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O que é o MST
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi formalmente
fundado por 100 dirigentes de lutas camponesas de 13 estados do Brasil no seu Primeiro
Encontro Nacional, celebrado de 21 a 24 de Janeiro de 1984 em Cascavel (Estado do
Paraná).
Herdeiro duma longa tradição de luta pela terra no Brasil, o MST nasceu sob o
estímulo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) para corrigir o estremadamente desigual
reparto da propriedade da terra no país. Mais os seus três grandes objetivos, além da
conquista da Terra são a Reforma Agrária e a Transformação Social.

 Conquista daTerra. A terra não se possui, a terra é um bem comum que se trabalha
racionalmente e com respeito para poder viver e, o que é mais importante, para
poder viver bem. Então a Terra é um bem de uso, não um bem de troca.
 Reforma agrária, porque querem modificar a estrutura da propriedade da terra para
garantir que a produção da agropecuária assegure a eliminação da fome e o
desenvolvimento econômico e social dos trabalhadores e trabalhadoras. Para isto
apóiam a produção familiar e cooperativista com preços compensadores, crédito e
seguro agrícola, e promovem o desenvolvimento de tecnologias adequadas á
realidade, que preservem e recuperem os recursos naturais. O resultado são os
seus modélicos assentamentos, exemplo dum desenvolvimento agrícola auto-
sustentável que garante melhores condições de vida, educação, cultura e lazer para
todos e todas.
 Transformação Social, porque são conscientes de que através da sua luta de
classes, pretendem construir uma sociedade sem exploradores, igualitária no
econômico, político, social e cultural, onde o trabalho tenha supremacia sobre o
capital e haja uma justa distribuição da terra, da renda e das riquezas.

MST: Quem somos ?

Para falar sobre a trajetória do MST é preciso falar da história da concentração


fundiária que marca o Brasil desde 1500. Por conta disso, aconteceram diversas formas
de resistência como os Quilombos, Canudos, as Ligas Camponesas, as lutas de Trombas
e Formoso, a Guerrilha do Araguaia, entre outras.
Em 1961, com a renúncia do então presidente Jânio Quadros, João Goulart - o
Jango - assume o cargo com a proposta de mobilizar as massas trabalhadoras em torno
das reformas de base, que alterariam as relações econômicas e sociais no país. Vive-se,
então, um clima de efervescência, principalmente sobre a Reforma Agrária.
Com o golpe militar de 1964, as lutas populares sofrem violenta repressão. Nesse
mesmo ano, o presidente-marechal Castelo Branco decretou a primeira Lei de Reforma
Agrária no Brasil: o Estatuto da Terra. Elaborado com uma visão progressista com a
proposta de mexer na estrutura fundiária do país, ele jamais foi implantado e se
configurou como um instrumento estratégico para controlar as lutas sociais e desarticular
os conflitos por terra. As poucas desapropriações serviram apenas para diminuir os
conflitos ou realizar projetos de colonização, principalmente na região amazônica. De
1965 a 1981, foram realizadas 8 desapropriações em média, por ano, apesar de terem
ocorrido pelo menos 70 conflitos por terra anualmente.
Nos anos da ditadura, apesar das organizações que representavam as
trabalhadoras e trabalhadores rurais serem perseguidas, a luta pela terra continuou
crescendo. Foi quando começaram a ser organizadas as primeiras ocupações de terra,
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não como um movimento organizado, mas sob influência principal da ala progressista da
Igreja Católica, que resistia à ditadura. Foi esse o contexto que levou ao surgimento da
Comissão Pastoral da Terra (CPT), em1975.
Nesse período, o Brasil vivia uma conjuntura de extremas lutas pela abertura política,
pelo fim da ditadura e de mobilizações operárias nas cidades. Fruto desse contexto, em
janeiro de 1984, ocorre o primeiro encontro do MST em Cascavel, no Paraná, onde se
reafirmou a necessidade da ocupação como uma ferramenta legítima das trabalhadoras e
trabalhadores rurais. A partir daí, começou-se a pensar um movimento com preocupação
orgânica, com objetivos e linha política definidos.
Em 1985, em meio ao clima da campanha "Diretas Já", o MST realizou seu primeiro
Congresso Nacional, em Curitiba, no Paraná, cuja palavra de ordem era: "Ocupação é a
única solução". Neste mesmo ano, o governo de José Sarney aprova o Plano Nacional de
Reforma Agrária (PNRA), que tinha por objetivo dar aplicação rápida ao Estatuto da Terra
e viabilizar a Reforma Agrária até o fim do mandato do presidente, assentando 1,4 milhão
de famílias. Mais uma vez a proposta de Reforma Agrária ficou apenas no papel. O
governo Sarney, modificado com os interesses do latifúndio, ao final de um mandato de 5
anos, assentou menos de 90 mil famílias sem-terra. Ou seja, apenas 6% das metas
estabelecidas no PNRA foi cumprida por aquele governo.
Com a articulação para a Assembléia Constituinte, os ruralistas se organizam na
criação da União Democrática Ruralista (UDR) e atuam em três frentes: o braço armado -
incentivando a violência no campo -, a bancada ruralista no parlamento e a mídia como
aliada.
Os ruralistas conseguiram impor emendas na Constituição de 1988 ainda mais
conservadoras que o Estatuto da Terra.
Porém, nessa Constituição os movimentos sociais tiveram uma importante
conquista no que se refere ao direito à terra: os artigos 184 e 186. Eles fazem referência à
função social da terra e determinam que, quando ela for violada, a terra seja
desapropriada para fins de Reforma Agrária. Esse foi também um período em que o MST
reafirmou sua autonomia, definiu seus símbolos, bandeira, hino. Assim foram se
estruturaram os diversos setores dentro do Movimento.
A eleição de Fernando Collor de Melo para a presidência da República em 1989
representou um retrocesso na luta pela terra, já que ele era declaradamente contra a
Reforma Agrária e tinha ruralistas como seus aliados de governo. Foram tempos de
repressão contra os Sem Terra, despejos violentos, assassinatos e prisões arbitrárias. Em
1990, ocorreu o II Congresso do MST, em Brasília, e que continuou debatendo a
organização interna, as ocupações e, principalmente, a expansão do Movimento em nível
nacional. A palavra de ordem era: "Ocupar, resistir,produzir".
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso vence as eleições com um projeto de
governo neoliberal, principalmente para o campo. É o momento em que se prioriza
novamente a agro-exportação. Ou seja, em vez de incentivar a produção de alimentos, a
política agrícola está voltada para atender os interesses do mercado internacional e para
gerar os dólares necessários para pagar os juros da dívida externa.
No ano seguinte, o MST realizou seu III Congresso Nacional, em Brasília. Cresce
a consciência de que a Reforma Agrária é uma luta fundamental no campo, mas que se
não for disputada na cidade nunca terá uma vitória efetiva. Por isso, a palavra de ordem
foi "Reforma Agrária, uma luta de todos".
Já em 1997, o Movimento organizou a histórica "Marcha Nacional Por Emprego,
Justiça e Reforma Agrária" com destino a Brasília, com data de chegada em 17 abril, um
ano após o massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 Sem Terra foram brutamente
assassinados pela polícia no Pará.
Em agosto de 2000, o MST realiza seu IV Congresso Nacional, em Brasília, cuja
palavra de ordem foi "Por um Brasil sem latifúndio" e que orienta as ações do movimento
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até hoje.
O Brasil sofreu 8 anos com o modelo econômico neoliberal implementado pelo
governo FHC, que provocou graves danos para quem vive no meio rural, fazendo crescer
a pobreza, a desigualdade, o êxodo, a falta de trabalho e de terra. A eleição de Lula, em
2001, representou a vitória do povo brasileiro e a derrota das elites e de seu projeto. Mas,
mesmo essa vitória eleitoral não foi suficiente para gerar mudanças significativas na
estrutura fundiária e no modelo agrícola. Assim, é necessário promover, cada vez mais,
as lutas sociais para garantir a construção de um modelo de agricultura que priorize a
produção de alimentos e a distribuição de renda.
Hoje, completando 22 anos de existência, o MST entende que seu papel como
movimento social é continuar organizando os pobres do campo, conscientizando-os de
seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Nos 23 estados em que o
Movimento atua, a luta não só pela Reforma Agrária, mas pela construção de um projeto
popular para o Brasil, baseado na justiça social e na dignidade humana.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um movimento
social brasileiro que busca a reforma agrária . Teve origem na oposição ao modelo de
reforma agrária imposto pelo regime militar, principalmente nos anos 1970, que priorizava
a colonização de terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de
excedentes populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST
busca fundamentalmente a redistribuição das terras improdutivas.
Apesar dos movimentos organizados de massa pela reforma agrária no Brasil
remontarem apenas às ligas camponesas, associações de agricultores que existiam
durante as décadas de 1950 e 1960, o MST proclama-se como herdeiro ideológico de
todos os movimentos de base social camponesa ocorridos desde que os portugueses
entraram no Brasil, quando a terra foi dividida em sesmarias por favor real, de acordo com
o direito feudal português, fato este que excluiu em princípio grande parte da população
do acesso direto à terra.

MODELO DE AÇÃO MST: ACAMPAMENTOS E ASSENTAMENTOS.

A organização do MST é profundamente sólida. Toda a militância, seguindo os


princípios organizativos do Movimento, trabalha em algum dos setores nos que dividem a
sua ação: Frente de Massa, Formação, Propaganda/Comunicação, Finanças, Saúde,
Educação, produção, Gênero e Meio Ambiente.
A militância da Frente de massa é a encarregada da entrada da base social do
Movimento, que consegue ilusionando às famílias dos bairros da periferia das cidades,
antigos labregos que mal-vivem escravos do sistema, sem perspectivas de melhora para
os seus filhos (no Brasil 30 milhões de pessoas estão baixo a linha da pobreza absoluta).
Esta militância conscientiza-os da injustiça social da qual são vítimas, e demonstra com
feitos a melhora proposta pelo MST. De contado junta a varias dúzias (às vezes centos)
de famílias dispostas a ocupar um grande latifúndio que não está produzindo e exigir a
sua expropriação para a Reforma Agrária.
Com a ocupação funda-se um acampamento e começa a desenvolver-se um
modelo organizativo que tem como célula de trabalho o grupo de famílias (10 famílias) e
como máximo foro deliberativo e de decisão à Assembléia do acampamento, que
escolhe a Coordenação do acampamento, com um(a) Coordenador(a) geral e
responsáveis de cada setor. É a chamada etapa de lona preta, em referencia às lonas de
plástico com as que constróem os seus barracos. Nesta etapa quase sempre se vêm
obrigados a resistir à violência da polícia ou de pistoleiros pagos por fazendeiros.
Também sofrem violentos despejos (desocupações forçosas) enquanto negociam com o
governo, através do seu Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) a
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desapropriação da fazenda, previa demonstração da sua anterior improdutividade e prévio


pagamento ao fazendeiro de uma indenização.
Por fim, com a chamada emissão de posse, concede-se-lhes a propriedade
das terras ocupadas, momento no que o que era acampamento vira assentamento e
constitui-se uma cooperativa de produtores e uma associação formal das que fazem
parte todos os assentados e assentadas e cuja Diretoria (Junta Diretiva) está integrada
normalmente pela coordenação do assentamento. Constroem-se então vivendas idênticas
para todas as famílias na chamada agrovila e repartem-se se as terras de trabalho em
lotes de 10 hectares por família, deixando uma grande roça ou leira comunal (a roça
coletiva), na que desenvolverão o trabalho coletivo estabelecendo turnos entre os grupos
de famílias. A assembléia aprova então um projeto no que se estabelece a produção do
assentamento. Disto ocupara-se o setor de produção enquanto o de educação trata de
que o município construa unha escola para o assentamento e o de saúde garante os
serviços básicos. O de formação garantirá um principio organizativo básico do MST: a
formação política e de agropecuária dos assentados e assentadas.
Este ilusionante modelo de gestão está organizado pelo MST em 23 dos 27
estados do Brasil (ainda faltam os estados de Amazonas, Roraima, Acre e Amapá)
envolvendo aproximadamente 450.000 famílias (350.000 assentadas e 100.000
acampadas), o que supõe vários milhões de brasileiros e brasileiras participando
ativamente numa proposta de organização social e política totalmente oposta ao sistema.
Modelo Organizativo do MST
A grande quantidade de militância requer uma forte coesão organizativa,
desenhada seguindo o princípio de Direção Coletiva a níveis regional, estadual
e nacional. Organizam-se Encontros anuais massivos a estes três níveis para a
confraternização da militância e definição ou adequação das linhas políticas.
Nestes encontros escolhem-se ou ratificam-se (dependendo do nível) as
Coordenações e as Direções de cada nível.
Cada cinco anos celebram-se os massivos Congressos Nacionais (no
último, em agosto de 2000, assistiram 11.000 delegados/as), onde se definem os
objetivos gerais do Movimento, resumidos nas chamadas palavras de ordem que
logo se difundirão entre toda a militância: Ocupação é a única solução. Sem
Reforma Agrária não há democracia (I Congresso, Curitiba (PR), 1985). Ocupar,
resistir e produzir (II Congresso, Brasília (DF), 1990). A Reforma Agrária é uma
luta de todos (III Congresso, 1995).
Ademais das ocupações de terras, o MST pratica outras medidas de
pressão, como grandes concentrações e manifestações. São características as
suas Marchas, nas que milheiros de militantes andam centos de quilômetros pelas
estradas em fileira. A mais importante foi a Marcha Nacional por Emprego,
Justiça e Reforma Agrária (abril do 1997) na que as colunas, partindo de diversos
pontos do país, caminharam...
Os princípios organizativos que regem o funcionamento do MST não são
fruto da mente lúcida dum dirigente ou grupo de dirigentes. O Movimento tem
estudado todos os anteriores movimentos sociais da América Latina e do Brasil, os
pensadores clássicos da esquerda e os grandes dirigentes políticos, tratando de
extrair o que considerou beneficioso aplicável de cada um deles. Deste jeito, e
baixo o princípio revolucionário de que não se consegue nenhuma conquista
social sem a luta de massas (expressado no berro Ocupação é a única
solução), desenvolvem uma política de feitos consumados, na que só defendem as
idéias que funcionam, e que funcionem é o melhor estímulo para o crescimento da
sua base social. Não são, pelo tanto, dogmáticos na sua doutrina, que consideram
herdeira de muitas outras e aberta a muitas verdades, influência da Teologia da
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Liberação na que foram formados a maioria dos/as dirigentes do MST.

As raízes históricas da luta pela terra no Brasil


A Lei de Terras de 1850, ao estabelecer a compra e venda como forma
padrão de aquisição da propriedade fundiária, limitando fortemente o usucapião,
perpetuou a estrutura agrária desigual herdada dos tempos coloniais. É deste
marco legislativo que se valem os historiadores para dividir a história dos conflitos
agrários no Brasil independente, a partir de 1850, em duas fases distintas:
A primeira fase, que iria de 1850 até 1940, é classificada como
"messiânica", pois estas lutas estavam associadas à presença de líderes religiosos
de origem popular, que pregavam ideologias de cunho milenarista (inclusive com
elementos sebastianistas, isto é, associados à mitologia relativa ao retorno de
Sebastião de Portugal), ligados ao catolicismo popular. Neste período um dos mais
importantes movimentos foi o que se chamou de Canudos, na Bahia, de 1870 até
1897, e que teve como líder Antônio Conselheiro.
Outro movimento desta fase é o Contestado, que se desenvolve de 1912
até 1916 em Santa Catarina, liderado pelo monge José Maria.
Finalmente, não podemos deixar de lembrar o movimento liderado por Lampião no
nordeste brasileiro, no período de 1917 até 1938, na medida em que este possa ser
tido como uma forma de banditismo "social", cujas causas encontrariam-se na
exclusão dos pequenos agricultores - como Lampião, por origem familiar, o era -
das estruturas de poder político regional dominadas pelo latifúndio. Esta colocação,
no entanto, muito favorecida pela historiografia marxista brasileira dos anos 1960 -
muito especialmente pelo historiador Rui Facó, e recuperada mais tarde pelo
historiador inglês Eric Hobsbawn - tem sido severamente contestada recentemente,
na medida em que o banditismo do cangaço tem chegado a ser visto muito mais
como vivendo numa relação de comensalidade com o latifúndio do que opondo-se
a ele,como o messianismo.
A segunda fase da luta pela terra no Brasil é definida como "lutas radicais
localizadas" e que se desenvolvem de 1940 até 1955. Nesta fase ocorreram
diversos conflitos violentos por terras e revoltas populares, em diversos lugares do
Brasil, em lutas não mais de cunho messiânico, mas agora com demandas sociais
e políticas claramente definidas como tais.Estas lutas, embora localizadas, tiveram
a adesão de milhares de pessoas, e em alguns lugares, como no Maranhão e no
Paraná adquiriram tal magnitude que os camponeses tomaram cidades e
organizaram governos paralelos.
Com o a luta pela terra foi violentamente reprimida, sob pretexto da
ameaça comunista. Com isto, o movimento pela reforma agrária não pode atuar e a
maioria de seus líderes foram ou presos ou mortos.

Mudanças no quadro legal


Um dos grandes problemas do movimento pela reforma agrária antes de
1964 era o fato de que a Constituição brasileira de 1946 só admitia a
desapropriação de terras mediante indenização prévia em dinheiro, o que limitava
fortemente tais desapropriações.
O maior esforço de impulsionar um projeto de reforma agrária foi um decreto
do presidente João Goulart, no chamado Comício da Central de 13 de março de
1964, de declarar como terras públicas as faixas circundantes de rodovias federais,
ferrovias e açudes — decreto este que apenas acelerou o golpe de 1º de abril do
mesmo ano.
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A ditadura militar, desejando enfrentar as tensões agrárias de forma


controlada, emitiu, em 1965, um Estatuto da Terra que reconhecia, de acordo com
a Doutrina Social da Igreja Católica, a função social da propriedade privada e
permitia a desapropriação para fins de assentamento agrário em caso de tensão
social, e, mais tarde, na chamada Emenda Constitucional no.1, de 1969 (outorgada
pela Junta Militar que assumiu o poder quando da incapacitação do presidete
Arthur da Costa e Silva) à Constituição Brasileira de 1967, passou a admitir a
desapropriação mediante pagamento em títulos de dívida pública. Esta legislação,
muito embora tenha permanecido largamente inoperante durante a própria
ditadura, daria o quadro legal para as tentativas de reforma agrária no pós-ditadura
militar.
A Constituição Brasileira de 1988 revalidou o princípio da desapropriação
de terras mediante pagamento em títulos públicos (que já havia sido, como já dito,
admitida pela ditadura militar). No entanto, por força da pressão da bancada
ruralista na Constituinte, limitou as desapropriações às terras improdutivas,
conceito este de difícil avaliação prática, e que viria a constituir-se em obstáculo à
reforma agrária em grande escala.

Movimento pela reforma agrária contemporâneo


A partir do fim da ditadura militar e da retomada democrática no Brasil, os
camponeses puderam se reorganizar e retomar sua luta histórica pela reforma
agrária. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) surge no final da
década de 1970, com a ocupação da fazenda Nonoai, no Rio Grande do Sul.
Naquele momento, o governo estadual buscou reverter uma ocupação ilegal, para
fins de reforma agrária, de terras de uma reserva indígena realizada nos anos
1960, para o que reassentou os índios e expulsou os camponeses de seu
assentamento na localidade conhecida como Encruzilhada Natalino. Como
reação,os agricultores deslocados, espontaneamente, decidiram ocupar a vizinha
Fazenda Nonoai. A partir daí, a sociedade local, a Comissão Pastoral da Terra,
assim como o embrião do futuro Partido dos Trabalhadores passa a apoiar aquele
grupo de camponeses que saem vitoriosos desta que seria a primeira ocupação,
que deu origem ao MST. Em 1984 o Movimento passa a se organizar de maneira
nacional.
Uma das atividades do grupo consiste na ocupação de terras improdutivas
como forma de pressão pela reforma agrária, mas também há reivindicação quanto
a empréstimos e ajuda para que realmente possam produzir nessas terras. Para o
MST, é muito importante que as famílias possam ter escolas próximas ao
assentamento, de maneira que as crianças não precisem ir à cidade e, desta forma,
fixar as famílias no campo.

Organização e estrutura do MST

O MST se organiza em 24 estados brasileiros. Sua estrutura


organizacional se baseia em uma verticalidade iniciada nas brigadas (compostas
por 50 famílias) e seguindo pelos núcleos (grupo de 200 famílias), direção regional,
direção estadual e direção nacional. Paralelo a esta estrutura existe outra, a dos
setores e coletivos, que buscam trabalhar cada uma das frentes necessárias para a
reforma agrária verdadeira. São setores do MST: Saúde, Direitos Humanos,
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Gênero, Educação, Cultura, Comunicação, Formação, Projetos e Finanças,


Produção, Cooperação e Meio Ambiente e Frente de Massa. São coletivos do MST:
juventude e relações internacionais. Esses setores desenvolvem alternativas às
políticas governamentais convencionais, buscando sempre a perspectiva
camponesa.
A organização não tem registro legal por ser um movimento social e,
portanto, não é obrigada a prestar contas a nenhum órgão de governo, como
qualquer movimento social ou associação de moradores. A maior instância da
organização é o Congresso Nacional, que acontece a cada 5 anos. No entanto,
este congresso é apenas para ratificação das diretivas, não é um momento de
decisões. Os coordenadores e os dirigentes nacionais, por exemplo, são escolhidos
no Encontro Nacional, que acontece a cada dois anos. A Coordenação Nacional é
a instância operacional máxima da organização, que conta com cerca de 120
membros. Embora um dos principais dirigentes públicos do movimento seja João
Pedro Stédile, a organização prefere não rotular alguém com o título de principal
dirigente, já que isso seria uma personalização; O MST adota o princípio da direção
colegiada, onde todos os dirigentes têm o mesmo nível de responsabilidade.
O movimento recebe apoio de organizações não governamentais e
religiosas, do país e do exterior, interessadas em estimular a reforma agrária e a
distribuição de renda em países em desenvolvimento. Sua principal fonte de
financiamento é a própria base de camponeses já assentados, que contribuem para
a continuidade do movimento.
O MST se articula junto a uma organização internacional de camponeses
chamada Via Campesina, da qual também faz parte o Movimento dos Pequenos
Produtores (MPA) e agricultores da Europa, EUA, África, Ásia e Américas. A Via
Campesina tem como objetivo organizar os camponeses em todo o mundo. Ele
também está vinculado com outras campanhas nacionais e internacionais, como a
Via Campesina Brasil, que reúne alguns dos movimentos sociais brasileiros do
campo, e a Campanha contra a implantação da ALCA.

Incra
O Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária analisa se
as terras ocupadas são ou não produtivas. Se forem improdutivas os sem-terra
podem ser assentados, ou seja, recebem a posse das terras; no caso da
propriedade rural ser produtiva é expedida uma ordem judicial de reintegração de
posse. Na maioria dos casos, os camponeses se retiram sem maiores problemas.
Porém, muitas vezes ocorre do grupo se recusar a cumprir o mandado judicial de
reintegração de posse, sendo desta forma desalojado através de força policial.

Opiniões diversas
O MST revindica representar uma continuidade na luta histórica dos
camponeses brasileiros pela reforma agrária. Os atuais governantes do Brasil tem
origens comuns nas lutas sindicais e populares, e portanto compartilham em maior
ou menor grau das reivindicações históricas deste movimento. Segundo outros
autores, o MST é um movimento legítimo que usa a única arma que dispõe para
pressionar a sociedade para a questão da reforma agrária, a ocupação de terras e
a mobilização de grande massa humana.

Alguns dos objetivos, sucessos e fracassos


O MST procura organizar as famílias assentadas em formas de cooperação
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produtiva em vista de melhorar sua condição de vida. Entre centenas de exemplos


que deram certo no Paraná e Santa Catarina, no Sul do Brasil, destaca-se a
COOPEROESTE, Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste
LTDA, sediada em Santa Catarina. Embora com Razão Social de Empresa no
Regime de Sociedade Limitada, funciona como um verdadeiro condomínio
produtivo. Assim, a criação de cooperativas é estimulada, embora as famílias que
hoje estão assentadas por fazerem parte desta organização não sejam obrigadas a
trabalhar em cooperativas.
Dados coletados em diversas pesquisas demonstram que os agricultores
organizados pelo movimento têm conseguido usufruir de melhor qualidade de vida
que os agricultores não organizados.
Muitos são os críticos do MST que consideram que estes assentamentos,
dependentes de financiamento governamental, nada mais seriam do que a tentativa
de preservar artificialmente uma agricultura de minifúndios em regime de produção
familiar economicamente inviável diante das pressões competitivas da
globalização, as quais exigiriam o desenvolvimento do agronegócio. A resposta do
MST tem sido a de apontar para o fato de que o agronegócio, ele também, tem
dependido de fortes créditos governamentais em condições artificialmente
favorecidas para realizar um desenvolvimento produtivo ecologicamente danoso e
humanamente excludente, e ressaltar os ganhos políticos e sociais decorrentes da
inserção produtiva de seus assentados.
Apesar de vários sucessos em âmbito nacional, ao estabelecer e organizar
assentamentos produtivos, o MST sofre problemas típicos dos movimentos
políticos do Brasil. No assentamento São Bento (em Mirante do Paranapanema,
São Paulo, lotes entregues aos sem-terra foram vendidos, o que é proibido por lei.
As acusações levantaram a suspeita de que Ivan Carlos Bueno (ex-técnico do Incra
e membro da direção regional do MST), recebeu um lote ilicitamente, e contratou
um sem-terra para trabalhar a terra. Além de não se encaixar nos padrões
socioeconômicos para receber um lote, é proibida a contratação de terceiros para
trabalhar a terra recebida.
Na região sul, o MST foi acusado de usar os recursos recebidos pra promover
propaganda ideológica de extrema esquerda. Numa matéria de 2005 entitulada As
Madraçais do MST, a revista Veja comparou escolas de assentamentos no Rio
Grande do Sul com as madraçais (ou madraças), escolas religiosas islâmicas,
muito abundantes no Paquistão, que educam seus alunos através do estudo do
Alcorão interpretado nos termos do fundamentalismo. O MST mantém também uma
escola nacional de formação de quadros políticos, a Escola Nacional Florestan
Fernandes, sediada em Guararema, a 60 kms de São Paulo, e construída em
regime de mutirão pelos seus alunos, usando materiais de construção obtidos in
situ por tecnologia de solo cimento. A referida escola, como todos os
empreendimentos educacionais do MST, tem sido severamente questionada pela
mídia mais conservadora como uma agência de mera doutrinação política de
Esquerda revolucionária. Quanto a isto pode-se dizer, no entanto, que a
transmissão de uma determinada visão de mundo não é uma exclusividade dos
movimentos políticos de Esquerda: pode-se argumentar que, por exemplo, os
núcleos universitários privados de excelência em Administração de Empresas e
Economia não realizam doutrinação política propriamente dita, mas transmitem a
seus alunos uma visão de mundo situada nos antípodas da visão do MST.
Em 17 de Junho de 2005 o MST fez a sua marcha de 300 km em direção a Brasília.
Entre os dias 11 e 15 de junho de 2007, o MST realizou em Brasília seu 5º
Congresso Nacional.
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