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Apresentação
Alberto Bins foi um dos mais notáveis Prefeitos que cidade já teve. Administrou Porto
Alegre de 1928 a 1937, passando pela Revolução de 1930, pela Revolta Constitucionalista
de 1932 e pela nova Constituição de 1934 que mudou a denominação de seu cargo de
Intendente para Prefeito. Saiu da Prefeitura no golpe do Estado Novo em solidariedade ao
governador Flores da Cunha, que tinha abandonado o cargo e se exilado no Uruguai. Sua
importância está em ser um dos três prefeitos que reformaram a cidade na primeira metade
do século XX, junto com José Montaury e Otávio Rocha e deles, foi o que enfrentou a
conjuntura mais desfavorável, com recessão mundial, quebra de bancos estaduais,
moratória interna e externa, inadinplência de impostos e grandes transformações sociais e
socio-econômicas. Seu diferencial é que, administrando uma Prefeitura em situação
financeira delicada, foi capaz de realizar grandes obras para a cidade, como a Hidráulica
Moinhos de Vento, o Parque Farroupilha e a Usina do Gasômetro. È que, diferente de seus
antecessores, seu ritmo, métodos e estratégias adotadas privilegiaram a expansão urbana em
detrimento das custosas obras de reforma do centro e buscando, frente a certo esgotamento
dos limites do Plano de Melhoramentos, novos horizontes para o desenvolvimento urbano
da cidade: é o primeiro a apostar na verticalização da capital. Por tudo isso, a exposição
“Porto Alegre e Alberto Bins” é uma viagem em um período da cidade fundamental para o
entendimento do presente.
Quando Alberto Bins veio ao mundo, Porto Alegre era uma cidade em crescimento. O
mercado havia sido reformado, inúmeras novas ligações de água haviam sido feitas e as
ruas da cidade ainda sentiam os reflexões da Guerra do Paraguai: a Rua da Igreja passou a
ser chamada de Rua Duque de Caxias e a Rua Clara, de General João Manoel. A política
também estava agitada, pois já haviam tomado posse os novos vereadores da Câmara
Municipal assim como os deputados da nova legislatura da Assembléia Provincial. A
ligação com a política precede o nascimento de Bins na Porto Alegre daquele dia 2 de
dezembro de 1869. É que seu pai, Matias José Bins, era comerciante e alfaiate de Júlio de
Castilhos, um dos mais importantes políticos que o Estado conheceu. A origem de seu pai,
nascido em Merl, na Alemanha, deu a Alberto Bins não apenas uma família era extensa,
uma característica da época, com cinco irmãos – Frederico, Rodolfo, Elisa, Antonia e
Olga, mas uma educação nos melhores colégios da região e da Europa.
Por orientação de seu pai, Alberto Bins dividiu sua educação entre os colégios de São
Leopoldo e Wiesbaden, na Região do Ruhr, onde trabalhou como assistente e empregado
na Alemanha. Viveu a juventude como cidadão de dois mundos: no Brasil, em 21 de
novembro de 1888 funda e é o primeiro patrono do Ruder Club Porto Alegre, associação
de remo de jovens de descendência germânica – “ruder” é remo em alemão. A primeira
sede foi junto à Praça da Alfândega, quando ainda ficava na margem do lago. A cidade já
tinha uma vida cultural - com a Livraria do Globo e intensa programação no Teatro São
Pedro – e esportiva, com a fundação, em 1896 da Sociedade Ciclística Blitz de Porto
Alegre e em 1903, do Fuss- Ball Club (futebol). O próprio Alberto Bins foi presidente do
Clube de Remo Porto Alegre em entre 1903-1907 e 1915.
Desde 1901, quando foi realizada a Exposição Estadual de Produtos do Estado, mostrando
produtos “naturais, artísticos e industriais”, a modernização da economia era evidente em
nossa capital. Alberto Bins já havia desposado, em 1893, então com 24 anos, Clotilde
Christoffel, herdeira de uma família de moselianos fabricantes de cerveja na capital, a
“Barbante”, uma das maiores cervejarias do pais. Assim tornou-se co-proprietário e chefe
de cervejaria. Em 1906 investe na agricultura plantando arroz na Granja Progresso,
complexo agropecuário de 750 hectares em Cachoeirinha e no mesmo ano é co-fundador do
Banco Pelotense. Mas a vida política também o atrai. Entre 1908-1912 é eleito Conselheiro
Municipal (vereador) pelo PRR, na primeira eleição que apresentou-se um candidato à
prefeito de oposição, o dissidente republicano Antão de Faria, que obteve 393 votos contra
5.197 dados a José Montaury. Entre 1913 e1928, Bins é eleito Deputado Estadual na
Assembléia de Representantes pelo PRR. O político não descuida da economia: em 1924
estabelece a Granja de Arroz Santa Clotilde, em Viamão. Bins era industrialista notável.
Fundador do Centro da Industria Fabril do Rio Grande do Sul, foi dono da Metalúrgica
Becker e sucessor de E.Berta & Cia na Fábrica Berta, a maior metalúrgica do Estado e que
se transformou na maior fábrica de artefatos de ferro e aço do país na década de 1930.
Como industrialista, empenhou-se em ampliar a produção da fábrica Berta, procurando
tornar conhecidos seus produtos no restante do pais e no resto do mundo, o que resultou na
conquista do Grande Premio da Exposição Nacional de 1908 e na Exposição do Centenário
1822-1922. Em sua fábrica na Voluntários da Pátria, produzia fogões, cofres, camas,
prensas, fundição e panelas.
Em 1923 estoura no Rio Grande do Sul um movimento armado durante onze meses em que
lutaram, de um lado, os partidários de Borges de Medeiros (borgistas ou chimangos) e, de
outro, os aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil (assisistas ou maragatos). A
pacificação veio pelo Pacto de Pedras Altas, Tratado de Paz assinado em dezembro daquele
ano que proibiu as reeleições de govenador e de intendentes municipais. José Montaury,
então Prefeito, não pode mais concorrer a reeleição, sendo lançado como candidato do
Partido Republicano a intendência o deputado federal Otávio Rocha. Alberto Bins, já era
um industrial de destaque, e sua escolha fazia parte da estratégia do PRR de uma aliança do
partido com a burguesia comercial e industrial. É eleito vice em sua chapa vitoriosa, com
8.012 votos, contra 1.413, dados ao candidato oposicionista, Frederico Gomes da Silva. A
política não o afasta do mundo dos negócios: em 1926 colabora na fundação da Viação
Aérea Rio Grandense mas na prefeitura acompanha com atenção uma novidade: a recém
criada Comissão de Melhoramentos da Capital, que dará inicio a audaciosas reformas
urbanas. Uma das primeiras medidas ocorre em 1927, quando é decretada a prorrogação de
prazo para substituição das paredes externas das construções de madeira.
1928 O Intendente e a Lei Orgânica
Afetado pela perfuração de uma ulcera gástrica, o prefeito Otávio Rocha, que estava
licenciado desde janeiro, falece em 27 de fevereiro e assume no seu lugar Alberto Bins. O
contexto político é novo: Getúlio Vargas havia tomado posse na Presidência do Estado e é
fundado o Partido Libertador em Bagé, que produz várias manifestações em Porto Alegre
contra o governo federal, com comício na Praça da Alfândega. Alberto Bins adquire
experiência como intendente em alto estilo: seu principal ato é a promulgação da Lei 207,
de 9 de abril de 1928, que reforma a Lei Orgânica, lei que organiza a vida da cidade e as
atribuições dos respectivos poderes. Mas é como reorganizador da vida da cidade que
Alberto Bins se destaca: em 16 de abril publica o Decreto 134 que determina que os
carreteiros da zona sul façam seu caminho pela Protásio Alves, deixando de estacionar na
Redenção. Reeleito para a Prefeitura em 28 de setembro de 1928 tem como vice-intendente
Sinval Saldanha, genro de Borges de Medeiros. A cidade está a pleno vapor: a economia
cresce com a fundação do Banrisul e Alberto Bins investe na ampliação do potencial
energético da capital gaúcha, com a inauguração, em 1928, da Usina do Gasômetro e no
campo da prestação de serviços, com a inauguração da hidráulica Moinhos de Vento. Ao
final do ano, reorganiza os serviços municipais, com a publicação da lei municipal 252, de
31 de dezembro de 1928, que cria o cargo de secretário do município.
Alberto Bins atravessou na Prefeitura da Capital num dos mais difíceis períodos da
história, a Grande Depressão. Também chamada de Crise de 1929, surgida nos Estados
Unidos, repercutiu no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Com suas altas taxas de
desemprego e quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, repercutiu nas
atividades econômicas e no comércio. A crise econômica chega a Porto Alegre
lentamente: o ano inicia com vitalidade, com o lançamento da Revista do Globo, a
inauguração do Cinema Rio Branco e a fundação do Grêmio Náutico Gaúcho, mas o
anuncio da existência em Porto Alegre de 1.400 casas desalugadas e o assassinato e
suicídio de um pai desesperado com a situação de sua representação comercial anuncia que
o ano é de vacas magras para os cidadãos e a Prefeitura: Alberto Bins realiza poucas obras
em 1929, como o ajardinamento da Praça Argentina.
Mesmo com a expansão de alguns setores, a crise de 1929 ainda repercute na cidade.
Enquanto que a Praça da Alfândega passava por uma remodelação, com a conclusão do
Banco Nacional do Comércio, atual Santander e a Farsul promovia seu 5º Congresso Rural
e Exposição Agrícola e Pastoril no parque do Menino Deus, após prolongada crise
financeira, o Banco Pelotense fecha suas portas e requer sua liquidação e depositantes da
agência da capital entram em pânico. Alberto Bins reitera na Prefeitura medidas
administrativas: altera a denominação da Rua das Flores para Rua Siqueira Campos e
através do Decreto 245 de 21 de setembro de 1931, regulamenta a cobrança por excesso de
consumo de água, lembrança aprendida com as enchentes que ocorreram anos antes de
forma calamitosa em Porto Alegre. Poupar água era uma necessidade. Em 1931, através do
Decreto nº 220, foi feita uma retificação dos limites da zona urbana, extrapolados no
decreto de 1927, devido às constantes reclamações de proprietários de imóveis quanto aos
serviços públicos precários. O pior ficou para a Câmara Municipal: dissolvidos pela
revolução, o então Governo Provisório substituiu os conselhos e câmaras municipais do
pais – inclusive da Capital – por um colegiado meramente consultivo de livre nomeação do
interventor federal. O de Porto Alegre é instalado em 14 de dezembro de 1931.
O ano de 1935 inicia em Porto Alegre com a fundação do núcleo riograndense da Aliança
Nacional Libertadora. Ela é fundada em 5 de julho no Teatro São Pedro pelo médico e
escritor Dionélio Machado. Nesse ano, Alberto Bins, além de concluir as obras da Avenida
Borges de Medeiros e alterar a denominação da Rua 13 de maio para Av. Getulio Vargas, o
Prefeito faz um grande evento: a Exposição Comemorativa do Centenário da Revolução
Farroupilha. Inaugurada pelo próprio Getúlio Vargas em 20 de setembro de 1935 a partir de
então a Várzea passa a se chamar Parque Farroupilha com a inauguração do parque
projetado por Alfred Agache. A exposição foi monumental, com seus pavilhões de estuque
onde reportava-se as industrias riograndense, estrangeira, agricultura, além de contar com
as presenças dos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Pernanbuco,
Pará e Amazonas. Ela foi encerrada em 15 de setembro de 1936, sendo removidos os
pavilhões de madeira e estuque, restando poucos remanecentes de época, como o lago, seu
belvedere e embarcadouro, o eixo da fonte luminosa, o Instituto de Educação e alguns
monumentos. Evento comemorativo de dupla leitura, celebra os valores do centenário da
Revolução Farroupilha ao mesmo tempo em que, por seus pavilhões, sinaliza o esforço da
sociedade agrícola e industrial gaúcha na busca de um modelo de modernização pela escala,
destaque e localização do Pavilhão das Industrias Riograndenses.
Caderno
Apresentação
Porto Alegre ingressou no século XX como uma capital provincial com 75.000 habitantes
que conservava muitos aspectos da cidade colonial. O centro urbano ressentia-se de
péssimas condições sanitárias, viárias, de infraestrutura e equipamentos públicos; seus
acessos eram precários, seu estoque imobiliário inadequado e o porto acanhado. Entretanto,
o processo de industrialização, que se iniciara em 1890 fora responsável pelo crescimento
da população em 6% entre 1900 e 1910 em direção aos bairros operários da zona norte da
capital. Era preciso adequar a cidade as novas condições de produção e consumo. Alberto
Bins foi responsável por dar andamento a esse projeto, iniciado por José Montaury, de 1897
a 1924 e Otávio Rocha, de 1924 a 1928. A partir do Plano Geral de Melhoramentos o
Centro e os limites do Primeiro Distrito começam a ser definidos mas Montaury logo
esgotou os recursos que poderiam ser utilizados para reforma urbana. Sua administração
lenta e conservadora, é sucedida pelo governo do Engenheiro Otávio Rocha, que governou
de 1924 a 1928, que com grandes intervenções viárias, deu inicio a efetiva reforma urbana
mudando radicalmente o centro da cidade.É dele, por exemplo, a construção das três
artérias centrais da cidade responsáveis pelo inicio da reforma urbana do centro da
capital:as av. Júlio de Castilho, São Rafael (Atual Otávio Rocha) e Borges de Medeiros.
Rocha fez as reformas administrativas necessárias para o projeto, facilitando a arrecadação
de impostos, aumentando o orçamento público e qualificando o corpo técnico da
intendência. Além disso reabriu a política de empréstimos externos para custear as obras,
beneficiando-se de uma conjuntura favorável. Alberto Bins assume com a morte de Otávio
Rocha como intendente, é mantido por Flores da Cunha em 1930 e confirmado por ele em
1932, governando até o Estado Novo, em 1937. Alberto Bins deu continuidade as obras de
Otávio Rocha no centro e empreendeu novas fora dos limites do plano. No centro
prosseguiu com a abertura da Av. Borges de Medeiros, completando a travessia da Duque
de Caxias com o Viaduto Otávio Rocha, concluiu o alargamento da Avenida São Rafael
(Otavio Rocha) até a Rua Cristóvão Colombo, (hoje Alberto Bins).
A década de 20, entretanto, é uma década de grande crescimento urbano. Entre 1916 e 1937
há um intenso crescimento urbano na capital, em direção aos anos finais em direção leste da
cidade, com vetor de crescimento pela Protasio Alves até o limite da Estrada do Forte,
surgindo um conjunto de loteamentos desarticulados entre si e traçados paisagisticos onde
estão hoje os bairros Petrópolis, Bela Vista, Chácara das Pedras, Três Figueiras, Bom Jesus
e Vila Jardim, divindo-se a cidade entre classe média e a classe operária. Do outro lado do
morro Santana, alinhado a Bento Gonçaves, surgiam o Bairro São José e a Vila João
Pessoa, também destinada a classe operaria, lotaamentos ainda não urbanizados e ocupados.
Em seu período evoluiu a legislação urbanística que passou a tratar da expansão urbana. O
decreto 108, de 10/09/1927 regulamenta a abertura de vias, pardonizando-a em áreas
urbana, suburbana e rural. Definia também os padrões para os empreendimentos
imobiliários, como áreas a serem doadas a muncipalidade dos loteamentos, na forma de
praças, jardins e largos. O decreto seguinte, 115/1927, regulamentava a delimitação do
município, incluiu na zona urbana as ruas suburbanas servidas por ônibus e ampliando a
cobrança de imposto predial para a zona suburbana. O decreto 180 , de 19/12/1927, definia
o imposto sobre imóveis, classificando os prédios por localização, densidade e tipologia.
Imóveis urbanos tem taxação dobrada em relação aos suburbanos, passando-se a incentivar
a prática do adensamento urbano, verticalização e uso da infra-estrutura.O imposto passou a
incidir também sobre terrenos não edificados proibindo coibir a especulação urbana.
Houve a preocupação do poder público com o Decreto 108 em padronizar as vias quanto à
sua localização, ou seja, em área urbana, suburbana ou rural. Assim, para as vias públicas
dentro do perímetro urbano era exigido calçamento de paralelepípedo ou concreto, meio fio
de granito, construção de obras de arte para o escoamento das águas pluviais, redes de água,
esgoto e iluminação, arborização nos passeios e placas com a nomenclatura das vias. Para
as vias públicas entre o perímetro urbano e suburbano, onde ocorreram os principais
loteamentos da época, era exigida uma calha lateral de paralelepípedos, leito entre calhas de
macadame simples, construção de obras de arte para escoamento das águas pluviais e
placas com nomes das ruas. As redes de infra-estrutura eram de responsabilidade da
Intendência Municipal. Para as vias entre o perímetro suburbano e o rural era exigido
apenas um leito carroçável com cascalho e valetas para o escoamento das águas pluviais.
A gestão de Alberto Bins, de 1928 a 1937, destacou-se pela conclusão das obras iniciadas
por Otávio Rocha, além de obras de saneamento, viação e iluminação urbanas. Em 1931,
através do Decreto n0 220, foi feita uma retificação dos limites da zona urbana,
extrapolados no Decreto de 1927, devido às constantes reclamações de proprietários de
imóveis quanto aos serviços públicos precários.