As primeiras referncias a cobradores no transporte pblico de Porto Alegre
remontam ao Regulamento Interno da Cia Carris Porto Alegrense publicado pela Livraria Americana em 1929. Chamados de condutores em oposio aos motoristas, denominados motorneiros, tinham como funo principal atender a perfeita comodidade todos os passageiros. Isso significava arriar as cortinas em caso de chuva, atender os desejos e reclamaes, dar ateno na hora do desembarque, cuidar dos inconvenientes e dar o sinal de parada e partida para o motorneiro. A descrio das atribuies mostra que nas origens da funo do cobrador est a tica do culdado: o cobrador nasce para cuidar do passageiro que habita o nibus. Cuidar deriva do latim cogitare, que significa colocar ateno, mostrar interesse, modo que funda as relaes entre pessoas e coisas, no caso, o servio de transporte pblico e seu usurio. Nunca se tratou apenas de dar o troco, mas de uma sociabilidade semelhante as artes do fazer de que falam Michel de Certeau e Richard Sennet. Por isso revoltante a notcia de que o Prefeito quer extinguir o ofcio, mais do velho projeto ultraneoliberal de demisso em massa e precarizao dos servios pblicos sob a iluso de reduo de custos. nibus precisam de cobradores como no passado bondes precisavam de condutores porque preciso cuidar dos passageiros no transporte pblico: motoristas no podem fazer tudo. s ver os motoristas de lotaes tendo de dirigir e atender ao mesmo tempo. Terminar com todos os empregos possveis para ampliar o lucro o sonho perverso do capital. ingenuidade pensar que o capital ir diminuir o preo da passagem aps as demisses, ele continuar aumentando para aumentar os lucros dos empresrios. A extino dos cobradores s trar problemas porque um processo galopante de desumanizao do transporte pblico. Devemos lutar para surgirem empregos e no faze-los desaparecer. Nem tudo economia. Cobradores cuidam de passageiros e motoristas dirigem. Se hoje permitirmos sua extino, amanh ser a vez dos enfermeiros, cuidadores, aeromoas, etc. Aonde isso ir parar?