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História do Brasil IV

Profº. Dr. Rodrigo Patto Sá Motta


Prova individual
Aluna: Maria Eduarda Vilela
Questão I

No Brasil, entre anos de 1940-1960, a efervescência política e o desenvolvimento de


uma consciência de classe desencadearam processos marcantes de mobilização das massas,
principalmente de trabalhadores do campo (ARAÚJO, 2010). Essa efervescência vinha de
crises políticas, econômicas, além da ascensão dos trabalhadores mais fortemente na cena
política. Nesse momento, várias organizações de trabalhadores, como sindicatos e associações
nasciam, o que favoreceu para que movimentos diversos surgissem, como foi o caso dos
movimentos de trabalhadores rurais.
Na década de 1940, temos como foco as Ligas Camponesas. As Ligas Camponesas foi
um movimento que, indo contra a tradição brasileira de defesa aos grandes latifúndios,
começou a debater sobre os direitos do camponês. As primeiras Ligas Camponesas surgiram
com o Partido Comunista Brasileiro, que tinha como intenção fazer uma ligação entre os
operários e os camponeses, além de organizar a massa dos trabalhadores rurais para
protestarem e agirem contra os grandes proprietários de terras (ARAÚJO, 2010). A atuação
dessas Ligas aconteceriam entre 1945 e 1947, momento em que aconteciam grandes conflitos
no meio rural, principalmente por causa da expulsão dos camponeses para as cidades. A
atuação seria interrompida por causa da cassação da legalidade do PCB, mas a movimentação
política dos trabalhadores rurais não seria apagada por causa disso - ao contrário, a década de
1950 e o início da de 1960 foram momentos que houve no Brasil a emergência dos
trabalhadores do campo como atores políticos (MEDEIROS, 2014).
No início dos anos 1960 já era possível falar num movimento camponês, que era
marcado por diferentes orientações políticas, mas que tinham, no geral, como pautas a
reforma agrária, o direito à sindicalização e a extensão dos direitos trabalhistas ao campo
(MEDEIROS, 2014). Quando se fala em diferentes orientações políticas é devido ao fato de
que o movimento camponês abrigava diversas orientações, como os comunistas e os católicos.
Esse último grupo ou tentava distanciar os comunistas dos trabalhadores rurais, ou buscava se
aproximar com os trabalhadores rurais, fazendo até mesmo programas de politização para a
mudança da realidade.
Algumas das reivindicações citadas foram atendidas, como em 1962 e a
regulamentação do direito à sindicalização dos trabalhadores do campo. Também, a
movimentação política dos camponeses fizeram com que o tema da reforma agrária entrasse
na cena pública, fazendo com que parasse de ser um tema que pudesse ser ignorado. Em 1962
também há uma forte movimentação do advogado e político pernambucano, Francisco Julião,
que assume um papel fundamental como representante da causa relacionada às Ligas e ao
homem do campo (ARAÚJO, 2010).
Com o golpe militar de 1964, começa haver uma repressão no geral em cima dos
movimentos sociais - e os movimentos dos trabalhadores rurais não escapariam dessa
repressão. Os movimentos tiveram intervenções, como foi o caso da Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura, que recebeu um interventor de pessoas oriundas dos
Círculos Operários. O regime militar também trouxe a modernização da agricultura, o que fez
com que houvesse uma significativa expulsão de trabalhadores do interior das propriedades,
fazendo com que esses trabalhadores se tornassem trabalhadores temporários, ou boias-frias
(MEDEIROS, 2014). Uma outra face do regime militar, no entanto, foi a criação do Estatuto
da Terra, criado pelo governo de Castelo Branco, onde havia um projeto de reforma agrária
que envolvia o desenvolvimento rural e a modernização do campo (MEDEIROS, 2014). O
Estatuto da Terra tinha pontos controversos, e foi objeto de disputa quando foi implementado.
Possui brechas e teve seu propósito reformista já abandonado no final do governo de Costa e
Silva.
Uma questão forte durante a movimentação política dos trabalhadores rurais durante o
regime militar foi a questão do sindicalismo. Segundo Medeiros, essa é uma questão
complexa, pois o sindicalismo rural foi assumindo formas particulares em cada estado, em
função das distintas tradições de luta, forças presentes, intensidade do processo de
expropriação etc. Havia uma mobilização para que houvesse uma formação política dos
dirigentes dos sindicatos. Ao mesmo tempo, havia uma força para reforçar a preocupação dos
sindicatos em torno da luta dos direitos e o seu objetivo principal que é a terra, “a fonte de
vida, liberdade e segurança para os que nela trabalham" (MEDEIROS, 2014).
Partindo para o final do regime militar, quando já havia um forte sinal de crise,
começaram a surgir outros movimentos que punham o sindicalismo não mais como o
protagonista das lutas dos camponeses. Também foi um momento de reforçar a bandeira da
reforma agrária, como aconteceu no III Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, em
1973. Ao longo dos anos 1980 houve uma intensificação das lutas no campo, tendo como
motivos a progressiva expropriação dos trabalhadores, aumentando, por consequência, a
repressão contra os trabalhadores, os advogados e as lideranças.
Com o fim do regime militar, no governo de José Sarney, foi criado um Ministério da
Reforma Agrária e do Desenvolvimento, que iniciou uma proposta de reforma agrária
(MEDEIROS, 2014). Nesse momento, a Contag era a organização representativa mais
expressiva, e seu forte apoio à Nova República lhe garantia um papel de destaque nas
decisões a serem tomadas (Ibid.). No momento da elaboração do Plano Nacional de Reforma
Agrária houve também uma contra reação dos ruralistas, que procuravam boicotar a questão
da propriedade improdutiva. A Campanha Nacional pela Reforma Agrária mobilizou o corpo
social em prol da causa, sendo incluído à constituição o conceito de função social da terra e as
normas para desapropriação da terra - que inclusive se apresentou como insuficiente às
demandas das organizações por retirar o caráter punitivo das apropriações (Ibid.). Em 1993, a
Lei Agrária buscou detalhar os procedimentos para a desapropriação, mas ainda deixou
algumas brechas, mas a existência da lei se torna um suporte legal para que os camponeses
possam fazer lutas através da justiça.
A luta pela terra e a violência sobre os povos camponeses ainda acontecem, mas os
avanços que houveram, como a Lei Agrária ou então a conquista de direitos trabalhistas, são
reflexos de todas mobilizações políticas onde os trabalhadores rurais foram protagonistas e
agentes políticos. A luta para superar o histórico latifundiário do Brasil continua. Movimentos
como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra são provas de que a questão do
direito à terra ainda é pauta urgente no Brasil, e compreender o passado dessa luta é o
primeiro passo para nos mobilizarmos em torno dos direitos sociais brasileiros de acesso à
terra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, George Pedro Barbalho. Ligas camponesas: formação, luta e
enfraquecimento. 2010.
MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. Trabalhadores do campo, luta pela terra e o
regime civil-militar. Ditadura: o que resta da transição. São Paulo: Boitempo, p.
195-229, 2014.

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