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Painéis

Apresentação

Alberto Bins foi um dos mais notáveis Prefeitos que cidade já teve. Administrou Porto
Alegre de 1928 a 1937, passando pela Revolução de 1930, pela Revolta Constitucionalista
de 1932 e pela nova Constituição de 1934 que mudou a denominação de seu cargo de
Intendente para Prefeito. Saiu da Prefeitura no golpe do Estado Novo em solidariedade ao
governador Flores da Cunha, que tinha abandonado o cargo e se exilado no Uruguai. Sua
importância está em ser um dos três prefeitos que reformaram a cidade na primeira metade
do século XX, junto com José Montaury e Otávio Rocha e deles, foi o que enfrentou a
conjuntura mais desfavorável, com recessão mundial, quebra de bancos estaduais,
moratória interna e externa, inadinplência de impostos e grandes transformações sociais e
socio-econômicas. Seu diferencial é que, administrando uma Prefeitura em situação
financeira delicada, foi capaz de realizar grandes obras para a cidade, como a Hidráulica
Moinhos de Vento, o Parque Farroupilha e a Usina do Gasômetro. È que, diferente de seus
antecessores, seu ritmo, métodos e estratégias adotadas privilegiaram a expansão urbana em
detrimento das custosas obras de reforma do centro e buscando, frente a certo esgotamento
dos limites do Plano de Melhoramentos, novos horizontes para o desenvolvimento urbano
da cidade: é o primeiro a apostar na verticalização da capital. Por tudo isso, a exposição
“Porto Alegre e Alberto Bins” é uma viagem em um período da cidade fundamental para o
entendimento do presente.

1869 - 1887 Das origens

Quando Alberto Bins veio ao mundo, Porto Alegre era uma cidade em crescimento. O
mercado havia sido reformado, inúmeras novas ligações de água haviam sido feitas e as
ruas da cidade ainda sentiam os reflexões da Guerra do Paraguai: a Rua da Igreja passou a
ser chamada de Rua Duque de Caxias e a Rua Clara, de General João Manoel. A política
também estava agitada, pois já haviam tomado posse os novos vereadores da Câmara
Municipal assim como os deputados da nova legislatura da Assembléia Provincial. A
ligação com a política precede o nascimento de Bins na Porto Alegre daquele dia 2 de
dezembro de 1869. É que seu pai, Matias José Bins, era comerciante e alfaiate de Júlio de
Castilhos, um dos mais importantes políticos que o Estado conheceu. A origem de seu pai,
nascido em Merl, na Alemanha, deu a Alberto Bins não apenas uma família era extensa,
uma característica da época, com cinco irmãos – Frederico, Rodolfo, Elisa, Antonia e
Olga, mas uma educação nos melhores colégios da região e da Europa.

1888-1905 Um notável esportista

Por orientação de seu pai, Alberto Bins dividiu sua educação entre os colégios de São
Leopoldo e Wiesbaden, na Região do Ruhr, onde trabalhou como assistente e empregado
na Alemanha. Viveu a juventude como cidadão de dois mundos: no Brasil, em 21 de
novembro de 1888 funda e é o primeiro patrono do Ruder Club Porto Alegre, associação
de remo de jovens de descendência germânica – “ruder” é remo em alemão. A primeira
sede foi junto à Praça da Alfândega, quando ainda ficava na margem do lago. A cidade já
tinha uma vida cultural - com a Livraria do Globo e intensa programação no Teatro São
Pedro – e esportiva, com a fundação, em 1896 da Sociedade Ciclística Blitz de Porto
Alegre e em 1903, do Fuss- Ball Club (futebol). O próprio Alberto Bins foi presidente do
Clube de Remo Porto Alegre em entre 1903-1907 e 1915.

1906 – 1923 Industrial, agricultor e político

Desde 1901, quando foi realizada a Exposição Estadual de Produtos do Estado, mostrando
produtos “naturais, artísticos e industriais”, a modernização da economia era evidente em
nossa capital. Alberto Bins já havia desposado, em 1893, então com 24 anos, Clotilde
Christoffel, herdeira de uma família de moselianos fabricantes de cerveja na capital, a
“Barbante”, uma das maiores cervejarias do pais. Assim tornou-se co-proprietário e chefe
de cervejaria. Em 1906 investe na agricultura plantando arroz na Granja Progresso,
complexo agropecuário de 750 hectares em Cachoeirinha e no mesmo ano é co-fundador do
Banco Pelotense. Mas a vida política também o atrai. Entre 1908-1912 é eleito Conselheiro
Municipal (vereador) pelo PRR, na primeira eleição que apresentou-se um candidato à
prefeito de oposição, o dissidente republicano Antão de Faria, que obteve 393 votos contra
5.197 dados a José Montaury. Entre 1913 e1928, Bins é eleito Deputado Estadual na
Assembléia de Representantes pelo PRR. O político não descuida da economia: em 1924
estabelece a Granja de Arroz Santa Clotilde, em Viamão. Bins era industrialista notável.
Fundador do Centro da Industria Fabril do Rio Grande do Sul, foi dono da Metalúrgica
Becker e sucessor de E.Berta & Cia na Fábrica Berta, a maior metalúrgica do Estado e que
se transformou na maior fábrica de artefatos de ferro e aço do país na década de 1930.
Como industrialista, empenhou-se em ampliar a produção da fábrica Berta, procurando
tornar conhecidos seus produtos no restante do pais e no resto do mundo, o que resultou na
conquista do Grande Premio da Exposição Nacional de 1908 e na Exposição do Centenário
1822-1922. Em sua fábrica na Voluntários da Pátria, produzia fogões, cofres, camas,
prensas, fundição e panelas.

1924-1927 De Vice Intendente a Intendente

Em 1923 estoura no Rio Grande do Sul um movimento armado durante onze meses em que
lutaram, de um lado, os partidários de Borges de Medeiros (borgistas ou chimangos) e, de
outro, os aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil (assisistas ou maragatos). A
pacificação veio pelo Pacto de Pedras Altas, Tratado de Paz assinado em dezembro daquele
ano que proibiu as reeleições de govenador e de intendentes municipais. José Montaury,
então Prefeito, não pode mais concorrer a reeleição, sendo lançado como candidato do
Partido Republicano a intendência o deputado federal Otávio Rocha. Alberto Bins, já era
um industrial de destaque, e sua escolha fazia parte da estratégia do PRR de uma aliança do
partido com a burguesia comercial e industrial. É eleito vice em sua chapa vitoriosa, com
8.012 votos, contra 1.413, dados ao candidato oposicionista, Frederico Gomes da Silva. A
política não o afasta do mundo dos negócios: em 1926 colabora na fundação da Viação
Aérea Rio Grandense mas na prefeitura acompanha com atenção uma novidade: a recém
criada Comissão de Melhoramentos da Capital, que dará inicio a audaciosas reformas
urbanas. Uma das primeiras medidas ocorre em 1927, quando é decretada a prorrogação de
prazo para substituição das paredes externas das construções de madeira.
1928 O Intendente e a Lei Orgânica

Afetado pela perfuração de uma ulcera gástrica, o prefeito Otávio Rocha, que estava
licenciado desde janeiro, falece em 27 de fevereiro e assume no seu lugar Alberto Bins. O
contexto político é novo: Getúlio Vargas havia tomado posse na Presidência do Estado e é
fundado o Partido Libertador em Bagé, que produz várias manifestações em Porto Alegre
contra o governo federal, com comício na Praça da Alfândega. Alberto Bins adquire
experiência como intendente em alto estilo: seu principal ato é a promulgação da Lei 207,
de 9 de abril de 1928, que reforma a Lei Orgânica, lei que organiza a vida da cidade e as
atribuições dos respectivos poderes. Mas é como reorganizador da vida da cidade que
Alberto Bins se destaca: em 16 de abril publica o Decreto 134 que determina que os
carreteiros da zona sul façam seu caminho pela Protásio Alves, deixando de estacionar na
Redenção. Reeleito para a Prefeitura em 28 de setembro de 1928 tem como vice-intendente
Sinval Saldanha, genro de Borges de Medeiros. A cidade está a pleno vapor: a economia
cresce com a fundação do Banrisul e Alberto Bins investe na ampliação do potencial
energético da capital gaúcha, com a inauguração, em 1928, da Usina do Gasômetro e no
campo da prestação de serviços, com a inauguração da hidráulica Moinhos de Vento. Ao
final do ano, reorganiza os serviços municipais, com a publicação da lei municipal 252, de
31 de dezembro de 1928, que cria o cargo de secretário do município.

1929 – Um Prefeito na Crise de 29

Alberto Bins atravessou na Prefeitura da Capital num dos mais difíceis períodos da
história, a Grande Depressão. Também chamada de Crise de 1929, surgida nos Estados
Unidos, repercutiu no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Com suas altas taxas de
desemprego e quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, repercutiu nas
atividades econômicas e no comércio. A crise econômica chega a Porto Alegre
lentamente: o ano inicia com vitalidade, com o lançamento da Revista do Globo, a
inauguração do Cinema Rio Branco e a fundação do Grêmio Náutico Gaúcho, mas o
anuncio da existência em Porto Alegre de 1.400 casas desalugadas e o assassinato e
suicídio de um pai desesperado com a situação de sua representação comercial anuncia que
o ano é de vacas magras para os cidadãos e a Prefeitura: Alberto Bins realiza poucas obras
em 1929, como o ajardinamento da Praça Argentina.

1930 – Uma política social

No ano de 1930, obras da capital apresentam problemas. Na Avenida Borges de Medeiros,


a falha na colocação de uma bomba de dinamite nas escavações causa uma grande explosão
com uma morte, de Lourival Toscano Barbosa. O ano é especial porque é realizada a
eleição presidencial, acompanhada com atenção por Alberto Bins e que leva o candidato da
Aliança Liberal ao poder. As novidades aparecem na cidade: é inaugurada a galeria Pedro
Chaves Barcellos, que ficaria conhecida como “Galeria Chaves” e o prédio do Pão dos
Pobres. O comércio e a assistência foram também o mote deste ano: Alberto Bins introduz
a Bolsa Trabalho em Porto Alegre pelo Decreto 219, de 31 de dezembro de 1930, um
programa popular para viabilizar a doação de alimentos e transporte para os desempregados
interessados em buscar ocupação no interior do estado. Além disso, é neste ano que Alberto
Bins participa da primeira diretoria do Centro da Industria Fabril do Rio Grande do Sul.

1931 – O ano do recuo político

Mesmo com a expansão de alguns setores, a crise de 1929 ainda repercute na cidade.
Enquanto que a Praça da Alfândega passava por uma remodelação, com a conclusão do
Banco Nacional do Comércio, atual Santander e a Farsul promovia seu 5º Congresso Rural
e Exposição Agrícola e Pastoril no parque do Menino Deus, após prolongada crise
financeira, o Banco Pelotense fecha suas portas e requer sua liquidação e depositantes da
agência da capital entram em pânico. Alberto Bins reitera na Prefeitura medidas
administrativas: altera a denominação da Rua das Flores para Rua Siqueira Campos e
através do Decreto 245 de 21 de setembro de 1931, regulamenta a cobrança por excesso de
consumo de água, lembrança aprendida com as enchentes que ocorreram anos antes de
forma calamitosa em Porto Alegre. Poupar água era uma necessidade. Em 1931, através do
Decreto nº 220, foi feita uma retificação dos limites da zona urbana, extrapolados no
decreto de 1927, devido às constantes reclamações de proprietários de imóveis quanto aos
serviços públicos precários. O pior ficou para a Câmara Municipal: dissolvidos pela
revolução, o então Governo Provisório substituiu os conselhos e câmaras municipais do
pais – inclusive da Capital – por um colegiado meramente consultivo de livre nomeação do
interventor federal. O de Porto Alegre é instalado em 14 de dezembro de 1931.

1932 – O Viaduto Otávio Rocha

Em 1932 Alberto Bins é novamente confirmado na Intendência pelo interventor Flores da


Cunha. Neste ano também é inaugurado o Viaduto Otávio Rocha na Av. Borges de
Medeiros, dando continuidade as obras de Otávio Rocha no centro da capital. Ele também
empreendeu nova vias fora dos limites do plano, prosseguindo no centro com a abertura da
Av. Borges de Medeiros e concluindo o alargamento da Avenida São Rafael (Otavio
Rocha) que resultara do alargamento do antigo Beco do Rosário até a Rua Cristóvão
Colombo (hoje Alberto Bins). As reformas continuam com a realização do aterramento das
áreas baixas e algadiças das proximidades de onde hoje está o Aeroporto Internacional
Salgado Filho, o que possibilitou a construção da capital do Aeródromo São João,
antecessor do Salgado Filho. Enquanto José Montaury e Otávio Rocha eram os engenheiros
responsáveis realizar as ações de saneamento, embelezamento e incentivo a novos tipos de
edificação, a escolha do empresário e industrial correspondeu a preocupação política em
incentivar a verticalização da cidade, a renovação da estética urbana. Com Alberto Bins é
completada a reforma do Cais até o Largo da Conceição.

1933 – Expansão urbana

A cidade via a afirmação do modernismo na arquitetura. Além de algumas residências


particulares que já começam a adotar o estilo, neste ano são projetados dois prédios
importantes. Exemplos são o Edifício Rio Branco, projeto do Arquiteto Julius Lohweg, na
Avenida Otávio Rocha eqüina Vigário José Inácio e o Prédio da Associação Cristã de
Moços, na Rua Washington Luis. No centro, Alberto Bins, na linha do “culto `a
personalidade” mudou o nome da avenida Independência para Flores da Cunha,
denominação que dura até 1937, além de mudar o nome da Rua Moinhos de Vento para
Vinte e Quatro de Outubro, em homenagem a vitória da Revolução de 1930. Fora do
centro, Alberto Bins incentivou a expansão urbana com o lançamento de um ambicioso
Plano de Pavimentação, com a implantação de faixas de concreto nas principais radiais
ligando o centro aos bairros, e em algumas ligações perimetrais entre bairros, iniciando um
sistema radiocentrico e estradas municipais, em direção a zona sul.

1935 – A grande exposição

O ano de 1935 inicia em Porto Alegre com a fundação do núcleo riograndense da Aliança
Nacional Libertadora. Ela é fundada em 5 de julho no Teatro São Pedro pelo médico e
escritor Dionélio Machado. Nesse ano, Alberto Bins, além de concluir as obras da Avenida
Borges de Medeiros e alterar a denominação da Rua 13 de maio para Av. Getulio Vargas, o
Prefeito faz um grande evento: a Exposição Comemorativa do Centenário da Revolução
Farroupilha. Inaugurada pelo próprio Getúlio Vargas em 20 de setembro de 1935 a partir de
então a Várzea passa a se chamar Parque Farroupilha com a inauguração do parque
projetado por Alfred Agache. A exposição foi monumental, com seus pavilhões de estuque
onde reportava-se as industrias riograndense, estrangeira, agricultura, além de contar com
as presenças dos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Pernanbuco,
Pará e Amazonas. Ela foi encerrada em 15 de setembro de 1936, sendo removidos os
pavilhões de madeira e estuque, restando poucos remanecentes de época, como o lago, seu
belvedere e embarcadouro, o eixo da fonte luminosa, o Instituto de Educação e alguns
monumentos. Evento comemorativo de dupla leitura, celebra os valores do centenário da
Revolução Farroupilha ao mesmo tempo em que, por seus pavilhões, sinaliza o esforço da
sociedade agrícola e industrial gaúcha na busca de um modelo de modernização pela escala,
destaque e localização do Pavilhão das Industrias Riograndenses.

1936 – A nova Lei Orgânica de 1936

Em 1936, o governador Flores da Cunha abriu um processo de pacificação transitória na


luta entre as correntes políticas do Estado, o acordo conhecido como “modus vivendi”,
implicando na experiencia de parlamentarismo no Estado. Era sinal de um universo político
conturbado, e não é para menos, é quando é lançado o novo jornal vespertino Folha da
Tarde. Nesse ano Alberto Bins promulga a Lei 286, de 5 de março de 1936, a Nova Lei
Orgânica, que estabelece que o Legislativo passa a ter 11 vereadores. Além disso, faz
diversas mudanças na nomenclatura das ruas: altera a denominação da Estrada do Mato
Grosso para Avenida Bento Gonçalves e a Rua Boa Vista passa a ser a Rua Vicente da
Fontoura, pela Lei Municipal nº 2, de 6 de julho. Outras ruas atingidas pela mesma
legislação foram a Lucas de Oliveira, Barão do Amazonas, Caldre Fião, Carazinho e Corte
Real, entre outras.

1937 O fim de uma Era

Em 1937, o conflito entre Flores da Cunha e Getúlio Vargas amplia-se e o Partido


Republicano Liberal divide-se, passando a oposição, que começa a hostilizar Flores da
Cunha, que perde maioria parlamentar. Na derrubada geral dos partidários de Flores da
Cunha, o Prefeito Alberto Bins é substituído pelo então deputado Loureiro da Silva, a quem
transmite o cargo em 31 de outubro. É um período difícil: em 10 de novembro publica-se a
nova Constituição outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas, dissolve-se o Congresso e
todas as Casas Legislativas e a Justiça Eleitoral. Jornais deixam de circular em Porto
Alegre, como o Jornal da Manhã e o Jornal da Noite, bem como A Federação. Vinte anos
depois, em 20 de abril de 1957, morre na Vila Jardim Christoffel, Alberto Bins.

Caderno

Apresentação

Porto Alegre ingressou no século XX como uma capital provincial com 75.000 habitantes
que conservava muitos aspectos da cidade colonial. O centro urbano ressentia-se de
péssimas condições sanitárias, viárias, de infraestrutura e equipamentos públicos; seus
acessos eram precários, seu estoque imobiliário inadequado e o porto acanhado. Entretanto,
o processo de industrialização, que se iniciara em 1890 fora responsável pelo crescimento
da população em 6% entre 1900 e 1910 em direção aos bairros operários da zona norte da
capital. Era preciso adequar a cidade as novas condições de produção e consumo. Alberto
Bins foi responsável por dar andamento a esse projeto, iniciado por José Montaury, de 1897
a 1924 e Otávio Rocha, de 1924 a 1928. A partir do Plano Geral de Melhoramentos o
Centro e os limites do Primeiro Distrito começam a ser definidos mas Montaury logo
esgotou os recursos que poderiam ser utilizados para reforma urbana. Sua administração
lenta e conservadora, é sucedida pelo governo do Engenheiro Otávio Rocha, que governou
de 1924 a 1928, que com grandes intervenções viárias, deu inicio a efetiva reforma urbana
mudando radicalmente o centro da cidade.É dele, por exemplo, a construção das três
artérias centrais da cidade responsáveis pelo inicio da reforma urbana do centro da
capital:as av. Júlio de Castilho, São Rafael (Atual Otávio Rocha) e Borges de Medeiros.
Rocha fez as reformas administrativas necessárias para o projeto, facilitando a arrecadação
de impostos, aumentando o orçamento público e qualificando o corpo técnico da
intendência. Além disso reabriu a política de empréstimos externos para custear as obras,
beneficiando-se de uma conjuntura favorável. Alberto Bins assume com a morte de Otávio
Rocha como intendente, é mantido por Flores da Cunha em 1930 e confirmado por ele em
1932, governando até o Estado Novo, em 1937. Alberto Bins deu continuidade as obras de
Otávio Rocha no centro e empreendeu novas fora dos limites do plano. No centro
prosseguiu com a abertura da Av. Borges de Medeiros, completando a travessia da Duque
de Caxias com o Viaduto Otávio Rocha, concluiu o alargamento da Avenida São Rafael
(Otavio Rocha) até a Rua Cristóvão Colombo, (hoje Alberto Bins).

Fora do centro, Alberto Bins incentivou a expansão urbana com o lançamento de um


ambicioso Plano de Pavimentação, com a implantação de faixas de concreto nas principais
radiais ligando o centro aos bairros, e em algumas ligações perimetrais entre bairros,
iniciando um sistema radiocentrico e estratadas municipais, em direção a zona sul. Iniciou o
saneamento nos bairros São João e Navegantes, remodelou praças, melhorou o tratamento
da água, expandiu as redes de água e esgoto, reorganizou o tratamento de lixo. Visto
geralmente como continuador da obra do prefeito anterior, “uma análise mais acurada
revela grandes diferenças de ritmo, métodos e estratégias entre as duas gestões, uma ênfase
maior de Bins no privilégio da expansão urbana em detrimento das custosas obras de
reforma do centro, dificuldades financeiras e de arrecadação, e um certo esgotamento dos
limites do Plano de Melhoramentos como orientador do desenvolvimento urbano da
cidade”. O exemplo é a implantação da maior obra do Plano, a Av. Borges de Medeiros,
com sucessivas paralisações, mudanças de traçado, discussões públicas sobre sua prioridade
e custos, só efetivada por Loureiro em 1943. Além disso, Alberto Bins, diferente de seu
antecessor, viveu uma conjuntura agravada pela Crise de 1929, com dificuldades
financeiras provocadas pela impossibilidade de novos empréstimos, e as condições da
Revolução de 1930, dificultando a política de desapropriações. O ícone da reforma
urbanística, a Av. Borges, estava ainda inacabada.

A década de 20, entretanto, é uma década de grande crescimento urbano. Entre 1916 e 1937
há um intenso crescimento urbano na capital, em direção aos anos finais em direção leste da
cidade, com vetor de crescimento pela Protasio Alves até o limite da Estrada do Forte,
surgindo um conjunto de loteamentos desarticulados entre si e traçados paisagisticos onde
estão hoje os bairros Petrópolis, Bela Vista, Chácara das Pedras, Três Figueiras, Bom Jesus
e Vila Jardim, divindo-se a cidade entre classe média e a classe operária. Do outro lado do
morro Santana, alinhado a Bento Gonçaves, surgiam o Bairro São José e a Vila João
Pessoa, também destinada a classe operaria, lotaamentos ainda não urbanizados e ocupados.
Em seu período evoluiu a legislação urbanística que passou a tratar da expansão urbana. O
decreto 108, de 10/09/1927 regulamenta a abertura de vias, pardonizando-a em áreas
urbana, suburbana e rural. Definia também os padrões para os empreendimentos
imobiliários, como áreas a serem doadas a muncipalidade dos loteamentos, na forma de
praças, jardins e largos. O decreto seguinte, 115/1927, regulamentava a delimitação do
município, incluiu na zona urbana as ruas suburbanas servidas por ônibus e ampliando a
cobrança de imposto predial para a zona suburbana. O decreto 180 , de 19/12/1927, definia
o imposto sobre imóveis, classificando os prédios por localização, densidade e tipologia.
Imóveis urbanos tem taxação dobrada em relação aos suburbanos, passando-se a incentivar
a prática do adensamento urbano, verticalização e uso da infra-estrutura.O imposto passou a
incidir também sobre terrenos não edificados proibindo coibir a especulação urbana.

A legislação urbanística foi um dos instrumentos políticos que viabilizou o processo de


segregação sócio-espacial. O Decreto 108, de 10/09/1927, regulamentava a abertura de vias
de comunicação e o disciplinamento dos empreendimentos imobiliários no município.
Inovou ao tratar de áreas a serem doadas à municipalidade dentro dos loteamentos, quando
se considerasse relevante a inclusão de praças, jardins e largos. Esse princípio urbanístico
aparentemente de cunho apenas estético foi importante para o conjunto da cidade, pois
distribuiu de forma equilibrada os espaços públicos e privados, contribuindo
significativamente para a qualidade ambiental urbana.

Houve a preocupação do poder público com o Decreto 108 em padronizar as vias quanto à
sua localização, ou seja, em área urbana, suburbana ou rural. Assim, para as vias públicas
dentro do perímetro urbano era exigido calçamento de paralelepípedo ou concreto, meio fio
de granito, construção de obras de arte para o escoamento das águas pluviais, redes de água,
esgoto e iluminação, arborização nos passeios e placas com a nomenclatura das vias. Para
as vias públicas entre o perímetro urbano e suburbano, onde ocorreram os principais
loteamentos da época, era exigida uma calha lateral de paralelepípedos, leito entre calhas de
macadame simples, construção de obras de arte para escoamento das águas pluviais e
placas com nomes das ruas. As redes de infra-estrutura eram de responsabilidade da
Intendência Municipal. Para as vias entre o perímetro suburbano e o rural era exigido
apenas um leito carroçável com cascalho e valetas para o escoamento das águas pluviais.

O Decreto 115/1927 regulamentava a delimitação do município e sua divisão territorial em


distritos e zonas (urbana, suburbana e rural). A zona urbana foi retificada para 1.778
hectares, uma área extremamente ampla frente à baixíssima densidade demográfica. Além
disso, classificava as ruas situadas na zona suburbana servida por linhas de ônibus como
pertencentes à zona urbana. Na verdade, esse decreto tinha como objetivo ampliar a
cobrança do imposto predial para a zona suburbana.

O Decreto 180, de 19/12/1927, estabelecia o imposto sobre imóveis, classificando os


prédios por localização, densidade e tipologia, conforme demonstra o Quadro Nº 2. Assim,
os imóveis na zona urbana eram taxados em dobro em relação aos situados na zona
suburbana. Quanto à densidade, os imóveis de apenas um pavimento tinham uma taxação
maior em relação aos imóveis verticalizados, incentivando, portanto, o adensamento urbano
e a racionalização econômica da infra-estrutura instalada.
Além disso, o Decreto 180 estabelecia o imposto predial diferenciado, conforme a
localização e tipologia dos prédios, passando a taxar também os terrenos não edificados,
com o objetivo de minimizar a especulação imobiliária já existente na época, conforme
demonstra o Quadro Nº 3.

As companhias de loteamento usufruíam de certas regalias em relação à cobrança de


impostos municipais, uma vez que estavam isentas de taxação por um ano a contar da data
da abertura das vias, com exceção dos lotes já comercializados que passariam
imediatamente a ser taxados, assim, os novos proprietários é que arcavam com a tributação.

A gestão de Alberto Bins, de 1928 a 1937, destacou-se pela conclusão das obras iniciadas
por Otávio Rocha, além de obras de saneamento, viação e iluminação urbanas. Em 1931,
através do Decreto n0 220, foi feita uma retificação dos limites da zona urbana,
extrapolados no Decreto de 1927, devido às constantes reclamações de proprietários de
imóveis quanto aos serviços públicos precários.

Crescimento do Setor Imobiliário

A apartir de 1925, o setor imobiliário passa por um crescimento notável com a


incorporação de novas empresas de capital industrial alemão que começam a liderar no
comércio de terras, como a Schilling Kuss & Cia ltda. Se antes as expansão urbana era
feita por empresas que adquiriam chácaras contíguas a zona suburbana em boas condições
onde localizaram os bairros Petrópolis, Bela Vista, Chácara das Pedras e tr~es figureiras, a
ocupação era facilitada pelos contratos feitos pelos lotadores com as empresas de
transporte, além de facilitar a construção de algumas moradias exemplares, estratégias de
marketing ainda hoje utilizada. Esta expansão trazia novos problemas para o centro da
cidade,estabelecendo conflitos entre o sistema viário, o crescente trafego motorizado,
provocando congestionamento no centro e distancias maiores entre os bairros e o centro.

Em 20 de setembro de 1935 a Várzea passa a se chamar Parque Farroupilha com a


inaguração do parque projeto por Alfred Agache. A exposição foi encerrada em 15 de
setembro de 1936, sendo removidos os pavilhões de madeira e estuque, restando poucos
remanecentes de época, como o lago, seu belvedere e embarcadouro, o eixo da fonte
luminosa, o Instituto de Educação e alguns monumentos. Evento comemorativo de dupla
leitura, celebra os valores do centenáio da Revlução Farroupilha ao mesmo tempo em que,
por seus pavil~hoes, sinaliza o esforço da sociedade agrícola e industrial gaúcha na busca
de um modelo de modernização pela escala, destaque e localização do Pavilhão das
Industrias riograndenses
A eleição de 1928
A eleição de 1928 exigiu das lideranças do PRR uma estratégia diferente para manter o
controle do processo político. O projeto da oposição conseguiu colocar no governo estadual
Getulio Vargas e sua posse, em fé vereiro de 1927, criou espectativas de mudanças
políticas.

Além disso, o Decreto 180 estabelecia o imposto predial diferenciado, conforme a


localização e tipologia dos prédios, passando a taxar também os terrenos não edificados,
com o objetivo de minimizar a especulação imobiliária já existente na época, conforme
demonstra o Quadro Nº 3.

As companhias de loteamento usufruíam de certas regalias em relação à cobrança de


impostos municipais, uma vez que estavam isentas de taxação por um ano a contar da data
da abertura das vias, com exceção dos lotes já comercializados que passariam
imediatamente a ser taxados, assim, os novos proprietários é que arcavam com a tributação.
No inicio da República, a elite política de formação positivista que assumira o controle no
estado, com Júlio de Castilhos, no PRR, implanta um regime de modernização
conservadora que é conduzido primeiramente em Porto Alegre pelo governo José
Montaury. A estratégia do governo municipal visava a modernização da capital através do
saneamento, equipamento e embelezamento, traduzido pelos objetivos do Plano Geral de
Melhoramentos de 1914. Na década de 20, primeiro Otávio Rocha e após, Alberto Bins,
procurou dar continuidade às obras, em um quadro inteiramente novo de recessão mundial
e da eclosão da Revolução de 1930.Alberto Bins governou a cidade de 1928 a 1937,
mantendo o continuísmo político do período. Junto com Otávrio Rocha, Alberto Bins foi
responsável pelas primeiras implatações das proposições de Maciel. A escolha de Alberto
Bins para vice de Otávio Rocha tem um objetivo preciso na estratégia do PRR de
modernização da capital: era a aliança necessária entre o partido e a burguesia comercial e
industrial necessária para garantir a manutenção da ordem urbana através de um rigoroso
controle social. Enquanto José Montaury e Otávio Rocha eram os engenheiros responsáveis
realizar as ações de saneamento, embelezamento e incentivo a novos tipos de edificação, a
escolha do empresário e industrial corresponde a preocupação política em incentivar a
verticalização da cidade, a renovação da estética urbana. Com Alberto Bins é completada a
reforma do Cais até o Largo da Conceição. Embora a avenida Borges de Medeiros tenha
sido aberta no governo Otávio Rocha, o seu viaduto foi inauturado na gestão Alberto Bins.
Alberto Bins assumiu a a Prefeitura com a morte do prefeito em 27/02/1928, concorrendo e
sendo reeleito no mesmo ano e permanecendo como nomeado após 1930.Bins era
industrialista, político e adminsitrador, bem relacionado nos meios empresariais e fundador
daAssociação Comercial de Porto Alegre e fundador do Centro da Industria Fabril do Rio
Grande do Sul. Foi dono da Metalúrgica Becker e sucessor de E.Berta@ Cia na Fábrica
Berta, a maior metalúrgica do Estado que se transformou na maior fábrica de artefatos de
ferro e aço do país na década de 1930. Como industrialista, empenhou-se em ampliar a
produção da fábrica Berta, procurando tornar conhecidos seus produtos no restante do pais
e no resto do mundo, o que resultou na conquista do Grande Premio da Exposição Nacional
de 1908 e na Exposição do Centenário 1822-1922. Em sua fábrica na Voluntário da Pátria,
produzia fogões, cofres, camas, prensas, fundição e panelas.
Alberto Bins administrou Porto Alegre de 1928 a 1937, passando pela Revolução de 1930,
pela Revolta Constitucionalista de 1932, pela nova Constituição de 1934 que mudou a
denominação de seu cargo de Intendente para Prefeito, saindo da Prefeitura no golpe do
Estado Novo em solidariedade ao governador Flores da Cunha, que tinha abandonado o
cargo e se exilado no Uruguai. Enfrentou uma conjuntura desfavorável com recessão
mundial, quebra de bancos estaduais, moratória interna e externa, inadinplencia de
impostos, transformações sociais e socio-econômicas, deixando a Prefeitura na situação
financeira delicada.
Em sua gestão se completaram e foram inauguradas obras importantes do Plano Geral de
Melhoramentos como a Avenida São Rafael, ligando a nova Avenida Otávio Rocha a
Cristóvão Colombo (hoje avenida Alberto Bins), o Viaduto Otávio Rocha. Continuou a
abertura da Avenida Borges de Medeiros, faltando apenas o trecho final, e proporcionou a
vinda do urbanista francês Alfred Agache, que em 1930 elaborou um novo projeto par ao
Parque da Várzea além de Coordenar a Comissão Geral da realização da Exposição do
Centenário da Revolução Farroupilha, em 1933.

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