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DISCIPLINA: NOÇÕES DE SOCIOLOGIA

PROFESSOR: KELLY LOPES


BLOCO IV: MOVIMENTOS E LUTAS SOCIAIS NA HISTÓRIA DO BRASIL.

BREVE RESUMO
Brasil – Os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a
partir da década de 1960, quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra
a política vigente, ou seja, a população insatisfeita com as transformações
ocorridas tanto no campo econômico e social. Mas, antes, na década de 1950, os
movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade.
Os principais movimentos sociais no Brasil – As ações coletivas mais
conhecidas no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos
índios, negros e das mulheres.
A História do Brasil é marcada por lutas e revoltas populares, desde o
século XVI. Os movimentos sociais no Brasil têm uma história marcada por grandes
lutas e embates realizados contra governos autoritários e luta pela liberdade e
democracia. Mas aqui vamos nos deter aos movimentos sociais que marcaram o
Brasil a partir da segunda metade do século XX.
Os movimentos sociais no Brasil passaram a intensificar-se a partir da
década de 70, com fortes movimentos de oposição ao regime militar que então se
encontrava em vigência, mantendo uma luta social e uma forte resistência, “o
movimento social mais significativo pós-golpe militar de 1964 foi o de resistência à
ditadura e ao autoritarismo estatal”. A população Brasileira se manteve forte para
com a ditadura que havia no país e dentro desse contexto ditatorial foi prevalecida
a força e a organização dos movimentos estudantis e da classe operária em seus
sindicatos, comunidades eclesiais de base (CEBs) e pastorais, que ganhou força
com a participação dos demais setores da sociedade que sofriam as
consequências desta forma de governo.
O período da Ditadura Militar no Brasil provocou um tempo propício para a
efervescência dos movimentos sociais uma vez que, dentro das Universidades, as
inserções e consolidação dos cursos de Ciências Sociais com a reforma
pedagógica dos cursos propiciaram um pensamento mais crítico frente à
interpretação de nossa realidade. Os estudantes, com um entendimento da
situação junto a indignação dos demais indivíduos que não aceitavam esse modelo
de governo ditatorial, formaram uma massa de combate organizada.
Sobre o papel dos movimentos sociais neste contexto, Gohn (2011, p. 23)
pondera o quanto é inegável “que os movimentos sociais dos anos 1970/1980, no
Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para a
conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova
Consti­tuição Federal de 1988”. O movimento de oposição e contestação ao regime
militar tinha um propósito claro: defesa dos valores do Estado democrático e crítica
a toda forma de autoritarismo estatal.
A resposta do governo militar foi sempre dura no sentido de reprimir tais
manifestações, com violência, tortura, e alcançou seu auge com o famoso AI-5 (Ato
Institucional número 5), que vigorou de 1968 a 1979.
Um bom exemplo de organização e luta podemos encontrar através do
movimento indígena no século XX na luta pelos seus direitos e reconhecimento de
seus valores, cultura e tradição.
Nesse período, cada movimento social foi forjando sua identidade, suas
formas de atuação, pautas de reivindicações, valores, seus discursos que o
caracterizavam e o diferenciavam de outros. "Foram grupos que construíram uma
nova forma de fazer política e politizaram novos temas ainda não discutidos e
pensados como constituintes do campo político.
Nesse período a sociedade civil organizada, por meio dos movimentos sociais e
populares, irá buscar espaço para influenciar nas decisões políticas e na
construção da Constituinte de 1988. É uma participação efetiva de cidadãos e
cidadãs, na busca por direitos e por políticas que os afetam diretamente. E foi a
própria Constituição Federal de 1988 que "[...] abriu espaço, por meio de legislação
específica, para práticas participativas nas áreas de políticas públicas, em
particular na saúde, na assistência social, nas políticas urbanas e no meio
ambiente” (AVRITZER, 2009, p. 29-30), seja através de plebiscitos, referendos e
projetos de lei de iniciativa popular (art. 14, incisos I, II e III; art. 27, parágrafo 4º;
art. 29. Incisos XII e XIII), seja através da participação na gestão das políticas de
seguridade social (art. 194), de assistência social (art. 204) ou dos programas de
assistência à saúde da criança e do adolescente (art. 227).
A transição política para o Estado Democrático que ganhou força na década
de 1980 culminou com a promulgação da Constituição Federal de1988.
Os novos movimentos sociais que emergiram durante os anos 90 até os atuais são
como os de décadas anteriores também frutos de demandas sociais como o
Movimento de Mulheres (com suas lutas contra uma sociedade patriarcal e o
autoritarismo do Estado), o Movimento LGBT, o Movimento Negro (ALBERTI;
PEREIRA, 2006), Movimento Indígena entre outros.
Guimarães (2009) identifica pelo menos cinco tradições e movimentos que
contribuíram com o que ele chama de “ciclo democrático de autoformação do povo
brasileiro”. São eles: comunitarismo cristão, nacional-desenvolvimentismo,
socialismo democrático, liberalismo republicano e a cultura popular. Ressalta
também a criação da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em 1952,
liderada por Dom Helder Câmara e o desenvolvimento de uma “ala esquerda do
catolicismo brasileiro”. “O comunitarismo cristão enraizou-se na vida popular por
intermédio de 70 mil CEBs [Comunidades Eclesiais de Base] que organizavam
cerca de 2 milhões de ativistas cristãos, agindo dos anos 1960 até os anos 1990”
(GUIMARÃES, 2009, p. 18). Essa corrente direcionou suas atividades para os
temas da cidadania, fazendo uma opção preferencial pelos pobres com base em
princípios da moral cristã como a igualdade e a solidariedade.
Na década de 1990 vale destacar os fóruns de ONGs e movimentos sociais
para a Eco/92. É também deste período o movimento popular que ficou conhecido
como os “caras pintadas” em torno do impeachment (1992) do ex-presidente da
República: Fernando Collor de Melo.
No século XXI observamos o surgimento de uma “rede de movimentos sociais”,
com o objetivo claro de fortalecer o papel da sociedade na esfera pública e defesa
radical dos valores democráticos, com total autonomia dos movimentos sociais em
relação ao poder público e de certo modo até mesmo dos Partidos Políticos, o que
não significa dizer que não seja uma forma organizada de articulação política.

Comparando o quadro de associativismo da sociedade civil na atualidade,


Gohn (2014, p. 51) pondera como este é diferenciado em relação ao que
predominou nas décadas de 1980 e 1990, e que “a ascensão de novos grupos ao
poder, e reformas na gestão das políticas sociais são parte da explicação”
Merece destaque nesse cenário os Conselhos Gestores de Políticas
Públicas, como um importante local de atuação destes movimentos (veja mais em:
Movimentos Sociais e Conselhos de Políticas Públicas). Como ressalta Gohn
(2006, p. 7)
Numa sociedade marcada por inúmeros processos de exclusão social e de baixos
níveis de participação política do conjunto da população, os conselhos assinalam
para possibilidades concretas de desenvolvimento de um espaço público que não
se resume e não se confunde com o espaço governamental/estatal.
Os conselhos de políticas públicas tornam-se um amparo para que as
classes menores sejam ouvidas e possam contribuir na criação de políticas
públicas que atendam as necessidades destes grupos sociais, logo tendo a
atuação desses indivíduos pertencentes destes grupos materializando e
fortificando a participação social da população.
Os movimentos sociais têm um importante papel a ser exercido tomando
como base um novo conceito de planejamento público marcado pela participação
popular, que como o próprio nome sugere, exige a participação dos movimentos
sociais que, bem antes do processo de redemocratização e sobretudo por ocasião
da Assembleia Nacional Constituinte de 1987 que promulgou a Constituição
Federal de 1988, vem desempenhando um papel fundamental para consolidação
do nosso Estado Democrático de Direito. Além disso, os movimentos sociais
ampliam, aprofundam e redefinem “a Democracia tradicional do Estado político e a
democracia econômica para uma democracia civil numa sociedade civil” (FRANK;
FUENTES, 1989, p. 20).
E para que este papel possa se efetivar, não temos dúvida do quão
importante a ideia de uma educação dos movimentos populares se torna
fundamental e necessária. Uma Educação voltada para o exercício da cidadania
em seu sentido mais pleno, em que os cidadãos efetivamente participam das
decisões políticas que os afetam. Uma concepção de cidadão enquanto sujeito
político que exige “uma revisão profunda na relação tradicional entre educação,
cidadania e participação política” (ARROYO, 1995, p. 74 apud RIBEIRO, 2002, p.
115).
Os limites podem ser apontados a partir das possibilidades de participação
de tais movimentos na conquista de direitos, em razão de vários fatores: seja em
função do fato de que os movimentos sociais têm um movimento de fluxo e refluxo
de suas ações, ou seja, ora adquirem força na luta por direitos, ora perdem essa
força de lutar contra o poder instituído; seja pela pouca participação de atores,
salvo em caso de grandes e graves conflitos; seja até pela falta de habilidade
técnica ou política para garantir a efetividade de seus direitos.

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