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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ISABELLA SARDINHA MASCARENHAS (isabella.mascarenhas89@gmail.com)

PROVA 2 - HISTÓRIA DO BRASIL IV

BELO HORIZONTE
2022
1 – Faça uma análise sintética sobre os movimentos sociais ligados a
camponeses e trabalhadores rurais que surgiram a partir dos anos 1940-50 no
Brasil, levando em conta suas demandas e o impacto que provocaram no
espaço público.

A partir de 1945, “a figura do sujeito sem voz nem vez era reintroduzida em
cena no papel do trabalhador brasileiro” (NEGRO, 2019). Esse período foi marcado
por grandes e rápidas transformações na economia do Brasil, a urbanização e a
industrialização se potencializaram, impondo novas demandas e necessidades. O
crescimento do proletariado urbano coloca as classes populares nas discussões
políticas. Porém, o descompasso entre a agricultura e a indústria, tal como
percebido na época, colocava em questão a importância de adequar as atividades
agrícolas à nova etapa do desenvolvimento do país (MEDEIROS, 1989). Nesse
contexto de instabilidade política, crescimento econômico e rápidas mudanças na
sociedade, os trabalhadores do campo irão emergir como atores políticos
reivindicando seus direitos.
Segundo Medeiros (1989), as relações de trabalho no campo eram bastante
complexas. No entanto, a maioria das reivindicações cobravam direitos trabalhistas
garantidos aos trabalhadores urbanos tais como salário mínimo e férias e cuja
aplicação não era estendida aos rurais. Uma das principais armas de luta foi a
greve, que em 1951 alcançou o reconhecimento a “colonos e demais assalariados
agrícolas” o direito a férias remuneradas pelo Tribunal Regional do Trabalho de São
Paulo. Nesse contexto, há o surgimento das Ligas Camponesas, das associações e
das "uniões'', que embora ainda localizadas e dispersas, essas lutas repercutiram
fortemente nos centros de poder, fazendo da reforma agrária um importante eixo de
discussão política.
Após o fim do Estado Novo, época de intensa industrialização, nela foram
colocados em discussão, por diferentes forças sociais, projetos de desenvolvimento
para o país, onde tinha lugar de destaque o debate sobre o lugar de uma agricultura
considerada atrasada e incapaz de atender às necessidades que a indústria
demandava. Nesse período, as lutas se aglutinaram em bandeiras comuns e os
camponeses se organizaram a partir de mediadores políticos como, por exemplo, o
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nesse momento, começaram a formar o que
seriam as principais bandeiras das organizações emergentes: reforma agrária,
direito à sindicalização e extensão dos direitos trabalhistas ao campo (Medeiros,
2014). Outro ator político importante foi a Igreja Católica que ao perceber as
condições de miséria e exploração do campo, se juntaram em defesa do trabalhador
rural, a fim de se contrapor ao avanço do pensamento comunista.
As reivindicações surtiram um certo efeito, pois após o Congresso
Camponês de Belo Horizonte (1961), “ a reivindicação de acesso à terra torna-se um
tema público, que não mais podia ser ignorado” (Medeiros, 2014). Desta forma, em
1962 é regulamentado o direito à sindicalização dos camponeses. Logo em seguida,
em 1963 é aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural que estende a eles os
mesmos direitos dos trabalhadores urbanos.
Esse período, de grande efervescência social e política, encerrou-se com o
golpe militar de 1964. Abriu-se então uma conjuntura de intensa repressão, tanto
sobre os movimentos operários como sobre os trabalhadores rurais, era preciso
desmobilizar os trabalhadores e manter os sindicatos sob estrito controle. As lutas
no campo se isolaram, porém não desapareceram. A modernização da agricultura
pelo Estado e a distante esperança pela reforma agrária, intensificaram os conflitos
e as lutas de resistência. O período foi marcado, pela constituição de um
sindicalismo rural centralizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Contag) que embora pouco eficaz, servia como porta-voz dos anseios
dos trabalhadores rurais (Medeiros, 1989).
Durante o Regime, ocorreu a segunda e terceira edição do Congresso
Nacional dos Trabalhadores Rurais que reafirmaram a reforma agrária como
principal pauta e se empenharam na formação de dirigentes em questões como
administração sindical, contabilidade, legislação e conhecimento da realidade do
país. Nesse momento, surgem novas organizações como o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento dos Atingidos por Barragens e o
Conselho Nacional dos Seringueiros, demonstrando a diversidade de conflitos e
produzindo novas formas de luta.
Também setores da Igreja tornaram-se canais de expressão desse grupo
social, denunciando a miséria e a opressão de que eram vítimas, buscando
colaborar na sua organização. Os agentes pastorais, além da repressão da
Ditadura, sofriam também com a repressão de setores da própria Igreja (Polleto
Apud Medeiros, 2014). Pois haviam setores apoiadores do regime que moviam
campanhas contra esses trabalhadores. Ao longo de sua atuação, a Igreja manteve
uma tensa e complexa relação com os movimentos sindicais. Porém, maior do que a
distância entre os movimentos, era a aproximação de suas reivindicações que
envolviam nos dois lados, a luta pelo direito à terra.
A partir dos anos 1980 foi possível perceber uma nova forma de intervenção
estatal sobre a questão fundiária. Durante o governo de José Sarney, foi criado o
Ministério da Reforma Agrária e do Desenvolvimento (Mirad) que propôs um plano
de reforma agrária que contou com a participação de defensores da reforma e
dirigentes e assessores sindicais vinculados à Contag. No plano apresentado no IV
Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais (1985) “ a desapropriação por
interesse social era apontada como principal instrumento de obtenção de terras”
(Medeiros, 2014). Além disso, trazia a concepção de desapropriação como uma
forma de punição dos proprietários por não darem uma função social à terra.
Essa proposta encontrou resistência em diferentes frentes. Os trabalhadores
do campo ficaram desconfiados em relação às promessas do novo governo.
Segundo Medeiros (2014), a CUT denunciava a proposta como sendo a versão rural
do “pacto social”. Já os proprietários de terra se organizaram na União Democrática
Ruralista (UDR) criticando a reforma e estimulando o uso da força no combate à
ocupação das terras. Durante as negociações, diversos termos foram modificados, o
que acabou por eliminar a conotação punitiva que as desapropriações haviam
ganhado. Alteraram também o entendimento sobre o que seria o imóvel produtivo,
abrindo brecha para especulação das terras e uma exploração ainda maior.
“Em que pesem as demandas dos trabalhadores,[...] nem a Constituinte
atenderam seus reclamos, indicando os limites das possibilidades de
democratização da sociedade brasileira” (Medeiros, 1989). Apesar da nova
constituinte assegurar que a propriedade deve atender a sua função social,
estabeleceu que as desapropriações deveriam ser feitas mediante indenização em
Títulos da Dívida Agrária (TDA), o que elimina o entendimento das mesmas como
penalidades pelo não cumprimento da função social.
Desta forma, a luta por terra é uma pauta em disputa que demonstra a
existência de um problema estrutural. Nesse sentido, por meio da luta dos
trabalhadores, já alcançou diversas conquistas, mas ainda deve exigir e reivindicar o
que é seu por direito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Medeiros, Leonilde Sérvolo de. História dos movimentos sociais no campo / Leonilde
Sérvolo de Medeiros. — Rio de Janeiro FASE, 1989.

Medeiros, Leonilde Servolo de. Trabalhadores do campo, luta pela terra e o


regime civil-militar. In Pinheiro, Milton (org.). Ditadura: o que resta da transição. São
Paulo: Boitempo, 2014, p.195-229;

Negro, Antonio Luigi e Silva, Fernando Teixeira da. Trabalhadores, sindicatos e


política. In Ferreira, Jorge e Delgado, Lucília de Almeida Neves (org). O Brasil
republicano. Volume 3 (O tempo da experiência democrática, 1945-64), p.47-96.

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