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MOVIMENTOS SOCIAIS VOLTADOS À DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA

IDOSA
Adriana da Silva Silveira 1
Solange Beatriz Billig Garces2
Tiago Anderson Brutti3
Sirlei de Lourdes Lauxen4
Grupo Temático: GT 4 – Linguagem, Saúde e Desenvolvimento Humano.
Introdução
Os idosos pertencem a um grupo social com demandas e necessidades específicas a
serem atendidas e assim, a participação na vida democrática e o exercício da cidadania, com
ações ativa nos movimentos sociais, em benefício da agenda de interesse do idoso o torna
protagonista da sua vida. O presente trabalho tem como objetivo descrever os movimentos
sociais de inserção dos idosos brasileiros a partir de fatos históricos, evolução das leis e
politicas públicas direcionadas a atender as demandas da pessoa idosa no Brasil.
Resultados e discussões
A pluralidade da dinâmica social atual abrange a coexistência de interesses coletivos e
individuais variados e os movimentos sociais tornam-se uma ferramenta de intervenção que
atende a representação política ativa e atua na defesa de interesses e necessidades de
determinados grupos. O exercício e a mobilização dos grupos de interesse social são
fundamentais para sustentar o sistema democrático de direito e o pleno exercício da cidadania.
Gohn (2011, p. 335) define movimento social como “ações sociais coletivas de caráter
sócio-político e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e
expressar suas demandas” . E a mesma autora complementa:

Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da simples
denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações,
passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações,
etc.) até as pressões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos sociais
atuam por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou
transnacionais, e utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e informação,
como a internet (GOHN, 2011, p. 335-336).
Barroso (2006) destaca que os movimentos de pessoas idosas têm demonstrado a
recusa desse grupo a permanecer nos lugares que lhe são impostos pela sociedade. Também
1
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social.
Universidade de Cruz Alta – Unicruz e bolsista Capes Código de Financiamento 001. E-mail:
adri01rp@gmail.com.
2
Docente do Programa de Pós Graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social. Universidade
de Cruz Alta – Unicruz. E-mail: sgarces@unicruz.edu.br
3
Docente do Programa de Pós Graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social. Universidade
de Cruz Alta – Unicruz.. E-mail: tbrutti@unicruz.edu.br
4
Docente do Programa de Pós Graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social. Universidade
de Cruz Alta – Unicruz.. E-mail: slauxen@unicruz.edu.br
não confiam em instituições partidárias e parlamentares. As pessoas idosas que participam
desses movimentos saíram dos espaços privados, onde não são ouvidos, para espaços
deliberativos.
Em relação aos direitos da pessoa idosa, os aposentados são considerados importantes
atores políticos no Brasil, representados por uma das maiores categorias - o movimento do
aposentado. Este movimento avança o espaço circunscrito e aparece com pautas e demandas
próprias e em contraste com os estereótipos debilitantes, as pessoas idosas aposentadas,
muitas vezes, são as provedoras da família, questão que reforça o seu papel na sociedade
(BARROSO, 2006).
Barroso (2006) reforça que os movimentos sociais e Conselhos do idoso têm
demonstrado uma recusa em permanecer nos lugares isolados da sociedade. As pessoas idosas
que participam de movimentos deixam o espaço privado para integrar espaços deliberativos e
coletivos. Esse tipo de protagonismo contribui para que ganhem cada dia mais força e
resignifiquem seu lugar na família, na comunidade e no país.

O movimento dos aposentados, no Brasil, se destaca na luta pelo reajuste do valor


das aposentadorias, que começa a perder poder de compra aceleradamente,
coincidindo com a implantação do modelo neoliberal. A primeira grande
mobilização que deu visibilidade à causa dos idosos, aposentados e pensionistas
ocorreu por ocasião da Constituinte de 1988. Idosos de todas as partes do Brasil
demonstraram sua força política nas galerias do Congresso e Praça dos Três
Poderes. O movimento dos 147% (diferença no reajuste de quem ganhava acima de
um salário-mínimo) foi emblemático na organização dos aposentados, sendo
considerado seu ápice. Foi pautado pela mídia de maneira constante e positiva, o que
contribuiu para multiplicar as adesões ao movimento e dar visibilidade às mazelas
do envelhecimento. O movimento foi vitorioso, culminando com a vitória judicial, o
que possibilitou uma ampliação do processo de empoderamento dos aposentados.
Mas esta estratégia continha em si seu contrário, pois propiciou também um
esvaziamento do movimento após a efetivação das conquistas financeiras (VERAS;
OLIVEIRA, 2018, p. 1932).

Benevides (1994) aborda as noções de cidadania voltadas para o aperfeiçoamento dos


direitos políticos do cidadão como implementação de mecanismos de democracia direta e a
educação política do povo e elemento indispensável na causa e consequência da democracia e
da cidadania. Benevides (1994) destaca a relevância de instrumentos como referendo,
plebiscito e a iniciativa popular como formas de participação política que complementam os
mecanismos de democracia representativa e colaboram para o desenvolvimento significativo
da educação política dos cidadãos.
No levantamento sobre o efetivo exercício da cidadania e da democracia a partir da
análise do perfil de formação do Brasil, marcado por desigualdades decorrente do sistema
oligárquico, autoritário, populista e corporativista presentes na estrutura governamental
brasileira desde a colonização. O eleitorado brasileiro caracteriza-se por altos índices de
analfabetismo, baixa escolaridade, desinformados politicamente, falta de participação em
instituições de representação (como sindicados e entidades de representação), 75% com renda
familiar inferior a 2,5 salários mínimos, elevado índice de audiência a veículos de
comunicação de massa (rádio e televisão, que são altamente influenciados por interesses
particulares) (BENEVIDES, 1994).
Ao alimentar as justificativas defendidas pelas elites em defesa de uma participação
passiva do cidadão, Benevides (1994) oferta elementos que justificam a importância do
exercício da cidadania efetiva para a ampliação da cidadania ativa e defende a participação
popular como uma escola de cidadania, sendo que o mais importante é garantir ao povo a
informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação, com
pluralismo e liberdade.
Benevides (1994) acredita que a educação politica do povo é ferramenta essencial para
o exercício integral da cidadania para termos um pluralismo político no contexto em que os
próprios interessados se transformem em novos sujeitos políticos. E, por fim, a autora ressalta
a importância da participação popular através de mecanismos de democracia como
plebiscitos, referendos e iniciativas populares.
Luchmann (2011) elabora um paralelo sobre a importância da vida associativa para a
democracia e apresenta como o Brasil avança neste sentido, quando fortalece o associativismo
nas últimas décadas no país. Na amplitude das discussões em relação à heterogeneidade no
campo associativo aponta os benefícios à defesa dos mais vulneráveis e excluídos, caráter
pedagógico no momento que promove o processo de educação política, promoção da relação
de confiança, cooperação e espirito público, as denúncias de relação de poder, participação na
elaboração e controle de políticas públicas, associações cultivadoras de virtudes cívicas
consideradas cruciais para uma sociedade democrática, ampliar os domínios das práticas
democráticas para diversas esferas da vida social, se constituindo em meios alternativos para
dar voz aos desfavorecidos em função das condições desiguais de distribuição de dinheiro e
poder.
Hernadez (2017) realiza um levantamento histórico dos perfis dos movimentos sociais
ocorridos ao longo das décadas de 1960, que se caracterizava por lutas de classes, por
exemplo, a classe operária versus a burguesia. A partir da segunda metade do século XX se
voltam aos aspectos coletivos e problemas interseccionais relacionados à esfera pública em
seu conjunto: pobreza, discriminações, questões de gênero e sexualidades, raciais, contra as
guerras, organizado e mobilizado por grupos sociais segmentados como jovens, mulheres,
negros, pessoas idosas, enfim.
A expansão da globalização, coincidindo com uma mudança considerável na
democracia vinculada à crise do modelo de Estado de Bem-Estar social como formas de
governo vão abrindo espaço para a insurgência de uma “nova” sociedade civil que já não
dependia tanto das instituições para se organizar. Na América Latina, ditaduras fizeram
emergir grupos sociais organizados e ações coletivas consistentes que lutaram contra os
regimes de exceção (HERNANDEZ, 2017).
Os movimentos sociais ocorridos na década de 1990 marcaram com foco voltado às
questões éticas e valores humanos e voltados ao ambiente. Também foi um período de forte
crescimento das Organizações Não Governamentais (ONGs) e de políticas públicas e/ou
participativas implementadas pelo próprio poder público. A participação ativa da sociedade
civil nas políticas sociais marca uma atividade “mais política” dos movimentos sociais,
preocupados com mudanças macroestruturais para além das lutas específicas de cada
movimento social em separado (HERNANDEZ, 2017).
O século XXI chega nessa atmosfera de um cenário político social internacional que
modifica algumas lógicas e compreensões que tínhamos sobre os movimentos sociais. É neste
cenário que em 2001 ocorre no Brasil o I Fórum Social Mundial em oposição ao Fórum
Econômico Mundial realizado na Suíça. O evento realiza a interlocução entre diversos
movimentos sociais, sindicatos, coletivos militantes, ONGs, indígenas, com foco principal
luta a globalização neoliberal e seus desdobramentos em diferentes setores da vida, das
culturas, das cidades e do ambiente, pela participação democrática e justiça social. O Fórum
Social Mundial foi um movimento de convergência internacional (HERNANDEZ, 2017).
O século XXI, diferentemente dos séculos anteriores, viu nascer um sujeito político
internacionalmente articulado, em rede, também mediado pela expansão das mídias
alternativas e pelo advento da internet. Hernandez (2017) salienta que mesmo que a grande
mídia esconda alguns fatos, movimentos sociais, através da internet conseguem expor e ter
sua comunicação apresentada a todos (os movimentos em rede).
A autora (HERNANDEZ, 2017) identifica que esses fatores trazem a emergência de
movimentos sociais transnacionais, enquanto grupos políticos que
interseccionam/entrecruzam diferentes lutas; e a forte crise da “soberania” dos estados-nação,
sendo que nenhuma das duas garante a expansão de um estado democrático de direito. E nesta
seara encontram-se as pessoas idosas ainda em busca de seu protagonismo como atores
sociais, especialmente em espaços abertos para isso, como os Conselhos de Idosos, por meio
da Constituição de 1988, para que não tenham este espaço cooptados por outras gerações, em
defesa de seus direitos.
Conclusão
A implementação da cidadania como reconhecimento dos direitos e deveres de todos
requer uma organização social democrática com a participação dos poderes constituídos, das
entidades de representação e da sociedade na formação dos debates e na tomada de decisões.
A construção de políticas públicas em favor das pessoas idosas, é um processo que se traduziu
formalmente no reconhecimento de leis e projetos em favor da população idosa. A
promulgação de leis e realizações de conferências, fóruns e reuniões para inclusão dessa
população avançou nas últimas décadas, mas ainda observamos que a aplicação das
legislações seguem deficitárias e percebe-se que a vivência intergeracional demanda atenção
de todas as esferas sociais.
No coletivo, as pessoas idosas ganham mais força, aprendem e ressignificam papéis e
valores na família, na comunidade e na sociedade. Movimentos de idosos são expressões de
vontades, interesses e controle de suas próprias vidas e exemplos de protagonismo. O Brasil
precisa encontrar os meios para incorporar as pessoas idosas na sociedade, mudar conceitos já
enraizados e utilizar novas tecnologias, com inovação e sabedoria, a fim de alcançar de forma
justa e democrática a equidade na distribuição dos serviços e facilidades para este grupo
populacional.
Referências
BARROSO, Áurea E. S. Envelhecendo num contexto desfavorável: desafios enfrentados por
idosos e pesquisadores no nosso tempo, na nossa sociedade. In: CÔRTE, B.;
MERCADANTE, E. F. ; ARCURI, I. G. (Orgs) Envelhecimento e velhice: um guia para a
vida. São Paulo: Vetor, 2006.
BENEVIDES, M.V.de M. Cidadania e Democracia. Lua Nova, São Paulo, n.33, p.5-16 ,
ago.1994. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64451994000200002. Acessado em: 02 maio 2023.
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de
Educação, v.6, n. 47, maio-ago. 2011.
LÜCHMANN, L. H.H.. ASSOCIATIVISMO E DEMOCRACIA NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO. Em Debate, Belo Horizonte, v.3, n.4, p.44-51, dez. 2011.
VERAS, R. P.; OLIVEIRA, M. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.23, n.6,p. 1929-1936, jun. 2018.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/snwTVYw5HkZyVc3MBmp3vdc/?format=pdf&lang=pt.
Acessado em: 21 maio 2023.

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