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Cosmovisão Reformada
Nesta passagem bíblica, subjazem algumas verdades que devem ser apenas
esboçadas:1
1) Deus é o Ser eterno que antecede a toda criação. Não há simbiose. A matéria
não é eterna. Deus se distingue da criação (retirei algumas palavras daqui, É
preciso corrigir os demais textos). Aqui não há espaço para nenhum tipo de
Deísmo (Deus distante da Criação), Panteísmo (Deus se confunde com a
matéria), Teísmo Finito (Deus é bom mas, limitado pelo mal) ou Panenteísmo
(Deus e o mundo são eternos): “Ele mesmo julga (jp;v) (shaphat) o mundo
com justiça; administra (!yD) (diyn)2 os povos com retidão (rIv'yme.)
(meshar)”3 (Sl 9.8). 4
1
Para um tratamento mais completo dessas questões, veja-se, conforme já indicado: Hermisten M.P. Costa,
Fundamentos Pressuposicionais da Teologia Reformada: Apontamentos teóricos e práticos, Goiânia, GO.:
Editora Cruz, 2022.
2
No cântico de Ana, há a declaração do governo de Deus sobre “as extremidades da Terra”: “Os que
contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O SENHOR julga (!yD) (diyn)
as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido” (1Sm 2.10). A Palavra enfatiza
o domínio de Deus sobre todos os povos; todas as nações da Terra. “Ele julga (!yD) (diyn) entre as nações;
enche-as de cadáveres; esmagará cabeças por toda a terra” (Sl 110.6). Isto deve ser proclamado entre as
nações: O nosso Deus não é de uma cultura ou de um povo, antes é o Rei; e como tal, juiz de todas as
nações: “Dizei entre as nações: Reina o SENHOR. Ele firmou o mundo para que não se abale e julga (!yD)
(diyn) os povos com equidade” (Sl 96.10).
3
A palavra retidão significa, entre outras coisas: Sinceridade (1Cr 29.17); Equidade (Sl 17.2; 96.10;
98.9; 99.4; Pv 1.3; 2.9); Retamente (Sl 75.2); Coisas retas (Pv 8.6; 23.16); Suavidade (Pv 23.31; Ct
7.9); Caminho plano (Metaforicamente) (Is 26.7); Reto (Is 33.15); Direito (Is 45.19); Concórdia (Dn
11.6).
4
Veja-se: W. Gary Crampton; Richard E. Bacon, Em Direção a uma Cosmovisão Cristã, Brasília, DF.:
Monergismo, 2010, p. 93-106; Cosmovisão: In: Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética, São Paulo:
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4) Nada pode existir sem que tenha sido criado por Deus (Jo 1.3), os Céus e a
Terra são obras de Deus. Não há independência fora de Deus.
Jó 26.7: Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada.
Salmo 148.1-5: Aleluia! Louvai ao SENHOR do alto dos céus, louvai-o nas alturas. 2
Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes. 3 Louvai-o, sol e
lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. 4 Louvai-o, céus dos céus e as águas que estão
acima do firmamento. 5 Louvem o nome do SENHOR, pois mandou ele, e foram criados.
Mateus 19.4-5: 4 Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio,
os fez homem e mulher 5 e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se
unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?
Lucas 3.38: Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de
Deus.
João 1.1-5: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2
Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e,
sem ele, nada do que foi feito se fez. 4 A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.
5
A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
Romanos 1.20,25: 20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder,
como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do
mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por
isso, indesculpáveis (...). 25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando
e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Colossenses: 1.16-17: 16 pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer
potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17 Ele é antes de todas as coisas.
Nele, tudo subsiste.
Hebreus 1.1-2: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
14
Quanto à distinção dos nomes empregados para Deus nas primeiras narrativas de Gênesis, Veja-
se, entre outros: Gleason L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, São Paulo: Vida
Nova, 1974, p. 130-135, especialmente, p. 132-133. Para um estudo mais detalhado a respeito dos
nomes bíblicos usados para Deus, entre uma ampla bibliografia disponível, vejam-se: Herman
Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 97-150;
Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 155ss.; p. 159ss.; H. Bietenhard,
o(noma, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand
Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 5, p. 242-283.
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Apocalipse 4.11: 11Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o
poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e
foram criadas.
A questão é sempre dependente de saber em qual ponto fixo a minha base para
mover as ideias e ações. Para nós cristãos, o ponto de partida não é intrínseco ou
imanente, antes extrínseco ou transcendente: O Deus transcendente e pessoal que
se revela e se relaciona conosco.
Que o eterno Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do nada criou o céu e
a terra com tudo que neles há, que também os sustenta e governa pelo seu
Filho – meu Deus e meu Pai. Confio nele tão completamente que não tenho
nenhuma dúvida de que Ele proverá de todas as coisas necessárias ao
corpo e à alma.
Este Deus bom e onipotente criou todas as coisas, visíveis e invisíveis, pela
sua Palavra coeterna, e as preserva pelo seu Espírito coeterno, como Davi
testificou, quando disse: “Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro
de sua boca o exército deles” (Sl 33.6).
Por outro lado, se redigisse o relato da Criação de forma científica absoluta, que
certamente não era a dos egípcios e, também, não é a nossa, pergunto:
entenderíamos hoje o que ele teria dito? A resposta é não. As Escrituras
continuariam sendo ridicularizadas, nesse caso, simplesmente, pela nossa
ignorância científica. A linguagem descritiva dos fatos conforme se apresentam à
nossa percepção, é o melhor modo de tornar algo compreensível a todas as épocas.
Assim, Deus se designou fazer e o fez.
Moisés registra que foi acabada a terra e acabados os céus, com todo o
exército deles (Gn 2.1). Que vale ansiosamente indagar em que dia, à parte
das estrelas e dos planetas, hajam também começado a existir os demais
exércitos celestes mais recônditos, quais sejam os anjos? Para não alongar-
me em demasia, lembremo-nos neste ponto, como em toda a doutrina da
religião, de que se deve manter a só norma de modéstia e sobriedade, de
sorte que, em se tratando de cousas obscuras, não falemos, ou sintamos,
ou sequer almejemos saber, outra cousa que aquilo que nos haja sido
ensinado na Palavra de Deus. Ademais, impõe-se, ainda, que no exame da
Escritura nos atenhamos a buscar e meditar continuamente aquelas cousas
que dizem respeito à edificação, nem cedamos à curiosidade, ou à
investigação de cousas inúteis. E, porque o Senhor nos quis instruir não em
questões frívolas, mas na sólida piedade, no temor do Seu nome, na
verdadeira confiança, nos deveres da santidade, contentemo-nos com este
21
conhecimento.
Portanto, nós não temos medo dos fatos porque sabemos que os fatos são de
Deus. Nem temos medo de pensar porque sabemos que toda verdade é verdade de
21
João Calvino, As Institutas, I.14.4.
22
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 20.
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Ele [Deus] não ensinou astronomia ou química aos homens, porém Ele deu-
lhes os fatos externos sobre os quais aquelas ciências são construídas.
Tampouco ensinou-nos teologia sistemática, porém Ele deu-nos na Bíblia
as verdades que, propriamente compreendidas e organizadas, constituem a
24
ciência da Teologia.
23
Veja-se: J.I. Packer, “Fundamentalism” and the Word of God, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1988
(Reprinted), p. 34.
24
Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Wm. Eerdmans Publishing Co. 1986, v. 1, p.
3. Do mesmo modo Calvino escrevera: “O Espírito Santo não teve intenção de ensinar astronomia; e, com o
propósito de instruir procurou ser comum às pessoas mais simples e iletradas. Ele fez uso de Moisés e de
outros Profetas que empregaram uma linguagem popular, de tal modo que ninguém poderia se abrigar sob o
pretexto de obscuridade, como nós às vezes vemos muito prontamente homens fingindo uma incapacidade
para entender, quando qualquer coisa profunda ou misteriosa é submetida à sua consideração” (John Calvin,
Commentary on the Book of Psalms, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House (Calvin’s Commentaries,
v. 6/4), 1996 (Reprinted), (Sl 136.7), p. 184-185).