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*
Mestrando em Geografia. Membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho, CEGeT/UNESP-
Presidente Prudente.
I
ntrodução que a atuação dos Movimentos Sociais de Luta
pela Terra e pela Reforma agrária (MSLTRA)3
(...) o latifúndio se incrusta no poder de se multiplica. A pressão no campo aumenta
maneira perene na nossa história. É
impressionante como os representantes
especialmente a partir de 1995, com o
do setor ruralista simplesmente são surgimento de um grande número de novos
uníssonos em afirmar que não sabem porque a grupos, além do Movimento dos
reforma agrária não foi feita no Brasil, embora Trabalhadores Sem Terra (MST), o
tenham se articulado durante anos para Movimento dos Atingidos por Barragens
efetivamente barrá-la...Falam como se não (MAB) e os seringueiros. Segundo OLIVEIRA
tivessem feito nada contra ela; só defenderam o (2003) isso é uma mostra inequívoca da
sagrado direito da propriedade. (D. Pedro existência de uma mobilização social no campo
Casaldáliga ) maior que o MST, algo que precisa ser
compreendido pelos diversos atores e
A classe trabalhadora do campo, no Brasil
instituições sociais, desde os intelectuais,
e fora das suas fronteiras também1, continua
governantes e elites, até a própria mídia:
organizando-se na luta pela distribuição de
terra com fins de uso social. De diferentes Os Movimentos Sociais de luta pela terra
formas e por meio de distintas lutas, os no Brasil são o que há de mais moderno que
trabalhadores inseridos no campo têm temos no país. Eles trazem para o cenário
construído parte da história do Brasil. Porém, nacional uma nova forma de se fazer e agir
essas lutas que deveriam ter sido superadas ao politicamente, ou seja, eles trazem para o
longo de mais de 500 anos, continuam vivas e cenário da democracia brasileira exatamente a
com uma potencialidade única: pela primeira possibilidade da democracia de massa, do
vez na história, os trabalhadores sem-terra são exercício da democracia direta. Só não vê isso
interlocutores diretos do poder quem, de forma preconceituosa, não quer
institucionalizado2. Portanto, nem a compreender estes movimentos ou a bandeira
organização dos trabalhadores no campo, nem de luta pela Reforma agrária (Oliveira apud,
a Reforma agrária são, como alguns se Lerrer, p. 52).
empenham em afirmar e fazer crer, coisas do
passado. Ainda é o MST, no entanto, quem reúne o
maior número de famílias acampadas e
Com isso, destacamos que a contradição, assentadas no âmbito de seu projeto político, o
sustentáculo da trama social do conflito qual, apesar de ser um interlocutor do
territorial que envolve os trabalhadores, o Governo “Lula”, desafia o Estado por meio da
Estado e a elite latifundiária, se reforça, dado sua ferramenta de luta política mais eficaz: a
ocupação.
1 Mostra disso é a Via Campesina, movimento
internacional que coordena organizações de
trabalhadores no campo, mulheres, comunidades 3 Adotamos o termo Movimento Social de Luta pela
indígenas, da África, Ásia, América e Europa. Terra e pela Reforma Agrária – MSLTRA - para
referirmo-nos a todos os movimentos, sejam isolados
2 Referimo-nos ao reconhecimento do MST como ou territorializados, que mobilizam a classe
interlocutor de primeiro escalão das instâncias do trabalhadora no campo, visando à implementação de
governo e do próprio Presidente da República, gesto uma Reforma agrária estrutural, entendendo
iniciado pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso movimento territorializado como movimento “que atua
quando aceitou, pela primeira vez, uma audiência junto em diferentes lugares ao mesmo tempo, ação
com os líderes do Movimento, no encerramento do 3° possibilitada por causa de sua organização, que permite
Congresso do MST, aos 27 de julho de 1995, fato que espacializar a luta para conquistar novas frações do
consagrou o MST no cenário político nacional. território, multiplicando-se no processo de
territorialização”. (FERNANDES, 2001,64)
50º40' W
21º25' S
LEGENDA
Presença do MST
Rios MS MG
Presença do MAST SP
Divisão Municipal PR
Presença do MST/MAST
Presença do MST/MAST e
UNITERRA/ARST/MNF/MTV
MUNICÍPIOS
em 28 jun. 2004.
4010 famílias
7 150 famílias
10
120 famílias 3
1
6 750 famílias
450 famílias
11 120 famílias
8 2 9
5 4
150 famílias
400 famílias
PARANÁ
320 famílias
LEGENDA
MUNICÍPIOS
Fonte: Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2003 e Trabalho de Campo, 2003-2004
Organização: Edvaldo Carlos de Lima
Base Cartográfica: Gleison Moreira Leal, 2003
Ac. Figueiras
Ac. Tupi Conam Ac. MAST
Ac.Fazenda da Mata Ac. MAST
Ac. Fazenda Santa Terezinha
Ac. Jahir Ribeiro
Pegada vol. 6 n. 2
Ac. MAST
Ac. UNITERRA
2
1 10 7 Ac. Julho Budisk(SP-501)
Ac. MAST
M ATO GROSS O 9
Ac. Santa Madalena
DO S UL Ac. Santo Dias da Silva
14
4
Ac. Herbert de Souza “Betinho”
SÃ O P A UL O
11
12 3 13
8 5
6
Ac. Mario Covas
52
Ac. Carlos Mariguela Ac.Fazenda Nazare
Ac. Roseli Nunes Toninho do PT
Ac. Margarida Alves Ac. Fazenda São Domingos
Ac. Toninho do PT
Ac. Fazenda Santa Fe
PA R AN Á
Novembro 2005
DOSSIÊ
As insurgências que vêm aqui à tona são totalidade, têm maior condições de se manter
as que aconteceram no final da década de 1970 no poder, vinculando-se ao Estado pelo poder
e início de 1980 no país, e especialmente as de domínio de seu capital de uso: a terra.
que surgiram no Pontal do Paranapanema na
década de 1990. Esse período de elevação da Como resposta a essa forma de
classe trabalhadora já era uma resposta ao organização do espaço, os MSLTRA se
período de 1965 a 1985, o qual marcou a apresentam oponentemente a esse domínio
agricultura brasileira em relação às territorial, agregando força política junto aos
transformações na história ao longo do trabalhadores desempregados do campo e da
período dos governos militares. Isso implica cidade, tendo como principal instrumento de
que o regime militar, com sua política de luta a ocupação dos territórios privados, ou
desenvolvimento agropecuário, tinha, como seja, os latifúndios, caso do MST.
intuito, a aceleração do desenvolvimento do
capitalismo no campo, nos termos de
Fernandes (1996): O MST: especificidades como MSLTRA
(...) incentivando a reprodução da propriedade O Movimento dos Trabalhadores Rurais
capitalista, durante os governos militares pós- Sem Terra (MST) é um movimento de
64, foram criadas as condições necessárias para reivindicação de direitos, assim como os
o desenvolvimento de uma política agrária, demais que compõem o MSLTRA no Brasil. O
privilegiando as grandes empresas, mediante MST é um
incentivos
financeiros, que o regime militar, com sua movimento de
reivindicação
passaram a se
ocupar da política de desenvolvimento radical no sentido
de “se faz” ou “se
agropecuária.
Para agropecuário, tinha, como faz” a Reforma
entendermos a
origem dessa
intuito, a aceleração do agrária, todavia,
amparado pela
política
preciso
é desenvolvimento do capitalismo Constituição9.
Não se trata aqui,
considerar que no campo como
o golpe militar demagogicamente
de 1964 teve, se fala para subestimar ou desacreditar a luta,
entre outros objetivos, a finalidade de isolar de uma revolução10 no campo, e sim de uma
parcialmente, de um lado, o poder dos coronéis
latifundistas e, de outro, impedir totalmente o
luta democrática pela conquista dos direitos
crescimento das lutas dos trabalhadores rurais, constitucionais que todo e qualquer cidadão
que vinham construindo suas formas de
organização, sobretudo a partir de meados da década 9 Titulo VII, Capítulo III, Artigos 184,185 e 186.
de 50 (p. 32). Constituição Federal do Brasil.
10 Referimo-nos aos formadores de opinião, que
brasileiro tem e que opta por exigi-los no lugar pelo direcionamento de uma mudança radical
de recorrer à esmola e caridade. da sociedade, enfatizando a amplitude das suas
dimensões políticas, muito além da questão da
De fato, a proposta do Plano Nacional de terra. Por isso,
Reforma Agrária apresentado ao Governo
Lula em 2003, considerou os 109 milhões de
para assentar 1 uma vez que a
sua
hectares improdutivos no Brasil, dos quais 86
milhões de terras são devolutas/griladas
milhão de consolidação e
cadastradas no INCRA, há entre 2,5 a 5 famílias, seria territorialização
como
milhões de famílias demandando terra; 171.000
famílias acampadas; e 830.000, no Banco da necessário organização de
trabalhadores
Terra – quanto a isso, constitucionalmente o
INCRA está obrigado a fazer Reforma
desapropriar sem terras
prima pelo
agrária11. 35 milhões de combate à
A demanda é explícita e potencial, sendo hectares dos apropriação
ilegal da terra,
que, pelos cálculos para assentar 1 milhão de
famílias, seria necessário desapropriar 35 109 milhões expropriação e
exploração dos
milhões de hectares dos 109 milhões que há. que há trabalhadores, a
Não obstante, na atualidade, a luta do sua proposta é
MST responde pela implementação de 30% mais ampla. Existe no seu ideário, como
dos assentamentos de Reforma agrária no colocamos, a ânsia de mudar não só as
Brasil. O conjunto de medidas estruturais que condições objetivas que estão postas, mas
o MST aponta como necessárias para a também as subjetivas, como se deduz pelas
consecução da Reforma agrária responde, palavras de João Pedro Stédile, em entrevista a
segundo Oliveira (2003), a duas naturezas: Débora Lerrer (2003):
fundiária e político-agrícola. As medidas
estritamente fundiárias são aquelas por meio Queremos mudar a sociedade, queremos um
novo modelo agrícola, queremos uma
das quais se expropriam os grandes latifúndios,
sociedade onde todos tenham trabalho. Nós
e se redistribuem as terras entre os sabemos que essas mudanças não são obtidas
trabalhadores, permitindo-lhes o acesso a terra. só com a posse da terra. Quando dizemos que
As medidas próprias da política agrícola em o modelo de reforma agrária necessário não
geral seriam as encaminhadas a dotar estes se relaciona mais só com terra, muitos ficam
trabalhadores assentados de condições bravos. Nós queremos agroindústria, escola,
financeiras para que possam produzir nas suas um novo pacote tecnológico. Ah...então
terras. Isso requer cobrir inicialmente a parte vocês estão politizados! Não, somos burros ...
relativa à produção em si e, na seqüência, o Isso é a leitura tucana da ideologia da elite.
conjunto de necessidades que as famílias têm Ela reflete o preconceito de que pobre pode
desde a melhoria da sua qualificação lutar pelas suas necessidades básicas, mas não
profissional etc. pode ter ideologia. É um preconceito
ideológico e é uma humilhação, pois só
Além dos outros tantos objetivos do porque a pessoa é pobre de bens materiais
MST, um dos que são fundamentais pauta-se não tem direito a pensar em outras coisas?
Não tem direito a disputar uma política?
Então o título de eleitor é só para você votar,
11 Maiores detalhes dessas informações estão na mas não para discutir projeto com a
Proposta do Plano Nacional de Reforma agrária sociedade? No fundo, esse mesmo
elaborada pela equipe técnica do Professor Plínio de preconceito revela a forma como as elites
Arruda Sampaio. (SAMPAIO, et al., 2003, p.42-43).
fazem política. Só eles podem decidir os diferentes bandeiras, faz com que a luta pela
destinos do país. Os pobres são para Reforma agrária esteja cada dia mais forte e
trabalhar. (p.157). presente na agenda política do país, o que
Para Stédile, o projeto de sociedade do implica contribuir com os objetivos de luta do
MST não é MST.
outro senão o
seu próprio
o MST surge Por essa e outras razões, o MSLTRA é
construído a partir de lutas isoladas e do
método. Assim, da lógica acúmulo de contradições da sociedade do
projeto e
método se desigual do capital. A nossa atenção volta-se agora para
essas circunstâncias no Pontal do
tornam
mesma coisa: a
a modo de Paranapanema, território de conflito e
mobilização social pela Reforma agrária sob
produção de produção distintas bandeiras.
uma sociedade,
portanto, de capitalista
um espaço,
Formação e lutas do MST no Pontal do
baseado na justiça social. Porém, tanto método
Paranapanema
quanto projeto têm que ser construídos num
amplo processo de organização, mobilização e Pode-se afirmar que o mundo do trabalho, e a
debate com a maioria da sociedade. sociedade de maneira geral,têm se caracterizado
historicamente por uma forma de arrumação
Não obstante, a organização e espacial específica. (Antonio Thomaz Júnior)
mobilização da classe trabalhadora no campo é
plural. Ou seja, além dos Sindicatos dos Na arrumação espacial específica, que
Trabalhadores Rurais (STR’s) e do próprio coloca Thomaz Júnior (2002), inserimos a
MST, existem outros grupos sociais de chegada do MST na região do Pontal do
organização dos trabalhadores que reivindicam Paranapanema. Ela foi, antes de qualquer
a concretização da Reforma agrária, como já coisa, um impacto na estrutura agrária da
foi colocado. As formas de luta, atreladas ao região dominada pelo latifúndio.
ideário político, definem cada um dos
Foi a partir da década de 1990 que os
Movimentos. Assim, a “ocupação” como
acampamentos e assentamentos rurais entram
ferramenta política é contestada pelos
em cena, modificando a dinâmica territorial da
Movimentos mais próximos da Social
região. No atual estágio de desenvolvimento
Democracia, como a UNITERRA e o MAST,
da nossa pesquisa, há no Pontal um total de 76
no Pontal, ou os movimentos liderados por
assentamentos de Reforma agrária, que
Igrejas Evangélicas defensoras do “sagrado”
representam 6.000 famílias assentadas (MST,
direito da propriedade, como a Assembléia de
2004), e 24 acampamentos que reúnem mais
Deus, caso também do MAST, no Pontal.
de 8.732 famílias12 na espera de um lote de
Tendo em vista que o MST surge da terra. Sendo que desse total, 7082 são famílias
lógica desigual do modo de produção acampadas do MST (Figura 3).
capitalista e que, por meio das ocupações, a
Nesse contexto, o Estado, representado
contesta, a existência de cada vez mais
pelo Instituto de Terras de São Paulo (ITESP)
movimentos que se contrapõem à ação política
da ocupação fragiliza paulatinamente a
12 Dados obtidos por meio de Trabalho de Campo
capacidade organizativa de trabalhadores no
realizado pela equipe de pesquisa até abril de 2004, e
campo do MST. De outro lado, a efervescência das fontes de consulta: CPT, 2003; ITESP, 2000; O
de formas de contestação no campo, sob Imparcial; Folha de São Paulo; Diário de São Paulo.
locais, alguns deles de atução não superior à e, por conseguinte, não necessariamente numa
escala municipal. São os denominados organização social terrritorializada.
movimentos isolados, os quais, para Fenandes
(2001), se caraterizam pela forma de Os passos de uma instância a outra se dão
organização dos grupos de famílias, sobre uma em função da sua forma de organização sócio-
base territorial determinada: “os movimentos política e espacial, ou seja, por meio dos
isolados se organizam em um munícipio ou processos geográficos de espacialização e
conjunto de municípios para efetivar uma territorialização. Assim sendo, a espacialização
ocupação, podem ser resultado de dissensões do movimento isolado de base municipal
de movimentos socioterritoiais” (p.64). como o UNITERRA (Figuras 4 e 5), no
Pontal, implica o dimensionamento do seu
Todavia, a sua base territorial está limitada espaço de sociabilização política; porém, suas
pela ação do movimento. Se superarem essa ações não superaram ainda a sua base
condição, tais movimentos podem territorial de origem. Em contrapartida, o
transformar-se em um movimento MAST, também no Pontal, se territorializa em
territorializado ou organização territorializada, outros estados brasileiros, superando essa base
o que implica a capacidade de organizar ações inicial, da mesma maneira que o MST. Esse
para além da sua base territorial de origem. último, mediante a implementação dos
Essas tentativas de inserção territorial do assentamentos, configura a sua
MAST no território do latifúndio capitalista territorialização, sendo que “entre o tempo de
nada mais é do que uma repercussão do acampamento e assentamento, desenvolve-se o
tratamento que o capital condiciona para processo de espacialização” (FERNANDES,
controlar a esfera organizativa do movimento 2001, p.80). Disso deriva que os processos de
em suas tentativas de territorialidades. Falamos espacialização e territorialização são
aqui do controle dos processos sociais no interativos, já
sentido de alienar politicamente os agentes que “a
sociais do movimento para manter seu raio de nem todo espacialização
ação política, limitado pelas atitudes,
denominadas pelo movimento de
movimento cria
territorialização
democráticas, já que presentes nas formas de social e é reproduzida
ocupação deste movimento. Esse contexto nos por esta” (2001,
coloca na crença de centrar nossas críticas na transforma-se p.69).
direção do metabolismo do capital, como
lembra Thomaz Junior.
em O passo de
Pegada vol. 6 n. 2
MST - Movimento dos
Trabalhadores CPT - Comissão
Rurais Sem Terra Pastoral da Terra
MSLTRA - Movimento Social de
Luta pela Terra e pela Reforma
Agrária
60
MTE MPST MUST MTV
Movimento Terra Movimento da Paz Movimento Unidos Movimento Terra Viva
UNITERRA
da Esperança Sem Terra Sem Terra
MNF
MSTP MTP MEV
MC Movimento
Movimento Sem Movimento Terra e Movimento Esperança
Movimento Central Nova Força
Terra do Pontal Pão Viva
MTRSTB
MUP MP MB MSTR
Movimento dos Trabalhadores
Movimento Unidos Movimento da Movimento Movimento Sem Terra
Rurais Sem Terra
pela Paz Paz dos Barraqueiros de Rosana
do Brasil
Novembro 2005
DOSSIÊ
desuniões, partindo de facetas agressivas como movimento como um todo em seu significado
foram as considerações e depoimentos de seus perante a sociedade e a imprensa, quanto ao
líderes no momento da Assembléia de projeto de Reforma agrária e ao enfrentamento
formação do I Encontro em Rosana: com os latifundiários e setores burgueses
dominantes:
Eu quero dizer a vocês que nós somos
dissidentes, levantamos a primeira bandeira de Companheiros, eu e o companheiro Zoinho,
dissidentes do MST aqui na região. Através da nós somos fundadores de um grupo dissidente
imprensa disseram um monte de nós, até nos sem terra, que decidimos deixar aquele
ameaçaram, fomos vítimas de diversas movimento de corruptos que é o
emboscadas justamente por isso. Mas nós MST...(aplausos dos trabalhadores simpáticos a
vamos provar para eles que não éramos fundação do MAST ), porque nós estávamos
bandidos não. É justamente pelo fato de nós sofrendo nas garras daqueles “gaviões”, desde
estarmos sendo dirigidos e coordenados por 1.990 início de 91, aonde nós só perdemos e
bandidos. E nós queríamos uma reforma não ganhamos nada. (Liderança do MAST no
agrária justa, uma reforma agrária transparente e Pontal de Paranapanema)
não ser massa de manobra de ninguém, e não
usufruir o direito de ninguém. (MAST, 1998). A idéia de repúdio ao MST não se limitou
apenas aos responsáveis pela representação e
Esse depoimento nos permite institucionalização do MAST. Trabalhadores
compreender a origem do processo de presentes na plenária do ato de
divergências político-ideológicas existente institucionalização desse movimento se
entre os líderes do MST e o MAST. No manifestavam de várias formas contra a ação
momento da fala do ex-líder do Movimento do MST no Pontal do Paranapanema: cada um
Esperança Viva este acusa diretamente não deles tinha uma história para contar. Essa
somente o MST nas suas formas de agir, como postura de repúdio ao MST também foi
também, as diferenças pessoais com os constituída ao longo das entrevistas que
principais líderes do MST. Em seus realizamos
depoimentos e desabafos ao longo de seu
discurso, são explícitas as acusações de
enfrentamento junto aos
trabalhadores,
corrupção na organização do MST. com os individualmente
Esse tipo de afrontamento também faz latifundiários e ao longo dos
últimos dois
parte do universo da luta. Aliás, o assentado e
ex-líder foi expulso de seu lote pelo Instituto setores anos.
de Terras de São Paulo (ITESP) e pelo
Departamento de Assuntos Fundiários (DAF),
burgueses Dos
participantes do
acusado de depredação do patrimônio público. dominantes Encontro,
Em outra fala, um outro ex-líder, também estavam
fundador do Movimento Esperança Viva, faz presentes também representantes da Social
as mesmas acusações, ou seja, denomina o Democracia Sindical (SDS), representantes
MST “movimento dos corruptos”. Sindicais Rurais (STR`s) locais, partidos
políticos, especialmente lideranças do Partido
Essas falas mostram como as lideranças, e da Social Democracia Brasileira (PSDB).
também integrantes das bases, explicitam e
fortalecem o processo de divergências na Em entrevistas posteriores, a ideologia
estrutura do Movimento Social de Luta Pela que permanece nos trabalhadores ao longo da
Terra e pela Reforma Agrária (MSLTRA). trajetória do MAST é traduzida pelo repúdio às
Conseqüentemente, há fragilização do formas que o MST adota para ação da luta pela
terra e pela Reforma agrária no Pontal do
M TR STB
M ovimento dos Trabalhadores Rurais M TP
Pegada vol. 6 n. 2
Sem Terra do B rasil M ovimento Terra e Pão
M TV
M UP
M ovimento Terra Viva
M TE M ovimento Unidos
MAT O G RO SS O M ovimento Terra e Esperança pela Paz
UN ITER RA
DO S UL União dos Trabalha dores Sem Terra
M TC
MNF 3 M ovimento Terra
M ovimento N ova Força e Cidadania
A RST
A ssociação Renovação 7 2 S Â O PA U LO
Sem Terra 4
MP
M ovimento da Paz
M TB 5
M ovimento Terra
B rasil 9
1 M UST
M STR 10
M ovimento Unidos dos
M ovimento Sem Terra Sem Terra
8
64
de Rosana
6
M STP
M ovimento Sem Terra
do Pontal
M PST
M EV M ovimento da Paz
M ovimento Esperança Sem Terra
Viva
PA R A N Á
M UN ICÍPIOS
LEGEN DA ESCA LA GRÁ FICA
1 - M irante do Paranapanema 6 - R osana
M unicípios com M ovimentos agregados do
2 - Presidente B ernardes 7 - Santo A nastácio M A ST
M SLTRA
5 - Regente Feijó 10 - Teodoro Sampaio
DOSSIÊ
Novembro 2005
DOSSIÊ
Referências bibliográficas
FELICIANO, C.A. O Movimento camponês
rebelde e a Geografia da reforma agrária.
200 famílias
PARANÁ
LEGENDA
MUNICÍPIOS
Fonte: Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2003 e Trabalho de Campo, 2003-2004
Organização: Edvaldo Carlos de Lima
Base Cartográfica: Leal, 2003
La territorialidad de los movimientos sociales que lucham por tierra y reforma agraria en el Pontal do
Paranapanema
Resumen: Para comprender la mobilización de la clase trabajadora en el campo, por dentro de la lucha
y resistencia en la tierra en Brasil, es necesario entender dos fenómenos: el latifundio y los movimientos
sociales rurales, siendo el primero la base propulsora del segundo. De forma específica este texto se
centra en el diagnóstico de las discrepancias y disidencias de los Movimientos Sociales que Luchan por
la Tierra y por la Reforma Agrária en la región del Pontal de Paranapanema, aproximándonos a sus
implicaciones territoriales.
Palabras-clave: Movimientos Sociales; Reforma agrária; Disidencias.
Abstract: If we want to understand the mobilization of working class in the country side, in the
Brazilian context of land struggle and resistance, we need to understand two facts; the latifundia and
the rural social movements, understanding the first one as a motor of the second’s. Particularly, our
paper aims to diagnostic the discrepancies and dissidences of the Social Movements that Struggle for
Land and Agrarian Reform in the Pontal de Paranapanema region, through their territorial marks.
Key-words: Social Movements; Agrarian Reform; Disidences.