Você está na página 1de 28

Lição 9

O PRIMEIRO PROJETO DE GLOBALISMO


1 de Março de 2020
TEXTO ÁUREO VERDADE PRÁTICA
“Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto
ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra e O globalismo afronta os propósitos de Deus quanto ao
dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a povoamento e ao governo da Terra.
terra.” (Gn 11.9)
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Gn 9.1,7: A multiplicação da família de
Quinta - Gn 10.8,9: A ascensão de Ninrode
Noé
Sexta - Gn 11.1-10: A tentativa de unificação global
Terça - Gn 9.22: A apostasia de Cam
Sábado - Gn 12.1,2: A chamada de Abraão
Quarta - Gn 9.29: A morte de Noé
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Gênesis 11.1-9
1 E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
2 E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali.
3 E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume,
por cal.
4 E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para
que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
5 Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
6 e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e,
agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
7 Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
8 Assim, o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
9 Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra e dali os
espalhou o SENHOR sobre a face de toda a terra.
HINOS SUGERIDOS
185, 274, 383 da Harpa Cristã
OBJETIVO GERAL
Evidenciar que o globalismo afronta os propósitos de Deus no mundo.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o
objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos sub-tópicos.
I. Definir o Globalismo;
II. Apresentar um resumo histórico do globalismo;
III. Apresentar a segunda civilização humana a partir de Noé;
IV. Explicar o globalismo de Babel;
V. Expor a intervenção de Deus em Babel.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
As Escrituras revelam que um projeto global de poder que tire Deus do centro é, por natureza, maligno. Isso foi
registrado nas Sagradas Escrituras. A partir de um projeto global de poder, homens intentaram construir um
“mundo particular” em que Deus não faria mais parte dele. Em pleno século XXI assistimos a esse mesmo projeto
global de poder. Suas cores foram modificadas, mas a essência continua a mesma: Uma cultura secular que, no
“espírito do Anticristo”, projeta um estilo de vida sem Deus, uma espiritualidade fabricada e uma religião
produzida. Entretanto, como na civilização de Babel, Deus continua a intervir poderosamente no mundo,
mostrando ao homem que seus intentos têm limites. Ele continua a governar o mundo.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Se não lermos atentamente a História Universal, viremos a pensar que o globalismo é um fenômeno
exclusivamente pós-moderno; algo gerado por esses dias trabalhosos e difíceis. Todavia, quando nos voltamos à
Bíblia Sagrada e, depois, à historiografia profana, convencemo-nos deque o globalismo é tão velho quanto à antiga
serpente, que, desde o Éden, vem esforçando-se por congregar toda a humanidade em torno de si - ela, a deusa, e
os homens, seus cegos e ignóbeis adoradores. Na verdade, a proposta que Satanás apresentou a Eva, no paraíso, foi
essencial e malignamente globalista, embora houvesse, naquele vergel, apenas dois habitantes. Aliás, ele intentara
o mesmo ao rebelar-se contra o Senhor no Éden Celeste (Ez 28). Mas o seu intento redundou na própria desdita;
rebaixado a Diabo, passou a ser conhecido por estes dois emblemáticos apelidos: serpente e dragão. Para quem se
achava tão alto, agora era comparado a répteis. Salomão estava certo ao dizer que, sob o sol, nada existe de novo.
Tudo é tão velho hoje quanto ontem. Somente a Palavra de Deus não envelhece. Neste capítulo, veremos qual a
real intenção que subjaz ao globalismo; não obstante suas aparentes benesses, é um ataque declarado e impiedoso
aos planos divinos quanto à povoação e ao governo da Terra. Conquanto apresente-se acima das religiões, não
passa de um projeto religioso, que envida todos os recursos para colocar-se acima de todos; ignorando a Deus, faz-
se divindade. Hoje, estudaremos a primeira iniciativa de se globalizar a Terra. Essa apostasia teve lugar em Sinear,
na Mesopotâmia. Ali, homens ímpios e dissolutos incitaram a descendência de Noé a aglomerar-se num só lugar,
sob um único governante. Foi assim que nasceu o globalismo: uma doutrina contrária ao propósito divino quanto à
povoação e ao governo da Terra. Em seguida, veremos como se deu a intervenção do Senhor naquele projeto
insano. Num único ato, Deus confundiu a língua dos filhos de Noé, e os espalhou pelos mais remotos continentes e
ilhas. Finalmente, constataremos como o Senhor deu início à linhagem piedosa de Israel, chamando o patriarca
Abraão a viver pela fé. Que Deus nos ajude a compreender mais esta lição extraída de sua maravilhosa e
insondável Palavra. Seja-lhe tributada toda a glória. Amém. Nesta Aula trataremos do primeiro projeto de
federação materialista e humanista em oposição a Deus, que o Pr. Claudionor de Andrade denominou de
globalismo, implementado pelos descendentes de Noé. A ordem de Deus a Noé e seus filhos foi: “...frutificai, e
multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 9.1). Depois é novamente repetida: “Sede fecundos e multiplicai-vos;
povoai a terra e multiplicai-vos nela” (Gn 9.7). Porém, os descendentes de Noé não atentaram para esta ordenança
divina; acharam uma planície agradável e insistiram ali ficar, sob um único governante; preferiram manter-se
juntos, não espalhados (Gn 11.4). Espalhar-se para cuidar da terra para Deus era a última coisa que eles queriam.
Com esta rebeldia, deu-se origem o que se conhece hoje como globalismo: uma doutrina contrária ao propósito
divino quanto à povoação e ao governo da Terra. Aparentemente, permanecer juntos era bom, mas Deus tinha
mandado que se espalhassem (Gn 9.1). Este comportamento dos líderes da civilização pós-diluviana representa, até
o Apocalipse, a ideia de federação humana materialista e humanista em oposição a Deus. As Escrituras revelam
que um projeto global de poder que tire Deus do centro é, por natureza, maligno. Atenção: Não confundir
globalismo com globalização - um é oposto do outro. O globalismo é um conceito político, já a globalização é um
conceito econômico. Globalização econômica significa livre comércio e livre mercado; trata-se de um arranjo que
surge naturalmente quando não há políticos e burocratas impondo obstáculos às transações humanas. O globalismo
é uma política internacionalista, implantada por burocratas, que vê o mundo inteiro como uma esfera propícia para
sua influência política. O objetivo do globalismo é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os
cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários. Nesta lição, o enfoque sobre o
tema globalismo, baseado no episódio de Babel, no entanto, convido o leitor a pensar maduramente a fé cristã. A
ordem clara de Deus aos homens era para que se espalhassem por toda a terra. A recém recriada humanidade
formada depois do dilúvio foi rebelde a essa ordem divina. Se não fossem espalhados por toda a terra, muito
provavelmente a humanidade não teria chegado até nossos dias. A ideia de construir uma cidade e uma "torre cujo
cume toque nos céus" é uma clara demonstração de rebelião do homem que tenta se colocar no lugar de Deus. O
autor dessa rebelião foi Ninrode. Dos filhos de Noé, Sem foi o primeiro mencionado, ocupando o lugar da
liderança e destaque nos planos divinos para os povos. Os semitas seriam os líderes espirituais dos homens. Os
escolhidos de Deus dentro dessa linhagem ensinariam a religião de Jeová ao mundo. Sabemos que o Messias devia
vir através dos descendentes de Sem. Nesta lição, veremos a diferença dos termos globalismo e globalização;
pontuaremos sobre o primeiro globalismo e a torre de babel; analisaremos o sonho globalista do ímpio Ninrode; e
por fim; citaremos a ação de Deus diante da construção da torre de babel. Vamos pensar maduramente a fé
cristã?
PONTO CENTRAL
O globalismo afronta os propósitos de Deus no mundo.
I. VELHA REBELIÃO COM NOVO NOME
Não é tarefa fácil definir ou identificar o globalismo, porque, apesar de ser movido por um único espírito - o do
Anticristo -, este projeto apresenta-se com múltiplos tentáculos, alguns dos quais antagônicos entre si. Suas
vertentes também são múltiplas: econômicas, religiosas, científicas e políticas. Mas, pelo que observamos, quem
está no comando desse empreendimento não se preocupa com as divergências havidas entre seus tentáculos e
vertentes, porque sabe muito bem como orquestrar toda essa dialética até que uma síntese se torne possível.
Todavia, na condição de servos de Deus, obrigamo-nos a definir e a identificar o globalismo, a fim de não
tomarmos parte nas obras infrutuosas das trevas, pois um dos objetivos desse projeto, claramente satânico, é
apropriar-se também da Igreja de Cristo.

1. Definindo o globalismo. O globalismo não é uma mera globalização, porque esta é tão inevitável hoje quanto o
foi outrora; é impossível impedir os seres humanos de interagirem-se entre si. Relacionamentos diplomáticos,
comerciais e religiosos sempre existiram desde os impérios dos rios Tigre e Eufrates até as potências do Volga e do
Potomac. Logo, a globalização é necessária para o desenvolvimento do ser humano, pois ajuda a povoar e a
integrar o planeta. Aliás, a Grande Comissão é, em sua premissa básica, uma ordenança global, pois o Senhor Jesus
nos ordena a evangelizar de Jerusalém aos confins da Terra (At 1.8). O globalismo, entretanto, é uma doutrina que,
contrapondo-se à vinda do Reino de Deus à Terra, busca arregimentar todas as instituições humanas, desde as
políticas às religiosas, sob um único governo: o do Anticristo, conforme escreve Paulo aos irmãos de Tessalônica
(2Ts 2.1-12). Logo, não podemos empregar o termo “globalismo” como sinônimo da palavra “globalização”,
porque, no contexto que ora analisamos, não há sinonímia alguma entre ambos. Por esse motivo, defini-lo-emos
como a doutrina que, apesar de possuir variadas matrizes, tem como objetivo dominar todas as instituições
humanas e, em seguida, congregar toda a humanidade em torno de um governante mundial: o Anticristo. Tal plano,
como veremos mais adiante, acha-se revelado claramente no Apocalipse de Jesus.

a) O conceito de globalismo. O termo globalismo é empregado para referir-se a uma conjuntura econômica,
religiosa, científica e política mundialmente unificada. Para alguns sociólogos, jornalistas e especialistas políticos,
o termo pode referir-se a um “sistema anticristão” e que ameaça a soberania de alguns países. Segundo Houaiss,
globalismo é: “a condição de interligação planetária que envolve redes de comunicação entre os continentes;
internacionalismo; imperialismo; uma influência política mundial”. Para Andrade, globalismo é: “[…] a doutrina
que, apesar de possuir variadas matrizes, tem como objetivo dominar todas as instituições humanas e, em seguida,
congregar toda a humanidade em torno de um governante mundial […] que o globalismo vem trabalhando, sutil e
habilmente, a política, a religião, a economia e a cultura, visando dominá-las a fim de apressar a ascensão do
personagem que, na Bíblia, aparece como o homem do pecado (2Ts 2.3) […] homens ímpios e dissolutos
incitaram a descendência de Noé a aglomerar-se num só lugar (torre de Babel), sob um único governante. Foi
assim que nasceu o globalismo: uma doutrina contrária ao propósito divino quanto à povoação e ao governo da
Terra”. A civilização iniciada por Noé dispunha de todos os fatores para criar uma sociedade ímpia e globalizada:
uma só língua, um só povo, uma só cultura [e um só líder].

b) O conceito de globalização. Segundo os especialistas das ciências políticas e econômicas e das relações
internacionais, “globalismo” não é o mesmo que “globalização”. Globalismo é um conceito político, enquanto
globalização é conceito econômico (comercial). Segundo o dicionarista Antonio Houaiss, globalização é: “o
intercâmbio econômico e cultural entre diversos países; mercado financeiro mundial; interação entre empresas;
livre-comércio”. A globalização econômica é a abertura comercial dos países para exportar e importar bens,
serviços e tecnologias. Um exemplo interessante é o de uma simples camisa fabricada na Malásia, utilizando
máquinas feitas na Alemanha, algodão proveniente da Índia, forros de colarinho do Brasil, tecido de Portugal, e
vendida no varejo no Canadá e outros países.

2. Seus objetivos básicos. No tópico anterior, conseguimos definir razoavelmente o globalismo e revelar o seu
principal objetivo. Agora, busquemos especificar quais as verdadeiras metas desse projeto que, conforme já
dissemos, tem pelo menos seis mil anos de história. Portanto, os súditos do príncipe deste mundo contam com
experiências e ensaios acumulados em vários milênios de rebeliões contra o Senhor. Não lhes falta nem teologia,
nem teoria política; sua expertise é formidável. Nas entrelinhas dos últimos acontecimentos, inferimos que o
globalismo vem trabalhando, sutil e habilmente, a política, a religião, a economia e a cultura, visando dominá-las a
fim de apressar a ascensão do personagem que, na Bíblia, aparece como o homem do pecado (2Ts 2.3). Em que
pesem os aparentes confrontos entre o Oriente e o Ocidente e entre o Norte e o Sul, as nações vêm sendo
orquestradas, para que aceitem, sem contestação alguma, a ascensão de um potentado mundial. Na realidade, os
governos perceberam que os seus modelos políticos, quer de direita, quer de esquerda, já não funcionam como no
princípio; fracassaram na essência e na forma. Tal mandatário, portanto, estaria acima dos órgãos mais poderosos
como as Nações Unidas e a União Europeia. Vê-se, pois, que o príncipe deste mundo, ora agindo como Diabo,
jogando uma nação contra outra, ora agindo como Satanás, confrontando a todas, cria uma dialética, que, no final,
resultará numa síntese já revelada na Bíblia: o governo do Anticristo. O Anticristo precisará, a fim de lhe sustentar
o governo, de uma assessoria religiosa, visando a construção de uma mística em torno de sua pessoa. Já cercado de
mitologia, não lhe será difícil impor as políticas mais iníquas, absurdas e genocidas. Eis porque, desde já, busca ele
unificar todas as religiões, por mais antagônicas e irreconciliáveis, para que o seu globalismo seja bem-sucedido.
Não vamos, por ora, entrar em mais detalhes a esse respeito, porque ainda voltaremos a falar no assunto. Por
enquanto, basta sabermos que os globalistas estão interessados em todas as instituições humanas, principalmente as
religiosas. Em todas as eras, a economia sempre exerceu forte pressão nas decisões humanas. Haja vista o que
aconteceu na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. A inflação, naquele país, a partir de 1918, tornou-se de
tal forma incontrolável, que o operário precisava de uma sacola de dinheiro para comprar um naco de pão. Aqui,
meu querido leitor, não vai hipérbole alguma. Nesse clima de desespero, não foi difícil a Adolf Hitler roubar o
coração da culta e inquiridora nação germânica. E, ali, entre cientistas, filósofos e teólogos, instaurou o seu
nacional socialismo que, redundando na Segunda Guerra Mundial, causaria a morte de 60 milhões de pessoas. Os
ideólogos do globalismo sabem que, pelo estômago, poderão dominar o mundo. Aliás, o controle da economia é
um dos objetivos da Besta, conforme lemos no capítulo 13 de Apocalipse. Hoje, ensaia-se a união de todas as
empresas numa imensa e formidável corporação, que, aliada à política e à religião globais, darão todo o suporte ao
governante mundial. Ora, com o domínio da política, da religião e da economia, não será difícil ao globalismo
uniformizar todas as culturas do mundo numa monolítico-cultural. E, depois, já com uma cultura unificada,
tentarão seus ideólogos impor à humanidade um único idioma, forçando-a a retroceder à Torre de Babel. A fim de
alcançar seus intentos, vandalizam impiedosamente todas as instituições já consagradas. Quer na literatura, quer na
música, seja nas artes, seja no mais humilde artesanato, a desconstrução de identidades nacionais vem acelerando-
se em prol de uma cultura satânica, deformada e anticristã. Mas, como já dissemos, o globalismo não é um
fenômeno novo; é algo tão velho quanto a antiga serpente, segundo no-lo mostra a História Sagrada e a profana.
SÍNTESE DO TÓPICO I
Com o domínio da política, da religião e da economia, não será difícil ao globalismo uniformizar todas as culturas
do mundo numa monolítico-cultural.
SUBSÍDIO DIDÁTICO
“A Instituição do Governo Humano

No século antediluviano não havia nenhum governo humano. Todo homem tinha liberdade para seguir ou rejeitar
qualquer caminho. Mesmo rejeitando o Caminho, não havia refreio contra o pecado. O primeiro homicida, Caim,
foi protegido contra um vingador (Gn 4.15). Sucessivos homicidas (Lameque, por exemplo) exigiram semelhante
proteção (Gn 4.23,24). Durante séculos os homens haviam abusado do amor e da graça de Deus, e gastaram seu
tempo entregues a toda qualidade de pecado e vício. Após o dilúvio, o caminho, o único Caminho para a vida
eterna, ainda permaneceria aberto diante deles, e cabia-lhes o direito de aceitar ou rejeitá-lo. Mas se o rejeitassem,
continuando desobedientes às leis divinas, eram passíveis de punição imediata por parte dos seus contemporâneos,
pois Deus instituiu um governo terrestre que serviria de freio sobre os delitos dos ímpios. A ordem divina foi esta:
‘Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu’ (Gn 9.6). A pena capital é a função de
maior seriedade do governo humano, e uma vez que Deus concedeu ao homem essa responsabilidade judicial,
automaticamente todas as demais funções de governo foram também conferidas. O governo humano, assim
construído, exercendo a prerrogativa da pena capital, foi e é sancionada pelo próprio Deus como um meio de deter
os desobedientes (Rm 13.1-7; 1Tm 1.8-10). A investidura dessa autoridade e responsabilidade no homem foi uma
novidade do novo pacto de Deus ao homem após o dilúvio. Em comparação com a aliança adâmica, notamos que
há: (1) maior domínio sobre o reino animal; (2) uma dieta mais ampla; (3) a promessa de Deus que não mais
destruirá toda a carne; (4) e maior repressão sobre os ímpios, incluindo a prerrogativa da pena capital, que seria ao
mesmo tempo uma ilustração do governo divino” (OLSON, Lawrence N. O Plano Divino Através dos Séculos:
As dispensações que Deus estabeleceu para Israel, a Igreja e para o mundo. 26ª Edição. RJ: CPAD, 2004,
pp.69-71).
II. RESUMO HISTÓRICO DO GLOBALISMO
Neste tópico, acompanharemos os principais avanços do globalismo através da história. Inicialmente, identificá-lo-
emos em três períodos bíblicos: no mundo pré-diluviano, na construção da Torre de Babel e no Império Romano
nos dias do Novo Testamento. Em seguida, destacaremos alguns de seus principais ideólogos e promotores: Carlos
Magno, Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, que, a partir da Europa, intentaram globalizar o mundo e submetê-lo
aos seus caprichos.

1. O mundo antediluviano. Os defensores do globalismo deveriam ler atentamente os 11 primeiros capítulos da


Bíblia Sagrada, a fim de se conscientizarem de quão nociva tem sido a sua doutrina ao ser humano. No período que
antecedeu o Dilúvio, toda a humanidade achava-se concentrada num só lugar, falava um único idioma e,
provavelmente, era governada por um único homem: o globalismo era absoluto. Mas este ensaio acabou por levar a
raça humana à sua quase extinção (Gn 6-8). Daquele singular cataclismo, somente Noé e sua família lograram
escapar.

2. A Torre de Babel. Apesar das experiências que os descendentes de Noé trouxeram da era pré-diluviana,
tornaram eles a se agruparem em torno de um único líder mundial - provavelmente Ninrode, o poderoso caçador
(Gn 10.9). Habitando todos eles, num só lugar, começaram a pecar e a corromper-se como uma só pessoa.
Conforme veremos mais adiante, esse experimento avançado de globalismo terminou por separar definitivamente a
humanidade em milhares de línguas e dialetos.

3. O Império Romano. O Senhor Jesus nasceu, de acordo com Paulo, na plenitude dos tempos: uma globalização
que, apesar das aparências, foi conduzida pelo próprio Deus, a .m de preparar o mundo para a vinda de seu Filho
(Gl 4.4,5). E, para tanto, dispôs de três grandes povos e culturas: os hebreus, com a divulgação da Lei e dos
Profetas em suas sinagogas espalhadas pelo mundo; os gregos, com o seu idioma, para facilitar a proclamação
universal do Evangelho; e, finalmente, os romanos que, por meio de seu sistema judiciário, administrativo e
benfeitorias públicas, facultaram o trânsito dos apóstolos em todo o império. O mundo todo, nessa época, achava-
se perfeitamente sincronizado sob as ordens do Deus de Israel. Apesar de suas diferenças e antagonismos, hebreus,
gregos e romanos cooperaram, entre si, para que o Evangelho de Cristo chegasse aos confins da Terra sem
impedimento algum (At 28.30). É bem provável que os povos mencionados não estivessem cientes do papel que,
naquele momento, desempenhavam. Mas, cientes ou não, cumpriam eles plenamente a vontade divina. Incluamos,
nessa lista, o Egito que, apesar de já não representar muito, em termos políticos, fora preparado, a fim de abrigar e
proteger o Infante Jesus. Aliás, até os Reis Magos foram inseridos na globalização salvadora que, não obstante as
oposições do Inimigo, ia divulgando, em toda a Terra, a chegada do Reino dos Céus.

4. Carlos Magno, o rei dos francos e senhor da Europa. Desde a ruína do Império Romano, em 476 d.C., a
Europa entrou numa fase de confusão política e incertezas quanto ao futuro. A situação só não ficou pior, em
virtude da Igreja Cristã, que, já espalhada por todo aquele continente, pôs-se a evangelizar até mesmo os que
levaram Roma à destruição. Infelizmente, a cristandade visível fez-se vistosa e começou a perder as excelências, e
propriedades da Igreja Invisível. Não obstante, os fiéis que perseveravam na doutrina dos apóstolos agiam como
luz numa era que parecia condenada às trevas. Ao contrário do que muitos historiadores sustentam, a Idade Média
trouxe progressos notáveis, criando e fomentando instituições que perduram até os dias hoje. Haja vista os
hospitais e universidades. O sonho de uma Europa unificada que, à semelhança do Império Romano, viesse a
globalizar novamente o mundo, não morrera com a queda de Roma. De vez em quando, um potentado erguia-se
disposto a reunir as tribos, nações e reinos europeus sob um mesmo estandarte. E, dessa forma, enfrentar as
ameaças vindas ora do Norte ora do Oriente. Um desses sonhadores foi Carlos Magno. Nascido em Aachen no ano
742, o rei dos francos, devido à sua genialidade político-militar, tornou-se o primeiro mandatário do Sacro Império
Romano. A nova entidade era assim denominada por unir, sob um mesmo cetro, os poderes seculares e
eclesiásticos: o trono franco e a sede papal. Na verdade, era a espada imperial quem ditava as ordens; o báculo do
pontífice dependia da proteção de Carlos. Seja como for, de conquista em conquista, o novo imperador definiu
aquilo que hoje conhecemos como Europa. Sob o seu poder, floresceram as artes, as letras e as ciências. Apesar de
analfabeto, sabia que nenhuma civilização, por mais aguerrida e conquistadora, é capaz de sobreviver na
ignorância. Por isso, impulsionou a criação das universidades. Todavia, se o Evangelho de Cristo não for
proclamado, como poderá um reino subsistir? Visto no auge de seu poder, tinha-se a impressão de que Carlos
Magno não demoraria em reunificar a Europa. O que lhe faltava agora? Retomar o globalismo férreo do Império
Romano. Mas, com a sua morte, no ano 800, ambos os projetos caem por terra. Conforte profetizara Daniel, o
barro jamais unir-se-á ao ferro; entre ambos a liga é impossível (Dn 2.43).

5. Napoleão Bonaparte, o imperador dos franceses que os outros europeus rejeitaram. Mesmo sabendo que o
ferro e o barro são elementos incompatíveis, Napoleão Bonaparte (1769-1821), um pouco italiano, outro tanto
francês, mas completamente europeu, seguiu os passos de Carlos Magno. Mas, na verdade, não passava de uma
caricatura romântica de Adolf Hitler. Apesar da mitologia que o cercava e da aura poética que o envolvia, foi tão
perverso quanto o seria o ditador alemão 120 anos depois. Nos 12 anos que duraram as suas guerras, de 1803 a
1815, mais de dois milhões de pessoas vieram a perecer em combate ou foram dadas como desaparecidas.
Napoleão Bonaparte foi um dos subprodutos de uma excrecência até hoje celebrada por gente de todos os matizes
políticos: a Revolução Francesa (1889-1899). Arquitetada para combater um rei taxado de tirano, acabou por criar
um ditador sanguinário, insensível e que só pensava em conquistar e destruir. Além disso, movia-o também um
sonho globalista. Homens como esse são instrumentalizados por Satanás. Como o Adversário desconhece o
calendário divino, vai treinando seus prepostos quer no mundo da política, quer no universo da religião; não são
poucos os que se deixam cooptar por ele. Para quem fantasiava a reunificação da Europa e a globalização do
mundo, veio ele, o outrora glorioso Napoleão, a morrer inglória e solitariamente na ilha de Santa Helena, no meio
do Atlântico Sul.

6. Adolf Hitler, o austríaco que se apossou da Alemanha para conquistar o mundo. Desde Carlos Magno até
Hitler, observa-se algo sutilmente profético: os homens que intentam unificar a Europa, para globalizar o mundo,
são movidos por uma ética cada vez mais decadente e perversa. Tornam-se, a cada tentativa, mais parecidos com o
homem do pecado (2Ts 2.1-12). Senão, vejamos o caráter dos três personagens objetos de nosso estudo. Carlos
Magno, apesar de suas brutais campanhas militares, imortalizou-se como o organizador da Europa Ocidental. Entre
batalhas e combates, criou e fomentou instituições como as universidades e os hospitais. Hoje, tais realizações,
embora tenham a Europa como berço, beneficiam a todos os povos. Napoleão Bonaparte, em que pese a
importância de seu código civil, promulgado em 21 de março de 1804, agiu como se não houvesse código algum.
Quando nos aprofundamos em sua biografia, concluímos que, guardadas as devidas proporções, em nada diferia
ele de Hitler; foram ambos visceralmente malignos e sanguinários. Mesmo assim, cerca-o ainda certo romantismo;
algo impróprio para um homem mau e perverso. Quanto a Adolf Hitler (1889-1945), o que posso dizer? Embora
não tivesse a visão de Carlos Magno e o tirocínio de Napoleão, também intentou um projeto globalista. E, para
tanto, tomou de assalto a Alemanha, servindo-se das vias democráticas, rapinou partes da Tchecoslováquia, anexou
a Áustria, invadiu a Polônia e, nos meses seguintes, dominou os restantes de seus vizinhos até subjugar a poderosa
França. Quem o visse naqueles dias de glória e ufanismo, entre 1939 e 1941, concluiria imediatamente que estava
ali, em sua augusta pessoa ariana, uma perfeita junção de Carlos Magno e Napoleão Bonaparte, pronta a reunificar
a Europa e a globalizar o mundo. Terminada a Segunda Guerra Mundial, porém, já não havia nem Europa
reunificada nem mundo globalizado, mas destruição e ruína. Sob os continentes em guerra, 60 milhões de
cadáveres; deste formidável número, 10% eram de judeus. Nunca se matou tanta gente em tão pouco tempo.
Napoleão precisou de 12 anos para arrastar, às sepulturas das Europa, dois milhões de pessoas. Hitler, em menos
da metade desse período, torna-se responsável por uma cifra trinta vezes maior. Terminada a Segunda Guerra
Mundial, tem início a Guerra Fria. Hoje, o projeto globalista voltou a ganhar forças em todos os setores da vida
humana, notadamente na política e na religião. Todavia, quando nos voltamos às profecias bíblicas, descobrimos
que a humanidade encaminha-se à Grande Tribulação. Somente o Rei dos reis e o Senhor dos senhores poderá
agregar, em torno de seu Reino, todos os descendentes de Adão e Eva. Para compreendermos a mecânica do
projeto globalista, intentado diversas vezes por homens malignos, precisamos estudar, com atenção e cuidado, o
episódio da torre de Babel.
SÍNTESE DO TÓPICO II
O globalismo se intensificou através da história. No mundo pré-diluviano, na construção da Torre de Babel e no
Império Romano nos dias do Novo Testamento. E, hoje a partir da Europa, intenta globalizar o mundo e submetê-
lo aos seus caprichos.
III. A SEGUNDA CIVILIZAÇÃO HUMANA
Noé foi salvo pela graça de Deus, por um ato da soberania divina (Gn 6.8). Ele e sua esposa, seus três filhos e suas
noras, ao saírem da Arca, entraram em um mundo purificado pelo juízo de Deus; figurativamente era uma nova
criação e a civilização humana teria um novo começo; ele e sua família empreendem um novo mundo civilizatório
e um novo governo. Noé viria a ser o segundo pai da raça humana. O mundo antediluviano foi iniciado com duas
pessoas, agora inicia-se com oito. As oito pessoas que foram salvas do Dilúvio dariam agora início a uma nova
civilização. Era um novo período de tempo, denominado de governo humano por causa das leis humanas e
governos que foram instituídos, para regular a vida dos homens após a longa Era de liberdade de consciência. Era
necessário bastante ousadia, muito trabalho e determinação para reconstruir tudo de novo. Noé recebeu instruções
especificas do Criador, a fim de que ele e seus filhos cumpram fielmente a Sua vontade: edificar uma sociedade
fundamentada no amor a Deus e ao próximo. Deus novamente delega ao homem a direção do planeta e a
administração da justiça. Mas, logo no início da nova civilização, Noé passou por problemas na família que teriam
consequências indeléveis e trágicas ao novo mundo reconstruído. Neste tópico, veremos que, após o Dilúvio, o
Senhor firmou uma nova aliança com Noé. E, assim, o patriarca deu início à segunda civilização humana. Todavia,
o seu filho mais novo, rebelando-se, inaugurou outro período de decadência e menosprezo em relação aos
mandamentos divinos.

1. Um novo começo. Ao sair da Arca, Noé entrou em um mundo purificado pelo juízo de Deus; figurativamente
era uma nova criação e a civilização humana começaria de novo. Deus estabeleceu a nova ordem dando provisões
básicas pelas quais a vida do homem se regeria na Terra depois do dilúvio: (1) para dar segurança ao homem
prometeu que as estações ficariam restabelecidas para sempre (Gn 8.22); (2) reiterou o mandamento de que o
homem se multiplicasse (Gn 9.7); (3) confirmou o domínio sobre os animais dando-lhe permissão para comer sua
carne, porém não o seu sangue (Gn 9.4); (4) estabeleceu a pena capital (Gn 9.6); (5) fez aliança com o homem
prometendo-lhe que jamais voltaria a destruir a Terra por meio de um dilúvio (Gn 9.13,14). Noé e sua família
permanecem a bordo da arca por quase um ano (Gn 7.11; 8.13). Ao deixarem a embarcação, conscientizam-se de
que, de agora em diante, terão de se deparar com uma realidade inteiramente nova. A capacitação dos seres
humanos por Deus, com esta autoridade judicial, mostra que estes permanecem diante de Deus como dominadores
(Gn 1.26) e lança fundamentos para o governo pelo Estado (Rm 13.1-7).

a) Um gesto de gratidão (Gn 8.20). Ao sair da Arca, Noé não foi fazer uma festa, nem comemorar com sua
família a salvação. A primeira coisa que Noé fez, mostrando que era diferente dos homens de sua geração, agora já
completamente destruída, foi oferecer um grande sacrifício a Deus como sinal de sua gratidão pelo grande
livramento passado e como consagração de sua vida a Deus para o futuro: “E edificou Noé um altar ao SENHOR;
e tomou de todo animal limpo e de toda ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar” . Noé buscava, em
primeiro lugar, o relacionamento com Deus, pensava nas coisas que são de cima, no reino de Deus e na sua justiça.
Por isso, não havia se contaminado com o pecado, não havia se misturado com a iniquidade nem com os iníquos.
Noé andava com Deus (Gn 6.9) e, por isso, a sua prioridade era agradecer ao Senhor, adorá-lo pela Sua
benevolência. Com esse gesto, Noé não apenas salvara a si e a sua família, mas salvava toda a humanidade, de
todos os tempos posteriores a ele, de uma nova destruição por água. Por cheirar o suave cheiro do sacrifício de
Noé, o Senhor decidiu nunca mais destruir o mundo com um dilúvio, estabelecendo, então, uma promessa: “E o
SENHOR cheirou o suave cheiro e disse o SENHOR em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por
causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice; nem tornarei mais a
ferir todo vivente, como fiz. Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e
noite não Cessarão” (Gn 8.20-22).

b) Um novo relacionamento com a natureza (Gn 9.2). “E será o vosso temor e o vosso pavor sobre todo animal
da terra e sobre toda ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar na vossa mão são
entregues”. Deus renovou com Noé a supremacia do homem sobre todos os demais seres que existem sobre a face
da Terra. Apesar de ter desobedecido a Deus e de ter causado a sua total destruição, o homem foi mantido na
posição de mordomo da Terra, de ser superior e dominador frente aos demais. “E será o vosso temor e o vosso
pavor sobre todo animal da terra e sobre toda ave dos céus...”. Estes termos parecem ser mais estranhos do que
“domínio” em Gênesis 1.28 e implica que a interação entre humanos e animais não seria pacífica, justamente como
Gênesis 9.6 pressupõe o mesmo quanto aos seres humanos. A intenção divina era que os seres humanos se
submetessem voluntariamente a Ele, e que os animais fizessem o mesmo a eles (isso só ocorrerá novamente no
Milênio - Is 11.6-9). Mas ambos, humanos e animais, transgrediram insolentemente suas funções designadas.
Aparentemente, antes do dilúvio, quando toda carne corrompeu seu comportamento (Gn 6.12), os animais saíram
de seu controle, não mais tendo medo dos seres humanos. A despeito do pecado humano, Deus agora confirma e
realça o domínio humano sobre os animais.

c) Uma nova dieta (Gn 9.3,4). “Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho
dado, como a erva verde. A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis ”. Na nova dieta,
Deus passou a permitir a alimentação de carne. Até então, pelo que se deduz de Gênesis 1.30, o propósito divino
era de que somente a erva verde servisse como mantimento, ainda que, desde Abel, houvesse atividade de criação
de animais. Agora, Deus permite explicitamente que a carne seja utilizada como alimento, com exceção do sangue,
cujo consumo foi proibido (Gn 9.4). Por que foi proibido comer o sangue? Alguns estudiosos creem que o sangue é
o símbolo da vida, a qual só Deus pode dar; portanto, o sangue pertence a Deus e o homem não deve tomá-lo (Dt
12.23). Há, porém, uma explicação mais bíblica. A proibição preparou o caminho para ensinar a importância do
sangue como meio de expiação (cf. Lv 17.10-14). O sangue representa uma vida entregue na morte. Eis um motivo
pelo qual, já na época da dispensação da graça, se manteve a proibição do consumo de sangue entre os gentios que
se convertessem ao Evangelho (At 15.29). Esta proibição não decorreu da lei de Moisés, mas, sim, é resultado do
pacto de Deus com Noé, uma aliança que deve ser seguida por todos os homens, pois se tratou de um compromisso
firmado entre Deus e Noé, que ali representava toda a humanidade.

d) Uma nova realidade ecológica. Em consequência da grande inundação, a Terra já não teria a fartura e a
prodigalidade do período pré-diluviano. Doravante, seus em habitantes terão de experimentar longas estiagens,
fomes e apenas quarenta dias, seria enfermidades. Se o planeta anteriormente era protegido por um escudo aquoso,
este, por ocasião do Dilúvio, veio abaixo, engolindo boa parte dos continentes. Desde então, achamo-nos
vulneráveis aos raios ultravioletas do Sol. E, sob tais condições, ninguém mais desfrutaria da longevidade tão
comum à primeira civilização. A Terra, agora, passaria a requerer maiores cuidados e empenhos. A nova realidade
ecológica encurtar-nos-ia a vida, não nos permitindo avançar além dos 120 anos. Na realidade, quem chega aos 80
dá-se por feliz.

e) A bênção divina. Deus abençoou a Noé e a sua família, prometendo-lhe fecundidade, para que novamente
enchessem a Terra. Todas as nações que hoje existem sobre o planeta são resultado desta bênção de multiplicação:
“E abençoou Deus a Noé e a seus filhos e disse-lhes: frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 9.1). Noé e
sua família teriam de recomeçar um processo civilizatório que, por causa do Dilúvio, perdera milhares de anos de
invenções, descobertas e avanços tecnológicos para o período antediluviano. Reconstruir a sociedade humana era
tarefa nada fácil. Noé e sua família teriam de recomeçar um processo civilizatório que, por causa da grande
inundação, perdera quase dois mil anos de invenções, descobertas e avanços tecnológicos. Nessa empreitada, o
patriarca e seus filhos necessitariam da plenitude da bênção divina. Bem-aventurando-os, ordena-lhes o Senhor:
“Mas vós, frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra e multiplicai-vos nela” (Gn 9.7). Não
demoraria muito, conforme veremos nas próximas lições, para que o homem voltasse a progredir e a ocupar os
mais remotos continentes. A terceira vez que Deus abençoou os seres humanos e lhes ordena serem frutíferos. As
bênçãos de Deus para Noé, de ser fecundo e dominar, se constituem o ato culminante de Deus na renovação da
criação.
2. O Arco de Deus. Deus Se agradou tanto da justiça e da retidão de Noé que com ele firmou um pacto, uma
aliança, que os estudiosos da Bíblia denominam de “pacto noético”: “não haverá mais dilúvio para destruir a
Terra”. Deus tinha um novo plano de vida para o recomeço da existência sobre a Terra. Tudo deveria ser renovado,
visto que a geração que pereceu no Dilúvio havia se rebelado contra o Criador e prestava culto a deuses fictícios, e
dava maior ênfase ao antropocentrismo. Agora, o Senhor espera que Noé e seus filhos restaurem o culto verdadeiro
ao único que é digno de toda glória. Por isso, fez um novo pacto com o homem para começar uma nova civilização
e um novo governo humano.

a) Um novo pacto com a humanidade (Gn 9.9-11). “E eu convosco estabeleço o meu concerto, que não será
mais destruída toda carne pelas águas do dilúvio e que não haverá mais dilúvio para destruir a terra” (9.11).
Tendo esclarecido as responsabilidades que o homem teria sobre a Terra, Deus passa a dar destaque à sua relação
especial com o homem estabelecendo um pacto, uma aliança com Noé e seus descendentes. A ênfase deste
concerto estava na misericórdia e não na punição – misericórdia estendida a todas as criaturas (Gn 9.10,11). A
aliança com Noé é a primeira que se encontra na Bíblia. A relação de Deus com seu povo mediante alianças veio a
ser assunto importantíssimo. Deus estabeleceu sua aliança sucessivamente com Noé, com Abraão, com Israel (por
meio de Moisés) e com Davi; até que Cristo veio e inaugurou a nova aliança.

b) O sinal do pacto noético (Gn 9.12-16). “E disse Deus: Este é o sinal do concerto que ponho entre mim e vós e
entre toda alma vivente, que está convosco, por gerações eternas. O meu arco tenho posto na nuvem; este será por
sinal do concerto entre mim e a terra. E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, aparecerá o
arco nas nuvens. Então, me lembrarei do meu concerto, que está entre mim e vós e ainda toda alma vivente de
toda carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio, para destruir toda carne. E estará o arco nas nuvens, e
eu o verei, para me lembrar do concerto eterno entre Deus e toda alma vivente de toda carne, que está sobre a
terra”. Deus fez um pacto com Noé e com toda a humanidade prometendo não mais destruir o mundo através de
dilúvio. Ao presenciar a terrível destruição pelo juízo de Deus, o homem poderia perguntar-se: "Valerá a pena
edificar e semear? Pode ser que haja outro dilúvio e arrase tudo!". Mas, para dar-lhe segurança de que a raça
humana continuaria e o homem teria um futuro garantido, Deus fez aliança com ele. Deixou o arco-íris como sinal
de sua fidelidade. É provável que o arco-íris já existisse, mas agora se reveste de novo significado. Ao ver o arco-
íris nas nuvens de tormenta, o homem se lembraria da promessa misericordiosa de Deus.

3. O princípio do governo humano. As oito pessoas que foram salvas do Dilúvio dariam agora início a uma nova
civilização. Era um novo período de tempo, denominado de governo humano por causa das leis humanas e
governos que foram instituídos, para regular a vida dos homens após a longa era de liberdade de consciência. Deus
deu a Noé determinadas leis para que tanto ele quanto sua família e todos os seus descendentes fossem governados
por elas. O homem passou a ser responsável pelo seu próprio governo.

a) O governo humano. O governo humano, que foi estabelecido por Deus, faz parte de um governo moral de
Deus. Teologicamente, o governo humano é a autoridade que Deus entregou a Noé e a seus filhos, tendo como
objetivo administrar a justiça, ordenar politicamente a sociedade e tornar sustentável a Terra. Embora o governo
seja humano, a soberania é divina. O principal alvo do governo civil-moral é o bem acima de tudo, e os governos
civis e familiares são necessários para assegurar ou alcançar esse fim. Teologicamente, o governo humano é a
instituição estabelecida por Deus, logo após o Dilúvio, através da qual o Senhor delega ao homem não somente a
governança do planeta, como também a administração da justiça (Rm 13.1). Essa instituição, sem a qual a
civilização humana seria inviável, pode ser sumariada nesta única sentença divina: “Quem derramar o sangue do
homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem” (Gn 9.6).
O Senhor Jesus, ao ratificar esse princípio, foi enfático ao realçar o lado benevolente e amoroso que deveria reger o
governo humano: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lo também vós, porque esta é
a lei e os profetas” (Mt 7.12). Antes do Dilúvio já havia sobre a terra um sistema de governo - sugiro ao leitor
diferenciar a dispensação do governo humano, que surgiu com Noé e foi até o chamado de Abraão, do governo
civil exercido pelo Estado, que é o abrangido pelo texto áureo; notemos que Adão foi constituído governador do
Éden, a ele cabia administrar, lavrar e guardar o jardim, logo depois, vemos surgir as primeiras cidades e povoados,
e também de alguma forma existiam regras de conduta em relação a Deus, para que pudesse ser possível
diferenciar os justos como Abel, Enoque e Noé dos injustos como Caim, Lameque e etc. Porém, somente após o
Dilúvio é que encontramos Deus se pronunciando de forma direta sobre o relacionamento entre os homens. Deus
agora deu a Noé determinadas leis para governar a raça por elas, e o homem passou a ser responsável pelo seu
próprio governo - lembremos de Hamurabi e seu código (1.700 a.C.). Algumas dessas leis formaram a base das leis
humanas em todas as eras desde então. Elas são necessárias para punir criminosos, sejam indivíduos ou nações
(Rm 13.1-6; 1Pe 2.13,14); consequentemente, a aplicação das leis é necessária bem como a guerra quando uma
nação torna-se criminosa (Is 11.4-9; 65.20-25; Dn 2.21; 4.17-25; 5.21; 7.1-25; 8.20-25; 9.24-27; 11.2-45; Zc 14;
Ap 19.11-21). Teologicamente falando, “Governo Humano” é a terceira dispensação e teve a duração de 427 anos.
Iniciou-se logo após o dilúvio e estendeu-se até o chamado de Abraão quando ele tinha 75 anos de idade (Gn
8.15,16,18,19; 9.18,19; 11.10-32; 12.1-3). Por conseguinte, não devemos confundir a terceira dispensação com o
governo civil pelo Estado, este possui suas bases naquele, mas não é a continuidade daquela dispensação.

b) O aperfeiçoamento do governo humano. Israel teve em vários períodos de sua história, alguns governos que
chegaram a ser perfeitos. Haja vista o reinado de Ezequias (2Cr 29.1,2). Aliás, esses homens procuraram cumprir a
Lei de Moisés, porque sabiam que nenhum reino poderá ser construído anarquicamente. Dessa forma, Noé e seus
descendentes, sob as novas regras baixadas pelo Senhor, puderam dar continuidade a história humana, apesar das
lacunas deixadas pelo Dilúvio. Os governos humanos fazem parte de um governo moral de Deus e são necessários
para a preservação da sociedade humana na terra (Rm 13.1,2; Rm 13.5-7; 1Pe 2.13,14). Os descendentes de Noé
cresceram sobre a terra. Todas as civilizações e impérios que já existiram, partiram do “multiplicai-vos” ordenado
por Deus a Noé e seus filhos. Ao longo da história, a humanidade já testemunhou ótimos governos, que agiram
conforme o padrão moral ordenado por Deus, como também já foi testemunhado governos tiranos, corruptos e
totalmente manchados pelo pecado e agindo com influências malignas.

c) As primeiras leis civis dadas por Deus. No período do governo humano várias leis foram dadas, com o homem
agora sendo responsável por reinar ou administrar para o bem de todos. As leis são necessárias para a preservação
da sociedade humana na Terra (Rm 13.1-7; 1Pe 2.13-15). Sem a existência, execução de leis e punição, nenhum
governo pode durar muito tempo. Veja as primeiras leis dadas a Noé, no início do Governo Humano: (1) Frutificai,
multiplicai e enchei a terra (Gn 9.1,7); (2) Reine sobre os animais (Gn 9.2); (3) É permitido comer animais, e não
somente grãos e ervas vegetal (Gn 9.3); (4) Não coma sangue de animais (Gn 9.4); (5) Não cometa assassinato (Gn
9.6). O homem é de grande valor e a vida é sagrada, pois "Deus fez o homem conforme a sua imagem"; e, (6)
Mantenha minha aliança eternamente (Gn 9.9-17). Nenhuma civilização é possível sem um sólido fundamento
jurídico. Sem lei, não há convivência, mas uma sobrevivência hostil e nada solidária. Nas famílias, onde a
disciplina é visível, todos progridem e desenvolvem-se. Onde reina a anarquia, a dissolução é mais que certa; é
uma fatal idade anunciada. Por essa razão, o Senhor entrega o governo da Terra a Noé, deixando-lhe um preceito
que logo se faria universal: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque
Deus fez o homem segundo a sua imagem” (Gn 9.6). Tal princípio seria ratificado pelo Cristo. Utilizando o
vocabulário da graça divina, afirma o Filho de Deus: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim
fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12). A essência de ambas assertivas é a
mesma. Se quero viver, então que eu deixe viver. Se não quero ser ferido, que eu a ninguém fira. Se quero que me
façam o bem, que eu não me prive de fazer o bem. Mas, fazendo-me alguém o mal, não devo retribuir-lhe com o
mal; tenho de mostrar-lhe o bem que a tudo vence. A lei do amor cristão transcende essas fronteiras, pois espelha a
ação do Nazareno. Algumas dessas leis formaram a base das leis humanas, em todas as eras ao longo dos anos: (1)
Elas são necessárias para punir criminosos sejam indivíduos ou nação Romanos 13.3,4; (2) Testar o homem sob o
novo padrão de conduta. O homem tinha falhado em viver corretamente sem leis e sem ameaça de punição. Agora
ele era forçado a obedecer ao certo e rejeitar o errado.

d) A intervenção extraordinária de Deus. Conquanto Deus haja delegado ao homem o governo do mundo, Ele
continua a comandar todas as coisas. A todo instante Ele vem intervindo, quer na história das nações, quer na
biografia de cada pessoa. Quando necessário, intervém extraordinariamente. Interveio em Sodoma e Gomorra,
destruindo ambas as cidades. Interveio no Egito, arrancando de lá a Israel. Se lermos a história universal com as
lentes da soberania divina, constataremos que Deus interveio em Roma, levando-a ao desaparecimento. Na Europa,
criando nações e abatendo impérios. São intervenções divinas na comunidade humana. De fato, o governo é nosso,
mas o controle é de Deus. Ainda que o ignoremos, continuará Ele a reinar absoluto sobre todas as coisas: “ O
SENHOR reina; tremam as nações. Ele está entronizado entre os querubins; comova-se a terra” (Sl 99.1).

4. Bênção e maldição na família de Noé. Quando terminou o dilúvio, Noé e sua família saíram da Arca e foram
abençoados por Deus e povoaram novamente a Terra. Todas as nações e povos da terra descendem de Noé e dos
seus filhos (Gn 10.32). O capítulo 10 de Gênesis mostra os descendentes dos filhos de Noé. Gênesis 10.2-5 alista
os descendentes de Jafé, que emigraram para o norte e se estabeleceram nas terras costeiras dos mares negro e
Cáspio. Foram os progenitores dos medos, dos gregos e das raças brancas da Europa e da Ásia. Os descendentes de
Jafé formaram os povos indo-europeus, ou arianos. Embora não tivessem sobressaído na história antiga, tornaram-
se nas raças dominantes do mundo moderno. Gênesis 10.21-31 alista os descendentes de Sem, que se
estabeleceram na Arábia e nas terras do vale do tigre e do Eufrates, no Oriente Médio. Foram os progenitores dos
hebreus, assírios, sírios, elamitas, caldeus e lídios. Foi dentre os descendentes de Sem que Deus escolheu o seu
povo, cuja história constitui o tema central das Sagradas Escrituras. Gênesis 10.6-20 alista os descendentes de
Cam, que se fixaram na Arábia meridional, no Egito meridional, na orla oriental do mar mediterrâneo e na costa
setentrional da África. Os descendentes de Cam: Cuxe (etíopes), Mizraim (egípcios), Pute (líbios) e Canaã
(cananeus). Os descendentes de Canaã estabeleceram-se num território que se denominou Canaã, território este que
posteriormente se tornou a pátria do povo judeu. Eles constituíam a base dos povos que mais relações travaram
com os hebreus. Eles estabeleceram-se na África, no litoral mediterrâneo da Arábia e na Mesopotâmia. Entretanto,
a história de Noé e de sua família, após a saída da Arca, não se configurou somente em bênçãos. Após as narrativas
que estabeleceram a aliança de Deus com Noé e seus filhos, seguiu-se uma tragédia na família de Noé (Gn 9.20-
29). Eis um resumo: (1) Noé se embriagou com o vinho da própria vinha (Gn 9.20,21); (2) embriagado, apareceu
nu dentro de sua própria tenda (Gn 9.21); (3) seu filho Cam e seu neto Canaã viram a nudez de seu pai e dele
zombaram (Gn 9.22); (4) Sem e Jafé ao tomarem conhecimento do fato, cobrem seu pai, sem contemplar-lhe a
nudez (Gn 9.23); (5) Noé ao acordar profetiza bênçãos e maldições sobre os seus três filhos baseado nos atos
anteriores (Gn 9.24-27).

a) A destemperança do patriarca (Gn 9.21). Além de um excelente marceneiro, Noé era lavrador. Ele planta uma
vinha: “E começou Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha” (Gn 9.20). Esta é a primeira vez que a
produção de vinho é aludida na Bíblia. Juntamente com a vinha, o patriarca constrói uma adega. E, com a ciência
que trouxera da primeira civilização, põe-se a vinificar suas uvas. Desenvolvendo a enologia, produz a primeira
safra de vinho da nova civilização. Mas essa sua nova atividade trar-lhe-ia constrangimento e desintegração
espiritual ao lar. “E bebeu do vinho e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda” (Gn 9.21). É a primeira
vez que a bebida alcoólica é falada na Bíblia e é coisa ruim, e continua sendo ruim na Bíblia toda. Noé, o grande
herói da fé, caiu no pecado de embriaguez em seu próprio lar; ficou nu dentro de sua tenda. Este ato foi um mau
exemplo para sua família; trouxe desgraças para um dos seus netos. Isto nos alerta que os longos anos de fidelidade
não garantem que o homem seja imune a tentações novas. Segundo George Herbert Livingston, Noé pode ter sido
inocente, não conhecendo o efeito que a fermentação causa no suco de uva nem o efeito que o vinho fermentado
exerce no cérebro humano. Isto, porém, não impediu que a vergonha entrasse no círculo familiar. Perdendo os
sentidos, Noé tirou a roupa e se deitou nu. A nudez era detestada pelos primitivos povos semíticos, sobretudo pelos
hebreus que a associavam com a libertinagem sexual (cf. Lv 18.5-19; 20.17-21). Embora todas as pessoas ímpias
tivessem morrido, a possibilidade do mal ainda existia nos corações de Noé e sua família. Isto nos mostra uma
grande lição: até mesmo as pessoas fiéis estão sujeitas ao pecado e sua má influência afeta suas famílias. E mais:
(1) A bebida alcoólica é para ser evitada, porque só se inclina para o pecado; (2) Satanás sempre está pronto para
aproveitar a oportunidade de causar um homem justo cair; (3) O vinho é a corrupção da natureza da uva, da mesma
maneira a bebida alcoólica corrompe uma nação moral e espiritualmente; (4) A única maneira certa de não ficar
bêbado é não tomar o primeiro gole; (5) A bebida alcoólica só dá vergonha e desgraça para a pessoa e a família; (6)
A bebida alcoólica tira a inibição da pessoa deixando-a fazer muita coisa que normalmente não fazia.

b) A irreverência de Cam (Gn 9.22). “Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois
irmãos” (Gn 9.22). Ao deparar-se com o pai desnudo na tenda, Cam não se conteve. Saiu a contar a todos o que
presenciara. Chamou a atenção de Sem, Jafé, das cunhadas, filhos e sobrinhos. Ele fez questão que todos vissem o
homem mais piedoso da Terra numa situação acabrunhante e vergonhosa. Já imaginou se todos tivessem afluído à
porta da tenda do velho patriarca para ver-lhe o opróbrio? Num único momento a humanidade teria se
desencaminhado e, por certo, haveria de tornar-se pior do que a geração pré-diluviana. Parece que Cam e seus dois
irmãos foram alertados sobre a condição de Noé a fim de que todos os três ficassem do lado de fora da tenda “... fê-
lo saber, fora, a seus dois irmãos”. Enquanto Sem e Jafé se recusaram a entrar na tenda, Cam não teve reservas
para entrar. Este viu a nudez de seu pai e nada fez para preservar a dignidade; ele não cuidou para que Noé fosse
devidamente coberto, mas irreverentemente desdenhou a seus irmãos a condição de Noé. Foi uma atitude
desrespeitosa e aviltante, não muito diferente dos habitantes de sua geração antediluviana. Mais tarde, esse tipo de
atitude foi arrolado como falta grave pela Lei de Moisés (Lv 18.7). Qualquer que tenha sido a falta de Noé, ele
estava dentro de sua própria tenda, em privacidade (Gn 9.21). Essa era a maneira que Sem e Jafé queriam. Todavia,
Cam entrou, violando o princípio da privacidade. Como bem diz o pr. Claudionor de Andrade, quem ama não é
indecente, mas discreto, lhano, gentil. Se assim devemos portar-nos em relação aos estranhos, o que não faremos
concernente aos nossos pais? O filho mais novo de Noé não se importava com tais questões. Imbuído ainda do
espírito da geração que perecera no Dilúvio, estava sempre disposto a caçoar e irreverenciar a todos, inclusive o
próprio pai. Levando-se em conta que Noé representava a Deus naquele momento, a irreverência de Cam avultava-
se como gravíssima blasfêmia. Ele poderia ter sido punido com a morte. A Palavra de Deus coloca a irreverência
no mesmo patamar dos pecados grandes e temíveis. Afirma Paulo que a Lei foi promulgada inclusive para castigar
os irreverentes (1Tm 1.9). O mesmo apóstolo deixa claro que, nos últimos dias, a falta de respeito surgirá como um
dos mais fortes sinais da chegada da apostasia final.

c) O respeitoso gesto de Sem e Jafé. Cam viu a nudez de seu pai, e propagou-a a seus dois irmãos, uma
demonstração de desrespeito à dignidade de Noé. Eles, porém, se recusaram a olhar. Cobriram a nudez do pai, sem
que a vissem: “Então, tomaram Sem e Jafé uma capa, puseram-na sobre ambos os seus ombros e, indo virados
para trás, cobriram a nudez do seu pai; e os seus rostos eram virados, de maneira que não viram a nudez do seu
pai” (Gn 9.23). Sem e Jafé entraram na tenda, discretamente, de costas, e cobriram Noé. Eles agiram amorosa e
nobremente. Eles agiram assim porque sabiam que ver a nudez de seu pai era um ato de profunda irreverência e
desrespeito. “Não entreguemos o faltoso ao vitupério. Se agirmos com amor, poderemos recuperá-lo plenamente”
(Tg 5.20). Doutra forma, perderemos almas mui preciosas aos olhos de Deus. Lembremo-nos da recomendação de
nosso Senhor, de buscar a reconciliação (Mt 18.15-18). O procedimento de Sem e Jafé, ao usarem a capa para não
ver seu pai, parece meio radical numa sociedade sexualmente permissiva, principalmente num mundo relativista e
liberal em que vivemos. Os programas de televisão (em todos os canais), bem como a internet, nos têm
insensibilizado à nudez ou grosseria sensual. Acho que os habitantes de Sodoma e Gomorra teriam vergonha de
conviver com os habitantes do século XXI. O procedimento de Sem e Jafé, ao usarem a capa para não ver a nudez
de seu pai, parece meio radical numa sociedade sexualmente permissiva, principalmente num mundo relativista e
liberal em que vivemos. Os programas de televisão (em todos os canais, abertos e fechados), bem como a internet,
redes sociais, nos têm insensibilizado à nudez ou grosseria sensual. Acho que os habitantes de Sodoma e Gomorra
teriam vergonha de conviver com os habitantes do século XXI.

d) A bênção de Sem e Jafé. Noé Abençoou o seu filho Sem pelo o respeitoso gesto: “E disse: Bendito seja o
SENHOR, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn 9.26). Isto implica que o Senhor seria o Deus dos
semitas. Cumpriu-se notavelmente no povo hebreu, uma raça semita. Deus abençoou Sem (e a sua descendência)
como o povo que ia ser honrado com o serviço do Deus vivo: Tabernáculo, Templo, revelação divina (Velho
Testamento e a maior parte do Novo), as primeiras igrejas e o Messias vieram através dele. “Alargue Deus a Jafé,
e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn 9.27). Jafé foi abençoado com possessão territorial.
Ele (e a sua descendência) recebeu a bênção de poder segurar e habitar nas maiores e melhores partes do mundo.
São os descendentes de Jafé que têm dominado e controlado o mundo daqueles dias até hoje. Este povo tenta fazer
paz com Sem (“habite nas tendas de Sem”) e participa nas bênçãos de Sem (foi enxertado em lugar de Sem - Rm
11.17-19). Também que Cam ia ser o servo de Jafé. Além de Canaã receber a sua sentença imprecatória, esta foi
reforçada em cada bênção pronunciada a seus irmãos. Os cananitas seriam escravos tanto dos semitas (o povo
hebreu) quanto dos jafetitas (povos indo-europeus). Ao galardoar a atitude respeitosa e reverente de Sem e Jafé, o
patriarca concede-lhes uma bênção eterna: "Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo" (Gn 9.26,27). A irreverência e o
deboche vêm destruindo muitos jovens promissores. A sociedade atual caracteriza-se pela insolência e por uma
irreverência sem limites. Que tais coisas não nos invadam as igrejas, pois santidade convém à casa de Deus (Sl
93.5). Eduquemos nossos filhos e netos, para que não sejam amaldiçoados e venham a perder a herança que lhes
reservou o Senhor. Quem ama instrui, educa e disciplina. O pecador tem de ser tratado com dignidade, a fim de
que venha a experimentar plena restauração. Notemos agora a beleza exegética da bênção sobre Sem: Para Sem o
nome divino usado é YHWH El enquanto para Jafé é Elohîm. Os dois nomes são significativos dentro do contexto
da promessa messiânica a Sem. O texto não diz “Bendito seja Sem”, mas “Bendito seja YHWH El de Sem”, isto é,
“YHWH será tanto o Deus quanto a bênção de Sem”! É aos descendentes de Sem que é confiada a Aliança e o
conhecimento do Senhor e é através dela que o Messias é dado ao mundo. A bênção de Jafé está subordinada a de
Sem: “habite ele nas tendas de Sem”, o que equivale a dizer que Jafé e Sem teriam relações diplomáticas
amigáveis! Todavia, Elohîm engrandeceria a Jafé de tal forma que Canaã lhe seria servo (v.27). Além de Canaã
receber a sua sentença imprecatória, esta foi reforçada em cada bênção pronunciada a seus irmãos. Os cananitas
seriam escravos tanto dos semitas (linhagem judaica) quanto dos jafetitas (povos indo-europeus).

5. A apostasia de Cam e de Canaã. Após o Dilúvio, Noé planta uma vinha: “E começou Noé a ser lavrador da
terra e plantou uma vinha” (Gn 9.20). Esta é a primeira vez que a produção de vinho é aludida na Bíblia.
Juntamente com a vinha, o patriarca constrói uma adega; e, com a ciência que trouxera da primeira civilização,
põe-se a vinificar suas uvas. Desenvolvendo a enologia, produz a primeira safra de vinho da nova civilização. Mas
essa sua nova atividade trar-lhe-ia constrangimento e desintegração espiritual ao lar. Infelizmente, Noé excedeu-se,
ficou bêbado e dormiu, nu, dentro da sua tenda. É possível que isso tenha acontecido por causa da inexperiência do
patriarca. A Bíblia não comenta a sua responsabilidade sobre o fato. Cam, o filho mais novo, viu seu pai nu e não
cuidou para que ele fosse devidamente coberto, mas, irreverentemente, desdenhou a seus irmãos a condição de
Noé. Foi uma atitude desrespeitosa e aviltante aos padrões da época, não muito diferente dos habitantes de sua
geração antediluviana. Segundo o Pr. Claudionor de Andrade, “tinha início, ali, uma apostasia que, se não fosse a
interferência divina, comprometeria a ordem de povoar a Terra”. Mais tarde, esse tipo de atitude foi arrolado
como falta grave pela Lei de Moisés (Lv 18.7). Quando Noé acordou e soube do acontecido, amaldiçoou a Canaã,
filho de Cam. Isso sugere que quem primeiro viu Noé nu foi o jovem Canaã. A maldição foi cumprida nos povos
de Canaã condenados nos dias de Josué, quando Israel tomou posse da terra prometida. É bom ressaltar que
qualquer que tenha sido a falta de Noé, ele estava dentro de sua própria tenda, em privacidade (Gn 9.21). Todavia,
Cam entrou, violando o princípio da privacidade. Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, quem ama não é
indecente, mas discreto, lhano, gentil. Se assim devemos portar-nos em relação aos estranhos, o que não faremos
concernente aos nossos pais? O filho mais novo de Noé, porém, não se importava com tais questões. Imbuído
ainda do espírito da geração que perecera no Dilúvio, estava sempre disposto a caçoar e irreverenciar a todos,
inclusive o próprio pai. Levando-se em conta que Noé representava a Deus naquele momento, a irreverência de
Cam avultava-se como gravíssima blasfêmia. Ele poderia ter sido punido com a morte. A Palavra de Deus coloca a
irreverência no mesmo patamar dos pecados grandes e temíveis. Paulo afirma que a Lei foi promulgada inclusive
para castigar os irreverentes (1Tm 1.9). O mesmo apóstolo deixa claro que, nos últimos dias, a falta de respeito
surgirá como um dos mais fortes sinais da chegada da apostasia final. Porventura, não é o que estamos vivenciando
hoje? O pecado de Cam trouxe reflexos devastadores para os seus descendentes, principalmente aos descendentes
do seu filho Canaã, que historicamente se tornaram um povo marcado por moralidades sórdidas, como os
habitantes de Sodoma e Gomorra, que, também, eram descendentes de Canaã (Gn 10.19). Os descendentes de
Canaã não demonstravam nenhum temor ao Deus de Noé; o principal deus deles era o ídolo Baal. A adoração dos
cananeus a esse ídolo desceu às mais baixas profundezas da degradação moral e espiritual. Sendo assim, a sua
destruição tornou-se inevitável. O episódio da vinha de Noé acabou por revelar a irreverência de Cam, o seu filho
caçula, e a maldade de seu neto, Canaã (Gn 9.20-29). Tinha início, ali, uma apostasia que, se não fosse a
interferência divina, comprometeria a ordem de povoar a Terra. Assim como a cultura caimita induzirá os filhos de
Sete ao pecado, o modo de vida de Cam e de seu filho, Canaã, pôs-se a influenciar a descendência de Sem e de Jafé
ao pecado e à iniquidade (1Co 15.33).

a) Significado de apostasia. Apostasia, do hebraico “‫ ”המרד‬literalmente “A rebelião”. Em grego antigo


(apostasía) deriva do verbo afístemi, que significa literalmente “apartar-se de”. No âmbito político grego era
como “arrastar pessoas”. O substantivo grego tem o sentido de “deserção, abandono ou rebeldia”. Nas
Escrituras Gregas Cristãs, é usado primariamente com respeito à defecção religiosa; um afastamento ou abandono
da verdadeira causa, adoração e serviço de Deus, e, portanto, o abandono daquilo que a pessoa antes professava e
uma deserção total de princípios ou da fé. Sendo assim, é correto chamar o pecado de Cam e de Canaã como
apostasia? Apostasia (deriva-se da expressão grega “apostasis”, que significa "estar longe de") tem o sentido de
um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. No
Antigo Testamento, a apostasia era considerada adultério espiritual. Israel era chamado de “esposa de Jeová”.
Sempre que Israel seguia a outros deuses, ou se curvava diante de ídolos, era acusado de apostasia. Esta foi,
inclusive, a causa principal do cativeiro babilônico. No Novo Testamento, apostasia significa abandonar a fé cristã
de forma consciente e deliberada. Então, para que haja apostasia é necessário que a pessoa tenha experimentado o
novo nascimento, ou seja, que tenha certeza de sua salvação e aí, de forma consciente e resoluta, abandona a fé e
passa a negar toda verdade por ela experimentada.

b) O desrespeito de Cam ao seu pai. Noé possivelmente despiu-se porque fazia muito calor ou se expôs
involuntariamente por causa de sua embriaguez. Não há fundamento suficiente para a idéia de que alguma
atividade perversa, além de ver a nudez, ocorreu. Porém, claramente a implicação é que Cam olhou com algum
pensamento pecaminoso, mesmo que por um momento, antes falar com seus irmãos. Talvez ele tivesse ficado feliz
em ver a dignidade e a autoridade de seu pai serem diminuídas a um ponto tão frágil. Pensou que os seus irmãos
talvez compartilhassem dos seus sentimentos, por isso lhes deu a notícia com entusiasmo. Eles, no entanto, não
compartilharam da atitude de Cam (v.23). Observe que, quem viu a nudes de Noé foi Cam, mas foi sobre Canaã
que a maldição recaiu! Essa mudança de enfoque de Cam para seu filho Canaã estabeleceu a legitimação histórica
para a futura conquista dos cananeus pelos israelitas. Esse era o povo contra quem Israel teve que lutar pouco
depois que Moisés leu essa passagem. Aqui Deus deu a base teológica para a conquista de Canaã. Os descendentes
de Cam receberam a sentença de juízo pelos pecados do seu progenitor. Em Genesis 10.15-20, os descendentes de
Canaã são retratados como os habitantes primitivos da terra posteriormente prometida a Abraão. Os povos
conquistados eram chamados de servos, mesmo que não fossem escravos domésticos ou particulares. Sem,
antecessor de Israel, e os outros "semitas" seriam os senhores dos descendentes de Cam, os cananeus. Cam daria a
terra a Sem. O termo nudez é usado nesse texto basicamente com o sentido de “estar exposto” e o verbo “ver”
deve ser tomado em seu sentido próprio. Assim, a expressão “vendo a nudez do pai”, deve ser entendida em seu
sentido óbvio e original, sem qualquer indicação de que existe uma mensagem oculta nas entrelinhas do texto. Cam
encontrou seu pai desnudo na tenda, achou graça do episódio, e ridicularizou o pai na presença de seus irmãos. O
hebraico possui pelo menos três termos para nudez, procedente do verbo ‘ûr (estar exposta à vista das pessoas; ser
desnudado): ‘erôm (adjetivo, nu; substantivo, nudez); ‘ârôm (nu) e ma‘adrom (nu), qualquer um desses termos
significa a mesma coisa, exceto quando o uso é figurado para descrever a opressão (Jó 24.7,10; Is 58.7), ou mesmo
a pobreza ou falta de recursos como em Jó 1.21. Um outro sentido é descrever a nudez tanto espiritual quanto física
(Gn 3.7,10,11), e até mesmo de que o Sheol está desnudo diante de Deus (Jó 26.6; Sl 139.7), mas jamais o
vocábulo é usado como eufemismo para o ato homossexual. O sentido primário é a condição de estar exposto, estar
desnudo à vista das pessoas. Uma questão especial é o caso primevo de que Adão e sua esposa estavam nus diante
de Deus na condição tanto física quanto espiritual. No sentido espiritual estavam conscientes de sua culpa e
incapaz de escondê-la do Criador. A posição exegética de que o pecado de Cam e Canaã tenha sido contemplar de
modo desrespeitoso a nudez do pai, encontra sua confirmação no versículo 25 que atesta que Sem e Jafé, para não
recair no mesmo erro: “tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de
costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem”. O contexto de Deuteronômio 27.16 reforça
simetricamente o conceito expendido: “Maldito quem desonrar o seu pai ou a sua mãe”. Lembremos que na
antiga sociedade hebraica, ver a nudez de pai ou mãe era considerado uma calamidade social grave, e um filho ou
filha ver tal nudez propositadamente era um lapso sério da moralidade entre pais e filhos. Portanto, Cam errou
gravemente, de acordo com os padrões de sua época. E não somente errou pessoalmente, mas também correu até
seus irmãos, fazendo do incidente um motivo de zombaria. Ao contrário de Cam e Canaã, Sem e Jafé evitaram
cuidadosamente de incidir no mesmo equívoco de seu irmão e sobrinho (v.23). Ao despertar do sono e recuperar-se
da embriaguez, Noé toma conhecimento dos atos de seus filhos, e seguindo a tradição do seu tempo pronuncia
maldições e bênçãos segundo o agir de cada um deles.

c) A maldição de Canaã (Gn 9.24-27). “Maldito seja Canaã...” (Gn 9.25). Por que Noé amaldiçoou Canaã e não
Cam? Segundo William Macdonald, é possível que a inclinação perversa de Cam fosse ainda mais acentuada em
Canaã. Nesse caso, a maldição era uma profecia sobre o comportamento imoral de Canaã e a punição apropriada. -
Outra explicação é que o próprio Canaã pode ter cometido alguma vulgaridade contra seu avô, fato que Noé só
tenha ficado sabendo mais tarde. Noé “soube o que lhe fizera o filho mais moço”. Talvez o versículo 24 se refira ao
“neto mais moço”, Canaã, e não ao “filho mais moço”, Cam. Na Bíblia, o termo “filho” com frequência significa
“neto” ou outro descendente. Nesse episódio, Canaã não foi amaldiçoado por causa do pecado de seu pai, mas por
causa de seu próprio pecado. Outra possibilidade é que a graça de Deus só tenha permitido a Noé amaldiçoar uma
pequena parte dos descentes de Cam, e não o que poderia ser um terço da raça humana. Devemos notar que,
embora Cam tivesse outros filhos além de Canaã (Cuxe, Mizraim e Pute - Gn 10.6), a maldição foi especificamente
para Canaã e seus descendentes, isto é, os cananeus da Palestina, e não para Mizraim, Cuxe e Pute, que
provavelmente se tornaram os ancestrais dos egípcios, etíopes e dos povos negros da África, respectivamente. O
cumprimento dessa maldição fez-se à época da vitória de Josué (1400 a.C.) e também na conquista da Fenícia e dos
demais povos cananeus pelos persas. Os descendentes de Canaã radicaram-se na Palestina e na Fenícia (cf. Gn
10.15-19). Canaã foi amaldiçoado a servir Sem e Jafé (Gn 9.25-27). A servidão dos cananeus aos israelitas pode
ser observada em Josué 9.23 e Juízes 1.28. Esses textos têm sido utilizados para defender a escravidão da raça
negra, mas não há absolutamente nenhum apoio para tal alegação. Não há evidências de que o povo cananeu fosse
negro. Canaã foi ancestral do povo cananeu que morava na terra prometida antes da chegada de Israel. Os
canaanitas foram totalmente extintos segundo a posição de vários biblistas e historiadores. Acredita-se que para
que a maldição recaísse sobre Canaã, ele tenha participado de alguma forma do desrespeitoso ato de seu pai Cam.
Das 63 ocorrências do termo arar (maldição) no Antigo Testamento, o verbo ocorre por 12 vezes como antônimo
do verbo abençoar (barak), e um desses casos é o versículo 25 do texto em apreço. Seguindo os conceitos
anteriores (Gn 3.14,17; 4.11), o sentido primário é de que Canaã e sua descendência estariam banidos, cercados de
obstáculos e sem forças para resistirem seus inimigos tornando-se escravos dos escravos (ebed ‘abadîm). Por fim,
não se trata de uma maldição dirigida aos negros africanos como costuma afirmar certos intérpretes. Os canaanitas
foram totalmente extintos segundo a posição de vários biblistas e historiadores.

d) Cumpre-se a maldição de Canaã. O pecado de Cam trouxe reflexos devastadores para os seus descendentes,
principalmente aos descendentes de seu filho Canaã, que historicamente se tornaram um povo marcado por
moralidades sórdidas, como os habitantes de Sodoma e Gomorra, que, também, eram descendentes de Canaã (Gn
10.19). Os descendentes de Canaã não demonstravam nenhum temor ao Deus de Noé; o principal deus deles era o
ídolo Baal. A adoração dos cananeus a esse ídolo desceu às mais baixas profundezas da degradação moral. Tendo
em vista a degradação moral e espiritual dos cananeus, sua destruição tornara-se inevitável. Antes de a nação de
Israel entrar na terra prometida, Deus tinha dado instruções rigorosas quanto ao que deviam fazer com os
moradores dali: deviam ser totalmente destruídos. Esta não foi uma prática de imperialismo ou agressão, mas um
ato de juízo divino. “E falou o SENHOR a Moisés, nas campinas dos moabitas, junto ao Jordão, de Jericó,
dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando houverdes passado o Jordão para a terra de Canaã,
lançareis fora todos os moradores da terra diante de vós e destruireis todas as suas figuras; também destruireis
todas as suas imagens de fundição e desfareis todos os seus altos; e tomareis a terra em possessão e nela
habitareis; porquanto vos tenho dado esta terra, para possuí-la” (Nm 33.50-53). “Das cidades destas nações, que
o Senhor, teu Deus, te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. Antes, destrui-la-ás
totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos fereseus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te
ordenou o Senhor, teu Deus, para que vos não ensinem a fazer conforme todas as suas abominações, que fizeram
a seus deuses, e pequeis contra o SENHOR, vosso Deus” (Dt 20.16-18). O Senhor repetiu essa ordem depois dos
israelitas atravessarem o Jordão e entrarem em Canaã. Em várias ocasiões, o livro de Josué declara que a
destruição das cidades e dos cananeus pelos israelitas foi ordenada pelo Senhor (Js 6.2; 8.1,2; 10.8). O povo de
Deus da Nova Aliança, frequentemente argumenta sobre até que ponto essa destruição em massa do povo cananeu
é corrente com outras partes da Bíblia como revelação divina, que tratam do amor, justiça de Deus e do seu repúdio
à iniquidade. Porém, é bom ressaltar que Deus aniquilou os moradores de Canaã porque eles se entregaram
totalmente à depravação moral. A arqueologia revela que os cananeus estavam envolvidos em todas as formas de
idolatria, prostituição cultual, violência, a queima de crianças em sacrifícios aos seus deuses e espiritismo (cf. Dt
12.31; 18.9-13; ver Js 23.12). A destruição total dos cananeus era necessária para salvaguardar Israel da
destruidora influência da idolatria e pecado dos cananeus. Deus sabia que se aquelas nações ímpias continuassem a
existir, o povo de Israel se desviaria para sempre do Senhor seu Deus (cf. Dt 20.18). A destruição daquela geração
de cananeus demonstra um princípio básico de julgamento divino: (1) Quando o pecado de um povo alcança sua
medida máxima, a misericórdia de Deus cede lugar ao juízo (cf. Gn 11.20). Deus já aplicara esse mesmo princípio,
quando do dilúvio (Gn 6.5,11,12) e da destruição das cidades iníquas de Sodoma e Gomorra (Gn 18.20-33; 19.24-
25); e, (2) Tipifica e prenuncia o juízo final de Deus sobre os ímpios, no fim dos tempos. O segundo e verdadeiro
Josué da parte de Deus, a saber, Jesus Cristo, voltará em justiça, a fim de julgar todos os ímpios (Ap 19.11-21).
Todos aqueles que rejeitarem a sua oferta de graça e de salvação e que continuarem no pecado, perecerão assim
como os cananeus. Deus abaterá todas as potências mundiais e estabelecerá na Terra o seu reino de justiça (Ap
18.20,21; 20.4-10; 21.1-4). Noé não se limitou a abençoar a Sem e a Jafé, nem a amaldiçoar a Cam. O patriarca, na
verdade, definiu o futuro messiânico de seus filhos. Passados aproximadamente 700 anos, sua profecia começa a
cumprir-se.

1) Canaã perde a sua herança. Cam, através de seu caçula, Canaã, não demorou a ocupar toda a terra que, no
tempo de Josué, seria conquistada pelos hebreus. As possessões cananitas iam de Sidom, passando por Gerar e
Gaza, até Sodoma e Gomorra (Gn 10.19). Sim, os sodomitas também eram descendentes de Cam. Tratava-se, de
fato, de uma gente tão vil e tão debochada quanto seu patriarca; não demonstrava nenhum temor a Deus. Tendo em
vista a degradação moral dos descendentes de Canaã, promete o Senhor ao semita Abraão: “À tua semente tenho
dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates, e o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, e o
heteu, e o ferezeu, e os refains, e o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu” (Gn 15.18-21). Todas essas
nações eram da linhagem de Canaã. É lamentável que passagens como esta sejam usadas para justificar a
escravidão. A maldição foi, antes de tudo, profética contra um futuro inimigo do povo de Deus, algo plenamente
confirmado pela história posterior dos cananeus. Os cananeus recebem a maldição, não por serem uma raça
diferente, mas por causa de sua depravação moral e dos deuses a quem adoravam (Lv 18.2-23). Não nos
esqueçamos de Raabe, a mulher Cananéia, que foi integrada ao povo de Deus. Portanto, a maldição de Canaã deve
ser interpretada dentro do contexto do Antigo Testamento e identificada como a vitória dos israelitas sobre os
cananeus, habitantes da terra prometida.

2) A bênção de Sem na pessoa de Israel. Depois de uma peregrinação de quarenta anos pelo Sinai, Israel, o ramo
messiânico da grande família de Sem, desapossa Canaã daquela terra tão formosa (Js 6.21). Os que lhe escapam à
espada, são submetidos a trabalhados forçados (Js 17.13). Gênesis 10.21-32 apresenta uma relação de nações
oriundas de Sem. A Bíblia é uma grande fonte de informações a respeito das genealogias árabes. E os árabes são
um povo semita (descendentes de Sem), tanto quanto os judeus. Concentrando o relato apenas no ramo que deu
origem aos judeus a partir de Heber, temos que: a civilização Cananéia era tão corrupta que coexistir com eles seria
uma grave ameaça à sobrevivência e ao bem-estar da nação dos hebreus. Israel é o instrumento do julgamento de
Deus contra aqueles que se recusaram a honrá-lo.

3) Jafé participa da bênção de Sem. O Evangelho veio-nos através de Cristo, o mais ilustre dos semitas. Logo
após a morte dos apóstolos, porém, foram os filhos de Jafé que se encarregariam de proclamar o Evangelho até os
confins da Terra. Jafé teve suas possessões alargadas desde a Europa às Américas. E, pela fé em Cristo, habitamos
nas tendas de Sem (Gn 9.27). A profecia de Noé cumpriu-se rigorosamente. Os povos descendentes de Jafé foram
os povos que conquistaram a Europa e a Ásia, tendo de fato uma “largueza de terras”. Esses povos tornaram-se os
ancestrais de grandes nações como: Rússia, Lituânia, Polônia, Alemanha, Grécia, Roma, França, Ilhas Britânicas
etc… Mathew Henry comentando a bênção de Jafé escreve: “Alguns entendem estas palavras como se referindo
totalmente a Jafé, com a finalidade de denotar, em primeiro lugar: A sua prosperidade exterior, que a sua semente
seria tão numerosa e tão vitoriosa que eles deveriam ser senhores das tendas de Sem, o que foi cumprido quando
o povo judeu, a raça mais iminente de Sem, foi tributário primeiro dos gregos e depois dos romanos, ambos da
semente de Jafé. Observe que a prosperidade externa não é uma marca infalível da verdadeira igreja. As tendas
de Sem nem sempre são as tendas do conquistador. Ou, em segundo lugar, isto denota a conversão dos gentios, e
a entrada deles na Igreja. E então deveríamos entender que Deus persuadiria Jafé (porque este é o significado da
palavra), e então, sendo assim persuadido, ele habitaria nas tendas de Sem, isto é, judeus e gentios seriam
reunidos no aprisco do Evangelho”.

6. O enfraquecimento da doutrina de Noé. Com a multiplicação de seus filhos, Noé começa a perder o controle
espiritual e moral sobre estes; sua doutrina já não era seguida como antes. Haja vista que Cam, seu filho viu a
nudez de seu pai, e propagou-a a seus dois irmãos, um desrespeito à dignidade de Noé (Gn 9.20-24). Sim, faltou
muito pouco para que esta nova civilização tivesse o mesmo destino da anterior. Além do mais, Noé não estaria
para sempre com os seus descendentes, a fim de refrear-lhes os excessos e desatinos (Gn 9.29). Noé, o pregoeiro
da justiça (2Pe 2.5), colocou de lado o seu padrão moral que tanto cativou o coração de Deus, exagerando no
consumo de vinho e embriagando-se: “E bebeu do vinho e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda”
(Gn 9.21). É a primeira vez que a bebida alcoólica é falada na Bíblia e é coisa ruim, e continua sendo ruim na
Bíblia toda. Noé, o grande herói da fé, caiu no pecado de embriaguez em seu próprio lar; ficou nu dentro de sua
tenda. Este ato foi um mau exemplo para sua família; trouxe desgraças para um dos seus netos, Canaã, filho de
Cam. Isto nos alerta que os longos anos de fidelidade não garantem que o homem seja imune a novas tentações.
Segundo George Herbert Livingston, Noé pode ter sido inocente, não conhecendo o efeito que a fermentação causa
no suco de uva nem o efeito que o vinho fermentado exerce no cérebro humano. Isto, porém, não impediu que a
vergonha entrasse no círculo familiar. Perdendo os sentidos, Noé tirou a roupa e se deitou nu. A nudez era
detestada pelos primitivos povos semíticos, sobretudo pelos hebreus que a associavam com a libertinagem sexual
(cf. Lv 18.5-19; 20.17-21). Embora todas as pessoas ímpias tivessem morrido, a possibilidade do mal ainda existia
nos corações de Noé e sua família. Isto nos mostra uma grande lição: até mesmo as pessoas fiéis estão sujeitas ao
pecado e sua má influência afeta suas famílias. É bom lembrar que Satanás sempre está pronto para aproveitar a
oportunidade de causar a Queda de um homem justo. É bom lembrar que a bebida alcoólica tira a inibição da
pessoa deixando-a fazer muita coisa que normalmente não fazia; ela só dá vergonha e desgraça à pessoa e à
família; evite-a, portanto. A morte de Noé foi o fim de uma era. Somente ele e sua família viveram em dois
mundos diferentes: uma terra antes do Dilúvio e depois deste. A longa vida de Noé (950 anos) deu-lhe
oportunidade de transmitir a seus muitos descendentes a dramática história que havia vivido com a sua família.
Pessoas de diferentes culturas e muitos lugares do mundo conhecem histórias de uma grande enchente no passado.
Os detalhes de cada uma podem ser diferentes, mas o tema central é único e permanece. Com todo o respeito que o
nobre comentarista da lição merece, o velho Noé não conseguiria reter a maldade de seus descendentes, nem que se
mantivesse vivo pelo dobro de anos que viveu; Não foi somente a maldição de Noé que determinou a culpa deles,
pois Deus disse a Abrão que a medida da iniqüidade dos amorreus precisava se encher antes que os seus
descendentes pudessem ocupar a Terra Prometida (15.16). Note, ainda, que estes povos que descendem de Noé
através de Cam, não apenas são povos amaldiçoados em decorrência da maldição pela exposição da nudez de Noé
embriagado, mas também eram os povos que possuíam a Terra Prometida, que Israel, como nação, precisava
conquistar. Moisés precisava dar um ‘lastro’ histórico ‘motivacional’ para que o povo se encorajasse na conquista.

7. O descaso para com o mandamento divino. Apesar de sua prodigiosa multiplicação, os filhos de Noé
ignoraram a ordem divina quanto à povoação da Terra (Gn 9.7). Ao invés de se espalharem, aglomeraram-se
desobedientemente num só lugar. Deus deu a Noé determinadas leis para que tanto ele quanto sua família e todos
os seus descendentes fossem governados por elas. O homem passou a ser responsável pelo seu próprio governo.
Uma dessas leis foi: “frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra e multiplicai-vos nela” (Gn
9.1,7). Todavia, os filhos de Noé ignoraram a ordem divina, rebelando-se contra Deus. Ao invés de se espalharem,
aglomeraram-se desobedientemente num só lugar. Os descendentes de Cam rebelaram-se contra Deus e
inauguraram outro período de decadência e apostasia aos mandamentos divinos. Deus teve que intervir. Conquanto
Deus tenha delegado ao homem o governo do mundo, Ele continua a comandar todas as coisas. Ele está no
controle de tudo. Os filhos de Noé não demoraram muito, esqueceram das instruções de seu pai, e mesmo tendo
Deus reafirmado aos seres humanos a ordem para serem ‘fecundos, multiplicarem-se e encherem a terra’ (Gn 9.7),
este em atrevida rebeldia aglomeram-se em desobediência. Os acontecimentos do presente relato ocorreram
enquanto eles se dispersavam, e ao encontrarem uma planície fértil, anteviram um lugar para se fixarem e se
tornarem inexpugnáveis, sob o comando do poderoso Ninrode.
SÍNTESE DO TÓPICO III
O filho mais novo de Noé rebelou-se e inaugurou outro período de decadência e apostasia aos mandamentos
divinos.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Mostre aos alunos que a história narrada no presente tópico encontra-se em Gênesis 9.18-29. Contextualize-os do
encadeamento do relato bíblico: (1) Noé embriaga-se com o vinho; (2) Sua nudez foi vista pelo seu filho mais
novo. Cam; (3) Cam desdenhou de seu pai aos seus irmãos, mas estes cobriram imediatamente a nudez de Noé; (4)
Ao recuperar os sentidos, Noé não deu sua bênção a Cam e concentrou maldição a Canaã, seu neto, filho de Cam.
É bom lembrar que a descendência de Canaã foi marcada por imoralidades agudas, sendo assim, fonte de muita
corrupção para os israelitas. Esse relato trágico prepara o contexto simbólico que forjará a Torre de Babel e suas
consequências.
IV. O GLOBALISMO DE BABEL
A organização da civilização pós-diluviana em uma só língua e em uma só cultura, detiveram o protótipo de uma
sociedade ímpia e globalista. Para demonstrar isto, essa civilização construíram uma torre, a torre do orgulho, da
rebeldia. Naquele estágio, a civilização iniciada por Noé dispunha de todos os fatores, para criar uma sociedade
ímpia e globalista: uma só língua, um só povo e uma só cultura. Levemos em conta, igualmente, a ascensão de
Ninrode e a tecnologia já acumulada para se construir a cidade e a torre de Babel.

1. Uma só língua e um só povo. Os descendentes de Noé se multiplicaram e todos falavam uma mesma língua
(Gn 11.1). Havia uma certa unidade de pensamento e de entendimento, que se manifestava de modo natural,
porque era um só povo. Diz o texto sagrado: “Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só
maneira de falar”. Unidos pela comunicação, através de uma só língua, imaginaram fortalecer o poder humano,
construindo uma cidade grande (Babel) e um monumento que indicasse o orgulho deles, algo para ser visto por
todo o mundo. Este monumento revelava a deterioração da condição moral e espiritual dos descendentes de Noé,
tendo como figura de destaque Ninrode, neto de Cam. Alguns estudiosos julgam que Ninrode prefigura o homem
"iníquo", que será o último e pior inimigo do povo de Deus (2Ts 2.3-10). Isto foi uma demonstração cabal da
rebeldia dessa nova civilização, no início de sua formação. Orgulhosos e rebeldes, facilmente esqueceram da
aliança que Deus havia feito com Noé, logo após saírem da Arca. Isto muito desagradou a Deus, e Ele teve que
agir. Em Gênesis 11.6, Deus disse: “O povo é um e tem a mesma língua”. Esta declaração divina não significa que
a unidade seja uma coisa má; entretanto, em relação àquele povo, ela tinha um fim negativo, pois visava confrontar
a autoridade divina e estabelecer a autossuficiência humana. A utilização regular de apenas uma língua facilitava a
rápida disseminação do conhecimento, todavia, muito contribuía para proliferação da apostasia, de adorações a
deuses falsos, obra da imaginação humana. Portanto, o monolinguismo do povo pós-diluviano foi um dos fatores
que contribuíram para que a depravação da geração pós-diluviana pululasse, pois já que não havia impedimento
quanto a língua, os homens cheios de soberba, e com um espirito de rebelião, se uniram para fazer um monumento
que seria símbolo da sua altivez. Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “o problema não era a unidade,
mas a unificação que se estava formando. Certamente, o Anticristo se aproveitará de uma situação semelhante, a
fim de implantar o seu reino logo após o arrebatamento da Igreja” (Ap 13.6-8). Até aquele momento, como já
vimos, a humanidade falava um só idioma e constituía-se num único povo (Gn 11.1). Pelo que inferimos do texto
sagrado, não havia sequer dialetos ou sotaques; a unidade linguística era absoluta. Aliás, o mesmo se pode dizer de
sua cultura. O problema não era a unidade, mas a unificação que se estava formando. Certamente, o Anticristo se
aproveitará de uma situação semelhante, a fim de implantar o seu reino logo após o arrebatamento da Igreja (Ap
13.6-8). A ordem de Jesus é que o Evangelho não se concentre em Jerusalém, mas que alcance os confins da Terra
(At 1.8). Se considerarmos a definição do termo ‘globalismo’, talvez não tenhamos nesse episódio algo que
possamos, sequer, dizer que foi parecido. Talvez encontremos um paralelo com o ‘nacionalismo’ [salvaguarda dos
interesses e exaltação dos valores nacionais. Sentimento de pertencer a um grupo por vínculos raciais, linguísticos
e históricos que reivindica o direito de formar uma nação autônoma]. Deus, que fez o ser humano a única criatura
capaz de falar (Gn 1.28), reiteraria o dom da linguagem e usaria a mesma para dividir a humanidade porque a
adoração apóstata em Babel indicava que o ser humano se revoltara orgulhosamente contra Deus (11.8,9). Assim,
devemos compreender que, O problema não era a unidade, mas a unificação que se estava formando o povo
enquanto se espalhava, decidiu parar e edificar uma cidade como monumento ao seu orgulho e para se tornarem
famosos. A causa não foi a unificação ou unidade, mas o orgulho obstinado que contaminava o coração daqueles
homens! A torre, mesmo fazendo parte de um plano, não foi o único ato de rebelião. Foi o orgulho humano que
levou essas pessoas a provocar Deus. Eles estavam se recusando a prosseguir caminho, ou seja, espalhar-se para
encher a terra conforme tinham sido instruídos. Na verdade, essa foi a tentativa de Ninrode [descrito como um
poderoso caçador diante da face do Senhor (v.9). E o princípio do seu reino foi Babel, e Ereque, e Acode, e Calné,
na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu ele à Assíria e edificou a Nínive, e Reobote-Ir, e Cala. O profeta
Miquéias mais tarde descreveria a região da Assíria, que sofreria julgamento de Deus, como a terra de Ninrode
(Mq 5.6)] e do povo de desobedecer ao mandamento de Deus dado em Gênesis 9.1, e assim derrotar o conselho do
céu.

a) O monolinguismo (Gn 11.1). Os descendentes de Noé se multiplicaram e todos falavam uma mesma língua.
Havia uma certa unidade de pensamento e de entendimento, que se manifestava de modo natural, porque era um só
povo. Diz o texto sagrado: “Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”.
Unidos pela comunicação, através de uma só língua, imaginaram fortalecer o poder humano, construindo uma
cidade grande e uma torre que tocasse os céus. Facilmente, esqueceram da aliança que Deus havia feito com Noé,
logo após saírem da Arca. Em Gênesis 11.6, Deus diz: “O povo é um e tem a mesma língua”. Esta declaração
divina nao significa que a unidade seja uma coisa má. Entretanto, em relação àquele povo, ela tinha um fim
negativo, pois visava confrontar a autoridade divina e estabelecer a autossuficiência humana. Os cerca de 6 mil
diferentes idiomas falados no planeta, sem contar os já extintos, têm a mesma origem. Na busca dessa língua-mãe,
os pesquisadores descobrem semelhanças incríveis que talvez não sejam coincidências. Hoje muitos linguistas
(ciência que estuda a evolução das línguas, suas estruturas e possíveis inter-relações no quadro histórico e social)
estão empenhados em chegar a essa língua-mãe. Existem motivos fortes para se acreditar na veracidade do relato
Torre de Babel. Isso significa que, mais uma vez, uma história bíblica julgada por muitos como ilusória pode
ganhar um bom valor histórico.

1) Vantagens do monolinguismo. Quando penso nos Estados Unidos sinto-me um pouco frustrado: “Por que todo
mundo fala inglês, menos eu”. Aliás, até os alienígenas dominam o bendito idioma de Shakespeare. Nos filmes de
ficção científica, os exploradores americanos deixam a galáxia, não se assustam com os buracos de minhoca,
ignoram os vórtices temporais, e, no outro lado do Universo, a centenas de anos luz da Terra, encontram um
alienígena que fala perfeitamente o inglês. Quanto a mim, tenho de contentar-me com uma comunicação
monossilábica com os falantes da língua inglesa. Já imaginou se todos falassem um único idioma? Não
precisaríamos de intérpretes, nem de tradutores para falar de Cristo aos alemães, chineses e belgas. Inexistindo
barreiras idiomáticas, sentir-nos-íamos mais irmanados. A comunicação com os africanos e asiáticos fluiria como
fluem os rios que cortam ambos os continentes. O conhecimento poderia ser transmitido com eficácia sem os
perigos que representam as traduções apressadas e temerárias. Mas Deus, a fim de preservar a espécie humana,
achou por bem confundir-nos a língua, para que o caos não fosse maior.

2) Desvantagens do monolinguismo. Canaã não precisou de muito para induzir a nascente civilização à apostasia.
Já que todos falavam a mesma língua e moravam num só lugar, compartilhando iguais costumes, foi-lhe
relativamente fácil desviar os filhos de Sem e Jafé. A ordem divina era que, espalhando-se todos, viessem a ocupar
toda a terra. Canaã, porém, queria ajuntar a todos em torno de uma torre, símbolo de sua tirania. O que ele
pretendia, na verdade, era instaurar uma ordem mundial, cuja essência era o ateísmo. Ninguém podia negar a
existência de Deus, pois a presença divina era ainda bem forte nos resquícios da arca e nos testemunhos de Sem e
Jafé. Talvez o próprio Noé ainda vivesse quando do episódio de Babel. Senão podiam negar-lhe a existência,
contra Ele colocaram-se abertamente.

b) Uma nova apostasia. A utilização regular de apenas uma língua facilitava a rápida disseminação do
conhecimento, todavia, muito contribuía para proliferação da apostasia, de adorações a deuses falsos, obra da
imaginação humana. Parece que Cam não gostou da maldição divina que recaiu sobre Canaã, e ficou cada vez mais
rancoroso, ressentido e rebelde. Também que ele passou este ódio e rebelião para o seu filho Cuxe e seu neto
Ninrode. O rancor dele foi aumentando até que quando seu neto nasceu ele recebeu o nome de Ninrode, que
significa "vamos rebelar ou rebelde". Em vez de se submeter à vontade de Deus e servi-lo obedientemente,
rebelou-se contra Deus e disse: "Vamos dominar, governar e reinar sobre os outros". Observa o texto de Gênesis
10.8, a cerca de Ninrode: "este começou a ser poderoso na terra". Também em Gênesis 10.9 está escrito que ele
era "poderoso caçador diante da face do Senhor". A palavra “diante” neste versículo significa "contra" o Senhor.
Tudo isto mostra para nós que Ninrode era um guerreiro, rebelde, tirano e um líder de rebeldes na face do Senhor,
e que ficou contra os mandamentos e a vontade de Deus. Ninrode construiu cidades, não altares. Ninrode funda seu
império em evidente agressão (Gn 10.8). Seu império incluía toda a Mesopotâmia, tanto a Babilônia ao sul (Gn
10.10) quanto a Assíria ao norte (Gn 10.10-12). Como principais centros de seu império, ele funda a grande cidade
de Babilônia, mais notavelmente Babel (Gn 10.10); e, subsequentemente, tendo mudado para a Assíria, fundou
Nínive ainda maior (Gn 10.11). Todas essas cidades adoraram deuses falsos, frutos da imaginação humana. Da
religião que Ninrode criou, como resultado de sua rebelião contra Deus, saiu toda religião falsa. Ela é chamada em
Apocalipse 17.5 de "a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra". Ninrode e a sua esposa
se tornaram os deuses desta religião blasfema. A esposa de Ninrode (Semíramis) foi chamada a rainha dos céus e
da Babilônia (Jr 44.17-19). Quando Ninrode morreu, Semíramis proclamou que ficou grávida milagrosamente (a
verdade é que ela era adúltera) e o filho que nasceu era Ninrode reencarnado. Então, Semíramis e o seu filho
(Tamuz) se tornaram a mãe e o filho que este povo idólatra adorou como Deus. Este filho (Tamuz) se tornou o
deus do sol Baal, e Semíramis a deusa Astarote. Ninrode se tornou o deus do povo que adorava as hostes dos céus
(planetas, estrelas, lua e o sol principalmente). À época de Jeremias o povo apóstata de Israel, também, adorava o
sol: “E disse-me: Tornarás a ver ainda maiores abominações do que as que estes fazem. E levou-me à entrada da
porta da Casa do SENHOR, que está da banda do norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando por
Tamuz. Pelo que também eu procederei com furor; o meu olho não poupará, nem terei piedade; ainda que me
gritem aos ouvidos com grande voz, eu não os ouvirei” (Ez 8.13,14,18). O povo liderado por Ninrode, de forma
deliberada e consciente, deixou os mandamentos de Deus e adorou a criação de Deus em vez do Criador. Eles
edificaram uma torre dedicada à adoração das hostes dos céus que eram seus deuses (Gn 11.4). “ Vinde,
edifiquemos para nós ...uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não
sejamos espalhados por toda a terra. É isto que Gênesis 11.4 significa quando diz que edificaram "uma torre cujo
cume toque nos céus". Era uma clara rebelião, um afrontamento contra o Deus que os salvou do Dilúvio.

c) O primeiro ídolo humano. Até este momento, ainda não se tinha notícia de ídolos de barro, de pedra ou de
metais. O ídolo do homem era o próprio homem. Mas eis que o ser humano ergue o seu primeiro deus. A torre que
serviria para confinar os filhos de Noé haveria de conduzi-los a uma virulenta idolatria. Dessa forma, a sedição de
Canaã seria mais deletéria que a de Lameque. Se isso ocorresse, não haveria mais um justo como Noé para
assegurar, diante de Deus, a continuidade da espécie humana. A engenharia está intimamente associada à idolatria.
Torres, zigurates, pirâmides e templos, tanto ontem quanto hoje, têm levado os homens a materializar o seu
orgulho e soberba. Aliás, até o Santo Templo veio a fazer-se armadilha a Israel (Jr 7.4). Por isso mesmo, Deus não
habita em templos feitos por mãos humanas, mas escolhe um coração humilhado e contrito para aí residir (At
17.24; Is 57.15).

2. A ascensão de Ninrode. Num ambiente propício à apostasia, eis que surge o primeiro herói pós-diluviano:
Ninrode, filho de Cuxe e neto de Cam (Gn 10.6-9). Ele é descrito como “poderoso caçador diante do Senhor”. À
primeira vista, imaginamos um homem piedoso. Mas, levando-se em conta a sua ascendência nada recomendável -
Cam -, concluímos tratar-se não de um herói da fé, mas de alguém que, devido à sua força, veio a afrontar o
próprio Deus (Gn 9.22-25). Se ele fosse piedoso, estaria na galeria dos Heróis da Fé de Hebreus, capítulo 11.
Ninrode era um tipo de Anticristo, assim como o foram Caim e Lameque (Gn 4.19-23). Ninrode foi o primeiro,
depois do dilúvio, a fundar um reino, a unir os espalhados e a consolidá-los sob si próprio como único cabeça e
senhor; e tudo isso em desafio a Deus (Gn 10.8-12; Mq 5.6). Vejamos o projeto globalista de Ninrode:

a) A família de Ninrode (Gn 10.8). De acordo com o texto bíblico, Ninrode é filho de Cuxe, filho de Cam (1Cr
1.10). Embora seu nome não aparece na lista dos filhos de Cuxe em Gênesis 10.7. Ao que parece, neste caso o
verbo “gerar” não define Cuxe como seu pai, mas sim como seu antepassado. Ninrode foi o primeiro na história
das civilizações a tentar implantar um tipo de globalismo no mundo.

b) O caráter de Ninrode (Gn 10.8,9). Os escritos rabínicos derivaram o nome Ninrode do verbo hebraico
“marádh”, que significa “rebelar, rebelde”. Assim, o Talmude Babilônico declara: “Então, por que foi ele
chamado de Ninrode? Porque incitou todo o mundo a se rebelar contra a soberania de Deus”. A Bíblia fornece-
nos algum relato relativo a Ninrode. Ele era o tipo de rei que Deus jamais aprovaria. Em Gênesis 10.8,9, Ninrode é
chamado “gibbor”, que significa “guerreiro”. Os escritos de Josefo e também o contexto do capítulo 10 de
Gênesis sugerem que Ninrode era poderoso caçador em desafio a Jeová. Ninrode destaca-se na antiguidade como o
primeiro “dos grandes homens que há na terra”, rememorado por duas coisas que o mundo admira: bravura
pessoal e poder político.

c) O projeto de Ninrode (Gn 10.10). No começo, o reinado de Ninrode incluía as cidades de Babel, Ereque,
Acade e Calné, todas na terra de Sinar (Gn 10.10). Foi provavelmente sob a sua direção que começou a construção
de Babel e da sua torre. Tal conclusão está também de acordo com o conceito judaico tradicional. Josefo escreveu:
“Pouco a pouco, [Ninrode] transformou o estado de coisas numa tirania, sustentando que a única maneira de
afastar os homens do temor a Deus era fazê-los continuamente dependentes do seu próprio poder. Ele ameaçou
vingar-se de Deus, se Este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que
poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados. O povo estava ansioso de seguir
este conselho de [Ninrode], achando ser escravidão submeter-se a Deus”.

d) O reino de Ninrode (Gn 10.10). A conexão entre Ninrode e a torre de Babel é evidente pela prioridade
cronológica de Gênesis 11 a Gênesis 10 e pelo fato de que um dos centros do reino de Ninrode era a Babilônia (ou
seja, Babel). Muito provavelmente o próprio Ninrode era um dos construtores da torre de Babel. Flávio Josefo,
judeu, historiador do primeiro século, relatou a participação direta dos homens liderados por Ninrode na
construção da Torre em Babel: “Ninrode, neto de Cam, um dos filhos de Noé, foi quem levou os homens a
desprezar a Deus. Ao mesmo tempo valente e corajoso, persuadiu-os de que deviam unicamente ao seu próprio
valor, e não a Deus, toda a sua boa fortuna. E, como aspirava ao governo mundial (globalismo) e queria que o
escolhessem como chefe, abandonando a Deus, ofereceu-se para protegê-los contra Ele, construindo uma torre
para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe ao cimo como ainda ele vingaria a
morte de seus antepassados”.

3. A construção de Babel. Os filhos de Noé não eram ignorantes nem careciam de tecnologia, pois haviam sido
capazes de executar o projeto da arca (Gn 6.14-16). E, de tal forma a construíram, que o grande barco resistiu aos
ímpetos do Dilúvio. Por conseguinte, a construção de uma cidade, em cujo epicentro havia um arranha-céu, era
apenas uma questão de tempo. Aquela civilização, aliás, estava disposta a ir além da torre de Babel (Gn 11.6). Sob
uma liderança forte, e dispostos a não cumprirem as leis estabelecidas por Deus, numa demonstração de rebelião,
resolveram construir uma cidade forte e organizada sob a égide de uma liderança forte, despótica e de caráter
globalista. “E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o
betume, por cal. Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos
célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra" (Gn 11.3,4). O Senhor abomina a
altivez, o orgulho (Pv 6.17). Esse sentimento nefasto jamais poderá encontrar guarida no coração do servo de Deus.
Sobre o fato de poderem ter construído a arca de maneira que suportou o dilúvio, certamente é um vislumbre do
avanço tecnológico alcançado por aquele povo primevo. No entanto, não podemos esquecer que foi Deus quem
projetou aquela arca, Noé apenas construiu o que lhe foi entregue! Ao chegarem na terra de Sinar, uma região da
antiga Babilônia, na Mesopotâmia (Gn 10.10), tiveram que fazer tijolos porque não havia pedras na região. A
utilização de enormes pedras, pesando várias toneladas, veio mais tarde. Aquela torre de fato era alta, no entanto,
há aqui evidentemente, uma hipérbole, eles não intentavam de fato atingir a habitação de Deus. Eles queriam que a
alta torre fosse um momento alusivo às suas habilidades, que enaltecesse a sua fama. No empreendimento, eles
desobedeceram a Deus e tentaram roubar a glória que pertencia a ele. Motivadas pelo orgulho e pela arrogância,
essas pessoas pretendiam, com a edificação da torre, fazer com que seus nomes ficassem famosos; temiam ser
dispersas, pelas circunstâncias ou pelo Senhor, e não alcançar a grandiosidade de sua ambição.

a) Um monumento à soberba humana (Gn 11.4). “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo
tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra"
(Gn 11.3,4). A Torre de Babel é um monumento ao pecado humano e não à bondade e faculdade inventiva
humana. Mostra a depravação humana bem no princípio da nova geração descendente de Noé. Gênesis 11.4 mostra
que a Torre de Babel foi uma grande conquista humana, uma maravilha do mundo; no entanto, era um monumento
para engrandecer as pessoas, não a Deus. vejamos os objetivos de tal monumento: (1) “edifiquemos para nós uma
cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus”. O interesse principal da geração pós-diluviana estava numa
torre, embora também houvesse a construção de uma cidade. A intenção era que a torre alcançasse os céus. Nada é
dito sobre um templo para adoração a Deus. Isto mostra que o paganismo estava indiretamente envolvido neste
empreendimento, pois havia um ímpeto construtivo em direção ao céu e o único verdadeiro Deus foi
definitivamente omitido de todo o planejamento e de todas as metas. Mas Deus observava tudo o que estava
acontecendo e logo mostrou sua avaliação da situação. O homem deve estar cônscio de que não pode viver à
margem de Deus; ele foi criado à imagem de Deus (Gn 1.26), e isto significa que o homem é dotado de grandes
poderes, mas que é totalmente dependente de Deus para sua essência de vida e razão de ser; (2) “e tornemos
célebre o nosso nome”. Esta expressão denota a busca pela fama. Esses construtores estavam tentando obter
relevância e imortalidade nos seus feitos, porém apenas Deus pode dar um nome eterno àqueles que engradecem o
nome d’Ele, assim como Ele fez com Abraão (Gn 12.2); e, (3) “para que não sejamos espalhados”. Assim como
Caim, no seu afastamento de Deus, esses pecadores orgulhosos temiam deslocamento, desejavam segurança.
Assim como Caim, eles encontraram solução para isto numa cidade que se rebelava contra Deus – estratégia que
envolvia desobedecer à ordem de Deus de “encher a terra” (Gn 9.1). A desobediência às ordens de Deus é um
grande pecado contra Ele e um grande perigo para o ser humano. Isto sempre trouxe consequências desastrosas
para o ser humano e para o meio em que ele vive. Podemos construir monumentos para nós mesmos (grandes
edifícios, carros luxuosos, cargos importantes) a fim de chamar atenção para as nossas realizações. Estas coisas
podem não estar erradas em si mesmas, mas quando as utilizamos para promover nossa identidade e valor, elas
tomam o lugar de Deus em nossa vida. Somos livres para prosperar em muitas áreas, mas não para pensar em
tomar o lugar de Deus. Quais “torres” você tem construído em sua vida?

b) Uma cidade à prova d’água. "Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e
o betume, de argamassa. Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos
céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra" (Gn 11.3,4). Percebe-se
pelo texto que eles buscavam uma cidade à prova d'água. Se houvesse outro dilúvio, estariam eles a salvo naquele
centro urbano. E, caso este viesse a ser inundado, correriam todos à torre, onde, segundo imaginavam, estariam a
salvo. Parecem que eles desconheciam ou não acreditavam no pacto firmado entre Deus e Noé, que não mais
destruiria a terra por um dilúvio (Gn 9.11). Todo esse complexo era alicerçado por uma filosofia deletéria e
antagônica a Deus: concentrar a todos num só lugar, substituir o culto ao verdadeiro Deus Criador por um culto
antropocêntrico.

4. O Primeiro Projeto de Globalismo. Existem muitas linhas de pensamento em relação ao primeiro projeto do
globalismo, que no caso de Babel se tratava de uma ideologia dominante com todo o povo da época seguindo os
mesmos ideais impostos por uma liderança já estabelecida e atuante. Comentar sobre os aspectos históricos, datas,
genealogias é interessante como informações, mas algo que muitos têm omitido é quanto às forças ocultas que
movimentavam esse projeto ambicioso e de cunho totalmente maligno. Não se pode esquecer que pesava sobre
Satanás uma sentença de que teria sua cabeça pisada pela semente da mulher, ou seja, perderia o governo que
conquistou derrotando Adão. Nesse caso, Satanás focou objetivamente impedir o nascimento da semente da mulher
para não ser derrotado perdendo o governo conquistado. Essa semente se tratava da encarnação de Cristo, que com
a Sua vitória ao consumar o sacrifício na Cruz do Calvário tomaria o seu governo. Nestes últimos dias da Igreja na
terra, o vaticano já tem ensaiado o sistema ecumênico, fato este que se dará na primeira metade da grande
tribulação, que se prolongará até os seus meados. Neste meado da grande tribulação o Anticristo destruirá todo
clero papal e assumirá a totalidade governamental incluindo o sistema religioso, como também promoverá um
domínio global forçado quando procurará marcar os indivíduos com o sinal da besta.

a) O primeiro projeto do globalismo intencionavam se emanciparem de Deus. A linhagem da família de Noé


se multiplicou rapidamente e não se espalharam pelas terras como seria o que se previa. Ao invés disso eles se
concentram em só lugar e já com uma liderança levantada foram persuadidos a edificação de um grande projeto de
edificar uma obra arquitetônica de extrema grandeza. Não havendo pedras para construções, eles optaram em
fabricar tijolos de argila usando o betume como liga, o que propicia uma agilidade no erguimento da edificação,
pois esse material era farto naquela região. Para o bem, ou para o mal, os homens quando estão unidos num só
propósito podem produzir grandes realizações sejam elas benignas ou malignas. Nesse caso se tratava de uma obra
maligna com pretensões de uma emancipação de Deus, pois já se julgavam auto suficientes para tudo.

b) A emancipação tinha por objetivo omitir o Senhor dos seus planos e metas. Essa emancipação objetivava
omitir a presença de Deus nos seus planos de autossustentação, com um recado de que não precisavam dele, pois
iriam seguir com os seus projetos e objetivos por conta própria. Era uma obra com uma finalidade desafiadora
contra Deus, pois envolvia um projeto globalista de unidade concentrada, como também pela altura da torre,
estariam se protegendo de outro dilúvio, como se dissessem para o Senhor: se inundar a terra de novo, nós subimos
na torre e não vamos nos afogar. Certamente também a torre seria um centro de paganismo, onde adoravam deuses
para demonstrar a sua religiosidade, o que seria uma abominação diante de Deus. Deus havia ordenado que os
homens se espalhassem pela terra, mas não atentaram em obedecer a voz divina.

c) Quem elabora planos e metas intencionais ignora que Deus não está inativo. Satanás agiu no período
antediluviano para corromper toda a humanidade daquele período e com isso provocaria a ira de Deus no sentido
de que todos fossem destruídos. Ele quase conseguiu, mas havia um fiel remanescente que não se corrompeu, que
era Noé com a sua família. Desta vez agora Satanás projeta o globalismo para ter todos unidos num só propósito,
sem nenhum Noé para atrapalhar os seus planos e tendo incutido nesse povo uma emancipação de Deus, ele sabia
que isso iria provocar a Sua ira, ao ponto de que destruísse a todos, como foi no dilúvio, sem sobrar nenhum
remanescente fiel. Satanás ignorou, que ninguém pode manipular a vontade de Deus, pois os pensamentos dos
homens, não são os pensamentos de Deus e os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens. Deus
criou e continua cuidando e tanto pode recompensar, como também castigar e como não dormita e não dormitará o
guarda de Israel, Ele está sempre presente, julgando os atos humanos, seja certo ou errado. E para fazer cair por
terra os planos de globalismo de Satanás, Deus quebrou a unidade dos homens, unidade essa que os fortalecia e
confundiu a língua de todos dividindo-os em grupos para não se juntarem novamente. Deus nunca está inativo e
tudo que o homem faz não prospera se o afrontar.

d) Quem afronta a Deus sofrerá a ruína resultantes da sua rebelião contra Ele. A situação de toda a
humanidade poderia ter tomado um rumo diferente, se eles tivessem obedecido a ordem divina de se espalharem
pela terra. Nesse caso não haveria a confusão de línguas e todos poderiam falar e se comunicar na mesma língua.
Deus agiu de pronto e pôs término ao projeto ambicioso dos homens, se tivessem obedecido a vontade de Deus
todo esse sacrifício de tolo poderia ter sido evitado e o juízo não viria sobre eles e estariam contando sempre com
as bênçãos divinas. A unificação das línguas só acontecerá no reino milenar, que estará sob o governo de Cristo
junto com a Sua Igreja glorificada.

5. O globalismo e a torre de Babel (Gn 11.3). Os homens estavam unidos entre si em um verdadeiro modelo de
globalismo com uma só língua, um só povo, uma só cultura, uma só religião, e um só líder (Gn 11.1-4). Mas essa
unidade conferiu-lhes a ambição de fazer coisas proibidas. A torre que construíram em Babel era uma estrutura
conhecida como zigurate. Arqueólogos já escavaram várias dessas estruturas enormes construídas principalmente
para fins religiosos. Um zigurate era como uma pirâmide. Ali ficava um santuário especial consagrado a um deus
ou deusa. Ao construir essa estrutura, as pessoas esperavam que o deus ou a deusa que adoravam descesse do céu
para encontrar-se com elas. Tanto a estrutura quanto a cidade eram chamadas de “Babel”, que significa “portal
dos deuses”.
a) A desobediência e a torre de Babel (Gn 11.4). Segundo Matthew Henry, foram três os motivos da construção
da Torre de Babel: (1) destinar-se a uma afronta ao próprio Deus (Gn 11.4a), pois eles desejavam construir uma
torre cujo “cume tocasse nos céus”, o que evidencia um desafio contra Deus, ou pelo menos, uma rivalidade com
Ele, pois eles desejavam ser “como o Altíssimo”; (2) esperavam fazer um “nome para si” (Gn 11.4b). Eles
desejavam deixar este monumento do seu orgulho, e ambição, e tolice; e, (3) fizeram isto para impedir a sua
dispersão (Gn 11.4c). Para que pudessem estar unidos em um império glorioso, eles decidiram construir esta
cidade e esta torre, para que fossem a metrópole do seu reino, e o centro da sua unidade.

b) A rebelião e a torre de Babel (Gn 11.1-4). Deus ordenou que os povos fossem férteis, que se “multiplicassem
e que se espalhassem por toda a Terra”, mas decidiram mudar para a cidade de Ninrode, na Babilônia, e
“assentar-se ali” (Gn 11.8-12). Essa mudança representou uma rebelião explícita contra a ordem de Deus para que
o povo se espalhasse. Ao que parece, Ninrode desejava tê-los em sua cidade e sob seu domínio; uma pré amostra
do que hoje chamamos de “globalismo”. Eram, verdadeiramente, um conjunto de “nações unidas”, um só povo
(Gn 11.6) que falava a mesma língua e usava um único vocabulário e dicionário. Era motivado por um só espírito
de orgulho e pelo desejo instigante de se tornar célebre.

c) A arrogância e a torre de Babel. Nas Escrituras, a Babilônia (Sinar seu nome mais antigo) simboliza o orgulho
perverso, a corrupção moral e a rebeldia contra Deus. A Babilônia representa o sistema do mundo que se opõe a
Deus. Aquela primeira unificação mundial (globalismo) que Ninrode desejava para a Babilônia de Gênesis um dia
será obtida pelo sistema mundial perverso de Satanás (Ap 18.3,9,11,23). Esse projeto odioso foi uma declaração
arrogante de guerra contra Deus, não muito diferente da rebelião descrita no Salmo 2.1-3. Para começar, o povo
estava resistindo à determinação divina para que se espalhasse e repovoasse a Terra. Motivados por orgulho,
decidiram construir uma cidade e um grande zigurate e ficar todos juntos. Porém, mais do que isso, desejaram
tornar célebre seu nome, de modo que outros os admirassem e, talvez, até se juntassem a eles. Ao declarar seu
propósito, repetiam a mentira do diabo no Éden: “como Deus sereis” (Gn 3.5).
SÍNTESE DO TÓPICO IV
A civilização de Noé dispunha de grandes elementos para forjar uma sociedade globalista: uma só língua, um só
povo e uma só cultura.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O cenário desta história curta, mas intrigante, forma-se depois do dilúvio com os descendentes de Noé que se
agruparam por uma língua comum e logo começaram a migrar para novos territórios. […] A história nos conta que,
em assembleia, os novos habitantes de Sinear tomaram uma decisão totalmente fora da vontade de Deus. O
propósito da ação proposta é claro. Queriam fama: Façamo-nos um nome (4). E desejavam segurança: Para que
não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. Ambas as metas seriam alcançadas somente pelo
empreendimento humano. […] O interesse principal deste povo estava numa torre (4), embora também houvesse a
construção de uma cidade. A torre ia alcançar os céus” (Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a Deuteronômio.
Rio de Janeiro: CPAD, p.55).
V. A INTERVENÇÃO DE DEUS EM BABEL
A torre de Babel foi uma grande conquista humana, uma maravilha do mundo pós-diluviano; no entanto, foi um
monumento para engradecer as pessoas, não a Deus. Podemos construir monumentos para nós mesmos (roupas
caras, celulares de última geração, grandes mansões, carros luxuosos, empregos importantes) a fim de chamar
atenção para as nossas realizações. Estas coisas podem não estar erradas em si mesmas, mas quando as utilizamos
para promover nossa identidade e valor, elas tomam o lugar de Deus em nossa vida. Deus teve que intervir em
Babel porque a torre do orgulho que fora construída não O agradou. A civilização de Babel: (1) Desobedeceu ao
mandamento de que deviam espalhar-se e encher a terra (Gn 9.1; 11.4). Um dos motivos que os impulsionavam e
pelo qual levaram a cabo a construção era que desejavam permanecer juntos, no mesmo território. Sabiam que os
edifícios permanentes e uma coletividade firmemente estabelecida produziriam um modelo comum de vida que os
ajudaria a permanecer juntos; (2) Foi motivada pela intenção de exaltação pessoal ("façamo-nos um nome",
disseram) e de culto ao poder, que posteriormente caracterizou a Babilônia. Uma torre elevada e visível para todas
as nações seria um símbolo de sua grandeza e de seu poder para dominar os habitantes da terra; e, (3) Excluía Deus
de seus planos. Ao glorificar seu próprio nome, esqueciam-se do nome de Deus, nome por excelência, o Senhor.
Deus não estava ofendido com a construção ou com o tamanho da torre, mas com a arrogância que dominava,
novamente, o coração do ser humano. Deus, portanto, desbaratou seus planos não só para frustrar-lhes o orgulho e
independência, mas também para espalhá-los, a fim de que povoassem todo a terra, as mais distantes ilhas e
continentes disponíveis para serem habitadas. Somos livres para prosperar em muitas áreas, mas não para pensar
em tomar o lugar de Deus. Quais “torres” temos construído em nossa vida? Para salvar a humanidade de si
mesma, Deus interveio, confundindo-lhe a língua. Em seguida, dispersou os descendentes de Noé, para que
povoassem as mais distantes ilhas e continentes. Em seguida, o Senhor chamou Abraão para ser o pai, na fé, de
todas as famílias da Terra.

1. A confusão das línguas. O capítulo 10 de Gênesis (cujo conteúdo situa-se cronologicamente depois do capítulo
11) registra que a humanidade foi dispersa conforme a língua de cada povo (Gn 10.5,20,31). Agora o texto nos
informa o motivo dessa dispersão: em vez de se espalharem pela terra, conforme Deus ordenara, edificaram uma
cidade e uma torre na terra de Sinear (Babilônia), dizendo: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre
cujo topo chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra ”
(Gn 11.4). O projeto representava uma demonstração de orgulho (tornar célebre o nome deles) e rebeldia (evitar
serem espalhados sobre a terra). Para nós, a torre também ilustra os incessantes esforços do homem caído para
alcançar o céu com os próprios méritos, em vez de receber gratuitamente o presente da salvação. Como punição, o
Senhor confundiu a linguagem dos edificadores (Gn 11.5-7), e assim surgiram as diferentes línguas que o mundo
possui atualmente. “Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; e
o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora,
não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para
que não entenda um a língua do outro”. No Pentecostes (At 2.1-11), ocorreu o inverso da torre de Babel, pois
todos os expectadores do fenômeno ouviram as maravilhas das obras de Deus em sua própria língua. Babel,
portanto, significa “confusão”, resultado inevitável de qualquer empreendimento que deixe Deus de lado ou não
esteja de acordo com a sua vontade. Visando colocar um ponto final naquele projeto, o Senhor Deus desce à Terra,
e, ali, em Sinear, confunde a língua daquela civilização (Gn 11.5-7). Desentendendo-se, os filhos de Noé
reagrupam-se de acordo com sua nova realidade linguística, e espalham-se por toda a terra. A rebelião daqueles
homens fora realmente grande. Mas como Deus havia prometido não mais destruir a humanidade (Gn 9.11), decide
espalhá-la para que os homens, separados uns dos outros, tivessem mais oportunidade de sobreviver numa terra
contaminada pela apostasia. Esclareço que, Gênesis 11.5 “Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que
os filhos dos homens edificavam”, é um modo de falar da onisciência de Deus (Gn 18.21). Não era necessário que
Deus, de alguma forma, precisasse descer à terra para ver ou saber o que se passava. É interessante notar, ainda,
que Deus tem suas formas de punir a humanidade corrompida, mas pior forma é entregar o homem ao seu próprio
coração. Isso mais uma vez se evidencia aqui, quando vemos que o Senhor se mostra preocupado com a
potencialidade da humanidade de tornar-se tão pervertida quanto era antes do Dilúvio. O Criador, em Sua infinita
misericórdia, toma providências para que isto não acontecesse. Então, o ato de espalhar os homens pela terra foi
sim um ato de amor e de misericórdia, impedindo que aquela segunda recriação também se perdesse em nulidade
como a primeira. Há três grandes julgamentos de pecados cometidos pela humanidade na primeira parte de Gênesis
(Gn 1-11). O primeiro é a expulsão do Éden (Gn 3); o segundo é o Dilúvio (Gn 6-9), e o terceiro é a dispersão das
pessoas de Babel (Lc 1.51). Quanto ao fato de que Deus havia prometido não mais destruir a humanidade note que
a afirmativa não é verdadeira, isso sob a luz de 1 Pedro 3.10,11; Apocalipse 20.9 e 21.1. A promessa específica
dessa aliança com Noé, foi de nunca mais destruir o mundo pela água, qualificada pelo meio (água) descrito, pois
Deus prometeu destruir a terra um dia por meio do fogo, como se depreende dos textos já citados. Pelo fato de se
recusarem encher a terra como Deus lhes havia ordenado, ele confundiu a língua que até ali era a mesma para todos
eles, de modo que tiveram que se separar e fixarem regiões onde a sua própria língua era falada.

a) Deus desceu (Gn 11.5,7a). O Deus do céu jamais fica perplexo nem paralisado com aquilo que as pessoas
fazem aqui na Terra. A arrogante exclamação de Babel 'Subamos!' foi respondida com tranquilidade pelo céu:
'Desçamos!'. É claro que Deus não precisa realizar uma investigação para saber o que está acontecendo em seu
Universo; a linguagem usada serve apenas para dramatizar a intervenção divina.

b) Deus confundiu (Gn 11.7b). A Bíblia diz que Deus desceu para embargar o projeto da construção dessa Torre,
confundindo-lhes a língua ao ponto de não se entenderem para não levar adiante aquele projeto. A palavra Babel
(Babilônia) dava-se a si própria o nome de “Bab-ili”, “portal de Deus”. Mas, mediante um jogo de palavras, a
Escritura sobrepõe o rótulo mais verdadeiro, “bãlal” que significa “ele confundiu”. Na Bíblia, esta cidade veio a
simbolizar crescentemente a sociedade ateísta, com suas pretensões (Gn 11), perseguições (Dn 3), prazeres,
pecados e superstições (Is 47.8-13), suas riquezas e sua eventual ruína (Ap 17,18). Aprendemos com isso que, todo
e qualquer projeto a ser realizado alienado de Deus, mais cedo ou mais tarde sucumbirá (Sl 127.1-3; Mt 7.24-27).

c) Deus espalhou (Gn 11.8). Aquilo que o povo havia temido lhes sobreveio devido a seus atos quando Deus “os
dispersou dali pela superfície da terra” (Gn 11.8). Impossibilitados de se comunicar de forma apropriada, os
trabalhadores tiveram de interromper a construção da torre. Não sabemos o que Deus fez com a Torre, uma
tradição judaica diz que o fogo desceu do céu a consumiu até os alicerces. Outra tradição afirma que ela foi
derrubada pela força do vento.
2. O efetivo povoamento da Terra. Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem Deus, Ele
introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o caos. O grande projeto foi
abandonado e a sociedade unida, mas sem temor de Deus, foi despedaçada em segmentos confusos. Deus frustrou
o propósito daquela geração, multiplicando idiomas em seu meio, de tal maneira que não podiam comunicar-se
entre si. A diversidade de línguas resultou em balbucios ou fala ininteligível. Isso deu origem à diversidade de
raças e idiomas no mundo. E assim, Deus forçou os descendentes de Noé a se espalharem por todo a Terra,
ocupando ilhas e territórios. Segundo o Pr. Claudionor de Andrade, “caso isso não tivesse acontecido, aquela
geração teria o mesmo destino dos pré-diluvianos”. Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana após o
juízo de Babel (Gn 11.9), naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até
porque a língua é um fator fundamental na formação de uma cultura, e Deus confundiu as línguas, impondo, pois,
uma diversidade cultural para o mundo. Cada povo, uma língua, uma cultura e costumes bem característicos. Não
sabemos como os descendentes de Noé chegaram ao Brasil, à Austrália, ao Japão e às mais remotas ilhas. O que
sabemos é que Deus forçou-os aos confins do mundo (Gn 11.9). Caso isso não tivesse acontecido, aquela geração
teria o mesmo destino dos pré-diluvianos. Assim como aquela geração chegou aos confins do mundo, o Senhor
Jesus ordena-nos a levar o Evangelho até que todos os povos e nações venham a ouvir as Boas Novas (Mt 28.18-
20). Quando isso acontecer, então virá o fim (Mt 24.14). Foi a partir do relato de Gênesis 11.9 que Israel
compreendeu não somente como tantas nações, povos e línguas chegaram à existência, mas também as origens
rebeldes do seu inimigo arquetípico, a Babilônia (Gn 10.5,20,31).

a) A confusão que trouxe ordem. Já resolvido a paralisar a construção da torre, decreta o Senhor: “Eis que o
povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que
intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de
outro” (Gn 11.6,7). Dessa forma, foram aqueles clãs dispersos por toda a terra. Agrupando-se de acordo com a sua
identidade linguística, parte dos camitas deteve-se nas terras que o Senhor daria a Israel; a maior parte deles,
todavia, foi parar na África. Os semitas espalharam-se pela Ásia. Quanto aos jafetitas, encetaram uma grande
caminhada em direção à Europa. No decorrer dos séculos, esses clãs, forçados por êxodos e imigrações, chegaram
às ilhas mais distantes e ao Ártico. A diversidade linguística acentuaria não só o distanciamento geográfico entre os
clãs, mas também o cultural. Nem a globalização foi capaz de eliminar tais compartimentos. No Evangelho de
Cristo, porém, irmanamo-nos, transcendendo barreiras linguísticas e culturais.

b) Removido o perigo de extinção. Se a humanidade fosse confinada em Sinear, falando todos uma só língua, em
torno de um único líder, acredito que a linhagem adâmica já teria desaparecido. Nossa reserva genética acabaria
por estreitar-se de tal forma que, em poucas gerações, nos levaria à extinção. Deus é sábio em todos os seus
caminhos. A ordem de povoar a Terra, inicialmente dada a Adão, e, depois, confiada a Noé, tinha como objetivo
guardar a humanidade de si mesma. A concentração urbana vem mostrando-se uma tragédia. Nesses
conglomerados, multiplicam-se as enfermidades, conflitos e males espirituais. Em caso de catástrofes, as
consequências ganham contornos apocalípticos.

3. A multiplicidade linguística e cultural. Com a intervenção de Deus em Babel, impedindo que um império
totalitário mundial fosse estabelecido, aconteceu o surgimento de nações e povos, e de línguas e dialetos. Pessoas
que tiveram os mesmos antepassados, o mesmo espírito empreendedor, que compartilharam a mesma carne e o
mesmo sangue, essas pessoas começaram a se tratar como estranhos. Eles não se entendiam uns aos outros e não
podiam comunicar-se uns com os outros. A raça humana foi dividida em nações distintas, que a partir de agora,
disputariam sua existência umas com as outras. Foram criadas diversas fronteiras entre os descendentes de Noé:
linguísticas, culturais e geográficas.

a) Linguísticas. Como punição, o Senhor confundiu a linguagem dos edificadores da torre de Babel, e assim
surgiram as diferentes línguas que o mundo possui atualmente. Nós não somos informados sobre como essa
confusão aconteceu. O que aconteceu foi que pessoas fisiológica e psicologicamente diferentes umas das outras
começaram a ver e a dar nome às coisas diferentemente, e, consequentemente, foram divididas em nações e povos,
e se dispersaram em todas as direções sobre toda a Terra. Devemos nos lembrar que essa confusão de línguas foi
preparada pela separação em tribos e famílias dos descendentes dos filhos de Noé (Gn 10.1ss). Diz o texto sagrado
que nos dias de Pelegue se repartiu a terra (Gn 10.25). Segundo a enciclopédia Ethnologue, considerado o maior
inventário de línguas do planeta, existem cerca de 6.912 idiomas em todo o mundo. Essa enciclopédia, editada
desde 1951, é uma espécie de bíblia da linguística, indicando quais são as línguas em uso, onde elas são faladas e
quantas pessoas usam o idioma. De acordo com os organizadores da enciclopédia, o total de línguas no planeta
pode ser até maior. Estima-se que haja entre 300 e 400 línguas ainda não catalogadas em regiões do Pacífico e da
Ásia. O idioma mais popular do planeta é o mandarim, o principal dialeto chinês, falado por algo em torno de 900
milhões de pessoas. Em segundo lugar aparece o híndi, a língua oficial da Índia, falada por cerca de 70% dos
indianos. O espanhol vem em terceiro lugar, o inglês em quarto e o nosso português em sétimo. Já imaginou se
todos falassem um único idioma? Não precisaríamos de intérpretes, nem de tradutores para testemunhar de Cristo
aos alemães, chineses e belgas. Inexistindo barreiras idiomáticas, sentir-nos-íamos mais irmanados. A
comunicação com os africanos e asiáticos fluiria sem dificuldades. O conhecimento poderia ser transmitido com
eficácia sem os perigos que representam as traduções apressadas e temerárias. Mas Deus, a fim de preservar a
espécie humana, achou bem confundir-nos a língua, para que o caos não fosse maior, afirma Pr. Claudionor de
Andrade.

b) Culturais. Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana após o juízo de Babel (Gn 11.9), naturalmente
que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até porque a língua é um fator fundamental na
formação de uma cultura e Deus confundiu as línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo.
Cada povo, uma língua, uma cultura e costumes bem característicos. As nações ali formadas, inicialmente isoladas,
passaram, pouco a pouco, a manter um contato que hoje é muito intenso e praticamente diário. Esta diversidade
gera nos seres humanos a sensação de que não existe um único modo de vida, uma única forma de se viver sobre a
face da Terra, a mesma impressão que toda criança sente ao ir para a escola e perceber que nem todas as famílias
têm o mesmo sistema de criação e educação que ela tem em casa. Esta sensação, porém, não pode, em absoluto,
levar-nos à conclusão de que não existem valores morais absolutos. A comunidade única pós-diluviana, de onde
provêm todas as nações, tinha como fundamento moral a principiologia divina, a conduta estabelecida por Deus ao
homem, desde o Éden, e que foi renovada a Noé (Gn 9.1-17), princípios que são denominados pelos estudiosos da
Bíblia de “pacto noético”, a saber: praticar a equidade, adorar e servir somente a Deus, não blasfemar o nome de
Deus, não praticar idolatria, imoralidades, assassinatos, roubos, honrar pais, não cobiçar os bens do próximo. A
diversidade cultural existe e é obra de Deus, mas a existência de valores morais universais, válidos para todos os
homens, pois são decorrentes de uma determinação divina a toda a humanidade, é também uma realidade presente
e inafastável.

c) Geográficas. Acrescente-se a essas dificuldades as fronteiras naturais: rios, mares, montanhas, vales, etc. Cada
povo com o seu território. Deus sabe o que faz. A rebelião contra Deus, ocasiona divisão entre os homens. Foi
assim deste o início, com o pecado de Adão e Eva, veio o primeiro homicídio, Caim mata Abel. No relato
diluviano, Deus decide destruir a humanidade por conta da violência.

4. A eleição de Sem. Após Deus espalhar a comunidade de Babel por toda a terra, Ele começa a Se concentrar em
um homem e, depois, em uma nação. Deus elegeu um homem, Abrão, com quem fez um pacto, deixando de lado
as demais pessoas, mas não totalmente, pois mostra que, através da vida dele, iria abençoar todas as famílias da
terra (Gn 12.3). O governo humano, teve uma duração de 427 anos, com início logo após o dilúvio e estendendo-se
até o chamado de Abraão, que se deu logo após a dispersão de Babel. Abrão era descendente de Sem, filho de Noé,
o qual pelo o respeitoso gesto que teve para com o seu pai, cobrindo-o quando ele ficou nu, foi abençoado por ele:
“E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn 9.26). Como eu disse
anteriormente, Deus abençoou Sem e a sua descendência como o povo que ia ser honrado com o serviço do Deus
vivo: o Tabernáculo, o Templo, as Escrituras Sagradas e, sobretudo, o Messias, o ato redentivo e a Igreja (o povo
de Deus da Nova Aliança). A história de Abraão começa logo após a dispersão de Babel (Gn 11.26-30). Com a
eleição de Sem, delineia-se mais claramente o período messiânico, que haveria de culminar em Jesus Cristo, o
Filho de Deus (Gn 9.26; Lc 3.23-38). Em sua infinita sabedoria, fez o Senhor duas coisas por ocasião da torre de
Babel: dispersou os filhos de Noé e, em seguida, chamou Abraão, para dar continuidade à linhagem messiânica, da
qual sairia Jesus, o Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus. Aqui é importante frisar que Noé amaldiçoa o
filho mais novo de Cam, Canaã, e a usa para fazer uma predição sobre a prosperidade dele. Basicamente a predição
é que os cananitas eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé. Em Gênesis 10.6 diz que
“Os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.”; e do verso 15 ao 20 diz: “Canaã gerou a Sidom, seu
primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos
arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E o limite dos
cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.
São estes os filhos de Cam, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações”.
Assim, não é correto afirmar que a maldição de Noé recai sobre os Africanos, já que o enfoque da narrativa é sobre
os ancestrais cananeus. Ora, em termos gerais, Cuxe é provavelmente o ancestral dos povos da Etiópia; Mizraim é
o ancestral dos egípcios; e Pute é o ancestral dos povos do norte da África, os líbios. Todos os povos citados em
Gênesis 10.15-18 eram habitantes de Canaã e proximidades, não da África. E a predição de Noé se tornou verdade
quando as nações cananitas foram expulsas pelos israelitas por causa de sua perversidade (Dt 9.4,5). Então a
maldição não recai sobre os povos africanos, mas sobre os cananitas! Ao descrever a genealogia de Sem, Israel
aprendeu como a geração que aquela geração que sobreviveu ao dilúvio estava relacionada ao próprio pai deles,
Abrão (v.26), mais tarde conhecido como Abraão (Gn 17.5). Em Gênesis 12, Deus coloca em ação um grande
plano redentor para todas as nações, para resgatá-las dessa e de qualquer outra maldição de pecado e julgamento.
Abrão foi chamado para abençoar todas as nações: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Notadamente, “Todas as famílias da terra” inclui
também as famílias cananitas! Então o que vemos é que, com Abraão, Deus está colocando em ação um plano de
redenção que derruba cada maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de Abraão, a saber, o perdão e a
aceitação de Deus que vem através de Jesus Cristo, a semente de Abraão (Gl 3.13,14).
SÍNTESE DO TÓPICO V
Deus interveio, confundiu a língua e dispersou os descendentes de Noé.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
"O paganismo estava indiretamente envolvido nesta história, pois havia um ímpeto construtivo em direção ao céu e
o único verdadeiro Deus foi definitivamente omitido de todo o planejamento e de todas as metas. Mas Deus não
estava inativo. Ele observava o que estava acontecendo e logo mostrou sua avaliação da situação. O homem não foi
criado como ser independente de Deus. Ser ‘à nossa imagem’ (1.26) significava que o homem estava dotado de
grandes poderes e que era totalmente dependente de Deus para sua essência de vida e razão de ser. […] O
julgamento de Deus logo manifestou estas ilusões. Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem
Deus, Ele introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o caos. O grande projeto
foi abandonado e a sociedade unida, mas sem temor de Deus, foi despedaçada em segmentos confusos. Em
hebraico, um jogo de palavras no versículo 9 é pungente. Babel (9) significa ‘confusão’ e a diversidade de línguas
resultou em balbucios ou fala ininteligível” (Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a Deuteronômio. Rio de
janeiro: CPAD, p.55).
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta lição, que a ideia de construir uma cidade e uma “torre cujo cume toque nos céus” foi uma
clara demonstração de rebelião do homem que tentou se colocar no lugar de Deus. É fato que uma moderna torre
de Babel está sendo construída atualmente através do globalismo com propostas de implantação de um governo
único no mundo. No entanto, temos a certeza a luz das Escrituras Sagradas, que, mais uma vez, o Senhor Deus
triunfará. As intenções de homens rebeldes na construção da “cidade e da torre de Babel” estão presentes hoje
quando o egoísmo, a autossuficiência e o orgulho impedem a submissão a Deus e a dependência d’Ele. Resultam
em civilizações poderosas, mas cruéis e inimigas do reino de Deus. O seu juízo final é descrito em Apocalipses
18.1-3. Não é por acaso que o anjo anunciará: “Caiu! Caiu a grande Babilônia” (Ap 18.2). A resposta do cristão a
tudo isso tem que ser como a de Cristo, que cumpriu a vontade do Pai até as últimas consequências (1Co 15.24-
28). Fazer a vontade do Pai é cumprir a grande ordenança de Cristo: “Ide, ensinai todas as nações, batizando-as
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!" (Mt 28.18-20). Não
há uma missão tão poderosa contra o globalismo do que a Evangelização. Os salvos por Cristo não podem
negligenciar essa ordem imperativa de Cristo (Mc 16.15). Porventura, permanecendo entre as paredes do templo,
deixando de evangelizar, não estaremos agindo como aqueles da cidade de Babel? Pense nisso! A fim de preservar
a sua obra, o Senhor Deus promulgou duas ordenanças quanto à sua criação. Em primeiro lugar, a povoação de
toda a Terra (Gn 9.7). E, por último, a Grande Comissão, através de Jesus Cristo: “É-me dado todo o poder no céu
e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até
à consumação dos séculos. Amém!” (Mt 28.18-20). Concluindo, de fato, assim como a expulsão do primeiro casal
do Éden foi um ato de amor e misericórdia de Deus, a fim de que o homem caído e propenso ao mal não tomasse
do fruto da árvore da vida e vivesse eternamente nesse estado caído, Babel trouxe à tona mais uma vez esse ato
bondoso do Criador, a fim de que aquela humanidade recém-recriada não fosse destruída! Interessante, não?
Geralmente pensamos nesses dois fatos como punitivos, quando na verdade não o são! Quanto à Grande Comissão,
é a ordem que Jesus deu para ir e fazer discípulos em todo o mundo. A Grande Comissão é uma ordem para todos
os crentes. Não foi dada para combater o globalismo, nem as trevas, ou os caprichos de Satanás. A Grande
Comissão é uma obra evangelizadora e discipuladora. Ela objetiva implantar o reino de Deus fazê-lo expandir-se
pelos confins da terra! Não é uma guerra entre dois reinos, ou entre ideologias! É uma missão gratificante que
‘pesa’ sobre nós, nos tornando cooperadores na obra do Reino, a fim de ‘apressarmos’ a volta do Rei! Somos
enviados ao mundo levando a mensagem gloriosa de que o Pai enviou o Filho para ser o Salvador do mundo, e,
com esse propósito, fazer expiação pelos nossos pecados e nos dar a vida eterna (1Jo 4.9,10,14). Na verdade, ele
mesmo disse que havia vindo para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Assim, nossa motivação para Missões
não pode ser Contra o globalismo, cuja missão é submeter o mundo aos caprichos de Satanás, só mesmo a
obediência aos termos da Grande Comissão. Evangelização e missões, já. Maranata, ora vem, Senhor Jesus.

“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração;
porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jr 15.16). “Corramos, com perseverança, a
carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...” (Hb 12.1,2).
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade”. (2Tm 2.15). “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos
irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade,
domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”. (Jd 24,25),

Naqu’Ele que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef
2.8)”,

Cor mio tibi offero,


Domine, prompte et sincere!
Soli Deo Gloria

“Ommia Autem probate, quod bonum este tenete...”


“Examinai tudo. Retende o bem...” (1Ts 5.21)

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade” (2Tm 2.15). “Quero que sejam sábios a respeito do que é bom e não tenham nada a ver com
o que é mau” (Rm 16.19). Sou apenas "um caco dentre outros cacos de barro" (Is 45.9)

Àquele que é “âncora da alma, segura e firme” (Hb 6.19)

“Porque ninguém pode ser dono absoluto do conhecimento”

“Ipse scientia potestas est”


“Conhecimento é poder”
APLICAÇÃO PESSOAL
As intenções de homens rebeldes na construção da “cidade e da torre de Babel” estão presentes hoje quando o
egoísmo, a autossuficiência e o orgulho impedem a submissão a Deus e a dependência d’Ele.
SUBSÍDIO ENSINADOR CRISTÃO
O Primeiro Projeto de Globalismo

Há pessoas tão ricas e poderosas que acreditam piamente que podem influenciar e, até mesmo, determinar fatos no
mundo. Isso não é novo, pois as Escrituras revelam homens que intentaram construir um “mundo particular” em
que Deus não faria mais parte dele. Seria o primeiro projeto global de poder narrado em Gênesis e denominado de
a Torre de Babel. Nesta oportunidade, queremos evidenciar que o globalismo afronta os propósitos de Deus no
mundo. Esse é o nosso ponto central da lição. Todos os outros objetivos convergem para isso. Nesse sentido, o
primeiro objetivo específico de nossa lição é apresentar a segunda civilização humana a partir de Noé, pois é a
partir de nosso querido patriarca que os seres humanos se multiplicam no mundo. O segundo, explicar o
globalismo de Babel, no que ele consistiu e se ele foi bem-sucedido no seu intento. O terceiro é mostrar, que a
despeito da rebelião do ser humano, Deus intervém em sua história como fez no episódio da Torre de Babel.

Resumo da lição e perspectivas. Para apresentar a segunda civilização humana a partir de Noé, o primeiro tópico
mostra que o filho mais novo do patriarca rebelou-se e inaugurou outro período de decadência e apostasia aos
mandamentos divinos. Sim, a segunda civilização humana, a que veio depois da geração do dilúvio, seria marcada
pela decadência e apostasia. Uma sociedade que, de maneira deliberada, afrontaria os planos de Deus. Para
explicar o globalismo de Babel, no que ele consistiu, o segundo tópico informa que a civilização de Noé dispunha
de grandes elementos para forjar uma sociedade globalista: uma só língua, um só povo e uma só cultura. Era tudo o
que aquela sociedade precisava para se fechar em si mesma e dar seguimento ao mais ousado plano de poder global
no mundo. Deus não assistiria a esse plano de maneira passiva. Assim, para mostrar que Deus interviu no episódio
da Torre de Babel, contra a rebelião dos homens, o terceiro tópico destaca que a intervenção divina consistiu na
confusão de língua, fazendo gerar a partir desse fenômeno várias outras línguas e, consequentemente, a dispersão
dos descendentes de Noé. Deus continua soberano no mundo. Ainda que os intentos humanos tenham aparência de
resiliência, eles duram até o próprio Deus intervir soberanamente.
SUBSÍDIO LIÇÕES BIBLICAS

O Primeiro Projeto de Globalismo


A verdade prática permite compreender que o globalismo afronta os propósitos de Deus quanto ao povoamento e
ao governo da Terra. Sendo que a verdade prática corrobora com o texto áureo, que assim está escrito: Por isso, se
chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor
sobre a face de toda a terra. Earl D. Radmacher, Ronaldo B. Allen e H. Wayne House assim prescrevem sobre
Gênesis 11.9: Há um trocadilho com o nome Babel que nenhuma pessoa que soubesse os idiomas antigos
ignoraria. Isso porque o termo vem de uma raiz primitiva [badal] que significa confundir. Em hebraico, a palavra
badal soa similar ao nome da cidade, babel. A principal cidade do antigo paganismo (a Babilônia) é meramente
um lugar de confusão, porque ali o Senhor confundiu as línguas. Assim, Babel e Babilônia servem como um
símbolo na Bíblia para atividades direcionadas contra Deus pelas nações do mundo (Ap 17). A presente lição tem
como objetivo geral: Evidenciar que o globalismo afronta os propósitos de Deus no mundo. E como objetivos
específicos: Apresentar a segunda civilização humana a partir de Noé; Explicar o globalismo de Babel; Expor a
intervenção de Deus em Babel.

1. A segunda civilização humana. Deus faz aliança com Noé em não destruir a Terra por causa do homem e nem
mesmo utilizar o dilúvio para reiniciar a civilização humana (Gn 8.21,22; 9.11). A terrível devastação da terra
causada pelo Dilúvio nunca mais se repetiria. Isto era uma boa notícia; a má era que Deus sabia que a condição do
ser humano não havia mudado: a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice. Esta foi o mesmo
motivo que no passado levou Deus a enviar o Dilúvio (Gn 6.5). Contudo, Deus agora promete que este juízo
esmagador não se repetiria; não até o julgamento final (2Pe 2.5). Os descendentes de Sete foram induzidos pelos
descendentes de Caim a pecarem contra Deus, assim também ocorreu com os descendentes de Sem e Jafé que
foram influenciados pelos descendentes de Canaã. Cam por ser irreverente a seu pai proporcionou sofrimento aos
seus descendentes que no contexto histórico Bíblico tornaram-se inimigos do povo eleito. O mandamento cultural
no que corresponde a multiplicação foi cumprido, porém, já a parte que se tratava do encher a terra, não foi
atendido pelos descendentes de Noé. Apesar de sua prodigiosa multiplicação, os filhos de Noé ignoraram a ordem
divina quanto à povoação da Terra (Gn 9.7). Ao invés de se espalharem, aglomeraram-se perigosa e
irresponsavelmente num só lugar.

2. O globalismo de Babel. A ideia de uma sociedade global esta presente em toda narrativa histórica da
humanidade, porém para os estudiosos da história Bíblica a origem da ideia da globalização não como unidade,
mas como unificação vem desde os dias de Ninrode, neto de Cam, um dos filhos de Noé, que conduziu a sua
geração a desprezar a Deus com o propósito da criação de uma torre. Sobre Ninrode escreveu Josefo: “Ao mesmo
tempo valente e corajoso, persuadiu-os de que deviam unicamente ao seu próprio valor, e não a Deus, toda a sua
boa fortuna. E, como aspirava ao governo e queria que o escolhessem como chefe, abandonando a Deus,
ofereceu-se para protegê-los contra Ele (caso Deus ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma torre
para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe ao cimo como ainda ele vingaria a
morte de seus antepassados”.

3. A intervenção de Deus em Babel. Ninrode tinha como objetivo governar de maneira unificada os homens.
Desejo que não era por Deus aprovado, logo, o Senhor interferiu na construção da torre de Babel com a confusão
das línguas. Com a confusão das línguas, cada grupo passou a se organizar conforme a nova realidade linguística,
fato que diretamente os forçaram a se espalharem pela terra. Que era o propósito inicial de Deus para com os
homens. Portanto, a intervenção de Deus nos fatos históricos no que corresponde ao período em apreço se dá
também na chamada de Deus a Abraão, descendente de Sem. “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e
da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e
abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.1-3). De Sem,
Abraão, Davi e outros tantos, o propósito final de Deus era a encarnação do Verbo, cujo objetivo é a salvação da
humanidade.
PARA REFLETIR
• O que foi a segunda civilização?
Após o Dilúvio, o Senhor firmou uma nova aliança com Noé. E, assim, o patriarca deu início à segunda civilização
humana.

• Em que consistiu a apostasia de Cam?


O episódio da vinha de Noé acabou por revelar a irreverência de Cam, o seu filho caçula.

• Quem foi Ninrode?


Ninrode, filho de Cuxe e neto de Cam (Gn 10.6-9). Ele é descrito como “poderoso caçador diante do Senhor”.
• O que Deus fez para a salvar a humanidade de si mesma?
Para salvar a humanidade de si mesma, Deus interveio, confundindo-lhe a língua.

• Para que Deus chamou Abraão?


Deus chamou Abraão, para dar continuidade a linhagem messiânica, da qual sairia Jesus, o Cristo, Verdadeiro
Homem e Verdadeiro Deus.

Você também pode gostar