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GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2
7 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 63
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 MOVIMENTOS SOCIAIS
Fonte: www.abrasco.org.br
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acompanhando os passos da democracia não só do Brasil, mas de diversas nações
nas últimas décadas, com presença constante nos acontecimentos históricos
relevantes, principalmente no que diz respeito às conquistas sociais. Na verdade,
esses movimentos são uma forma de os cidadãos reivindicarem e terem seus
interesses e anseios coletivos reconhecidos (GOHN, 2004).
Nos anos de 1980 é notável a relevância dos movimentos sociais nos avanços
importantes referentes aos direitos dos cidadãos. Movimentos com foco em questões
éticas e valorização da vida também surgiram, motivados pela violência, pelos
escândalos políticos, pelo clientelismo e pela corrupção, levando a população a reagir.
Nos anos 1990, as intensas mobilizações da sociedade civil culminam no
impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, com destaque para os
“cara-pintadas”, cujo objetivo era o de estabelecer a ética na política. Nos anos 2000,
os movimentos sociais e a participação popular assumem nova configuração em
função da globalização, inclusive por meio de organizações não governamentais
(ONGs), que surgem como uma nova forma de resistência, em substituição aos
movimentos sociais (MIRANDA; CASTILHO; CARDOSO, 2009).
Nos dias de hoje, a situação sociopolítica, econômica, cultural e tecnológica é
diferente da década de 1990, o que faz os movimentos sociais serem diferentes.
Atualmente, vemos os movimentos sociais acontecerem sob a forma de
manifestações, marchas e ocupações com o intuito de reagir contra a política e o
comportamento antiético de muitos políticos.
Em geral, são promovidos por grupos organizados que se estruturam,
convocam/convidam e se organizam por meio das redes sociais. O perfil dos
participantes também se modificou, passando da condição de militante para a de
ativista; as “marchas” se transformaram em protestos; a participação nos eventos
acontece eventualmente, conforme a necessidade; e os simpatizantes de determinada
causa podem se tornar participantes ativos de um novo movimento social. Dessa
forma, crê-se que os movimentos sociais sempre existirão, uma vez que representam
forças sociais organizadas que unem as pessoas não como força tarefa, de ordem
numérica, mas como campo de atividades e de experimentação social, gerando
criatividade e inovações socioculturais (GOHN, 2004).
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2.1 Teorias sobre movimentos sociais
Fonte: www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br
O tema movimento social é motivo de vários estudos e, por isso, existem muitas
e amplas abordagens teóricas com eixos analíticos, como as que você verá a seguir
(GOHN, 2008).
- Culturais: relacionados à construção de identidades atribuídas ou adquiridas,
em que os diferentes tipos de pertencimentos são fundamentais em um determinado
contexto. As ações nascem de processos reflexivos entre os participantes que criam
vínculos e constroem sentidos e significados para suas ações coletivas.
- Da justiça social: com foco em questões relacionadas ao reconhecimento de
diferenças e desigualdades e de redistribuição de bens ou direitos, como
recompensas às injustiças acumuladas ao longo da história. Abordagens sustentadas
pelas teorias críticas.
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- Capacidade de resistência dos movimentos sociais: com foco em
questões como autonomia, formas de lutas a favor da construção de um novo mundo,
de novas relações sociais e da luta contra o neoliberalismo. Essa abordagem critica a
luta pela emancipação e cidadania por meio de políticas públicas que visam à
integração social, ao consenso e à participação.
- Institucionalização das ações coletivas: preocupa-se com a criação de
vínculos e redes de sociabilidade entre as pessoas e seu desempenho em instituições,
organizações, espaços segregados, associações, entre outros. É uma abordagem
baseada nas teorias da privação social.
São muitas as teorias que tentam explicar o fenômeno dos movimentos sociais.
Você verá a seguir a TMR, a TPP e a TNMS.
A TMR surgiu motivada pelas transformações políticas que ocorreram na
sociedade norte-americana nos anos de 1960. Movimentos como os dos direitos civis,
contra a guerra do Vietnã e os do feminismo levaram à elaboração da TMR. Essa
teoria enfatiza que os movimentos sociais resultam da união de grupos que
compartilham os mesmos interesses e, em ação coletiva, buscam estratégias para
alcançar seus objetivos. Os autores mais importantes da primeira fase dessa teoria
foram Olson, McCarthy e Zald (1965, 1973 e 1977). McCarthy e Zald eram contra o
funcionalismo e defendiam movimentos, como os dos direitos civis nos Estados
Unidos, por terem sentido e organização. Opunham-se também às versões
economicistas do marxismo, argumentando que insatisfações e motivos para a
mobilização, de qualquer natureza, sempre existirão, sendo insuficientes para explicar
a formação de mobilizações coletivas.
Dessa forma, mais importante que identificar as razões seria explicar o
processo de mobilização. A decisão de agir seria por vontade individual, resultando
da reflexão racional entre custos e benefícios e, a ação coletiva só seria viável se
houvessem recursos financeiros e infraestrutura; ativistas e apoiadores e organização,
ou seja, coordenação entre indivíduos, em forma de associações ou estruturas
comunitárias, que seriam a base organizacional para os movimentos sociais (GOHN,
1997; ALONSO, 2009).
A TMR aplicou a sociologia das organizações no estudo dos movimentos
sociais fazendo analogia com uma organização. Os movimentos sociais vão se
burocratizando conforme a racionalização da atividade política, criando normas,
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hierarquia interna e divisão do trabalho, especializando seus participantes como
gerentes, administradores de recursos e coordenadores das ações (McCARTHY;
ZALD, 1977). Dessa forma, quanto mais longos, mais burocratizados eles vão se
tornando. Além disso, essa longevidade estaria condicionada à capacidade de os
movimentos sociais vencerem a concorrência, pois vários movimentos podem ser
constituídos em torno de um mesmo tema, formando uma “indústria de movimento
social”, na qual, além da cooperação, há também competição em torno de recursos
materiais e de participantes a serem atraídos para um mercado de consumidores de
bens políticos. Assim, surgiriam os conflitos internos, resultando em formação de
facções, rompimento de movimentos grandes e formação de subunidades acerca de
uma mesma causa, ou seja, apenas sucesso os movimentos que possuíssem
características de uma organização formal hierárquica (GOHN, 1997; ALONSO,
2009).
Olson (1965) tem sua teoria focada nos indivíduos, estudando os grupos de
interesse em vez dos movimentos sociais. Para ele, é muito mais fácil organizar
interesses coletivos em grupos compostos por muitos membros do que em grupos
pequenos, destacando a importância do papel dos líderes organizadores desses
interesses.
Na TMR, as ações coletivas são analisadas sob a “perspectiva da relação
custo/benefício, excluindo valores, normas, ideologias, culturas dos movimentos
sociais estudados” (SILVA, 2001, p. 20). É uma teoria que compara os movimentos
sociais a um fenômeno social com características de uma organização formal. Por
esses e outros motivos, foi uma teoria que recebeu críticas de vários autores, entre
elas o fato que excluía valores, normas, ideologias, projetos, cultura e identidade dos
grupos sociais estudados (COHEN, 1985) e que possuía uma visão burocrática dos
movimentos sociais (FERREE, 1992).
Com o evento da globalização, a TMR entrou em uma nova etapa, ampliando
seu campo explicativo, com ênfase no desenvolvimento do processo político no
campo da cultura e na interpretação das ações coletivas. Nessa nova fase, podemos
destacar os trabalhos teóricos de autores como Klandermas; Friedman; Tarrow; Taylor
e Whitter; Traugott; entre outros (GOHN, 1997).
A TPP nasceu de debates marxistas sobre as possibilidades da revolução, e
protestava contra explicações deterministas e economicistas da ação coletiva e contra
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a ideia de um sujeito histórico universal. É uma teoria que rejeita a economia como
explicação chave e combina política e cultura para explicar os movimentos sociais,
considerando a coordenação dos ativistas como fundamental na construção de atores
coletivos que se formam durante o processo de contestação. Essa coordenação é
condicionada à solidariedade, que resulta da combinação do sentimento de
pertencimento a uma categoria e da densidade das redes interpessoais que vinculam
os membros do grupo entre si (TILLY, 1978 apud ALONSO, 2009). No entanto, a
solidariedade só gera ação se puder contar com estruturas de mobilização como
recursos formais (organizações civis) e informais (redes sociais, que favorecem a
organização). Dessa forma, a solidariedade entre um grupo e o controle coletivo sobre
os recursos necessários para sua ação são criados pelo processo de mobilização.
Fonte: www.engenheiropassos.com
Nessa teoria a mobilização tem por base o conflito entre Estado e sociedade,
em que é possível que as posições variem e os atores migrem entre elas. Por isso, é
preciso superar as barreiras estabelecidas sobre a definição de “Estado” e “sociedade”
como duas entidades coesas e monolíticas. ATPP considera o Estado como detentor
do poder, membros da política possuem, portanto, controle ou acesso ao governo que
rege uma população; e a sociedade civil como desafiante, que busca ter influência
sobre o governo e acesso aos recursos controlados pela política. Dessa forma, na
TPP, o movimento social é definido como uma interação contenciosa, envolvendo
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necessidades recíprocas entre sociedade (desafiantes) e Estado (detentores do
poder), em nome de uma população sob litígio (TILLY, 1993 apud ALONSO, 2009).
A ênfase na teoria da mobilização política e o esforço para inserir aspectos
culturais e ideológicos, mesmo que limitadamente, são características fundamentais
da TPP, e as oportunidades políticas e os frames são suas categorias mais relevantes
(CORRÊA; ALMEIDA, 2012).
As oportunidades políticas referem-se a fatores externos à sociedade civil que
influenciam a capacidade de mobilização e recrutamento de grupos sociais, ou seja,
são dimensões do contexto político capazes de estimular ou desestimular as pessoas
a participarem de ações coletivas. A ideia central é muito simples: quando as
estruturas de oportunidade política reduzem os custos da participação, há mobilização
social (TARROW, 1994 apud RENNÓ, 2003). Para Goffman (1974), os frames dizem
respeito à forma como os indivíduos dão significado a suas experiências e ações, ou
seja, como eles percebem a realidade e, enquanto atores dos movimentos sociais,
elaboram seu entendimento sobre justiça/injustiça, moral/imoral, tolerável/intolerável,
que influenciam em sua motivação para se mobilizar (CORRÊA; ALMEIDA, 2012).
Essa teoria foi amplamente criticada por Goodwin (1996), que considera a tese
das oportunidades políticas confusa e imprecisa, com resultados repetitivos e sem
nada novo, ambíguos e insuficientes. O autor criticou ainda os conceitos de frame e
estruturas de mobilização destacando que aspectos culturais são excluídos, reduzindo
a compreensão da cultura a uma perspectiva instrumental e trabalhando apenas com
movimentos que a auxiliam na área da contracultura (GOHN, 1997).
Em relação à cultura, a TPP abriu espaço para ela por meio do conceito de
repertório. Para Tilly (1995, p. 26), repertório é um “conjunto limitado de rotinas que
são aprendidas, compartilhadas e postas em ação por meio de um processo
relativamente deliberado de escolha”. Assim, os atores escolhem quais as formas de
interação mais adequadas aos seus propósitos, isto é, eles atribuem o sentido às
formas, que podem ser tanto de contestação como de reiteração da ordem.
A TNMS possui foco nas mudanças de ordem cultural e diz respeito a
movimentos sociais dos ambientalistas, das mulheres, pela paz e outros. Os novos
movimentos se opõem às práticas e aos objetivos dos velhos movimentos sociais
organizados a partir do mundo do trabalho, ou seja, se opõem ao movimento operário-
sindical (GOHN, 1995). Os novos movimentos sociais possuem foco em questões que
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vão além do conflito de classes, envolvendo questões culturais. Esses movimentos
surgiram em meados do século XX e têm como objetivo atuar como complemento às
lutas de classes dos movimentos clássicos, como alternativa aos movimentos de
classes tradicionais e como alternativa aos partidos políticos de esquerda. Assim, os
novos movimentos sociais poderão surgir como complemento ou como oposição aos
partidos políticos de esquerda e aos movimentos de classes tradicionais. Os novos
movimentos sociais ganharam força na década de 1970 com as lutas sindicais contra
a divisão hierárquica do trabalho (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010). É nesse mesmo
período que os novos movimentos sociais surgem, como o movimento mundial de
protesto contra a guerra dos Estados Unidos no Vietnã, pelos direitos civis dos negros
nos no mesmo país, movimentos feministas e urbanos, entre outros (MONTAÑO;
DURIGUETTO, 2010, p.265).
São características fundamentais dos novos movimentos sociais, as
mobilizações situadas fora do contexto do trabalho e da reprodução da força de
trabalho, destacando o não envolvimento de seus protagonistas nas formas de
organização e com a ideologia do movimento operário, de forma direta, e sua postura
contra Estado e partidos políticos revolucionários. Assim, os novos movimentos
sociais surgem de novas demandas da sociedade contemporânea que requerem
respostas diferenciadas.
Outras características dos novos movimentos sociais são seus valores
antimodernistas; suas formas de ação não convencionais; sua formação, por grupos
marginalizados pelo status quo vigente ou sensíveis aos resultados do capitalismo; as
novas aspirações e a satisfação de necessidades que se colocam em risco frente às
exigências da burocratização e o aumento da industrialização, rompendo laços
tradicionais e estruturas de lealdade existentes. Como resultado tem-se maior
receptividade às novas visões sobre novas utopias sociais (ALONSO, 2009).
Os novos movimentos sociais se preocupam em garantir direitos sociais que já
existem ou que ainda deverão ser conquistados, por meio da mídia e de atividades de
protestos visando à mobilização da opinião pública a seu favor, para pressionar os
órgãos e as políticas estatais. Dessa forma, se valendo de ações diretas, buscam
mudar os valores dominantes e as situações de discriminação, principalmente dentro
de instituições da própria sociedade civil (PONTES, 2015).
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Uma crítica a essa teoria é que ela apresenta novidades na prática histórica
dos movimentos, no entanto, utiliza categorias que não permitem explicar de forma
clara as novas formas de processo social, uma vez que partem dos resultados nos
quais a identidade coletiva é sua maior expressão, é a categoria mais relevante na
análise da TNMS. Assim, essa teoria fez uso do binômio causa e efeito, sem se
aprofundar no conjunto de processos que formam os movimentos sociais. Extraiu da
política a questão da ideologia, mas não abordou o caráter dessas representações
coletivas, como parte de projetos políticos mais abrangentes. Dessa forma, as
análises possuem lacunas em certos aspectos da realidade que podem não se
relacionar com as formas empíricas em um dado momento histórico. Tanto os códigos
culturais como a identidade coletiva são produtos do movimento social, que é um
processo de articulação de ações coletivas (PONTES, 2015).
Fonte: www.correiodobrasil.com.br
Alguns dos autores dessa teoria não fazem distinção entre velhos e novos
movimentos, portanto, essa distinção é criada com base em análises sobre questões
culturais, ideológicas, de consciência, crença, micromobilização e solidariedade, com
foco principalmente no papel que os processos de construção de identidades coletivas
desempenham na formação dos movimentos (LARAÑA, 1999). São autores dessa
teoria Alain Touraine, Jurgen Habermas, Alberto Melucci e Claus Offe.
Podemos dizer que as três teorias sobre movimentos sociais aqui apresentadas
possuem formas bastante particulares. A TMR focou na dimensão micro
organizacional e na estratégica da ação coletiva; a TPP focou o ambiente
macropolítico, incorporando a cultura na análise e utilizando o conceito de repertório,
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mesmo que de forma limitada; e a TNMS focou em aspectos simbólicos e cognitivos
e nas emoções coletivas incluindo-os na própria definição de movimentos sociais,
dando menor importância ao ambiente político em que ocorrem as mobilizações e aos
interesses e recursos materiais envolvidos nela.
Na dimensão histórica, o desenvolvimento da TPP reduziu o espaço da TMR e
logo a derrubou; a TNMS continuou a existir e desenvolveu-se para além da Europa.
Ainda assim, o debate entre a TPP e a TNMS, foi essencial para estabelecer
consensos (ALONSO, 2009).
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A partir de 1974 o país entra em crise e os movimentos sociais ressurgem.
Entre 1978-1979 tivemos os seguintes (GOHN, 2000):
Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOs);
Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT);
Central Única dos Trabalhadores (CUT);
Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM).
Fonte: www.marcelocoruja.blogspot.com
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Em um sistema democrático, a sociedade está em constante construção, por
meio da participação cidadã. Dessa forma, os movimentos sociais, no Brasil e no
mundo, expressam esse esforço de construção social a partir da atuação coletiva dos
indivíduos. Nesse contexto, os movimentos sociais possuem relevância para a
sociedade civil, enquanto instrumento de manifestação e reivindicação. Movimentos
como dos negros, feminista, ambientalistas, da causa operária, estudantis, LGBT e
outros, centralizam-se em algumas regiões específicas, no entanto, outros
movimentos, estimulados pelo processo de globalização e pela disseminação da
informação e meios de comunicação, rompem fronteiras geográficas, em razão da
natureza de suas causas, ganhando adeptos por todo o mundo, como é o caso do
Greenpeace.
A necessidade de os movimentos sociais contarem com uma organização bem
desenvolvida e planejada, demanda a mobilização de recursos e pessoas realmente
comprometidas. Assim, você pode concluir que os movimentos sociais não se limitam
a manifestações públicas, contando também com organizações que atuam com a
finalidade de alcançar seus objetivos políticos, o que significa que há uma luta
constante e em longo prazo, de acordo com cada causa que se quer defender.
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sociais sejam compreendidos, bem como qualquer outro fenômeno que se queira
estudar, é necessário um estudo realizado a partir de uma abordagem crítica e geral.
Essa questão sobre objetivos dos movimentos sociais, talvez uma das mais
importantes nesse contexto, ainda é pouco discutida, o que causa certo
estranhamento, uma vez que sem objetivo não existe movimento.
Grande parte dos estudos sobre movimentos sociais apresenta o objetivo sem
análise ou problematização e, outras vezes, apenas o colocam de modo superficial ao
lado de outras questões. O mais comum é a apresentação do objetivo como sendo a
“mudança social”, de forma generalizada. Essa é uma visão hegemônica, que, apesar
de superficial, é muito utilizada no contexto dos movimentos sociais. A ideia de
mudança social equivale à ideia de transformação social, que na verdade significa
substituir uma forma de sociedade por outra, dando um caráter revolucionário para os
movimentos, o que não corresponde à realidade (BOTTOMORE, 1981; TOURAINE,
1997). Alguns sociólogos enxergam a mudança social como uma simples alteração
de algum aspecto da realidade social, reproduzindo uma ideologia em vez de produzi-
la.
Você já se perguntou qual é ou quais são os objetivos dos movimentos sociais?
A importância do objetivo dos movimentos sociais fica evidente no conceito desse
fenômeno, considerado por Viana (2016) como ações coletivas compartilhadas por
grupos sociais que se originam de situações que causam insatisfação, sentimento de
pertencimento e possuem um objetivo a ser perseguido, sendo este um dos elementos
que definem um movimento e que não pode ser deixado em segundo plano. Portanto,
um movimento social surge motivado pela insatisfação gerada por determinada
situação, que é sentida pelo grupo atingido, gerando um sentimento de pertença e o
objetivo que provoca a mobilização. Dessa forma, o objetivo é a meta a ser alcançada
e a razão de ser do movimento social, justificando a mobilização. O objetivo então
existe para que ações sejam implementadas, visando transformar uma situação
problemática. Nesse contexto, o objetivo visa a uma transformação situacional.
Viana (2016) considera que a transformação situacional pode assumir um
estado defensivo, que busca manter a situação impedindo que ocorram mudanças
prejudiciais, ou a volta da situação social anterior, sem que as mudanças tenham
ocorrido; já o estado ofensivo, busca modificar determinada situação social que causa
insatisfação em seu grupo social de base. Você pode entender o primeiro caso como
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uma conservação e não uma transformação da situação. No entanto, o autor
considera que, ainda assim, existe um elemento de transformação que é a ação contra
tendências, atos, posições, etc., de outros grupos, do Estado, etc., que pode gerar a
mudança que se quer evitar e que se considera prejudicial. Dessa forma, a
transformação situacional defensiva só terá sentido se houver alguma mobilização na
sociedade que ameace a continuidade daquilo que se quer manter.
Transformação situacional e transformação social são ações distintas. A
transformação situacional diz respeito à situação do grupo social ou situação
relacionada a outros grupos. No entanto, se o grupo social que gera o movimento
considerar que sua transformação situacional só é possível com uma transformação
social, o que na maioria dos casos é verdadeiro, então se tem um objetivo de
transformação situacional e social.
A transformação situacional pode ser conservadora, o que significa retomar
uma situação existente anteriormente ou impedir que as reivindicações do grupo
social oposto se mantenham. É reformista e visa à mudança da situação do grupo
social e revolucionária, pois acontece simultaneamente a uma transformação social,
uma vez que somente com uma mudança radical da situação é que pode surgir uma
nova sociedade em substituição da atual, sendo um processo que efetiva a resolução
do problema do grupo social. A transformação social, por sua vez, significa uma
revolução que atinge a toda a sociedade, caracterizando-se como uma mudança
radical, por exemplo, a passagem do feudalismo para o capitalismo (VIANA, 2016).
Observe um exemplo dos tipos de transformações na Figura 1.
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Agora que você já viu alguns elementos que podem ajudá-lo a compreender os
objetivos dos movimentos sociais, reflita: como os objetivos são formados? De que
forma eles podem ser identificados? Como se materializam?
Os objetivos se formam motivados pela insatisfação em relação a alguma
situação indesejada, que gera um objetivo individual em determinados indivíduos de
um grupo que, tomados pelo sentimento de pertencimento, compartilham com seu
grupo social, por considerar que se trata de um problema coletivo, do grupo todo.
Sendo um problema de todos, gera um objetivo coletivo que irá gerar uma
mobilização. Dessa forma, temos um movimento social (VIANA, 2016).
Um aspecto fundamental para que os objetivos se concretizem é que todos
possuam interesses comuns. Nos movimentos sociais estão presentes interesses
pessoais e grupais, sendo estes últimos os que movem o grupo na mesma direção.
Cabe destacar que interesses divergentes dentro do grupo social ou a predominância
de interesses pessoais sobre os interesses coletivos podem causar situações
constrangedoras dentro dos movimentos sociais, como a formação de um subgrupo
com a finalidade de lutar por benefícios pessoais em vez de lutar pela solução do
problema do grupo social. O interesse pessoal pode fazer com que o indivíduo resolva
seu problema de forma individual, usando o movimento para essa finalidade ou
abandonando a luta do grupo, entre outros.
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Viana (2016) alerta que nos movimentos sociais conservadores o interesse
pessoal coincide com o interesse do grupo, não havendo contradição. No caso das
tendências conservadoras e reformistas dos movimentos sociais reformistas, existem
contradições, mas são encobertas por ideologias, doutrinas, etc. No caso de
movimentos sociais com tendências revolucionárias, os interesses pessoais podem
ser incompatíveis com o interesse grupal, motivando o abandono da luta ou sua
substituição por formas oportunistas. Há de se ter cuidado, pois muitos indivíduos
focados em interesses pessoais tendem a gerar o oportunismo nos movimentos
sociais. No entanto, indivíduos voltados aos interesses fundamentais tendem a
reforçar os interesses do grupo.
Para identificar o objetivo de um movimento social é importante distinguir
objetivos reais e objetivos declarados, que possibilitam verificar se há diferença entre
os objetivos que constam nos discursos e os que são efetivos, chamando a atenção
para uma possível dicotomia entre eles. Se uma organização mobilizadora tem como
objetivo a defesa do meio ambiente e busca garantir sua preservação, temos o seu
objetivo declarado. No entanto, é preciso verificar se esse objetivo é real, ou seja, é o
objetivo verdadeiro e efetivo de tal organização.
Etzioni (1976) recomenda que os gastos sejam analisados, bem como as
despesas com recursos e energia da organização, pois se há um gasto maior para
sua manutenção do que com a mobilização em defesa do meio ambiente, então há
uma dicotomia entre objetivo real e declarado. Caso a situação seja inversa, ou seja,
se os gastos forem inferiores e as energias e recursos forem voltados para a
preservação ambiental, então objetivos reais e declarados estão em equilíbrio. Claro
que existem outros aspectos a serem considerados, mas a partir dessa comparação
já é possível verificar se há ou não compatibilidade entre discurso e ação efetiva
(ETZIONE, 1976).
Outra forma de identificar os objetivos é por meio da análise do
desenvolvimento histórico do movimento social e suas ramificações. Entender as
ramificações é fundamental para compreender qual é o objetivo que predomina no
interior do movimento, lembrando que uma organização mobilizadora pode
inicialmente apresentar um objetivo e, posteriormente, alterá-lo devido a mudanças
de hegemonia na sociedade civil, nos integrantes da organização, etc. Esta ação a
chamada substituição de objetivos que para Etzioni (1976) é mais comum ocorrer
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entre meios e fins. A organização para ação é o meio para se atingir o fim, que é o
objetivo do movimento social do qual se faz parte.
Outra forma de identificar os objetivos de um movimento social é por meio das
reivindicações, que são a forma concreta de explicitação dos objetivos dos
movimentos sociais. Sem as reivindicações, qualquer objetivo declarado em
documentos, manifestos, e outras formas, não possuem valor e estarão em oposição
aos objetivos reais. Nesse contexto se encontram as reivindicações específicas,
ligadas aos interesses imediatos e específicos; e as reinvindicações gerais, ligadas
aos interesses gerais ou universais/fundamentais. Dessa forma, as reivindicações dos
movimentos sociais ou de suas ramificações são as fontes de revelação dos seus
reais objetivos, ou seja, os objetivos dos movimentos sociais são a verdadeira
expressão dos interesses de seus grupos sociais de base, que estão ligados ao
contexto social e histórico mais amplo (ETZIONI, 1976; VIANA, 2016).
Portanto, você pode entender que os objetivos dos movimentos sociais são
formados a partir da consciência e geração de valores, concepções, sentimentos, etc.
e com uma gama de opções. No entanto, isso não é suficiente para explicar o motivo
de escolha de um objetivo, pois, como é possível notar nos exemplos apresentados,
os movimentos podem ter objetivos distintos, dependendo da causa que se quer
defender ou da situação a ser transformada, etc.
Vamos iniciar este tema fazendo uma reflexão sobre o que é um problema no
contexto dos movimentos sociais. Você já parou para pensar que um problema é o
elemento principal dos movimentos sociais? Assim, é fundamental compreendê-lo
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para fornecer aos integrantes dos movimentos, uma base sólida de conhecimento e
uma capacidade consistente de análise, que permitam a elaboração do/dos objetivos
que devem ser alcançados por meio dos movimentos sociais. Podemos pensar em
problema social como uma situação que causa mal-estar, insatisfação e
consequências negativas a alguém, uma comunidade, sociedade, instituições, etc.
Entender o problema/a situação que se deseja mudar é fundamental para que as
pessoas se comprometam com a causa.
Um passo importante é diagnosticar a situação que causa insatisfação, listando
suas consequências e avaliando-as sob a ótica dos integrantes dos movimentos,
situando os problemas no tempo e no espaço, verificando a relação ou contradição
entre esses problemas, identificando os fatores que evidenciam sua existência,
realizando um levantamento de suas causas e consequências e destacando entre elas
as mais críticas e que podem sofrer intervenção. São três os tipos de problemas
existentes (DAGNINO, 2009):
Os que representam uma ameaça, ou seja, o perigo de agravar uma situação
ou a possibilidade de perda de algo conquistado;
Os que representam uma oportunidade, ou seja, podem ser aproveitados ou
descartados pelos atores sociais;
Os que representam um obstáculo, dificultando uma conquista ou benefício.
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do problema é fundamental para a formulação dos objetivos dos movimentos sociais,
ou seja, conhecer as causas do problema permite identificar quais opções têm chance
de funcionar (DAGNINO, 2009).
Nesse contexto, outro elemento fundamental para o movimento social é a
conscientização. Para Freire (1980), a conscientização é um processo que se constrói
quando o indivíduo se aproxima da realidade.
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Fonte: www.uipi.com.br
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2.5 Relação entre movimentos sociais, leis e políticas públicas
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Arena constitutiva: em que decorrem ações públicas cuja coerção afeta
indiretamente o cidadão, ou seja, define regras e procedimentos sobre a
formulação e implementação de políticas públicas nas demais arenas.
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serviços à comunidade e à população, distanciando-se do campo das reivindicações
e atuando em parceria com o Estado.
Fonte: www.brainly.com.br
Fonte: www.politize.com.br
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Atualmente, temos movimentos sociais diversos do âmbito rural e urbano, dos
direitos sociais, direitos trabalhistas, direitos humanos, contra formas de violências a
segmentos da sociedade e gêneros, movimentos sociais de valorização da cultura
étnica racial, religiosa, entre tantos outros movimentos instituídos em Associações,
ONGs, Fundações e Sindicatos. São expressões da participação da sociedade civil,
mais diretamente relacionados às gerações mais antigas ligadas aos chamados
novos-instituintes, nas questões sociais, conquistadas pela luta de movimentos
sociais e políticos que atuaram insistentemente e corajosamente na história da
constituição do processo democrático brasileiro. Além desses, temos ainda, os jovens
contrainstituintes, que transformam realidades através de suas manifestações
independentes.
Para entender a sociedade brasileira tal como ela é hoje, faz-se necessário
estudar a respeito da história e do processo evolutivo da sociedade no Brasil. Sendo
assim, é preciso conhecer os movimentos sociais basilares que estão intrínsecos às
atividades em prol da luta pela democracia brasileira, igualdade e justiça social. O
primeiro movimento social expressivo foi formado quando o Brasil passou a ser colônia
de Portugal, que trouxe para o País pessoas oriundas do continente Africano para
serem escravizadas. Nesse período, houve um movimento social organizado em prol
da abolição da escravidão (OLIVEIRA, 2017).
Passados alguns séculos, outros movimentos ocorreram já no primeiro governo
da República, como: a Guerra de Canudos (1893–1897), no estado da Bahia, em que
as pessoas lutavam por cidadania e melhores condições de vida no sertão nordestino,
tendo como líder Antônio Conselheiro; e a Guerra do Contestado (1912–1916),
formada por pessoas que foram expulsas de suas terras, em virtude de estas terem
sido concedidas a um grupo norte-americano para a construção de uma estrada de
ferro, na região entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esses dois movimentos
sociais marcaram o início do Brasil republicano, e ambos foram intensamente
perseguidos por parte do Estado (TOMAZI, 2000).
Outro importante movimento que ficou marcado na história da recém-República
é a Greve Geral de 1917, promovida pelos operários no Brasil. Essa greve ocorreu
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devido ao processo tardio de industrialização no País, pois, ao contrário dos países
da Europa, que já haviam passado pela Revolução Industrial, aqui ainda não se tinha
indústrias, apenas a forma artesanal e as atividades rurais, que predominavam até
então.
Com a entrada do século XX, inicia-se o procedimento de industrialização no
Brasil, isto é, o País passa por várias mudanças na sua economia e no seu modo de
produção. Com isso, há um intenso êxodo dos lugares mais remotos do País, bem
como a chegada de imigrantes, advindos sobretudo da Europa, para os centros
urbanos da época, que eram Rio de Janeiro e, principalmente, São Paulo. No entanto,
as cidades não comportavam todo esse acréscimo populacional, visto que ainda não
tinham saneamento básico, entre outras necessidades elementares da vida humana.
Além disso, essas recém-indústrias necessitavam de mão de obra, de modo
que se apropriaram desse movimento de êxodo rural para fazer essa população atuar
como mão de obra nos polos industriais. As formas de contratação eram semelhantes
às da época da Revolução Industrial na Europa. Entretanto, é preciso ressaltar que a
Revolução Industrial da Europa ocorreu entre os séculos XVIII e XIX, ao passo que o
Brasil iniciou a sua industrialização no século XX, de modo que poderia ter buscado
conhecer os erros da Europa no passado para não os repetir — o que não aconteceu.
Em pleno século XX, os capitalistas industriais contratavam os trabalhadores
para extensas jornadas de trabalho, sem qualquer tipo de garantias trabalhistas, locais
com péssimas condições de higiene, além de contratarem crianças e mulheres para
fazer o mesmo trabalho e com a mesma jornada que os homens. Segundo Iamamoto
e Carvalho (2012, p. 126):
31
com movimentos sociais deram uma importante contribuição para a sistematização
dos movimentos sociais brasileiros nesse período.
Assim, grandes movimentos foram organizados para exigir que o Estado
regulamentasse políticas que dessem amparo às questões do trabalho e leis que
pudessem garantir e respaldar seus direitos de trabalhadores e cidadãos. Nesse
contexto, o Estado passou a sistematizar legislações para regulamentar tudo o que os
movimentos sociais dos operários estavam reivindicando. Conforme Iamamoto e
Carvalho (2012, p. 126):
32
Fonte: www.querobolsa.com.br
33
De acordo com Gohn (1995b, p. 61):
Uma das premissas basilares a respeito dos movimentos sociais, desde a sua
origem até a contemporaneidade, é o fator político social e educativo que os
movimentos sociais proporcionam às pessoas que deles participam. Os movimentos
sociais são mecanismos fundamentais na sociedade, uma vez que permitem que
situações sejam transformadas por meio de pessoas que se articulam na sociedade,
organizam suas demandas e desenvolvem formas de chamar a atenção do Estado e
dos demais membros da sociedade, visando a garantir que suas necessidades e
demandas se tornem direitos e benefícios garantidos pelo Estado.
De acordo com Castells (2013), o exato escopo dos movimentos sociais é
aumentar a consciência dos cidadãos em geral e qualificá-los pela participação,
visando a alcançar a informação e o conhecimento a respeito de sua cidadania e de
34
seus direitos individuais e coletivos perante o Estado. Com o passar dos anos, esses
movimentos sociais foram se alterando e surgiram novos, os quais buscam garantir
os direitos humanos e alterar comportamentos e atitudes de toda a sociedade.
De acordo com Gohn (1995a), os movimentos sociais se constituem enquanto
atos coletivos de atitude sociopolítica, estabelecidos por atores sociais de distintas
classes sociais. A partir dos movimentos sociais, é possível alcançar o grau de
politização e educação crítica e cidadã, a compreensão sobre o jogo político e
econômico, entre outros. Desse modo, esses movimentos instituem uma arena
política de força social na sociedade civil.
Atualmente, os movimentos sociais representam as novas demandas
apresentadas à sociedade contemporânea, e existem diversas respostas e formas
distintas para atender aos anseios desses inúmeros movimentos (CRAVEIRO;
HAMDAN, 2015). Alguns dos importantes movimentos sociais que foram se
estabelecendo, com pautas de lutas por visibilidade, direitos e reivindicações, são:
movimentos ambientais, movimentos culturais, movimentos de luta por igualdade de
gênero, Movimento Sem-Terra (MST), movimento em defesa da cultura e da arte,
movimento LGBTQIA+, movimento negro, movimento de luta pelo direito à moradia,
movimento das pessoas em situação de rua, entre outros.
Em se tratando dos movimentos sociais contemporâneos, estes possuem
algumas distinções em relação aos movimentos sociais originários. Por exemplo,
quando analisamos os movimentos sociais mais tradicionais, eles se articulam a partir
de necessidades de elevação de salários, melhores condições de trabalho e direitos
(p. ex., férias remuneradas, descanso no final de semana remunerado, etc.). Contudo,
hoje, muitos trabalhadores podem usufruir dessas reinvindicações, fruto do processo
de luta desses movimentos sociais.
35
Fonte: www.cursoenemgratuito.com.br
36
Ferraz (2019, p. 360) faz uma importante ponderação em relação a uma
especificidade a respeito dos movimentos sociais que se formam na
contemporaneidade:
37
Contudo, o que se vê é o Estado atuando a favor de determinados grupos.
Nesse contexto, surgem questões importantes, especialmente ligadas aos
movimentos de resistência como forma de oposição e luta por igualdade de direitos.
38
Nesse contexto, é importante você notar a compreensão que se tem das leis,
que são uma declaração geral sobre um interesse comum. Elas existem a fim de
garantir a liberdade e a igualdade entre os homens. Além disso, a lei é sempre justa,
pois o homem não pode ser injusto consigo mesmo. Assim, “Se quisermos saber no
que consiste, precisamente, o maior de todos os bens, qual deva ser a finalidade de
todos os sistemas de legislação, verificar-se-á que se resume nestes dois objetivos
principais: a liberdade e a igualdade [...]” (ROUSSEAU, 1999, p. 127 apud SILVA;
CUNHA, 2013, p. 219).
O que fundamenta e garante que a finalidade do Estado se cumpra é a
preservação da liberdade e da igualdade entre os homens. Esse também é o
fundamento da vontade geral, das leis e do corpo político. Segundo Silva e Cunha
(2013, p. 220), “[…] A vontade do corpo político é a vontade geral. Por meio dela o
homem continua a ser livre, e por ser membro deste corpo ele é igual a todos os
demais membros […] o Estado dirigido pela vontade geral é um Estado social legítimo
[...]”.
Fonte: www.politize.com.br
39
sua relação com o Estado, embora este mantenha relações com outras sociedades,
para além de seu território.
3. Um conjunto de regras e condutas reguladas dentro de um território, o que
ajuda a criar e manter uma cultura política comum a todos os que fazem parte da
sociedade nacional ou do que muitos chamam de “nação”.
O Estado é um fenômeno histórico e relacional. Portanto, deve ser tratado como
processo. Afinal, ele não existe de forma absoluta nem é inalterável. Veja:
Fonte: www.mundoeducacao.uol.com.br
43
enfrentamento das manifestações da Questão Social e a favor da classe trabalhadora
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993).
44
popular, findando os privilégios de classe e inaugurando os ideais de liberdade e
igualdade como direitos fundamentais dos homens (MANZINI-COVRE, 2010).
Cidadania é a prática do indivíduo em exercer seus direitos e deveres, no
âmbito de uma sociedade do Estado. Não se restringe somente ao ato de votar e ser
votado, como pensado por muitos, mas envolve viver em sociedade, cumprir seus
deveres e ter seus direitos garantidos, por meio da justiça social (PEREIRA, 2011).
Fonte: www.osbrasil.org.br
A cidadania, pois, deve garantir a plena emancipação dos indivíduos que, por
meio de seus deveres com a sociedade, têm seus direitos inerentes à vida — como
saúde, assistência social, educação, moradia, renda, alimentação, entre outros
garantidos pelas políticas sociais.
Tendo em vista que cidadania é sinônimo de garantia de direitos, podemos
considerar que, no Brasil, temos vivenciado uma cidadania relativa, ou regulada —
nome proposto pelo sociólogo brasileiro Wanderley Guilherme dos Santos, na década
de 1970, para descrever uma “cidadania restrita e sempre vigiada pelo Estado”.
A cidadania brasileira, nesse sentido, permanece em uma constante
construção, num movimento de ampliação e encolhimento das políticas sociais, à
medida que, em muitos momentos históricos, inclusive atualmente, muitos indivíduos
não têm o direito de ter suas necessidades básicas garantidas ou, nem mesmo, o
mínimo necessário para sua subsistência e da família (PEREIRA, 2011).
Em momentos de crise, as políticas sociais sofrem um encolhimento e
focalizam suas ações, violando a condição de cidadãos, à medida que parcelas
45
significativas da população têm seus direitos violados — direitos estes já adquiridos,
pelo que deveria ser a cidadania, por meio do que chamamos de Constituição Cidadã:
a Constituição Federal de 1988.
É por meio do exercício de cidadania, assumindo o papel de cidadãos, que se
dará a ampliação dos direitos mediante políticas sociais. As ações coletivas, nesse
sentido, são mais eficazes do que as individuais, e o que é conquistado por meio do
coletivo fortalece a cidadania de todos.
46
propriedade privada. O Estado deveria proteger o direito à vida, à liberdade e aos
direitos de segurança e propriedade (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Contudo, o Estado era repressor, e os trabalhadores eram explorados. Foram
as mobilizações e a organização da classe trabalhadora (operária), reivindicando sua
cidadania, numa perspectiva de emancipação humana e na socialização da riqueza
socialmente produzida, que os cidadãos conseguiram assegurar importantes
conquistas no que diz respeito aos direitos (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Conforme apontam Behring e Boschetti:
47
1933 – Criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs);
1942 – Criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), destinada ao
atendimento de pessoas pobres, com apoio à maternidade e infância;
1943 – Promulgação das Consolidações das Leis Trabalhistas (CLT);
1960 – Aprovação da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS);
1966 – Criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS);
1988 – Promulgação da Constituição Federal do Brasil, a chamada
Constituição Cidadã.
48
Assim, as políticas sociais não devem focalizar o mínimo existencial como
preservação somente da própria vida humana, mas, sim, a se atingir um mínimo
desejável para uma vivência digna dentro da construção da cidadania.
Fonte: www.revistaviag.com.br
49
dos indivíduos, como saúde, moradia, trabalho e qualificação profissional,
alimentação, entre outros.
50
6.1 Democracia e cidadania
Conceituar democracia não é uma tarefa fácil, pois seu conceito está em
constante construção. Uma vez que a democracia decorre de acontecimentos
históricos, é dinâmica e está em constante aperfeiçoamento. Dessa forma, não existe
um conceito claro e direto sobre democracia que a defina sob diversos aspectos.
Contudo, cabe destacar que além da mudança que sofre ao longo dos tempos, a
democracia se apresenta em diferentes e variados graus de desenvolvimento, com
características autoritárias e até democracias mais desenvolvidas (BASTOS, 1992;
CANOTILHO, 2002; MATTOS, 2016).
Fonte: www.santafeideias.com.br
51
No entanto, muitas destas características não estão presentes nos sistemas
políticos. Para Rousseau (1981), a democracia verdadeira nunca existiu e não existirá,
uma vez que é difícil reunir as condições necessárias para isso, por exemplo,
facilidade de reunir o povo e que ele se conheça com facilidade; costumes simples
que não permitam a multiplicação de problemas e de discussões espinhosas;
condições de igualdade entre o povo (incluindo renda e pouco ou nenhum luxo). Já
para Bobbio (1986), só se governaria democraticamente se existisse um povo de
deuses, ou seja, um governo perfeito não é um governo feito para os homens.
Esses foram apenas alguns exemplos de que a democracia não é perfeita, mas
é o melhor regime de poder que temos disponível. Na verdade, cada sociedade deve
adotar o sistema de governo que melhor se adapta a sua cultura, costumes, crenças,
leis e realidade social, características que se modificam com o tempo e com a própria
evolução política.
A democracia é um regime político em que o poder é representado pela vontade
do povo, sendo garantido como um dos direitos universais e fundamentais do homem,
na Declaração de Direitos de Virgínia (1776), na Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão (1789) e na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na qual
todo indivíduo pode participar do governo de seu país, de forma direta ou indireta, por
meio dos representantes escolhidos livremente por eles. Portanto, como previsto na
Constituição Federal de 1988 (CF/88), parágrafo único do art. 1º, “todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente [...]”
(BRASIL, 1988).
A democracia direta diz respeito à forma de organização social onde os
indivíduos, sem distinção, podem participar ativamente da tomada de decisões, com
direito a se manifestar e votar, exercendo a democracia. A participação popular, a
discussão e o debate entre as pessoas eram características da democracia antiga
onde as decisões eram tomadas de forma coletiva. Nesse sistema de governo é a
população quem decide sobre os interesses públicos e administra a cidade decidindo
desde realização de obras até a elaboração de leis. Cabe destacar que a democracia
direta funciona melhor em pequenas populações.
Grandes populações adotam a democracia indireta ou representativa, em que
os cidadãos participam indiretamente na elaboração das normas e na administração
pública por meio dos representantes que elegem para cuidar dos assuntos de governo
52
em seu nome por um determinado período de tempo (SILVA, 2000; MATTOS, 2016).
Nos Estados modernos predomina a democracia representativa, dada a complexidade
e a contingência de pessoas que as caracterizam atualmente. As críticas a esse
modelo estão ligadas à falta de legitimidade e a discordância existente entre a vontade
dos eleitores e de seus representantes.
A democracia representativa se torna frágil quando poucos decidem por muitos.
Essa fragilidade levou à busca por alternativas que fossem capazes de abraçar a
vontade popular sem desistir do sistema representativo, fazendo surgir a democracia
participativa ou semidireta, que tenta aproximar a vontade popular e o cidadão da
decisão política, sem intermediação. A democracia participativa é baseada no sistema
indireto, em que os representantes são escolhidos por meio de eleições e com
características do sistema direto, como a iniciativa popular e o referendo, que dá ao
povo o direito de propor e aprovar leis e normas (FERREIRA FILHO, 1994). Assim, a
participação representativa, além de atribuir aos cidadãos maior comprometimento e
responsabilidade em relação ao rumo político-jurídico do Estado no qual estão
inseridos, exige deles maior conscientização e educação política, uma vez que se
podem eleger seus representantes, devem também participar diretamente na
formação dos atos legislativos (ZANETTI, 2013).
Fonte: www.pt.slideshare.net
53
É na sociedade que o interesse público é construído e fortalecido, seja ele
contraditório ou não, por meio da participação dos indivíduos na vida política do
Estado. A partir disso, é possível desenvolver o conceito de cidadania, que não se
restringe ao direito de votar e ser votado. Cidadania é o ato de participar ativamente
da vida política de um Estado, seja por meio do voto, referendo, plebiscito, iniciativa
popular ou do controle social, em que é possível fiscalizar as ações dos governantes
e se os princípios da moralidade, probidade e legalidade estão sendo respeitados
(TAVEIRA, 2009). Dessa forma, a cidadania é condição fundamental para a existência
do sistema democrático e, para sua sobrevivência, é necessário que: “O povo esteja
disposto a aceitá-lo; que tenha a vontade e a capacidade de fazer o necessário para
a sua preservação e vontade e a capacidade de cumprir os deveres e exercer as
funções que lhe impõe este governo. ” (MILL, 1981, p. 39).
Portanto, você pode considerar que um povo que não exerce sua cidadania não
possui representatividade e corre o risco de ser comandado por uma pequena classe,
cujo interesse é satisfazer suas próprias necessidades e desejos. Cabe destacar que
a cidadania é o pleno exercício da democracia, em que os indivíduos possuem direitos
civis, políticos e sociais perante a lei e pertencem a uma sociedade organizada
(TORO; WERNECK, 2004; TAVEIRA, 2009).
54
A mobilização social é a reunião de sujeitos que definem objetivos e
compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a
transformação de uma dada realidade, movidos por um acordo em relação a
determinada causa de interesse público.
Fonte: www.sasop.org.br
55
do motivo principal para a ação, por meio da análise da realidade social que se deseja
mudar, do problema a ser solucionado, do projeto que se tem em mente, etc. Dessa
forma, é importante saber quais ações podem solucionar os problemas ou transformar
a realidade constatada e quais efeitos são esperados (TORO; WERNECK, 2004;
BOCK, 2008).
Veja, a seguir e na Figura 1, as etapas do processo de mobilização social
propostas por Toro e Werneck (2004) e Souza (1999):
Contextualização crítica da realidade local, conscientização;
Formulação de um imaginário coletivo;
Organização social;
Coletivização e corresponsabilidade;
Capacitação técnica;
Acompanhamento e avaliação.
57
Você já se perguntou quem são os atores da mobilização social? Pode ser uma
pessoa, um grupo, uma instituição que inicia um movimento com o intuito de alcançar
algo, ou todos esses atores juntos, mobilizados para um ou mais propósitos ao mesmo
tempo. O importante é que eles tenham a preocupação em seguir os critérios já
mencionados.
Cabe destacar que para que um processo de mobilização aconteça é preciso
haver condições financeiras, institucionais, técnicas e profissionais. Dessa forma, o
responsável por viabilizar o movimento de mobilização e conduzir as negociações
necessárias para a legitimidade social e política é chamado de produtor social. O
produtor social é primeiro ator de uma mobilização, que pode ser uma instituição
pública, uma secretaria de Estado, uma empresa privada, uma pessoa, um grupo, e
que tenha como intenção a transformação de uma realidade e esteja disposto a
compartilhar isso com outras pessoas que possam ajuda-los nesse processo.
É preciso que o produtor social tenha legitimidade, para que consiga
credibilidade diante das outras pessoas, instituições, grupos, etc. O ideal é que o
produtor social seja visto como alguém que possui uma preocupação e uma imensa
vontade de realizar mudanças de forma compartilhada e não como o dono do
processo. Para isso, ele precisa respeitar e confiar nas decisões coletivas,
estimulando esse comportamento nas pessoas e a energia e criatividade delas e da
coletividade, bem como o seu espírito empreendedor delas. Deve ser capaz de
conhecer e interpretar a nossa realidade social; orientar um editor na produção de
materiais adequados, com conhecimento sobre as possibilidades e limites da
comunicação social; ter claros os conceitos de democracia, cidadania, público e
participação; e ter tolerância e sensibilidade para trabalhar com as redes de reeditores,
transformando-as em redes autônomas e doadoras de sentido próprio.
A mobilização social é uma oportunidade de congregar pessoas para a
construção de um projeto futuro que passa a ser de todos, e ela só tem utilidade e
sentido para a sociedade se for assim, caso contrário deixa de ser uma mobilização
para se tornar um evento, uma campanha ou algo semelhante. A mobilização social é
vista, então, como um processo intimamente ligado à possibilidade de incluir os
sujeitos em suas principais questões, criando mecanismos para sua participação
(MAFRA, 2007). Dessa forma, podemos entender que a mobilização social é, para os
indivíduos, um recurso para a construção e transformação de seus entornos, que se
58
realizam em nível coletivo, ou seja, por meio de ação e interação entre os sujeitos,
cujo objetivo é a emancipação social. Assim, que para haja mobilização social é
preciso entrar em relação, é preciso comunicar-se.
Fonte: www.crfsp.org.br
61
Dessa forma, os processos de construção e manutenção da mobilização estão
intimamente ligados ao uso de técnicas de comunicação. Para Toro e Werneck (2004),
as ações de comunicação, por permitirem a troca de repertório entre as pessoas,
também possuem caráter educativo.
O grande desafio da comunicação em um processo de mobilização social é
mexer com a emoção das pessoas, fazendo elas quererem fazer parte dos processos
de transformação de uma determinada realidade. As estratégias de comunicação
visam, além de convocar, despertar ações e emoções ativas que se desdobram em
outras ações participativas, solidárias e políticas. Outro desafio é gerar processos de
comunicação e transformar pessoas comuns em atores, sujeitos, cidadãos (RABELO,
2002).
Esses movimentos têm como características o exercício da decisão partilhada
e, por isso, exigem canais de comunicação desobstruídos, abundância de
informações, autonomia, corresponsabilidade e representatividade. Dessa forma, o
caminho ideal para gerar a participação, a verdadeira mobilização e a efetividade das
iniciativas é planejar a comunicação, estabelecendo fluxos que estimulem a criação
da corresponsabilidade. Assim, você pode compreender a comunicação mobilizadora
como uma experiência e uma convivência entre sujeitos cujo objetivo é a alocar
esforços, atitudes e comportamentos em busca de ações do ponto de vista social,
cultural e político (PERUZZO, 1998; HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004).
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7 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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