de serviço sociais e as-
gências da globalização capitalista, em transferir as res-
sistenciais, para um complemento salarial às populações
ponsabilidades e as decisões do mesmo para o mercado,
carentes. Contudo, esta função dissimula as verdadeiras
o bem comum dos cidadãos para a iniciativa privada, a so-
funções que as políticas sociais desempenham no mundo
berania da nação para a ordem social capitalista dominan-
capitalista ao apresentarem-se como mecanismos institu-
te no cenário mundial (Abreu, 2000) vêm acompanhados
cionais que compõem uma rede de solidariedade social
de desregulamentação e de extinção de direitos sociais,
que objetiva diminuir as desigualdades sociais, oferecendo
mas com uma “proposta” de modernização, liberdade, de- mais serviços sociais àqueles que têm menos recursos.
mocracia e cidadania. Neste sentido, como analisa Iamamoto (2002), são de-
Os rebatimentos do neoliberalismo (ideologia capita- volvidos aos usuários os serviços sociais de direito: saúde,
lista) nas políticas sociais são desastrosos. Estas passam a educação, política salarial, trabalho, habitação, lazer e ou-
ter um caráter eventual e complementar por meio de prá- tros, como benesse, assistência, filantropia, favor, ou seja,
ticas fragmentadas e compensatórias, como afirma Laurell medidas parcelares e setoriais que o Estado oferece nas
(1997), o Estado só deve intervir com o intuito de garantir questões sociais para manter o controle e a ordem social.
um mínimo para aliviar a pobreza e produzir serviços que Essa ação paternalista do Estado tende a inibir crises so-
os privados não podem ou não querem produzir, além da- ciais e legitimam seu discurso demagógico de cooperação
queles que são, a rigor, de apropriação coletiva. Propõem entre as classes sociais e o ajustamento da classe trabalha-
uma política de beneficência pública ou assistencialista dora às regras do modelo neoliberal.
com um forte grau de imposição governamental sobre Do ponto de vista da classe trabalhadora, estes ser-
que programas instrumentar e quem instruir, para evitar viços podem ser encarados como complementares, mas
que se gerem “direitos”. Além disso, para se ter acesso aos necessários à sua sobrevivência, diante de uma política
benefícios dos programas públicos, deve-se comprovar salarial que mantém aquém das necessidades mínimas
a condição de indigência. Rechaça-se o conceito dos di- historicamente estabelecidas para a reprodução de suas
reitos sociais e a obrigação da sociedade de garanti-los condições de vida. São ainda vitais, mas não sufi cientes,
através da ação estatal. Portanto, o neoliberalismo opõe- para aquelas parcelas da força de trabalho alijadas mo-
se radicalmente à universalidade, igualdade e gratuidade mentaneamente do mercado de trabalho ou lançadas no
dos serviços sociais. pauperismo absoluto. Porém, à medida que a gestão de
tais serviços escapa inteiramente ao controle dos trabalha-

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dores, não lhes sendo facultado opinar e intervir no rumo Por fim, a função política das políticas sociais diz res-
das políticas sociais, as respostas às suas necessidades de peito ao contexto de lutas entre as classes sociais opostas,
sobrevivência tendem a ser utilizadas como meio de su- não podendo ser vistas como meros favores das classes
bordinação dessa população aos padrões vigentes [...] Do dominantes para os dominados, nem como conquista das
ponto de vista do capital, tais serviços constituem meios reivindicações e pressões populares. Na concepção geral
de socializar os custos de reprodução da força de trabalho, de Estado, tem-se interesses e disputas das classes, não
preferível à elevação do salário real, que afeta diretamen- sendo exclusivamente instrumento da classe dominante.
te a lucratividade da classe capitalista [...] A filantropia é Com isso, as políticas sociais apresentam-se como expres-
redefinida na perspectiva da classe capitalista: a “ajuda” são da correlação de forças e lutas na sociedade civil, e
passa a ser concebida como investimento. Não se trata de concessões dos grupos majoritários no poder objetivando
“distribuir” mas de “construir”, de favorecer a acumulação obter legitimidade e controle social.
do capital. É esta a lógica que preside a organização dos Segundo Faleiros (1991), as políticas sociais devem ser
serviços sociais. entendidas como produto histórico concreto a partir do
Ficam portanto, evidentes, a partir da autora, as fun- contexto da estrutura capitalista; com isso:
ções das políticas sociais (e públicas) que são: econômica, As políticas sociais são formas de manutenção da for-
política e social. ça de trabalho econômica e politicamente articuladas para
No que diz respeito à função econômica, tem-se a não afetar o processo de exploração capitalista e dentro
ação do Estado por meio da transferência direta ou indire- do processo de hegemonia e contra hegemonia da luta
ta (pagos pela população por meio de impostos) de bens, de classes. [...] as políticas sociais, apesar de aparecerem
recursos e outros, aos usuários mais carentes da popula- como compensações isoladas para cada caso, constituem
ção, oferecidos em forma de prestação de serviços sociais um sistema político de mediações que visam à articulação
como a saúde, a educação e a assistência social, visando de diferentes formas de reprodução das relações de ex-
ao “barateamento da força de trabalho e consequente acu- ploração e dominação da força de trabalho entre si, com
mulação ampliada do capital”. Essas ações apresentam-se o processo de acumulação e com as forças políticas em
como formas compensatórias às quedas do salário real, presença.
desobrigando o capitalista a atender exclusivamente as Mediante esse breve entendimento das funções das
necessidades de sobrevivência e reprodução da força de políticas sociais há que se considerar que estas não podem
trabalho. Com isso, no contexto atual, parte desses custos ser entendidas como um movimento linear e unilateral, ou
são retirados das empresas e designadas ao Estado que seja, do Estado para a sociedade civil como concessão ou
possui a tarefa de suprir as necessidades básicas da classe da sociedade civil para o Estado como luta e conquista,
trabalhadora, por meio das políticas sociais. contudo têm de ser analisadas como um processo dialé-
Deve-se reconhecer, então que o Estado assume o pa- tico entre as classes sociais, como afirma Pastorini (1997).
pel de anticrise por meio das políticas sociais, que con- As políticas sociais no Brasil tiveram, nos anos 80,
tribuem para a subordinação do trabalho ao capital, com formulações mais impactantes na vida dos trabalhadores
a força da mão de obra ocupada e excedente e também e ganharam mais impulso, após o processo de transição
pela adequação e controle da população trabalhadora que política desenvolvido em uma conjuntura de agravamento
pode ter condições de consumo contra a tendência nefas- das questões sociais e escassez de recursos. Não obstante,
ta do subconsumo. Como afirma Netto (1996), através da as políticas sociais brasileiras sempre tiveram um caráter
política social, o Estado burguês no capitalismo monopo- assistencialista, paternalista e clientelista, com o qual o Es-
lista procura administrar as expressões da “questão social” tado, por meio de medidas paliativas e fragmentadas, in-
de forma a atender às demandas da ordem monopólica tervém nas manifestações da questão social, preocupado,
conformando, pela adesão que recebe de categorias e inicialmente, em manter a ordem social. São elas formata-
setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso das a partir de um contexto autoritário no interior de um
variáveis, mas operantes [...] a funcionalidade essencial da modelo de crescimento econômico concentrador de renda
política social do Estado burguês no capitalismo monopo- e socialmente excludente.
lista se expressa nos processos referentes à preservação e Assim afirma Vieira, que a política social brasileira
ao controle da força de trabalho ocupada, mediante a re- compõe-se e recompõe-se, conservando em sua execução
gulamentação das relações capitalistas/trabalhadoras [...]. o caráter fragmentário, setorial e emergencial, sempre sus-
Neste sentido, as políticas sociais apresentam-se tentada pela imperiosa necessidade de dar legitimidade
como estratégias governamentais de integração da força aos governos que buscam bases sociais para manter-se e
de trabalho na relação de trabalho assalariado, destinadas aceitam seletivamente as reivindicações e até as pressões
a atender problemáticas particulares e específicas apre- da sociedade.
sentadas pela questão social (produto e condição da or- Nos anos 80, o País viveu o protagonismo dos movi-
dem burguesa), contribuindo para uma subordinação dos mentos sociais que contribuiu com uma série de avanços
trabalhadores ao sistema vigente e reproduzindo as desi- na legislação brasileira no que diz respeito aos direitos so-
gualdades sociais decorrentes das diferentes participações ciais.
no processo de produção.

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A Constituição Federal, promulgada em 1988, chama- Outro aspecto a destacar é que os avanços da legisla-
da Constituição Cidadã, pauta-se em parâmetros de equi- ção não podem negar seus limites. O fundamento das de-
dade e direitos sociais universais. Consolidou conquistas, sigualdades sociais está alicerçado na forma de produção
ampliou os direitos nos campos da Educação, da Saúde, da da riqueza que, na sociedade capitalista, se sustenta sobre
Assistência, da Previdência Social, do Trabalho, do Lazer, a propriedade privada dos meios de produção e nas con-
da Maternidade, da Infância, da Segurança, definindo es- tradições de classe. Diante disso, o homem torna-se sujeito
pecificamente direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, coletivo e transformador das relações existentes. Então, a
da associação profissional e sindical, de greve, da parti- busca pela transformação social é um processo que neces-
cipação de trabalhadores e empregadores em colegiados sita do fortalecimento da população e de protagonistas na
dos órgãos públicos, da atuação de representante dos tra- conquista de direitos, na participação, que segundo Marx
balhadores no entendimento direto com empregadores (1982), “a história dos homens é a história de suas relações
(artigos 6 a 11, do Capítulo II, do Título II – Dos Direitos e sociais, e capitalismo é expressão da luta de classe entre
burguesia e proletariado”.
Garantias Fundamentais).
Cabe aos sujeitos sociais a construção e a transforma-
Assim, pela primeira vez na história brasileira, a polí-
ção das relações sociais. São diversos os segmentos pre-
tica social teve grande acolhimento em uma Constituição.
sentes nesta luta, especialmente os profissionais, assisten-
Entretanto, duas décadas depois pode-se afirmar que nun-
tes sociais, que têm o compromisso de mediar as relações
ca houve tantos desrespeitos à sociedade brasileira, como entre Estado, trabalhadores e Capital e gerir as políticas
hoje, por meio de violações, fraudes e corrupções explíci- sociais. Neste início de milênio, o cenário colocado pelo
tas do Estado, da classe hegemônica, dos representantes capitalismo em seu modelo neoliberal, coloca para o Brasil
do poder e do povo, na legislação vigente, nos repasses questões agravantes como alto índice de desempenho, au-
dos recursos financeiros, nas relações de trabalho, com um mento da concentração de renda/riqueza, empobrecimen-
mercado altamente seletivo e excludente e outros. E com to e miserabilidade da população.
Vieira pode-se afirmar que se tem no Brasil uma “política E, nessa dinamicidade da história, o novo milênio traz
social sem direitos”. em seu bojo o desejo de um novo projeto societário com
Como exemplo nacional, algumas leis complementa- referência a conquista dos direitos da cidadania. Daí o redi-
res foram regulamentadas a partir da proposta constitu- mensionamento das políticas sociais que poderão sinalizar
cional de 1988, como a Lei n. 8.069 de 1990 – o Estatuto uma distribuição de renda equitativa. Tal realidade tem um
da Criança e do Adolescente – a Lei n. 8742 de 1993 – Lei impacto direto na atuação do Serviço Social que atua na
Orgânica da Assistência Social – resultantes de uma ampla elaboração, na organização e na gestão das políticas so-
mobilização dos segmentos da sociedade representantes ciais.
de diversas categorias sustentados pelo paradigma da ci-
dadania que, segundo Boff (2000), entende-se por cidada- Organização e gestão das políticas sociais
nia o processo histórico-social que capacita a massa hu-
mana a forjar condições de consciência, de organização e Conforme discutido anteriormente, as políticas so-
de elaboração de um projeto e de práticas no sentido de ciais no Brasil emergem no final da República Velha, espe-
deixar de ser massa e de passar a ser povo, como sujeito cialmente nos anos 20 (séc. XX), e começam a conquistar
histórico plasmador de seu próprio destino. O grande de- espaço no período getulista. Contudo, até a Constituição
safio histórico é certamente este: como fazer das massas Federal de 1988, o País não tinha um aparato jurídico-polí-
anônimas, deserdadas e manipuláveis um povo brasileiro tico que apontasse para a formação mínima de padrões de
de cidadãos conscientes e organizados. É o propósito da um Estado de Bem-Estar Social. Na década de 1980, foram
reorganizadas as políticas sociais contra a ditadura militar e
cidadania como processo político-social e cultural.
têm sido, nos últimos anos, ocasião de debates no contexto
Na realidade vigente, o desrespeito às leis comple-
das lutas pela democratização do Estado e da sociedade
mentares da Constituição tem sido a tônica de vários go-
no Brasil. Novos interlocutores e sujeitos sociais surgiram
vernos, consequentemente temos o descaso com a popu-
no campo das políticas sociais por meio da participação de
lação trabalhadora e assim as políticas sociais continuam segmentos organizados da sociedade civil na formulação,
assistencialistas e mantêm a população pobre, grande par- implementação, gestão e controle social destas políticas.
te miserável, excluída do direito à cidadania, dependen- Esse fenômeno ocorre a partir da crise dos anos 80
te dos benefícios públicos, desmobilizando, cooptando e (séc. XX), que se depara com realidades determinantes de
controlando os movimentos sociais. ordem política, vinculada à crise da ditadura e à transição
O que se pode constatar diante do exposto, é que a marcada pela democratização do Brasil, e de ordem eco-
efetivação de políticas sociais (públicas ou privadas) re- nômica e social, decorrentes do processo de reorganização
flete a realidade marcante de um país dependente e está mundial do capitalismo. Situação essa consequente da cri-
condicionada ao modelo neoliberal, que prevê que cada se do chamado Estado de Bem-Estar Social, em meados da
indivíduo garanta seu bem-estar em vez da garantia do década de 1970 e da derrocada do Leste Europeu, nos anos
Estado de direito. 80, que se abriram às propostas neoliberais, findando as
concepções do Estado, enquanto instância mediadora da
universalização dos direitos sociais.

6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Neste cenário de redefinições das relações entre Es- Hoje, esses conselhos, que expressam uma das prin-
tado e sociedade civil, acontecem muitas mobilizações de cipais inovações democráticas no campo das políticas so-
grupos e protagonistas sociais por meio de debates e pro- ciais, organizam-se em diferentes setores destas políticas
postas no enfrentamento da crise social, que desencadea- e assumem uma representatividade nas diferentes esferas
ram no processo constituinte resultando na reforma Cons- governamentais. Possuem uma composição paritária entre
titucional em 1988. representantes da sociedade civil e do governo e função
Neste contexto da chamada década perdida de 1980, deliberativa no que se refere à definição da política em
em função da crise da ditadura, do agravamento da ques- cada setor e ao controle social sobre sua execução.
tão social, do aumento da pobreza e da miséria e da luta Por meio dessa concepção dinâmica da sociedade, é
pela democratização do País, Estado e sociedade, intensi- possível acreditar que os espaços de representação social
ficam-se as discussões sobre as políticas sociais de caráter na organização e gestão das políticas sociais devem ser
público. É importante ressaltar que, embora seja um perío- ampliados, buscando a participação de novos e diferentes
do intenso das desigualdades sociais, também é marcado sujeitos sociais, especialmente, os tradicionalmente excluí-
dialeticamente por conquistas democráticas sem prece- dos do acesso às decisões do poder político.
dentes na história política brasileira. Várias são as experiências hoje, de organização dos
As políticas sociais no período de 1964 a 1988, eram conselhos, nas áreas da saúde, da criança e do adoles-
políticas de controle, seletivas, fragmentadas, excludentes cente, da educação, da assistência social e de outras; são
e setorizadas. Daí a necessidade de questionar esse padrão novas formas de participação da sociedade civil na esfera
histórico das políticas sociais e propor a democratização pública com uma proposta de democratização das políti-
dos processos decisórios na definição de prioridades, na cas sociais, porém muitas vezes na contraposição do mo-
elaboração, execução e gestão dessas políticas. Nesse sen- delo neoliberal legitimado pelos governos vigentes. Para
tido, a elaboração e a conquista das políticas sociais pas- Raichelis (2000):
sam ainda por processos de pressões e negociações entre O termo público-estatal (publicização) tem desperta-
as forças políticas vigentes e uma relativa transparência das do uma polêmica político-ideológica pela apropriação do
seu significado, que remete ao caráter das relações entre o
articulações.
Estado e sociedade na constituição da chamada esfera pú-
Nessa dinâmica, travou-se, a partir de 1985, com a As-
blica [...] é adotado numa visão ampliada de democracia,
sembleia Constituinte, uma luta na sociedade em torno da
tanto do Estado quanto da sociedade civil, e na implemen-
definição de novos procedimentos e de regras políticas que
tação de novos mecanismos e formas de atuação, dentro e
regulassem as relações do Estado com a sociedade civil,
fora do Estado, que dinamizem a participação social para
objetivando criar um novo posicionamento democrático.
que ela seja cada vez mais representativa da sociedade,
Dados históricos, segundo Raichelis (2000), revelam
especialmente das classes dominadas.
intensa participação da sociedade brasileira em função da
Neste sentido, busca-se romper com a subordinação
Assembleia Constituinte, reuniram-se na Articulação Na- histórica da sociedade civil frente ao Estado, por meio da
cional de Entidades pela Mobilização Popular na Consti- construção de espaços de discussão e participação da so-
tuinte, cerca de 80 organizações, algumas de âmbito na- ciedade civil na dimensão política da esfera pública, rumo
cional, compostas por associações, sindicatos, movimen- à universalização dos direitos de cidadania.
tos sociais, partidos, comitês plenárias populares, fóruns, A conquista de novos espaços de participação da so-
instituições governamentais e privadas, que se engajaram ciedade civil consolidou-se na construção de descentrali-
num amplo movimento social de participação política que zação das ações, com maior responsabilidade dos municí-
conferiu visibilidade social a propostas de democratização pios na formulação e na implantação de políticas sociais,
e ampliação de direitos em todos os campos da vida social. na transferência de parcelas de poder do Estado para a so-
No cenário das relações entre Estado e sociedade civil, ciedade civil organizada. Os conselhos paritários e delibe-
surgiram neste período novos espaços em que forças so- rativos no âmbito das políticas públicas foram a estratégia
ciais foram protagonistas na formulação de projetos socie- privilegiada. Ou seja, são compostos por representantes
tários para o enfrentamento da crise social que assolou o de entidades da sociedade civil e representantes do gover-
Brasil nos anos 80 e a disseminação da pobreza e da misé- no que devem, em conjunto, participar do planejamento,
ria, que colocou o País em alto nível de desigualdade social. das decisões e do controle de políticas sociais setoriais.
A Constituição Federal de 1988 definiu instrumentos Os conselhos são espaços públicos de discussão, decisão,
de participação da sociedade civil no controle da gestão acompanhamento e fiscalização de ações, programas e
das políticas sociais, estabeleceu mecanismos de partici- distribuição de recursos. E para Raichelis (2000, p.66), os
pação e implementação destas políticas, apontou canais conselhos são “expressões de novas relações políticas en-
para o exercício da democracia participativa, por meio de tre governos e cidadãos e um processo de interlocução
decisões direta como o plebiscito, referendo e de proje- permanente:
tos de iniciativa popular. Nesta perspectiva, a Carta Cons- Os conselhos significam o desenho de uma nova ins-
titucional instituiu a criação de conselhos integrados por titucionalidade nas ações públicas, que envolvem distintos
representantes dos diversos segmentos da sociedade civil sujeitos nos âmbitos estatal e societal. A constituição de
para colaborar na implementação, execução e controle das tais espaços, tornou-se possível, também, em virtude das
políticas sociais. mudanças que se processavam nos movimentos popula-

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
res que, de costas para o Estado no contexto da ditadura, descentralização adquiriu um ar de modernidade e recen-
redefiniram estratégias e práticas, passando a considerar a temente constituiu palavra de ordem no mundo político e
participação institucional como espaço a ser ocupado pela administrativo, especialmente no Brasil, a partir do proces-
representação popular. so constituinte de 1987. Dentre os princípios enumerados
Por meio dos conselhos, objetiva-se propor alterna- pela nova Constituição de 1988, o da descentralização po-
tivas de políticas públicas, criar espaços de debates entre lítica-administrativa demarca uma nova ordem política na
governos e cidadãos, buscar mecanismos de negociação, sociedade, a partir do momento que à sociedade é garan-
conhecer a lógica burocrática estatal para socializar as tido o direito de formular e controlar políticas, provocando
ações e deliberações, ultrapassar interesses particulares e um redirecionamento nas tradicionais relações entre Esta-
corporativistas em atendimento às demandas populares. do e sociedade.
Tem-se uma realidade dinâmica que busca a construção A descentralização implica transferência de poderes,
de esferas públicas autônomas e democráticas em relação atribuições e competências, baseia-se em uma divisão de
às decisões políticas e assim, rever as relações entre espa- trabalho social entre a União, o Estado e o Município, onde
ço institucional e práticas societárias. este responde pela formulação, organização e implemen-
Hoje, têm-se nos municípios brasileiros um grande nú- tação das ações, sem abrir mão do apoio técnico-finan-
mero de conselhos implementados em diferentes setores, ceiro dos níveis supra municipais de governo, de acordo
o que revela um novo modelo de participação da socieda- com o que determina a Constituição Federal. O processo
de na gestão pública, oriundo das lutas sociais das últimas de descentralização pressupõe a existência da democracia,
décadas, que propõem uma redefinição das relações entre da autonomia e da participação, entendidas como medi-
espaço institucional e práticas societárias, como forças an- das políticas que passam pela redefinição das relações de
tagônicas e conflitantes que se completam na busca de poder, como componentes essenciais do desenvolvimento
uma sociedade democrática. de políticas sociais voltadas às necessidades humanas e à
É evidente que a garantia legal da criação e da im- garantia de direitos dos cidadãos.
plementação desses conselhos, não garante a efetivação e Contudo, o que se sabe nacionalmente, é que os prin-
a operacionalização de todos, assim como a participação cípios proclamados não alcançaram o plano das intenções,
popular não pode tão pouco ser reduzida apenas ao espa- ou seja, não existiu uma verdadeira política nacional de
ço dos conselhos, sejam eles de assistência social, criança descentralização que orientasse a reforma das diferentes
e adolescente, educação, saúde e outros. Tal participação políticas sociais, salvo a área da saúde, como tem sido
apresenta-se como forma de participação política da so- destaque em sua reforma que resultou em uma política
ciedade civil organizada e que precisa ser devidamente deliberada e radical de descentralização, não obstante,
acompanhada e avaliada. Com um acompanhamento sis- com resultados positivos comprometidos, tendo em vista
temático das práticas dos conselhos, nas diferentes políti- as dificuldades de relacionamento entre as diferentes es-
cas sociais e nos diversos níveis governamentais, sinaliza feras de governo e o setor privado prestador de serviço,
para o perigo da burocratização, da rotina e da cooptação por meio dos graves problemas de financiamento (Silva,
pelos órgãos públicos, centralizando as decisões nas mãos 1995). Outros fatores, como: a ausência de redistribuição
do poder governamental, neutralizando ou fragilizando a de competências e atribuições, a crise fiscal (crise do ca-
autonomia dos conselhos em suas ações e decisões. pitalismo) associada às indefinições do governo federal,
Tem-se na realidade dos muitos municípios brasileiros interesses particulares em manter uma estrutura de cen-
essa interferência dos órgãos governamentais principal- tralização, ausência de um programa nacional planejado
mente no que diz respeito às decisões relativas ao orça- de descentralização na consecução e articulação de pro-
mento, processo eleitoral dos conselheiros, a escolha das gramas e projetos nas políticas sociais contribuíram para a
presidências e outros. não efetivação desta proposta constitucional.
Apresenta-se como desafio, então, a formação dos Com essa realidade acima apresentada, vê-se que as
conselheiros, sobretudo da sociedade civil, nas competên- estratégias de implementação das políticas sociais são vá-
cias políticas, econômicas, éticas, sociais, e outras, para o rias. Vão desde um Estado provedor de bens e serviços até
exercício de seu papel com seriedade e compromisso so- um Estado que responsabiliza a sociedade civil, por meio
cial na gestão pública. de suas redes de filantropia e solidariedade, no enfrenta-
Diante disso, o profissional de Serviço Social tem se mento das expressões das questões sociais e colocando-a
inserido com frequência nos conselhos em suas diferentes diante do desafio de discutir e decidir a importância da
áreas. Se por um lado sua contribuição tem feito avançar descentralização e participação como estratégia de de-
a esfera pública no campo das políticas sociais, por outro, mocratização das relações de poder e de acesso a bens e
tem-se apresentado à profissão a urgência da qualificação serviços públicos (Stein, 2000).
em seu aspecto teórico-prático e ético-político, para atuar Diante disso, a formulação, o acesso e a qualidade das
na elaboração dos planos nas esferas governamentais. políticas sociais é tarefa difícil, pois pressupõe a existência
No que diz respeito à participação e à descentraliza- de recursos financeiros e financiamentos sufi cientes para
ção político administrativa no campo das políticas sociais, atender às demandas da população e às responsabilidades
essas estratégias revelam um recente processo de rede- do poder público, bem como a gestão financeira de instru-
mocratização vivenciado no Brasil, para integrar a relação mentos que assegurem a democratização e a transparên-
entre Estado e sociedade. Conforme afirma Stein (1997), a cia na concepção das políticas sociais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Hoje, a União arrecada impostos sobre renda, produ- Diante de tudo o que foi exposto, o que se percebe é
tos industrializados, importação, exportação, operações que as políticas sociais são definidas e operacionalizadas
financeiras, contribuições sociais e outros, sendo parte a partir das reformas de cunho neoliberal e legitimadas
transferidos para os fundos de participação dos Estados e pelas agências internacionais; o projeto neoliberal privile-
dos Municípios, que, por sua vez, possuem também suas gia a defesa das privatizações e a constituição do cidadão
arrecadações próprias, segundo a legislação. consumidor.
No que tange às políticas sociais, a Constituição Fede- Nessa realidade de defesas de privatizações, é sentido
ral, em seu artigo 194, traz inovações, dentre elas o concei- um impacto direto, por exemplo, na seguridade social e,
to de seguridade social, com orçamento próprio para cada assim, as políticas referentes à infância, à juventude e à fa-
área (previdência social, saúde e assistência social) e com mília revelam o aspecto da mercantilização da saúde e da
recursos diferenciados dos que financiariam as demais po- previdência social, dificultando o acesso universal a esses
líticas sociais. sujeitos sociais e a proteção de direitos do adolescente
Segundo Behring & Boschetti (2006), os recursos per- trabalhador. Também na assistência social, observa-se a
manecem extremamente concentrados e centralizados, ampliação do assistencialismo, de programas focalizados,
contrariando a orientação constitucional da descentraliza- a ênfase nas parcerias com a sociedade civil e a família,
ção. Além de concentrados na União – o ente federativo atribuindo a elas ações de responsabilidade do Estado; e
com maior capacidade de tributação e de financiamento ainda a desconsideração da assistência social como polí-
–, também há concentração na alocação dos recursos nos tica pública.
serviços da dívida pública, juros, encargos e amortizações, Assim, as políticas sociais devem ser defendidas como
rubrica com destinação sempre maior que todo o recurso instrumento estratégico das classes subalternas na garan-
da seguridade social – e para as políticas sociais que são tia de condições sociais de vida aos trabalhadores para sua
financiadas pelo orçamento fiscal, a exemplo da educação, emancipação humana e a luta organizada para a conquista
reforma agrária e outras, as quais não estão contempladas da emancipação política. Com isso, a busca da ampliação
no conceito constitucional restrito de seguridade social do dos direitos e das políticas sociais é essencial, porque en-
Brasil. volve milhões de brasileiros espoliados em qualidade de
Entretanto, mesmo diante do aumento da arrecadação vida, dignidade humana, condições de trabalho. O profis-
tributária, não tem ocorrido aumento de recursos para as sional assistente social é chamado, então, a atuar nas ex-
políticas sociais de modo geral e especialmente para a se- pressões da questão social, formulando, implementando e
guridade social, que tem sofrido desvios de recursos nos viabilizando direitos sociais, por meio das políticas sociais,
últimos anos e que, por meio desses recursos, poderiam como será abordado abaixo.
ampliar os direitos relativos às políticas de previdência, à
saúde e à assistência social. A questão social e desafios para a implementação
Embora com alguns avanços observados no financia- de políticas sociais
mento das políticas sociais, com a busca da democrati-
zação da gestão financeira, a implementação de fundos No que diz respeito à questão social, a presente re-
especiais e de participação popular, aprofundamento do flexão parte do princípio relacional da questão social com
processo de descentralização de recursos com relação ao o modo de produção capitalista, no bojo do processo de
montante transferido, novas formas de repasse e outros, industrialização e do surgimento do proletariado e da
não são suficientes para atender às demandas da popu- burguesia industrial. Historicamente, a “questão social” é
lação. E o que se tem é o aumento da miséria, da fila dos nominação surgida na segunda metade do século XIX, na
desempregados, dos excluídos e de outros. Europa ocidental, a partir das manifestações de miséria e
Conforme afirmam Behring & Boschetti, a sustentação de pobreza oriundas da exploração das sociedades capita-
financeira com possibilidade de ampliação e universaliza- listas com o desenvolvimento da industrialização. É neste
ção dos direitos, assim, não será alcançada com ajustes contexto que iniciam as respostas para o enfrentamento
fiscais que expropriam recursos das políticas sociais. A desse novo jeito do capitalismo surgido naquela época.
consolidação da seguridade social brasileira, e da política Segundo Cerqueira Filho, por questão social, no sen-
social brasileira de uma forma geral, já que essa direção tido universal do termo, queremos significar o conjunto
atinge também políticas que estão dentro do orçamen- de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgi-
to fiscal, depende da reestruturação do modelo econô- mento da classe operária provocou na constituição da so-
mico, com investimentos no crescimento da economia, ciedade capitalista. Logo, a questão social está fundamen-
geração de empregos estáveis com carteira de trabalho, talmente vinculada ao conflito entre capital e trabalho.
fortalecimento das relações formais de trabalho, redução No capitalismo concorrencial, a questão social era tra-
do desemprego, forte combate à precarização, transfor- tada de forma repressiva pelo Estado, ou seja, a organiza-
mação das relações de trabalho flexibilizadas em relações ção e a mobilização da classe operária para a conquista de
de trabalho estáveis, o que, consequentemente, produzirá seus direitos sociais, eram casos de polícia.
ampliação de contribuições e das receitas da seguridade
social e, sobretudo, acesso aos direitos sociais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Já no início do século XX, com o contexto de emer- Como afirma Iamamoto (2001) “o Serviço Social tem
gência do capitalismo monopolista, a questão social torna- como tarefa decifrar as formas e expressões da questão
se objeto de resposta e de estratégia do Estado, por meio social na contemporaneidade e atribuir transparência às
de políticas sociais como mecanismo básico de controle iniciativas voltadas à sua reversão ou enfrentamento ime-
das classes trabalhadoras e, ao mesmo tempo, legitima-se diato”.
como representativo de toda a sociedade. Passa a exigir in- Dessa forma, é indispensável decifrar as novas media-
tervenção dos poderes públicos nas questões trabalhistas ções, por meio das quais se expressa a questão social hoje,
e a criação de órgãos públicos que pudessem se ocupar ou seja, é importante que se possam apreender as várias
dessas questões. expressões que assumem na atualidade as desigualdades
São criados no Brasil novos aparelhos e instrumentos sociais e projetar formas de resistência e de defesa da vida.
de controle como o Ministério do Trabalho e a Consolida- Continuam questionamentos para o Serviço Social,
ção das Leis Trabalhistas (CLT) que objetivavam mais a des- suas possibilidades e seus limites, frente aos desafios do
mobilização e despolitização da classe operária emergente mundo contemporâneo. A busca da implementação de
do que a eliminação de conflitos. políticas de direito sinaliza como grande desafio ao pro-
Pensar a questão social na contemporaneidade é um fissional assistente social que luta pelo protagonismo das
desafio, pois esta é reproduzida pela mundialização da classes subalternizadas.
economia e pelo retorno forçado do mercado autorregu- A década de 1980, no Brasil, pôde ser marcada pela
lado. Esses fatores intensificam-se pela competição e pela busca da democracia, pela organização e pela mobilização
concorrência nos Estados por meio de pressões internas e de diversos segmentos da sociedade civil e pela luta por
entre os Estados pela intensidade das pressões externas e direitos sociais, políticos e civis contra governos ditadores.
pela capacidade de proteção e direitos contra o mercado. Após a declaração constitucional em 1988, do direito
No Brasil, isso não ocorre, pois as proteções de trabalho à participação popular e à descentralização político-admi-
não possuem raízes de sustentação e sucumbem rapida- nistrativa, foram ampliados os espaços públicos, por meio
mente. de experiências da sociedade civil em conselhos comuni-
No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma tários, conselhos deliberativos das políticas sociais, asso-
grave, porque atinge intensamente todos os setores e clas- ciações, sindicatos. Segmentos da sociedade civil reivin-
ses sociais, sendo constantemente ameaçada pelo paupe- dicaram inovações de práticas políticas do País ao exigir o
rismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa direito à participação na gestão das políticas públicas. O
forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta cidadão passa a entender que possui direitos e reivindica
dificulta a construção de uma sociedade coesa e articulada por sua efetividade.
por meio de relações democráticas e interdependentes. A democracia passou a conviver com o ajuste estrutu-
O que se tem no País é uma desmontagem do sistema ral da economia e com as limitações dos gastos públicos,
de proteção e garantias do emprego e, consequentemen- além da necessidade de preparo dos conselheiros e dos
te, uma desestabilização e uma desordem do trabalho que gestores para a prática da gestão democrática e partici-
atingem todas as áreas da vida social. pativa. Embora o pacto federativo previsse a correspon-
Como afirma Arcoverde, a questão social brasileira as- sabilidade do poder nas esferas governamentais, União,
sumiu variadas formas, tendo como características orgâni- Estados e Municípios, este último tornou-se um ente fe-
cas a desigualdade e a injustiça social ligadas à organização derado, fortalecendo o processo de municipalização das
do trabalho e à cidadania. Resultante da “estrutura social políticas sociais e passou a ser o principal responsável pela
produzida pelo modo de produção e reprodução vigentes oferta dos serviços sociais, como a saúde, a educação, a
e pelos modelos de desenvolvimento que o País experi- assistência social, ampliando a complexidade da gestão
mentou: escravista, industrial (desenvolvimentista), fordista das políticas sociais em nível local.
– taylorista e o de reorganização produtiva”. Com isso, o município criou vários mecanismos para
Assim, as expressões da questão social, tais como: as efetivar as determinações constitucionais no que diz res-
desigualdades e as injustiças sociais são consequentes das peito à participação e à gestão das políticas sociais. Sur-
relações de produção e reprodução social por meio de uma giram os Conselhos de Políticas Públicas na área da crian-
concentração de poder e de riqueza de algumas classes e ça e do adolescente, do idoso, da assistência social, da
setores dominantes, que geram a pobreza das classes su- educação, da saúde e de outros. Entretanto os Conselhos
balternas. E tornam-se questão social quando reconhecidas necessitam ainda aprender a ser deliberativos, pois essa
e enfrentadas por setores da sociedade com o objetivo de democracia participativa enfrenta o desafio histórico de
transformação em demanda política e em responsabilidade uma “cultura” clientelista e autoritária, pautada no mando
pública. e não no direito.
Com tudo isso, tem-se que a questão social, que deve As políticas sociais podem ser “mecanismos eficientes
ser enfrentada enquanto expressão das desigualdades da para a democratização do acesso a bens e serviços para a
sociedade capitalista brasileira, é construída na organiza- população e também atuam como condições necessárias
ção da sociedade e manifesta-se no espaço societário onde ao desenvolvimento econômico e social”.
se encontram a nação, o Estado, a cidadania, o trabalho.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Dessa forma, propor a construção da igualdade social Outro aspecto importante para um projeto profissional
no Brasil, visando à conquista da cidadania, exige a efeti- e societário comprometido com uma nova sociabilidade é
vação da promessa da universalização dos direitos sociais, o trabalho que o assistente social cotidianamente formula
políticos e civis, desafiando um discurso liberal que isenta e desenvolve, projetos que viabilizam o acesso aos direi-
o Estado das responsabilidades sociais e restringe as polí- tos, que questiona o fundo público a favor dos grandes
ticas sociais à classe social menos favorecida, ou seja, “os oligopólios, que luta pela socialização e pela democrati-
pobres mais pobres”, reduzindo-as a medidas compensa- zação da política, que implementa serviços com qualidade
tórias, paliativas e focalizadas. aos usuários, envolvendo-os em seu planejamento, que se
As políticas sociais devem possibilitar serviços para contrapõe às regras institucionais autoritárias e tecnocrá-
os cidadãos, como exemplo, a educação pública deve ticas.
ser para o cidadão, independentemente de classe social, Assim, é um desafio para o Serviço Social incorpo-
embora, o quadro nacional e o mundial revelem a emer- rar em sua formação teórico-crítica e prático-operativa a
gência de atendimento das políticas básicas à população compreensão das diferentes dimensões da questão social
mais empobrecida e excluída. Conhecer essa realidade so- na complexa vida moderna.
cial e econômica que gera grande instabilidade financeira, Pensar o conjunto de necessidades sociais que se co-
imenso endividamento dos países pobres, especialmente locam como campo potencial para a atuação do profissio-
o Brasil, com progressiva redução nos investimentos pro- nal do Serviço Social exige um profissional mais refinado,
dutivos e redução nos índices de crescimentos econômi- capaz de compreender para além da brutalidade da po-
cos em todo mundo, torna-se importante para se lutar por breza, da exclusão social, da violência, as possibilidades
direitos, por trabalho, por democracia e por possibilidades emancipatórias dos desejos e das escolhas significativas.
de emancipação humana. Tais situações caracterizam-se É tarefa inerente à profissão compreender a lógica de
como grandes desafios, especialmente para o Serviço So- formação e o desenvolvimento da sociedade capitalista e
cial, que possui um Projeto Ético-Político Profissional, pau- os impasses colocados pelos conflitos sociais, tendo como
tado nesses princípios. campo de atuação as expressões da questão social. E nes-
sa perspectiva, o assistente social defende a luta pela de-
Assim afirma, Boschetti, o Serviço Social ao se consti-
mocracia econômica, política e social, busca a defesa de
tuir como uma profissão que atua predominantemente, na
valores éticos para o coletivo em favor da equidade, de-
formulação, planejamento e execução de políticas públicas
fende o direito ao trabalho e o emprego para todos, a luta
de educação, saúde, previdência, assistência social, trans-
pela universalização da seguridade social, com garantia de
porte, habitação, tem o grande desafio de se posicionar
saúde pública e previdência para todos os trabalhadores,
criticamente diante da barbárie que reitera a desigualdade
uma educação laica, pública e universal em todos os ní-
social, e se articular aos movimentos organizados em de-
veis, enfim, luta pela garantia dos direitos como estratégia
fesa dos direitos da classe trabalhadora e de uma socie-
de fortalecimento da classe trabalhadora e mediação fun-
dade livre e emancipada, de modo a repensar os projetos
damental e urgente no processo de construção de uma
profissionais nessa direção. Esses são os compromissos sociedade emancipada. (Texto adaptado de PIANA, M. C.
éticos, teóricos, políticos e profissionais que defendemos doutora em Serviço Social).
no Brasil e em nosso diálogo com o mundo (on-line).
A complexidade da sociedade atual exige um repensar
contínuo do saber teórico e metodológico da profissão,
A PRÁXIS PROFISSIONAL:
da ampliação da pesquisa no conhecimento da realidade RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA;
social, na produção do conhecimento sobre a organização A QUESTÃO DA MEDIAÇÃO.
da vida social e na busca da consolidação do projeto ético
-político, por meio do exercício profissional nas atividades
diárias, na inserção e participação política nas entidades Do legado da história aos desafios atuais da pro-
nacionais de Serviço Social (CFESS/Cress, ABEPSS, Enesso), fissão
na articulação com outros movimentos sociais em defesa
dos interesses e necessidades da classe trabalhadora e em O surgimento e desenvolvimento do Serviço Social
luta permanente contra as imposições do neoliberalismo, como profissão é resultado das demandas da sociedade
contra o predomínio do capital sobre o trabalho, da vio- capitalista e suas estratégias e mecanismos de opressão
lência, do autoritarismo, da discriminação e de toda forma social e reprodução da ideologia dominante. Como pro-
de opressão e de exploração humana. fissão que surge de uma demanda posta pelo capital, ins-
A busca dessa organização política exige a recusa pelo titucionaliza-se e legitima-se como um dos recursos mo-
profissional do conservadorismo, do assistencialismo e das bilizados pelo Estado e pelo empresariado, mas com um
práticas funcionalistas, como parte de uma construção his- suporte de uma prática cristã ligada à Igreja Católica, na
tórica, humana, intencional e criativa, capaz de possibilitar perspectiva do enfrentamento e da regulação da chamada
uma reflexão crítica, voltada para a construção do pacto questão social que, a partir dos anos 30 (séc. XX), adquire
democrático no Brasil, com a ampliação da cidadania por expressão política pela intensidade das manifestações na
meio da implementação de políticas sociais de direito. vida social cotidiana.

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Conforme afirma Yazbek (2000), terá particular des- A formação profissional dos primeiros assistentes so-
taque na estruturação do perfil da emergente profissão ciais brasileiros dá-se a partir da influência europeia, por
no país a Igreja Católica, responsável pelo ideário, pelos meio do modelo franco-belga que, tendo como base prin-
conteúdos e pelo processo de formação dos primeiros as- cípios messiânicos (tomistas) de salvar o corpo e a alma, e
sistentes sociais brasileiros. Cabe ainda assinalar, que nes- fundamentava-se no propósito de “servir ao outro”.
se momento, a questão social é vista a partir de forte in- O modelo franco-belga, limitou-se, portanto, a uma
fluência do pensamento social da Igreja, que a trata como formação essencialmente pessoal e moral sendo, nesse
questão moral, como um conjunto de problemas sob a período, o Serviço Social assumido como uma vocação,
responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam, e a formação moral e doutrinária, enquanto cerne da for-
embora situados dentro de relações capitalistas. Trata-se mação profissional, visou, sobretudo, formar o assistente
de um enfoque individualista, psicologizante e moraliza- social para enfrentar, com subjetividade, a realidade social.
dor da questão, que necessita para seu enfrentamento de A partir dos anos 40, abre-se um novo horizonte no
uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço campo da profissionalização da assistência, que, mesmo
Social efetivas possibilidades de desenvolvimento. ainda estreitamente ligada a sua origem católica, com as
O surgimento do Serviço Social está intrinsecamente ideias e princípios da “caridade”, da “benevolência” e da
relacionado com as transformações sociais, econômicas “filantropia”, próprios do universo neotomista, tem sua ati-
e políticas do Brasil nas décadas de 1930 e 1940, com o vidade legitimada pelo Estado e pelo conjunto da socie-
projeto de recristianização da Igreja Católica e a ação de dade, por meio da implementação de grandes instituições
grupos, classes e instituições que integraram essas trans- assistenciais. Nesse quadro, o Serviço Social busca uma
formações. Essas décadas são marcadas por uma socie- instrumentalização técnica, valorizando o método e des-
dade capitalista industrial e urbana. A industrialização vinculando-se dos princípios neotomistas para se orientar
processava-se dentro de um modelo de modernização pelos pressupostos funcionalistas da sociologia e assim
conservadora, pois era favorecida pelo Estado corporati- poder responder às novas exigências colocadas pelo mer-
vista, centralizador e autoritário. Assim, a burguesia indus- cado.
A linguagem do “investimento”, da técnica, do plane-
trial aliada aos grandes proprietários rurais, buscava apoio
jamento passa a ser um referencial importante, constituin-
principalmente no Estado para seus projetos de classe e,
do-se com isso, uma das bases para o processo de profis-
para isso, necessitavam encontrar novas formas de enfren-
sionalização do Serviço Social.
tamento da chamada “questão social”.
O processo de institucionalização e de legitimação do
O Estado Novo visando garantir o controle social e sua
Serviço Social desvencilha suas origens da Igreja, contudo
legitimação, apoia-se na classe operária por meio de uma
não supera o ranço conservador, quando o Estado passa
política de massa, capaz ao mesmo tempo de “defender” e
a gerir prioritariamente a política de assistência, efetivada
de reprimir os movimentos reivindicatórios. Ele se constitui
direta ou indiretamente pelas instituições por ele criadas
na “versão brasileira atenuada do modelo fascista euro-
ou a ele associadas. A assistência deixa de ser um serviço
peu”, ou seja, as diretrizes assumidas pelo governo Vargas prestado exclusivamente pelas instituições privadas, tendo
baseavam-se nos modelos corporativos europeus. Esta novos parceiros como o Estado e o empresariado.
ação vai desde uma legislação social protetora até uma es- O desenvolvimento do capitalismo e a inserção da
trutura sindical, o Estado “lhe concede o direito potencial classe operária no cenário político da época cria o fun-
à reivindicação e lhe concede a cidadania”, mas em con- damento necessário à institucionalização da profissão. A
trapartida, subtrai-lhe a possibilidade de uma organização chamada “questão social” manifesta-se por meio de vários
política autônoma e com isso cria um aparato institucional problemas sociais (fome, desemprego, violência e outras)
assistencial que irá atender muito mais ao elevado nível que exigem do Estado e do empresariado uma ação mais
econômico do mercado do que às necessidades da popu- efetiva e organizada. A demanda do trabalho profissional
lação. A política Vargas tem duas posturas contraditórias (assistente social), portanto, vem no bojo de uma deman-
em relação aos operários, a conciliação e a repressão, ou da apresentada pelo setor patronal e pelo Estado.
seja, o ditador buscava obter “apoio” das classes trabalha- Também se diferencia no que diz respeito à população
doras, inicialmente, pela legislação da Previdência Social, atendida, quando antes uma pequena parcela da popula-
depois pelo controle das estruturas sindicais, controle esse ção tinha acesso aos serviços das obras assistenciais priva-
que assumiu diversas formas repressivas. das, agora um maior número do proletariado tem acesso
A implementação dessas ações governamentais ocor- às incipientes políticas sociais criadas pelo Estado. Essa
re no momento em que a proposta de institucionalização mudança substancial altera também o vínculo profissional,
do Serviço Social começa a existir. Na América Latina, bem pois o Estado e o empresariado passam a ser os grandes
como no Brasil, a Igreja ainda desenvolvia quase que ex- empregadores de Assistentes Sociais, dando um contorno
clusivamente sua intervenção no campo de ação social por diferenciado ao exercício profissional.
meio das chamadas obras de caridade e assistência, que Sob a égide do pensamento da Igreja, a atuação pro-
envolviam em suas ações a burguesia e especialmente o fissional estava impregnada da ideia de “fazer o bem”, de
segmento feminino. legitimar a doutrina social da Igreja. O Serviço Social no
Brasil, assim como na Europa, frente à fragilidade teórica,

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
com uma formação mais moral e ética, e à complexida- Serviço Social desencadeasse uma busca de recursos téc-
de da realidade social, fez uso dos ensinamentos da Igreja nicos para superar ações espontâneas e filantrópicas. As
para executar sua prática, e esta usava o Serviço Social para exigências de tecnificação do Serviço Social são atendidas,
expandir sua doutrina, sua visão de homem e de mundo. mantendo-se a mesma razão instrumental: busca-se uma
Com isso, o pensamento conservador e a influência maior qualificação dos procedimentos interventivos, utili-
da doutrina católica traçaram um perfil de ação para os zando-se, inclusive, fundamentos advindos da Psicologia,
profissionais de Serviço Social atrelados ao pensamento na expectativa de que os profissionais, assistentes sociais
burguês, atribuindo-lhes tarefas de amenizar conflitos, fossem capazes de executar programas sociais com solu-
recuperar o equilíbrio e preservar a ordem vigente, com ções consideradas modernizantes para o modelo desen-
frágil consciência política, pois envolvida pelo “fetiche” da volvimentista adotado no Brasil.
ajuda, não conseguia ter claro as contradições do exercício Esse é um período importante para consolidação da
profissional. profissão, pois ela se estabelece de forma significativa
Essas características do Serviço Social brasileiro, no no âmago das instituições públicas e privadas. As esco-
período inicial de sua existência, são marcantes, e dizem las de formação profissional multiplicam-se, “ao final da
respeito a uma profissão aceita não só pela Igreja, mas II Guerra Mundial já se encontravam em funcionamento
principalmente pelo Estado e pela burguesia. Seu compo- cerca de duzentas escolas distribuídas pela Europa, pelos
nente técnico-operativo incorpora formas tradicionais de Estados Unidos e pela América Latina, onde se instalaram
assistência social e da própria ação social, tais como: estu- a partir de 1925” (Martinelli, 2000). O Serviço Social com
do das necessidades individuais, triagem dos problemas, sua formação teórico-metodológica sustentava as ações
concessão de ajuda material, aconselhamentos, inserção “modernizadoras”, pois respondia de forma particular às
no mercado de trabalho, triagem, visitas domiciliares, en- necessidades e exigências determinadas pelo capital. Os
caminhamentos, aulas de tricô e outros trabalhos manuais, assistentes sociais começam a assumir, no mercado de
atividades voltadas à educação ou a orientações sobre trabalho, funções de coordenação e de planejamento de
moral, higiene, orçamento, entre outros. programas sociais.
Nos anos 40, surgem os métodos importados dos A ação profissional tem por objetivo, orientada pela
matriz positivista, eliminar os “desajustes sociais” por meio
Estados Unidos, Serviço Social de Caso e, ainda que este
de uma intervenção moralizadora de caráter individualiza-
predomine, também há espaço para a abordagem grupal,
do e psicologizante, revelando uma ideia e imagem falsas
com o Serviço Social de Grupo, cujo enfoque de ambos é
de reforma social. O conservadorismo continua presente
a solução dos problemas pessoais, de relacionamento e
no universo ideológico da profissão e passa a conceber
de socialização. Só nos anos 60, o Serviço Social no Bra-
uma política técnico-burocrática a partir desse período. E
sil amplia seu campo de atuação para o chamado Serviço
como expressa Barroco (2003), o Serviço Social traduz sua
Social de Comunidade, legitimando com esta forma de
ação profissional por meio, de uma ética vinculada à mo-
intervenção o atendimento do projeto de influência nor-
ral conservadora e dogmática segundo a base ideológica
te-americano.
neotomista.
No período pós Segunda Guerra Mundial, a profissão A abordagem individualizada, com predominância de
que antes era composta quase que exclusivamente por uma ação psicologizada, ainda era a mais utilizada pelo
elementos da elite, passa a receber agentes que proce- Serviço Social, caracterizada pela perspectiva de respon-
diam da pequena burguesia, não mais movidos apenas sabilização do indivíduo com seu destino social, embora
por motivações religiosas, mas incentivados e interessados alguns segmentos profissionais estivessem atuando em
pela qualificação profissional que poderia garantir acesso planejamentos e ações de maior amplitude.
ao mercado de trabalho. Em meados de 1960, surge um momento importante
Em 1942, a era Vargas possibilitou estreitar relações no desenvolvimento do Serviço Social como profissão. É a
com os Estados Unidos, em nome de interesses econômi- primeira crise ideológica em algumas escolas de Serviço
cos e políticos cujo principal objetivo era fortalecer o capi- Social, com o aparecimento, na América Latina, da propos-
talismo na América Latina e combater o comunismo. Esta ta de transformação da sociedade, em substituição à de-
relação estendeu-se para além das relações econômicas senvolvimentista adotada até o momento. Nessa década,
e envolveu um forte processo de ideologização norte-a- o mundo passa por grandes transformações, especialmen-
mericana no País. A América do Norte passa a ser o novo te na América Latina, com a Revolução Cubana que, criti-
“protótipo” de ideias, a nova referência de ações, especial- cando as estruturas capitalistas, mostra-se ao continente
mente na esfera das políticas públicas. como alternativa de desenvolvimento, libertando-se dos
O Serviço Social, inserido neste contexto social, sofre Estados Unidos. É grande o inconformismo popular com o
forte rebatimento da ideologia da época e passa a buscar modelo de desenvolvimento urbano industrial dominante.
no modelo de profissão norte-americano uma nova refe- Toda essa agitação política é acompanhada pelas re-
rência filosófica, o suporte teórico e científico necessário flexões e pela inquietação das ciências sociais que, por
para responder às demandas postas ao exercício profis- meio da introdução do marxismo, começam a questionar
sional. O ideário dominante requeria uma crescente in- a dependência externa, especialmente a norte-americana,
tervenção técnica (organizada e planejada) e fazia que o por meio do enfoque dialético.

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Essa crise não poderia deixar de atingir as Universida- Assim, em plena vigência da Ditadura Militar, instaura-
des e, especialmente, o Serviço Social que começa a ques- da no País desde os anos de 1964, é que o Serviço Social
tionar sua ação, conforme apresenta Netto (2001), trata-se vai passar por processo de renovação amplo que mudará
de um cenário, em primeiro lugar, completamente distin- de forma significativa sua base teórico-conceitual.
to daquele em que se moveu a profissão até meados dos Assim, a mobilização social e política da sociedade
anos sessenta. Sem entrar na complexa causalidade que e a mobilização interna dos assistentes sociais põem em
subjazia ao quadro anterior da profissão, é inconteste que relevo a crise da profissão em meados dos anos 60: sua
o Serviço social no Brasil, até a primeira metade da década desqualificação no mundo científico acadêmico, sua ina-
de sessenta, não apresentava polêmicas de relevo, mostra- dequação “metodológica” com a divisão em serviço social
va uma relativa homogeneidade nas suas projeções inter- de caso, serviço social de grupo e desenvolvimento de co-
ventivas, sugeria uma grande unidade nas suas propostas munidade e a ausência de uma teorização articulada. Suas
profissionais, sinalizava uma formal assepsia de participa- práticas mais significativas faziam-se longe dos graves
ção político-partidária, carecia de uma elaboração teórica problemas sociais, sem consonância com as necessidades
significativa e plasmava-se numa categoria profissional concretas do povo. As ações de transformação ficavam “à
onde parecia imperar, sem disputas de vulto, uma consen- margem”.
sual direção interventiva e cívica: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social,
Assim o Serviço Social começa a perceber a dimen- iniciado na década de 1960, representou uma tomada de
são política de sua prática, e o modelo vigente baseado consciência crítica e política dos assistentes sociais em
na visão funcionalista do indivíduo e com funções integra- toda a América Latina, não obstante, no Brasil as condi-
doras não é mais de interesse da realidade latino-ameri- ções políticas em que ele ocorreu trouxe elementos muito
cana que passava por transformações sociais, políticas e diversos dos traçados em outros países. As restrições da
econômicas. O modelo importado de Serviço Social torna- Ditadura Militar, principalmente depois do Ato Institucio-
se inoperante e tem início um processo de ruptura teóri- nal nº 5, trouxeram elementos importantes nos rumos to-
co-metodológico, prático e ideológico. “A ruptura com o mados pelo Serviço Social em seu processo de renovação.
Serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de rom- Esses profissionais, mediante o reconhecimento de inten-
pimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação sas contradições ocorridas no exercício profissional, que se
nacional e de transformações da estrutura capitalista ex- apoiava na corrente filosófica positivista, de Augusto Com-
cludente, concentradora, exploradora” (Faleiros, 1987). te, questionavam seu papel na sociedade, buscando levar
Nos anos posteriores, a profissão busca uma concep- a profissão a romper com a alienação ideológica a que se
ção crítica e um vínculo com a classe trabalhadora, em- submetera. Suas expectativas e desejos voltavam-se para
basado em uma percepção do exercício profissional para a busca da identidade profissional do Serviço Social e sua
além da mera razão instrumental, ou seja, a busca de uma legitimação no mundo capitalista. Para tanto, uma nova
“transformação na intencionalidade dos profissionais que proposta teórico-ideológica deveria alicerçar o ensino da
se identificavam como agentes de mudanças”. profissão, originando uma prática não assistencialista, mas
Na década de 1960, o modelo de desenvolvimento en- transformadora, comprometida com as classes populares.
tra em crise, provocando uma agitação política e muitas Quando o modelo filosófico elaborado por Karl Marx, pas-
mobilizações populares, e, o Serviço Social é influenciado sou a embasar o referencial teórico-metodológico do Ser-
por este clima político, quando dá início a um processo de viço Social, o chamado materialismo Histórico Dialético. É
discussão política no interior da categoria. no marco desse movimento que o Serviço Social, aberta-
É necessário, portanto, buscar caminhos e que aconte- mente, apropria-se da tradição marxista e o pensamento
çam, no interior da categoria, reflexões, indagando-se so- de raiz marxiana deixou de ser estranho no universo pro-
bre o papel dos profissionais em face de manifestações da fissional (Netto, 2001).
“questão social”, interrogando-se sobre a adequação dos Nesse modelo, o referencial teórico-científico é o Ma-
procedimentos profissionais consagrados às realidades re- terialismo Histórico e o referencial filosófico e a Lógica
gionais e nacionais, questionando-se sobre a eficácia das Dialética (ou a dialética materialista), que tem por objetivo
ações profissionais e sobre a eficiência e legitimidade das estudar as relações que envolvem homem e sociedade, ou
suas representações, inquietando-se com o relacionamen- seja, a prática concreta, afirmando que, nesta interação, há
to da profissão com os novos atores que emergiam na cena uma constante transformação, com crescimento quantita-
política (fundamentalmente ligados às classes subalternas) tivo e qualitativo.
e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos políticos que O Materialismo Histórico Dialético situa a sociedade
vinham do pós-guerra, do surgimento de novos protago- determinada historicamente e em constante transfor-
nistas sociopolíticos, da revolução cubana, do incipiente mação, dividida em classes sociais distintas: a burguesia,
reformismo gênero Aliança para o Progresso, ao mover-se como detentora do capital e de todo o lucro, e a classe
assim, os assistentes sociais latino-americanos, através de trabalhadora ou o proletariado que dispõe da força de
seus segmentos de vanguarda, estavam minando as bases trabalho vendida por um ínfimo salário, não garantindo
tradicionais da sua profissão. condições dignas de sobrevivência.

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Assim, como afirma José Filho (2002), que o Serviço quire maior consistência, quando surgem os estudos que
Social, no decorrer das últimas décadas, evoluiu no pro- procuram aprofundar as formulações teóricas da profissão.
cesso de pensar-se a si mesmo e à sociedade, produzindo Fundamentadas nessa nova perspectiva, especialmente no
novas concepções e auto representações como “técnica que se refere à dimensão político-ideológica, explicitam o
social”, “ação social modernizante” e posteriormente “pro- caráter contraditório de sua prática e vinculam sua ação
cesso político transformador. Atualmente põe ênfase nas profissional à transformação social.
problematizações da cidadania, das políticas sociais em Essas tendências, que expressam matrizes diferencia-
geral e, particularmente, na assistência social. das de fundamentação teórico-metodológicas da profis-
Netto apresenta três vertentes que se fizeram presen- são, acompanharam a trajetória do pensamento e da ação
tes no processo de renovação do Serviço Social no Brasil profissional nos anos seguintes. É nos anos 80 (séc. XX)
e instauraram o ecletismo ou o pluralismo profissional: a que a teoria social de Marx inicia sua efetiva interlocução
tendência modernizadora, a reatualização do conservado- com a profissão. Outras estratégias passam a compor a
rismo e a intenção de ruptura. prática profissional: educação popular, assessoria a setores
A vertente modernizadora teve hegemonia até os populares, investigação e ação e principalmente a redefi-
anos 70, iniciando-se no Seminário de Araxá em 1967 e se nição da prática da Assistência Social.
consolidando no Seminário de Teresópolis em 1970. Bus- É no bojo deste debate que o Serviço Social consegue,
cou modernizar o Serviço Social a partir da mesma razão ao longo dos últimos 30 anos, ir definindo uma concepção
instrumental vigente na profissão (neopositivismo), com mais crítica de sua própria inserção no mundo do traba-
isso, faz a revisão de métodos e técnicas para adequar-se lho, como especialização do trabalho coletivo. E será esse
às novas exigências postas pelo contexto. O Serviço Social referencial marxista que, a partir dos anos 80 e avançando
é tido como elemento dinamizador e integrador do pro- nos anos 90, irá imprimir direção ao pensamento e à ação
cesso de desenvolvimento. do Serviço Social no Brasil. Permeará as ações voltadas
A vertente da reatualização do conservadorismo (ou à formação de assistentes sociais na sociedade brasileira
fenomenológica) buscou desenvolver procedimentos di- (o currículo de 1982 e as atuais diretrizes curriculares); os
ferenciados para a ação profissional, a partir do que seus eventos acadêmicos e aqueles resultantes da experiên-
teóricos conceberam como referencial fenomenológico. cia associativa dos profissionais, como suas convenções,
Esta vertente recupera o que há de mais conservador na congressos, encontros e seminários; estará presente na
herança profissional, com um enfoque psicologizante das regulamentação legal do exercício profissional e em seu
relações sociais e distante do verdadeiro legado fenome- Código de Ética.
nológico de Husserl. Essa realidade ganha visibilidade possibilitando um
Segundo Barroco (2003) a fenomenologia se apre- novo processo de recriação da profissão, “em busca de sua
senta como um método de ajuda psicossocial fundado na ruptura com o histórico conservadorismo e do avanço da
valorização do diálogo e do relacionamento; com isso, rea- produção de conhecimento, nos quais a tradição marxis-
tualiza a forma mais tradicional de atuação profissional: a ta aparece hegemonicamente como uma das referências
perspectiva psicologizante da origem da profissão. [...] e o básicas”.
marco referencial teórico dessa metodologia é constituído Obviamente que esse percurso da profissão não acon-
por três grandes conceitos: diálogo, pessoa e transforma- teceu sem dificuldades, limites e desafios, pois inicialmen-
ção social. te a apropriação equivocada do referencial teórico fez
A terceira vertente do movimento de reconceituação que o Serviço Social negasse a dimensão instrumental da
nos anos 80 foi a marxista, denominada de intenção de profissão e mesmo a atuação no âmbito do Estado. Mais
ruptura com o Serviço Social tradicional (Netto, 2001). Por tarde, com o retorno às fontes do pensamento de Marx, a
meio de um pequeno grupo de vanguarda, essa perspec- perspectiva dialética pôde ir subsidiando uma análise de
tiva remeteu a profissão à consciência de sua inserção na realidade mais coerente, possibilitando a apreensão das
sociedade de classes, gerou um inconformismo tanto em mediações necessárias para uma análise em uma pers-
relação à fundamentação teórica quanto à prática, fazen- pectiva de totalidade. Com isso, o Serviço Social foi cons-
do emergir momentos de debates e questionamentos que truindo seu projeto ético-político que possibilita uma nova
se estendem não exclusivamente ao que ocorre dentro da perspectiva em sua dimensão interventiva.
profissão, mas principalmente sobre as mudanças políti- Na década de 1990, as consequências da lógica capi-
cas, econômicas, culturais e sociais que a sociedade da talista excludente e destrutiva, desenhadas no modelo de
época enfrentava, consequência do desenvolvimento do globalização neoliberal, contribuem para a precarização e
capitalismo mundial que impôs à América Latina seu mo- a subalternização do trabalho à ordem do mercado, para
delo de dominação, da exploração e da exclusão. a desmontagem dos direitos sociais, civis e econômicos,
Essa vertente de ruptura não ocorreu sem problemas, para a eliminação da estrutura e responsabilidade do Esta-
pois estes relacionam-se à visão reducionista e equivocada do em face da “questão social, para a privatização dos ser-
do marxismo presente no marxismo althusseriano (Louis viços públicos e empresas estatais e atingem diretamente
Althusser), que recusou a via institucional e as determina- a população trabalhadora, rebatendo nos profissionais de
ções sócio históricas da profissão, (Yazbek, 2000), porém Serviço Social enquanto cidadãos trabalhadores assalaria-
tais problemas não serão aqui detalhados. Tal vertente ad- dos e viabilizadores de direitos sociais.

15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
A profissão, como especialização do trabalho coletivo, Diante do legado histórico da profissão, pode-se res-
traz em si as contradições e as determinações do contexto saltar o protagonismo crescente dos assistentes sociais na
social mais amplo possibilitando a superação do caráter prestação de serviços sociais, no campo do planejamento,
conservador do Serviço Social, que expressa uma visão da gestão e execução das políticas, dos programas, dos
mecanicista da profissão e da perspectiva que lhe atribuía projetos e serviços socioassistenciais, no avanço da área
um caráter revolucionário, fruto de um militantismo que acadêmica, na avaliação do processo de formação profis-
superestimava a capacidade profissional (Barroco, 2003). É sional, na área da pesquisa, na área de produção de co-
o grande debate entre a postura fatalista e a messiânica, nhecimento e na própria organização política da categoria.
que tanto incomodou os profissionais de Serviço Social. A O Serviço Social aparece atualmente como uma profissão
primeira desconsiderava as contradições do sistema, das consolidada na sociedade brasileira, ganhando visibilidade
instituições e das próprias relações sociais, não sendo pos- no cenário atual e sustentado por um projeto ético-políti-
sível fazer nada para ser modificado, e a segunda subesti- co que o habilita a formular respostas profissionais quali-
mava o contexto social, as classes sociais, as organizações ficadas face à questão social. Esse projeto comprometido
políticas, os movimentos sociais, os homens como sujeitos com valores e princípios que apontam para a autonomia,
históricos, enfim, os limites da realidade social e do pro- a emancipação, a defesa da liberdade e da equidade, a so-
fissional. cialização da política e da riqueza socialmente produzida e
No exercício profissional cotidiano, o Serviço Social o pleno desenvolvimento de seus usuários, vem se concre-
mantém o desafio de conhecer e interpretar algumas lógi- tizando nas ações cotidianas de trabalho dos Assistentes
cas do capitalismo contemporâneo, especialmente em re- Sociais, seja qual for o espaço de atuação, permitindo-lhes
lação às mudanças no mundo do trabalho e sobre as ques- compreender o Serviço Social na divisão sócio técnica do
tões de desestruturação dos sistemas de proteção social trabalho e no encaminhamento de ações que contribuam
e das políticas sociais em geral. E como afirma Iamamoto para a ultrapassagem do discurso da “denúncia” para o
(2000), ao profissional assistente social apresenta-se um âmbito das práticas institucionais e da contribuição à for-
dos maiores desafios nos dias atuais é desenvolver sua ca- mulação de novas políticas sociais.
pacidade de decifrar a realidade e construir propostas de A efetivação do projeto ético-político do Serviço So-
trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, cial exige que os profissionais, cada vez mais, recriem seu
a partir de demandas emergentes no cotidiano. O perfil perfil profissional e sua identidade, ultrapassem limites
predominante do assistente social historicamente é o de institucionais e superem a ideologia do assistencialismo e
um profissional que implementa políticas sociais e atua na avancem nas lutas pelos direitos e pela cidadania. É o que
relação direta com a população usuária. Hoje exige-se um será discutido no próximo item.
trabalhador qualificado na esfera da execução, mas tam-
bém na formulação e gestão de políticas sociais, públicas O Serviço Social e a consolidação do projeto ético
e empresariais: um profissional propositivo, com a sólida -político frente às desigualdades sociais do século XXI
formação ética, capaz de contribuir ao esclarecimento dos
direitos sociais e dos meios de exercê-los, dotado de uma A partir dos anos 80, as mudanças ocorridas na profis-
ampla bagagem de informação, permanentemente atuali- são foram pautadas na necessidade de conhecer e acom-
zada, para se situar em um mundo globalizado. panhar as transformações econômicas, políticas e sociais
Mediante essa afirmação da autora, no desenho do do mundo contemporâneo e da própria conjuntura do
perfil do profissional de Serviço Social, como coparticipan- Estado e do Brasil. As duas últimas décadas do século XX
te do processo de transformação, deverá contribuir, por foram determinantes nos novos rumos acadêmicos, polí-
meio de uma práxis educativa e transformadora, para a ticos e profissionais para o Serviço Social. No País, as in-
construção de sujeitos históricos respeitados e valorizados tensas e crescentes manifestações de expressões da ques-
como seres humanos livres capazes de pensar, agir, decidir, tão social, decorrentes das inúmeras crises econômicas
optar e, nessa perspectiva dialética, transformar a realida- e políticas, exigiram da profissão sua adequação a essas
de e por ela ser transformado. demandas sociais. Esse período marca profundamente no
Dessa forma, o exercício da profissão envolve a ação País o desenvolvimento da profissão por meio de um dos
de um sujeito profissional que tem competência para pro- seus momentos importantes que é a recusa e a crítica do
por, para negociar com a instituição seus projetos, defen- conservadorismo profissional.
der seu campo de trabalho, suas qualificações e funções Foi implantado, na década de 1990, o Projeto Éti-
profissionais que extrapolem ações rotineiras e decifrem co-Político do Serviço Social, fruto de uma organização
realidades subjacentes, revertendo-as em ações concretas coletiva e de uma busca de maturidade que possibilita à
de benefícios à população excluída. Suas ações vão desde profissão a formular respostas qualificadas frente à ques-
a relação direta com a população até o nível do planeja- tão social. Trata-se de um projeto que, para Neto (2000), é
mento, tendo inclusive a árdua tarefa de priorizar os que um processo em contínuos desdobramentos, flexível, con-
têm e os que não têm direitos de acesso aos serviços e tudo sem descaracterizar seus eixos fundamentais”. Ele é
equipamentos sociais. comprometido com valores e princípios que têm em seu
núcleo o reconhecimento da liberdade como possibilidade

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
de escolher concretamente alternativas de vida, buscando sociais constituíram-se uma categoria pesquisadora, re-
o compromisso com a autonomia, a emancipação, a de- conhecida nacional e internacionalmente (tema do próxi-
fesa da equidade, a socialização da política e da riqueza mo item). E ainda amadureceram em suas representações
socialmente produzida e o pleno desenvolvimento de seus políticas e corporativas, por meio de órgãos acadêmicos
usuários. e profissionais reconhecidos e legitimados. Travou-se um
Para Santana (2000), as assistentes sociais, preocupa- amplo debate em torno das políticas sociais públicas, es-
dos com a modernização do País e da profissão, assumem pecialmente da seguridade social, contribuindo para a rea-
posições predominantemente favoráveis à reprodução firmação da identidade profissional.
das relações sociais. Porém, a partir da década de 1980, A profissão, como afirma Yazbek (2000, p.29), enfrenta
os setores críticos (em geral, respaldados na teoria mar- o desafio de decifrar algumas lógicas do capitalismo con-
xista) assumem a vanguarda da profissão. É no bojo desse temporâneo, especialmente em relação às mudanças no
processo de renovação do Serviço Social que o pluralismo mundo do trabalho, os processos desestruturadores dos
se institui e inicia a construção do que hoje chamamos de sistemas de proteção social e da política social em geral
projeto ético-político da profissão. e o aumento da pobreza e a exclusão social. O Serviço
A construção coletiva desse projeto profissional aglu- Social vê-se confrontado e desafiado a compreender e
tinou assistentes sociais de todos os segmentos e mate- intervir nessa sociedade de transformações configuradas
rializou-se no Código de Ética Profissional do Assistente nas novas expressões da questão social: a precarização do
Social, aprovado em 13/3/1993, na Lei de Regulamentação trabalho, a penalização dos trabalhadores, o desemprego,
da Profissão de Serviço Social (Lei 8.662 de 7/6/1993) e na a violência em suas várias faces, a discriminação de gê-
proposta das Diretrizes Curriculares para a Formação Pro- nero e etnia e tantas outras questões relativas à exclusão.
fissional em Serviço Social (8/11/1996). Confirma Guerra Como observa Barroco (2003), se na entrada dos anos 90
(2007) que a década de 1990 confere maturidade teóri- é evidente o amadurecimento de um “vetor de ruptura”,
ca ao Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social isso não significa que essa vertente tenha alcançado uma
brasileiro que, no legado marxiano e na tradição marxista, “nova legitimidade” junto às classes subalternas. Além dis-
apresenta sua referência teórica hegemônica. Enfeixa um so, a ruptura com o conservadorismo profissional, conso-
conjunto de leis e de regulamentações que dão susten- lidada em 80, não significa que o conservadorismo (e com
tabilidade institucional, legal, ao projeto de profissão nos
ele o reacionarismo) foi superado no interior da categoria.
marcos do processo de ruptura com o conservadorismo: a)
Nesse cenário, no início da década de 1990, é que a
o Novo Código de Ética Profissional de 1993; b) a nova Lei
questão ética apresentava-se como tema relevante para
de Regulamentação da Profissão em 1993; c) as Diretrizes
a profissão. Surgiram as mobilizações reivindicatórias da
Curriculares dos cursos de Serviço Social em 1996; d) as
ética na política e como tema privilegiado de cursos, en-
legislações sociais que referenciam o exercício profissional
contros, publicações, invadem os meios de comunicação
e vinculam-se à garantia de direitos como: o Estatuto da
de massa atingindo a vida cotidiana da população. E para
Criança e do Adolescente – ECA de 1990, a Lei Orgânica da
a profissão, apareceram desafios e questionamentos teó-
Assistência Social – Loas de 1993, a Lei Orgânica da Saúde
rico práticos e ético-políticos para o enfrentamento das
em 1990.
Esse projeto de profissão é expressão de um momento consequências do ideário neoliberal que acirravam as de-
histórico e fruto de um amplo movimento de lutas pela sigualdades sociais.
democratização da sociedade brasileira, com forte pre- A profissão passou a explicitar com maior clareza seu
sença das lutas operárias que impulsionaram a crise da projeto ético-político que foi gestado em duas décadas
ditadura, “coroando esforços coletivos e a politização pro- anteriores. Essa construção caracterizou-se pela busca do
gressista da vanguarda da categoria” (Netto, 1996). A ca- rompimento com a vertente conservadora do Serviço So-
tegoria dos assistentes sociais foi sendo questionada pela cial e pela proposição de um novo projeto profissional que
prática política de diferentes segmentos da sociedade civil, se aproxima dos projetos societários.
no contexto do crescimento dos movimentos sociais e das Segundo Netto (2000), “os projetos societários são
lutas em torno da elaboração e aprovação da Carta Cons- projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato
titucional de 1988 e pela defesa do Estado de Direito, não de se constituírem projetos macroscópicos, em propostas
ficando como mera expectadora dos acontecimentos. Mas para o conjunto da sociedade”.
avançou com maturidade sendo protagonista na constru- Com isso, o projeto ético-político do Serviço Social
ção desses momentos históricos e em sua participação caracteriza-se pelos determinantes sócio históricos, pela
efetiva em gerir políticas sociais e viabilizar a construção dimensão política pautada no compromisso com a classe
dos direitos sociais das classes subalternizadas da socieda- trabalhadora e pelos interesses, aspirações e demandas do
de, conquistando o que Netto (idem, ibidem) denominou, projeto coletivo dos assistentes sociais.
“maturação profissional”. Então, a categoria com a aprovação do Código de Éti-
É possível atestar que a profissão nas últimas décadas ca em 1993, conseguiu articular compromissos éticos, po-
deu um salto qualitativo em sua formação acadêmica e líticos e o exercício da prática profissional, reconhecendo
em sua presença política na sociedade. Intensificou-se a as mediações necessárias entre projeto societário e proje-
produção científica e o mercado editorial; os assistentes to profissional.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Para os projetos profissionais, Netto (2000) apresen- de lutas que passam por partidos políticos, sindicatos e
ta como construção coletiva de uma categoria, (ou sujeito movimentos sociais organizados; mas que passam, tam-
coletivo) que retrata sua imagem profissional. bém, por reivindicações em torno de melhorias parciais de
Os projetos profissionais apresentam a autoimagem vida, além do conjunto de expressões associativas e cul-
de uma profissão, elegem os valores que a legitimam turais que conformam o modo de viver e de pensar das
socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e classes e seus segmentos sociais. O desafio é captar os
funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais núcleos de contestação e resistência, as formas de imagi-
e práticos) para seu exercício, prescrevem normas para o nação e intervenção do cotidiano, de defesa da vida e da
comportamento dos profissionais e estabelecem as bali- dignidade do trabalhador.
zas da sua relação com os usuários de seus serviços, com Esse compromisso ético-político assumido pela cate-
as outras profissões e com as organizações e instituições goria nas últimas décadas, tem revelado o desafio da com-
sociais, privadas e públicas (entre estas, também e desta- petência profissional, que deve embasar-se no aprimora-
cadamente com o Estado, ao qual coube, historicamente, mento intelectual do assistente social, com ênfase em uma
o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). “formação acadêmica qualificada, alicerçada em concep-
Nesse sentido, a formulação de um projeto profissio- ções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de
nal crítico à sociedade capitalista é “uma demanda dos viabilizar uma análise concreta da realidade social” e pos-
segmentos da sociedade que recebem os serviços presta- sibilitar um processo de formação permanente e “estimu-
dos pelo assistente social, e não apenas uma condição de lar uma constante postura investigativa” (Netto, 2000).
grupos ou do coletivo profissional” (Guerra, 2007). No que diz respeito aos usuários dos serviços, faz-se
Este projeto profissional reafirma o compromisso da necessário que este projeto profissional priorize uma nova
categoria com um projeto societário que propõe a cons- relação de compromisso com a qualidade dos serviços
trução de uma nova ordem societária, sem dominação, ex- prestados à população, bem como a publicização, demo-
ploração de classe, etnia e gênero. Ele tem como aspecto cratização e universalização dos recursos institucionais a
central a liberdade, ou seja, a possibilidade de o ser hu- ela direcionados.
mano fazer concretamente suas escolhas, e com isso com- Contudo, a consolidação desse projeto depende da
prometer-se com a autonomia, a emancipação e a plena organização da categoria dos assistentes sociais e de sua
expansão dos indivíduos. A partir desses princípios, o pro- articulação com outras categorias que partilhe dos mes-
jeto ratifica a intransigente defesa dos direitos humanos mos compromissos e princípios fundamentais. Depende
e contra qualquer forma de preconceito, o arbítrio, o au- ainda da mobilização que se trave com a sociedade civil
toritarismo, culminando no exercício do pluralismo na so- na luta pela garantia dos direitos civis, sociais e políticos
ciedade em geral e no exercício profissional (Netto, 2000). de todos os cidadãos. Requer, segundo Iamamoto (2001)
Como analisa o autor acima, a dimensão política do “remar na contracorrente, andar no contravento, alinhan-
projeto é evidenciada pela equidade e pela justiça social, do forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos
por meio da busca universal do acesso aos bens e aos ser- e das marés na vida em sociedade”. Trata-se de um projeto
viços nos programas e nas políticas sociais. Com isso, tem- que está se consolidando hegemônico no interior da ca-
se a consolidação da cidadania por meio da viabilização tegoria, isto porque, ele tem raízes efetivas na vida social
de todo esse processo democrático, garantido a todas as brasileira, vinculando-se a um projeto societário antagôni-
classes trabalhadoras. co ao das classes possuidoras e exploradoras.
A efetivação desses valores preconizados pelo proje- Neste sentido, a construção deste projeto profissional
to-ético-político do Serviço Social ocorrerá por meio do acompanha a curva ascendente do movimento democráti-
protagonismo da classe trabalhadora na inserção e na par- co e popular que, progressista e positivamente, tensionou
ticipação nos espaços públicos, com poderes de decisão a sociedade brasileira entre a derrota da ditadura e a pro-
no que lhe diz respeito, na ampliação do conhecimento mulgação da Constituição de 1988 (referida como Cons-
de direitos e interesses em jogo, da viabilização de meios tituição Cidadã), um movimento democrático e popular
para a implementação de decisões coletivas, do acesso que, colocando-se inclusive como alternativa nacional de
às regras de negociação com transparência, e com isso o governo nas eleições presidenciais de 1989, forçou uma
trabalhador social, possa contribuir para a inclusão social rápida redefinição do projeto societário das classes pos-
da classe trabalhadora na real construção da cidadania e suidoras.
no fortalecimento da democracia. Assim, Iamamoto (2000) Na contramão da busca pela efetivação do projeto éti-
explica que uma aproximação, por meio da pesquisa cri- co-político do Serviço Social, existem duras ameaças de
teriosa, às condições de vida e de trabalho das classes su- mudanças estruturais propostas pelo capital e obviamente
balternas é um requisito indispensável para a efetivação opostas aos princípios do projeto profissional. O neolibe-
daqueles valores e princípios mencionados. Esta aproxi- ralismo instituiu uma política de desmantelamento do Es-
mação deve permitir captar interesses e necessidades em tado, privatização das instituições públicas, precarização
suas diversas maneiras de explicitação, englobando for- de direitos e garantias sociais e a sobreposição do eco-
mas diferenciadas de organização e luta para fazer frente à nômico em relação ao social ou às expressões da questão
pobreza e à exclusão econômica, social e cultural. Formas social e consequente aviltamento da pessoa humana.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
É importante considerar que o aprofundamento e a O cenário atual com a idolatria da moeda, o fetiche do
manutenção do projeto ético-político do Serviço Social na mercado e do consumo, o “culto” ao individualismo, a ló-
contemporaneidade, em tempos de tantas adversidades, gica do mercado financeiro, reforça o desafio dos assisten-
depende da vontade majoritária da categoria profissional tes sociais em manter seu caminho pautado pelos valores
e junto a ela, o revigoramento das lutas e movimentos de- e princípios éticos e políticos que iluminaram suas ações
mocráticos e populares, garantindo os direitos a progra- durante as últimas décadas. Percebe-se que o profissional
mas e a políticas sociais estabelecidas pelas conquistas das de hoje precisa se requalificar, ter visão crítica da realidade,
classes trabalhadoras. Junto a isso, afirma Santana (2000) por meio de uma atitude reflexiva, analítica, investigativa
que a relevância do processo formativo, torna-se um de- e propositiva frente à realidade. Exige-se um profissional
terminante para a consecução do projeto ético-político da ousado, atento e disposto a apropriar-se e a decifrar novas
profissão. Explica que: propostas de trabalho apresentadas ao Serviço Social.
À medida que o profissional assume o compromis- Nesse contexto os valores e princípios do atual pro-
so com a transformação dessa ordem societária e institui jeto profissional remetem a um novo modo de operar a
como estratégia de ação, no atual momento histórico, a profissão o que pressupõe a crítica sobre as condições e
luta por direitos sociais, comprometendo-se com a qua- relações do seu exercício profissional [...] é claro ao profis-
lidade dos serviços prestados e com o fortalecimento do sional que não basta se indignar contra a moral burguesa,
usuário, seu perfil tem que ser necessariamente crítico e não basta o senso moral. É necessário que se desenvolva a
questionador. É preciso, também, que este esteja munido consciência moral, que se aproprie da ética como reflexão
de um referencial teórico-metodológico que lhe permita crítica sobre a moral para se estabelecer quais as escolhas
apreender a realidade numa perspectiva de totalidade, e
e ações tácitas e estratégicas que nos permitam organi-
construir mediações entre o exercício profissional compro-
zar ações e sujeitos históricos para intervir no processo de
metido e os limites dados pela realidade de atuação.
democratização da sociedade, visando a uma sociedade
O Serviço Social ao longo de sua história, conforme
justa e equitativa, o que passa pela defesa da vida humana.
abordado anteriormente, convive com o sistema capi-
talista, no qual nasceu enquanto profissão, buscou criar Neste sentido, é possível entender que o profissio-
estratégias de minimização das manifestações da miséria nal social, de posse desse projeto crítico, percebe que as
e empobrecimento da classe trabalhadora, por meio de possibilidades de transformação não estão na profissão,
ações distributivas de serviços assistencialistas e clientelis- mas na própria realidade, na qual, certamente, por meio
tas, sem questionar as estruturas que geram as desigual- de uma intervenção profissional competente, poderão se
dades sociais. estabelecer devidas mediações entre interesses da classe
Para a categoria profissional a releitura do trabalho trabalhadora e da classe dominante. Competência essa
do assistente social exigiu a ruptura com posicionamen- que é dinâmica, não estática e adquirida de uma vez por
tos ideológicos e ações restritas, endógenas e focalistas todas, construída social e historicamente e que ultrapasse
do Serviço Social, transpondo as determinações da classe saberes e conhecimentos, mesmo se constituindo por eles.
dominante. Com isso, faz-se necessário um profissional É fundamental que haja uma intervenção reflexiva e eficaz
propositivo, reflexivo, crítico, “que aposte no protagonis- no sentido de articular dinâmicas de conhecimentos, sa-
mo dos sujeitos sociais, versado no instrumental técnico beres, habilidades, valores e posturas.
-operativo”, com competência para ações profissionais em O projeto profissional hegemônico, por sua perspecti-
nível de assessorias, de negociações, de planejamentos, de va crítica, torna-se um instrumento capaz de permitir aos
pesquisa e de incentivo à participação dos usuários em assistentes sociais uma antevisão da demanda, a captação
gestão e da avaliação de programas sociais de qualidade. de processos emergentes e históricos que se configuram e
Continua a mesma autora que, para responder a esse requisitam uma intervenção profissional a curto, médio e
perfil profissional traçado exige-se uma competência crí- longo prazos, o significado social e político da profissão e
tica que supere tanto o teoricismo estéril, o pragmatis- da intervenção que desenvolve. Tais projetos têm raízes na
mo, quanto o mero militantismo. Competência que não vida social e respondem aos anseios de setores e forças da
se confunde com aquela estabelecida pela burocracia da sociedade por meio de valores, princípios, estratégias que
organização, conforme a linguagem institucionalmente se reportam a uma sociedade justa, democrática, equânime.
permitida e autorizada; que não reifica o saber fazer, su- Assim, o projeto profissional tem de oferecer respos-
bordinando-o, antes, à direção social desse mesmo fazer.
tas concretas para uma democracia social, política e eco-
Competência que contribui para desvelar os traços con-
nômica, indicando os meios de concretizá-las.
servantistas ou tecnocráticos do discurso oficial, recusa o
Enfim, é possível admitir que o projeto ético-político
papel de tutela e controle das classes subalternas em seus
diferentes segmentos e grupos, para envolvê-las nas teias do Serviço Social se consolidará a partir do momento em
e amarras do poder econômico, político e cultural. que este clarifique os objetivos da profissão, que com seu
Nesse sentido, surge um desafio histórico aos assisten- referencial teórico-metodológico permita que o profissio-
tes sociais, frente ao sistema vigente, em atingir a “cons- nal faça a crítica ontológica do cotidiano, da ordem bur-
ciência humano-genérica” importante ao exercício crítico guesa e dos fundamentos conservadores que persistem na
da profissão, pois implica em “criar condições para vencer profissão, que lance luzes sobre as novas escolhas e orien-
a alienação em um mundo marcado pela reificação social. tações para direcionamentos sociais e, assim, o assistente

19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
social estará apto a ocupar os diversos espaços institucio- A reforma curricular aprovada em 1979 pela assem-
nais, privados, públicos e profissionais; a questionar crité- bleia da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social,
rios de escolha e elegibilidade para o direcionamento de implementada a partir de 1982, desmontou a estrutura
serviços sociais, a democratizar o acesso à informação; a tradicional dos chamados processos de intervenção em
pesquisar e conhecer os sujeitos que demandam as ações caso, em grupo e em comunidade pela orientação teórico-
profissionais e realizam alianças com eles; a estabelecer metodológica da prática profissional pautada nas princi-
compromisso com as denúncias e efetivar o trabalho de pais tendências que, até então, embasavam teoricamente
organização popular. o Serviço Social: o funcionalismo, a fenomenologia e o
marxismo. Defendeu a profissão na busca de uma visão
A formação profissional: do ensino à pesquisa crítica e comprometida com a transformação social e a for-
mação dos futuros assistentes sociais a partir de análises
A década de 1980 foi extremamente importante nas críticas da realidade capitalista.
definições de rumos teórico-metodológicos, técnico-a- A nova reforma do projeto de formação profissional,
cadêmicos e políticos para o Serviço Social. Tem-se hoje ocorrida em 1998, foi motivada pela participação e pela
um projeto profissional ético-político, construído coletiva- mobilização vivenciada na revisão curricular de 1982, fruto
mente em décadas anteriores, que selou o compromisso do debate coletivo. Sobretudo no meio universitário, bus-
da categoria com a universalização dos valores igualitários cou a formação de um profissional generalista, em ruptu-
e democráticos, conforme já apresentado. Os princípios ra com as especializações e contribuiu para o avanço do
norteadores desse projeto desdobraram-se no Código de entendimento das debilidades e de suas consequentes
Ética do Assistente Social, de 1993, na Lei de Regulamen- inadequações metodológicas do pensar e do fazer profis-
tação da Profissão de Serviço Social – Lei 8662/93 e na sional, “a prática é formulada como um processo de tra-
nova Proposta de Diretrizes Gerais para o curso de Serviço balho, como uma atividade com fins, meios e resultados
Social. em torno da questão social, definida formalmente como
O novo Código de Ética Profissional de 1993 é um objeto do Serviço Social” (Faleiros, 2005).
marco histórico na trajetória do Serviço Social por sua le- A partir de então, na década de 1990, a formação pro-
gitimidade teórico-prática alcançada pela categoria pro- fissional passa a ser primordial, e o projeto curricular foi
elaborado e aprovado pelos órgãos competentes da cate-
fissional.
goria, especialmente pela Associação Brasileira de Ensino
A partir desse momento de discussão e de construção
em Serviço Social (ABESS), com um novo currículo, hoje
coletiva, destacam-se na profissão a relevância e o reco-
em vigor. Segundo a ABESS 7 (1997, p.63):
nhecimento da ética como componente fundamental do
Este currículo traduz, em uma perspectiva histórico-
projeto profissional que, nos últimos vinte anos, tem cons-
crítica, os seguintes núcleos de fundamentação na consti-
truído uma hegemonia na profissão.
tuição da formação profissional: 1. Núcleo de fundamentos
Um olhar retrospectivo para as décadas anteriores não
teórico-metodológicos da vida social; 2. Núcleo de funda-
deixa dúvidas de que o Serviço Social foi sendo questio-
mentos da formação sócio histórica da sociedade brasi-
nado pela prática política de vários movimentos sociais e
leira; 3. Núcleo de fundamentos do trabalho profissional.
segmentos da sociedade civil, encontrando aí sua base so- Diante dessas mudanças ocorridas no campo da for-
cial de reorientação da profissão nos anos 80. Com isso, mação profissional, duas características decorrentes desse
a profissão deu um salto de qualidade, de atuação e de processo tornaram-se pontos de reflexão e do desenvol-
formação profissional. Com o novo Código de Ética, ga- vimento da profissão: a preocupação com a investigação
nhou visibilidade pública e maior credibilidade junto à po- como dimensão constitutiva da formação e do exercício
pulação usuária. Houve também um avanço no mercado profissional e a afirmação das políticas sociais como cam-
editorial e de produção acadêmica impulsionada pela pós- po de interesse teórico-prático para os assistentes sociais.
graduação e pela interlocução teórica com áreas conexas Contudo, o processo de implementação do currículo míni-
de maior tradição na pesquisa social. mo do Serviço Social, ao longo dos anos, não ocorreu de
Os assistentes sociais ingressaram, na década de 1990, forma tranquila, mas foi objeto de críticas, de dúvidas e
como uma categoria pesquisadora e reconhecida pelos ór- de debates por parte de diferentes segmentos intelectuais
gãos de fomento à pesquisa. e profissionais ligados ao Serviço Social e pelos próprios
Tiveram ainda um amadurecimento em suas formas assistentes sociais, pois muitos deles sentiam-se despre-
de representatividade político-corporativas, por meio de parados e distantes de uma proposta inovadora. Entretan-
órgãos de representação acadêmica e profissional reco- to, não será discutida aqui essa questão, mas o registro
nhecidos e legitimados. E amplas discussões e debates em dessas informações evidencia os limites da profissão e os
torno das políticas sociais públicas, especialmente a assis- permanentes questionamentos da identidade profissional.
tência social, como direito social, na teia das relações entre Assim afirma Koike (2000):
o Estado e a sociedade civil, contribuíram para intensificar As alterações na configuração sócio técnica da profis-
e propagar a reflexão e o debate sobre a identidade pro- são evidenciam ser a formação profissional um processo
fissional, na busca do fortalecimento de seu auto reconhe- dinâmico, continuado, inconcluso, em permanente exi-
cimento e para traçar criticamente os rumos da profissão. gência de apropriação e desenvolvimento dos referenciais

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
críticos de análise e dos modos de atuação na realidade mais diversas formas de exclusão, opressão e violências
social. E o ato de avaliar a profissão (formação e traba- que no tempo presente se adensam e atualizam como de-
lho profissionais) em suas conexões com as necessidades manda privilegiada ao ensino de qualidade e à pesquisa
sociais de onde derivam as demandas ao Serviço Social, no Serviço Social.
expõe com radicalidade as exigências de uma profunda, Diante dessa realidade apresentada, surge como desa-
cuidadosa e continuada capacitação profissional. Essa ra- fio à formação profissional o ideário neoliberal, que busca
dicalidade marcou o processo de construção das novas como ação predominante o enfraquecimento das lutas das
diretrizes curriculares que se inicia com a definição dos classes sociais e sua subordinação ao capital. Tal ideologia
critérios norteadores do trabalho coletivo. é fortalecida especialmente pela queda do socialismo real
Para Iamamoto (2001), diante dos avanços qualitativos e com o florescimento da pós-modernidade, sobretudo
que o Serviço Social viveu nas últimas décadas, no que diz em sua versão neoconservadora, influenciando muitos do-
respeito à formação profissional e ao trabalho de Serviço centes, pesquisadores e pensadores do meio acadêmico
Social, travaram-se fortes embates e discussões no que diz levando muitos a desistirem e reverem seus trabalhos.
respeito à relação dialética entre teoria e exercício profis- Outro aspecto a ser considerado é a concepção de
sional (prática) ou seja, a busca de estratégias do profis- educação para o século XXI, por organismos internacionais
sional que vão mediar as bases teóricas acumuladas com como o Fundo Monetário Internacional – FMI e o Banco
a operatividade do trabalho profissional. O caminho é lon- Mundial, para responderem aos interesses econômicos da
go, mas foi dado um longo “voo teórico”, aproximando o globalização; é ainda depositada a tarefa de oferecer solu-
Serviço Social ao movimento da realidade concreta, às vá- ções aos problemas do desemprego, das lutas étnicas, da
rias expressões da questão social. O desafio na atualidade, violência, do meio ambiente e da própria exclusão, que se
segundo a autora, “é transitar da bagagem teórica acumu- apresentam na atualidade.
lada ao enraizamento da profissão na realidade, atribuin- Enfim, para a educação, fica a tarefa conciliadora e pa-
do, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias, cificadora de conflitos, ou seja, a existência de uma política
táticas e técnicas do trabalho profissional”, em decorrência educacional mundial que não questione a distribuição de
das particularidades dos temas que são objetos de estudo riquezas e do poder, mas ofereça reformas e soluções a
e de ação do profissional. partir da própria ordem interna do capital. O que para Koi-
Nesse contexto, situa-se o mundo da pesquisa cien- ke, não existe outro enfrentamento, a não ser desvendar a
tífica que a categoria profissional enveredou nas décadas concepção ilusória de que poderia “humanizar” o capital
passadas, e fortalece-se, nos dias atuais, a aproximação do em sua própria ordem e fazê-lo por meio de uma edu-
profissional e o científico, do profissional e do político e cação danificada funcional, pragmática e despolitizada e
do profissional com as condições e relações de trabalho. compreender o caráter e o significado das transformações
Herdeira da ditadura militar e de seu projeto de moder- sociais em curso, colocando as classes sociais no centro
nização conservadora, a categoria dos assistentes sociais dessa apreensão como condição de atribuir inteligibilida-
emerge na cena social no processo de “transição demo- de ao processo social contemporâneo.
crática” com um novo perfil acadêmico profissional, que Por fim, tem-se uma reforma da educação superior di-
representa um salto de qualidade na trajetória do desen- recionada para a lógica mercantil, na busca dos negócios
volvimento profissional. lucrativos, calcada na adaptação dos perfis profissionais ao
O Serviço Social insere-se, nos anos da ditadura, nos novo paradigma da sociedade moderna, no conhecimento
quadros universitários, passando a formação profissional tecnológico, por meio da expansão da educação a distân-
a ser paulatinamente articulada à pesquisa e à extensão. cia e consequente precarização, especialmente, do ensino
A profissão implementa nos anos 70 e 80 (século XX) a público superior público.
pós-graduação em Serviço Social com os cursos lato sensu À categoria profissional do Serviço Social, fica o desa-
e strictu sensu, rapidamente ampliados, tendo nesse pe- fio de preparar profissionais aptos para lidar com as con-
ríodo a consolidação acadêmica do ensino pós-graduado tradições do presente apresentadas pela ordem neoliberal
nos cursos de especialização, no nível de mestrado (nos e pelo neoconservadorismo no conhecimento, e o com-
anos de 1970, a existência de seis cursos de mestrado) e promisso com a qualidade na formação que, consequen-
com desdobramentos no nível de doutoramento, atual- temente, perpassa todo o trabalho profissional evitando
mente todos ampliados e com intercâmbio nacional e in- que o Serviço Social fique burocrático, tecnicista, mercantil
ternacional. e “sem vida”.
Hoje, no Brasil, é possível reconhecer a credibilidade Tal desafio para os assistentes sociais é, portanto, a
científica que o Serviço Social veio conquistando junto aos busca de um posicionamento ético e político que se in-
órgãos oficiais de fomento à pesquisa e o apoio, o incenti- surja contra os processos de alienação vinculados à lógica
vo e o trabalho de seus órgãos competentes, especialmen- capitalista, impulsionando-os a trabalhar na busca de rom-
te a ABEPSS que reafirma seu empenho em contribuir no per com a dependência, a subordinação, a despolitização,
sentido de que a formação da graduação e pós-graduação e assim poder manter vivas as forças sociais motivadoras
em Serviço Social substancie e respalde cada vez mais a da esperança de uma nova sociedade e da capacidade de
plataforma emancipatória da profissão, na resistência às luta no cenário social e profissional.

21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Efetivamente, o Serviço Social pode interferir na cons- Este processo ocasionou no fechamento das linhas
trução de direitos sociais e sujeitos políticos contribuindo internas de produção inteiras acarretando o desemprego
com movimentos sociais e lutas da categoria como garan- estrutural e intensificou de forma maior com os programas
tia legal da profissão na Política Educacional das três es- e políticas neoliberais, segundo Pereira (2005), “a época
feras nacionais: União, Estados e Municípios. É o que será em que o Estado tinha um peso considerável nas decisões
trabalhado nos próximos capítulos por meio dos dados econômicas e sociais internas está se esgotando. Em seu
documentais (pesquisa documental) e empíricos da pes- lugar, a desregulamentação das relações de trabalho e o
quisa de campo. (Texto adaptado de PIANA, M. C. doutora desmonte da proteção social ao trabalhador são práticas
em Serviço Social). correntes”.
Tanto que o pacto democrático firmado na Constitui-
ção Federal de 1988, acontece o tensionamento de duas
propostas: de um lado os movimentos sociais na luta para
VERTENTES DE PENSAMENTO: MATERIALISMO ampliação da responsabilidade do Estado perante as de-
HISTÓRICO, POSITIVISMO, FENOMENOLOGIA. mandas sociais e do outro a oposição favorável a abertura
de mercado, defendendo a ampliação de poder sobre os
fluxos de investimento e a redução de poder do Estado.
Desta forma, a fórmula neoliberal pode ser resumida
O pressuposto do mundo do trabalho têm sido uma em algumas posições 1- um estado forte para romper o
temática importante no debate contemporâneo, princi- poder dos sindicatos e controlar a moeda; um Estado par-
palmente pelas mudanças ocorridas nos últimos anos que co para os gastos sociais e regulamentação econômica; a
de certa forma rebatem no Serviço Social, por isso abor- busca de estabilidade monetária como a meta suprema;
daremos alguns aspectos importantes deste processo de uma forte disciplina orçamentária, diga-se , contenção dos
trabalho no Brasil a partir da década de 70. gastos sociais e restauração de uma taxa natural de de-
semprego; uma reforma fiscal, diminuindo os impostos so-
A partir da década de 70 o capitalismo intensificou
bre os rendimentos altos; o desmonte dos direitos sociais,
as suas transformações no processo produtivo através
implicando a quebra da vinculação entre pacto político.
do avanço tecnológico sob novas formas de acumulação A ideologia neoliberal como todas as medidas citadas
flexível e dos modelos alternativos ao modo de produção acima destrói as regulamentações imposta como resultado
do Taylorismo/Fordismo destacando-se principalmente o das lutas dos movimentos sociais e da camada trabalhado-
toyotismo. Segundo Antunes, toyotismo apresenta a se- ra, priorizando a supressão de direitos sociais arduamente
guinte característica em contraposição ao taylorismo/ for- conquistados estabelecendo a liquidação das garantias do
dismo, a sua produção muito vinculada à demanda, ela é trabalho com a ampliação explosiva da terceirização da
variada e bastante heterogênea, fundamenta-se no traba- subcontratação e das distintas formas de precarização.
lho operário em equipe com multivariedade de funções, As empresas que atuam no Brasil trouxeram impli-
tem como princípio o just in time, o melhor aproveitamen- cações significativas causando alterações na conduta
to possível do tempo de produção e funciona segundo empresarial como: implantação de gestão de produção,
o sistema de kanban, controle de qualidade e forma de reorganização do trabalho; inovação tecnologia, a compe-
tição marcado pelo aumento da produtividade, redução
flexibilizada de acumulação do capital –baseada na reen-
dos empregados e adoção de programas de reengenharia,
genharia e na empresa enxuta.
qualidade total, terceirização, subcontratação de mão-de
Estes processos fizeram com que ocorressem profun- -obra, redução da hierarquia, inovação técnico-científico e
das mutações econômicas, sociais, políticas e ideológicas a redução do trabalho vivo, dentre outros fatores.
com fortes repercussões no ideário da subjetividade e nos Dentre algumas empresas o sistema de qualidade im-
valores constitutivo principalmente da classe que vive do plantada impõe-se padronização rígida procurando difun-
trabalho. Esta crise estrutural desencadeou o processo de dir valores rígidos e regras padronizadas, incentivando o
liberalização e desregulamentação como; privatização; merecimento de cestas básicas para quem não falta, pro-
liberdade para o capital industrial e financeiro expandir grama de participação de desempenho e de participação
mundialmente; os grandes Estados Capitalistas colocam nos lucros pelo resultado de produtividade, etc.
“mercados” no comando em forma desigual e despropor- O enfoque patrimonial é a garantia e o sucesso de
cional. qualidade, enfatizando que a competitividade provoca a
Toda emblemática desta transformação do mundo do busca da eficiência. Para tanto, as empresas investem em
trabalho caracteriza-se no Brasil principalmente a partir programas de motivação com estratégias de envolvimento
e marketing; treinamento pessoal; programas de qualida-
dos anos 90, as políticas de cunho econômico começa a
de e produtividade e desenvolvimento de práticas parti-
se desregulamentar financeiramente, e as privatizações cipativas como: formação de comitês e grupos de suges-
repercutem nas indústrias nacionais. No governo de Fer- tões; fóruns deliberativos, cursos, seminários etc.
nando Collor (1990-1992), são implementadas medidas A todo momento o mundo do trabalho exige a qua-
de liberação comercial e financeira que desestruturaram lificação do trabalhador em aprender novas tecnologias,
diversos seguimentos produtivos no país, havendo subs- técnicas organizacionais, integração entre concepção e
tituição de produtos nacionais por produtos importados execução da produção, compromisso com os interesses
fortalecendo a abertura do comércio para a exportação. dos cliente.

22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Criou-se, de um lado em escala minoritária, o traba- O trabalho do assistente social sofre impactos diretos,
lhador polivalente e multifuncional da era informacional, dessas transformações operadas na esfera privada e estatal.
capaz de operar maquinas com controle numérico e de, por “A flexibilização do trabalho atinge a estrutura produtiva pro-
vezes exercitar com mais intensidade sua dimensão mais cesso do trabalho do assistente social [...] gerando enxuga-
intelectual. E, de outro lado. Há uma massa de trabalhado- mento do quadro de pessoal” (Serra apud Iamamoto, 2003).
res precarizados sem qualificação, que está presenciando É nessa lógica que permite entender as particularidades
as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou do nosso trabalho profissional. As alterações do processo de
então vivenciando o desemprego estrutural. trabalho também atingem o (a) Assistente Social não ape-
Todos estes aspectos de programas qualidades para a nas, no sentido objetivo, a sua condição de emprego e salá-
satisfação do cliente acarretam rigidez no cumprimento de rio, mas no sentido subjetivo, a sua consciência de classe. O
metas fazendo com que os funcionários não tenham tem- profissional de Serviço social é um trabalhador assalariado, e
po livre, descanso necessário, tempo com a família, que de experimenta como os demais trabalhadores, as injunções da
certa forma atrapalha em seu rendimento na produtivida- lógica vigente, enquanto que historicamente, o profissional
de, mas são exigências do mercado. construiu um projeto-ético-político hegemônico, dissonante
As novas morfologias do mundo do trabalho rebatem das diretrizes vigentes.
no Serviço Social, em todas as áreas de atuação. E o que O mercado de trabalho exige novos requisitos para o tra-
tentaremos demonstrar no próximo item de forma, mas balho profissional dos assistentes sociais tais como: profissio-
particular na empresa. nal multidisciplinar, com raciocínio lógico, aptidão para novas
qualificações, conhecimento técnico geral e da lógica do tra-
Serviço Social na Reestruturação produtiva balho, responsabilidade com o processo de produção, reso-
lução rápida de problemas, e capacidade de decisão rápida,
As alterações impostas no mundo do trabalho vêm ge- disposição para apreender e empreender, dentre outras. A
rando um redimensionamento do Serviço Social, ocorren- exigência não é tão somente “vestir a camisa da empresa” é
do redução de postos de trabalhos e consequentemente necessário que ele pense pela empresa e seja competente.
a inserção em outras formas de trabalho. O serviço social Segundo Iamamoto, o profissional de Serviço Social
é uma profissão que esta inserida na divisão sócio técnico deve ser consistente e propositivo e capaz de atuar, critica-
do trabalho, nas diferentes problemáticas do campo social. mente, em novos espaços e ter um desempenho profissional
Os profissionais atuam com objeto na intervenção das adequado. Capaz de responder as demandas imediatas, mas
expressões da questão social que se expressam nas desi- transformá-las em respostas profissionais sustentáveis.
gualdades sociais, fruto das contradições social presentes A leitura hoje predominante da “prática profissional”
na sociedade capitalista que geram o agravamento das é de que ela não deve ser considerada isoladamente em si
condições de vida da população. A questão social equacio- mesma, mas em seus condicionantes sejam “internos” – os
nada e entendida como objeto sob o qual incide ação do que dependem do desempenho profissional ou externo - de-
profissional esta relacionada segundo Iamamoto, o conjun- terminados pelas circunstancias sociais nas quais se realiza
to das expressões das desigualdades da sociedade capita- a pratica do assistente social. Os primeiros são geralmen-
lista madura que tem uma raiz comum: a produção social te referidos a competências do assistente social como, por
é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais ampla- exemplo, acionar estratégias técnicas, capacidade da leitura
mente social, enquanto a apropriação dos seus frutos man- da realidade conjuntural, a habilidade no trato das relações
tém-se privada monopolizada por uma parte da sociedade. humanas, a convivência numa equipe interdisciplinar, etc. Os
O serviço social tenha surgido paralelamente ao pro- segundos abrangem um conjunto de fatores que não depen-
cesso de industrialização as empresas tiveram influência na dem exclusivamente do sujeito profissional, desde as relações
institucionalização da profissão, “embora seja conhecida de poder institucional, os recursos colocados à disposição
a existência de experiência esparsas a partir dos anos 40, para o trabalho pela instituição ou empresas que contrata o
é notório que a inclusão do Serviço Social na empresa se assistente social, as políticas sociais especificas, os objetivos e
deve a conjunturas específicas, marcadamente a partir de demandas da instituição empregadora a realidade social da
1960”. população usuária dos serviços prestados etc.
Historicamente a inclusão fosse vasta no campo em- Um dos desafios para o assistente social na contempora-
presarial, as empresas não são consideradas tradicionais neidade é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade
empregadores de assistentes sociais. Na contemporanei- e construir proposta de trabalho criativo, ou seja, capazes de
dade com as novas morfologias no mundo do trabalho preservar e efetivar direitos a partir das demandas postas no
este quadro se reduz ainda mais. cotidiano profissional, ser um profissional propositivo e não
A flexibilização do mundo do trabalho, atrelada com somente executivo, ter atitudes ousadas frente as novas de-
acumulação do capital e novas tecnologias, típicas do toyo- mandas e ampliar o espaço profissional.
tismo refletem consequências enormes. Dentre elas desta- Dentro de muitas empresas o Serviço Social sofreu im-
camos: redução dos postos de trabalho, diminuição dos ní- pactos da reestruturação produtiva. As empresas preo-
veis hierárquicos, introdução a polivalência e aumento das cuparam em redefinir a política de recursos humanos,
tarefas, terceirização, subcontratação e precarização dos englobando no conjunto demais políticas e estratégias
vínculos empregatícios e das condições de trabalho, a taxa organizacionais, tais como: o desenvolvimento de progra-
elevada de desemprego estrutural, expansão do emprego mas participativos; incentivo a produtividade do trabalho;
informal, aumento do trabalho a domicilio e do trabalho capacitação; treinamento; programas de qualidade total;
no terceiro setor. ampliação do sistema de benefícios dentre outros.

23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Em muitas empresas o Assistente Social é requisitado Por isso é necessário fazer a com que o projeto profis-
como mediador de novas formas de controle de trabalho, sional do Serviço Social seja efetivado e consolidado em
ou seja, nas empresas a prática profissional esta relacionada realidades distintas como as empresas.
com as alterações nas modalidades de consumo da força de
trabalho, com as novas estratégias de controle persuasivos e O Projeto Profissional do Serviço Social.
com as políticas de benefícios e incentivos para os trabalha-
dores. Quando surgem no Brasil, os primeiros resultados do
O serviço social é uma profissão intrinsecamente deter- projeto societário inspirado no neoliberalismo (resulta-
minada pelas condições sociais em que se realiza, atendendo dos que, aliás, reproduzem o que tem ocorrido em todo
contraditoriamente as demandas da empresa e do trabalho; o mundo: privatização do estado, desnacionalização da
sua particularidade, nos setores geridos pelo capital, sempre economia, desemprego, desproteção social, concentração
constituiu na busca de respostas mediadoras para a situação de riqueza, etc.) fica claro que o projeto ético–político do
de conflito. E o exercício profissional do Assistente Social é
serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta pre-
atuar nesta contradição capital /trabalho no modo de produ-
cisamente para o combate (ético, teórico, político e prático
ção capitalista. É um movimento contraditório, pois, ao mes-
- social) ao neoliberalismo.
mo tempo que permite a reprodução e a continuidade da
O serviço social com o projeto ético político vem tra-
sociedade de classe, cria as possibilidades de transformação.
O serviço social também é requisitado na empresa para balhando a questão ética e política como dimensões fun-
intervir e responder aos problemas que interferem no pro- damentais na formação profissional. O projeto profissio-
cesso de produção tais como: acidentes, alcoolismo, absen- nal é designado ético-político porque tem uma indicação
teísmo, insubordinação, relacionadas à vida privada do traba- ética que não se limita às questões morais e prescrições de
lhador que afetam o seu desempenho no trabalho, conflitos direitos e deveres, mas sim de escolhas teóricas, ideológi-
familiares, doenças, dificuldade financeira etc. Sendo assim o cas e direção política profissional.
assistente social executam serviços sociais asseguradores da Somente para fins didáticos e sem profundidade ci-
manutenção da força de trabalho no espaço da reprodução. taremos os códigos de ética do Serviço Social até chegar-
Na empresa privada o (a) Assistente Social é seleciona- mos ao atual na qual nortearam nossos estudos.
do para administrar benefícios, atuar em programas, com a O primeiro código de ética surgiu em 1947, o eixo cen-
finalidade de atender o trabalhador em suas necessidades, tral era caracterizado pela moral, e posicionamento con-
para que possa produzir mais e melhor, com mais eficiência e servadores. O segundo código surge em 1965, que teve
produtividade, dentro da ordem vigente do capita. O Serviço como motivação a regulamentação jurídica da profissão,
Social participa tanto do processo de produção e reprodução terceiro código surge em 1975, e nenhum debate sobre a
dos interesses de preservação do capital, quanto das respos- ética fora privilegiado. O quarto código é datado em 1986,
tas às necessidades de sobrevivência do trabalhador. onde há a inserção do assistente social na divisão sócio
É preciso criar novas estratégias para as questões que técnico do trabalho cujo marco histórico e documental é a
recaem sobre a ótica de inversão do Serviço Social, o padrão ruptura com a ética tradicional opondo-se ao neotomismo
empresarial vem diversificando as requisições feitas ao ser- e buscando superar a concepção universal aos conceitos
viço social, diminuindo as demandas dos assistentes sociais da pessoa humana e bem comum.
passando para outros profissionais, seja pelo surgimento de O atual código de ética datado em 1993, traz o projeto
novas atribuições e papeis profissionais, surgindo uma nova profissional com proposta emancipatórias, base do com-
modalidade de trabalho para o Assistente Social o trabalho promisso ético-político, com avanço teórico, com valores
em equipes interprofissionais. emancipatórios, explicitando valores éticos fundamentais:
Essas equipes tem sido chamadas a atuar em programas
liberdade, equidade e justiça social, articulando-se a de-
de qualidade de vida, prevenção de doenças, na promoção
mocracia e cidadania.
de motivação para o trabalho, em programas como saúde do
Os projetos profissionais apresentam a autoimagem
trabalhador, círculos de qualidade, gerenciamento participa-
de uma profissão, elegem os valores que a legitimam so-
tivo, clima social no trabalho, entre outros.
Em contrapartida a empresa ao colocar seus serviços so- cialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e fun-
ciais, direciona seus objetivos para a redução dos custos, con- ções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e
centrarem riqueza, desemprego, desproteção social, terceiri- práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o
zação, desmonte das políticas de incentivo a independência comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas
econômica e objetivando a maximização de seus lucros. As da sua relação com os usuários de seus serviços, com as
empresas utilizam de um código de ética onde expressam outras profissões e com as organizações e instituições so-
seus princípios, através da sua missão, visão de valores em ciais, privadas e públicas.
um quadro de avisos expostos para conhecimento do funcio- O projeto ético-político implica no compromisso com
nários bem como para os clientes. É importante salientar que a competência que só é possível com o aprimoramento
não existe preocupação com valores éticos, mas com a sua intelectual do assistente social. Que prisma uma nova re-
legitimidade do lucro na lógica do capital. O assistente so- lação sistemática com o usuário dos serviços oferecidos
cial participa desses princípios ativamente, na inclusão do pelo profissional com a qualidade dos serviços prestado
funcionário, no treinamento, nas atividades cotidianas etc. à população.

24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Mustafá apud Seixas (2007) afirma que o projeto pro- Mustafá apud Seixas (2007), salienta que o Assistente
fissional do Serviço Social aponta para um compromisso Social pode fortalecer conquista importantes dos usuários
com o aprimoramento intelectual, para possibilitar a com- em seus serviços.
petência profissional. E esta competência se revela, no coti- O assistente social, assim como nenhum outro profis-
diano, na implementação de programas e políticas sociais. sional ou trabalhador, seja individualmente ou como cate-
Compete ao profissional desvendar a lógica, os fundamen- goria, não tem força política para assegurar a universalida-
tos e a direção de tais políticas e programas, produzir um
de. Apenas a classe social cabe este papel. Mas o assisten-
acumulo de conhecimento sobre o seu significado e repas-
sar, para o usuário, tanto o serviço - com boa qualidade- te social pode posicionar-se a favor desta universalidade
quanto a concepção do direito nela contida. e somar com outros segmentos sociais, numa perspectiva
O projeto ético político tem uma perspectiva de rup- de classe, sendo assim, protagonista de uma ideologia en-
tura com as teorias neoliberais voltadas para o clientelis- focada em princípios éticos [...] no entanto, entre o real e
mo, assistencialismo, seletividade com o conservadorismo, o possível, existe muito caminho a ser percorrido e é da
através do projeto pretende-se contribuir para um proces- competência ética fazer analise existente e oferecer subsí-
so social nos princípios de igualdade, liberdade e da jus- dios que apontem para o devir.
tiça social. Diante de propósitos distintos de um projeto socie-
Outra dimensão do projeto ético-político é a jurídico tário das empresas, é importante que os profissionais de
-política. Seixas (2007), define-se como o conjunto de leis, serviço social articulem-se com equipes interprofissionais
resoluções, documentais e textos políticos consagrados no
para fortalecer as lutas dos usuários e pelos princípios éti-
meio profissional, o suporte profissional. Abrange o apa-
rato jurídico-político e institucional da profissão, expresso cos que defendemos. (Texto adaptado de Fátima de Olivei-
no Código de Ética, na lei de Regulamentação e nas Dire- ra SOUZA, F. O.; PINHEIRO, M. G. S. e GIBIM, R. A. Docentes
trizes Curriculares e ainda no conjunto de leis advindas do em Serviço Social).
capitulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988,
tais como a LOAS (Lei orgânica da Assistência Social), Es-
tatuto da Criança e Adolescente, Lei Orgânica de Saúde,
dentre outras. Particularmente nas empresas a consolida-
ção das Leis Trabalhistas e acordos sindicais etc. METODOLOGIA EM SERVIÇO SOCIAL: ALTERNATI-
O código de Ética de 1993 reafirma o processo de VAS METODOLÓGICAS. INSTRUMENTALIDADE: O
construção do projeto-ético-político quando afiram seus ATENDIMENTO INDIVIDUAL, O TRABALHO COM
onze princípios: Reconhecimento da liberdade como valor GRUPOS, COMUNIDADES, MOVIMENTOS EMER-
ético central; defesa intransigente dos direitos humanos; GENCIAIS, A QUESTÃO DAS TÉCNICAS, O COTIDIA-
ampliação e consolidação da cidadania; defesa do apro- NO COMO CATEGORIA DE INVESTIGAÇÃO.
fundamento da democracia; posicionamento em favor da
equidade e justiça social; empenho na eliminação de to-
das as formas de preconceito; garantia do pluralismo; op- O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão
ção por um projeto profissional vinculado ao processo de
social e técnica do trabalho, realiza sua ação profissional
construção de uma nova ordem societária; articulação com
os movimentos sociais de outras categorias profissionais; no âmbito das políticas socioassistenciais, na esfera pú-
compromisso com a qualidade dos serviços prestados à blica e privada. Neste sentido, desenvolve atividades na
população e com aprimoramento intelectual, na perspecti- abordagem direta da população que procura as institui-
va da competência profissional; exercício profissional sem ções e o trabalho do profissional e por meio da pesqui-
ser discriminado e nem discriminar. sa, da administração, do planejamento, da supervisão, da
consultoria, da gestão de políticas, de programas e de ser-
O projeto apresenta outra dimensão que é a político viços sociais.
-organizativa onde estão os fóruns deliberativos, quanto
O Serviço Social atua na área das relações sociais, mas
as entidades representativa da profissão, estão interliga-
das nos espaços deliberativos e consultivos como Conse- sua especificidade deve ser buscada nos objetivos profis-
lho Federais de Serviço Social, Conselho regional de Ser- sionais tendo estes que serem adequadamente formula-
viço Social, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em dos guardando estreita relação com objeto. Essa formula-
Serviço Social, Executiva Nacional de Estudantes de Servi- ção dos objetivos garante-nos, em parte, a especificidade
ço Social. de uma profissão. Em consequência, um corpo de conhe-
A dimensão político-organizativa do projeto direcio- cimentos teóricos, método de investigação e intervenção
na suas ações em defesa da equidade e da justiça social,
e um sistema de valores e concepções ideológicas confor-
na universalização e aos bens socialmente produzidos, re-
lativos aos programas e políticas sociais, na ampliação e mariam a especificidade e integridade de uma profissão. O
consolidação da cidadania, postas como condições para Serviço Social é uma prática, um processo de atuação que
a garantia dos direitos civis políticos e sociais. O projeto se alimenta por uma teoria e volta à prática para transfor-
articula os demais segmentos e setores da sociedade em má-la, um contínuo ir e vir iniciado na prática dos homens
busca de uma nova ordem societária em sua dimensão po- face aos desafios de sua realidade.
lítica.

25
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
O assistente social é um profissional que tem como
objeto de trabalho a questão social com suas diversas ex- DOCUMENTAÇÃO.
pressões, formulando e implementando propostas para
seu enfrentamento, por meio das políticas sociais, públi-
cas, empresariais, de organizações da sociedade civil e Os novos desafios implicados pela responsabilidade
movimentos sociais. Para Netto (1992), “a questão social, social e pelo compromisso empresarial com a cidadania
como matéria de trabalho, não esgota as reflexões”. Sem ultrapassam os limites estritos de uma atuação social de
sombra de dúvidas, ela serve para pensar os processos de cunho internalista voltada para satisfazer necessidades so-
trabalho nos quais os assistentes sociais, em uma perspec- ciais dos empregados e dependentes.
tiva conservadora, eram “executores terminais de políticas As empresas passam a considerar como elemento
sociais”, emanadas do Estado ou das instituições privadas constitutivo de seu campo de responsabilidade a atuação
que os emprega. social de cunho externalista, direcionada para satisfazer ne-
No processo de ruptura com o conservadorismo, o cessidades de atores sociais outros que não apenas seus
Serviço Social passou a tratar o campo das políticas so- empregados e dependentes.
ciais, não mais no campo relacional demanda da popula- Nesse movimento, o compromisso para com os ou-
ção carente e oferta do sistema capitalista, mas acima de tros não se restringe apenas ao universo de concorrentes
tudo como meio de acesso aos direitos sociais e à defesa e clientes (efetivos ou potenciais), que seriam outros inte-
da democracia. Dessa forma, não se trata apenas de ope- grantes de uma esfera imediata de interesse econômico.
racionalizar as políticas sociais, embora importante, mas As transformações produzidas pelas empresas para o
faz-se necessário conhecer as contradições da sociedade desenvolvimento das ações socialmente responsáveis afe-
capitalista, da questão social e suas expressões que desa- tam sua estrutura e o modo pelo qual elas passam a efetuar
fiam cotidianamente os assistentes sociais, pensar as po- a gestão de suas diversas relações. Destacamos neste capí-
líticas sociais como respostas a situações indignas de vida tulo as principais transformações operadas pelas empresas.
da população pobre e com isso compreender a mediação
que as políticas sociais representam no processo de tra- A necessária atenção aos interlocutores
balho do profissional, ao deparar-se com as demandas da
população. A responsabilidade social efetua um movimento de
A atuação do assistente social realiza-se em organiza- ampliação da atuação da empresa de internalista para ex-
ções públicas e privadas e em diferentes áreas e temáticas, ternalista. Essa ampliação engloba outros públicos, num
como: proteção social, educação, programas socioeducati- movimento que supera o campo da esfera imediata de in-
vos e de comunidade, habitação, gestão de pessoas, segu- teresse econômico e incide sobre as comunidades locais e
rança pública, justiça e direitos humanos, gerenciamento regionais, além de toda a sociedade, o que, em tempos de
participativo, direitos sociais, movimentos sociais, comuni- consensos sociais apoiados sobre meios de comunicação
cação, responsabilidade social, marketing social, meio am- globalizados, pode significar para corporações transnacio-
biente, assessoria e consultoria, que variam de acordo com nais uma diversificada gama de realidades. Aos stakehol-
o lugar que o profissional ocupa no mercado de trabalho, ders tradicionais das empresas – empregados, parceiros,
exigindo deste um conhecimento teórico-metodológico, clientes e fornecedores – agregam-se, portanto, novos
ético-político e técnico-operativo. atores, em relação aos quais são concebidas, propostas e
Esse profissional busca a inclusão social e a participa- implantadas ações focalizadas.
ção das classes subalternas, por meio de formas alternati- Na literatura temática sobre a responsabilidade social
vas e estratégicas de ação. Pois procura conhecer a realida- empresarial, a formalização de uma abordagem conceitual
de em que atua e possuir compromisso ético com a classe sobre as diversas relações de uma empresa com seus in-
trabalhadora e com a qualidade dos serviços prestados. terlocutores foi formulada por Freeman (2000), em 1984,
Para uma reflexão do Serviço Social na atualidade, com sendo conhecida como teoria dos stakeholders. A figura a
suas demandas e perspectivas nesse momento histórico, é seguir ilustra a passagem do paradigma de atuação social
necessário situá-lo em sua trajetória histórica e revelar o internalista para atuação social externalista:
legado desse momento com seus rebatimentos no con- Na atuação social internalista, predomina o modelo de
texto do século da globalização. Tempos em que a econo- gestão da qualidade de vida no trabalho e dos recursos hu-
mia e o ideário neoliberal intensificam as desigualdades manos da empresa. Na atuação social externalista, o foco
sociais com suas múltiplas faces. Tempos em que crescem privilegiado de atenção passa a ser o fomento ao desen-
as massas descartáveis, sobrantes e à margem dos direitos volvimento social local, ao qual se incorpora a dimensão da
e sistemas de proteção sociais. Tempos, portanto em que sustentabilidade, que emerge com força no debate políti-
crescem as demandas por políticas sociais, de um modo co ideológico, associada às preocupações ambientais que
geral e, particularmente, por políticas de proteção social marcaram os anos 1970. O que se quer enfatizar é a perdu-
(Yazbek, 2000), entre as quais se destaca, neste estudo, a ração dos efeitos benéficos das ações. O Bem não pode ser
Educação, como campo privilegiado e desafiador para o visto como um efeito apenas pontual. Sua possibilidade de
exercício profissional, é o que será discutido a seguir. (Tex- se perenizar no tempo como um compromisso para com as
to adaptado de PIANA, M. C. doutora em Serviço Social). gerações futuras ganha forte destaque.

26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Estratégia orientada aos interlocutores A atuação para a responsabilidade social é um proces-
so contínuo em que se revisam os objetivos e as metas em
As relações entre as organizações e a sociedade são diversos momentos. Deve-se buscar a melhoria contínua
dinâmicas. Portanto, uma atuação empresarial voltada com base na cooperação, na ética e na transparência e seu
para a responsabilidade social pressupõe uma abertura foco principal é a sustentabilidade.
permanente e constante de canais de diálogo e de comu- Na construção de uma estratégia orientada para a re-
nicação para monitoramento do ambiente e das relações lação com os stakeholders, existem dois fatores relevantes
com os interlocutores organizacionais, não se constituin- para a ação dos gestores: i. o tipo de responsabilidade so-
do apenas em estabelecer uma prioridade predefinida de cial que irá configurar-se como ponto forte da empresa
comprometimento com grupos específicos. e este em função da sinergia existente entre a cultura da
A responsabilidade social empresarial prima pela empresa e as demandas da comunidade onde ela está in-
construção de ações e práticas nos negócios em que os in- serida; e ii. o reconhecimento ou a identificação de seus
teresses e a realidade dos interlocutores sejam levados em stakeholders efetivos e potenciais. No que respeita ao pri-
consideração. Essa atitude pressupõe a internalização de meiro fator, a empresa deve focar as ações sociais que pre-
padrões de conduta que valorizem o ser humano, a socie- tende desenvolver no exercício da responsabilidade social.
dade e o meio ambiente e tenham como decorrência uma Esse foco na ação deve ser direcionado para as demandas
boa governança e a transparência. As empresas eticamen- sociais que tenham vínculo com a cultura da organização,
te responsáveis criam um ambiente que propicia e fortale- ou seja, que estejam diretamente relacionadas ao trabalho
ce suas posições para a sustentabilidade de seus negócios e à estratégia predefinida da empresa. Sem esse vínculo
em longo prazo e a perenização da vida no planeta. Isso entre as demandas da comunidade e a cultura organiza-
implica inserir valores outros, a confiança e a reciprocida- cional, as ações socialmente responsáveis podem transfor-
de, atípicos no mundo dos negócios, caracterizado pela mar-se em meras ações filantrópicas.
produtividade, pela competitividade e pela concorrência. Hitt et al. apud Borger (2001) classificou os stakehol-
A resposta efetiva de uma empresa às solicitações de ders em três grupos, quais sejam:
1. Stakeholders de capital: os acionistas e os princi-
seus diversos interlocutores não está garantida pela for-
pais provedores de capital para firmas como bancos, agen-
malização e pela manifestação de princípios em suas polí-
tes financeiros, fundos de investimentos.
ticas, valores e crenças, como declarado pela alta adminis-
2. Stakeholders de produto e mercado: os clientes,
tração. É necessário um compromisso efetivo e concreto
os fornecedores, as comunidades locais e sindicais.
com as carências e as demandas da sociedade.
3. Stakeholders organizacionais: empregados, in-
Não há um modelo específico e único para a implan-
cluindo o pessoal administrativo (executivos) e não admi-
tação da responsabilidade social nas empresas. O modelo
nistrativo.
a ser implantado deve estar enraizado e vinculado ao ta-
Na maioria das vezes, existe divergência entre esses
manho, ao setor e à cultura da empresa, devendo ter como grupos de interesses e as relações de dependência entre
base (BORGER, 2001): estes e as organizações são desiguais e assimétricas.
a. uma visão integrada e sistêmica; Quanto mais significativa for a participação de um ou
b. a melhoria contínua; mais grupos na empresa, maior sua dependência e maior
c. uma perspectiva de atuação de longo prazo e sus- o poder de influência desses grupos sobre a organização.
tentabilidade na operação dos negócios, abrindo-se mão Gerenciar essas relações de poder assimétricas, desi-
de resultados de curto prazo, à medida que esses interfi- guais e conflituosas é um grande desafio posto à alta ad-
ram na relação com os stakeholders; ministração e aos que atuam na formulação e na implan-
d. comunicação aberta e transparente com as partes tação das estratégias empresariais. A escolha dos gestores
interessadas, implicando adotar transparência, honestida- da organização quanto aos stakeholders se baseia na ca-
de, integridade e padrões de conduta éticos. racterização de sua legitimidade, na capacidade de influir
As diversas demandas das partes interessadas im- na empresa e na urgência das demandas.
põem condições de negociação complexas e podem exigir As decisões estratégicas tomadas pela empresa são
comportamentos distintos e, aparentemente, contraditó- diferenciadas para esses diversos grupos de interesse,
rios para as empresas. Com relação ao ambiente externo, a porque os acionistas desejam credibilidade da organiza-
empresa não efetua a gestão das relações com seus inter- ção e querem maximizar seus retornos, preservar e au-
locutores, mas a gestão das expectativas das partes inte- mentar sua riqueza; os consumidores e os clientes querem
ressadas e de como elas serão incorporadas à gestão em- qualidade e confiabilidade dos serviços e produtos sem
presarial e sustentadas. Esse fato, que não resume a gestão aumento de preços; os fornecedores querem aumentar o
das ações socialmente responsáveis a uma mera questão preço e reduzir os custos; a comunidade quer que as em-
de comando e controle, exige uma percepção acurada dos presas sejam responsáveis, sendo empregadores de longo
valores, dos direitos e dos deveres envolvidos para a to- prazo, paguem mais impostos e não demandem serviços
mada de decisão, colocando para a administração empre- de infraestrutura; e, finalmente, os trabalhadores da or-
sarial o desafio de controlar recursos críticos e acomodar ganização esperam confiança, desejando que a empresa
demandas distintas que as partes interessadas esperam forneça um ambiente de trabalho dinâmico, estimulante e
que sejam atendidas (KARKOTLI, 2004). compensador.

27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Não é possível que seja estabelecida uma relação A forma que uma organização pode adotar para pra-
imediata, linear ou direta, entre um comportamento eti- ticar a responsabilidade social é definir sua visão, o que
camente responsável e um determinado nível de sucesso compreende um foco de atuação – meio ambiente, cida-
nos negócios. O sucesso nos negócios depende, em senso dania ou recursos humanos –, sua estratégia de ação e seu
estrito, de ações racionais instrumentais, enquanto o en- papel principal. O papel está ligado aos valores da empre-
volvimento com ações socialmente responsáveis pressu- sa, assim como o foco e a estratégia estão ligados à ação
põe, seguindo Max Weber, não somente ações racionais e à relação desta com seu entorno. Esses três elementos
instrumentais, mas também ações valorativas e afetivas. (MELO NETO; FROES, 2001) – o foco, a estratégia e o pa-
Mas a forma de condução pela organização dessas inte- pel – circunscrevem um campo de ação para a prática da
rações dinâmicas e complexas com as várias expectativas responsabilidade social empresarial. A organização define
e interesses dos interlocutores cria imagens distintas da sua visão predominante e visões secundárias de respon-
corporação, que são responsáveis pela reputação desta sabilidade social e estabelece parâmetros para avaliar a
gestão dessa prática no que corresponde, por exemplo, à
e, consequentemente, por sua existência em longo prazo.
relação com a comunidade.
Fombrun (1996) mostra essas relações da seguinte forma:
Falar em planejar significa considerar a natureza do
- os acionistas e daqueles que lidam com a empresa.
futuro ante as decisões tomadas no presente. O planeja-
A boa governança corporativa assegura aos sócios equi-
mento implica avaliar a situação como um todo, prever as
dade, transparência, prestação de contas (accountability) dificuldades potenciais e se preparar para superá-las. Dada
e responsabilidade pelos resultados (IBCG, 2008). A forma a avaliação de uma situação diagnosticada no presente,
como as atividades de responsabilidade social são estrutu- pode-se estabelecer, planejar um futuro desejado e deli-
radas na empresa acarreta implicações para a governança near, implementar os meios de torná-lo realidade. Assim,
corporativa. Assim, o processo de implantação das ações criam-se condições de possibilidade, não de alteração do
deve ser transparente e monitorado. futuro, mas sim de construção de um futuro possível. O
Comparando-se com a filantropia tradicional, o inves- planejamento é, portanto, decidir antecipadamente quais
timento social privado, tanto de pessoas físicas como de as alternativas para a ação, escolher um curso de ação e o
jurídicas, tem as seguintes características distintivas: que deve ser feito para que se alcance o objetivo desejado.
- a focalização em áreas, a presença de ações integra- Várias empresas que desejam adotar políticas de res-
das e convergentes e a concentração de recursos, além de ponsabilidade social têm utilizado estratégias que procu-
ter na gestão seu fator dominante de efetividade e eficá- ram mostrar que elas se encontram em sintonia com os
cia. Fundamental é que ele seja objeto de um processo de interesses e as aspirações de seus interlocutores, além da
gerenciamento contínuo (MELO NETO; BRENNAND, 2004), mera ênfase na preocupação com a maximização de lucros
em que as práticas de certificação social e ambiental po- e a redução de custos. O desafio nesse caminho é lidar
dem ser apontadas como o ponto culminante. com os parâmetros e as variáveis associados ao desempe-
nho social e ambiental, tanto em termos da construção de
Responsabilidade social e planejamento estratégico diagnósticos quanto em termos do acompanhamento de
ações e processos e de avaliação de resultados.
A implantação dos programas e das iniciativas que Há três momentos dinâmicos e interdependentes que
revelem a responsabilidade social das organizações deve envolvem as atividades relacionadas às diversas funções
incluir o planejamento, desde um diagnóstico inicial da si- de uma organização: o planejamento, a implantação e a
tuação em que se encontra a empresa até a proposição avaliação. No planejamento estratégico a avaliação ex ante
final do conjunto de ações que pretende ver implantado. define o diagnóstico inicial a partir do qual será construí-
da uma visão de futuro desejada, levando-se em consi-
Melo Neto & Fróes (2001) destacam a visão da res-
deração os contextos diversos que podem influenciar a
ponsabilidade social como postura estratégica empresarial
organização. A visão de futuro define que ações serão
e explicam seu significado: “... neste aspecto, a busca da
implementadas. O monitoramento sistemático e contínuo
responsabilidade pelas empresas é centrada na valoriza-
destas possibilita correções de rumo.
ção do seu negócio em termos de faturamento, vendas O planejamento de uma organização pode ser separa-
e marketshare”. A responsabilidade social passa a ser vis- do em estratégico, gerencial e operacional. O planejamen-
ta como ação social estratégica que gera retorno positivo to estratégico dá mais atenção aos fatores do ambiente
para os negócios. Como já foi destacado, somente haverá externo da organização e prioriza a definição da missão e
uma vinculação sistêmica das ações socialmente respon- da visão estratégicas, o estabelecimento dos diversos ob-
sáveis às outras diversas atividades da organização quan- jetivos de longo, curto e médio prazos e das mudanças
do a responsabilidade social empresarial constituir parte necessárias para que as ações da organização sejam so-
da estratégia da organização, fato que depende da elabo- cialmente responsáveis. O planejamento gerencial enfatiza
ração de seu planejamento estratégico. As ações descon- fatores do ambiente interno da organização, procurando
tinuadas e desconectadas do planejamento da instituição agenciar os diversos recursos para que os objetivos orga-
revestem-se do caráter de filantropia e não indicam ne- nizacionais sejam colocados em prática. O planejamento
cessariamente que a instituição está no caminho para a operacional busca assegurar a realização das ações defini-
implantação da responsabilidade social. das no plano gerencial.

28
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
A inserção da responsabilidade social pressupõe a ar- ISO 26000
ticulação, a escolha, a adoção e o estabelecimento de indi-
cadores e medidas que possam trazer informações sobre A ISO 26000, norma internacional de responsabilida-
a responsabilidade social da empresa. Para isso, além das de social, vem sendo desenvolvida por representantes de
atividades associadas às funções da produção, de marke- diversas organizações envolventes da sociedade de países
ting, de finanças e de desenvolvimento de produtos/ser- desenvolvidos e de países em desenvolvimento – consu-
viços, de recursos humanos, de compras, de engenharia/ midores, empresas, governos, ONGs, trabalhadores, orga-
suporte técnico e manutenção, dentre outras, a organiza- nismos de normalização e entidades de pesquisa. A ISO
ção necessita efetuar uma vinculação sistêmica com as ati- (International Organization for Standardization) formou
vidades da responsabilidade social empresarial, adotando um GT sobre Responsabilidade Social que une, anualmen-
uma estrutura factível e condizente com sua realidade. te, 33 organizações e 54 países para encaminhar a nova
norma, com prazo para ser publicada até 2010. O GT está
Estruturas para implantação da responsabilidade sobre a liderança da SIS (Swedish Standards Institute) e da
social ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Consi-
dera-se esse processo inovador porque a norma será coor-
Machado Filho (2002) apresenta três formas básicas denada por um país industrializado (Suécia) e um país em
de estruturas organizacionais alternativas para a condução desenvolvimento (Brasil).
de ações sociais, interna ou externamente aos limites da Composta por diretrizes, a norma não terá propósito
empresa. Pela opção interna, a empresa opera as ações de certificação assim como não conterá caráter de sistema
de responsabilidade social dentro da sua própria estrutura de gestão, ao contrário da ISO 14000 e ISO 9000 que, por
organizacional, mantendo essas atividades no seu orga- sua vez, é composta por requisitos. Isso indica que a ISO
nograma. A opção externa é aquela segundo a qual a em- 26000 será uma norma de desempenho, ou seja, não terá a
presa cria uma organização própria para operar as ações estrutura da metodologia PDCA (Plan-Do-Check-Act), mas
sociais, como uma fundação sem fins lucrativos, ou então terá ênfase em resultados. A norma está em construção,
mas já se sabe que será elaborada com base em iniciativas
desenvolve parcerias com outras instituições, aportando
já existentes e que contém uma estrutura definida presen-
recursos. Entretanto, não opera diretamente as ações de
te no relatório da norma no site da ISO (www.iso.org).
responsabilidade social.
A norma deverá assistir as organizações para abordar
A empresa internaliza as atividades, operacionalizando
o tema da Responsabilidade Social efetivamente em di-
diretamente os projetos sociais
ferentes culturas, ambientes e sociedades, apresentando
É uma estrutura usada por empresas onde há uma
guias metodológicos e operacionais para identificação e
vinculação estreita entre as demandas por ações sociais
engajamento das partes interessadas, e para aumentar
a serem desenvolvidas e as atividades empresariais. Os
a credibilidade dos relatórios e demandas sobre a RS. O
projetos sociais são realizados pela própria estrutura or- campo de aplicação da norma envolve qualquer tipo de
ganizacional da empresa. Um exemplo seria o caso do organização e porte, tanto público quanto privado. Por
desenvolvimento de ações sociais e ambientais corretivas isso o termo RS, ao invés de RSE.
ou preventivas, com relação direta e interligada com a ati- A ISO 26000 acrescenta valor aos trabalhos de RS já
vidade central da empresa potencialmente causadora de existentes através das seguintes medidas: desenvolver um
Essa estrutura também é sugerida no caso de uma ação consenso internacional sobre o significado da Responsa-
social intrinsecamente relacionada com a atividade e o de- bilidade Social e os assuntos que a RS precisa abordar;
sempenho empresarial, especialmente as ações internas fornecer normas de procedimentos para ações efetivas em
dirigidas aos próprios funcionários. Ou o caso de quan- RS; e disseminar as melhores práticas para o bem comuni-
do se deseja explorar de forma intensa a especificidade tário já desenvolvidas.
da marca, associando diretamente determinada prática de O objetivo da norma não é de que seja concorrente
responsabilidade social ao negócio da empresa. de outros padrões e requisitos de RS, mas complemen-
tar-se a estes. Para isso, a ISO divulgou uma lista com 90
Referenciais normativos e indicadores documentos e iniciativas considerados importantes para o
assunto, dentre eles, o GRI, SA8000 e a AA1000, que serão
O presente texto busca apresentar algumas ferramen- apresentados com mais detalhes abaixo.
tas normativas de Responsabilidade Social descrevendo a
sua finalidade, como e por quem ela tem sido usada, sua AA 1000
proposta e destinação, e, em alguns casos, seu histórico
de criação. Observando o grande leque de opções de mo- Criada no Reino Unido, a AA 1000 é uma norma in-
delos de normas de RS foram selecionadas as principais ternacional de certificação que apresenta princípios e pa-
normas reconhecidas no mercado: ISO 26000, AA 1000, drões de processo voltados para o engajamento com os
SA 8000, NBR 16001, Indicadores Ethos de RS, e GRI. Com públicos de interesse. Foi publicada em 1999 pela ONG
esse estudo busca-se uma melhor compreensão dessas ISEA (Institute of Social and Ethical Accountability), em
normas, principalmente quanto a sua finalidade. Londres, reconhecida como o primeiro padrão internacio-
nal de gestão da RSE. Em 2005 a AccountAbility lançou o

29
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
segundo módulo da AA 1000, o AA 1000SES – Stakeholder crianças, trabalho forçado, higiene e segurança, práticas,
Engagement Standard. Esse módulo acrescenta uma lis- discriminação, direito de reunião (sindicatos), tempo de
tagem de considerações práticas sobre engajamento dos trabalho, remuneração e sistema de gestão.
públicos de interesse e uma estrutura para o processo de Pode-se implantar a SA 8000 por dois meios: o Certifi-
diálogo entre eles. cation SA 8000 em que a empresa passa por avaliação de
A série de normas AA 1000 define melhoria de práticas auditor independente de uma organização credenciada e
para prestação de contas com a finalidade de assegurar a supervisionada por auditores da SAI; e pelo CIP (Corporate
qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético Involvement Program), aplicável a empresas que vendem
de qualquer tipo de organização. Os padrões de processo mercadorias.
da AA 1000 estimulam a conceituação dos valores das or-
ganizações e as alinha com o desenvolvimento de metas NBR 16001
de desempenho da organização, assim como a avaliação e
comunicação das mesmas através do foco no engajamen- A norma NBR 16001 foi elaborada pela ABNT (Asso-
to dos públicos de interesse, ponto-chave da norma. Nes- ciação Brasileira de Normas Técnicas), representante oficial
se âmbito, inserem-se questões sociais e éticas à gestão da ISO no Brasil, em 2004. A norma, de âmbito nacional,
estratégica e operações do negócio. busca atender todos os tipos e portes de organizações,
O foco no engajamento dos públicos de interesse é adequando-se às divergências geográficas, culturais e
de extrema importância por implicar na eficácia e objetivi- sociais brasileiras. Por essa razão, a sua aplicação depen-
dade das metas e indicadores determinados e na seleção de de alguns fatores: a política de RS da organização, a
do sistema de relatório mais adequada. A série de normas natureza de suas atividades, produtos e serviços, de sua
AA 1000 traz benefícios para o desempenho ético, social, localidade e condições em que opera. O seu propósito é
ambiental e econômico da organização. de certificação e consiste em um sistema de gestão. Por
A norma AA 1000 tem caráter certificador por meio consistir esse caráter ela não dita critérios específicos de
da especificação do processo a ser seguido na construção desempenho da RS.
do relatório de desempenho, embora não indique níveis Segundo a edição de lançamento da norma (2004), a
desejados de desempenho, similar a adoção e a implementação da mesma não garantem “re-
ISO 14000. Não há, nesta certificação, a comprovação sultados ótimos”, mas estimula as organizações a consi-
do comportamento ético e socialmente responsável da or- derarem a implementação da melhor prática disponível a
ganização, mas garante que suas ações sejam conforme partir de conceitos, práticas e indicadores propostos por
seus valores e que cumpra as metas definidas a partir do instituições de renome que podem contribuir para o pla-
diálogo com stakeholders. nejamento do sistema da gestão da responsabilidade so-
cial (i.e. Indicadores Ethos).
A norma apresenta os principais tópicos relacionados
Um dos seus fundamentos é o Tríplice Resultado da
à responsabilidade social, e os pontos de convergência e
sustentabilidade (econômico, ambiental e social) e sua
divergência com os demais padrões (ISO, SA 8000 e GRI),
metodologia segue o modelo PDCA da ISO 14001. Em-
podendo ser usada em conjunto ou isolada a essas ferra-
bora esse fundamento envolva a dimensão ambiental, a
mentas. Em suma, a estrutura da AA 1000 contém proces-
norma não substitui as outras normas da série ABNT NBR
sos e princípios para três pontos: relatórios, prestação de
ISO 9000 ou ISO 14000, portanto são complementares.
contas e auditoria.
A NBR 16001 permite à organização formular e imple-
mentar uma política e objetivos que considerem os requi-
SA 8000 sitos legais apresentando uma atuação ética, preocupada
com a promoção da cidadania, do desenvolvimento sus-
A SA 8000, passível de auditoria e certificação, é uma tentável e transparência das suas atividades. A sua aplica-
ferramenta normativa que estabelece padrões para as re- ção é indicada para as seguintes situações:
lações de trabalho. Elaborada em 1997 nos EUA pela atual - Implantar, manter e aprimorar um sistema de gestão
ONG SAI (Social Accountability International) por meio de de RS;
grupos de trabalhos envolvendo diversos stakeholders. É a - assegurar a conformidade com a legislação e com a
primeira certificação internacional de RS. política de RS;
Reconhecida internacionalmente como um sistema de - apoiar o engajamento efetivo das partes interessa-
implementação, manutenção e verificação das condições das;
adequadas do trabalho, assim como do respeito aos direi- - realizar uma auto-avaliação e autodeclaração da
tos fundamentais dos trabalhadores, a norma é destinada conformidade com a norma;
principalmente a empresas que tem sua cadeia de produ- - buscar confirmação de sua conformidade por partes
ção em países em que há uma necessidade de assegurar que possuam interesse na organização;
condições de trabalho decentes. - buscar certificação por uma organização externa.
Seu sistema de auditoria é similar à ISO 9000, mas A norma NBR 16001 apresenta uma listagem de carac-
seus requisitos são baseados nas diretrizes internacionais terísticas que devem ser agregadas aos objetivos e metas,
de direitos humanos, principalmente da ONU. Esses requi- essas compatíveis com a política de RS da organização. O
sitos caminham dentro dos seguintes temas: trabalho das relatório oficial da norma está disponível

30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Indicadores Ethos de RS ção da atuação da mesma com o mercado. Além de que, a
GRI serve como uma plataforma para facilitar o diálogo e
O Instituto Ethos, ONG brasileira idealizada em 1998 o engajamento de stakeholders.
por empresários e executivos, desenvolveu os indicadores As diretrizes da GRI estabelecem 11 princípios de di-
Ethos como uma ferramenta de auto diagnóstico para au- vulgação que tem o objetivo de garantir a credibilidade e
xiliar as empresas a gerenciarem seus impactos sociais e comparabilidade, por exemplo, a exatidão, clareza, pon-
ambientais. tualidade e relevância. Os indicadores funcionam da se-
Os indicadores são atualizados periodicamente para guinte maneira: tem-se 146 indicadores agrupados em ca-
atender novas necessidades do setor privado, o que a tor- tegorias com base no Tríplice Resultado (ambiental, social
na a principal ferramenta de gestão empresarial referente e econômico) e dentro de cada categoria definem-se uma
à incorporação da RS ao planejamento estratégico e ao série de “aspectos” avaliados com base em indicadores
monitoramento geral da empresa. Com isso, a sua estrutu- específicos. Exemplificando, na categoria ambiental há o
ra viabiliza um planejamento para alcançar um grau mais aspecto “energia” que tem indicadores como “programas
elevado de responsabilidade social da empresa. para utilizar fontes renováveis de emergia e para aumentar
As diretrizes da ferramenta estabelecem, através de a eficiência energética”. Difuso a essa categorização há um
questionário, metas de aprimoramento dentro dos se- manual explicando o que deve ser informado para cada in-
guintes temas: valores, transparência e governança, públi- dicador. Podem-se encontrar também diretrizes setoriais,
co interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores e que atendem um setor específico do mercado (financeiro,
clientes, comunidade, e governo e sociedade. As respostas mineração, operadoras de turismo), e pretende, futura-
dadas a essas questões são correlacionadas com outras mente, lançar diretrizes nacionais relevantes a situação de
iniciativas (GRI, Pacto Global e Metas do Milênio). cada país.
Visando atender cada setor de atuação, os Indicadores Com a GRI, a empresa pode estabelecer metas, identi-
Ethos Setoriais abrangem certas peculiaridades e dificul- ficar as melhorias alcançadas, avaliar se os objetivos foram
dades de cada setor e possibilitam avaliar oportunidades e atingidos e avaliar internamente a relação entre o que é
desafios típicos. Portanto, já existem indicadores próprios dito e o que é efetivamente realizado.
para o setor financeiro, varejo, panificação, restaurantes e As empresas podem usar a GRI como roteiro ou ma-
bares, entre outros. nual informal, ou serem classificadas em três níveis: A/A+,
B/B+ e C/C+. Cada nível tem uma série de requisitos para
Após preenchimento do questionário e envio ao Insti-
atingi-lo, sendo avaliados pela própria empresa, ou, para
tuto Ethos, a organização tabula as respostas em um pro-
obter o sinal “+”, por um órgão externo. A avaliação exter-
cesso de pontuação, elabora um Relatório de Diagnóstico
na, feita pela própria GRI ou por um órgão oficial, consi-
de RSE e fornece os dados confidencialmente à empresa.
dera apenas a conformidade do relatório com as diretrizes
A aplicação dos indicadores é voluntária, não havendo
GRI, não conferindo a conformidade dos pontos coloca-
nenhum tipo de prêmio, selo ou certificação. O resultado
dos com a realidade da empresa.
desse processo é a inclusão do processo em 642 empresas
No Brasil o modelo já é adotado por 38 organizações,
do Brasil e a disseminação dos indicadores para toda a
o que é um número baixo quando comparado às mais
América Latina e também para o Portugal. de mil empresas no mundo que se beneficiam desta fer-
ramenta. A tendência é que cresça o uso da GRI, padro-
GRI – Global Reporting Iniciative nizando os relatórios de sustentabilidade e facilitando a
comparação e análise entre empresas. (Texto adaptado de
A Global Reporting Initiative – GRI é pioneira mundial AMARAL, J. P e ZANDER, K.).
em estipular diretrizes de comunicação sobre a respon-
sabilidade social, ambiental e econômica das empresas.
Atualmente é o principal padrão mundial para a mensura- SERVIÇO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE.
ção, monitoramento e divulgação dos programas de sus-
tentabilidade das empresas.
Através do padrão estabelecido pela GRI, pode-se rea- O trabalho de assistentes sociais, psicólogos/as e pe-
lizar comparações e análises críticas das empresas, além dagogos/as, que constituem as principais profissões hoje
de aumentar a qualidade dos relatórios. atuantes no SUAS, requer interface com as políticas da
A ferramenta foi concebida pela CERES, em 1997, e saúde, Previdência, educação, trabalho, lazer, meio am-
desenvolvida junto com a Tellus Institute, copatrocinada biente, Comunicação Social, segurança e habitação, na
pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, mas perspectiva de mediar o acesso dos(as) cidadãos(ãs) aos
só foram publicadas em 2002. A GRI já passou por três direitos sociais.
versões, sendo a mais atual, a G3, lançada em 2006. As abordagens das profissões podem somar-se com
O estabelecimento deste padrão de relatório econô- intuito de assegurar uma intervenção interdisciplinar ca-
mico, social e ambiental se dá através de um modelo que paz de responder a demandas individuais e coletivas, com
determina princípios e estrutura para o relatório. A vanta- vistas a defender a construção de uma sociedade livre de
gem deste dispositivo é que a empresa pode acessar rela- todas as formas de violência e exploração de classe, gêne-
tórios de outras empresas, permitindo, assim, a compara- ro, etnia e orientação sexual. Ao integrar a equipe dos(as)

31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
trabalhadores(as) no âmbito da política de Assistência So- Nessa perspectiva, é fundamental assegurar a partici-
cial, os(as) profissionais podem contribuir para criar ações pação dos(as) profissionais das diferentes categorias que
coletivas de enfrentamento a essas situações, com vistas integram as equipes dos CRAS e CREAS e dos(as) usuá-
a reafirmar um projeto ético e sócio-político de uma nova rios(as), nos Conselhos de Assistência Social, como forma
sociedade que assegure a divisão equitativa da riqueza de fortalecimento da contribuição das diferentes profis-
socialmente produzida. sões para a construção do SUAS e para a qualificação dos
Dessa forma, o trabalho interdisciplinar em equipe espaços de controle social democráticos. Destaca-se tam-
deve ser orientado pela perspectiva de totalidade, com bém a importância da atuação conjunta na perspectiva da
vistas a situar o indivíduo nas relações sociais que têm pa- organização dos(as) usuários(as), com vistas a viabilizar
pel determinante nas suas condições de vida, de modo a sua participação nos Conselhos, bem como intervir no
não responsabilizá-lo pela sua condição socioeconômica. sentido de tornar acessível à população as deliberações
O Código de Ética Profissional de assistentes sociais, por das Conferências e dos Conselhos de Assistência Social,
exemplo, estabelece direitos e deveres que, no âmbito aprimorando os mecanismos de divulgação e socialização
do trabalho em equipe, resguardam-lhes o sigilo profis- dos debates com a população.
sional, de modo que estes(as) não podem e não devem Pela sua formação e experiência, os/as assistentes
encaminhar, a outrem, informações, atribuições e tarefas sociais têm uma função estratégica na análise crítica da
que não estejam em seu campo de atuação. Por outro realidade, no sentido de fomentar o debate sobre o re-
lado, só devem compartilhar informações relevantes para conhecimento e defesa do papel da assistência social e
qualificar o serviço prestado, resguardando o seu cará- das políticas sociais na garantia dos direitos e melhoria
ter confidencial, assinalando a responsabilidade, de quem das condições de vida; isso sem superestimar suas enfren-
as receber, de preservar o sigilo. Na elaboração conjunta tamento das desigualdades sociais, gestadas e cimenta-
dos documentos que embasam as atividades em equipe das nas determinações macroeconômicas que impedem a
interdisciplinar, psicólogos/as e assistentes sociais devem criação de emprego, redistribuição de renda e ampliação
registrar apenas as informações necessárias para o cum- dos direitos. Da mesma maneira, têm um papel fundamen-
primento dos objetivos do trabalho. tal na compreensão e análise crítica da crise econômica e
Em virtude dos desafios impostos na atuação inter- de sociabilidade que assola o Brasil e o mundo. Essa crise
disciplinar na política de Assistência Social, considera-se é fortemente determinada pela concentração de renda e
importante a criação de espaços, no ambiente de traba- expressa-se nos altos índices de desemprego, violência,
lho, que possibilitem a discussão e reflexão dos referen- degradação urbana e do meio ambiente, ausência de mo-
ciais teóricos e metodológicos que subsidiam o trabalho radias adequadas, dificuldade de acesso à saúde, educa-
profissional e propiciem avanços efetivos, considerando ção, lazer e nas diferentes formas de violação dos direitos.
as especificidades das demandas, das equipes e dos(as) Portanto, não se pode analisar e planejar a Assistência
usuários(as). A construção do trabalho interdisciplinar Social isolada do conjunto das políticas públicas e nem se
impõe aos(às) profissionais a realização permanente de pode reforçar a perspectiva de que o enfrentamento das
reuniões de planejamento e debates conjuntos a fim de desigualdades estruturais pode se dar pela via da resolu-
estabelecer as particularidades da intervenção profis- ção de problemas individualizados e que desconsiderem
sional, bem como definir as competências e habilidades as determinações objetivas mais gerais da sociabilidade
profissionais em função das demandas sociais e das espe- Os desafios que se colocam demandam dos/as profissio-
cificidades do trabalho. Balizados pelos seus Códigos de nais, e dos/as assistentes sociais especialmente, uma arti-
Ética, Leis de Regulamentação e Diretrizes Curriculares de culação na defesa do SUAS e de todas as políticas sociais,
formação profissional, os(as) profissionais podem instituir a partir de uma leitura crítica da realidade e das demandas
parâmetros de intervenção que se pautem pelo comparti- sociais.
lhamento das atividades, convivência não conflituosa das Embora Serviço Social e Psicologia, principais profis-
diferentes abordagens teórico- metodológicas que esta- sionais hoje inseridos no SUAS, possuam acúmulos teórico
belecimento do que é próprio e específico a cada profis- -políticos diferentes, o diálogo entre essas categorias pro-
sional na realização de estudos socioeconômicos, visitas fissionais aliará reflexão crítica, participação política, com-
domiciliares, abordagens individuais, grupais e coletivas. preensão dos aspectos objetivos e subjetivos inerentes ao
A atuação interdisciplinar requer construir uma práti- convívio e à formação do indivíduo, da coletividade e das
ca político profissional que possa dialogar sobre pontos circunstâncias que envolvem as diversas situações que se
de vista diferentes, aceitar confrontos de diferentes abor- apresentam ao trabalho profissional. É possível construir, a
dagens, tomar decisões que decorram de posturas éticas partir dessa ação interdisciplinar, um cenário de discussão
e políticas pautadas nos princípios e valores estabelecidos sobre responsabilidades e possibilidades na construção de
nos Códigos de Ética Profissional. A interdisciplinaridade, uma proposta ético-política e profissional que não frag-
que surge no processo coletivo de trabalho, demanda mente o sujeito usuário da política de Assistência Social. O
uma atitude ante a formação e conhecimento, que se evi- trabalho em equipe não pode negligenciar a responsabili-
dencia no reconhecimento das competências, atribuições, dades individuais e competências, e deve buscar identificar
habilidades, possibilidades e limites das disciplinas, dos papéis, atribuições, de modo a estabelecer objetivamente
sujeitos, do reconhecimento da necessidade de diálogo quem, dentro da equipe multidisciplinar, encarrega-se de
profissional e cooperação. determinadas tarefas.

32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
O conhecimento da legislação social é um pré-requi- Desta forma, a atuação filantrópica dependia da von-
sito para o exercício do trabalho. No caso do Serviço So- tade e da iniciativa particular e individual das pessoas que
cial, esta é uma matéria obrigatória prevista nas Diretrizes possuíam valores circunscritos na caridade e no dever mo-
Curriculares. A atualização do conhecimento dos marcos ral. Essas ações filantrópicas buscavam contribuir para a
legais, contudo, é uma necessidade contínua de todos(as) sobrevivência das classes desfavorecidas, sem nenhuma
os(as) trabalhadores(as) e deve ser buscada conjuntamen- preocupação efetiva com o desenvolvimento e a emanci-
te pelas equipes do SUAS. pação coletiva.
A consolidação do processo coletivo de trabalho de Nesse sentido, vale considerar que desenvolvimen-
assistentes sociais na política de Assistência Social não está to, um substantivo, implica liberdade dos indivíduos para
desvinculada das lutas pela garantia de um Estado demo- que consigam garantir vida com qualidade e dignidade.
crático, comprometido com os direitos da classe trabalha- Veiga (2005) concorda que o desenvolvimento requer que
dora. Isso porque a intervenção profissional não se realiza se removam as principais fontes de privação de liberdade:
e nem pode ser tratada como responsabilidade individual
pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas
dos(as) trabalhadores(as). (Parâmetros para a Atuação de
e destituição social sistemática, negligência dos serviços
assistentes Sociais na Política de Assistência Social).
públicos e intolerância ou interferência de Estados repres-
sivos.
Furtado (2000) explica que o desenvolvimento não se
POLÍTICA SOCIAL E PLANEJAMENTO: A QUESTÃO refere somente ao crescimento econômico, mas, sobretu-
SOCIAL E A CONJUNTURA BRASILEIRA. do, a profundas modificações nas estruturas econômica e
INSTITUIÇÃO E ESTADO. social, trazendo elevações no nível de vida das pessoas.
Desse modo, o desenvolvimento não depende do aumen-
to da renda per capita, mas de um conjunto de ações inte-
Historicamente, as empresas sempre praticaram ações gradas capaz de oferecer à sociedade benefícios do cres-
no sentido de contribuir para o atendimento das neces- cimento econômico no sentido de ampliar as capacidades
sidades sociais emergentes da sociedade. No Brasil, até humanas, permitindo vida longa e saudável.
o início dos anos 1980, a classe empresarial tinha com- Vale lembrar que, desde o final da década de 1960, no
preensão de que a solução dos problemas sociais era es- Brasil, já se iniciava um movimento entre as empresas e os
tritamente responsabilidade do Estado e que, através das interlocutores da sociedade relacionado à inquietação do
políticas sociais públicas, deveria equacionar as situações empresariado diante dos problemas sociais e ambientais,
oriundas da miséria, da falta de habitação, do analfabetis- percebendo-se, aos poucos, algumas transformações nos
mo, das questões ambientais, entre outras. padrões de comportamento ligados à cultura e à gestão
As iniciativas do empresariado voltadas à atenção à empresarial.
população desassistida ficaram limitadas a ações pontuais Os empresários começaram a entender que os prin-
e heterogêneas. Não existiam projetos ou programas com cipais problemas sociais prejudicavam o processo de de-
práticas planejadas e sistematizadas. As ações eram de- senvolvimento de seus negócios e também da nação. A
senvolvidas como forma de praticar o bem, ligadas aos as- busca pela emancipação da sociedade, e, com isso, a ten-
pectos culturais e espirituais do proprietário da empresa. tativa de garantir o desenvolvimento, passou a ser questão
Essa prática se caracterizava como ações assistencialistas fundamental das preocupações de parte do empresariado
através de doações e de prestação de auxílio material e brasileiro.
financeiro destinado ao atendimento de problemas ime-
Uma referência importante foi a atuação da Associa-
diatos de famílias e de instituições privadas de caridade.
ção dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) Brasil que
Observa-se que, com o passar dos anos, as empresas
organizava e promovia seminários, congressos e palestras
brasileiras foram se aperfeiçoando e se modernizando
visando refletir sobre a dinâmica social das empresas, seus
diante do quadro econômico, político e social que se fazia
presente na sociedade brasileira. Por muito tempo, porém, objetivos, reforçando os aspectos ligados ao compromis-
a mentalidade dos proprietários das empresas em relação so diante da necessidade constitucional em cumprir sua
aos problemas socioambientais se limitava à necessidade função social.
de desenvolvimento de ações filantrópicas e que a respon- Vários documentos resultantes de fóruns e debates,
sabilidade no enfrentamento da questão social se restrin- que se sucederam ao longo do tempo, demonstraram
gia às funções do Estado. Tal comportamento expressava a tendência de sensibilização da classe empresarial com as
vocação para a benevolência e para a caridade através de questões socioambientais do país. Entre essas atividades,
atitudes e ações individuais dos empresários. destacam-se três documentos elaborados no Fórum dos
Melo Neto e Froes (2001) caracterizam as ações filan- Líderes Empresariais nos anos de 1978, 1983 e 1997, to-
trópicas desenvolvidas pelo empresariado brasileiro, até dos revelando ideias e preocupações das empresas com
meados dos anos 1980, como atitudes individuais e volun- os problemas sociais e políticos prioritários. O primeiro foi
tárias restritas aos empresários filantrópicos e religiosos, denominado como Documento dos Oito, que tinha sus-
estimulados pela caridade cristã a partir de base assisten- tentação nas questões relacionadas à democracia e aos di-
cialista, sem levar em consideração a necessidade de pla- reitos políticos. O segundo, Documento dos Doze, priori-
nejamento e gerenciamento dessas ações. zou as reflexões para os novos limites, funções e tamanho

33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
do Estado, não deixando de criticar e negar a interferência Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização
do mesmo na economia. E o último, considerado Cida- do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim as-
dania e Riqueza Nacional, contribuiu significativamente segurar a todos existência digna, conforme os ditames da
para a compreensão da necessidade de recuperar ações justiça social, observados os seguintes princípios:
incidentes à coletividade social no sentido de alcançar o I – soberania nacional;
desenvolvimento econômico na sociedade brasileira. A II – propriedade privada;
partir desse documento, percebeu-se maior expressão e III – função social da propriedade;
interesse nas reflexões sobre responsabilidade social das IV – livre concorrência;
empresas no meio corporativo. V – defesa do consumidor;
A década de 1980 ficou marcada por profundas mu- VI – defesa do meio ambiente;
danças e transformações nas áreas social, econômica, polí- VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
tica e cultural, no mundo e, especialmente, no Brasil que se VIII – busca pelo pleno emprego;
refletiram diretamente na forma de ver e agir dos empre- IX – tratamento favorecido para as empresas de
pequeno porte que tenham sua sede e administração no
sários, desencadeando várias discussões sobre a respon-
país.
sabilidade social das empresas diante do cenário mundial
A partir da Nova Constituição Federal houve preocu-
que apontava inúmeros desafios à humanidade.
pação das pessoas e das empresas no cumprimento da lei.
O processo de globalização, a velocidade das inova-
As empresas passaram a buscar conhecimento e articular
ções tecnológicas e a socialização das informações provo- mudanças para assumirem sua função na sociedade. Ao
caram aumento da complexidade no mundo dos negócios respeitar a função social, que não se restringe somente à
exigindo dos empresários novas formas de produção, co- oferta de empregos, pagamento de impostos, circulação
mercialização e prestação de serviços, além da implemen- de mercadorias, acúmulo de riqueza, a empresa garante a
tação de modelos diferenciados de gerenciamento do tra- possibilidade de transformação social contribuindo para a
balho, como resultado das exigências impostas às organi- superação das desigualdades sociais.
zações empresariais diante da concorrência internacional. Alves (2000) explica que uma nova realidade no jogo
A realidade dos mercados competitivos fez surgir investi- das forças sociais se estabelece entre empresa-sociedade
mentos inovadores em toda a cadeia produtiva, acrescida e também tem suas ramificações explícitas na criação de
da preocupação com os custos, da qualidade dos produ- um aparato jurídico-legal ou em mudanças nos padrões
tos e serviços. As empresas que buscaram a permanência de comportamentos sociais que afetam a cultura e a ação
no mercado passaram a desenvolver políticas internas de empresarial.
serviços de pós-venda, de segurança do trabalhador, de Srour (1998) aponta um conjunto de fatores históricos
ampliação de benefícios ao corpo sócio funcional, relacio- ocorridos durante a segunda metade do século XX, em
namento ético com fornecedores, consumidores, funcio- âmbito mundial, que reforçam a construção do movimen-
nários, com a preservação do meio ambiente, enfim, preo- to sobre responsabilidade social corporativa.
cupação com a sustentabilidade. O fortalecimento de uma sociedade civil, ativa e arti-
No Brasil, durante os anos 1980, houve volumosa mo- culada, que rejeitou a acomodação à pobreza sem apelo à
bilização dos movimentos populares visando à liberdade, solução de força, e que aos poucos penetrou no aparelho
à democracia e à superação da situação de pobreza cul- de Estado, tornando-o poroso; o fato de, numa economia
tural, política, material e espiritual de grande maioria da aberta e cada vez mais policiada pela mídia, os investi-
população do país. Em consequência da organização po- mentos passarem a dar resultados econômicos apenas
lítica dos vários segmentos da sociedade, em 1988, houve quando os produtos oferecessem mais valor aos consu-
midores; o desenvolvimento de alianças estratégicas entre
a promulgação da Nova Constituição Federal Brasileira,
empresários que, embora concorrentes entre si, estabele-
caracterizada como “Constituição Cidadã”, em razão de
cem diversas formas de cooperação para dinamizar seus
alguns avanços conquistados a exemplo dos direitos so-
negócios e alcançar maior competitividade; a conjugação
ciais, civis, humanos e políticos. A partir dessa constituição,
dos esforços de agentes sociais em fundos de investimen-
o país estabelece o regime democrático e participativo tos e em fundos de pensão, numa associação em que o
como modelo de organização política. Essa constituição capital assume caráter conjunto ou associativista; a pul-
aponta várias diretrizes para a efetivação da democracia, verização do capital aplicado numa variedade enorme de
da liberdade, da igualdade e consegue inaugurar a uni- empreendimentos sem mudar sua essência privada e indi-
versalização dos direitos sociais, além de consagrar à so- vidual; a emergência de empreendedores que controlam
ciedade civil o papel de corresponsável nas questões de alguma forma de conhecimento, ou de saber inovador, em
combate à exclusão social. detrimento dos antigos detentores de capital monetário,
Interessante citar o artigo 5º da Constituição Federal dando corpo ao conceito de capital intelectual; o fortaleci-
Brasileira sobre os direitos e garantias individuais e coleti- mento da figura dos gestores profissionais, possuidores de
vos, assegura o direito à propriedade e essa propriedade capacidades gerenciais centradas na perseguição da qua-
deverá atender à sua função social. Também no artigo 170, lidade, da produtividade crescente e da competitividade
essa lei maior garante a responsabilidade das empresas internacional; e a conquista de espaços democráticos no
com a sociedade: seio das empresas graças à gestão participativa.

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Pelo exposto, observa-se que, a partir do final da dé- investimento social são de natureza distinta e não devem
cada de 1980, as empresas brasileiras passaram a com- ser confundidas como ferramentas de comercialização de
preender a necessidade do cumprimento de sua função bens tangíveis e intangíveis (fins lucrativos) por parte das
social diante da exigência da lei, como também do aten- empresas ou mantenedoras.
dimento às novas determinações dos mercados competiti- O exercício de atitudes e de comportamentos so-
vos, submetidas às regras e aos padrões éticos internacio- cialmente responsáveis das empresas, no Brasil, passa a
nais. Nesse sentido, questões ligadas à ética e à responsa- destacar no ambiente social e vem se efetivando como
bilidade social ganham espaço e importância no universo conjunto de realizações orientadas para concretização do
empresarial. desenvolvimento sustentável de comunidades, transcen-
Ao longo dos anos 1990, um movimento ascenden- dendo as questões filantrópicas.
te de valorização da responsabilidade social empresarial O atual cenário globalizado dos mercados determi-
faz surgir algumas entidades representativas importantes na que as empresas não sejam meramente organizações
para discussão, reflexão e desenvolvimento de nova cul- econômicas, mas também sociais. Assim a compreensão
tura empresarial no Brasil. Entre elas o Instituto Ethos de complexa e correta sobre responsabilidade social se torna
Responsabilidade Social; o Instituto de Cidadania Empre- imprescindível no universo empresarial.
sarial; o Conselho de Cidadania Empresarial da Federação
das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg); a Fun- A responsabilidade social empresarial
dação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social
(Fides); o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) Willis Harman (apud Makray, 2000) explica que “há
e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais (Ibase). uma década a comunidade de negócios havia se tornado
Vale destacar a importância desenvolvida pelo Ins- a mais poderosa instituição na última metade do século
tituto Ethos de Responsabilidade Social no Brasil, criado XX, cabendo-lhe, portanto, uma nova tarefa no capitalis-
pelo empresário Oded Grajew, em 1998, na cidade de São mo: assumir uma parcela da responsabilidade pelo todo.”
Paulo. Organização privada sem fins lucrativos, mantém-se A responsabilidade pelo todo representa atitude que
pela contribuição das empresas associadas cuja principal envolve pessoas e organizações no desenvolvimento dos
função é a disseminação do conceito de responsabilida- diferentes papéis e funções, na construção coletiva de uma
de social por meio de encontros, seminários, congressos e sociedade justa e sustentável. Isso significa que toda de-
outras atividades de publicação e divulgação. cisão e atitude nos negócios pode e deve ser efetivada a
Também o Instituto de Análises Sociais (Ibase), orga- partir da consciência de que o destino da humanidade e
nizado em 1996 pelo sociólogo Herbert de Souza, teve re- de todos os seres vivos depende dessas ações. A respon-
conhecida atuação. O Ibase deu grande impulso à neces- sabilidade pelo todo favorece a criação de ações e atitudes
sidade de realização do balanço social das empresas, con- empresariais para o desenvolvimento sustentável.
tando com apoio de lideranças empresariais e de outros A sustentabilidade é uma situação crítica para todo o
segmentos da sociedade. Em 1996, foi lançado o “Selo Ba- planeta e é preciso ser atingida para permitir qualidade de
lanço Social”, visando à certificação das empresas social- vida à população, compatível com a capacidade de suporte
mente comprometidas com o desenvolvimento das áreas ambiental. Só uma verdadeira solução global pode garan-
de educação, de saúde, de cultura e do meio ambiente. tir um futuro humano e sustentável. Essa solução exigiria
O Gife, criado em 1996, desempenhou contribuição formulação de políticas públicas que assumisse desde já as
favorável no reconhecimento e no desenvolvimento da escalas da humanidade e da biosfera. (Informação verbal)
responsabilidade social pelas empresas. A missão desse A sustentabilidade pode ser entendida como condição
grupo é o aperfeiçoamento e a difusão dos conceitos e para igualdade entre as gerações. Uma sociedade torna-se
práticas do investimento privado em fins públicos, a sus- sustentável quando consegue oferecer condições para que
tentabilidade. Seu objetivo principal está assim definido: no futuro a vida da humanidade possa ter continuidade
Contribuir para a promoção do desenvolvimento sus- de forma qualitativa e quantitativa no espaço e no tempo.
tentável do Brasil, por meio do fortalecimento político-ins- A Organização das Nações Unidas (ONU) (apud Credi-
titucional e do apoio à atuação estratégica de institutos e dio, 2007) define sustentabilidade como “[...] atendimento
fundações de origem empresarial e de outras entidades das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a
privadas que realizem investimento social voluntário e sis- possibilidade de satisfação das necessidades das gerações
temático, voltado para o interesse público. futuras.”
Com preocupação em disciplinar e em organizar as Dessa forma, o desenvolvimento sustentável torna-
práticas sociais desenvolvidas no país pelas empresas, o se fundamental para a sobrevivência da sociedade e do
Gife, por meio dos seus constituintes, elaborou um código planeta, dependendo do equilíbrio estabelecido entre o
de ética cuja finalidade visa restringir as ações que não social, o ambiental e o econômico. Portanto, o grande de-
estejam relacionadas ao desenvolvimento sustentável. safio do desenvolvimento sustentável está na expansão do
O Código de Ética preconiza que os conceitos e a crescimento econômico incorporando variáveis culturais,
prática do investimento social derivam da consciência da educacionais e ecológicas, além de proporcionar condi-
responsabilidade e reciprocidade para com a sociedade, ções para a melhoria da qualidade de vida da humanida-
assumida livremente por empresas, fundações ou insti- de, o que requer e exige ações integradas entre todos os
tutos associados ao Gife. Para a rede Gife, as práticas de segmentos e setores da sociedade organizada.

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Na sociedade de mercado, a empresa se constitui gras de comportamento que as coletividades, sejam elas
como unidade básica de organização econômica, sendo nações, grupos sociais ou organizações, adotam por julga-
a mola propulsora para o desenvolvimento econômico e, rem corretos e desejáveis. Ela abrange as representações
por esse motivo, com condições essenciais à promoção do imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera
desenvolvimento sustentável. deles, que comportamentos são bem-vindos, qual é a me-
Essa relação pode ser compreendida como responsa- lhor maneira de agir coletivamente, o que é o bem e o que
bilidade social empresarial, ou seja, a livre adesão da em- é o mal.
presa em contribuir para o desenvolvimento sustentável, Existe relação muito próxima entre responsabilidade
criando propostas e programas estratégicos que envolvam social e ética, entendo que somente a partir dos princípios
acionistas, fornecedores, consumidores, funcionários, suas e valores morais determinados pelos que conduzem as
famílias, a comunidade local, enfim, o conjunto da socie- empresas, de acordo com padrões éticos universalmente
dade civil organizada, visando à garantia de vida com qua- aceitos e definidos, torna possível a prática da responsabi-
lidade e sustentação ao longo do tempo. lidade social corporativa. Assim o exercício da responsabi-
Na opinião de Grajew (2000), “[...] toda empresa é uma
lidade social pressupõe assumir comportamentos e atitu-
força transformadora poderosa, é um elemento de criação
des éticas pela organização e todo o conjunto societário.
e exerce grande ascendência na formação de ideias, de
As empresas que almejam a expansão dos negócios
valores, nos impactos concretos na vida das pessoas, das
em âmbito mundial precisam adotar padrões éticos e mo-
comunidades, da sociedade em geral.”
rais abrangendo noções internacionais a respeito dos di-
As empresas são poderosas, pois possuem os meios
de produção, os recursos financeiros, tecnologias e autori- reitos humanos, do exercício da cidadania, da prática de
dade política. O poder requer responsabilidade para com participação na sociedade, da defesa e da preservação do
a sociedade em geral que se inicia no princípio constitu- meio ambiente, entre outros.
cional do cumprimento de suas funções sociais e legitima- Efetivamente, valores éticos e morais influenciam as
mente reconhecida pela sociedade. atitudes e a imagem organizacional e estão se tornando
A responsabilidade da empresa se justifica pela qua- cada vez mais homogêneos, rigorosos e universais. Dessa
lidade de comprometimento com pessoas, comunidades, forma, a responsabilidade social corporativa expressa nova
sociedade e meio ambiente, uma vez que os impactos e forma de realizar negócios em todo o mundo, caracteri-
as influências atingem diretamente toda a cadeia de re- zando-se por visão inovadora, seguindo o rigor dos valo-
lacionamento, interferindo propositivamente na satisfação res éticos e morais aceitos universalmente.
de necessidades básicas e de sobrevivência, refletindo no Do ponto de vista de Grajew (2000), responsabilidade
processo de mudança social. social empresarial acrescenta a obrigatoriedade do cum-
A cultura que organiza a estrutura empresarial, as me- primento da lei. Esclarece que “[...] ela começa a partir dis-
tas, os objetivos, as decisões, as atitudes e as atividades so, de decisões que precisam ser tomadas não porque a
pode demonstrar à sociedade valores que contribuem para Lei obriga e devem ser vistas como um gesto de livre e
a construção de uma sociedade sustentável. As empresas espontânea vontade, voluntária, calcada não na legislação,
que internalizam a responsabilidade social na gestão dos mas na ética, nos princípios e valores.”
negócios, do planejamento estratégico à implementação O compromisso da responsabilidade social significa a
das ações, estabelecem padrões éticos no relacionamento integração e a opção voluntária das organizações empre-
com toda a cadeia produtiva. sariais com questões socioambientais que se materializam
A ética, entendida como juízos morais, padrões e re- por meio das atividades administrativas, produtivas e co-
gras de conduta humana, com ênfase na determinação do merciais, das relações estabelecidas com todos os envol-
certo e do errado, corresponde às práticas, valores e com- vidos, integrantes diretos e indiretos da cadeia produtiva,
portamentos esperados ou proibidos pelos membros da
os stakeholders. Além disso, complementa as exigências
sociedade, apesar de não codificados em leis.
legais e contratuais que constitucionalmente são obri-
A ética empresarial direciona o comportamento em
gadas a cumprir. Em outras palavras, a responsabilidade
conformidade com as condutas aceitas pela sociedade.
social abrange as boas práticas corporativas e a ética em-
Ferrel et al. (2001) ressaltam que a maioria das definições
presarial, ultrapassando as normas jurídicas e incluindo
de ética empresarial diz respeito a regras, padrões e prin-
aspectos diversos como os que vão da gestão de recursos
cípios morais sobre o que é certo ou errado em situações
específicas [...] ética empresarial compreende princípios e humanos e da cultura empresarial à seleção dos parceiros
padrões que orientam o comportamento no mundo dos comerciais e da aplicação de tecnologias. Implica integra-
negócios. ção das decisões e avaliações estratégicas sobre as dimen-
A moral no ambiente empresarial refere-se ao con- sões financeira, tecnológica, ambiental, comercial e social
junto de valores e de normas reconhecidos e vinculados da empresa, levando em consideração seus impactos na
pelas organizações como base de conduta. Os valores, os sociedade. Na opinião de Ferrel et al. (2001), “[...] a res-
padrões e os princípios morais são estabelecidos para a ponsabilidade social no mundo dos negócios consiste na
coletividade, definem a vivência ética. Srour explica que obrigação da empresa em maximizar seu impacto positivo
a moral pode ser vista como conjunto de valores e de re- sobre os stakeholders e em minimizar o negativo.”

36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Kraemer (2005) define responsabilidade social das em- Drucker (2002) defende que a maior responsabilidade
presas como um conceito segundo o qual as empresas de- social da empresa é o desempenho de suas funções e a
cidem, numa base voluntária, contribuir para uma socieda- primeira delas é gerar riqueza. A empresa que não con-
de mais justa e para um ambiente mais limpo. A empresa é segue obter lucros está sendo irresponsável, porque está
socialmente responsável quando vai além da obrigação de desperdiçando recursos destinados ao atendimento de
respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições necessidades sociais.
adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e Sob a perspectiva capitalista, as empresas necessitam
faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor da lucratividade e, somente através de bons resultados
e estará contribuindo para a construção de uma sociedade econômicos, conseguirão contribuir para o desenvolvi-
mais justa. mento sustentável da sociedade. Vale considerar que os
Atualmente, muitas empresas, principalmente aquelas interesses econômicos refletem diretamente na concep-
que buscam, incansavelmente, modernização, inovação, ção da responsabilidade social da empresa, uma vez que
competitividade e que esperam a lucratividade, estão assu- a obtenção do lucro é essencial para que os negócios se
mindo a responsabilidade social como modelo de gestão. mantenham e sejam competitivos no mercado, ao mesmo
As empresas precisam incorporar em seu cotidiano a ética tempo, que os comportamentos éticos e responsáveis ga-
nas relações com seus diversos públicos e, essa postura, rantem a sua própria sustentabilidade.
requer mudança cultural e gerencial. As reflexões de Melo Neto e Froes (1999) colocam a
Responsabilidade social não é uma atividade separada responsabilidade social como fator de competitividade. As
do negócio. É a nova forma de gestão empresarial. E para empresas que assumem postura ética e responsável, além
uma empresa ter sucesso, conquistar e ampliar mercado, de desenvolverem ações sociais dirigidas à sociedade,
ter competitividade, a responsabilidade social é indispen- conquistam posição de vantagem no mercado.
sável e faz parte da operação, está na infraestrutura da or- A responsabilidade social, postura inovadora de gestão
ganização. corporativa, propõe-se responder às demandas da socie-
A responsabilidade social não pode permanecer no dade, simultaneamente, aos seus propósitos de mercado,
discurso dos executivos e nem mesmo diluir-se nos com-
compatibilizando-os com a busca pelo lucro. Ela configura
portamentos e práticas filantrópicas, assistencialistas, atra-
como movimento que envolve grupos representativos de
vés de doações e participações em eventos na comunida-
vários segmentos empresariais, estimulando-os e obrigan-
de. Ela exige postura ética, decisão política e conhecimento
do-os a repensarem o seu papel e a forma de conduzir
profundo da comunidade. Ela se incorpora à gestão em-
seus negócios, com vistas a assumirem atitudes éticas e
presarial através das decisões e do planejamento estraté-
socialmente responsáveis em todas as suas relações.
gico, na prática do gerenciamento, de processos e técnicas
O movimento da responsabilidade social não expres-
que desenvolvam a sustentabilidade das populações para
sa modismo, mas uma realidade do contexto empresarial
as quais direcionam suas ações. Essa atuação envolve o
compromisso social dos acionistas, diretores, funcionários, mundial, que acarreta alterações gradativas na cultura or-
fornecedores e até mesmo dos clientes. ganizacional determinando mudanças de comportamen-
O compromisso social, que ultrapassa o cumprimento tos e de valores nas empresas. Essas modificações se ini-
da função social empresarial, não implica que a gestão em- ciam através das decisões de seus proprietários e gestores
presarial renuncie a seus objetivos econômicos e interesses e que balizam todo o relacionamento da empresa com a
particulares. As organizações empresariais socialmente res- sociedade.
ponsáveis são, justamente, aquelas que, além de desem- Kraemer (2005) explica que “a sociedade é que dá per-
penharem funções importantes na produção de bens e de missão para a continuidade da empresa.” Os consumidores
serviços, geram riquezas, conforme as normas legais e os e os investidores não estão interessados em arriscar seus
padrões éticos estabelecidos pela sociedade, proporcio- patrimônios em companhias que se recusam a tomar me-
nam empregabilidade, conseguem garantir condições de didas de prevenção na área social e ambiental.
vida digna para todos integrados ao seu meio ambiente Interessante ilustrar essa reflexão com alguns aspectos
interno, mas, sobretudo, se organizam para investimentos que identificam ações socialmente responsáveis a partir da
sociais que causem impacto local, regional e nacional. concepção de Karkotli e Aragão (2004):
Drucker (2002) explica que a única forma das empresas - gerar valor para seus agentes internos – proprietá-
atenderem a suas funções sociais será através do bom de- rios, investidores e colaboradores – para que, em primeiro
sempenho das suas funções econômicas. lugar, se justifiquem os recursos financeiros, humanos e
A maneira como a instituição desempenha sua missão materiais utilizados pelo empreendimento;
específica é também a primeira necessidade e o maior in- - adicionar valor para a sociedade, nela identificados
teresse da sociedade. Esta nada tem a ganhar [...] se a ca- governos, consumidores e mercado, disponibilizando bens
pacidade da instituição em desempenhar sua própria tarefa ou serviços adequados, seguros e de algum significado
específica for reduzida. [...] Uma empresa falida não é uma para melhorar a vida das pessoas;
boa empregadora e dificilmente será uma boa vizinha na - prestar informações confiáveis;
comunidade. Como também não criará o capital necessário - promover comunicação eficaz e transparente para
para os empregos do futuro ou as oportunidades para os com os colaboradores e agentes externos;
trabalhadores de amanhã. - recolher tributos devidos;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
- racionalizar, ao máximo, a utilização de recursos A discussão do conceito de cidadania corporativa re-
naturais e adotar medidas de proteção e preservação do mete à compreensão da expressão “governança corpo-
meio ambiente; rativa”, que significa o modo como a empresa trabalha.
- incentivar a participação de dirigentes e colabora- A forma correta de planejar, executar, controlar e avaliar
dores, enquanto cidadãos, na solução de problemas da as ações empresariais determina a cidadania corporati-
comunidade; va responsável. Na visão de Reis e Medeiros (2007), “[...]
- formar parcerias com outros organismos, de go- a responsabilidade das empresas perante suas ações que
vernos e da sociedade civil, para identificar deficiências e afetam a sociedade é tão importante quanto a responsa-
promover o desenvolvimento da comunidade onde está bilidade do governo pela boa governança da nação. A em-
instalada; presa também deve ser governada beneficiando todas as
- transacionar de forma ética em toda a cadeia de partes interessadas.”
relacionamento e outras partes interessadas como forne- Nesse sentido, a responsabilidade social não se limi-
cedores, colaboradores, clientes, entidades associativas e ta às funções do Estado, mas das empresas e da socieda-
representativas, governos, entre outras. de como um todo. Martinelli (2000, p.88) defende que a
Os mesmos autores consideram que a gestão de uma empresa-cidadã consegue ampliar e complementar a sua
organização que adota práticas éticas e responsáveis con- função de agente econômico em agente social, pela dis-
segue atingir a sua maioridade, podendo ser entendida ponibilização voluntária e responsável dos mesmos recur-
como cidadania empresarial. sos usados nos negócios para transformar a sociedade e
A empresa-cidadã assume compromissos e respeita desenvolver o bem comum.
direitos em relação aos públicos interno e externo. A ci- A responsabilidade social se aplica em qualquer tipo
dadania empresarial direciona políticas a cada um de seus de organização empresarial, independentemente do porte,
parceiros e cultiva, voluntariamente, valores que expres- se pública ou privada, podendo ser considerada como es-
sam sua cultura organizacional, sendo referência de ação tratégia para alcançar a competitividade no mercado, uma
dos dirigentes aos consumidores. vez que os consumidores têm preferência pelos produtos
A empresa-cidadã opera sob uma concepção estra- e serviços de empresas éticas e comprometidas com a so-
tégica e um compromisso ético, resultando na satisfação ciedade. Portanto, as empresas socialmente responsáveis
das expectativas e respeito aos direitos dos parceiros. Com são agentes que agregam valores à cultura empresarial e,
esse procedimento, acaba por criar uma cadeia de eficácia, ao mesmo tempo, agentes de mudança social. Assumem
e o lucro nada mais é do que o prêmio da eficácia. (Mar- o relacionamento ético e responsável para com todos os
tinelli, 2000). seus parceiros e buscam a construção de um futuro com
As organizações empresariais se desenvolvem na so- crescimento econômico, equidade social e uso adequado
ciedade e nela buscam atingir seus objetivos atendendo dos recursos naturais, diferenciando-se, entre outras, pelo
às necessidades essenciais e básicas. A empresa-cidadã maior potencial de sucesso e longevidade.
não se restringe somente ao atendimento constitucional Tendo em vista que a cidadania corporativa exige trans-
de suas funções sociais, mas inova quando efetiva e avalia
parência e compromisso, algumas instituições se preocu-
sua contribuição à sociedade. Essa contribuição é fruto de
param com a construção de instrumentos específicos para
posição proativa e da decisão de mobilizar todos os seus
avaliar condutas socialmente responsáveis das empresas.
recursos (humanos, tecnológicos, materiais, financeiros,
Por isso, foram criados indicadores de desempenho que
informações, processos e técnicas de gestão) para o en-
permitem avaliar, medir, auditar, além de orientar a condu-
caminhamento de soluções aos problemas sociais. Assim
ta dessas organizações. Esses indicadores contribuem para
a empresa-cidadã reflete o compromisso com a humani-
identificar necessidades e apontar deficiências das iniciati-
dade através de atitudes éticas e responsáveis com o todo
vas de responsabilidade social.
organizacional utilizando talentos humanos, tempo e tec-
nologias em busca do desenvolvimento sustentável. Para tanto, normas, padrões, diretrizes, incluindo certi-
Vale esclarecer que todos os recursos mobilizados para ficações sociais, selos nacionais e internacionais represen-
a prática da responsabilidade social, sob essa concepção, tam diferenciadores de credibilidade e aceitação no mer-
não são incorporados no custo dos produtos e serviços, cado para as corporações socialmente responsáveis.
pois visam atender aos objetivos sociais. No Brasil, destacam-se o Selo Balanço Social, conferi-
A cidadania corporativa traduz o relacionamento entre do pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômi-
empresas e sociedade, direciona a organização ao contex- cas (Ibase) às empresas que realizam o balanço social, e o
to global compartilhando valores e formas responsáveis Selo Empresa Amiga da Criança, concedido pela Fundação
de gerenciar os negócios com todos os parceiros e, nes- Abrinq àquelas que não utilizam mão de obra de crianças
te sentido, constitui-se parte integrante do planejamento, e adolescentes e que contribuem para programas de me-
dos objetivos e da operação da empresa. Assim a cida- lhoria de suas condições de vida.
dania corporativa significa novo estilo de gestão, no qual O balanço social consiste em instrumento que reúne
o planejamento estratégico contempla o impacto de seus todas as informações sobre as atividades de caráter social
produtos e serviços sobre os diversos públicos com os e não obrigatórias que a empresa realiza durante um pe-
quais a empresa interage, tanto em relação aos direitos ríodo de tempo, visando à transparência em suas ações,
quanto à responsabilidade das partes. além de contribuir para melhorar a comunicação e o sis-

38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
tema de informação da organização para com todas as A norma SA 8000 constitui o primeiro padrão de cer-
partes interessadas. Do ponto de vista de Reis e Medeiros tificação social que busca garantir os direitos básicos dos
(2007), o balanço social deve ser “ferramenta de ação e di- trabalhadores.
vulgação das informações econômicas e sociais que pos- A SA 8000 surgiu como resposta às pressões do mer-
sam servir como instrumentos de apoio ao planejamento cado consumidor sobre empresas que ignoram as condi-
do desenvolvimento.” Essa ferramenta representa um indi- ções de trabalho oferecidas por seus fornecedores. Teve
cador de responsabilidade social. Segundo o Ibase, o ba- maior impulso após denúncias de utilização de mão de
lanço social [...] é um demonstrativo publicado anualmente obra infantil e escrava na indústria chinesa de brinquedos,
pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre principal fornecedora das redes americanas de varejo. (Pa-
os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos em- checo, 2001).
pregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e Outro destaque em relação aos indicadores de res-
à comunidade. É também um instrumento estratégico para ponsabilidade social se refere ao Global Compact (Pacto
avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social Global), criado em 1999, a partir da iniciativa do secretá-
corporativa. rio-geral das Nações Unidas, Kofi Annam, cuja finalidade
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade So- motiva, mundialmente, a criação de estruturas sociais e
cial desenvolveu um conjunto de indicadores sociais que ambientais para assegurar a continuidade de mercados li-
permite identificar a performance da empresa em relação vres, abertos, e dar possibilidade para que todos tenham
a práticas socialmente responsáveis. Esses indicadores são acesso aos benefícios da economia global.
apresentados em forma de questionário de avaliação da Os objetivos e princípios propostos pelo Pacto Global
empresa, dividido em sete grandes temas: valores e trans- estão relacionados a questões de direitos humanos, civis,
parência, público interno, meio ambiente, fornecedores, de trabalho e de meio ambiente, estando disseminados
consumidores/clientes, comunidade e governo e socieda- pelos organismos internacionais como a Organização In-
de. ternacional do Trabalho (OIT), o Programa das Nações
Algumas normas internacionais foram criadas como Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Alto Comissário
padrão de referência na qualidade requerida pelos mer-
das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) e
cados. A BS 8800, norma britânica, através das especifi-
o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
cações Occupational Health and Safety Assessment Serie
Várias organizações empresariais nacionais e estran-
(OHSAS) 18001 e 18002, compõe um sistema de gestão
geiras estão buscando conhecer e adotar normas e pa-
da Segurança e Saúde do Trabalhador (SST) que orienta as
drões de responsabilidade social, pois, no contexto glo-
empresas para o desenvolvimento de ações destinadas ao
balizado, a não observância desses princípios tem ocasio-
seu público interno.
nado reflexos negativos nas economias regionais e locais,
De igual relevância, a Norma Accountability – AA 1000,
impedindo a expansão dos negócios em vários segmentos.
criada em 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accou-
Por meio de pressões do mercado internacional, as
ntabilitity (Isea), organização não governamental sediada
em Londres, no Reino Unido, objetiva monitorar as rela- empresas são impulsionadas a aderirem aos critérios im-
ções sociais entre a empresa e a comunidade onde está postos pelas normas de certificação a fim de alcançarem a
inserida, como também promover e dar suporte às orga- condição de empresas-cidadãs.
nizações nas atividades de implementação de sistemas de As principais normas e certificações significam ferra-
gestão éticos e socialmente responsáveis. mentas para avaliar e certificar as empresas consideradas
A norma Social Accountability (SA) 8000 foi criada em socialmente responsáveis e contribuem, de maneira positi-
1997 com o objetivo de atestar e comprovar o exercício va, para que o movimento sobre a responsabilidade social
pleno da responsabilidade social interna e externa a em- se efetive através da concretização da consciência ética,
presa, conferindo-lhe a condição de empresa-cidadã. do agir corretamente, não pela imposição da lei, mas pela
Essa última, considerada a Norma Internacional de necessidade de contribuir para o desenvolvimento susten-
Responsabilidade Social, atua como princípio ético bali- tável, do compromisso com a responsabilidade em ava-
zador das ações e relações da empresa com os públicos liar constantemente os impactos das ações corporativas
com os quais interage – funcionários, consumidores, for- para com a sociedade de modo geral. Acrescenta-se a este
necedores e a comunidade. Essa norma visa socializar va- conjunto de fatores a responsabilidade perante os proble-
lores para todos os elos dessa cadeia e foi elaborada com mas sociais que perpassam o mundo, adotando práticas e
base nas regras da Organização Internacional do Trabalho ações éticas comprometidas aos valores humanos, sociais
(OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na e ambientais. Enfim, a responsabilidade social torna-se im-
Declaração Universal dos Direitos da Criança. Possui crité- portante meio das organizações empresariais participarem
rios essenciais de atuação que visam à erradicação da mão no enfrentamento das expressões da questão social. (Texto
de obra infantil, à segurança e à saúde do trabalhador, à adaptado de LIMA, M. J. O. Doutora docente em Serviço
liberdade de associação e direito à negociação coletiva, Social).
à discriminação, ao horário de trabalho, à remuneração,
às práticas disciplinares que determinam a política de res-
ponsabilidade social.

39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Para haver esses movimentos sociais os motivos são
MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO os mais diversos, em geral são frutos da insatisfação po-
POPULAR. pular frente a má gestão dos líderes políticos então eleitos
pelo povo, que reivindicam ações efetivas para os quais
foram eleitos, em áreas como Saúde, Educação, Meio Am-
Os Movimentos sociais são as expressões da organi- biente, habitação, entre outras demandas não atendidas,
zação da sociedade civil. Agem de forma coletiva como fomentando indignação no povo e levando este a realizar
resistência à exclusão e luta pela inclusão social. É nas movimentos e manifestações populares.
ações destes que se apresentam as demandas sociais que Maria Glória Gohn (2014) define as características de
determinada classe social enfrenta, se materializando em um movimento social: possui liderança, base, demanda,
atividades de manifestações como ocupações e passeatas opositores e antagonistas, conflitos sociais, um proje-
em ruas provocando uma mobilização social, despertando to sociopolítico, entre outros. Ilse Scherer-Warren (2006)
uma sensibilização na consciência dos demais indivíduos concorda com Maria Glória ao definir em sentido amplo
como diz Maria Glória Gohn: “ao realizar essas ações, pro- os movimentos sociais em torno de uma identificação de
jetam em seus participantes sentimentos de pertencimen- sujeitos coletivos que possui adversários e opositores em
to social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir torno de um projeto social. Veja-se por exemplo o Movi-
incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo” (2011, mento Negro e Movimento Indígena, que une-se pela for-
ça de uma identidade étnica (negra ou índia) e combatem
p. 336). Para André Frank e Marta Fuentes os Movimentos
o adversário do colonialismo, racismo e expropriação, ten-
Sociais se baseiam “num sentimento de moralidade e (in)
do como projeto de luta o reconhecimento de sua identi-
justiça e num poder social baseado na mobilização social
dade, suas tradições, valores e até mesmo de manutenção
contra as privações (exclusões) e pela sobrevivência e iden-
de um território que vive sob constante ameaça de invasão
tidade” (1989, p. 19). É com uma vigorosa capacidade de
(os quilombos no caso dos negros e a luta pela demarca-
mobilização que “[...] os sindicatos, as ONGs, e os diversos
ção de terras indígenas)
movimentos de luta conquistaram importantes direitos de
Fonte:  http://www.portalconscienciapolitica.com.br/
cidadania ao longo da história brasileira” (LAMBERTUCCI,
ci%C3%AAncia-politica/movimentos-sociais/
2009, p. 82).
É preciso fazer uma distinção entre movimentos so-
ciais e protestos sociais. O simples fato de ir às ruas pro-
testar contra a corrupção, por exemplo, não caracteriza um A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E A
movimento social. Uma ação esporádica, ainda que mobi- ASSISTÊNCIA PÚBLICA.
lize um grande número de manifestantes, pode ter em seu
coletivo representantes de movimentos sociais e popula- Decorrência da Crise de Acumulação
res mas não caracterizam um movimento social como tal.
Tais protestos e mobilização podem ser frutos da articula- No período do pós-Segunda Guerra Mundial até final
ção de atores de movimentos sociais, ONG’s, tanto quanto dos anos 1960 eram notáveis os índices de crescimento
podem incluir cidadãos comuns que não estão necessaria- econômico e as taxas de lucro obtidas pelos proprietários
mente ligados a movimentos organizados como tais. de capital. Foi um momento em que se combinou cresci-
Alguns exemplos ilustram essa forma de organização, mento econômico com a conquista de direitos sociais (nos
incluindo vários setores de participantes: a Marcha Na- países desenvolvidos) através da implementação de políti-
cional pela Reforma Agrária, de Goiânia a Brasília (maio cas de bem-estar social, período em que a ação do Estado
de 2005), foi organizada por articulações de base como reduziu algumas incertezas que caracterizam a economia
a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excluí- capitalista.
dos e o próprio MST e por outras, transnacionais, como No princípio dos anos 70 do século XX, ocorre o esgo-
a Via Campesina. Também se realizaram articulações com tamento do ciclo de crescimento da economia capitalista
universidades, comunidades, igrejas, através do encami- denominado de “anos dourados”, quando houve uma crise
nhamento de debates prévios à marcha. A Parada do Or- de acumulação com um caráter universal em relação ao
gulho  Gay  tem aumentado expressivamente a cada ano, tipo de capital, isto é produtivo, financeiro ou comercial.
desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo- O alcance da crise foi global e teve um período de du-
se através de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos ração relativamente extenso (MÉSZÁROS, 2002). Essa cri-
locais e simpatizantes. A Marcha da Reforma Urbana, em se combinou a queda generalizada da taxa de lucro, com
Brasília (outubro de 2005), resultou não só da articulação estagnação econômica, elevação generalizada dos preços
de organizações de base urbana (Sem Teto e outras), mas e esgotamento das ferramentas tecnológicas da Segunda
também de uma integração mais ampla com a Plataforma Revolução Industrial originando uma recessão. Esse con-
Brasileira de Ação Global contra a Pobreza. A Marcha Mun- junto de acontecimentos foi caracterizado pela literatura
dial das Mulheres tem sido integrada por organizações ci- econômica como estagflação, e atingiu globalmente os
vis de todos os continentes (SCHERER-WARREN, 2006, p. países contribuindo para elevar a crise fiscal, agravada nos
112). chamados “países dependentes” em razão do endivida-
mento externo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
A partir dessa crise ressurge revigorado o debate teó- nalidade do taylorismo-fordismo. A adoção do toyotismo
rico entre adeptos da política econômica keynesiana e os integra ao que se chama de complexo de reestruturação
neoliberais em torno da forma de regulação das atividades produtiva que é facilitado pelas Tecnologias da Terceira e
econômicas, se a mesma deve ser realizada por interven- Quarta onda de transformações produtiva6, e refletem a
ção estatal ou pelo livre jogo das forças de mercado. Esse busca do capital em elevar a taxa de lucro através do au-
debate histórico resultou vantajoso para os neoliberais, mento da produtividade, da intensificação e elevação da
como indicam as políticas econômicas adotadas a partir extração da mais valia em meio à mundialização do capital.
dos governos: do Chile de Pinochet (1973), da Inglaterra Afinal as transformações permanentes são indispensáveis
de Thatcher (1979), dos Estados Unidos, de Reagan (1980) ao processo de valorização e acumulação de capital mate-
entre outros. rializadas em mecanismos como, por exemplo: a extensão
A partir de então, diversos governos, inclusive no Bra- da duração do trabalho através da ampliação da jornada
sil, fazem uso de orientações de recorte neoliberal nas de trabalho; o aumento da intensidade do ritmo de traba-
políticas econômicas (e sociais), com o objetivo de resta- lho via tecnologias e processos de organização.
belecer as condições de acumulação do capital e conso- Em relação a isso, é oportuno destacar que as inova-
lidar o poder do capital em especial financeiro. Adota-se ções do complexo de reestruturação produtiva requerem
a chamada economia de mercado, restringe-se a ação do que o trabalhador tenha flexibilidade, ou seja, que seja po-
Estado, se promove à desregulamentação da economia, a livalente e multifuncional capaz de operar simultaneamen-
privatização das empresas estatais e se adota políticas so- te várias máquinas e realizar diferentes atividades como
ciais focalizadas com base na meritocracia e nos mínimos produzir e efetuar controle de qualidade. Mas a flexibi-
sociais, enquanto ofensiva do capital para superar a crise. lidade também ocorre na produção cujas novas tecnolo-
gias permitem uma rápida reconfiguração das máquinas,
A Ofensiva do Capital na Produção para Superar a adaptando a produção e serviços de acordo com o mer-
Crise cado consumidor e a busca de inovação e criação de no-
vas necessidades. Em síntese, as transformações em curso
A ofensiva efetuada para superar a crise teve como indicam que na atualidade vivencia-se a transição de um
base a análise dos ideólogos neoliberais, como Friederick regime de “acumulação fordista” para o da “acumulação
Von Hayek que considera que a raiz da crise é o modelo flexível”.
econômico pós-guerra em que o Estado limita a economia Quanto ao regime da “acumulação flexível” constata-
de mercado (negando a análise da crise estrutural). Para se que a organização do trabalho do tipo toyotista tem
os neoliberais a crise localiza-se no excessivo poder dos instigado os trabalhadores a disponibilizar sua capaci-
sindicatos, e dos trabalhadores que através das reivindi- dade física e intelectual (menosprezando pelo tayloris-
cações e conquistas de aumento de salário e conquista de mo). A maneira que isto é evidenciado é a administração
direitos sociais fazendo com que o Estado aumentasse os participativa (com base na prática do Kaizen, que signifi-
“gastos sociais”. ca melhoramento contínuo envolvendo todos). Contudo
Assim, para os neoliberais a superação da crise passa
essa participação se limitada ao debate e sugestões para
por medidas que impactam as conquistas dos trabalha-
melhoria do ambiente de trabalho para aumentar o de-
dores como por exemplo a flexibilização do contrato de
sempenho, a produtividade e qualidade da mercadoria ou
trabalho e a retirada dos direitos, entre os quais alguns
serviços. Essa participação restrita requer dos trabalhado-
presentes na legislação trabalhista. Bem como, realizam as
res o cumprimento de metas, as quais não participaram da
privatizações das estatais e supressão da intervenção do
definição, enquanto necessidade de assegurar a competi-
Estado na economia, isto é redefinindo o seu papel. Ou
tividade, manter o emprego e obter ganhos de participa-
seja, ocorreu um impulso na liberalização e abertura das
ção nos lucros.
economias via desregulamentação viabilizando a mundia-
lização do capital, através da maior autonomia do capital O estímulo usado para promover o aumento de pro-
para seu deslocamento facilitado pelas novas tecnologias. dutividade e disponibilização dos saberes são as compen-
Esse processo de liberalização econômica é conduzi- sações materiais e simbólicas para quem contribuir para
do na perspectiva de favorecer especialmente ao capital melhorar a produção, o produto e reduzir custos. Aliado
produtivo e financeiro oligopolista. Outro aspecto disso a isto, ocorre uma ofensiva ideológica a fim de obter o
é a crescente finaceirização da economia através da in- envolvimento dos trabalhadores a lógica do capital des-
terpenetração e uso de sua lógica pelo capital industrial, de o processo seletivo, seguindo nos treinamentos, e nas
comercial e agrícola na medida em que a valorização do reuniões. Contudo a busca da hegemonia, isto é coopta-
capital deixa de ser maximizada principalmente pela pro- ção (consentimento) não significa que se abdicou das re-
dutividade do trabalho na busca de lucros e passa a ser do lações de dominação, ou seja, de coerção como indicam
tipo ganhos através dos juros. os controles em relação ao cumprimento das metas, por
Ainda como parte desse contexto efetua-se transfor- exemplo. Nesse sentido nas relações capitalistas de traba-
mações quanto à forma de organização do trabalho como lho coexistem relações de coerção e consentimento, sendo
evidencia o toyotismo que busca a subordinação formal que esta última ganhou relevo na atualidade diante do seu
intelectual do trabalho a lógica do capital através das alte- impacto no aumento da produtividade.
rações organizacionais sem, contudo romper com a racio-

41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Assim aspecto importante das inovações atuais na or- qualitativamente (novas habilidades e competências são
ganização da força de trabalho consiste na atenção con- requeridas diante das novas tecnologias). Assim as inova-
ferida à subjetividade do trabalhador, reconhecendo o seu ções (tecnológicas e organizacionais) no mundo do traba-
saber buscando sua “captura” e simultaneamente obten- lho efetuam o domínio do tempo humano mobilizando as
ção de seu consentimento a fim de reduzir as resistências. capacidades dos trabalhadores para a produção de bens
Em síntese, na medida em que o processo de traba- de consumo e execução de serviços viabilizando a explo-
lho capitalista objetiva conservar e elevar as taxas de lucro ração.
prescinde fragilizar a resistência da ação coletiva dos tra- Evidentemente que aliado a isto, as novas tecnologias
balhadores através da “captura” da sua subjetividade que de base técnica informacional potencializam um contro-
no processo produtivo ocorre através da organização da le mais objetivo do trabalho, inclusive o efetuado a dis-
produção de acordo com o toyotismo. tância, pois conseguem integrar diferentes organizações
com suas unidades localizadas em distintos espaços, e em
A Organização Toyotista da Produção “tempo real”. Em suma, essas tecnologias contribuem para
alterar a noção espaço (do nacional para mundial), pois as
A organização toyotista de produção tem como prin- máquinas informacionais permitem interação “intrafirma e
cipais traços: a produção vinculada à demanda, a fim de interfirmas” localizadas em diferentes países. Mas, também
atender ao mercado consumidor mais individualizado; o modificam a noção de tempo uma vez que “não há longo
trabalho concebido em equipe e com atuação multifuncio- prazo” diante das constantes inovações, das “incertezas”, e
nal dos trabalhadores; a operação pelo trabalhador, simul- do desejo da rápida valorização do capital.
taneamente, de várias máquinas; a adoção do princípio de Atualmente a organização da economia adquire a di-
Just-inTime, visando ao melhor aproveitamento do tempo mensão de resultados de curto prazo, sendo uma das ma-
de produção; o funcionamento da produção segundo o terializações disso na produção o princípio do Just-in-Time,
sistema Kanban, cujas placas ou senhas de comando de- que significa a eliminação dos estoques a partir do uso de
terminam a reposição de peças e estoques administrando tecnologia de informação que possibilita o mapeamento
a produção; a estrutura organizacional horizontalizada, dos insumos, da produção e das vendas na perspectiva da
priorizando somente a produção do que é central para lógica da economia de custos. Para administrar o Just-in-
sua unidade produtiva terceirizando o restante; o estímu- time adota-se o sistema Kanban, a fim de enfrentar o de-
lo à organização dos Círculos de Controle de Qualidade safio de aumentar a produção sem crescer o contingente
(CCQs), para debater o trabalho e o desempenho, com a de trabalhadores, através de dispositivos organizacionais
finalidade de melhorar a produtividade; a adoção do “em- de controle do processo de fabricação. Com ele, passa-se
prego vitalício” (no Japão) para uma parcela de trabalha- a “administrar pelos olhos”, visando dar visibilidade aos
dores. “excessos gordurosos”, isto é, tudo o que pode ser dispen-
O toyotismo faz uso da mobilização das capacidades sado, melhorando o aproveitamento do tempo de produ-
físicas e intelectuais dos trabalhadores, desta maneira ção e permitindo um controle maior do capital.
distinguindo-se do taylorismo-fordismo. Nesse sentido a O princípio do Just-in-time encontra-se em conso-
busca do envolvimento dos trabalhadores à lógica do ca- nância com a perspectiva de economia de curto prazo e
pital é parte constitutiva fundamental do toyotismo, pois a estrutura técnico-organizacional adotada pela “empresa
sem a qual compromete os princípios da autonomação/ enxuta”, isto é, a descentralização produtiva por meio da
autoativação e do Justin-Time. Quanto aos princípios da terceirização das etapas acessórias da produção e de ser-
autonomação/autoativação, o primeiro diz respeito a do- viços, para que haja a concentração da atividade naquilo
tar as máquinas automáticas de mecanismos de parada em em que a empresa possui vantagens competitivas. Com a
caso de algum defeito, contribuindo com a “auto avalia- terceirização, eliminam-se os estoques de matérias primas
ção” (verificar a qualidade) na execução do trabalho, para e de produtos e promove-se maior integração do proces-
evitar retrabalho devido defeitos. Assim, a autonomação/ so produtivo a partir da gestão de fluxos de materiais e
autoativação atribui ao operário a responsabilidade pela de informações possibilitados pelas novas tecnologias. A
qualidade dos produtos nos próprios postos de produção, lógica disso é a racionalização da produção e dos serviços
passando os mesmos a desempenhar as funções de ope- com diminuição dos custos proporcionada pela redução
radores diretos, fazer o diagnóstico, o reparo, a manuten- do estoque e pela economia de espaço, além da simplifi-
ção e o controle de qualidade, isto é tornando o trabalho cação dos fluxos de informação e da flexibilidade conferi-
multifuncional. da à produção e serviços diante das constantes inovações.
Nesse sentido a base técnica associada à organização Vive-se a chamada era da “empresa enxuta” que fez
do trabalho permite exigir dos assalariados não apenas a proliferar o processo de uso de relações de terceirização
vigilância, mas o controle sobre sua atividade, e também na qual a rentabilidade não se limita à produção e à co-
que efetuem a prevenção de avarias, na busca da quali- mercialização de mercadorias, mas amplia-se para as rela-
dade total (em meio a redução do tempo de duração das ções entre empresas. Essas relações permitem ao terceiri-
mercadorias). Diante dessa realidade, ocorrem a intensifi- zador apropriar-se de parte da mais-valia produzida pelos
cação do ritmo e uma necessidade de maior subordina- terceirizados situados em diferentes localidades do mun-
ção do trabalhador ao processo de produção, alterando-o

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
do, especialmente onde o custo de produção é reduzido tam atividades qualificadas e os que trabalham em ativi-
e com relações precárias de trabalho diante da diminuição dades pouco qualificadas e/ou desqualificadas; persistem
do custo dos transportes. Mas, paradoxalmente a era da as diferenças entre a remuneração, tipo de contrato e os
“empresa enxuta” com suas terceirizações é também a era trabalhos executados pelos homens e pelas mulheres (di-
de acentuado processo de concentração e centralização visão sexual do trabalho).
de capital enquanto processo mais geral do capital. Con- Mais especificamente, quanto os trabalhadores do
tribuí para esse processo paradoxal de terceirizações em segmento mais qualificado e intelectualizado que atuam
meio a concentração e centralização de capital enquanto junto às tecnologias mais avançadas, desempenhando um
processo inerente ao capitalismo a possibilidade de deslo- papel central na criação de valor de troca, os mesmos são
camentos do capital. objeto de intenso processo de busca de manipulação pelo
Esse deslocamento do capital por sua vez permite capital. Sendo que a busca da subsunção desses traba-
pressionar os trabalhadores para aceitarem a degradação lhadores inicia-se no processo de seleção e contratação,
das relações salariais, reduzirem os direitos trabalhistas posteriormente persiste através dos treinamentos e qua-
e precarizar os contratos de trabalho já que o capital se lificações técnicas e políticas a que são submetidos cons-
instala ou adquire mercadorias onde é mais vantajoso ao tantemente.
processo de sua valorização. Nesse processo de desloca- Contudo, mesmo os trabalhadores qualificados têm
mento de capitais também se mantém e aprofunda-se o estabilidade no emprego apenas relativa, pois há uma
desenvolvimento assimétrico e desigual entre países. O flexibilização do mercado de trabalho, diante das perma-
capital situado nos países desenvolvidos continua proprie- nentes mudanças e a permanência do trabalhador por um
tário do know-how, da tecnologia, dos serviços financei- período longo em um mesmo emprego estar relacionada
ros e do design dos produtos, enquanto que o capital dos com o custo dessa mão de obra. Além disso, diante da ne-
demais países permanecem como montadores de produ- cessidade de constantes inovações, a “capacitação” deixa
tos industriais e fornecedores de produtos primários. Em de ser uma mercadoria durável e o retreinamento pode ser
síntese pode-se afirmar que o processo de reestruturação considerado oneroso diante da disponibilidade no mer-
produtiva em meio à mundialização do capital preserva o cado de trabalho de força de trabalho com as exigências
requeridas. Diante do custo advindo de contratos de tra-
enrijecimento da hierarquia econômica internacional, am-
balho com longo prazo e da necessidade de retreinamento
plia as desigualdades sociais, fragiliza as lutas por direitos
o capitalista opta por contratar pessoas mais jovens, com
dos trabalhadores, acentua a precarização das relações de
salário menor e que causem “menos problemas”, pois os
trabalho inclusive nas nações desenvolvidas.
mais velhos tendem a dar vazão à insatisfação. Tudo isso,
Em suma, de maneira sintética pode-se afirmar que a
em meio a demanda que os trabalhadores tenham agili-
organização toyotista do trabalho contribui para precari-
dade, criatividade e que estejam abertos a mudanças de
zar os contratos de trabalho, elevar a taxa de mais-valia,
curto prazo, que assumam riscos continuamente, que de-
envolver física e/ou intelectualmente os trabalhadores, in-
pendam cada vez menos de leis e procedimentos formais
tensificar o ritmo de trabalho e efetuar maior controle do
(SENNETT, 2006).
trabalho. Assim essa organização do trabalho associada às A “cultura do novo capitalismo” estimula a histórica
novas tecnologias contribui para a expansão das terceiri- concorrência entre os trabalhadores e entre as empresas,
zações, flexibilização da produção, concentração das deci- reforçando a disputa contra os “outros”, enquanto parte
sões sem centralização, e deslocamento de capital diante da moderna ética do trabalho concentrada no trabalho em
da mundialização dos mercados impactando no trabalho equipe. O trabalho em equipe fragmenta e contribui para
e nos trabalhadores. romper com a noção de classe na medida em que esti-
mula a disputa contra outra equipe. Contudo é oportuno
Os Impactos da Reestruturação Produtiva no Tra- ressaltar que essas mutações em processo convivem com
balho sistemas de organização e tecnologias da Segunda onda
de Transformações Produtivas em uma espécie de coe-
A organização toyotista da produção sugere uma xistência entre os “Jetsons e os Flintstones”. Cria-se uma
produção flexível que requer uma organização flexível realidade em que ocorre uma acentuada heterogeneidade
do trabalho (exigindo uma força de trabalho polivalente, no que se refere às condições, às situações e à morfologia
multifuncional e com alguns trabalhadores qualificados, da classe dos trabalhadores, acentuando a fragmentação
além da capacidade de operar em equipe), bem como fle- sócio histórica estrutural.
xibilidade de contratação (contrato de trabalho parcial ou Diante da fragmentação da classe dos trabalhadores
temporário). Esses aspectos da organização flexível do tra- e da hegemonia das ideias vinculadas à lógica do capital
balho toyotista contribuem para evidenciar uma crescen- no trabalho e na sociedade, acentua-se a dificuldade da
te heterogeneidade e complexificação na morfologia da construção de uma identidade coletiva na perspectiva de
classe trabalhadora. Tem-se assim: os trabalhadores com promover ações sindicais de resistência de forma classista
relações de contrato de tempo integral de trabalho e os em defesa dos direitos. A disputa de ideias entre os inte-
com contratos de tempo parcial; existem os trabalhadores resses do capital e do trabalho, associada à crescente frag-
com empregos e os desempregados; aqueles que execu- mentação objetiva da classe dos trabalhadores, fragiliza a

43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
percepção da identidade de classes diante da lógica do nal. Vejamos: nos artigos 5º e 6º estabelece que os conde-
trabalho em equipe. O reflexo disso é a dificuldade de os nados, conforme os seus antecedentes e traços de persona-
trabalhadores se reconhecerem enquanto classe em sua lidade, serão classificados para orientar a individualização
15 trajetória de “classe para si” em sua subjetividade, cons- da ação penal. Tal classificação será feita por uma Comissão
ciência, organização e ação coletiva de resistência para ga- Técnica que deverá também elaborar o programa indivi-
rantir a manutenção ou conquista de direitos. dualizado da pena privativa de liberdade do condenado ou
Ainda como se isso não bastasse, como parte do pro- preso provisório. O artigo 7º estabelece que: “A Comissão
cesso manipulatório é estimulado o consumo especial- Técnica de Qualificação, existente em cada estabelecimen-
mente de marcas, efetuado uma fetichização da mercado- to, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo,
ria e promovendo a mercantilização das relações sociais por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um)
em que se considera que tudo se vende e compra. Busca psicólogo e 1 (um) assistente social”. No artigo 23 define
tornar padrão o modo de vida na qual os sonhos, os pro- as atribuições do assistente social e, por último, a prescri-
jetos e os prazeres estão associados à aquisição de mer- ção cabal que legitima a presença do assistente social nos
cadorias, em detrimento desse fundarem-se em valores estabelecimentos penais consta do artigo 75, inciso I: “O
como solidariedade, igualdade e justiça social. ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá
Na medida em que boa parte das energias físicas e satisfazer os seguintes requisitos: ser portador de diploma
mentais são canalizadas para a obtenção dos recursos de nível superior de Direito, ou Psicologia ou Ciências So-
para o pagamento das mercadorias, muitas vezes, com- ciais, ou Pedagogia ou Serviço Social”.
prometem o tempo necessário para o convívio social, a No âmbito da saúde, podemos inicialmente mencio-
participação política, o lazer e a cultura. Diante da busca nar a Resolução n. 218/1997 do Conselho Nacional de
da aquisição e/ou manutenção de mercadorias e serviços Saúde (CNS). Considerando que a VIII Conferência Nacio-
ocorre uma pressão sobre os trabalhadores preservar o nal de Saúde compreende a relação saúde/doença como
emprego enquanto fonte de renda, dessa forma contri- um processo decorrente das condições de vida e trabalho,
buindo para sua submissão às determinações e condições e a saúde como “direito de todos e dever do Estado”, bem
impostas pela lógica da valorização do capital. Acabam como acesso igualitário de todos aos serviços de promo-
ção e recuperação da saúde, integralidade da atenção, e a
por sujeitar-se as condições e contratos de trabalho, às
importância da ação interdisciplinar na esfera da saúde, o
metas de produção ou serviços cada vez maiores, à inten-
CNS reconhece como profissionais de saúde de nível supe-
sificação do ritmo de trabalho, à extensão da sua jornada
rior: assistentes sociais, biólogos, profissionais de educa-
de trabalho para casa, à busca permanente de atividades
ção física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fo-
de qualificação e retreinamento para além da jornada de
noaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionis-
trabalho. Fatos esses que reduzem objetivamente o tempo
tas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
livre para o desenvolvimento humano e de inserção nas
Em 29 de março de 1999, fazendo uso da delegação
atividades coletivas vinculadas a “classe em si” em sua tra- de competência prevista na Resolução n. 218/1997 do
jetória de “classe para si”. (Texto adaptado de Paulo Rober- CNS, a Resolução CFESS n. 383/1999, em seu artigo 1º,
to WUNSCH, P. R.; MINCATO, R. e REIS, C. N. professores caracteriza o assistente social como profissional de saúde.
doutores em Programa de Pós Graduação). Cuidadosa e criteriosamente, o artigo 2º adverte para o
fato de que o assistente social exerce suas atividades no
largo espectro das políticas sociais, podendo atuar em ou-
ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DO
tras áreas, não sendo, portanto, um profissional exclusivo
ASSISTENTE SOCIAL.
da área de saúde.
As citadas resoluções, ao reconhecerem os assisten-
tes sociais (bem como os demais) como profissionais de
Além da legislação de caráter genérico e abrangente, saúde, ampliam suas oportunidades de contratação e ren-
que acabamos de citar, e que legitima, qualifica e garante o dimentos, uma vez que assim poderão ter dois vínculos
exercício da profissão, a conduta ética e a duração máxima públicos de emprego, desde que pelo menos um deles
do trabalho para todos os assistentes sociais, há também seja junto à área de saúde.  Entretanto, é necessário sa-
aquelas que visam atingir segmentos profissionais exclusi- lientar que tal legislação, ao mesmo tempo que amplia as
vos de acordo com a inserção ocupacional. Tendo em vista oportunidades de emprego, também pode contribuir para
atingir os objetivos deste artigo, selecionamos a partir da- o aumento da precarização do trabalho destes profissio-
qui textos legais específicos que visam tão somente am- nais (duplo ou pluriemprego, jornadas excessivas, vínculos
pliar e assegurar o espaço sócio-ocupacional do assistente precários, baixos salários, adoecimento etc.).
social e a qualidade de atendimento aos usuários. Para fins No campo da saúde mental, a Portaria n. 251 do Mi-
didáticos, a citação e o comentário das legislações no âm- nistério da Saúde, de 31 de janeiro de 2002, que estabe-
bito do Serviço Social ou fora dele foram agrupados de lece diretrizes e normas para a assistência hospitalar em
acordo com as grandes áreas de intervenção, e por ordem psiquiatria na rede do SUS, e dá outras providências, es-
cronológica. tabelece que os hospitais psiquiátricos especializados de-
Denominada Lei de Execução Penal (LEP), a Lei n. 7.210, verão contar com pelo menos um assistente social para
de 11 de julho de 1984, tem por suposto a atuação de no cada 60 pacientes, com 20 horas de assistência semanal,
mínimo um assistente social em cada estabelecimento pe- distribuídas no mínimo em 4 dias.

44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Ainda especificamente na área de saúde, na Resolução
RDC/Anvisa n. 154, de 15 de junho de 2004, que estabele- PROJETOS E PROGRAMAS EM SERVIÇO SOCIAL.
ce o Regulamento Técnico para o funcionamento dos ser-
viços de diálise, consta que “cada serviço de diálise deve
ter a ele vinculado, no mínimo [...] 1 (um) assistente social Planejamento  é o ato de planejar, ou seja, pensar
para, junto aos demais profissionais da equipe multipro- antes de agir definindo idéias, projetando e organizando
fissional, viabilizar a realização de ações voltadas aos pa- roteiros buscando definir as ações que resolverão determi-
cientes renais crônicos”; tornando-se uma exigência legal nados problemas.
a contratação de assistentes sociais nestes equipamentos O Planejamento tem como objetivo trazer melhorias
de saúde. nos resultados, visando alcançar a eficiência, eficácia e efe-
Com a implantação do Sistema Único de Assistência tividade.
Social (Suas), muito se ampliou o campo de atuação para Para um bom planejamento deve-se identificar, ana-
nossa categoria, passando a assistência a ser atualmente
lisar, prever e decidir. Em um planejamento sempre deve
um dos setores que mais requisita os assistentes sociais.
constar os seguintes questionamentos, pois implicam no
Isso porque o Conselho Nacional de Assistência Social
detalhamento, prazo, responsável e o orçamento.
(CNAS), através da Resolução n. 269, de 13 de dezembro
COMO será realizado?
de 2006, aprovou a Norma Operacional Básica de Recur-
sos Humanos do Suas (NOB-RH/Suas) que estabelece as  QUANDO será realizado?
equipes de referência para atuação no âmbito da proteção Para QUEM será realizado?
social básica e da proteção especial de média e alta com- QUANTO custará?
plexidade. Plano é um documento mais abrangente e genérico,
De acordo com a NOB/RH-Suas (p. 19), entende-se indica a sequência, as providencias e os responsáveis das
por equipes de referência aquelas constituídas por servi- ações concernentes aos programas e projetos  introdu-
dores efetivos responsáveis pela organização e oferta de zidos dentro de uma determinada política, com mínimo
serviços, programas, projetos e benefícios de proteção grau de detalhamento.
social básica e especial, levando-se em consideração o Programa  é o aprofundamento do plano podendo
número de famílias e indivíduos referenciados, o tipo de também ser definido como um conjunto de projetos que
atendimento e as aquisições que devem ser garantidas aos visam alcançar objetivos mais amplos nas políticas públi-
usuários. Assim, em municípios com até 2.500 famílias re- cas.
ferenciadas (Pequeno Porte I) o Centro de Referência de Projeto  são atividades coordenadas para alcançar
Assistência Social (Cras) deverá contar com dois técnicos objetivos específicos, busca a resolução das necessidades
de nível superior, sendo um assistente social. Em municí- apresentadas pela população.
pios com até 3.500 famílias referenciadas (Pequeno Porte Fonte: http://servicosocialeetica.blogspot.com.
II), deverá haver três técnicos de nível superior, sendo dois br/2014/02/planejamento-plano-programa-e-projeto.
assistentes sociais. E em municípios de médio e grande html
porte, metrópoles e Distrito Federal, a cada 5.000 famílias
referenciadas, em cada Cras deverá haver quatro técnicos
de nível superior, sendo dois assistentes sociais.
No que se refere à proteção social de média complexi- SERVIÇO SOCIAL E FAMÍLIA.
dade, no âmbito dos Centros de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS), a NOB-RH/SUAS estabelece
que em municípios em gestão inicial e básica, com capa-
Dois principais modelos familiares são destacados na
cidade de atendimento de 50 pessoas/indivíduos, deve-
história da formação da família brasileira, principalmente
rá haver um assistente social; e em municípios em gestão
enquanto aparelho ideológico do imaginário coletivo, são
plena e estados com serviços regionais, com capacidade
de atendimento de 80 pessoas/indivíduos, deverá haver eles: a família patriarcal, modelo instaurado no Brasil colô-
dois assistentes sociais. Com relação à assistência de alta nia, e a família burguesa.
complexidade, a NOB assim define: a) atendimento em Na família patriarcal, o chefe da família - patriarca - re-
pequenos grupos (abrigo institucional, casa-lar e casa de presentava a figura do poder e de autoridade. O patriarca
passagem): um assistente social para atendimento a, no era o responsável pelo controle dos negócios, o sustento
máximo, 20 usuários acolhidos; b) Família Acolhedora: um material da família, a manutenção da ‘ordem’ familiar, pri-
assistente social para acompanhamento de até 15 famílias mando pela indissolubilidade do patrimônio e centraliza-
acolhedoras e atendimento a até 15 famílias de origem ção do poder. A mulher da família patriarcal - sinhazinha
dos usuários atendidos nesta modalidade; c) República: - apresentava como características a afabilidade e a man-
um assistente social para atendimento a, no máximo, 20 suetude, possuindo atribuições voltadas para o ambiente
usuários em até dois equipamentos e d) Instituições de doméstico.
Longa Permanência para Idosos (ILPIs): um assistente so- Este modelo familiar, era encontrado principalmente
cial para atendimento direto. nos latifúndios, que na época colonial se baseavam em
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art- matrizes escravocrata e na monocultura (produção açuca-
text&pid=S0101-66282013000100006 reira), ocorrendo com maior predominância no nordeste

45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
do país. Essas famílias desempenhavam funções econômi- MIOTO (1997), ao abordar o tema família, extrapola os
ca e política, e exerciam influências sob Igreja e institui- conceitos apresentados anteriormente e nos aponta que
ções econômicas e poderes locais. a família contemporânea abrange uma heterogeneidade
A família burguesa, introduzida no Brasil no começo de arranjos familiares presentes atualmente na sociedade
do século XX com o início do processo de modernização, brasileira, não se podendo falar em um único conceito de
urbanização e industrialização do país, é outro modelo família, mas sim de ‘famílias’, a família pode ser definida
que influenciou fortemente a concepção de família exis- como um núcleo de pessoas que convivem em determi-
tente na atualidade. Neste modelo familiar, é atribuído à nado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos
mulher o papel de boa esposa e mãe. O amor à família é longo e que se acham unidas (ou não) por laços consan-
um dos sentimentos ressaltados e cultivados e a mulher é guíneos. Ela tem como tarefa primordial o cuidado e a
considerada o sustentáculo do lar e da família. proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente
Na família burguesa a divisão de tarefas e os papéis a articulada com a estrutura na qual está inserida.
serem desempenhados pelo homem e a mulher eram ri- SZYMANSKI (2002) afirma que a família na atualidade
gorosamente estipulados. Ao marido, considerado a maior é constituída por um grupo de indivíduos que, devido à
autoridade do lar, era destinada a função de provedor eco- existência de laços afetivos, optam por conviverem jun-
nômico. Já, para a esposa, era designado os cuidados com tos, com o acordo do cuidado mútuo entre seus membros.
o ambiente doméstico e a educação dos filhos, sendo esta Este significado acolhe em seu seio numerosos tipos de
submissa ao marido. Deste modo, o desempenho, a dedi- possibilidades que há vários anos coexistem na sociedade
cação ao marido e a administração do lar eram as priorida- e que nunca puderam ser oficialmente reconhecidos como
des da mulher – mãe e esposa. A mãe possuía uma relação uma família.
mais próxima de seus filhos, e o pai permanecia uma figura Com base nas afirmações das últimas autoras, consi-
distante. O lar era considerado um local seguro, acolhedor dera-se que o conceito de família supera os parâmetros da
e aconchegante, sendo valorizada a intimidade deste am- consanguinidade e do parentesco e apresenta um sentido
biente. mais amplo, fundamentado na convivência e nas relações
Estes modelos, por muito tempo vigoraram como os mútuas de cuidado e proteção entre indivíduos que cons-
únicos existentes na sociedade brasileira. Mas, ao estudar truíram laços afetivos entre si.
a constituição da família brasileira, observa-se que houve Porém, há alguns empecilhos que dificultam a intro-
a participação de vários povos, que através de sua etnia, jeção deste significado de família na vivência cotidiana. O
história, cultura, crenças e costumes, geraram a nação bra- primeiro deles é que, quando se aborda o tema família,
sileira, resultando numa diversidade étnico-cultural e que imediatamente conecta-se a visão de um núcleo compos-
por não terem influenciado ideologicamente a concepção to por pai, mãe e filhos, ou seja, do modelo nuclear tradi-
de família, e também por não possuírem o poder, a riqueza cional. Esta concepção de família vem ainda permeada de
e a força política, pouco se destacaram na história social atributos que se consideram inerentes a qualquer estru-
da família brasileira. tura familiar: aconchego, amor entre os membros que a
compõem e harmonia. É a família ideal introjetada desde
Família e seus diversos significados criança como sendo a ‘correta’ e o modelo a ser segui-
do. Porém, essa visão idealizada não retrata a realidade de
Quando se pensa em família é comum fazer a rela- inúmeras famílias existentes na atualidade.
ção com os laços de parentesco e de consanguinidade Essa concepção idealizada da família permanece la-
que unem as pessoas entre si. O dicionário da Língua tente na sociedade, através de construções ideológicas
Portuguesa, descreve com nitidez esta definição: Pessoas e míticas que se perpetuam através do tempo. Um dos
aparentadas, que vivem em geral, na mesma casa, parti- perigos dessas construções é que o indivíduo possa não
cularmente o pai, a mãe e os filhos, ou ainda, pessoas do considerar outros tipos de arranjos familiares existentes na
mesmo sangue, e grupo formado por indivíduos que são sociedade moderna como uma ‘família’, atribuindo a esses
ou se consideram consanguíneos uns dos outros, ou por outros arranjos o rótulo de ‘desestruturados’ e ‘disfuncio-
descendentes dum tronco ancestral comum (filiação natu- nais’, sem uma análise mais profunda da estrutura familiar,
ral) e estranhos admitidos por adoção (FERREIRA, 1986). de como se realizam as interrelações familiares e as rela-
OSÓRIO (1996) concebe a família como um grupo no ções desta com a sociedade.
qual se desdobram três tipos de relações: a aliança - relati- Outra dificuldade é o vício de se compararem as di-
va ao casal, a filiação - entre pais e filhos e a consanguini- versas famílias à experiência particular, como se todas as
dade - entre irmãos. Segundo este autor, a família, com os famílias funcionassem de uma só maneira, não possuindo
objetivos de preservação, proteção e alimentação de seus suas próprias dinâmicas e padrões interacionais e de fun-
membros e ainda com a atribuição de propiciar a constru- cionamento.
ção da identidade pessoal, desenvolveu em sua história Essa intimidade do conceito de família pode causar
atribuições diferenciadas de transmissão de valores éticos, confusão entre a família com a qual trabalhamos e nossos
culturais, morais, religiosos. próprios modelos de relação familiar.

46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Acercamo-nos da família do outro a partir de nossas outras). [...] Outra consideração é que a família exerce tam-
próprias referências, de nossa história singular. O resulta- bém uma função ideológica, ou seja, além da reprodução
do disso é que tendemos a trabalhar com as famílias des- biológica ela promove também a reprodução social: é na
conhecendo as diferenças ou, pior, em muitas situações família que os indivíduos são educados para que venham
transformamos essas diferenças em desigualdade ou in- a continuar, biológica e socialmente, a estrutura familiar
completude. (FILHO, 1998).
Tal questão ganha maior relevância quando passamos OSÓRIO (1996) considera que as funções da família
ao setor das políticas sociais e refletimos sobre o conceito são: biológica, psicológicas e sociais, sendo intrinsecamen-
de família interiorizado pelo trabalhador social que, fre- te relacionadas, às vezes se confundindo entre si.
quentemente, se depara com os diversos tipos de confi- - A função biológica, segundo a concepção deste au-
gurações familiares, cada qual com suas particularidades tor, seria o dever de assegurar a sobrevivência da espécie,
e peculiaridades. oferecendo os cuidados básicos para o desenvolvimento
Esse trabalhador necessita instrumentalizar-se, a fim dos indivíduos e não compreenderia a função reprodutiva.
de que possa trabalhar sem ‘preconceitos’ com as famílias, - As funções psicológicas seriam o afeto, o suporte fa-
evitando-se rotulá-las como desestruturadas e irregulares. miliar para a superação de crises individuais que ocorrem
Faz-se importante apreender o contexto sócio histórico e no ciclo de vida, a transmissão de experiências de vida para
cultural em que a família está envolvida, para empreende- os descendentes, a atuação facilitadora da aprendizagem
rem-se ações que vão ao encontro das necessidades das empírica e, também, a intermediação de informações com
mesmas. o universo extrafamiliar.
- Como funções sociais pode - se destacar a transmis-
Funções da família são de valores culturais e a preparação para o exercício da
cidadania.
Diretrizes e orientações sobre a educação dos filhos À família cabe permitir o crescimento individual e faci-
são encontradas em antigos manuscritos, dentre os quais litar os processos de individuação e diferenciação em seu
cita-se o do jesuíta Alexandre de Gusmão, datado de 1685. seio, ensejando com isso a adequação de seus membros
Nesse manual, o autor traça normas de conduta para às exigências da realidade vivencial e o preenchimento das
boas famílias, sendo que o genitor possuía a função de condições mínimas requeridas para um satisfatório conví-
‘direcionar’ sua prole, ou seja, a ele cabia os cuidados da vio social. Assim, verifica-se que uma das tarefas básicas
formação moral e religiosa dos filhos. O pai era o prove- da família é a socialização. O termo socialização é enten-
dido de acordo com o conceito proposto “por BERGER e
dor de sua família e não se dedicava aos filhos até que
LUCKMANN (1976), isto é, enquanto um processo de cons-
estes completassem sete anos, possuindo, então, a capa-
trução social do homem” (GOMES, 1994). Esse conceito
cidade de compreender os ensinamentos cristãos. A mãe
subdivide-se em duas categorias: a socialização primária e
era responsável por ‘formar’ os filhos, ou seja, a ela cabia
a socialização secundária.
os cuidados no âmbito material: vestuário e alimentação.
A socialização primária consiste na transformação do
Assim, a mãe deveria dedicar-se aos filhos, principalmen-
homem (que ao nascer é apenas um organismo, é apenas
te nos primeiros anos de vida da criança, caso contrário,
biológico) em um ser social típico: de um gênero, de uma
comprometer-lhes-ia a formação futura.
classe, de um bairro, de uma região, de um país.
No entanto, devido à diversidade étnica e cultural A família transmite às novas gerações, especialmente à
existente no Brasil colonial, essas ‘regras’ de boa formação criança, desde o nascimento, padrões de comportamento,
de famílias não frutificaram na terra brasileira (VENÂNCIO, hábitos, usos, costumes, valores, atitudes, um padrão de
2001). linguagem. Enfim maneiras de pensar, de se expressar, de
A rigorosidade da divisão sexual dos papéis, que era sentir, de agir, e de reagir que lhe são próprios naturais.
encontrada nas famílias patriarcais e na família burguesa, Não bastasse tudo isso, ela ainda promove a construção
atualmente não existe mais. Na época contemporânea, das bases da subjetividade, da personalidade e da identi-
percebe-se uma flexibilização dos papéis parentais e a dade, Deriva disso a enorme importância da família tendo
função da família pode ser contemplada segundo diversas em vista a vida futura de cada criança: ela, a família constrói
vertentes. os alicerces do adulto futuro.
Funções de ordem biológica e demográfica garantem A socialização secundária refere-se à aprendizagem do
a reprodução e a sobrevivência do ser humano; função de indivíduo, adquirida através do contato com outros setores
ordem educadora e socializadora transmite conhecimen- institucionais (escola, clube, grupos comunitários, local de
tos, valores, afetos através de uma comunicação verbal e trabalho, entre outros).
corpórea tão importante nas relações interpessoais; fun- A família possui um papel fundamental na formação fí-
ção de ordem econômica (produtoras e consumidoras) sico-moral- emocional e espiritual do ser humano. A família
que se dá no campo do trabalho; função de seguridade, é o lócus onde há o encontro das gerações e dos gêneros,
que cuida da seguridade física, moral, afetiva, criando uma onde se aprende a arte da convivência e a prática da tole-
dimensão de tranquilidade e função recreativa, que se tra- rância, e entre suas funções pode-se relacionar a promoção
duz em atividades diversas que rompem o tédio, as ten- e a transmissão de valores, a construção da identidade do
sões, como as festas em família (aniversário, casamentos e indivíduo e o apoio emocional e afetivo aos seus membros.

47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Família contemporânea Outro aspecto relacionado à família é que a mesma
não é estática. A família possui um ciclo vital, é dinâmica e
A família passou por várias transformações na segun- se apresenta de forma diferenciada de acordo com a sua
da metade do século XIX: ampliou-se a participação das evolução, ou seja: ela também nasce, cresce, amadurece,
mulheres no mercado de trabalho e nas universidades, ob- habitualmente se reproduz em novas famílias, encerrando
servando-se as diferenças entre as classes sociais, pois as seu ciclo vital com a morte dos membros que a originaram
mulheres mais pobres, em sua grande maioria, continua- e a dispersão de seus descendentes para constituir novos
vam com pouca qualificação e baixa escolaridade. núcleos familiares).
O casamento sofreu transformações, sendo efetiva- Desse modo a família é influenciada pelas situações
do através da anuência do casal, com a livre escolha do internas que lhe sucedem como: nascimento, casamento,
parceiro, e norteado principalmente pela afinidade entre morte de seus membros e por fatores externos: sociais,
o casal e por fatores afetivos e emocionais com bases no econômicos, culturais, entre outros.
amor romântico.
A tradicional família nuclear apresenta transformações. Família e Estado
Além do pai, a esposa e os filhos inserem-se no mercado
de trabalho, auxiliando nas despesas e na manutenção da A família enquanto unidade integrante da sociedade é
família, alterando padrões de hierarquia, autoridade e so- diretamente influenciada pela situação macro sócio-políti-
ciabilidade. ca e econômica do país. As ações estatais atingem o mi-
Surge a família contemporânea que é construída atra- crossistema familiar, atuando como fatores desagregador
vés de uma somatória de experiências e trajetórias par- e propiciador de situações de vulnerabilidade, sendo que
ticulares, manifestando-se através de arranjos familiares esta última está intrinsecamente relacionada às condições
diferenciados e peculiares, denotando a impossibilidade econômicas das famílias, a forma de distribuição de renda
de identificá-la como um padrão familiar uniforme e ideal. no país e ao modo de funcionamento do modelo econô-
Dentre os vários arranjos familiares, podem-se citar as mico vigente - o capitalismo.
famílias: A crise do Estado-Providência, as transformações em
-reconstituídas, que são aquelas em que, após a se- curso no mundo do trabalho e do capitalismo, introduzem
paração conjugal, o indivíduo constitui uma nova família; no cenário mundial a ideologia neoliberal e a globalização,
- constituídas através de uniões estáveis; sendo esta última um processo pelo qual se busca a união
- monoparentais femininas; dos mercados de diversos países, através da internacio-
- monoparentais masculinas;
nalização do capital e da economia, objetivando o lucro
- nas quais avós moram e cuidam de seus netos;
rápido.
- unipessoais;
O neoliberalismo surge na década de 70, inicialmente
- formadas por uniões homossexuais;
na Inglaterra e Estados Unidos, em decorrência das crises
O modelo idealizado da família nuclear burguesa ain-
do petróleo e da emergência da chamada Terceira Revolu-
da perpetua no imaginário do indivíduo - coletivo. Famílias
ção Industrial, como uma reação conservadora à presença
que não fazem parte desse tipo de arranjo familiar tentam
do Estado nas esferas social e econômica e, aos poucos,
‘adaptar’ e aproximar a sua estrutura e padrão de funcio-
vai se estendendo aos países de outros continentes. Na
namento ao do ‘modelo ideal’, acreditando, muitas vezes,
que não constituem uma família, ou que a sua família é década de 80, têm-se as primeiras marcas do neolibera-
‘errada’, quando não conseguem reproduzi-lo. lismo na América Latina: México, Argentina, Venezuela e,
No início do século XXI, percebem-se as metamorfo- mais recentemente no Brasil.
ses nas famílias: a diminuição do número de filhos, a re- ABREU (1999) afirma que o neoliberalismo é uma ideo-
dução de número de matrimônios realizados legalmente logia capitalista que defende o ajuste dos Estados Nacio-
(casamento civil), o aumento de separações e divórcios. A nais às exigências do capital transnacionalizado, portanto
divisão sexual dos papéis, ou seja, as funções socialmente contrária aos pactos que subordinam o capital a qualquer
destinadas aos homens e mulheres nas famílias são ques- forma de soberania popular ou instituições de interesse
tionadas, não havendo mais a rígida separação dos papéis, público.
demonstrando uma estrutura mais aberta e flexível. As vertentes orientadoras do neoliberalismo são deri-
Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e vadas do liberalismo clássico: promoção pelo mérito, mer-
Estatística - apontam outras transformações ocorridas na cado auto regulador, desconfiança à intervenção do Esta-
família contemporânea, entre as quais podem-se citar: a do, igualdades de chance para todos os indivíduos.
redução do tamanho das famílias, o aumento de número A ideologia neoliberal pressupõe que a ação espontâ-
de famílias chefiadas por mulheres e das unidades unipes- nea do mercado deve possibilitar um equilíbrio de condi-
soais, entre outros. ções entre os indivíduos, de tal modo que qualquer pessoa
Esses dados demonstram que a família brasileira está pode conseguir seus objetivos através da livre concorrên-
moldando uma nova cultura e um novo modo de viver, cia e livre escolha.
que não se adequam mais aos modelos patriarcal e bur- A questão da assistência, segundo a visão neoliberal, é
guês, pois em seu tecido familiar estão imbricados as suas encarada como um dever moral, sendo estabelecido um li-
próprias particularidades, peculiaridades e valores. mite: que esta não se transforme em direito para as classes

48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
subalternas, para os empobrecidos, miseráveis e excluídos. As modalidades de proteção se apoiam em pilares da
A política de assistência social é utilizada apenas em si- flexibilização das relações de trabalho, na seletividade ou
tuações emergenciais, visando o atendimento somente do focalização das políticas sociais e na desobrigação do esta-
‘mais pobre dos pobres’, sendo que o Estado atende ape- belecimento dos mínimos sociais como direitos de todos.
nas o que a sociedade civil, as instituições filantrópicas e o Os princípios neoliberais apontam para o desmonte
voluntarismo não atende. das políticas nacionais de garantias sociais básicas, cujas
Os últimos governos do Estado brasileiro, Fernando principais implicações são: cortes de programas sociais
Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso foram gra- (inclusive os voltados para as populações empobrecidas),
dativamente implementando planos de ajustes nacionais diminuição dos benefícios da seguridade social, crimina-
que se adequavam à ideologia neoliberal. O atual governo, lização da pobreza e a valorização de velhas fórmulas de
também compactua com esta ideologia. ajuda social, maquiadas pelo discurso da solidariedade e
Desse modo, no cenário nacional continua sendo da humanidade, que são travestidas com nova ‘roupagem’
implementadas ações governamentais que submetem o e, por isso, veiculadas como modernas e avançadas.
Estado brasileiro à dinâmica da globalização capitalista. É o caso da filantropia social e empresarial, das ações
Abreu aponta as seguintes: voluntárias e da ajuda mútua, que involuntariamente ten-
- a redução de capital público destinado as áreas de dem a contribuir para a desresponsabilização do Estado
saúde, educação, transporte, entre outras, incentivando o perante ao provimento dos mínimos sociais e a proteção
desenvolvimento de serviços privados nestas áreas; à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à ve-
- a desregulação das relações de trabalho, transferin- lhice, como expressa a Lei Orgânica de Assistência Social,
do-as do setor público e submetendo-as às condições da de 1993.
iniciativa privada; A globalização, no Brasil, apresenta em sua face a mar-
- a privatização e transnacionalização das empresas ca da desregulamentação da força de trabalho, o achata-
públicas; mento dos salários e o aumento do desemprego, contri-
- a liberação do comércio com a eliminação das bar- buindo, assim, para o aumento da exclusão social.
A exclusão não é mais vista como um fenômeno de
reiras alfandegárias;
ordem individual mas, social, cuja origem deveria ser bus-
- a desregulamentação da entrada e saída de
cada nos princípios mesmos do funcionamento das socie-
capitais estrangeiros.
dades modernas.
Com essas práticas, as classes dirigentes brasileiras
O fenômeno da exclusão social não envolve apenas o
estão cumprindo as exigências impostas pelos persona-
caráter econômico da pobreza, supõe, também, o precon-
gens que ditam os rumos da ordem mundial: o capital fi-
ceito e a discriminação.
nanceiro especulador, os grandes banqueiros credores do
A exclusão social é aqui entendida como uma situa-
Estado, o capital multinacional, organismos capitalistas in-
ção de privação coletiva que inclui pobreza, discriminação,
ternacionais e os governos do G7 (grupo dos sete Estados subalternidade, a não - equidade, a não acessibilidade, a
mais ricos do mundo comandados pelos EUA). não - representação pública como situações multiformes.
A adequação dos países a uma ideologia neoliberal é Surge, assim, o fenômeno histórico do final do sécu-
condição para que o Estado continue integrado às rela- lo, chamado, segundo Cristovam Buarque, (apud SPOSATI,
ções políticas e econômicas internacionais. 1999) de apartação social. Trata-se da naturalização da de-
A entrada do neoliberalismo e da globalização no ce- sigualdade social, criando uma barreira entre o mundo dos
nário mundial traz como consequências o surgimento de ricos e dos pobres, ocasionando a culpabilização do pobre
expressões da questão social generalizadas, que assumem por sua pobreza.
uma amplitude global e produzem efeitos comuns nas di- No início do século XXI, o que se apresenta, do ponto
versas partes do mundo, tais como: desemprego estrutu- de vista social, é o crescimento da pobreza, do desempre-
ral, aumento da pobreza e da exclusão social, precarização go e da exclusão, ao lado de uma enorme concentração de
e casualização do trabalho e desmonte de direitos sociais renda e de riqueza por parte de uma parcela minoritária
edificados há mais de um século. da população.
No Brasil, as tendências políticas em relação ao tra- Considerando-se a pobreza não como sinônimo de
tamento da questão social levam a políticas setoriais e ‘insuficiência de renda’, mas como a pobreza socioeconô-
fragmentadas, que procuram atender apenas situações mica, ou seja, a pobreza material, originada historicamente
emergentes, visando amenizar os impactos das demandas do modo em que a sociedade se organiza. É a desigual-
sociais. dade produzida economicamente que se “manifesta de
A ideologia neoliberal reinante apresenta um Estado modo quantitativo, ou seja, na falta de renda, de emprego,
desterritorializado e sujeito a comandos dos detentores do de habitação, de nutrição, de saúde”. Essa pobreza atinge
capital externo e, desse modo, impossibilitado de exercer grande parte do contingente populacional do país.
o controle sobre as políticas econômicas e sociais internas Na pobreza não encontramos somente o traço da des-
e de proteger o emprego e a renda de sua população, alia- tituição material, mas igualmente a marca da segregação,
do ao predomínio do Estado Mínimo, caracterizado pela que torna a pobreza produto típico da sociedade, variando
desresponsabilizarão do governo com os setores públicos, seu contexto na história, mas se reproduzindo na caracte-
principalmente a assistência social e a seguridade. rística de repressão do acesso às vantagens sociais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Esse panorama denuncia o retraimento do Estado, a Deve-se apreender a família do ponto de vista teóri-
ausência de políticas de proteção social as famílias perten- co com um pensamento crítico, desvelando a realidade,
centes as camadas sociais de baixa renda e as consequên- analisando as relações de totalidade e principalmente con-
cias no mundo do trabalho. siderando as determinações históricas, para não culpabi-
Nos anos 70, CASTEL afirma que ao trabalho está vin- liza-la e nem fazer uma psicologização das questões que
culada uma série de garantias, direitos e proteções sociais, são sociais.
sendo atribuída estabilidade e status ao trabalhador. Há Para se ter uma visão crítica de família é preciso anali-
uma seguridade social interligada ao trabalho, o aspecto sá-la como uma construção histórica, como apontamos no
dos direitos vinculados ao trabalho é que fez com que o segundo item deste trabalho.
trabalho não fosse apenas a retribuição pontual de uma A ação do Assistente Social deve ser transformado-
tarefa, mas que a ele fossem vinculados direitos. ra, buscando a emancipação e o autodesenvolvimento
Com o advento da internacionalização do mercado, da da família. O profissional deve atuar nas demandas, essas
globalização e dos princípios de concorrência, eficiência demandas deverão providenciar respostas, as demandas
e lucratividade, o trabalho passa a ser alvo de redução de institucionais que são demandas objetivas, imediatas, de-
custos. vem ser respondidas com o desenvolvimento e a utilização
Para reduzir os custos, ocorre a flexibilização do mer- de instrumentos (meios) para atingir seus objetivos, estes
cado de trabalho, associada à desproteção e à desmante- instrumentos podem ser: os bens, serviços, benefícios,
lação dos direitos trabalhistas. Essa flexibilização pode ser programas e projetos, porém o âmbito da ação profissio-
interna, ou seja, a que impõe a adaptabilidade da mão- nal deve transcender a demanda institucional, passando
de-obra a essas situações novas e que, evidentemente, ex- assim para a demanda sócio profissional, compreender as
pulsa os que não são capazes de se prestar a essas novas demandas na sua totalidade, as suas contradições, a sua
regras do jogo. relação com a sociedade e assim o Assistente Social deve
Ou externa que se refere à subcontratação de mão- articular, criar meios para que família crie condições para
de-obra em condições mais precárias, salários baixos e cumprir a sua função social.
menor proteção. O Assistente Social como um profissional que tem
Segundo CASTEL, a precarização do trabalho alimenta como seu objeto de intervenção as necessidades sociais,
o desemprego, pois torna-o cada vez mais fragilizado e deve intervir nas expressões da Questão Social. Estas ex-
obriga os indivíduos a entrarem em uma situação de vul- pressões da Questão Social rebatem no campo de traba-
nerabilidade. Tal situação atinge de forma diferenciada as lho como uma consequência do sistema que fundamenta
camadas sociais e as famílias brasileiras. o capitalismo, aparece no sujeito individual e/ou coletivo
As políticas sociais apresentam-se incapazes e inefica- em situação de vulnerabilidade social e pessoal, e é no
zes para atender a demanda populacional de miseráveis e âmbito da família que se encontram o maior número de
excluídos, tornando-se, desse modo, focalista, residual e demandas, e é nela também que deve estar a ação do As-
seletista, ou seja, são orientadas por uma perspectiva de sistente Social.
se atender somente a pobreza absoluta, limitando-se a O profissional deve em sua ação desnaturalizar to-
ações minimalistas, pontuais e descontínuas, que excluem das as formas de discriminação, promovendo também a
cidadãos que por direito deveriam ter acesso a recursos e garantia dos direitos dos cidadãos e possibilitando a sua
benefícios. autonomia como está previsto no projeto ético-político
A família, enquanto instituição inserida na sociedade, profissional. É necessário também que este articule junto
é afetada por esse processo de desenvolvimento socioe- ao Estado, as organizações que tenham o mesmo objetivo
conômico e pelo impacto da ação do Estado através de diante desta situação, para juntos buscar a edificação as
suas políticas econômicas e sociais. respostas políticas que garantam direitos e que esses se-
A conjuntura político-econômica brasileira, norteada jam efetivados.
pelos princípios neoliberais e pela globalização, promove Através da gestão democrática, o trabalho do Assis-
o aceleramento do empobrecimento, desemprego, mini- tente Social pode contribuir com a justiça e a equidade
mização das políticas sociais oferecidas às comunidades, social a favor da universalidade das políticas sociais, po-
influenciando a estrutura familiar em suas relações, estru- sicionando seus programas, serviços e projetos e desen-
tura, papéis e formas de reprodução e contribuindo para volvendo ações que venham aumentar os recursos para
a desagregação dessa instituição. (Texto adaptado de ÁL- que se tenha uma concretização dessas políticas de forma
VARES, L. de C. e FILHO, M. J. doutores em Serviço Social). eficaz, o profissional deve agir juntamente ao seu usuário,
fazer reuniões com todos membros da família, as crianças,
A Família e o Serviço Social o adolescente, os pais, a mulher, o homem, o idoso, enfim
trabalhar com eles as questões de gênero, questões gera-
A família aparece como demanda para o Serviço So- cionais, e outras de acordo com a necessidade da popu-
cial quando ocorre algum problema ou conflito na função lação, sempre criando meios para que eles mesmos criem
social, ou seja, quando a família por um certo motivo não os seus valores
consegue cumprir o seu papel.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
A tarefa do Assistente social é lutar pela participação II) o ato de definir objetivos requer saber onde se está,
social, emancipação, autonomia (ética, política, moral, cul- onde se pretende chegar e exige concentrar forças em
tural), desenvolvimento dos sujeitos sociais, e principal- uma direção definida. Por essa razão o ato de planejar, en-
mente pela ampliação dos direitos sociais e da cidadania, quanto parte do fazer profissional do Serviço Social deve
investindo assim nas potencialidades dos usuários, cami- partir, primeiramente, do exame da forma como se orga-
nhando sempre na busca da liberdade política, econômica niza a sociedade em que vivemos e o papel conferido ao
e cultural. Serviço Social nesta sociedade.
Este profissional deve agir com sua formação emba- A interferência nos rumos da história parte do pres-
sada nas diretrizes curriculares, com seu fundamento na suposto de que os homens devem estar em condições de
teoria social crítica. O profissional deve ter um perfil teóri- viver para fazer a História, o que exige, em primeiro lugar,
co-crítico (tem que ter capacidade para fazer uma leitura comer, beber, ter habitação, vestir-se, ter lazer. Neste sen-
crítica da realidade), técnico-operativo (profissional inter- tido, a produção dos meios que possibilitam a satisfação
ventivo, que tem um arsenal de técnicas e instrumentos dessas necessidades constitui um ato histórico preceden-
que possibilitam a intervenção) e ético-político (o agir tem te e basilar. A gênese do ser social se realiza sobre esta
uma intenção, tem valores do código de ética). Tendo as- base ontológica, que é a produção material da vida, no
sim um práxis transformadora que supere o imediatismo. intercâmbio dos homens com a natureza e deles entre si,
(Texto adaptado de SILVA, J. C. M. Assistente Social). em resposta às necessidades. É o trabalho que efetiva este
intercâmbio, que por constituir uma atividade vital que
ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO EM SERVIÇO distingue os homens dos animais, tão logo começam a
SOCIAL produzir seus meios de vida. A atividade humana diferen-
cia-se da realizada pelo restante dos animais por não ser
O planejamento e a administração são instrumentos instintiva e imediata.
integrantes das ações desenvolvidas pelos assistentes so- Por ser o homem um animal capaz de atribuir finalida-
ciais, conforme estabelece a Lei de Regulamentação da de aos seus atos, avaliá-los e recriá-los, constantemente, o
Profissão em seu artigo 4º, que aponta dentre outras as trabalho humano é uma atividade consciente, cuja forma
seguintes competências do Assistente Social: final do objeto do trabalho é prefigurada na mente do tra-
[...] II - Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, balhador, antes mesmo de iniciar o processo de trabalho.
programas e projetos que sejam do âmbito do Serviço So- Todavia, toda a práxis social, se considerarmos o trabalho
cial com participação da sociedade civil; como seu modelo, contém em si um caráter contraditó-
VI - Planejar, organizar e administrar benefícios e Ser- rio. Por um lado, a práxis é uma decisão entre alternativas,
viços Sociais; já que todo indivíduo singular, sempre que faz algo, deve
VII - Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam decidir se o faz ou não. Por outro, conforme analisa Marx,
contribuir para a análise da realidade social e para subsi- os homens são impelidos pelas circunstâncias a agir de
diar ações profissionais; determinado modo.
X – Planejamento, organização e administração de O trabalho, enquanto unidade de causalidade e teleo-
Serviços Sociais e Unidades de Serviço Social; [...]. logia, possui como elementos constitutivos a projeção do
A mesma Lei, no artigo 5º, inciso II estabelece o pla- fim que se quer alcançar; o reconhecimento das causalida-
nejamento, a organização e administração de programas e des objetivas; a escolha dos meios mais adequados para
projetos em Unidade de Serviço Social, como uma atribui- a execução da finalidade; a operação sobre o objeto e a
ção privativa do Assistente Social. Este texto, visa dar uma execução da finalidade.
contribuição ao debate sobre a importância do planeja- Trata-se, portanto, de uma atividade que une objeti-
mento e administração, enquanto momento integrante da vidade e subjetividade. É objetiva na medida em que se
intervenção profissional. realiza sobre um real exterior ao sujeito, pré-existente e
independente de sua consciência e é subjetiva enquanto
O ato de planejar somente se realiza como atividade se estiver na consciên-
cia do sujeito, que age orientado por seus objetivos. Essa
O ato de planejar pressupõe um esforço para impri- atividade se realiza como atividade objetiva, visando um
mir uma direção à prática profissional. Ou seja: Trata-se de resultado objetivo, mediada por processos, meios e instru-
uma ação que parte da compreensão de que: mentos objetivos, através dos quais o sujeito busca reali-
I) é possível interferir no rumo dos acontecimentos zar no real sua subjetividade.
concernentes à vida social e, por conseguinte, é possível O ponto de partida da atividade é a finalidade. Entre-
direcionar a nossa ação profissional de forma consciente e tanto, é preciso levar em consideração, ao longo da reali-
dirigida para o alcance dos nossos objetivos, ainda que em zação da atividade, a resistência do real, o que requer que
circunstâncias dadas; a consciência esteja em atividade não só na apreensão do
real, bem como, ao buscar impor-se nele transformando e
transformando-se no processo de realização da intencio-
nalidade.

51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Deriva desta compreensão a necessidade de apreen- De acordo com a perspectiva dos empregadores, a
der o significado da profissão do Serviço Social na socie- profissão de serviço social foi, e é, historicamente, instituí-
dade capitalista, posto que o ato de planejar deve con- da para enfrentar as refrações da questão social por meio
siderar, não só a possibilidade de imprimir uma direção do controle e do disciplinamento da força de trabalho. A
social ao exercício profissional, em decorrência da relativa forma de inserção da profissão na divisão social do traba-
autonomia que dispõe o assistente social (respaldada ju- lho e seu caráter de prática profissional torna necessário,
ridicamente na regulamentação da profissão, na formação àqueles profissionais interessados em elaborar um projeto
universitária especializada e no Código de Ética) como de intervenção comprometido com a garantia do acesso
também, as condições sociais em que opera o trabalho do dos usuários aos direitos sociais, qualificar o horizonte da
assistente social e as formas por ele assumidas em cada ação profissional para perceber qual o caráter possível da
contexto histórico social . intervenção na perspectiva de transformação na prática
O capitalismo é, basicamente, um sistema, no qual profissional.
Esse reconhecimento precisa levar em conta os limites
tudo o que se produz deve ter valor de uso e de troca.
reais impostos pelo caráter institucionalizado da prática,
Esta troca é feita em mercados competitivos controlados
ao mesmo tempo, em que precisa buscar no real as pos-
pelos que possuem a propriedade privada dos meios de
sibilidades concretas de instituição de práticas diferencia-
produção: a terra, os bancos, as fábricas. Se olharmos a
das, nas quais possa se dar a experiência de formas de
sociedade como um grande mercado todos, tanto os pro- relação democráticas, garantidoras do acesso dos usuários
prietários, como o trabalhador que vende a sua força de aos direitos sociais.
trabalho, aparecem, como homens livres, iguais e trocando É nesse quadro, brevemente delineado, que se insere
equivalentes. Marx, no volume I do Capital, demonstra que o ato de planejar. Ressalto que o pensamento conservador
na realidade o processo de produção capitalista se organi- tenta reduzir o ato de planejar a um processo que visa
za como base na exploração entre os que detêm os meios apenas instrumentalizar a realidade. Para tal, propõe que a
de produção e os que só possuem sua força de trabalho. tomada de decisão sobre a ação a ser realizada centre-se
Segundo o autor, o trabalhador, não só não usufrui da li- na previsão de necessidades e racionalização de empre-
berdade de ir e vir, posto que está prisioneiro no interior go de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis,
da unidade produtiva, onde seu tempo e seus passos são visando a concretização de objetivos, em prazos determi-
controlados, como não é tido como igual, posto que deve nados e etapas definidas, a partir dos resultados das ava-
obediência ao capitalista e a seu preposto, e a utilização liações que visam, quando muito, intervir sobre uma ou
de sua força de trabalho, ao invés de agregar apenas um outra disfunção na dinâmica sócio institucional.
valor correspondente ao que lhe foi pago, gera um valor Distintamente, defendemos que o ato de planejar é
excedente que é apropriado pelo capitalista. antes de tudo um processo político, no qual o que deter-
O trabalhador assalariado é, de fato, juridicamente li- mina o que será considerado problema e as possibilidades
vre, o que o distingue do escravo e do servo. Todavia, tal li- e condicionantes da tomada de decisões estão relaciona-
berdade é ilusória, na medida em que busca ocultar a rela- das ao poder de pressão que uma classe ou fração de clas-
ção de exploração e de dominação de classe. A resistência se exerce numa sociedade num dado momento histórico.
dos trabalhadores à opressão e à exploração representa a Entendemos que esta é uma afirmação válida, quan-
grande força motriz da história. O processo de resistência do se pensa numa intervenção em nível macroestrutural,
operária à exploração e à opressão passou a ser denomi- como também, para planejamentos em microestruturas
nada pelo pensamento conservador de “questão social”. sociais. Porém, há que se ressaltar, que muito embora as
O que, segundo CARVALHO e IAMAMOTO, (1983) de fato, instituições sociais sofram as determinações estruturais e
conjunturais do contexto social e político no qual estão
significa “(...) as expressões do processo de formação e de-
inseridas, elas possuem uma história e uma dinâmica pró-
senvolvimento da classe operária e de seu ingresso no ce-
pria que lhes confere certa peculiaridade, o que requer,
nário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento
por parte do assistente social, uma análise concreta da
como classe por parte do empresariado e do Estado. É a
correlação de forças existente no espaço institucional. A
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição apreensão das particularidades contidas em cada dinâ-
entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir mica institucional nos afasta das análises excessivamente
outros tipos de intervenção mais além da caridade e re- abstratas e genéricas, o que contribui para assegurar algu-
pressão”. ma margem de possibilidade de concretização do que está
Os efeitos da questão social constituem o objeto so- sendo projetado.
bre o qual atua o assistente social. Diferentemente de ou- Assim, ao pensarmos a questão do planejamento en-
tras profissões, o Serviço Social não atua sobre uma única quanto um momento do fazer profissional do assistente
necessidade humana, nem tampouco sua ação se destina social há que se ter claro que a sua exequibilidade depen-
a todos os homens e mulheres indistintamente. Ao con- derá, especialmente, das relações de força presentes no
trário, o assistente social atua sobre todas as necessidades contexto sócio institucional e no contexto social no qual a
humanas de uma classe social, formada por aqueles que Instituição se insere.
são impedidos do acesso aos bens serviços e riquezas so- A seguir, apresentamos uma proposta de metodologia
ciais. de elaboração de um projeto de intervenção.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Compartilhando objetivos - informar sobre os benefícios e beneficiários que po-
dem ser atingidos com a ação e o grau de interesse e o
Entendemos que para que os objetivos a serem traça- envolvimento destes,
dos no plano de ação possam ser assumidos pelos inte- - demonstrar as condições existentes, necessárias e os
ressados é necessário que o ato de planejar seja realizado limites que precisam ser superados para lidar com tal si-
de modo a envolver no planejamento os sujeitos da ação: tuação.
alguns membros da instituição e os usuários. Tendo explicitado a problemática sobre a qual dese-
Todavia, aqui cabe uma ressalva: Em tempos nos quais jam intervir, os sujeitos passam a formular seus objetivos.
a “participação no planejamento” é, essencialmente, um Um passo inicial nesta direção é começar com a seguinte
item a ser cumprido dentro das exigências das fontes in- indagação: A que resultados pretendemos chegar com a
ternacionais de financiamento. Permite-se o acesso à in- execução deste projeto?
formação e a população é consultada, porém, não há qual- Ao imaginar estes resultados os participantes da ela-
boração devem debater sobre as consequências que estes
quer garantia de que as opiniões da população sejam, de
resultados deverão produzir. Este é um momento interes-
fato, incorporadas pelo poder público, julgo ser necessário
sante, não só para avaliar a dimensão das modificações que
enfatizar que são participativos os processo de planeja-
se pretende produzir, como também, avaliar as possibilida-
mento que estimularem a autonomia e a capacidade de
des de enfrentamento às resistências às modificações. Po-
fazer valer as decisões dos seus participantes. rém, os objetivos podem e devem ser alterados de acordo
Levando-se em conta que trabalhamos com uma com o curso e avaliação dos acontecimentos.
imensa gama de situações, torna-se necessário definir Definido os objetivos, passa-se a construção das estra-
prioridades com base nos critérios definidos no debate tégias. A elaboração da estratégia envolve, principalmente:
com os envolvidos. Definida a prioridade com base numa a) A identificação dos autores:
análise das necessidades prementes e das condições para - Quem são os aliados?
a sua superação, passa-se ao momento da justificativa da - Quem são os oponentes?
escolha. Trata-se de responder à seguinte questão: Que ra- - Quem é potencialmente aliado?
zões nos levaram a optar por enfrentar essa problemática? b) A identificação do poder de pressão dos diversos
Para evitar equívocos acerca do significado de uma sujeitos.
dada problemática e, logicamente, sobre o modo de inter- c) A elaboração das bases das alianças e formas de
venção sobre ela, torna-se necessário descrevê-la de uma confronto.
forma precisa e objetiva. Feito isso, há que se perguntar: devemos passar ime-
Descrever o problema é dizer de que forma ele apa- diatamente para as ações mais decisivas? Algumas vezes,
rece e ao, mesmo tempo, resgatar as razões ou, de forma torna-se preciso analisar melhor, uma vez que durante a
mais precisa, os determinantes sociais da sua existência. execução podem acontecer surpresas desagradáveis que
Partindo da hipótese de que a faticidade, simultaneamen- venham a colocar em risco a consecução dos objetivos, tais
te, revela e oculta a existência de uma processualidade, como: o corte de verbas, mudanças na gestão administra-
há que se apreender os fatos como sinais de um processo tiva, entre outras.
que os transcendem. É sobre essa processualidade que é Nesse caso, o melhor é não passar para as ações mais
preciso se deter para construir a descrição do problema, decisivas sem fazer o levantamento de todos os recursos
ou a problematização. necessários. Exemplo: precisa-se contar com um número X
Evidentemente, os que expõem a respeito de uma de técnicos, durante um determinado período de tempo.
problemática fazem parte dela, estão dentro da situação. O mesmo procedimento deve ser utilizado em relação aos
recursos financeiros e materiais.
Isto significa que nesse jogo de relações sociais não existe
Além desta preocupação, torna-se necessário reavaliar
neutralidade, e sim, interesses em jogo. Se por um lado, a
o cenário sócio-político durante a construção da proble-
explicação de uma problemática não pode ser considera-
matização. Esta preocupação parte da compreensão de
da como uma verdade acabada, absoluta e inquestionável,
que alguns dos determinantes ou condicionantes que po-
por outro lado, não podemos deixar de ser rigorosos na dem possibilitar a concretização da intenção proposta po-
sua apreensão e exposição. dem ter sofrido modificação. Afinal, a realidade é dinâmica!
Por isto, alguns procedimentos precisam ser observa- Por isto, indicamos que, ao longo da elaboração do
dos para que se construa uma problematização rigorosa e plano, se faça uma previsão acerca das tendências que co-
compartilhada com aqueles que estão interessados e en- meçam a surgir no cenário e se discuta o que fazer caso elas
volvidos com a ação. Neste sentido, faz-se necessário: venham a se confirmar. A construção da problematização,
- partir de uma análise diagnóstica, da qual devem dos objetivos e estratégias fornece base para momentos
constar o contexto histórico e social no qual a problemáti- decisivos da ação. A formulação das táticas diz respeito às
ca se insere e os dados que se dispõem sobre ela; operações que possibilitam materializar a estratégia. Entre
- apreender determinantes de seu aparecimento e as táticas a serem utilizadas para a garantia da democrati-
continuidade; zação do processo devem estar presentes: o fluxo perma-
- justificar a importância de uma atuação que vise o nente de informações, a descentralização das atividades e
enfrentamento dessa problemática; a avaliação permanente da ação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Sugerimos, também, um acompanhamento perma- Nos pressupostos da formação profissional (ABEPSS,
nente da ação a fim de que se possa inferir na alteração, 1996) inscreve o Serviço Social como profissão interventi-
caso necessário, dos objetivos, da política para a realização va vinculada às contradições do capitalismo monopolista,
dos objetivos e na organização da ação. que tem como objeto a questão social, a qual se agrava
Por fim, faz-se uma revisão crítica, comparando-se os com a reestruturação produtiva. Esse agravamento produz
resultados reais com os previstos, analisando, em primeiro alterações na profissão.
lugar, que decisões foram acertadas ou não. Além disso, Em relação ao processo de trabalho, as diretrizes es-
avalia-se o que foi ou não obtido e as determinações e tabelecem como pressuposto que o processo de trabalho
condicionamentos do alcance da ação, de forma a identi- do Serviço Social é determinado pelas configurações es-
ficar, por meio da análise conjunta, a visão que os diver- truturais e conjunturais da questão social e pelas formas
sos sujeitos possuíam acerca de como os acontecimentos históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos
iriam evoluir e as necessidades de mudança. (Texto adap- trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas
tado de LIMA, S. L. R. Mestre em Serviço Social).
e lutas sociais (ABEPSS, 1996).
O projeto-ético-político da profissão baseado no mar-
A administração e o Serviço Social
xismo, dada a centralidade da categoria Trabalho e sua
vinculação com a classe trabalhadora, tende a ser crítico
Inicialmente é importante registrar que a Administra-
ção e o Serviço Social são dois campos com objetos dis- da Administração, na medida em que a racionalização está
tintos. Enquanto o Serviço Social tem como objeto a ques- a serviço do capital e não do trabalho.
tão social e suas múltiplas expressões, a Administração, Como nos indica Antunes, sob o sistema de metabo-
ou gestão, define-se como “[...] modo racional e calculado lismo social do capital, o trabalho que estrutura o capital
de ordenar os meios para atingir resultados” (NOGUEIRA, desestrutura o ser social. O trabalho assalariado que dá
2007). sentido ao capital gera uma subjetividade inautêntica no
O fundamento da gestão ou da administração é a no- próprio ato de trabalho. Numa forma de sociabilidade su-
ção de racionalidade, isto é, o uso da inteligência, da ra- perior, o trabalho, ao reestruturar o ser social, terá deses-
zão, para encontrar os meios mais adequados com vista à truturado o capital (1999).
realização de resultados. Estes são definidos como obje- Compreendemos que o exercício do trabalho autôno-
tivos a alcançar, ao passo que os meios dizem respeito às mo, livre, não alienado, não estranhado, não pode ocor-
pessoas, aos modos e aos recursos que garantem a con- rer na ordem capitalista, pois, como afirma Antunes, “[...]
quista dos objetivos. o sentido dado a ato laborativo pelo capital é completa-
De acordo com Nogueira, o que pode ser um proble- mente diverso do sentido que a humanidade pode confe-
ma para os analistas sociais, para o pensamento adminis- rir a ele”. Isto não significa, entretanto, que em sua ação
trativo é uma virtude, pois “[...] idealmente, burocracia é interventiva nas organizações o Serviço Social não possa
administração profissional que visa, por meio da raciona- caminhar em direção à emancipação, transcendendo à re-
lização e do controle do trabalho, a eficiência e a maximi- produção.
zação de resultados”. No próprio campo da Administração, que não se orien-
A racionalidade buscada na produção é algo que ta apenas por teorias conservadoras da ordem capitalista,
transcende à história e aos modos de produção, não é mas também por teorias críticas, podemos encontrar ele-
algo relacionado apenas ao modo de produção capitalista, mentos para a discussão dessa perspectiva. Faria define
embora, a gestão e a Administração tenham sido, como a teoria crítica nos seguintes termos: Teoria crítica é uma
nos ressalta Nogueira, “[...] impulsionadas pelo surgimento escola de pensamento derivada do marxismo, também
da modernidade e encontraram seu pleno desenvolvimen-
conhecida como marxismo ocidental, com um corpo con-
to no contexto da segunda Revolução Industrial, na virada
ceitual definido (e suas divergências internas), com suas
do século XIX para o século XX”.
linhas de investigação, que também realiza estudos críti-
Já o Serviço Social se inscreve como profissão a partir
cos. Teoria crítica não é teoria pós-moderna (FARIA, 2007).
do advento do capitalismo e tem na questão social o seu
objeto. Na análise de Faria, as organizações não são entes
O serviço social é considerado uma especialização abstratos, sujeitos absolutos, entidades plenamente au-
do trabalho e atuação do assistente social uma manifes- tônomas, unidades totalizadoras e independentes, mas
tação do seu trabalho, inscrito no âmbito da produção e construções sociais dinâmicas e contraditórias, nas quais
reprodução da vida social. O Serviço social tem na questão convivem estruturas formais e subjetivas, manifestas e
social a base de sua fundação como especialização do tra- ocultas, concretas e imaginárias [...] O problema central
balho. Questão social apreendida como o conjunto das ex- de uma Teoria Crítica, portanto, consiste em esclarecer em
pressões das desigualdades da sociedade capitalista ma- que medida as instâncias (a) obscuras, que se operam nos
dura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada bastidores organizacionais, nas relações subjetivas e no
vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente inconsciente individual, e (b) manifestas inclusive e espe-
social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se cialmente as referentes ao regramento e às estruturas, dão
privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IA- conteúdo as configurações do poder nas organizações.
MAMOTO, 2006).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Ainda em Faria, a teoria crítica, na Administração, está O trabalho é resultado de uma vivência profissional
relacionada com um referencial que permite esclarecer nas organizações, com uma proposta embasada na pers-
os bastidores das organizações, sua dinâmica, as relações pectiva dialética, denominada pela autora como “dialética
subjetivas e o inconsciente individual. Essa perspectiva processual”.
aqui explicitada procura visualizar saídas para a ação pro- Essa concepção é aplicada ao campo das organizações
fissional para além da crítica algumas vezes imobilizadora empresariais, considerando as relações de produção e do-
dos efeitos do capital sobre o trabalho. minação, dentro da unidade dialética. A perspectiva ado-
tada é analisada em confronto com estudos da Teoria das
Aproximações do Serviço Social com o campo da Organizações, em diferentes concepções.
Administração Dentre os objetivos estabelecidos pela pesquisadora,
destacamos o seguinte: “Demonstrar que o serviço social
De acordo com Kameyama, “Os estudos sobre o pro- é aplicável em organizações empresariais, de acordo com
cesso de trabalho aparecem especialmente na área das os componentes básicos do seu corpo teórico, aplicados
Ciências Sociais a partir da segunda metade dos anos 80, numa perspectiva dialética processual”.
enquanto no Serviço Social os primeiros trabalhos surgem Essa obra tem um grande valor histórico, pois sintetiza
em meados da década de 90”. o esforço de compreender a organização como unidade
Verificamos que o campo da Administração, da ges- de intervenção do Serviço Social já que naquele período
tão, o tema das organizações, começa a ganha maior visi- histórico se entendia a metodologia tradicional do serviço
bilidade no Serviço Social a partir da década de 1980, após social não inclui a organização, de modo geral, como uma
a profissão ter vivido o movimento de reconceituação e o unidade objeto de sua intervenção. Também não a con-
processo de ruptura. sidera de modo específico, no campo empresarial, que é
A atuação do Serviço Social vinculada ao campo da questionado e até hoje não firmado como possível, dentro
gestão tem seu registro no estudo do Serviço Social de dos fundamentos teóricos da disciplina (FREIRE, 1983).
empresa, campo de trabalho que foi se firmando de forma Freire pretende com sua proposta superar esse estágio
na profissão no que se refere à aplicação do Serviço Social
gradativa não apenas no Brasil, mas nos demais países da
na empresa.
América latina e dos Estados Unidos da América e da Euro-
A sua hipótese era a de que os integrantes de deter-
pa, pois os “[...] sindicatos assumindo responsabilidade de
minadas empresas nas quais foi aplicada a abordagem
benefícios aos trabalhadores contribuíam para a ausência
de Serviço Social Organizacional, num enfoque dialético
do Serviço Social” (FREIRE, 1983).
processual, apresentam indicadores de mutação da cons-
Uma obra significativa neste período é Serviço Social
ciência menos crítica para consciência mais crítica e de
organizacional, de Lucia Freire (1983). Essa obra, prefacia-
maior capacitação para participação, organização, gestão
da pelo educador Paulo Freire, reflete um tempo em que
e mobilização popular, em sucessivos momentos no de-
a vanguarda do Serviço Social estava bastante vinculada à correr da aplicação de uma pesquisa-ação, num processo
organização popular. de desenvolvimento social nas organizações com vistas à
Freire (1983) faz um apanhado do Serviço Social de transformação social.
empresa nos EUA, na Europa e na América Latina. Em rela- A proposta da autora foi fruto de sua atuação profis-
ção aos EUA, indica a atuação profissional com a Escola de sional desde 1973 em organizações empresariais, a qual
Relações Humanas, relacionada com a concessão de be- denomina Serviço Social Organizacional – SSO e basea-
nefícios e atendimento dos problemas individuais dos tra- va-se nos conceitos e métodos de Desenvolvimento Or-
balhadores. Na Europa, onde a ação profissional foi mais ganizacional – DO numa perspectiva dialética, buscando
significativa, verifica-se uma produção teórica estabele- absorver os elementos contraditórios do Desenvolvimento
cendo funções específicas da profissão, sem, entretanto, Organizacional – DO e do desenvolvimento de comunida-
haver maior estudo em relação à metodologia. Já América de, visando à transformação social. A ideia de SSO estava
Latina a Fundación Servicio Social em la Empresa apresen- relacionada com comissões de empresa e cogestão.
ta uma perspectiva de atuação funcional e avançada, na A abordagem de SSO envolve tanto a representação
Argentina e no Chile, o governo da Unidade Popular, na ‘formal’ da estrutura do poder das organizações, como a
gestão de Salvador Allende, apresenta uma perspectiva de representação “informal” dos trabalhadores, atuando con-
transformação social. comitantemente com grupos de todos os segmentos or-
A experiência da América latina tem como ponto de ganizacionais, num processo de desenvolvimento desses
partida a necessidade dos trabalhadores, privilegia a par- grupos, em “interação” visando à superação das contradi-
ticipação dos trabalhadores nos processos decisórios. Os ções da realidade dos mesmos, da organização e do seu
programas visam atender as necessidades básicas dos tra- contexto. [...] O SSO apresenta como objetivos básicos, a
balhadores. conscientização e capacitação social, para a mobilização,
Em seu livro, Lucia Freire apresenta “[...] uma proposta participação social, organização e gestão popular.
de metodologia de intervenção de serviço social em em- Essa obra reflete um momento da realidade social bra-
presa, em experimentação há sete anos, em três empresas sileira em que o Serviço Social está se vinculando à classe
brasileira de grande porte” (FREIRE, 1983). trabalhadora e há um fortalecimento de alguns de seus
segmentos.

55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
O processo de conscientização citado pela autora re- A reconceituação defende uma nova postura do
lacionava-se com os conceitos de Paulo Freire. Baseava-se Serviço Social face à realidade social da América Latina,
ainda, no conceito de “consciência crítica” de Lucien Gold- apresentando-se como um processo que, embora não se
man. A proposta recebia influência também do método excluindo de determinações históricas objetivas, refuta o
BH, desenvolvido a partir dos estudos da equipe de Ser- Serviço Social tradicional em prol de uma nova proposta
viço Social da Universidade Católica de Minas Gerais em de prática que atenda prioritariamente ao projeto dos tra-
Belo Horizonte, daí a referência a BH (SANTOS, 1985). balhadores (MOTA, 1991).
Partindo da realidade da fragilidade da teoria para a Verificamos assim, um salto no entendimento da pro-
fundamentação do Serviço Social em empresa, com a rea- fissão no que se refere ao papel do assistente social na
lização dos “experimentos”, a pesquisadora conclui que o empresa, relacionando-o com o surgimento de necessida-
Serviço Social não deve voltar-se tanto para o atendimen- des sociais em função da expansão capital, como sua re-
to das necessidades humanas em si. A ação profissional presentante institucional a empresa passa “[...] a requisitar
deve ter como centro “[...] o processo de conscientização e o assistente social para desenvolver um trabalho de cunho
capacitação social dos seres e grupos humanos nas orga- assistencial e educativo junto ao empregado e sua família”.
nizações (FREIRE, 1983). Tal processo se relaciona também Assim, a requisição do assistente social responde a
com a desalienação, possibilidade de os indivíduos se des- necessidade de se entregar a um técnico a administração
cobrirem como sujeitos participativos na análise das situa- racional e científica dos serviços sociais geridos pela em-
ções cotidianas que envolvem a organização. A proposta presa. É evidente que a racionalidade se prende tanto ao
desenvolvida tinha como horizonte a transformação social. caráter de eficiência da administração de benefícios mate-
Nos estudos de Rico, autora parte do entendimento riais como ao caráter educativo dessa administração, ins-
de que o sistema capitalista é que interfere nos problemas tituído nas orientações de condutas desviantes do empre-
de relações sociais da empresa. “A exploração do trabalho gado e sua família.
humano dentro da lógica necessária à existência do sis- No estudo de Mota, a autora considera a empresa
tema, provoca consequências como, habitações precárias, como “[...] requisitante institucional da profissão de Ser-
saúde deficiente, alimentação inadequada, etc.
viço Social. Tal requisição mostra que a empresa legitima
A autora adverte que essa análise não é a que mais
a ação da profissão no limite dos seus interesses; isto é,
influenciou o Serviço Social de empresa e adianta: “Parece-
reconhece que os serviços prestados historicamente pelos
nos até coerente. Como usar da análise materialista dialé-
assistentes sociais atendem suas necessidades”.
tica (pensamento marxista) para intervir como assistente
O texto reconhece o surgimento da profissão no con-
social numa empresa capitalista? Ora, as soluções propos-
tinente latino-americano com a formação do proletariado
tas por Marx são a nível da superação do sistema”.
urbano e entende que a ação profissional se estabelece
Na análise de Rico “[...] O uso das teorias dialéticas
mediante “requisições” do capital.
pelo Serviço Social, inclusive no campo de empresa, são
Por outro lado, também analisa a “participação do tra-
dificultadas também pela própria falta de operacionaliza-
ção dessas teorias. Pouco se criou a nível de intervenção balhador” como algo constituinte da ação profissional; o
nos fenômenos sociais. Este é um caminho que começa- trabalhador é também requisitante que dispõe do Serviço
mos a percorrer muito recentemente, e que nas palavras Social de forma fetichizada. Ele precisa desvelar os inte-
de Ander Egg; ‘continua sendo uma busca’”. resses do capital e a ação do “Serviço Social tradicional” e
O artigo apresenta uma análise das experiências do consolidar o seu potencial negador dessa cooptação.
Grupo de Estudos de Serviço Social do Trabalho – GESSOT, Assim, “a nosso ver, a consideração do potencial ne-
um órgão do Ministério do Trabalho, criado em 22 de no- gador do trabalhador como a real e verdadeira requisição
vembro de 1969, do Grupo Meta, formado por assistentes a que o assistente social deve responder, constitui a prin-
sociais de São Paulo, e da Fundácion Servicio Social em la cipal, senão a única, determinação para a construção de
Empresa de Buenos Aires. Esses grupos tinham por objeti- uma nova prática do Serviço Social” (MOTA, 1991). (Texto
vo a discussão da ação profissional. adaptado de ROSA, J. J. R. Mestre em Serviço Social).
A análise da atuação do Serviço Social nas empresas
se pautava no seguinte, o Serviço Social de Empresas, em
especial é o campo que tem recebido maiores críticas pela
vanguarda da profissão, face à sua intervenção que tem
sido praticamente dirigida “a superação das dificuldades
surgidas na interação do trabalhador na empresa e na so-
ciedade. Ocorre que essas dificuldades, como já mencio-
namos, são o resultado do processo de relação de produ-
ção, específico do sistema capitalista. [...] obviamente, o
conflito entre capital e trabalho aparece em toda estrutu-
ra social. [...]O campo da empresa, só é motivo de maior
atenção porque é o local do confronto direto: entre o em-
pregado e o empregador.

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: DA SAÚDE, DA de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos
PROMOÇÃO SOCIAL E DA PROTEÇÃO ESPECIAL. da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito
Seção IV privado.
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde inte-
gram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
necessitar, independentemente de contribuição à seguri- diretrizes:
dade social, e tem por objetivos: I - descentralização, com direção única em cada esfera
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à de governo;
adolescência e à velhice; II - atendimento integral, com prioridade para as ativi-
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; dades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - a promoção da integração ao mercado de traba- III - participação da comunidade.
lho; § 1º O sistema único de saúde será financiado, nos
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portado- termos do art. 195, com recursos do orçamento da segu-
ras de deficiência e a promoção de sua integração à vida ridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
comunitária; dos Municípios, além de outras fontes.  (Parágrafo único
V - a garantia de um salário mínimo de benefício men- renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29,
sal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que com- de 2000)
provem não possuir meios de prover à própria manuten- § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
ção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser cípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos
a lei. de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de per-
Art. 204. As ações governamentais na área da assis-
centuais calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitu-
tência social serão realizadas com recursos do orçamento
cional nº 29, de 2000)
da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras
I - no caso da União, a receita corrente líquida do
fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:
respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior
I - descentralização político-administrativa, caben-
a 15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda
do a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
Constitucional nº 86, de 2015)
coordenação e a execução dos respectivos programas às
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produ-
esferas estadual e municipal, bem como a entidades bene-
to da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155
ficentes e de assistência social;
e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I,
II - participação da população, por meio de organi-
zações representativas, na formulação das políticas e no alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem trans-
controle das ações em todos os níveis. feridas aos respectivos Municípios; (Incluído pela Emenda
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Constitucional nº 29, de 2000)
Federal vincular a programa de apoio à inclusão e pro- III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o
moção social até cinco décimos por cento de sua receita produto da arrecadação dos impostos a que se refere o
tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159,
pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº inciso I, alínea b e § 3º.(Incluído pela Emenda Constitucio-
42, de 19.12.2003) nal nº 29, de 2000)
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo me-
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) nos a cada cinco anos, estabelecerá:(Incluído pela Emenda
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitu- Constitucional nº 29, de 2000)
cional nº 42, de 19.12.2003) I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do §
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada di- 2º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de
retamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído 2015)
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II – os critérios de rateio dos recursos da União vincu-
lados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal
Seção II e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respec-
DA SAÚDE tivos Municípios, objetivando a progressiva redução das
disparidades regionais; (Incluído pela Emenda Constitucio-
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, nal nº 29, de 2000)
garantido mediante políticas sociais e econômicas que vi- III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das
sem à redução do risco de doença e de outros agravos e despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para e municipal;  (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29,
sua promoção, proteção e recuperação. de 2000)

57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
IV - (revogado). (Redação dada pela Emenda Constitu- VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido
cional nº 86, de 2015) o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde po- águas para consumo humano;
derão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de VII - participar do controle e fiscalização da produção,
combate às endemias por meio de processo seletivo pú- transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos
blico, de acordo com a natureza e complexidade de suas psicoativos, tóxicos e radioativos;
atribuições e requisitos específicos para sua atuação. .(In- VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele
cluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) compreendido o do trabalho.
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso
salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos
de Carreira e a regulamentação das atividades de agente
comunitário de saúde e agente de combate às endemias, LEI N.º 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência ADOLESCENTE: LINHAS DE AÇÃO, DIRETRIZES E
financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e ENTIDADES. MEDIDAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA
aos Municípios, para o cumprimento do referido piso sala- E AO ADOLESCENTE. DA PRÁTICA DO ATO INFRA-
rial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 63, de CIONAL. DAS MEDIDAS PERTINENTES
2010)Regulamento AO PAI OU RESPONSÁVEL.
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 DO CONSELHO TUTELAR. DO ACESSO À JUSTIÇA
e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE.
que exerça funções equivalentes às de agente comunitário
de saúde ou de agente de combate às endemias poderá
perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos Título II
específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído Das Medidas de Proteção
pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) Capítulo I
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa pri-
Disposições Gerais
vada.
§ 1º As instituições privadas poderão participar de for-
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles-
ma complementar do sistema único de saúde, segundo
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
nesta Lei forem ameaçados ou violados:
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
sem fins lucrativos.
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon-
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para
sável;
auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins
III - em razão de sua conduta.
lucrativos.
§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de
empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde Capítulo II
no País, salvo nos casos previstos em lei. Das Medidas Específicas de Proteção
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos
que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo pode-
humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, rão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
bem como a coleta, processamento e transfusão de san- substituídas a qualquer tempo.
gue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comer- Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em
cialização. conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aque-
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de las que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
outras atribuições, nos termos da lei: comunitários.
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e Parágrafo único. São também princípios que regem
substâncias de interesse para a saúde e participar da pro- a aplicação das medidas: (Incluído pela Lei nº 12.010, de
dução de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, 2009) Vigência
hemoderivados e outros insumos; I - condição da criança e do adolescente como su-
II - executar as ações de vigilância sanitária e epide- jeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares
miológica, bem como as de saúde do trabalhador; dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como
III - ordenar a formação de recursos humanos na área na Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
de saúde; 2009) Vigência
IV - participar da formulação da política e da execução II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
das ações de saneamento básico; aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvol- ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
vimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação que crianças e adolescentes são titulares; (Incluído pela Lei
dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) nº 12.010, de 2009) Vigência

58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
III - responsabilidade primária e solidária do poder Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas
público: a plena efetivação dos direitos assegurados a no art. 98, a autoridade competente poderá determinar,
crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição dentre outras, as seguintes medidas:
Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalva- I - encaminhamento aos pais ou responsável, median-
dos, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) te termo de responsabilidade;
esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do II - orientação, apoio e acompanhamento temporá-
atendimento e da possibilidade da execução de progra- rios;
mas por entidades não governamentais; (Incluído pela Lei III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci-
nº 12.010, de 2009) Vigência mento oficial de ensino fundamental;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses comunitários de proteção, apoio e promoção da família,
e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº
consideração que for devida a outros interesses legítimos 13.257, de 2016)
no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicôma-
pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida nos;
privada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei
VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida- nº 12.010, de 2009) Vigência
des competentes deve ser efetuada logo que a situação VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
de perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer- nº 12.010, de 2009) Vigência
cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa-
ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
à proteção da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei como forma de transição para reintegração familiar ou,
nº 12.010, de 2009) Vigência não sendo esta possível, para colocação em família substi-
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção tuta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
que a criança ou o adolescente se encontram no momento § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergen-
em que a decisão é tomada; (Incluído pela Lei nº 12.010, ciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual
de 2009) Vigência e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afas-
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser tamento da criança ou adolescente do convívio familiar é
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres de competência exclusiva da autoridade judiciária e im-
para com a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº portará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou
12.010, de 2009) Vigência de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judi-
X - prevalência da família: na promoção de direitos cial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao respon-
e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada sável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possí- § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser
vel, que promovam a sua integração em família substituta; encaminhados às instituições que executam programas
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de acolhimento institucional, governamentais ou não, por
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori-
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre
e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que I - sua identificação e a qualificação completa de seus
determinaram a intervenção e da forma como esta se pro- pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela
cessa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o II - o endereço de residência dos pais ou do responsá-
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de vel, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010,
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os de 2009) Vigência
seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a III - os nomes de parentes ou de terceiros interessa-
participar nos atos e na definição da medida de promo- dos em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010,
ção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devida- de 2009) Vigência
mente considerada pela autoridade judiciária competente, IV - os motivos da retirada ou da não reintegração
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência

59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou a realização de estudos complementares ou outras pro-
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de vidências que entender indispensáveis ao ajuizamento da
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano demanda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comar-
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada ca ou foro regional, um cadastro contendo informações
em contrário de autoridade judiciária competente, caso atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de
em que também deverá contemplar sua colocação em fa- acolhimento familiar e institucional sob sua responsabili-
mília substituta, observadas as regras e princípios desta dade, com informações pormenorizadas sobre a situação
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência jurídica de cada um, bem como as providências tomadas
§ 5o O plano individual será elaborado sob a respon- para sua reintegração familiar ou colocação em família
sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de substituta, em qualquer das modalidades previstas no art.
atendimento e levará em consideração a opinião da crian- 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ça ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (In- Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído sobre a implementação de políticas públicas que permitam
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon- convívio familiar e abreviar o período de permanência em
sável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência programa de acolhimento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas 2009) Vigência
com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais Art. 102. As medidas de proteção de que trata este
ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso Capítulo serão acompanhadas da regularização do regis-
seja esta vedada por expressa e fundamentada determi- tro civil. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as-
nação judicial, as providências a serem tomadas para sua
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito
colocação em família substituta, sob direta supervisão da
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
autoridade judiciária.
Vigência
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza-
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e
no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será de-
sempre que identificada a necessidade, a família de ori-
flagrado procedimento específico destinado à sua ave-
gem será incluída em programas oficiais de orientação, de
riguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de
apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado dezembro de 1992. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o Nas hipóteses previstas no § 3o  deste artigo, é
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, dispensável o ajuizamento de ação de investigação de
o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou paternidade pelo Ministério Público se, após o não com-
institucional fará imediata comunicação à autoridade judi- parecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a pa-
ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de ternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para
5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
nº 12.010, de 2009) Vigência § 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de rein- qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimen-
tegração da criança ou do adolescente à família de ori- to são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando
gem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou de absoluta prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257,
comunitários de orientação, apoio e promoção social, será de 2016)
enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no § 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re-
qual conste a descrição pormenorizada das providências querida do reconhecimento de paternidade no assento de
tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos téc- nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada
nicos da entidade ou responsáveis pela execução da po- pela Lei nº 13.257, de 2016)
lítica municipal de garantia do direito à convivência fami-
liar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de
tutela ou guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá
o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Título III Capítulo IV
Da Prática de Ato Infracional Das Medidas Sócio-Educativas
Capítulo I Seção I
Disposições Gerais Disposições Gerais

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des- Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au-
crita como crime ou contravenção penal. toridade competente poderá aplicar ao adolescente as se-
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de guintes medidas:
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. I - advertência;
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser II - obrigação de reparar o dano;
considerada a idade do adolescente à data do fato. III - prestação de serviços à comunidade;
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança cor- IV - liberdade assistida;
responderão as medidas previstas no art. 101. V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
Capítulo II VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Dos Direitos Individuais § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gra-
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua li- vidade da infração.
berdade senão em flagrante de ato infracional ou por or- § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
dem escrita e fundamentada da autoridade judiciária com- admitida a prestação de trabalho forçado.
petente. § 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi- ciência mental receberão tratamento individual e especia-
cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser lizado, em local adequado às suas condições.
informado acerca de seus direitos. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o lo- 99 e 100.
cal onde se encontra recolhido serão incontinenti comu- Art. 114. A imposição das medidas previstas nos in-
nicados à autoridade judiciária competente e à família do cisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas
apreendido ou à pessoa por ele indicada. suficientes da autoria e da materialidade da infração, res-
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena salvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. cientes da autoria.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
basear-se em indícios suficientes de autoria e materialida- Seção II
de, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Da Advertência
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
será submetido a identificação compulsória pelos órgãos Art. 115. A advertência consistirá em admoestação
policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de con- verbal, que será reduzida a termo e assinada.
frontação, havendo dúvida fundada.
Seção III
Capítulo III Da Obrigação de Reparar o Dano
Das Garantias Processuais
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com re-
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua li- flexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se
berdade sem o devido processo legal. for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre ou- ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o
tras, as seguintes garantias: prejuízo da vítima.
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade,
infracional, mediante citação ou meio equivalente; a medida poderá ser substituída por outra adequada.
II - igualdade na relação processual, podendo confron-
tar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as pro- Seção IV
vas necessárias à sua defesa; Da Prestação de Serviços à Comunidade
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos neces- Art. 117. A prestação de serviços comunitários con-
sitados, na forma da lei; siste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral,
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autorida- por período não excedente a seis meses, junto a entidades
de competente; assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou res- congêneres, bem como em programas comunitários ou
ponsável em qualquer fase do procedimento. governamentais.

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas confor- § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
me as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sá- fundamentada, no máximo a cada seis meses.
bados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de in-
não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal ternação excederá a três anos.
de trabalho. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi-
Seção V me de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
Da Liberdade Assistida § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
de idade.
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será pre-
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de cedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o po-
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para derá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciá-
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por ria. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
entidade ou programa de atendimento. Art. 122. A medida de internação só poderá ser apli-
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni- cada quando:
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro- I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra-
gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o ve ameaça ou violência a pessoa;
orientador, o Ministério Público e o defensor. II - por reiteração no cometimento de outras infrações
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su- graves;
pervisão da autoridade competente, a realização dos se- III - por descumprimento reiterado e injustificável da
guintes encargos, entre outros: medida anteriormente imposta.
I - promover socialmente o adolescente e sua família, § 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de-
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistên- vendo ser decretada judicialmente após o devido processo
cia social; legal. (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua ma- havendo outra medida adequada.
trícula; Art. 123. A internação deverá ser cumprida em en-
III - diligenciar no sentido da profissionalização do tidade exclusiva para adolescentes, em local distinto da-
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; quele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação
IV - apresentar relatório do caso. por critérios de idade, compleição física e gravidade da
infração.
Seção VI Parágrafo único. Durante o período de internação, in-
Do Regime de Semi-liberdade clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagó-
gicas.
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser deter- Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
minado desde o início, ou como forma de transição para o dade, entre outros, os seguintes:
meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter- I - entrevistar-se pessoalmente com o representante
nas, independentemente de autorização judicial. do Ministério Público;
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio- II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
recursos existentes na comunidade. IV - ser informado de sua situação processual, sempre
§ 2º A medida não comporta prazo determinado apli- que solicitada;
cando-se, no que couber, as disposições relativas à inter- V - ser tratado com respeito e dignidade;
nação. VI - permanecer internado na mesma localidade ou
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou res-
Seção VII ponsável;
Da Internação VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
Art. 121. A internação constitui medida privativa da IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio- asseio pessoal;
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- X - habitar alojamento em condições adequadas de
senvolvimento. higiene e salubridade;
§ 1º Será permitida a realização de atividades exter- XI - receber escolarização e profissionalização;
nas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expres- XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
sa determinação judicial em contrário. XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescen-
crença, e desde que assim o deseje; te a tratamento especializado;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor VII - advertência;
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante VIII - perda da guarda;
daqueles porventura depositados em poder da entidade; IX - destituição da tutela;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- X - suspensão ou destituição do poder familiar. (Ex-
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto
porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se nos arts. 23 e 24.
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida- Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
de aos interesses do adolescente. são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável,
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade físi- a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
ca e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
adequadas de contenção e segurança. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda,
a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a
Capítulo V criança ou o adolescente dependentes do agressor. (Incluí-
Da Remissão do pela Lei nº 12.415, de 2011)

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial Título V


para apuração de ato infracional, o representante do Mi- Do Conselho Tutelar
nistério Público poderá conceder a remissão, como forma Capítulo I
de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e Disposições Gerais
consequências do fato, ao contexto social, bem como à
personalidade do adolescente e sua maior ou menor par- Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
ticipação no ato infracional. autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a conces- de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
são da remissão pela autoridade judiciária importará na adolescente, definidos nesta Lei.
suspensão ou extinção do processo. Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad-
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas pela população local para mandato de 4 (quatro) anos,
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li- permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo
berdade e a internação. de escolha. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão po- Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
derá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
pedido expresso do adolescente ou de seu representante I - reconhecida idoneidade moral;
legal, ou do Ministério Público. II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no município.
Título IV Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o lo-
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável cal, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar,
inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros,
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon- aos quais é assegurado o direito a: (Redação dada pela Lei
sável: nº 12.696, de 2012)
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº
ou comunitários de proteção, apoio e promoção da famí- 12.696, de 2012)
lia; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicôma- pela Lei nº 12.696, de 2012)
nos; III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696,
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou de 2012)
psiquiátrico; IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696,
IV - encaminhamento a cursos ou programas de de 2012)
orientação; V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696,
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom- de 2012)
panhar sua frequência e aproveitamento escolar;

63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária munici- Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos neces- poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
sários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remune- quem tenha legítimo interesse.
ração e formação continuada dos conselheiros tutelares.
(Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) Capítulo III
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro Da Competência
constituirá serviço público relevante e estabelecerá pre-
sunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
12.696, de 2012) competência constante do art. 147.

Capítulo II Capítulo IV
Das Atribuições do Conselho Da Escolha dos Conselheiros
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Art. 139. O processo para a escolha dos membros
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
do Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previs-
realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal
tas no art. 101, I a VII;
dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli-
do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo 12.10.1991)
para tanto: § 1o O processo de escolha dos membros do Conse-
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
educação, serviço social, previdência, trabalho e seguran- nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
ça; mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presi-
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos dencial. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
de descumprimento injustificado de suas deliberações. § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
que constitua infração administrativa ou penal contra os (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
direitos da criança ou adolescente; § 3o No processo de escolha dos membros do Conse-
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua lho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer
competência; ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qual-
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida- quer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (Incluí-
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para do pela Lei nº 12.696, de 2012)
o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações; Capítulo V
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Dos Impedimentos
criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elabora- Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
ção da proposta orçamentária para planos e programas lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio
X - representar, em nome da pessoa e da família, con- e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso Parágrafo único. Estende-se o impedimento do con-
II, da Constituição Federal;
selheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
XI - representar ao Ministério Público para efeito das
judiciária e ao representante do Ministério Público com
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es-
atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício
gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou
na comarca, foro regional ou distrital.
do adolescente junto à família natural. (Redação dada pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru- Título VI
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para Do Acesso à Justiça
o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crian- Capítulo I
ças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) Disposições Gerais
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições,
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou ado-
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Minis- lescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
tério Público, prestando-lhe informações sobre os moti- Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
vos de tal entendimento e as providências tomadas para a § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
orientação, o apoio e a promoção social da família. (Incluí- que dela necessitarem, através de defensor público ou ad-
do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência vogado nomeado.

64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com-
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumen- petente para:
tos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. I - conhecer de representações promovidas pelo Mi-
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- nistério Público, para apuração de ato infracional atribuído
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na II - conceder a remissão, como forma de suspensão
forma da legislação civil ou processual. ou extinção do processo;
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado-
quando carecer de representação ou assistência legal ainda lescente, observado o disposto no art. 209;
que eventual. V - conhecer de ações decorrentes de irregularida-
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, poli- des em entidades de atendimento, aplicando as medidas
ciais e administrativos que digam respeito a crianças e ado-
cabíveis;
lescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato
infrações contra norma de proteção à criança ou adoles-
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-
cente;
se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentes-
co, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho
(Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado-
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
autoridade judiciária competente, se demonstrado o inte- Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
resse e justificada a finalidade. a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder fami-
Capítulo II liar, perda ou modificação da tutela ou guarda; (Expressão
Da Justiça da Infância e da Juventude substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Seção I c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca-
Disposições Gerais samento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar paterna ou materna, em relação ao exercício do poder fa-
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, miliar; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali- Vigência
dade por número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresenta-
Seção II ção de queixa ou representação, ou de outros procedi-
Do Juiz mentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses
de criança ou adolescente;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz g) conhecer de ações de alimentos;
da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa fun- h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri-
ção, na forma da lei de organização judiciária local.
mento dos registros de nascimento e óbito.
Art. 147. A competência será determinada:
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles-
I - a entrada e permanência de criança ou adolescen-
cente, à falta dos pais ou responsável.
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a te, desacompanhado dos pais ou responsável, em:
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as a) estádio, ginásio e campo desportivo;
regras de conexão, continência e prevenção. b) bailes ou promoções dançantes;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à c) boate ou congêneres;
autoridade competente da residência dos pais ou respon- d) casa que explore comercialmente diversões eletrô-
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a nicas;
criança ou adolescente. e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e tele-
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- visão.
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais II - a participação de criança e adolescente em:
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- a) espetáculos públicos e seus ensaios;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual b) certames de beleza.
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. judiciária levará em conta, dentre outros fatores:

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
a) os princípios desta Lei; Seção II
b) as peculiaridades locais; Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
c) a existência de instalações adequadas; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
d) o tipo de frequência habitual ao local; Vigência
e) a adequação do ambiente a eventual participação
ou frequência de crianças e adolescentes; Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
f) a natureza do espetáculo. do poder familiar terá início por provocação do Ministério
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar- Público ou de quem tenha legítimo interesse. (Expressão
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
determinações de caráter geral. Art. 156. A petição inicial indicará:
I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
Seção III II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência
Dos Serviços Auxiliares do requerente e do requerido, dispensada a qualificação
em se tratando de pedido formulado por representante do
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de Ministério Público;
sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten- III - a exposição sumária do fato e o pedido;
ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, des-
Justiça da Infância e da Juventude. de logo, o rol de testemunhas e documentos.
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autorida-
outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação de judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a sus-
local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou pensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até
verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver tra- o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou
balhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo
prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à de responsabilidade. (Expressão substituída pela Lei nº
autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do 12.010, de 2009) Vigência
ponto de vista técnico. Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de
dez dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a
Capítulo III serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de teste-
Dos Procedimentos munhas e documentos.
Seção I § 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos
Disposições Gerais os meios para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962,
de 2014)
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli- § 2o  O requerido privado de liberdade deverá ser ci-
cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na le- tado pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
gislação processual pertinente. Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
Parágrafo único. É assegurada, sob pena de respon- constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e
sabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos proces- de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
sos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res-
execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes. posta, contando-se o prazo a partir da intimação do des-
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pacho de nomeação.
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- Parágrafo  único. Na hipótese de requerido privado
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, de liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no mo-
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e orde- mento da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado
nar de ofício as providências necessárias, ouvido o Minis- defensor. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
tério Público. Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre-
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
de sua família de origem e em outros procedimentos ne- a requerimento das partes ou do Ministério Público.
cessariamente contenciosos. (Incluído pela Lei nº 12.010, Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autorida-
de 2009) Vigência de judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo
em igual prazo.
§ 1o A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri-
mento das partes ou do Ministério Público, determinará
a realização de estudo social ou perícia por equipe inter-
profissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de tes-
temunhas que comprovem a presença de uma das causas

66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
de suspensão ou destituição do poder familiar previstas Seção IV
nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de Da Colocação em Família Substituta
2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades in- de colocação em família substituta:
dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe I - qualificação completa do requerente e de seu even-
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste arti- tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
go, de representantes do órgão federal responsável pela te;
política indigenista, observado o disposto no § 6o do art. II - indicação de eventual parentesco do requerente e
28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
Vigência cente, especificando se tem ou não parente vivo;
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, III - qualificação completa da criança ou adolescente e
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da de seus pais, se conhecidos;
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
§ 4o É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
forem identificados e estiverem em local conhecido. (In- Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência se-ão também os requisitos específicos.
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda- Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido des-
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para tituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem
a oitiva. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) aderido expressamente ao pedido de colocação em famí-
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- lia substituta, este poderá ser formulado diretamente em
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
dias, salvo quando este for o requerente, designando, des- dispensada a assistência de advogado. (Redação dada pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de logo, audiência de instrução e julgamento.
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, esses serão
§ 1º A requerimento de qualquer das partes, do Minis-
ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do
tério Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá
Ministério Público, tomando-se por termo as declarações.
determinar a realização de estudo social ou, se possível, de
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
perícia por equipe interprofissional.
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
§ 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério
será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral-
pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por
ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevoga-
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o
bilidade da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
requerido e o Ministério Público, pelo tempo de vinte mi- Vigência
nutos cada um, prorrogável por mais dez. A decisão será § 3o O consentimento dos titulares do poder familiar
proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária, será colhido pela autoridade judiciária competente em
excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre
máximo de cinco dias. manifestação de vontade e esgotados os esforços para ma-
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedi- nutenção da criança ou do adolescente na família natural
mento será de 120 (cento e vinte) dias. (Redação dada pela ou extensa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o O consentimento prestado por escrito não terá
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou validade se não for ratificado na audiência a que se refere
a suspensão do poder familiar será averbada à margem o § 3o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
do registro de nascimento da criança ou do adolescente. Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 5o O consentimento é retratável até a data da publi-
cação da sentença constitutiva da adoção. (Incluído pela
Seção III Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Destituição da Tutela § 6o O consentimento somente terá valor se for dado
após o nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010,
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o de 2009) Vigência
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei pro- § 7o A família substituta receberá a devida orientação
cessual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior. por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço
do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos téc-
nicos responsáveis pela execução da política municipal de
garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- III - requisitar os exames ou perícias necessários à
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará comprovação da materialidade e autoria da infração.
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o ocorrência circunstanciada.
estágio de convivência. Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda sável, o adolescente será prontamente liberado pela auto-
provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o ridade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
adolescente será entregue ao interessado, mediante ter- dade de sua apresentação ao representante do Ministério
mo de responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
2009) Vigência dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o ado- permanecer sob internação para garantia de sua seguran-
lescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, ça pessoal ou manutenção da ordem pública.
pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade po-
em igual prazo. licial encaminhará, desde logo, o adolescente ao repre-
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tu- sentante do Ministério Público, juntamente com cópia do
tela, a perda ou a suspensão do poder familiar constituir auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
pressuposto lógico da medida principal de colocação em § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
família substituta, será observado o procedimento contra- toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
ditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo. (Expres- atendimento, que fará a apresentação ao representante do
são substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimen- atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
to, observado o disposto no art. 35.
licial. À falta de repartição policial especializada, o ado-
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-
lescente aguardará a apresentação em dependência sepa-
se-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido
rada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer
no art. 47.
hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
Parágrafo único. A colocação de criança ou adoles-
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
cente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de
policial encaminhará imediatamente ao representante do
acolhimento familiar será comunicada pela autoridade ju-
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim
diciária à entidade por este responsável no prazo máximo
de ocorrência.
de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
Vigência
indícios de participação de adolescente na prática de ato
Seção V infracional, a autoridade policial encaminhará ao represen-
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a tante do Ministério Público relatório das investigações e
Adolescente demais documentos.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade em compartimento fechado de veículo policial, em condi-
judiciária. ções atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de à sua integridade física ou mental, sob pena de responsa-
ato infracional será, desde logo, encaminhado à autorida- bilidade.
de policial competente. Art. 179. Apresentado o adolescente, o representan-
Parágrafo único. Havendo repartição policial especia- te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto
lizada para atendimento de adolescente e em se tratan- de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial,
do de ato infracional praticado em co-autoria com maior, devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor-
prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá
após as providências necessárias e conforme o caso, enca- imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo pos-
minhará o adulto à repartição policial própria. sível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co- Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o
metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a representante do Ministério Público notificará os pais ou
autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, responsável para apresentação do adolescente, podendo
parágrafo único, e 107, deverá: requisitar o concurso das polícias civil e militar.
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas Art. 180. Adotadas as providências a que alude o arti-
e o adolescente; go anterior, o representante do Ministério Público poderá:
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
I - promover o arquivamento dos autos; § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o ado-
II - conceder a remissão; lescente aguardará sua remoção em repartição policial,
III - representar à autoridade judiciária para aplicação desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
de medida sócio-educativa. apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou cinco dias, sob pena de responsabilidade.
concedida a remissão pelo representante do Ministério Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
Público, mediante termo fundamentado, que conterá o responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade mesmos, podendo solicitar opinião de profissional quali-
judiciária para homologação. ficado.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
cumprimento da medida. proferindo decisão.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de me-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- dida de internação ou colocação em regime de semi-li-
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- berdade, a autoridade judiciária, verificando que o adoles-
signará outro membro do Ministério Público para apresen- cente não possui advogado constituído, nomeará defen-
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só sor, designando, desde logo, audiência em continuação,
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. podendo determinar a realização de diligências e estudo
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do do caso.
Ministério Público não promover o arquivamento ou con- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
judiciária, propondo a instauração de procedimento para ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as tes-
mais adequada. temunhas arroladas na representação e na defesa prévia,
§ 1º A representação será oferecida por petição, que cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato interprofissional, será dada a palavra ao representante do
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo
podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária insta- tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
lada pela autoridade judiciária. mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em segui-
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- da proferirá decisão.
tuída da autoria e materialidade. Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- não comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado sentação, a autoridade judiciária designará nova data, de-
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. terminando sua condução coercitiva.
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade ju- Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
diciária designará audiência de apresentação do adoles- pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
cente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou ma- do procedimento, antes da sentença.
nutenção da internação, observado o disposto no art. 108 Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
e parágrafo. medida, desde que reconheça na sentença:
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão I - estar provada a inexistência do fato;
cientificados do teor da representação, e notificados a II - não haver prova da existência do fato;
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. III - não constituir o fato ato infracional;
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
a autoridade judiciária dará curador especial ao adoles- para o ato infracional.
cente. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade adolescente internado, será imediatamente colocado em
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter- liberdade.
minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen- Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida
tação. de internação ou regime de semi-liberdade será feita:
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada I - ao adolescente e ao seu defensor;
a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais II - quando não for encontrado o adolescente, a seus
ou responsável. pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au- § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-
toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabele- se-á unicamente na pessoa do defensor.
cimento prisional. § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac- deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen-
terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser tença.
imediatamente transferido para a localidade mais próxima.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Seção V-A Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) sua identidade para, por meio da internet, colher indícios
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi- de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.
gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
e de Adolescente” 154-A,217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- Lei nº 13.441, de 2017)
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. de observar a estrita finalidade da investigação responde-
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, rá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às de 2017)
seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
I – será precedida de autorização judicial devidamente
procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi-
as informações necessárias à efetividade da identidade fic-
tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis-
tícia criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
tério Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- esta Seção será numerado e tombado em livro específico.
blico ou representação de delegado de polícia e conterá a (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga- eletrônicos praticados durante a operação deverão ser re-
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais gistrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz
que permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído e ao Ministério Público, juntamente com relatório circuns-
pela Lei nº 13.441, de 2017) tanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados ci-
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total tados no caput deste artigo serão reunidos em autos
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- apartados e apensados ao processo criminal juntamente
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade ju- com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da
dicial. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- crianças e dos adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração nº 13.441, de 2017)
antes do término do prazo de que trata o inciso II do §
1º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Seção VI
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º des- Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
te artigo, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de Atendimento
2017)
I – dados de conexão: informações referentes a hora, Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de dades em entidade governamental e não-governamental
Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) representação do Ministério Público ou do Conselho Tute-
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e lar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten-
toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identifica-
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en-
ção de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído
tidade, mediante decisão fundamentada.
no momento da conexão. 
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
§ 3º  A infiltração de agentes de polícia na internet prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun-
não será admitida se a prova puder ser obtida por outros tar documentos e indicar as provas a produzir.
meios. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
 Art. 190-B. As informações da operação de infiltração cessário, a autoridade judiciária designará audiência de
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela instrução e julgamento, intimando as partes.
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
pela Lei nº 13.441, de 2017) Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú- § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
blico e ao delegado de polícia responsável pela operação, finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto-
com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. (In- ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime-
cluído pela Lei nº 13.441, de 2017) diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
substituição.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a auto- Seção VIII
ridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o pro- Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
cesso será extinto, sem julgamento de mérito.
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao diri- Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
gente da entidade ou programa de atendimento. Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Seção VII I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010,
Da Apuração de Infração Administrativa às Nor- de 2009) Vigência
mas de Proteção à Criança e ao Adolescente II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Art. 194. O procedimento para imposição de penali- III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
dade administrativa por infração às normas de proteção casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
à criança e ao adolescente terá início por representação tável; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário cre- dastro de Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
denciado, e assinado por duas testemunhas, se possível. 2009) Vigência
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infra- V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela
ção, poderão ser usadas fórmulas impressas, especifican- Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do-se a natureza e as circunstâncias da infração. VI - atestados de sanidade física e mental; (Incluído
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
seguir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela
contrário, dos motivos do retardamento. Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído
apresentação de defesa, contado da data da intimação, pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
que será feita: Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
lavrado na presença do requerido; Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
habilitado, que entregará cópia do auto ou da represen- I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi-
tação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc-
certidão; nico a que se refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
for encontrado o requerido ou seu representante legal; II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou postulantes em juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu represen- 12.010, de 2009) Vigência
tante legal. III - requerer a juntada de documentos complementa-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo res e a realização de outras diligências que entender ne-
legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Mi- cessárias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
nistério Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi-
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que
necessário, designará audiência de instrução e julgamen- conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
to. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência preparo dos postulantes para o exercício de uma paterni-
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se dade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e
-ão sucessivamente o Ministério Público e o procurador princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, Vigência
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciá- § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
ria, que em seguida proferirá sentença. programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juven-
tude preferencialmente com apoio dos técnicos respon-
sáveis pela execução da política municipal de garantia do
direito à convivência familiar, que inclua preparação psi-
cológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de
crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de
irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo in- V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cluirá o contato com crianças e adolescentes em regime VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de acolhimento familiar ou institucional em condições de VII - antes de determinar a remessa dos autos à supe-
serem adotados, a ser realizado sob a orientação, super- rior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no
visão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no
pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e prazo de cinco dias;
pela execução da política municipal de garantia do direi- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
to à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instân-
2009) Vigência cia dentro de vinte e quatro horas, independentemente de
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da parti- novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos
cipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a au- autos dependerá de pedido expresso da parte interessada
toridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério da intimação.
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no
designando, conforme o caso, audiência de instrução e art. 149 caberá recurso de apelação.
julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligên- efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será
cias, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se
determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de
seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cin- dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando. (In-
co) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual-
12.010, de 2009) Vigência
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apela-
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será
ção, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
a sua convocação para a adoção feita de acordo com or-
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção
dem cronológica de habilitação e conforme a disponibili-
e de destituição de poder familiar, em face da relevância
dade de crianças ou adolescentes adotáveis. (Incluído pela
das questões, serão processados com prioridade absoluta,
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente
que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribui-
poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária
ção, e serão colocados em mesa para julgamento sem re-
nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quan- visão e com parecer urgente do Ministério Público. (Incluí-
do comprovado ser essa a melhor solução no interesse do do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em
§ 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessen-
adolescentes indicados importará na reavaliação da habi- ta) dias, contado da sua conclusão. (Incluído pela Lei nº
litação concedida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) 12.010, de 2009) Vigência
Vigência Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
data do julgamento e poderá na sessão, se entender ne-
Capítulo IV cessário, apresentar oralmente seu parecer. (Incluído pela
Dos Recursos Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a ins-
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infân- tauração de procedimento para apuração de responsabili-
cia e da Juventude, inclusive os relativos à execução das dades se constatar o descumprimento das providências e
medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal do prazo previstos nos artigos anteriores. (Incluído pela Lei
da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Pro- nº 12.010, de 2009) Vigência
cesso Civil), com as seguintes adaptações: (Redação dada
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Capítulo V
I - os recursos serão interpostos independentemente Do Ministério Público
de preparo;
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de- Art. 200. As funções do Ministério Público previstas
claração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei or-
será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº gânica.
12.594, de 2012) (Vide) Art. 201. Compete ao Ministério Público:
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis- I - conceder a remissão como forma de exclusão do
pensarão revisor; processo;

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
II - promover e acompanhar os procedimentos relati- § 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
vos às infrações atribuídas a adolescentes; cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
III - promover e acompanhar as ações de alimentos Ministério Público.
e os procedimentos de suspensão e destituição do po- § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
der familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
e guardiães, bem como oficiar em todos os demais pro- encontre criança ou adolescente.
cedimentos da competência da Justiça da Infância e da § 4º O representante do Ministério Público será res-
Juventude; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de ponsável pelo uso indevido das informações e documen-
2009) Vigência tos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte- § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer Público:
administradores de bens de crianças e adolescentes nas a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
hipóteses do art. 98; taurando o competente procedimento, sob sua presidên-
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública cia;
para a proteção dos interesses individuais, difusos ou co- b) entender-se diretamente com a pessoa ou autori-
letivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os dade reclamada, em dia, local e horário previamente noti-
definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; ficados ou acertados;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
instruí-los: viços públicos e de relevância pública afetos à criança e
a) expedir notificações para colher depoimentos ou ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento in- adequação.
justificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
polícia civil ou militar;
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
b) requisitar informações, exames, perícias e docu-
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hi-
mentos de autoridades municipais, estaduais e federais,
pótese em que terá vista dos autos depois das partes, po-
da administração direta ou indireta, bem como promover
dendo juntar documentos e requerer diligências, usando
inspeções e diligências investigatórias;
os recursos cabíveis.
c) requisitar informações e documentos a particulares
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual-
e instituições privadas;
quer caso, será feita pessoalmente.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências in-
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
vestigatórias e determinar a instauração de inquérito po-
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
licial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de
proteção à infância e à juventude; pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garan- Art. 205. As manifestações processuais do represen-
tias legais assegurados às crianças e adolescentes, promo- tante do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
vendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e Capítulo VI
habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, Do Advogado
na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
afetos à criança e ao adolescente; Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
X - representar ao juízo visando à aplicação de pena- ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
lidade por infrações cometidas contra as normas de prote- na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de
ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da que trata esta Lei, através de advogado, o qual será inti-
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; mado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares oficial, respeitado o segredo de justiça.
de atendimento e os programas de que trata esta Lei, ado- Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária
tando de pronto as medidas administrativas ou judiciais integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
necessárias à remoção de irregularidades porventura ve- Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a
rificadas; prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido,
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração será processado sem defensor.
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as- § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á
sistência social, públicos ou privados, para o desempenho nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
de suas atribuições. constituir outro de sua preferência.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações § 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz no-
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e mear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só
esta Lei. efeito do ato.

73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor-
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da rentemente:
autoridade judiciária. I - o Ministério Público;
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fe-
Capítulo VII deral e os territórios;
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, III - as associações legalmente constituídas há pelo
Difusos e Coletivos menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais
a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei,
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia
ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegu- autorização estatutária.
rados à criança e ao adolescente, referentes ao não ofere- § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os
cimento ou oferta irregular: (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
Vigência interesses e direitos de que cuida esta Lei.
I - do ensino obrigatório; § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação
II - de atendimento educacional especializado aos por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
portadores de deficiência; legitimado poderá assumir a titularidade ativa.
III – de atendimento em creche e pré-escola às crian- Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to-
ças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei mar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
nº 13.306, de 2016) conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título
IV - de ensino noturno regular, adequado às condi- executivo extrajudicial.
ções do educando; Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses prote-
V - de programas suplementares de oferta de material gidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu- ações pertinentes.
cando do ensino fundamental; § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
VI - de serviço de assistência social visando à prote- normas do Código de Processo Civil.
ção à família, à maternidade, à infância e à adolescência, § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade
bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-
necessitem;
buições do poder público, que lesem direito líquido e cer-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
to previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
centes privados de liberdade.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen-
IX - de ações, serviços e programas de orientação,
to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a
apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno
tutela específica da obrigação ou determinará providên-
exercício do direito à convivência familiar por crianças e
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adolescentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigên-
adimplemento.
cia
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e
X - de programas de atendimento para a execução das
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de pro- havendo justificado receio de ineficácia do provimento fi-
teção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) nal, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem justificação prévia, citando o réu.
da proteção judicial outros interesses individuais, difusos § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, pro- ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente-
tegidos pela Constituição e pela Lei. (Renumerado do Pa- mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
rágrafo único pela Lei nº 11.259, de 2005) com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri-
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças mento do preceito.
ou adolescentes será realizada imediatamente após noti- § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida
o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa- desde o dia em que se houver configurado o descumpri-
nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne- mento.
cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo
desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005) gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adoles-
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro- cente do respectivo município.
postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de
para processar a causa, ressalvadas a competência da Jus- execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
tiça Federal e a competência originária dos tribunais su- autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
periores.

74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
crédito, em conta com correção monetária. Público, conforme dispuser o seu regimento.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
recursos, para evitar dano irreparável à parte. promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impu- órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
ser condenação ao poder público, o juiz determinará a re- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
messa de peças à autoridade competente, para apuração as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
da responsabilidade civil e administrativa do agente a que
se atribua a ação ou omissão.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em jul-
LEI FEDERAL N.º 8.742, DE 07.12.93 –
gado da sentença condenatória sem que a associação au-
LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL.
tora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi- LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993.
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá
pretensão é manifestamente infundada. outras providências.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
sociação autora e os diretores responsáveis pela proposi- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o
tura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas
e danos. LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
CAPÍTULO I
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
Das Definições e dos Objetivos
periciais e quaisquer outras despesas.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, pres-
do Estado, é Política de Seguridade Social não contribu-
tando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto
tiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de
de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam en-
sejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Mi- básicas.
nistério Público para as providências cabíveis. Art. 2o A assistência social tem por objetivos: (Redação
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
poderá requerer às autoridades competentes as certidões I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à re-
e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas dução de danos e à prevenção da incidência de riscos, es-
no prazo de quinze dias. pecialmente: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à
sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer adolescência e à velhice;  (Incluído pela Lei nº 12.435, de
pessoa, organismo público ou particular, certidões, infor- 2011)
mações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual b) o amparo às crianças e aos adolescentes caren-
não poderá ser inferior a dez dias úteis. tes; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas to- c) a promoção da integração ao mercado de traba-
das as diligências, se convencer da inexistência de fun- lho; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
damento para a propositura da ação cível, promoverá o d) a habilitação e reabilitação das pessoas com defi-
arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças ciência e a promoção de sua integração à vida comunitá-
informativas, fazendo-o fundamentadamente. ria; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de in- e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício
formação arquivados serão remetidos, sob pena de se in- mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que compro-
correr em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho vem não possuir meios de prover a própria manutenção
Superior do Ministério Público. ou de tê-la provida por sua família;  (Incluído pela Lei nº
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promo- 12.435, de 2011)
ção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar ter-
do Ministério público, poderão as associações legitima- ritorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a
das apresentar razões escritas ou documentos, que serão ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimiza-
juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de ções e danos; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
informação.

75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia
acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassis- e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem
tenciais. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) como à convivência familiar e comunitária, vedando-se
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a qualquer comprovação vexatória de necessidade;
assistência social realiza-se de forma integrada às políti- IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento,
cas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se
condições para atender contingências sociais e promoven- equivalência às populações urbanas e rurais;
do a universalização dos direitos sociais.  (Redação dada V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, pro-
pela Lei nº 12.435, de 2011) gramas e projetos assistenciais, bem como dos recursos
Art. 3o Consideram-se entidades e organizações de as- oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua con-
sistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada ou cessão.
cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento
aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as SEÇÃO II
que atuam na defesa e garantia de direitos. (Redação dada Das Diretrizes
pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 1o São de atendimento aquelas entidades que, de Art. 5º A organização da assistência social tem como
forma continuada, permanente e planejada, prestam ser- base as seguintes diretrizes:
viços, executam programas ou projetos e concedem bene- I - descentralização político-administrativa para os Es-
fícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às tados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único
famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade ou das ações em cada esfera de governo;
risco social e pessoal, nos termos desta Lei, e respeitadas II - participação da população, por meio de organi-
as deliberações do Conselho Nacional de Assistência So- zações representativas, na formulação das políticas e no
cial (CNAS), de que tratam os incisos I e II do art. 18. (In- controle das ações em todos os níveis;
cluído pela Lei nº 12.435, de 2011) III - primazia da responsabilidade do Estado na con-
dução da política de assistência social em cada esfera de
§ 2o São de assessoramento aquelas que, de forma
governo.
continuada, permanente e planejada, prestam serviços e
executam programas ou projetos voltados prioritariamen-
CAPÍTULO III
te para o fortalecimento dos movimentos sociais e das
Da Organização e da Gestão
organizações de usuários, formação e capacitação de li-
deranças, dirigidos ao público da política de assistência
Art. 6o A gestão das ações na área de assistência social
social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações
fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e
do CNAS, de que tratam os incisos I e II do art. 18. (Incluí-
participativo, denominado Sistema Único de Assistência
do pela Lei nº 12.435, de 2011) Social (Suas), com os seguintes objetivos: (Redação dada
§ 3o São de defesa e garantia de direitos aquelas que, pela Lei nº 12.435, de 2011)
de forma continuada, permanente e planejada, prestam I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinancia-
serviços e executam programas e projetos voltados prio- mento e a cooperação técnica entre os entes federativos
ritariamente para a defesa e efetivação dos direitos so- que, de modo articulado, operam a proteção social não
cioassistenciais, construção de novos direitos, promoção contributiva; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, II - integrar a rede pública e privada de serviços, pro-
articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, gramas, projetos e benefícios de assistência social, na for-
dirigidos ao público da política de assistência social, nos ma do art. 6o-C; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, III - estabelecer as responsabilidades dos entes federa-
de que tratam os incisos I e II do art. 18. (Incluído pela Lei tivos na organização, regulação, manutenção e expansão
nº 12.435, de 2011) das ações de assistência social;
IV - definir os níveis de gestão, respeitadas as diversi-
CAPÍTULO II dades regionais e municipais; (Incluído pela Lei nº 12.435,
Dos Princípios e das Diretrizes de 2011)
SEÇÃO I V - implementar a gestão do trabalho e a educação
Dos Princípios permanente na assistência social;  (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes VI - estabelecer a gestão integrada de serviços e bene-
princípios: fícios; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
I - supremacia do atendimento às necessidades so- VII - afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia
ciais sobre as exigências de rentabilidade econômica; de direitos. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar § 1o As ações ofertadas no âmbito do Suas têm por
o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à
políticas públicas; adolescência e à velhice e, como base de organização, o
território.(Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)

76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 2o O Suas é integrado pelos entes federativos, pelos § 4o O cumprimento do disposto no § 3o será informa-
respectivos conselhos de assistência social e pelas entida- do ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
des e organizações de assistência social abrangidas por Fome pelo órgão gestor local da assistência social. (Incluí-
esta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) do pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 3o A instância coordenadora da Política Nacional de Art. 6o-C. As proteções sociais, básica e especial, se-
Assistência Social é o Ministério do Desenvolvimento So- rão ofertadas precipuamente no Centro de Referência de
cial e Combate à Fome.  (Incluído pela Lei nº 12.435, de Assistência Social (Cras) e no Centro de Referência Espe-
2011) cializado de Assistência Social (Creas), respectivamente, e
Art. 6o-A. A assistência social organiza-se pelos se- pelas entidades sem fins lucrativos de assistência social de
guintes tipos de proteção: (Incluído pela Lei nº 12.435, de que trata o art. 3o desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.435,
2011) de 2011)
I - proteção social básica: conjunto de serviços, pro- § 1o O Cras é a unidade pública municipal, de base
gramas, projetos e benefícios da assistência social que visa territorial, localizada em áreas com maiores índices de vul-
a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por nerabilidade e risco social, destinada à articulação dos ser-
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições viços socioassistenciais no seu território de abrangência e
e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitá- à prestação de serviços, programas e projetos socioassis-
rios; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) tenciais de proteção social básica às famílias. (Incluído pela
II - proteção social especial: conjunto de serviços, pro- Lei nº 12.435, de 2011)
gramas e projetos que tem por objetivo contribuir para § 2o O Creas é a unidade pública de abrangência e ges-
a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a tão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação
defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em
aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o en- situação de risco pessoal ou social, por violação de direi-
frentamento das situações de violação de direitos. (Incluí- tos ou contingência, que demandam intervenções espe-
do pela Lei nº 12.435, de 2011) cializadas da proteção social especial. (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. A vigilância socioassistencial é um 12.435, de 2011)
dos instrumentos das proteções da assistência social que § 3o Os Cras e os Creas são unidades públicas esta-
identifica e previne as situações de risco e vulnerabilida- tais instituídas no âmbito do Suas, que possuem interface
de social e seus agravos no território. (Incluído pela Lei nº com as demais políticas públicas e articulam, coordenam
12.435, de 2011) e ofertam os serviços, programas, projetos e benefícios da
Art. 6o-B. As proteções sociais básica e especial serão assistência social. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
ofertadas pela rede socioassistencial, de forma integrada, Art. 6o-D. As instalações dos Cras e dos Creas devem
diretamente pelos entes públicos e/ou pelas entidades e ser compatíveis com os serviços neles ofertados, com es-
organizações de assistência social vinculadas ao Suas, res- paços para trabalhos em grupo e ambientes específicos
peitadas as especificidades de cada ação. (Incluído pela Lei para recepção e atendimento reservado das famílias e in-
nº 12.435, de 2011) divíduos, assegurada a acessibilidade às pessoas idosas e
§ 1o A vinculação ao Suas é o reconhecimento pelo com deficiência. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Art. 6o-E. Os recursos do cofinanciamento do Suas,
de que a entidade de assistência social integra a rede so- destinados à execução das ações continuadas de assis-
cioassistencial. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) tência social, poderão ser aplicados no pagamento dos
§ 2o Para o reconhecimento referido no § 1o, a entidade profissionais que integrarem as equipes de referência,
deverá cumprir os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei responsáveis pela organização e oferta daquelas ações,
nº 12.435, de 2011) conforme percentual apresentado pelo Ministério do De-
I - constituir-se em conformidade com o disposto no senvolvimento Social e Combate à Fome e aprovado pelo
art. 3o; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) CNAS. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
II - inscrever-se em Conselho Municipal ou do Distrito Parágrafo único. A formação das equipes de referên-
Federal, na forma do art. 9o; (Incluído pela Lei nº 12.435, cia deverá considerar o número de famílias e indivíduos
de 2011) referenciados, os tipos e modalidades de atendimento e
III - integrar o sistema de cadastro de entidades de as aquisições que devem ser garantidas aos usuários, con-
que trata o inciso XI do art. 19. (Incluído pela Lei nº 12.435, forme deliberações do CNAS. (Incluído pela Lei nº 12.435,
de 2011) de 2011)
§ 3o As entidades e organizações de assistência social Art. 7º As ações de assistência social, no âmbito das
vinculadas ao Suas celebrarão convênios, contratos, acor- entidades e organizações de assistência social, observarão
dos ou ajustes com o poder público para a execução, ga- as normas expedidas pelo Conselho Nacional de Assistên-
rantido financiamento integral, pelo Estado, de serviços, cia Social (CNAS), de que trata o art. 17 desta lei.
programas, projetos e ações de assistência social, nos limi- Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
tes da capacidade instalada, aos beneficiários abrangidos Municípios, observados os princípios e diretrizes estabe-
por esta Lei, observando-se as disponibilidades orçamen- lecidos nesta lei, fixarão suas respectivas Políticas de As-
tárias. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) sistência Social.

77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Art. 9º O funcionamento das entidades e organiza- II - incentivar a obtenção de resultados qualitativos na
ções de assistência social depende de prévia inscrição no gestão estadual, municipal e do Distrito Federal do Suas;
respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
Conselho de Assistência Social do Distrito Federal, confor- III - calcular o montante de recursos a serem repas-
me o caso. sados aos entes federados a título de apoio financeiro à
§ 1º A regulamentação desta lei definirá os critérios de gestão do Suas. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
inscrição e funcionamento das entidades com atuação em § 1o Os resultados alcançados pelo ente federado na
mais de um município no mesmo Estado, ou em mais de gestão do Suas, aferidos na forma de regulamento, serão
um Estado ou Distrito Federal. considerados como prestação de contas dos recursos a se-
§ 2º Cabe ao Conselho Municipal de Assistência Social rem transferidos a título de apoio financeiro. (Incluído pela
e ao Conselho de Assistência Social do Distrito Federal a Lei nº 12.435, de 2011)
fiscalização das entidades referidas no caput na forma pre- § 2o As transferências para apoio à gestão descentra-
vista em lei ou regulamento. lizada do Suas adotarão a sistemática do Índice de Ges-
§ 3º (Revogado pela Lei nº 12.101, de 2009) tão Descentralizada do Programa Bolsa Família, previsto
§ 4º As entidades e organizações de assistência social no art. 8o da Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e serão
podem, para defesa de seus direitos referentes à inscrição efetivadas por meio de procedimento integrado àquele ín-
e ao funcionamento, recorrer aos Conselhos Nacional, Es- dice. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
taduais, Municipais e do Distrito Federal. § 3o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
Art. 10. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito § 4o Para fins de fortalecimento dos Conselhos de As-
Federal podem celebrar convênios com entidades e orga- sistência Social dos Estados, Municípios e Distrito Federal,
nizações de assistência social, em conformidade com os percentual dos recursos transferidos deverá ser gasto com
Planos aprovados pelos respectivos Conselhos. atividades de apoio técnico e operacional àqueles colegia-
Art. 11. As ações das três esferas de governo na área dos, na forma fixada pelo Ministério do Desenvolvimento
de assistência social realizam-se de forma articulada, ca- Social e Combate à Fome, sendo vedada a utilização dos
recursos para pagamento de pessoal efetivo e de gratifi-
bendo a coordenação e as normas gerais à esfera fede-
cações de qualquer natureza a servidor público estadual,
ral e a coordenação e execução dos programas, em suas
municipal ou do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº
respectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
12.435, de 2011)
Municípios.
Art. 13. Compete aos Estados:
Art. 12. Compete à União:
I - destinar recursos financeiros aos Municípios, a tí-
I - responder pela concessão e manutenção dos be-
tulo de participação no custeio do pagamento dos bene-
nefícios de prestação continuada definidos no art. 203 da
fícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critérios
Constituição Federal;
estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência
II - cofinanciar, por meio de transferência automática,
Social; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e II - cofinanciar, por meio de transferência automática,
os projetos de assistência social em âmbito nacional; (Re- o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e
dação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) os projetos de assistência social em âmbito regional ou
III - atender, em conjunto com os Estados, o Distrito local; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
Federal e os Municípios, às ações assistenciais de caráter III - atender, em conjunto com os Municípios, às ações
de emergência. assistenciais de caráter de emergência;
IV - realizar o monitoramento e a avaliação da política IV - estimular e apoiar técnica e financeiramente as
de assistência social e assessorar Estados, Distrito Federal associações e consórcios municipais na prestação de ser-
e Municípios para seu desenvolvimento. (Incluído pela Lei viços de assistência social;
nº 12.435, de 2011) V - prestar os serviços assistenciais cujos custos ou
Art. 12-A. A União apoiará financeiramente o aprimo- ausência de demanda municipal justifiquem uma rede re-
ramento à gestão descentralizada dos serviços, progra- gional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respec-
mas, projetos e benefícios de assistência social, por meio tivo Estado.
do Índice de Gestão Descentralizada (IGD) do Sistema Úni- VI - realizar o monitoramento e a avaliação da política
co de Assistência Social (Suas), para a utilização no âmbito de assistência social e assessorar os Municípios para seu
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, desti- desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
nado, sem prejuízo de outras ações a serem definidas em Art. 14. Compete ao Distrito Federal:
regulamento, a: (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) I - destinar recursos financeiros para custeio do pa-
I - medir os resultados da gestão descentralizada do gamento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22,
Suas, com base na atuação do gestor estadual, municipal mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos de As-
e do Distrito Federal na implementação, execução e moni- sistência Social do Distrito Federal; (Redação dada pela Lei
toramento dos serviços, programas, projetos e benefícios nº 12.435, de 2011)
de assistência social, bem como na articulação interseto- II - efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e fu-
rial; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) neral;

78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social

III - executar os projetos de enfrentamento da pobre- § 1º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)
za, incluindo a parceria com organizações da sociedade é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos su-
civil; plentes, cujos nomes são indicados ao órgão da Adminis-
IV - atender às ações assistenciais de caráter de emer- tração Pública Federal responsável pela coordenação da
gência; Política Nacional de Assistência Social, de acordo com os
V - prestar os serviços assistenciais de que trata o art. critérios seguintes:
23 desta lei. I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo
VI - cofinanciar o aprimoramento da gestão, os servi- 1 (um) representante dos Estados e 1 (um) dos Municípios;
ços, os programas e os projetos de assistência social em II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre
âmbito local; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) representantes dos usuários ou de organizações de usuá-
VII - realizar o monitoramento e a avaliação da política rios, das entidades e organizações de assistência social e
de assistência social em seu âmbito. (Incluído pela Lei nº dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio
12.435, de 2011) sob fiscalização do Ministério Público Federal.
Art. 15. Compete aos Municípios: § 2º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)
I - destinar recursos financeiros para custeio do paga- é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus
mento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22, me- membros, para mandato de 1 (um) ano, permitida uma
diante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais única recondução por igual período.
de Assistência Social;  (Redação dada pela Lei nº 12.435, § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)
de 2011) contará com uma Secretaria Executiva, a qual terá sua es-
II - efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e fu- trutura disciplinada em ato do Poder Executivo.
neral; § 4o Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV
III - executar os projetos de enfrentamento da pobre- do art. 16, com competência para acompanhar a execução
za, incluindo a parceria com organizações da sociedade da política de assistência social, apreciar e aprovar a pro-
civil; posta orçamentária, em consonância com as diretrizes das
IV - atender às ações assistenciais de caráter de emer- conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de
gência; acordo com seu âmbito de atuação, deverão ser instituí-
V - prestar os serviços assistenciais de que trata o art. dos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal
23 desta lei. e pelos Municípios, mediante lei específica. (Redação dada
VI - cofinanciar o aprimoramento da gestão, os servi- pela Lei nº 12.435, de 2011)
ços, os programas e os projetos de assistência social em Art. 18. Compete ao Conselho Nacional de Assistência
âmbito local; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) Social:
VII - realizar o monitoramento e a avaliação da política I - aprovar a Política Nacional de Assistência Social;
de assistência social em seu âmbito. (Incluído pela Lei nº II - normatizar as ações e regular a prestação de servi-
12.435, de 2011) ços de natureza pública e privada no campo da assistência
Art. 16. As instâncias deliberativas do Suas, de caráter social;
permanente e composição paritária entre governo e socie- III - acompanhar e fiscalizar o processo de certifica-
dade civil, são: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) ção das entidades e organizações de assistência social
I - o Conselho Nacional de Assistência Social; no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
II - os Conselhos Estaduais de Assistência Social; Fome; (Redação dada pela Lei nº 12.101, de 2009)
III - o Conselho de Assistência Social do Distrito Fe- IV - apreciar relatório anual que conterá a relação de
deral; entidades e organizações de assistência social certificadas
IV - os Conselhos Municipais de Assistência Social. como beneficentes e encaminhá-lo para conhecimento
Parágrafo único. Os Conselhos de Assistência Social dos Conselhos de Assistência Social dos Estados, Muni-
estão vinculados ao órgão gestor de assistência social, cípios e do Distrito Federal;  (Redação dada pela Lei nº
que deve prover a infraestrutura necessária ao seu fun- 12.101, de 2009)
cionamento, garantindo recursos materiais, humanos e fi- V - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e
nanceiros, inclusive com despesas referentes a passagens participativo de assistência social;
e diárias de conselheiros representantes do governo ou VI - a partir da realização da II Conferência Nacional
da sociedade civil, quando estiverem no exercício de suas de Assistência Social em 1997, convocar ordinariamente a
atribuições. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) cada quatro anos a Conferência Nacional de Assistência
Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assis- Social, que terá a atribuição de avaliar a situação da assis-
tência Social (CNAS), órgão superior de deliberação cole- tência social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento
giada, vinculado à estrutura do órgão da Administração do sistema; (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 26.4.1991)
Pública Federal responsável pela coordenação da Política VII - (Vetado.)
Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados VIII - apreciar e aprovar a proposta orçamentária da
pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Ad-
anos, permitida uma única recondução por igual período. ministração Pública Federal responsável pela coordenação
da Política Nacional de Assistência Social;

79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
IX - aprovar critérios de transferência de recursos para XII - articular-se com os órgãos responsáveis pelas
os Estados, Municípios e Distrito Federal, considerando, políticas de saúde e previdência social, bem como com os
para tanto, indicadores que informem sua regionalização demais responsáveis pelas políticas sócio-econômicas se-
mais eqüitativa, tais como: população, renda per capita, toriais, visando à elevação do patamar mínimo de atendi-
mortalidade infantil e concentração de renda, além de dis- mento às necessidades básicas;
ciplinar os procedimentos de repasse de recursos para as XIII - expedir os atos normativos necessários à gestão
entidades e organizações de assistência social, sem pre- do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), de acordo
juízo das disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias; com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de
X - acompanhar e avaliar a gestão dos recursos, bem Assistência Social (CNAS);
como os ganhos sociais e o desempenho dos programas e XIV - elaborar e submeter ao Conselho Nacional de
projetos aprovados; Assistência Social (CNAS) os programas anuais e pluria-
XI - estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os pro- nuais de aplicação dos recursos do Fundo Nacional de As-
gramas anuais e plurianuais do Fundo Nacional de Assis- sistência Social (FNAS).
tência Social (FNAS);
XII - indicar o representante do Conselho Nacional de CAPÍTULO IV
Assistência Social (CNAS) junto ao Conselho Nacional da Dos Benefícios, dos Serviços, dos Programas e dos
Seguridade Social; Projetos de Assistência Social
XIII - elaborar e aprovar seu regimento interno; SEÇÃO I
XIV - divulgar, no Diário Oficial da União, todas as Do Benefício de Prestação Continuada
suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de
Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emi- Art. 20. O benefício de prestação continuada é a ga-
tidos. rantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com defi-
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 12.101, de ciência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais
2009) que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família. (Reda-
Art. 19. Compete ao órgão da Administração Pública
ção dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
Federal responsável pela coordenação da Política Nacional
§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é
de Assistência Social:
composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os
I - coordenar e articular as ações no campo da assis-
pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto,
tência social;
os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os me-
II - propor ao Conselho Nacional de Assistência So-
nores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. (Re-
cial (CNAS) a Política Nacional de Assistência Social, suas
dação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
normas gerais, bem como os critérios de prioridade e de
§ 2o Para efeito de concessão do benefício de pres-
elegibilidade, além de padrões de qualidade na prestação tação continuada, considera-se pessoa com deficiência
de benefícios, serviços, programas e projetos; aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
III - prover recursos para o pagamento dos benefícios física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
de prestação continuada definidos nesta lei; com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
IV - elaborar e encaminhar a proposta orçamentária plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
da assistência social, em conjunto com as demais da Se- com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº 13.146,
guridade Social; de 2015) (Vigência)
V - propor os critérios de transferência dos recursos § 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da
de que trata esta lei; pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda men-
VI - proceder à transferência dos recursos destinados sal  per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-
à assistência social, na forma prevista nesta lei; mínimo. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
VII - encaminhar à apreciação do Conselho Nacional § 4o O benefício de que trata este artigo não pode ser
de Assistência Social (CNAS) relatórios trimestrais e anuais acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âm-
de atividades e de realização financeira dos recursos; bito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da
VIII - prestar assessoramento técnico aos Estados, ao assistência médica e da pensão especial de natureza inde-
Distrito Federal, aos Municípios e às entidades e organiza- nizatória. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
ções de assistência social; § 5o A condição de acolhimento em instituições de
IX - formular política para a qualificação sistemática e longa permanência não prejudica o direito do idoso ou da
continuada de recursos humanos no campo da assistência pessoa com deficiência ao benefício de prestação conti-
social; nuada. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
X - desenvolver estudos e pesquisas para fundamen- § 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avalia-
tar as análises de necessidades e formulação de proposi- ção da deficiência e do grau de impedimento de que trata
ções para a área; o § 2o, composta por avaliação médica e avaliação social
XI - coordenar e manter atualizado o sistema de cadas- realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do
tro de entidades e organizações de assistência social, em ar- Instituto Nacional de Seguro Social - INSS. (Redação dada
ticulação com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; pela Lei nº 12.470, de 2011)

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
§ 7o Na hipótese de não existirem serviços no municí- § 2o A contratação de pessoa com deficiência como
pio de residência do beneficiário, fica assegurado, na forma aprendiz não acarreta a suspensão do benefício de pres-
prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao muni- tação continuada, limitado a 2 (dois) anos o recebimento
cípio mais próximo que contar com tal estrutura. (Incluído concomitante da remuneração e do benefício. (Incluído
pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998) pela Lei nº 12.470, de 2011)
§ 8o A renda familiar mensal a que se refere o § 3o de-
verá ser declarada pelo requerente ou seu representante le- SEÇÃO II
gal, sujeitando-se aos demais procedimentos previstos no Dos Benefícios Eventuais
regulamento para o deferimento do pedido.(Incluído pela
Lei nº 9.720, de 30.11.1998) Art. 22. Entendem-se por benefícios eventuais as pro-
§ 9o Os rendimentos decorrentes de estágio supervi- visões suplementares e provisórias que integram organica-
sionado e de aprendizagem não serão computados para os mente as garantias do Suas e são prestadas aos cidadãos e
fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere
às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de
o § 3o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. (Re-
2015) (Vigência)
dação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para
§ 1o A concessão e o valor dos benefícios de que trata
os fins do § 2o  deste artigo, aquele que produza efeitos
pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. (Inclído pela Lei nº este artigo serão definidos pelos Estados, Distrito Federal
12.470, de 2011) e Municípios e previstos nas respectivas leis orçamentárias
§ 11. Para concessão do benefício de que trata anuais, com base em critérios e prazos definidos pelos res-
o  caput  deste artigo, poderão ser utilizados outros ele- pectivos Conselhos de Assistência Social. (Redação dada
mentos probatórios da condição de miserabilidade do gru- pela Lei nº 12.435, de 2011)
po familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme re- § 2o O CNAS, ouvidas as respectivas representações
gulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) de Estados e Municípios dele participantes, poderá pro-
Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser por, na medida das disponibilidades orçamentárias das 3
revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da continuidade (três) esferas de governo, a instituição de benefícios sub-
das condições que lhe deram origem. (Vide Lei nº 9.720, de sidiários no valor de até 25% (vinte e cinco por cento) do
30.11.1998) salário-mínimo para cada criança de até 6 (seis) anos de
§ 1º O pagamento do benefício cessa no momento em idade. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
que forem superadas as condições referidas no caput, ou § 3o Os benefícios eventuais subsidiários não poderão
em caso de morte do beneficiário. ser cumulados com aqueles instituídos pelas Leis no 10.954,
§ 2º O benefício será cancelado quando se constatar de 29 de setembro de 2004, e no 10.458, de 14 de maio de
irregularidade na sua concessão ou utilização. 2002. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 3o O desenvolvimento das capacidades cognitivas,
motoras ou educacionais e a realização de atividades não SEÇÃO III
remuneradas de habilitação e reabilitação, entre outras, Dos Serviços
não constituem motivo de suspensão ou cessação do be-
nefício da pessoa com deficiência.  (Incluído pela Lei nº Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais
12.435, de 2011) as atividades continuadas que visem à melhoria de vida
§ 4º A cessação do benefício de prestação continua- da população e cujas ações, voltadas para as necessida-
da concedido à pessoa com deficiência não impede nova des básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes
concessão do benefício, desde que atendidos os requisi-
estabelecidos nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.435,
tos definidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº
de 2011)
12.470, de 2011)
§ 1o O regulamento instituirá os serviços socioassisten-
Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será
ciais. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
suspenso pelo órgão concedente quando a pessoa com
deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na con- § 2o Na organização dos serviços da assistência social
dição de microempreendedor individual. (Incluído pela Lei serão criados programas de amparo, entre outros: (Incluí-
nº 12.470, de 2011) do pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 1o Extinta a relação trabalhista ou a atividade em- I - às crianças e adolescentes em situação de risco pes-
preendedora de que trata o caput deste artigo e, quando soal e social, em cumprimento ao disposto no art. 227 da
for o caso, encerrado o prazo de pagamento do seguro- Constituição Federal e na Lei no 8.069, de 13 de julho de
desemprego e não tendo o beneficiário adquirido direito 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); (Incluído pela
a qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida Lei nº 12.435, de 2011)
a continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem II - às pessoas que vivem em situação de rua. (Incluído
necessidade de realização de perícia médica ou reavaliação pela Lei nº 12.435, de 2011)
da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim, res-
peitado o período de revisão previsto no caput do art. 21.
(Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011)

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
SEÇÃO IV SEÇÃO V
Dos Programas de Assistência Social Dos Projetos de Enfrentamento da Pobreza

Art. 24. Os programas de assistência social compreen- Art. 25. Os projetos de enfrentamento da pobreza
dem ações integradas e complementares com objetivos, compreendem a instituição de investimento econômico-
tempo e área de abrangência definidos para qualificar, in- social nos grupos populares, buscando subsidiar, finan-
centivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. ceira e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam meios,
§ 1º Os programas de que trata este artigo serão de- capacidade produtiva e de gestão para melhoria das con-
finidos pelos respectivos Conselhos de Assistência Social, dições gerais de subsistência, elevação do padrão da qua-
obedecidos os objetivos e princípios que regem esta lei, lidade de vida, a preservação do meio-ambiente e sua or-
com prioridade para a inserção profissional e social. ganização social.
§ 2o Os programas voltados para o idoso e a integração Art. 26. O incentivo a projetos de enfrentamento da
da pessoa com deficiência serão devidamente articulados pobreza assentar-se-á em mecanismos de articulação e
com o benefício de prestação continuada estabelecido no de participação de diferentes áreas governamentais e em
art. 20 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) sistema de cooperação entre organismos governamentais,
Art. 24-A. Fica instituído o Serviço de Proteção e Aten- não governamentais e da sociedade civil.
dimento Integral à Família (Paif), que integra a proteção
social básica e consiste na oferta de ações e serviços so- CAPÍTULO V
cioassistenciais de prestação continuada, nos Cras, por Do Financiamento da Assistência Social
meio do trabalho social com famílias em situação de vul-
nerabilidade social, com o objetivo de prevenir o rompi- Art. 27. Fica o Fundo Nacional de Ação Comunitária
mento dos vínculos familiares e a violência no âmbito de (Funac), instituído pelo  Decreto nº 91.970, de 22 de no-
suas relações, garantindo o direito à convivência familiar e vembro de 1985, ratificado pelo Decreto Legislativo nº 66,
comunitária. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) de 18 de dezembro de 1990, transformado no Fundo Na-
Parágrafo único. Regulamento definirá as diretrizes e
cional de Assistência Social (FNAS).
os procedimentos do Paif. (Incluído pela Lei nº 12.435, de
Art. 28. O financiamento dos benefícios, serviços,
2011)
programas e projetos estabelecidos nesta lei far-se-á com
Art. 24-B. Fica instituído o Serviço de Proteção e Aten-
os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi), que
dos Municípios, das demais contribuições sociais previs-
integra a proteção social especial e consiste no apoio,
tas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que
orientação e acompanhamento a famílias e indivíduos em
compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).
situação de ameaça ou violação de direitos, articulando os
§ 1o Cabe ao órgão da Administração Pública respon-
serviços socioassistenciais com as diversas políticas públi-
sável pela coordenação da Política de Assistência Social
cas e com órgãos do sistema de garantia de direitos. (In-
cluído pela Lei nº 12.435, de 2011) nas 3 (três) esferas de governo gerir o Fundo de Assis-
Parágrafo único. Regulamento definirá as diretrizes e tência Social, sob orientação e controle dos respectivos
os procedimentos do Paefi. (Incluído pela Lei nº 12.435, de Conselhos de Assistência Social. (Redação dada pela Lei nº
2011) 12.435, de 2011)
Art. 24-C. Fica instituído o Programa de Erradicação do § 2º O Poder Executivo disporá, no prazo de 180 (cen-
Trabalho Infantil (Peti), de caráter intersetorial, integrante to e oitenta) dias a contar da data de publicação desta lei,
da Política Nacional de Assistência Social, que, no âmbito sobre o regulamento e funcionamento do Fundo Nacional
do Suas, compreende transferências de renda, trabalho so- de Assistência Social (FNAS).
cial com famílias e oferta de serviços socioeducativos para § 3o O financiamento da assistência social no Suas
crianças e adolescentes que se encontrem em situação de deve ser efetuado mediante cofinanciamento dos 3 (três)
trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) entes federados, devendo os recursos alocados nos fun-
§ 1o O Peti tem abrangência nacional e será desen- dos de assistência social ser voltados à operacionalização,
volvido de forma articulada pelos entes federados, com a prestação, aprimoramento e viabilização dos serviços, pro-
participação da sociedade civil, e tem como objetivo con- gramas, projetos e benefícios desta política. (Incluído pela
tribuir para a retirada de crianças e adolescentes com ida- Lei nº 12.435, de 2011)
de inferior a 16 (dezesseis) anos em situação de trabalho, Art. 28-A. Constitui receita do Fundo Nacional de As-
ressalvada a condição de aprendiz, a partir de 14 (quatorze) sistência Social, o produto da alienação dos bens imóveis
anos. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) da extinta Fundação Legião Brasileira de Assistência. (In-
§ 2o As crianças e os adolescentes em situação de tra- cluído pela Medida Provisória nº 2.187-13, de 2001)
balho deverão ser identificados e ter os seus dados inseri- Art. 29. Os recursos de responsabilidade da União
dos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo destinados à assistência social serão automaticamente re-
Federal (CadÚnico), com a devida identificação das situa- passados ao Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS),
ções de trabalho infantil. (Incluído pela Lei nº 12.435, de à medida que se forem realizando as receitas.
2011)

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Parágrafo  único. Os recursos de responsabilidade CAPÍTULO VI
da União destinados ao financiamento dos benefícios de Das Disposições Gerais e Transitórias
prestação continuada, previstos no art. 20, poderão ser
repassados pelo Ministério da Previdência e Assistência Art. 31. Cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo
Social diretamente ao INSS, órgão responsável pela sua respeito aos direitos estabelecidos nesta lei.
execução e manutenção.(Incluído pela Lei nº 9.720, de Art. 32. O Poder Executivo terá o prazo de 60 (ses-
30.11.1998) senta) dias, a partir da publicação desta lei, obedecidas
Art. 30. É condição para os repasses, aos Municípios, as normas por ela instituídas, para elaborar e encaminhar
aos Estados e ao Distrito Federal, dos recursos de que trata projeto de lei dispondo sobre a extinção e reordenamento
esta lei, a efetiva instituição e funcionamento de: dos órgãos de assistência social do Ministério do Bem-Es-
I - Conselho de Assistência Social, de composição pa- tar Social.
ritária entre governo e sociedade civil; § 1º O projeto de que trata este artigo definirá for-
II - Fundo de Assistência Social, com orientação e con- mas de transferências de benefícios, serviços, programas,
trole dos respectivos Conselhos de Assistência Social; projetos, pessoal, bens móveis e imóveis para a esfera mu-
III - Plano de Assistência Social. nicipal.
Parágrafo único. É, ainda, condição para transferên- § 2º O Ministro de Estado do Bem-Estar Social indica-
cia de recursos do FNAS aos Estados, ao Distrito Federal e rá Comissão encarregada de elaborar o projeto de lei de
aos Municípios a comprovação orçamentária dos recursos que trata este artigo, que contará com a participação das
próprios destinados à Assistência Social, alocados em seus organizações dos usuários, de trabalhadores do setor e de
respectivos Fundos de Assistência Social, a partir do exer- entidades e organizações de assistência social.
cício de 1999. (Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998) Art. 33. Decorrido o prazo de 120 (cento e vinte) dias
Art. 30-A. O cofinanciamento dos serviços, programas, da promulgação desta lei, fica extinto o Conselho Nacional
projetos e benefícios eventuais, no que couber, e o apri- de Serviço Social (CNSS), revogando-se, em conseqüência,
moramento da gestão da política de assistência social no os Decretos-Lei nºs 525, de 1º de julho de 1938, e 657, de
Suas se efetuam por meio de transferências automáticas 22 de julho de 1943.
entre os fundos de assistência social e mediante alocação § 1º O Poder Executivo tomará as providências neces-
de recursos próprios nesses fundos nas 3 (três) esferas de sárias para a instalação do Conselho Nacional de Assis-
governo. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) tência Social (CNAS) e a transferência das atividades que
Parágrafo único. As transferências automáticas de re- passarão à sua competência dentro do prazo estabelecido
cursos entre os fundos de assistência social efetuadas à no caput, de forma a assegurar não haja solução de con-
conta do orçamento da seguridade social, conforme o art. tinuidade.
204 da Constituição Federal, caracterizam-se como despe- § 2º O acervo do órgão de que trata o caput será
sa pública com a seguridade social, na forma do art. 24 da transferido, no prazo de 60 (sessenta) dias, para o Conse-
Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000. (Incluído lho Nacional de Assistência Social (CNAS), que promove-
pela Lei nº 12.435, de 2011) rá, mediante critérios e prazos a serem fixados, a revisão
Art. 30-B. Caberá ao ente federado responsável pela dos processos de registro e certificado de entidade de fins
utilização dos recursos do respectivo Fundo de Assistência filantrópicos das entidades e organização de assistência
Social o controle e o acompanhamento dos serviços, pro- social, observado o disposto no art. 3º desta lei.
gramas, projetos e benefícios, por meio dos respectivos Art. 34. A União continuará exercendo papel supletivo
órgãos de controle, independentemente de ações do ór- nas ações de assistência social, por ela atualmente execu-
gão repassador dos recursos. (Incluído pela Lei nº 12.435, tadas diretamente no âmbito dos Estados, dos Municípios
de 2011) e do Distrito Federal, visando à implementação do dispos-
Art. 30-C. A utilização dos recursos federais descen- to nesta lei, por prazo máximo de 12 (doze) meses, conta-
tralizados para os fundos de assistência social dos Esta- dos a partir da data da publicação desta lei.
dos, dos Municípios e do Distrito Federal será declarada Art. 35. Cabe ao órgão da Administração Pública Fe-
pelos entes recebedores ao ente transferidor, anualmente, deral responsável pela coordenação da Política Nacional
mediante relatório de gestão submetido à apreciação do de Assistência Social operar os benefícios de prestação
respectivo Conselho de Assistência Social, que comprove continuada de que trata esta lei, podendo, para tanto, con-
a execução das ações na forma de regulamento. (Incluído tar com o concurso de outros órgãos do Governo Federal,
pela Lei nº 12.435, de 2011) na forma a ser estabelecida em regulamento.
Parágrafo único. Os entes transferidores poderão re- Parágrafo único. O regulamento de que trata o caput
quisitar informações referentes à aplicação dos recursos definirá as formas de comprovação do direito ao benefício,
oriundos do seu fundo de assistência social, para fins de as condições de sua suspensão, os procedimentos em ca-
análise e acompanhamento de sua boa e regular utiliza- sos de curatela e tutela e o órgão de credenciamento, de
ção. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) pagamento e de fiscalização, dentre outros aspectos.

83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Art. 36. As entidades e organizações de assistência so-
cial que incorrerem em irregularidades na aplicação dos ÉTICA PROFISSIONAL
recursos que lhes foram repassados pelos poderes públi-
cos terão a sua vinculação ao Suas cancelada, sem prejuízo
de responsabilidade civil e penal. (Redação dada pela Lei Ética e Postura Profissional
nº 12.435, de 2011) Em um mundo empresarial onde a competição é cada
Art.  37. O benefício de prestação continuada será vez mais acirrada, termos como ética e moral são cada vez
devido após o cumprimento, pelo requerente, de todos menos valorizados. Mas os bons profissionais de qualquer
os requisitos legais e regulamentares exigidos para a sua ramo de atividade devem manter uma postura ética para
concessão, inclusive apresentação da documentação ne- que possam ter sucesso em suas carreiras. O comporta-
cessária, devendo o seu pagamento ser efetuado em até mento ético do bom profissional traz a garantia do res-
quarenta e cinco dias após cumpridas as exigências de peito e da estabilidade no emprego. A atuação de acordo
que trata este artigo. (Redação dada pela Lei nº 9.720, de com os valores morais da sociedade e da organização va-
30.11.1998) (Vide Lei nº 9.720, de 30.11.1998) loriza o profissional e o transforma em um elemento im-
portante dentro da estrutura da empresa.
Parágrafo único. No caso de o primeiro pagamento ser
Porém, o que são a ética e a moral? Como podemos
feito após o prazo previsto no caput, aplicar-se-á na sua
aplicá-las no dia a dia do trabalho? Como pensar em ser
atualização o mesmo critério adotado pelo INSS na atuali-
ético em uma sociedade onde a ética é cada vez menos
zação do primeiro pagamento de benefício previdenciário
valorizada? A resposta a estas perguntas nos mostrará
em atraso. (Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998) como é importante o comportamento ético no ambiente
Art. 38. (Revogado pela Lei nº 12.435, de 2011) empresarial. Muitas vezes, confundimos ética com moral e,
Art. 39. O Conselho Nacional de Assistência Social por isso, vamos definir cada um desses termos, para que
(CNAS), por decisão da maioria absoluta de seus mem- possamos compreender a diferença e a relação existente
bros, respeitados o orçamento da seguridade social e a entre eles.
disponibilidade do Fundo Nacional de Assistência Social Ética vem do grego ethos, que significa morada, lugar
(FNAS), poderá propor ao Poder Executivo a alteração dos certo. São princípios universalizantes, perenes. Ética é a
limites de renda mensal per capita definidos no § 3º do art. parte da filosofia que se preocupa com a reflexão a respei-
20 e caput do art. 22. to das noções e princípios que fundamentam a vida moral.
Art. 40. Com a implantação dos benefícios previstos Moral vem do latim mos, moris, que significa o modo de
nos arts. 20 e 22 desta lei, extinguem-se a renda mensal proceder regulado pelo uso ou costume. Moral é o con-
vitalícia, o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral existen- junto de normas livres e conscientemente adotadas que
tes no âmbito da Previdência Social, conforme o disposto visam organizar as relações das pessoas na sociedade, ten-
na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. do em vista o certo e o errado.
§ 1º A transferência dos benefíciários do sistema pre- A Ética é a teoria e a Moral é a prática. A ética tem a ver
videnciário para a assistência social deve ser estabelecida com os princípios mais abrangentes e universais, enquan-
de forma que o atendimento à população não sofra solu- to a moral se refere à conduta humana. A primeira aparece
ção de continuidade. (Redação dada pela Lei nº 9.711, de como um horizonte que inspira, atrai e define o ser huma-
20.11.1998 no, e a segunda seria o caminho que nos possibilita agir
§ 2º É assegurado ao maior de setenta anos e ao in- com ética. Assim, um termo nasce do outro.
válido o direito de requerer a renda mensal vitalícia junto Podemos então afirmar que os princípios éticos são
ao INSS até 31 de dezembro de 1995, desde que atenda, aqueles princípios básicos que definem o comportamento
alternativamente, aos requisitos estabelecidos nos incisos de todos os seres humanos. Mais abrangentes que as leis,
os regulamentos e mesmo os costumes, os princípios da
I, II ou III do § 1º do art. 139 da Lei nº 8.213, de 24 de julho
ética valem para toda a sociedade e devem ser respeitados
de 1991. (Redação dada pela Lei nº 9.711, de 20.11.1998
por todos. Existem atos como o homicídio, o preconceito e
Art. 40-A. Os benefícios monetários decorrentes do
a discriminação que são vistos de forma negativa por toda
disposto nos arts. 22, 24-C e 25 desta Lei serão pagos pre-
a sociedade e esta noção do que é certo e do que é errado
ferencialmente à mulher responsável pela unidade familiar, nos é transmitida por meio das gerações e se transforma
quando cabível. (Incluído pela Lei nº 13.014, de 2014) no padrão ético de uma sociedade.
Art. 41. Esta lei entra em vigor na data da sua publi- A moral representa a interpretação e consolidação dos
cação. princípios éticos para a sua aplicação na sociedade. As leis
Art. 42. Revogam-se as disposições em contrário. de um país ou o regulamento de uma empresa represen-
Brasília, 7 de dezembro de 1993, 172º da Independên- tam o código moral que deve ser seguido por todos e re-
cia e 105º da República. presentam de forma prática os preceitos éticos que são
aceitos por todos os membros daquele grupo. Portanto,
todos sabem o que é ou não é ético. Todos sabem distin-
guir o certo do errado em nossa sociedade. Todos devem
conhecer as regras e normas de conduta que regem os
códigos morais de nosso grupo social.

84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
Todos também têm a opção de agir ou não de forma [...] o mais difícil são as atitudes, os aspectos com-
ética. Cada ser humano, independente da sua origem, da portamentais. O comportamento é que faz a diferença no
sua história e de seus antecedentes pode escolher o seu atendimento. (...) Pode saber fazer, mas se não quiser, não
caminho. Os atos de cada um são uma escolha pessoal e a faz. (...) Depois do comportamento é que vem o saber fa-
forma como cada um age depende de si próprio. zer, para manter o padrão do hotel. (AUTOR, ano, p.).
E por que vale a pena ser ético? Muitos bons profissionais não são valorizados, pois
Para que possamos agir de modo que as consequên- transmitem uma imagem ruim de si, ou seja, não têm uma
cias de nossas ações possibilitem a aceitação e aprovação postura adequada. A busca por um profissional capaz de
de nosso comportamento pelo grupo social que nos cerca realizar um bom atendimento representa hoje uma grande
e ao mesmo tempo para garantir a nossa qualidade de preocupação dos estabelecimentos de alimentos e bebi-
vida. Quando agimos de forma ética (de acordo com os das, sejam estes de qualquer perfil ou porte.
princípios básicos de convivência e civilidade difundidos Os desafios do mercado são muitos, mas a postura
em nossa sociedade) e respeitamos a moral (as regras es- como encaramos estes desafios faz toda a diferença. Se
critas e não escritas que determinam o comportamento de nos posicionarmos de forma ética, dinâmica, colaborativa
todos os membros de uma sociedade) somos respeitados e hospitaleira estaremos de fato contribuindo para o nos-
por nossos atos e passamos a ser mais valorizados no jul- so crescimento profissional e para o sucesso da empresa
gamento de todos que nos cercam. como um todo. O bom profissional deve combinar um co-
Um comportamento sempre ético não dá margens a nhecimento técnico adequado com um comportamento
dúvidas com relação ao nosso caráter e à nossa integrida- desejável. Nenhum desses dois ingredientes sozinho pode
de e nos confere o status de bom cidadão e bom profissio- construir um bom profissional. Somente a boa postura de
nal. O nosso comportamento ético tem o poder de mudar um profissional sem conhecimento técnico não conduz ao
o meio em que vivemos. Por mais corrompido e difícil que sucesso, ao mesmo tempo em que os conhecimentos téc-
seja o ambiente externo (seja ele profissional ou não) cada nicos de um profissional não bastam se este não souber se
um de nós possui a capacidade da alterá-lo por meio de comportar da maneira correta.
nossa postura individual. Algumas ferramentas comportamentais podem ser de
Se o meu comportamento é sempre ético, eu passo grande auxílio na formação de um profissional com pos-
a ter a capacidade de exigir que o comportamento das tura mais adequada. A comunicação interpessoal é um
outras pessoas para comigo seja da mesma forma ético. O aspecto básico muito importante e pode auxiliar muito o
relacionamento com todos se altera a partir da minha mu- profissional a melhorar seus aspectos comportamentais.
dança individual. O meu comportamento ético fará com Deve ser entendida como uma das principais ferramentas
que as pessoas passem a me tratar de forma mais respei- de trabalho no restaurante. Independente do cargo e da
tosa e justa. Dessa maneira, a minha opinião passa a ter função exercida por cada um, todos têm que se comunicar
mais valor, minhas ações passam a ter mais peso e por fim durante todo o tempo, seja com os clientes, com os cole-
minha influência positiva na sociedade passa a ser sentida gas, ou com os outros setores.
e me traz retornos positivos. Se cada funcionário souber a melhor forma de se co-
Por mais que meu comportamento ético não consiga municar o trabalho fica muito mais fácil e os problemas
alterar a situação global do meio social onde estou inse- são evitados, tornando o ambiente mais agradável e pro-
rido, com certeza ele fará com que ocorra uma mudança dutivo. A boa comunicação deve partir de cada um de nós.
positiva da atitude das pessoas para comigo e isso me traz É muito comum encontrarmos excelentes profissionais
efeitos muito positivos ao nível pessoal. Vale à pena tentar! que não conseguem mostrar todo o seu potencial no tra-
O maior beneficiado com a minha postura ética sou eu balho devido a dificuldades de comunicação. A forma de
mesmo e, portanto, trabalhar e viver com ética é o melhor se expressar é muito importante e pode ser a diferença en-
caminho para trabalhar e viver com paz e tranquilidade e tre um profissional medíocre de um funcionário eficiente e
ser respeitado como profissional e cidadão. com condições de progredir na carreira.
O comportamento ético é traduzido no ambiente de Algumas regras básicas devem ser entendidas e apli-
trabalho por uma postura profissional adequada. Enten- cadas para que cada um consiga se comunicar da melhor
de-se por postura o modo como nos apresentamos jun- maneira possível. Isso não significa que existe um modo
to aos nossos colegas profissionais e clientes. É a forma único de nos comunicarmos. Na verdade cada um tem seu
como podemos externalizar o nosso profissionalismo in- próprio estilo de comunicação e isso deve ser respeitado.
terior por intermédio de atitudes, gestos e dizeres. Logo, Porém todos os tipos de pessoa (os tímidos, os extroverti-
é importante que nosso comportamento seja adequado dos, os falantes, os calados, etc.) podem aprimorar a forma
para que possamos transmitir uma boa imagem pessoal como se comunicam com os outros e utilizar a boa comu-
em nosso ambiente de trabalho. nicação como ferramenta de trabalho.
O depoimento de um funcionário do restaurante de O termo comunicação vem do latim communicatione
um hotel de alto padrão, em Belo Horizonte nos mostra e significa tornar comum, transmitir. A comunicação não
como o setor de alimentos e bebidas valoriza a boa pos- inclui apenas mensagens que as pessoas trocam de for-
tura profissional: ma voluntária entre si. As mensagens podem ser trocadas

85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assistente Social
consciente ou inconscientemente. A comunicação é uma Exercícios
transmissão e recepção de ideias, de informações e de
sentimentos e tem como principais componentes o emis- 01) Conforme a legislação social em vigor, julgue os itens
sor, o receptor, a mensagem e o código (veículo em que a seguintes. Supremacia do atendimento das necessidades so-
informação é transmitida). ciais; universalização dos direitos sociais; respeito à dignidade
Neste processo o emissor (pessoa que tem uma infor- do cidadão; igualdade de direitos no acesso ao atendimento; e
divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos
mação para repassar), utilizará algum tipo de código (ou
assistenciais são princípios da Lei Orgânica de Assistência Social.
linguagem) para que o receptor (pessoa ou grupo de pes-
C. Certo
soas a que se destina a informação) a compreenda. Após E. Errado
a sua codificação, a informação transforma-se em mensa-
gem que será transmitida do emissor para o receptor (ou Resposta: Certo
receptores) por meio de um meio específico.
O processo de comunicação é bem-sucedido quando 02) Conforme a legislação social em vigor, julgue os
o receptor capta a informação transmitida com o mínimo itens seguintes. Conforme a Lei Orgânica de Assistência
de distorção (ou diferenças) em relação à informação ori- Social, a gestão das ações na área de assistência social é
ginal. É um processo que parece simples, mas que pode organizada em sistema descentralizado e participativo,
ser prejudicado por vários fatores, que são chamados de cujos principais objetivos incluem a consolidação da ges-
ruídos de comunicação. Os ruídos podem partir do emis- tão compartilhada; a integração entre a rede pública e a
sor, do receptor ou do meio ambiente onde se desenvolve rede privada de serviços, programas, projetos e benefícios
o processo de comunicação. Quanto menor a quantidade de assistência social; e a definição dos níveis de gestão res-
peitadas as diversidades regionais e municipais.
de ruído presente na comunicação maior às chances de se
C. Certo
obter um bom resultado. E. Errado
Para que o ruído seja reduzido e o processo de comu-
nicação ocorra sem problemas deve haver a colaboração Resposta: Certo
do emissor e do receptor. As principais formas de cada um
destes elementos colaborar no bom processo de comuni- 03) Acerca da organização da assistência social, julgue
cação são. os próximos itens. A proteção social básica visa prevenir
No ato da comunicação cada pessoa sempre atua situações de vulnerabilidade e risco social, ao passo que a
como emissor e receptor simultaneamente, daí a necessi- proteção social especial tem por objetivo contribuir para
dade da atenção constante para que o processo se efetive a reconstrução de vínculos familiares e comunitários e a
com eficácia. Outro elemento da comunicação que é mui- proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das
to importante para seu sucesso é o feedback, que pode situações de violação de direitos.
ser definido como retorno dado pelo receptor ao emissor, C. Certo
E. Errado
após ter recebido uma mensagem.
Um bom feedback dá fluidez à comunicação a partir Resposta: Certo
do momento em que auxilia emissor e receptor a certifi-
carem-se de que as informações estão sendo transmitidas 04) Acerca da organização da assistência social, julgue
e entendidas de forma adequada. No processo de comu- os próximos itens. A proteção social básica e a especial são
nicação do restaurante é muito importante recebermos e ofertadas em centros de referência de assistência social
valorizarmos o feedback de nossos clientes. Se levarmos denominados, respectivamente, Centro de Referência de
em consideração tudo àquilo que o cliente nos transmite Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especia-
saberemos de forma mais exata o que ele deseja, neces- lizado de Assistência Social (CREAS), que se caracterizam
sita, pensa, sente e teremos melhores condições de satis- como unidades públicas estatais.
fazê-lo. C. Certo
Escutar sempre nossos clientes e procurar sempre dar E. Errado
um feedback positivo é uma ótima maneira de aprimo-
Resposta: Certo
rar o processo de comunicação e melhorar a qualidade do
serviço prestado. Além da comunicação outras pequenas
05) Acerca da organização da assistência social, julgue
atitudes podem fazer a diferença no momento do atendi- os próximos itens. O benefício de prestação continuada
mento ao cliente. não pode ser acumulado pelo beneficiário com nenhum
FONTE: http://www.portaleducacao.com.br/inicia- outro benefício no âmbito da seguridade social ou de ou-
cao-profissional/artigos/17750/etica-e-postura-profissio- tro regime, salvo os da assistência médica e os da pensão
nal#!4#ixzz4DqBCNcjy especial de natureza indenizatória.
C. Certo
E. Errado

Resposta: Certo

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