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HISTÓRIA DO BRASIL

Era Vargas (1930-1945) - Turma 2022B

1 Antecedentes (1922-1930)

1.1 Getúlio Vargas antes da presidência.


Sua administração, em dois períodos da história brasileira (1930-1945 e 1951-1954), é considerada, para a
maioria dos autores, o momento de ruptura com o passado arcaico e o início do Brasil moderno. As
transformações foram tantas, seja no campo econômico, social ou cultural, que muitos perguntam se a Era
Vargas realmente terminou. Sua influência e suas posições políticas atravessaram vários períodos da história
da nação e ainda hoje pautam projetos políticos, favoráveis ou contrários a seu legado. 
Getúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, fronteira com a Argentina, em
1882. A família Vargas era formada de estancieiros, que tinham grande projeção na política municipal e
regional. Seguindo o caminho comum dos políticos da Primeira República, vai estudar na Faculdade de
Direito de Porto Alegre. Lá, formou parte da chamada “geração de 1907” (data de conclusão do curso) junto
a personagens que você verá ao longo do curso: Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor, Flores da Cunha, João
Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, Firmino Paim. Também nesse período terá contato com outros dois
personagens importantes da Era Vargas que ali faziam seus estudos militares: Góis Monteiro e Eurico Gaspar
Dutra.
No ano de 1907, há uma crise no Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), que governava o estado.
Nesse momento há a aproximação entre estes estudantes, que faziam uma militância estudantil, e as velhas
lideranças do partido, como o presidente do estado, Borges de Medeiros. É sob a sombra de Borges que esse
grupo, incluindo Getúlio, cresce dentro do partido.
Retorna à São Borja para exercer a advocacia, mas não por muito tempo. Em 1909, é eleito deputado estadual,
sendo reeleito em 1913, 1917 e 1921. Em 1922, assume a liderança do partido na Assembleia Legislativa. Em
1924, é eleito deputado federal, assumindo a liderança da bancada gaúcha. Em 1926, é convidado por
Washington Luiz para ser ministro da Fazenda, cargo que ocupa até o final de 1927, quando é eleito presidente
do Rio Grande do Sul. Assumindo em 1928, tem importantes realizações no Executivo estadual, como a
criação do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Bergs, atual Banrisul) e a redução das tarifas da Viação
Férrea Rio-Grandense. Consegue conciliar os grupos políticos rivais, criando a Frente Única Gaúcha, que
alavancaria sua candidatura presencial.
1.2 Política dos Governadores.
A Primeira República, também conhecida como República Velha, durou de 1889 a 1930. A partir de 1898,
com a presidência de Campos Sales, adotou os contornos políticos que a caracterizariam: uma república
oligárquica, ou seja, com a participação de poucos.
O presidente Campos Sales, em 1898, estava preocupado com seu projeto político de sanear as finanças do
país. Para isso, precisava fazer passar no Congresso Nacional uma série de leis. Como fazer para obter o apoio
dos deputados e senadores? É a partir da resolução dessa questão que surgirá a chamada Política dos
Governadores, que vigorará até a Revolução de 1930.

Consistia no seguinte: em troca da não interferência do governo federal nos assuntos dos estados, estes
elegeriam deputados que estivessem sempre alinhados ao que o governo federal desejasse. Com isso, os
partidos republicanos dos estados (lembremos que não haviam partidos nacionais no período) tinham ampla
margem de liberdade para estabelecer seus próprios mecanismos de permanecer no poder. Na maioria dos
estados estabeleceu-se uma oligarquia, um pequeno grupo que controlava a política. Em alguns, porém, houve
conflitos entre grupos políticos rivais, especialmente durante o governo de Hermes da Fonseca (1910-1914).

Nos estados, o governo estadual repassava a tarefa das eleições para os chefes municipais, denominados
de coronéis. Estes tinham o trabalho de garantir a eleição de deputados e senadores que estivessem aliados aos
governos, tanto estadual quanto nacional. Para isso, utilizavam diversos mecanismos, tais como as fraudes via
falsificação de assinaturas e de atas eleitorais (eleições a bico de pena), a garantia de benefícios e mesmo a
intimidação armada (voto de cabresto). O voto não era secreto, e isso era um dos fatores que garantia o
controle dos coronéis.

Em troca dessa garantia de deputados leais, os coronéis mantinham seus privilégios locais e tinham direito a
concessões do governo estadual, como obras em seus municípios e, especialmente, nomeações para cargos
públicos (professores, delegados, inspetores, funcionários de repartições estaduais e federais), com os quais
poderia premiar quem o seguisse. E com o apoio do governo estadual, permaneciam no poder por muitos anos
em seus municípios, sendo eles próprios os administradores ou por meio de indicados seus ou do partido.

O tempo da Política dos Governadores também será caracterizado pela alternância entre políticos de São Paulo
e de Minas Gerais na presidência da república. São Paulo era o estado mais rico, graças ao café. Minas
Gerais era o mais populoso e tinha a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 37 parlamentares, além
de ser importante produtor de café. Popularmente, esse revezamento ficou conhecido como “Política do Café
com Leite”. Era uma aliança que deveria ser renegociada a cada eleição e concessões eram feitas aos outros
estados para que a hegemonia paulista e mineira fosse aceita. Em várias eleições, contudo, houveram chapas
dissidentes, como em 1910 e 1922.

Com o domínio da presidência, os dois estados mantinham o controle sobre as políticas estatais, em especial a
de valorização do café, principal produto da economia brasileira. Entre as políticas para a atividade cafeeira
estava o “Convênio de Taubaté”, um acordo entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com o aval do
Governo Federal. Ele se pautava pela tomada de empréstimos no exterior pela União para a compra da
produção excedente do produto, mantendo os preços artificialmente altos e garantindo os lucros dos
fazendeiros. Como disse Celso Furtado, privatizavam-se os lucros e socializavam-se as perdas, já que os
empréstimos externos eram pagos por todos os cidadãos.

1.2 1922: o ano das transformações.


1922 era o ano de centenário da independência brasileira. Para comemorar o fato, foi promovida a
Exposição Universal do Rio de Janeiro. O objetivo era mostrar uma nação moderno. Inclusive durante os
festejos do 7 de setembro foi realizada a primeira transmissão de rádio no país. No entanto, a realidade era
bem diferente da que o governo tentava mostrar. E 1922 foi um ano de mudanças.

Em termos culturais, a década de 1920 se caracterizou pela busca da nacionalidade. O escritor Lima Barreto,
em 1920, escreveu a seguinte frase: “Não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio país”. É
nesse clima que, em fevereiro de 1922, ocorreu a Semana de Arte Moderna de São Paulo, com exposições
artísticas, declamações de poesias, concertos e espetáculos de dança. O objetivo era buscar uma identidade
própria para a arte brasileira, criticando os modelos europeus. O evento reuniu, entre outros, Mário de
Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Anita Malfati, Di Cavalcanti, Heitor
Villa-Lobos, Victor Brecheret, Plínio Salgado, Guilherme de Almeida. A sua repercussão à época não foi
grande. Porém, a Semana acabou se tornando a precursora do movimento modernista brasileiro, que teve
correntes como o Movimento Antropofágico, liderado por Oswald de Andrade, que defendia a mescla das
influências de culturas do exterior com a brasileira, formando algo novo, tipicamente brasileiro; e o
movimento Verde-Amarelo, que pregava o rompimento com a cultura europeia. Eles estavam tentando
responder à pergunta: afinal, o que era a cultura brasileira? Algo que a Era Vargas, em especial o Estado
Novo, vai se empenhar.

Em termos sociais, a situação não era das melhores. O avanço da industrialização, em especial durante a
Primeira Guerra Mundial, e a exploração do proletariado levaram ao crescimento do movimento operário.
Para o governo, a repressão era o que resolveria o problema. Após a explosão de greves entre 1917 e 1920, o
movimento operário estava arrefecido, por conta das disputas políticas internas e da repressão policial. Por
outro lado, na Rússia, ocorrera a tomada do poder pela aliança entre operários e camponeses liderados por uma
vanguarda revolucionária. É nesse contexto que será fundado, em março de 1922, o Partido Comunista
Brasileiro (PCB). Os comunistas viam o Estado como um espaço que deveria ser ocupado e transformado.
Uma particularidade do PCB em relação a outros partidos comunistas pelo mundo é que ele foi fundado por
militantes que deixaram o anarquismo. Já em junho, estaria na ilegalidade. Seu destaque na Primeira
República virá em 1927, quando, em um breve lapso de legalidade, elege Azevedo Lima para a Câmara dos
Deputados por meio do Bloco Operário.

Já nos meios militares, a coisa estava fervendo. A Primeira Guerra Mundial deixou patente a precariedade
material do Exército, mesmo que o Brasil não tivesse participado militarmente. Os soldos eram baixos para a
época e as promoções, extremamente lentas. Para completar o quadro, vem a eleição presidencial de 1922. Há
uma divisão entre as oligarquias estaduais, com o lançamento de duas candidaturas: Artur Bernardes, mineiro,
representante do Café-Com-Leite; e Nilo Peçanha, fluminense, representante de Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Bahia e Pernambuco. Em outubro de 1921, a imprensa divulgou cartas supostamente escritas por
Bernardes, nas quais ele fazia acusações aos militares, em especial ao ex-presidente Hermes da Fonseca. Em
1º de março de 1922, o candidato mineiro vence as eleições.

Em junho, o governo federal intervém na eleição estadual de Pernambuco e é duramente criticado por Hermes,
presidente do Clube Militar. Em 2 de julho, como reação, o Clube é fechado e Hermes preso. Era o estopim
para o início do tenentismo.

1.3 Tenentismo.
O tenentismo foi um movimento político-militar que teve a liderança dos chamados “tenentes”. A expressão
vai entre aspas porque nem todos eram desse posto militar, mas quase todos eram oficiais de baixa patente.
O tenentismo tem seu marco inicial no dia 5 de julho de 1922, com uma série de levantes militares, sendo o
principal deles o do forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. A alta oficialidade se recusou a participar da
rebelião. Após um dia de combates, no início da tarde do dia 6 um grupo de revoltosos saiu do forte e marchou
pela Avenida Atlântica. Ali, após alguns abandonarem a revolta, um grupo de dezoito pessoas (número
contestado por muitos estudiosos) seguiu pela avenida, sendo fuzilados pelas tropas legalistas. Só dois
sobreviveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O grupo ficou conhecido como “Os Dezoito do Forte” e
viraram mártires do movimento tenentista.

Naquele momento ainda não havia um projeto político bem definido pelos “tenentes”. Não houve nenhum
pronunciamento no dia do levante. Não houve a tentativa de mobilizar apoio, nem popular nem das oligarquias
que se opuseram à eleição de Artur Bernardes. Porém, deixava-se clara a insatisfação com o governo federal,
tanto o atual como o que viria. Sentiam que o Exército não era atendido em suas aspirações, como vimos no
item anterior, e isso foi extremado com a prisão de Hermes da Fonseca. A revolta era uma forma de salvar a
honra da instituição, atacada pelo governo. Pode-se dizer que interpretavam o Exército como salvador da
pátria e guardião das instituições republicanas, atacadas pelas oligarquias que estavam no poder.

Artur Bernardes assumiu a presidência em novembro de 1922. Permaneceria os quatro anos de seu governo
sob estado de sítio, censurando a imprensa, prendendo opositores e enviando-os a campos de internamento no
Norte. Em 1924, também em um 5 de julho, um novo levante dos “tenentes”, agora em São Paulo. Dessa vez
mais organizados, contavam com a liderança do general Isidoro Dias Lopes, e participação destacada de
Miguel Costa, Juarez Távora, Eduardo Gomes, Filinto Muller e Newton Estillac Leal. No mesmo mês,
ocorreriam levantes militares no Amazonas, Sergipe e Mato Grosso. O objetivo era mais claro que em 1922:
derrubar Artur Bernardes. Além disso, apresentam um projeto político liberal, com a defesa do voto secreto,
da independência dos três poderes e da obrigatoriedade do ensino primário e profissional.

Rapidamente, as forças revoltosas ocupam prédios públicos e pontos estratégicos. Com a fuga do presidente
do estado no dia 8, o governo fica a cargo do general Isidoro. Porém, os rebeldes não estavam prontos para
governar a cidade. A ideia do movimento era ser o primeiro de outros que ocorreriam e que em conjunto
levariam à queda do governo. A reação não se faz tardar, com o bombardeio da cidade, o que gerou pânico na
população e saques a armazéns. Houve tentativas de armistício, inicialmente pedindo um governo federal
provisório e a convocação de uma Constituinte; depois, somente a anistia. Ambas as propostas foram
recusadas por Artur Bernardes. Enfraquecidos, os revoltosos deixam a cidade no dia 28, rumando ao interior
do estado e depois ao Paraná.

Em 29 de outubro, ocorrerá mais um levante militar, dessa vez no Rio Grande do Sul. Com base nas
guarnições de São Luiz Gonzaga, Santo Ângelo, São Borja e Uruguaiana, foi liderada pelo capitão Luiz
Carlos Prestes, contando com o apoio de alguns paulistas, como João Alberto e Juarez Távora. Alguns
autores afirmam que esse levante guardava resquícios da Guerra Civil Gaúcha de 1923 ou que se associou à
oposição estadual. Sendo duramente atacados, os rebeldes se encaminham para o Paraná. Lá, se encontram
com as forças paulistas lideradas agora por Miguel Costa. Iniciava-se a Coluna Miguel Costa – Prestes ou
Coluna Prestes.

1.5 Coluna Prestes.


Em abril de 1925, as forças gaúchas se encontram com as paulistas no Paraná. Era o início da Coluna Miguel
Costa – Prestes ou Coluna Prestes. Foram formados quatro destacamentos, comandados por Cordeiro de
Farias, João Alberto, Siqueira Campos e Djalma Dutra. Miguel Costa seria o comandante e Luiz Carlos
Prestes o chefe do estado-maior, com uma tropa de cerca de 1.500 homens. Decidiu-se que Isidoro Dias Lopes
viajaria para a Argentina, em busca de ajuda militar e para coordenar os exilados ou inativos no sul. O objetivo
era claro: derrubar Artur Bernardes.

Do Paraná, partiram rumo ao Mato Grosso, Goiás, chegando ao Maranhão em novembro. Ali, tiveram a
melhor receptividade dentre todos os lugares, conseguindo angariar recursos e novos combatentes, e chegando
inclusive a pensar em se estabelecer no estado. Dali, atravessaram Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia.
Em fevereiro de 1926, Prestes e Miguel Costa escrevem uma espécie de programa político da Coluna,
chamado de Motivos e Ideais da Revolução. Entre os princípios que defendiam nesse documento estavam: o
voto secreto e obrigatório; assegurar a liberdade de pensamento (naquele momento seguia-se sob estado de
sítio); mudanças nos impostos, considerados exorbitantes; crítica à falta de autonomia dos estados, prevista na
Constituição; estabelecimento do ensino primário gratuito e do ensino profissionalizante e técnico; unificação
e independência do Judiciário. Agora, o programa tenentista começava a se fazer mais visível.

Chegando a Minas Gerais, necessitando armamento e encontrando pesada resistência legalista, retorna ao
Nordeste via Bahia. Depois, ruma ao Piauí, Goiás e Mato Grosso. Entre fevereiro e março de 1927, já no
governo de Washington Luiz, o que restara da Coluna parte para o exílio, no Paraguai e na Bolívia.

Durante sua marcha de cerca de dois anos, foram cerca de 25 mil quilômetros percorridos, por 11 estados. A
longa duração, pensada especialmente pelo grupo gaúcho, fazia parte da estratégia dos revoltosos. A ideia era
não somente levar a mensagem revolucionária a todos os cantos do país, mas também causar convulsão nas
forças governamentais. Sabendo que estavam em desvantagem em armamento e número de combatentes,
utilizaram-se de uma tática de guerrilha: movimentos rápidos, fuga aos combates tradicionais, ampla utilização
de retiradas estratégicas, renovação constantes de combatentes, obtenção de armamento e munição do inimigo.

Embora tenha havido bons momentos, como no Maranhão, na maioria dos lugares percorridos a situação era
de resistência, tanto das forças legalistas, melhor armadas e equipadas, e em vários lugares com apoio de
tropas mobilizadas pelos coronéis locais (inclusive com os cangaceiros nordestinos), como por parte da
população, insuflada por boatos de que os membros da Coluna eram ladrões, assassinos e estupradores.
Tratada com violência, em algumas situações a Coluna revidava da mesma forma. No Ceará e na Paraíba
houveram tentativas de apoio, que fracassaram. Mesmo com todas as desvantagens, a Coluna deixou o país
sem sofrer nenhuma derrota, o que garantiu a construção de uma lenda. Prestes, seu líder, se tornaria “O
Cavaleiro da Esperança”.

1.6 O governo Washington Luiz e a crise de 1929.


Em novembro de 1926, o paulista Washington Luiz assume a presidência da república. Como parte de seus
acordos com alguns estados, um dos nomeados para o ministério será um gaúcho: Getúlio Vargas assumiu a
pasta da Fazenda.

Sua administração se pautará pelas medidas em busca, novamente, do saneamento financeiro do país. Um
dos objetivos era a conversibilidade da moeda, ou seja, todo bilhete emitido deveria ter correspondência com
as reservas de ouro do país. Outra grande atuação de seu governo é no plano rodoviário, com o lema
“Governar é abrir estradas”, tendo como destaque a construção da estrada entre São Paulo e Rio de Janeiro.
No plano político, vê o nascimento de partidos de oposição aos partidos republicanos estaduais, sendo o
principal deles o Partido Democrático de São Paulo. Embora provisórios e compostos por grupos dissidentes
da oligarquia, serviram para expressar insatisfações das populações urbanas, que não se sentiam representados
pelos políticos tradicionais.

O principal acontecimento de seu governo será a crise do setor cafeeiro, causada pela superprodução e pela
crise do capitalismo mundial. Entre 1921 e 1928 a produção brasileira de café duplica. Muitos produtores
tomam empréstimos bancários com juros de 2% ao mês – taxa alta para a época – para aumentar ou melhorar a
produção, contando com a política governamental de defesa dos preços do produto.

A crise nos Estados Unidos, que desde o final da Primeira Guerra Mundial era o centro do capitalismo
mundial, gera um efeito cascata. Com a redução do consumo de café naquele país, principal comprador do
produto, os produtores se veem com uma superprodução de 29 milhões de sacas de café em 1929. Somente
metade acabou sendo vendida, e a um preço muito abaixo dos anos anteriores. Isso, somado à cobrança dos
empréstimos, arruinou muitos cafeicultores. Como boa parte da indústria e do comércio, direta ou
indiretamente, era ligada ao setor, a crise deixou muitos sem emprego: calcula-se o número de dois milhões de
desempregados ao final de 1929. Os cafeicultores buscam o presidente para colocar em prática os termos do
Convênio de Taubaté, e o governo federal comprar o produto. Porém, Washington Luiz recusa-se ao auxílio,
por conta da política de saneamento financeiro, que previa a não tomada de novos empréstimos no exterior. O
governo deixa de contar com o apoio de sua principal base social.

É nesse clima que ocorrem as eleições presidenciais em 1930.

1.7 A Aliança Liberal e as eleições de 1930.


A lógica, pela política do café-com-leite, era de que Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas
Gerais, sucedesse a Washington Luiz na presidência. No entanto, para surpresa geral, ele indicou o presidente
de São Paulo, Júlio Prestes. É provável que o tenha escolhido por saber que ele continuaria a sua política de
saneamento financeiro. Outra hipótese é a de que se desenvolveu a tese de que São Paulo era o estado mais
rico e era seu destino natural governar a nação. Porém, mal sabiam eles que essa divergência de nomeação
iniciaria a crise final da Primeira República.

Para levar adiante uma campanha de oposição, Antônio Carlos compreendeu que não deveria ser ele o
candidato. Assim, procurou uma articulação com o Rio Grande do Sul, o terceiro estado na política nacional.
A eles, se somaria a Paraíba, que buscava maior projeção no Nordeste e tinha conflitos com Pernambuco por
conta das exportações de produtos paraibanos pelo porto do Recife que não pagavam tributos ao estado.
Formava-se a Aliança Liberal, tendo como candidato à presidência Getúlio Vargas, e a vice, João Pessoa.
Somaram-se à coligação as forças opositoras estaduais, em especial o Partido Democrático paulista.

Os três estados que compunham a Aliança (Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba) tinham passado por
processos de renovação de suas lideranças políticas, com elevação de seu nível educacional, rejuvenescimento
de seus quadros e inclusive propostas reformistas para atravessar o período de agitação nacional iniciado ainda
na década de 1910, com os movimentos operários.

No dia 20 de setembro de 1929, a chapa Vargas-Pessoa é aclamada pela Aliança e é lançado o seu programa.
Pautava-se em dois temas básicos: a moralização política do país, com o voto secreto, a criação da Justiça
Eleitoral, a independência do Judiciário e a anistia para os tenentes; e  medidas de cunho econômico-social,
como a proteção a outros setores da economia – e não somente para o café – e algumas medidas em favor dos
trabalhadores.

Getúlio, sabendo que poderia não ser eleito, fez um acordo com Washington Luiz. Aceitaria o resultado das
eleições caso perdesse e colaboraria com o governo federal; em troca, o governo federal comprometia-se a
reconhecer os deputados federais eleitos pela Aliança. Getúlio faria a campanha apenas no Rio Grande do Sul.
No entanto, a situação se radicalizou, e o acordo foi parcialmente rompido. A maioria governista na Câmara
dos Deputados boicotava as sessões parlamentares, para não dar quórum e permitir a fala dos deputados
ligados à Aliança. No dia 2 de janeiro de 1930, Getúlio faz um comício no Rio de Janeiro, seguindo para São
Paulo. Ainda foram organizadas caravanas liberais em Minas Gerais e nos estados do Nordeste.

No dia 1º de março, ocorrem as eleições. Os mecanismos do coronelismo, que vimos no item 1.2, são
utilizados dos dois lados. Júlio Prestes vence a eleição, com 57% dos votos. Tanto Getúlio Vargas como
Borges de Medeiros, presidente do PRR gaúcho, reconhecem a vitória do candidato paulista. No entanto,
começava a conspiração, a qual levaria à Revolução.

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