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XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006

Características e especificidades da norma de responsabilidade social


SA 8000: uma contribuição técnica ao processo de auditoria

Aulus Giovani Ferraro (UFF/ LATEC) aulusferraro@click21.com.br


Silvana Coccheto Quadra (UFF/ LATEC) cocchetoquadra@terra.com.br
Fernando Oliveira de Araujo, M.Sc. (PUC-Rio/ IND & UFF/ LATEC) faraujo@ind.puc-rio.br

Resumo
Atualmente, muito se tem debatido acerca do impacto das práticas e valores corporativos no
seu ambiente interno, principalmente no que se refere à relação da empresa com seus
funcionários. O presente artigo discute o processo de auditoria interna baseado na norma SA
8000: 2001, cuja finalidade é a de promover a melhoria das condições de trabalho. Por se
tratar de um tema ainda em desenvolvimento, esta certificação é cercada de muitas dúvidas
no que diz respeito ao enquadramento de seus termos. O estudo foi baseado em revisão
bibliográfica concernente à discussão e na experiência profissional dos autores no
tratamento prático da problemática. Dessa forma, o presente trabalho almeja contribuir
como um referencial prescritivo para desenvolvimento de auditorias internas sob o foco da
norma SA 8000, capaz ainda de prover, minimamente, orientação às demais partes
interessadas (auditores, empregadores ou empregados) em questões técnicas relacionadas à
referida norma.
Palavras-chave: SA 8000: 2001; saúde e segurança ocupacional; práticas de auditoria.

1. Introdução
De acordo com o relatório da Organização Internacional do Trabalho – OIT (2006), intitulado
“a eliminação do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance”, cerca de 200 milhões de
crianças, de 05 a 14 anos, e 140 milhões de jovens, com idades entre 15 e 17 anos, exercem
no mundo atividades econômicas. Deste número, destaca-se com pesar que, a grande maioria,
nas duas faixas etárias, está submetida às consideradas piores formas de trabalho infantil, o
que inclui a escravidão, a prostituição e as atividades ilícitas como o tráfico de drogas.
Ao longo de anos, já foram noticiados milhares de casos de repreensão severa e até mesmo
assassinato de ativistas e sindicalistas em todo o mundo, principalmente em nações
submetidas a regimes ditatoriais. O direito à liberdade de associação e negociação é uma
reivindicação trabalhista anterior à Declaração Universal dos Direitos Humanos, da
Organização das Nações Unidas (1948), e às convenções da OIT – que adotou este princípio a
partir da Declaração da Filadélfia, em 1944.
A igualdade no local de trabalho sempre foi assunto polêmico nas empresas, envolvendo
diversos casos de segregação e discriminação por raça, preferências pessoais, idade, credo e,
principalmente, sexo, sem falar dos abusos de poder por níveis hierárquicos e os assédios
morais e sexuais.
A crescente preocupação com as penalidades previstas em lei, a maior rigidez na fiscalização
das condições de trabalho, principalmente por parte dos sindicatos, e os altos custos com
acidentes, vêm direcionando a atenção das empresas e dos próprios governos, a partir dos
gastos com previdência e saúde, para as questões de SSO – Segurança e Saúde Ocupacional.
Investimentos em Equipamentos de Proteção Individual – EPI, treinamento dos funcionários e
melhoria dos ambientes de trabalho têm sido as respostas diretas a esta questão.

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A nova cultura corporativa, advinda pela implementação de um sistema de gestão baseado na


norma SA 8000, pode ajudar a empresa a reduzir seus índices de acidente, bem como a
rotatividade de funcionários, a partir do momento em que incentiva a participação gradativa e
um maior comprometimento dos empregados.
Outra possível conseqüência da implementação da referida norma seria a melhoria nas
relações com governos, ONGs e sindicatos. Além disso, o requisito de indicação de um
representante dos funcionários para acompanhar a implantação da norma contribui para uma
maior aceitação e credibilidade para sua legitimação por parte dos próprios empregados.
No que diz respeito à sociedade, a norma exige uma retratação das empresas que estiveram
envolvidas com, por exemplo, trabalho infantil, que seria a recolocação de crianças nas
escolas e o aumento na taxa de alfabetização.
Para os investidores, os referidos fatores impactam num melhor desempenho corporativo em
índices de investimento, como o Dow Jones Sustainability Index – DJSI – da bolsa de Nova
Iorque, uma vez que, segundo os novos padrões de mercado orientados à sustentabilidade
organizacional, o crescimento econômico está intimamente relacionado com a atenção da
empresa para com aspectos sócio-ambientais.
1.1. Considerações iniciais
A norma SA 8000: 2001 é a primeira certificação internacional que trata das relações entre
empresa e funcionário, sendo reconhecida como um sistema efetivo de implementação,
manutenção e verificação de condições dignas de trabalho.
Trata-se de mais um sistema de gestão voluntário, cujo principal objetivo é o de garantir os
direitos dos trabalhadores, promovendo o aperfeiçoamento contínuo das condições existentes
no local de trabalho, através da atenção da empresa com o trabalhador e do estabelecimento
de condições adequadas de saúde e segurança.
Um dos aspectos diferenciais da referida norma é o engajamento efetivo dos stakeholders,
contribuindo para a participação pró-ativa dos mais diversos atores, como: empresa,
funcionários, sindicatos, clientes, governo, ONGs etc.
A auditoria da norma SA 8000 é um processo relativamente novo, que ainda não dispõe de
literatura técnica especializada, sendo escassos estudos de caso envolvendo empresas que a
tenham implantado, devido principalmente ao grau de confidencialidade das informações
envolvidas durante os processos de entrevista.
Assim, o presente trabalho visa contribuir na disseminação da norma como ponto de partida
para uma maior integração entre empresa e funcionário, além de nortear os demais
interessados no assunto, fundamentando futuras discussões e pesquisas sobre o tema.
1.2. Metodologia
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo está baseada na revisão de
literatura de caráter científico realizada em livros e periódicos, nacionais e internacionais,
dissertações, além da participação em cursos técnicos.
Adicionalmente, incorporam-se as experiências profissionais dos autores na condução de
auditorias da norma SA 8000, no sentido de propor um estudo de caráter prescritivo, que
ilustra o processo e as especificidades da auditoria desta norma, através de exemplos.

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2. Revisão da literatura
2.1. SA 8000: considerações históricas
Desde a década de 90, empresas norte-americanas e européias já ensaiavam alguns passos
sobre normas de conduta no local de trabalho. A dificuldade de acompanhar o cumprimento
dos códigos estabelecidos, principalmente devido à parcialidade e desqualificação dos
avaliadores, levou o Council on Economic Priorities Acreditation Angency – CEPAA – a criar
uma norma que pudesse avaliar as condições laborais de maneira independente.
O CEPAA, hoje conhecida como SAI – Social Accountability International – é uma
organização da sociedade civil de direitos humanos, que visa melhorar as condições de
trabalho por meio do desenvolvimento sustentável e de normas socialmente responsáveis,
através de convênios com as partes interessadas e da divulgação e implantação global da
norma SA 8000 (SAI, 2005).
Partindo de normas da OIT e de Convenções, Postulados e orientações da Organização das
Nações Unidas (ONU), como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a CEPAA
estruturou a SA 8000 tendo como base o já bem aceito modelo da ISO 9001, considerando
requisitos como ação corretiva e preventiva, melhoria contínua e auditorias internas e
externas. Porém, novos pontos foram incluídos nesta norma:
− A eleição de um representante por parte dos empregados para acompanhar a implantação e
manutenção do sistema de gestão social, o que ajuda a dar maior credibilidade ao processo;
− O contato permanente dos auditores com organizações não-governamentais, empregados e
sindicatos, a fim de manter um aprendizado contínuo e constante;
− Um canal de denúncia (denominado “preocupações”) para que trabalhadores e outras
partes envolvidas possam evidenciar anomalias nas organizações.

A implantação da norma SA 8000 contribui para o beneficiamento das condições de trabalho


dos funcionários e uma maior qualificação, através de treinamentos nas áreas de saúde e
segurança, que ajudam a diminuir os riscos e índices de acidentes. Outra exigência da norma
se aplica a remuneração de acordo com os requisitos legais vigentes e, conforme opção da
empresa, pode também ser usada uma média estatística regional que possibilite um salário
mínimo que atenda as necessidades básicas do indivíduo e de sua família. O canal sigiloso
para reclamações, sugestões e indicações de preocupações pode auxiliar no desenvolvimento
constante do processo e é uma oportunidade do funcionário reivindicar seus direitos e
participar mais do sistema.
2.2. SA 8000 e o “rótulo” de responsabilidade social
No âmbito das empresas, a norma SA 8000 é tida como uma certificação relacionada à
responsabilidade social. Entretanto, ao se analisar de forma mais profunda a perspectiva
corporativa, nota-se que a norma contempla prioritariamente as relações entre empresa e
funcionário visando à obtenção, manutenção e melhoria das condições de trabalho, no sentido
de garantir ao trabalhador a execução de suas atividades de forma digna e segura.
Ferrell, Fraedrich & Ferrell (2001) pautam as várias terminologias intrincadas nos
fundamentos de responsabilidade social, produzindo o seguinte conceito: “ética empresarial
diz respeito a regras e princípios que pautam decisões de indivíduos e grupos de trabalho;
finalmente, a responsabilidade social refere-se ao efeito de decisões das empresas sobre a
sociedade”.
De forma complementar, Costa (2004) segmenta a responsabilidade social em duas dimensões

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gerenciais:
− Responsabilidade social interna, que contempla: trabalhadores, acionistas e gerentes;
− Responsabilidade social externa, composta por: clientes, fornecedores, governo,
comunidades locais, e público em geral.

Adicionalmente, Alledi (2002) sinaliza que Responsabilidade Social se dá como ação pró-
ativa das empresas no que concerne à superação do cumprimento legal.
Para o Instituto Ethos (1998), a responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir
os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A
empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das
diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores,
consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao
planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos
acionistas ou proprietários.
Assim, Araujo (2005) identifica as práticas de responsabilidade social como necessárias à
sustentabilidade organizacional.
Fora da questão relacionada à norma SA 8000, o termo responsabilidade social tem um
escopo mais abrangente, ou seja, é uma responsabilidade que a empresa assume perante a
sociedade gerando ações de forma a beneficiar a mesma, não se restringindo somente ao
âmbito da empresa.
Cabe ressaltar que a implantação de uma norma não é garantia de total compromisso da
empresa no seu pleno atendimento e do envolvimento de toda a força de trabalho. Entretanto,
numa perspectiva prática, a empresa pode ser encarada de forma mais positiva,
principalmente se o sistema de gestão implantado estiver certificado.
2.3. Normatização e auditoria
Normatização consiste na elaboração, revisão e atualização das instruções, manuais, rotinas e
regulamentos nos quais são definidos os procedimentos e indicadores a serem aplicados na
empresa (Portal da Qualidade Total, 2006).
A ISO 9000 é uma das séries de normas publicadas pela organização internacional para
normatização. Em inglês a denominação da organização é International Organization for
Standardization. O termo “ISO” não é um anagrama e sim uma abreviatura derivada do termo
grego isos, cujo significado denota unicidade, como em isométrico.
As publicações ISO são feitas em inglês e francês e essa é mais uma razão porque não foi
apropriada uma abreviatura derivada de uma língua. A organização foi fundada em 1947 para
desenvolver um conjunto de normas para manufatura, comércio e comunicação na Europa.
Tem sede em Genebra, Suíça, e possui mais de 130 países membros. Cada país tem um
representante junto à ISO. A ABNT é o representante do Brasil (Biblioteca dos Sistemas da
Qualidade, Segurança de Alimentos e Gestão Ambiental, 2006).
Com base no sucesso da norma ISO 9001 desenvolvida para a qualidade de produtos e
serviços, a norma SA 8000 foi criada à luz do modelo, igualmente no caso de outras normas,
como a ambiental ISO 14001 e a norma voltada para saúde e segurança – OHSAS 18001.
A auditoria é uma das ferramentas mais poderosas para avaliar o grau de conformidade de um
sistema de gestão implantado em uma empresa com um critério estabelecido, seja este um
requisito legal, norma ou procedimento interno. Através do processo de auditoria se é possível

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avaliar o cumprimento de cada item da norma e o grau de comprometimento dos envolvidos.


A auditoria interna faz parte de todo sistema de gestão implantado em uma empresa, sendo
um processo que gera informações para avaliar o grau de maturidade do sistema implantado,
provendo insumos à alta administração para a melhoria contínua.
Um dos objetivos de uma auditoria interna também é preparar a empresa para a certificação
de seu sistema de gestão. Certificação é o processo pelo qual a organização submete-se a uma
auditoria independente (externa) para atestar sua conformidade com um determinado conjunto
de normas. A auditoria de certificação é feita por empresas credenciadas.
O descumprimento de um requisito normativo, de um requisito legal ou de um procedimento
interno, identificado nas auditorias (internas ou externas), gera a chamada não conformidade,
que requer um tratamento adequado da empresa para “sanar” a situação e evitar sua
reincidência.
O processo de auditoria de um sistema de gestão baseado na norma SA 8000 é diferente das
auditorias convencionais. A principal diferença deste tipo de auditoria é a metodologia de
obtenção de dados baseada, principalmente, em entrevistas confidenciais. Como o
entrevistado será levado a relatar casos de assédio sexual, discriminação, abuso verbal, entre
outros – podendo envolver, inclusive, seu gerente –, deve-se fazer o possível para não
evidenciá-lo de forma a evitar qualquer tipo de retaliação (desde perseguições
pessoais/profissionais até a demissão). Dessa forma, as entrevistas são realizadas em sala
reservada, distante do local de trabalho, sendo que o relatório da auditoria só deve ser
entregue ao representante da administração ou à pessoa com cargo acima de seu gerente, sem
constar o nome do funcionário, que fará parte, apenas, da lista geral de pessoas entrevistadas.
2.4. SA 8000 e a prática da auditoria
A SA 8000 é uma norma suficientemente específica para empresas que visam garantir os
direitos básicos de seus empregados, sendo a primeira norma social auditável. Em seu
processo de auditoria, procura-se analisar o grau de conformidade corporativa dentro dos
seguintes parâmetros:
a) Trabalho infantil: a norma procura eliminar o trabalho infantil, impondo requisitos como
idade mínima de 15 anos de idade; adequação da empresa às Convenções da OIT e
cumprimento efetivo da legislação trabalhista. Crianças dispensadas quando da
implantação da norma serão reparadas pela empresa, sendo garantida sua escolaridade até
se atingir a idade de jovem trabalhador, de forma que este profissional tenha ambiente de
trabalho seguro e saudável;
b) Trabalho forçado: a SA 8000 tem a intenção de fazer com que ninguém seja forçado a
trabalhar, mesmo previsto em contrato e até mesmo na prisão. Trabalho forçado é aquele
em que o serviço não é voluntário ou sob contrato justo, sob ameaça de qualquer
penalidade ou o trabalhador é obrigado a realizar o serviço para quitar débito anterior.
O empregador não tem o direito de reter documentos, como identidade, passaporte,
certidão de nascimento e carteira de trabalho como meio de manter o trabalhador no
emprego. Os termos do contrato do trabalhador devem ser totalmente comunicados e
entendidos por cada trabalhador e nunca ser criada alguma forma de endividamento do
mesmo, de modo que o mantenha “preso” ao emprego sendo forçado a trabalhar;
c) Saúde e segurança: a norma busca garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável.
Para tanto, medidas de prevenção devem ser tomadas para minimizar e, se possível,
eliminar os riscos ao trabalhador.

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A segurança e saúde do trabalhador são de responsabilidade do empregador, que deverá


prover condições favoráveis no local de trabalho, treinamento e equipamentos de proteção
individual (EPIs) adequados a todos os trabalhadores. É interessante ressaltar, que antes
do emprego do EPI, a empresa deve avaliar a viabilidade da instalação de um
equipamento de proteção coletiva (EPC), de modo a minimizar ou eliminar a exposição do
trabalhador aos riscos identificados. O EPC pode ser instalado na fonte geradora do risco
ou entre o trabalhador e a fonte;
d) Liberdade de associação e direito à negocição coletiva: a SA 8000 não exige que seja
estabelecido um sindicato, mas intenta promover um diálogo entre trabalhadores e
gerência. O que a norma exige é que os empregadores permitam aos trabalhadores a
negociação coletiva e o vínculo ao sindicato sem qualquer impedimento, ameaça ou
punição.
No que diz respeito aos países em que os direitos à negociação coletiva e liberdade de
associação são restritos ou nulos, os empregadores devem permitir que os trabalhadores
busquem alternativas para representação e negociação coletiva com a gerência;
e) Discriminação: qualquer distinção, exclusão ou preferência, que tenha o efeito de
anulação ou diminuição da igualdade de oportunidade ou tratamento é considerado,
segundo a SA 8000, discriminação.
A norma procura assegurar tratamento igual e respeitoso para todos os funcionários,
estando salvos de qualquer abuso verbal, físico ou assédio sexual. Devem ser treinados,
promovidos e compensados apenas baseado em seu desempenho no trabalho;
f) Práticas disciplinares: o empregador deve zelar pelo bem-estar mental, emocional e
físico do trabalhador, comunicando a toda a força de trabalho a política da empresa contra
punição corporal, mental, coerção física e abuso verbal. Procedimentos devem ser
adotados sistematicamente para avaliação de desempenho e ação disciplinar dos
trabalhadores, sendo que esta última deve iniciar-se com advertências verbais ou escritas,
antes de serem tomadas ações mais graves. Multas ou deduções salariais por motivos
disciplinares vão de encontro à SA 8000;
g) Horas de trabalho: este item da norma objetiva limitar o abuso de horas extras, que
devem ser voluntárias ou através de um acordo coletivo, nunca excedendo 12 horas
semanais;
h) Remuneração: os trabalhadores devem ser pagos integralmente pelas horas trabalhadas
regularmente, devendo ser suficiente para cobrir suas necessidades básicas e de pelo
menos metade de seus descendentes;
i) Sistema de gestão: a busca da melhoria contínua é o objetivo principal do sistema de
gestão baseado da norma SA 8000, a exemplo de outras normas que a mesma teve como
base, como a ISO 9001. Porém o foco não é o processo produtivo e, sim, os direitos
básicos e as condições de trabalho dos empregados.
Para a empresa comprovar a conformidade de seu sistema de gestão com a norma, não
deve apenas apresentar provas (evidências) documentais, mas a gerência deve demonstrar
seu comprometimento com o mesmo.
Os elementos fundamentais para verificar de forma abrangente uma análise de sistema de
gestão são: o comprometimento, a comunicação e a eficácia.

3. Contribuição técnica à prática de auditoria da norma SA 8000


Por apresentar-se como instrumento de apoio à gestão ainda pouco disseminado e,
conseqüentemente, com escassa literatura de caráter técnico-científico disponível, este
trabalho visa contribuir com pesquisadores e profissionais no sentido de compartilhar os
principais aspectos concernentes às práticas de auditoria da norma SA 8000.

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Neste sentido, propõe-se, em estrutura de fluxo, um alinhamento das principais rotinas


relacionadas à auditoria da SA 8000, com fins à facilitação do entendimento do processo, em
sentido amplo.
A figura 1, abaixo, ilustra o referido fluxo de atividades relevantes à auditoria da norma SA
8000. A segmentação seqüencial das etapas, por nível e por responsável, foi concebida pelos
autores no sentido da contribuição ao suporte das atividades de auditores e pesquisadores, no
âmbito do desenvolvimento de suas atividades profissionais.

Figura 1 – Fluxograma do processo básico de auditoria interna

3.1. Detalhamento técnico


O representante da administração poderá ser qualquer funcionário designado para a função de
gerenciar o processo de auditoria interna. Seu papel é o de estabelecer o contato inicial com as
gerências/ setores a serem auditados, provendo recursos e coordenando a melhoria contínua
de todo o processo.
O auditor líder é o responsável pela execução da auditoria interna. O planejamento (plano) e
condução da atividade; a definição de áreas, funções, entidades a serem auditadas e tarefas a
serem distribuídas aos auditores; o esclarecimento de dúvidas dos demais membros da equipe;
as decisões; a centralização de informações e o contato formal com a gerência são atribuições
do auditor líder, que também é responsável pela elaboração do relatório da auditoria,
geralmente entregue posteriormente para ser conferido pelo gerente e obtida a sua assinatura.
No fluxo apresentado, considera-se que o auditor líder apresenta ao gerente, após a reunião de
encerramento, um arquivo em meio eletrônico com a “avaliação da auditoria”, onde serão

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analisados: a postura do auditor líder (e demais auditores, se aplicável); conhecimento


técnico; liderança; logística; pontualidade, entre outros aspectos. Essa avaliação deverá ser
entregue pelo gerente ao representante da administração, servindo de insumo para a melhoria
contínua.
A gerência auditada provê a estrutura necessária à auditoria (sala reservada às entrevistas,
documentação solicitada e apoio do que for necessário durante a auditoria). É de
responsabilidade desta gerência, dar o devido tratamento às não-conformidades detectadas.

4. Conclusão
Uma auditoria baseada na norma SA 8000 é um processo atípico se comparado às auditorias
ditas convencionais, baseadas nas séries ISO 9001 e ISO 14001, por exemplo. A
particularidade da confidencialidade das entrevistas e a forma como devem ser conduzidas, os
locais de sua realização, os contatos com ONGs e sindicatos, tornam a auditoria da SA 8000
bastante peculiar, devendo-se ter cuidados e regras de abordagem específicos de modo a
garantir o efeito desejado nas entrevistas.
5. Considerações finais
Um sistema baseado na norma SA 8000 pode contribuir para o processo de melhoria contínua
do ambiente organizacional na medida em que propicia: a redução de riscos de acidentes; um
canal sigiloso para reclamações e sugestões; melhores condições no ambiente de trabalho;
maior qualificação dos funcionários através de treinamentos nas áreas de saúde e segurança; e
salários mais dignos e adequados às necessidades básicas dos funcionários.
Porém, a implantação de um sistema de gestão não pode ser justificada apenas dentro destes
termos. A perspectiva a ser demonstrada deve abranger, igualmente, os benefícios para a
organização, advindos não só do cumprimento aos requisitos legais como também da redução
nos índices de acidente e rotatividade de funcionários; da manutenção de bons profissionais;
da melhoria nas relações com governos, ONGs e sindicatos; da consolidação da imagem e da
performance em índices de investimento, como o Dow Jones Sustainability Index – DJSI.
A verdade é que, para a maioria das empresas, especialmente seus acionistas, o lucro, foco
primordial, ainda é visto como fruto direto, e quase que exclusivo, da relação produtividade
versus redução de custos, o que deixa em segundo plano a demanda subjetiva por qualidade
de vida, relacionada principalmente com as condições de trabalho dos funcionários.
Dentro desta circunstância, a norma SA 8000 é ainda um desafio a ser enfrentado na cultura
das organizações, disseminada a consciência de que o contingente humano, a ética e a
reputação podem ser alguns dos maiores patrimônios das empresas no mercado atual e futuro.
Referências
ALLEDI FILHO, Cid. Ética, Transparência e Responsabilidade Social Corporativa. Dissertação (Mestrado em
Sistemas de Gestão). Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2002.
ARAUJO, Fernando Oliveira de. Sistema de Gestão da Responsabilidade Social Corporativa: Proposta para
uma Organização Multinacional da Indústria Automobilística Brasileira. Dissertação (Mestrado em Sistemas de
Gestão). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005.
BIBLIOTECA DOS SISTEMAS DA QUALIDADE, SEGURANÇA DE ALIMENTOS E GESTÃO
AMBIENTAL. www.can.com.br/bibli.htm. <acesso em 03/03/2006>
COSTA, Tânia Maria Zambelli de Almeida. Organização e Responsabilidade Social. Texto complementar do
Mestrado em Sistemas de Gestão. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2004.

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INSTITUTO ETHOS. Principais conceitos. São Paulo: Instituto Ethos, 1998.
OLIVEIRA, M. A.. O Modelo ISO 9000 aplicado à Responsabilidade Social. São Paulo: Qualitymark, 2002.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. A eliminação do trabalho infantil: um objetivo ao
nosso alcance. Relatório global. Brasília: OIT, 2006.
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PORTAL DA QUALIDADE TOTAL. www.qualidadetotal.com.br <acesso em 03/05/2006>.
SAI – SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. www.cepaa.org. <acesso em 08/08/2005>.

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