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É claro que não são todos que optam pelas compras em grupos,
pelas ações não prejudiciais ao meio ambiente, e muitos ainda usam
aplicativos de grandes redes de supermercado que vendem os mesmos
produtos prejudiciais. Mas um passo é dado em relação a isso, é
oferecida uma opção no modo de fazer e organizar as compras - ok
não vai exagerar, ninguém se tornará vegano com a pandemia - o que
significa que novos hábitos menos alienantes estão em construção. Em
uma escala reduzida, redescobrir a tele-entrega do armazém da
esquina talvez seja o prenúncio de uma revolução do consumo, que
pode introduzir a compra coletiva “o consumismo deve ser socializado
para combatê-lo. A crise ambiental é tão grave que você precisa ser
criativo”, diz Keucheyan (2020). A liberdade nunca depende do
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“essa ideia, segundo a qual existo pelos bens que possuo, na escala
da história, é muito recente. Portanto, também podemos imaginar
que no futuro as coisas possam evoluir de maneira diferente.
Nossas sociedades estão cheias de regulamentos, não há razão para
que o consumo também não deva ser regulamentado”.
(KEUCHEYAN: 2020)
O autor coloca o ponto essencial de que, seja qual for nossa ação,
se trata de ”recuperar o controle político sobre a economia. E esse
controle político sobre os mecanismos de mercado não ficará isento
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O mitläufer à brasileira
civil mas não enterra o passado, diz Schwartz, algo similar ao que
acontece aqui por sua vez com a direita que elege Jair Bolsonaro para
acabar com o PT, esquece ao mesmo tempo sua contribuição para a
sociedade e aos poucos vê-se envolvida com um presidente que
despreza a vida em primeiro lugar. Quer dizer, tanto no passado
como hoje, há sempre aqueles que se aproveitam do momento
político para negar os efeitos de seus atos, de suas consequências,
exatamente como aqueles que testemunharam crimes nazistas de
forma apática, ou participaram deles. Não é muito similar esta
situação com equivalentes bolsonaristas que hoje defendem o retorno
ao trabalho, não é este o crime em andamento? Ambos, de certa
forma, legalizam o crime que praticam, tornam-no aceitável,
produzem uma amnésia sobre as consequências de seus atos para as
vítimas. Diz Schwartz:
Idosos importam!
“sugere que esses efeitos (as mortes) não foram levados em conta
no momento em que se planejou a operação e as tropas postas em
ação; ou que a possibilidade de tais efeitos foi observada e
considerada, mas ainda assim vista como risco válido, levando-se
em conta a importância do objetivo militar — essa visão é muito
mais fácil (e bem mais provável) porque as pessoas que decidiram
pela validade de assumir o risco não são as mesmas que sofrem
suas consequências” (BAUMAN: 2013, p.11).