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Uma das principais afirmações da Bíblia é que Deus criou todas as coisas. A criação
revela a glória de Deus (Sl 19.1), o poder de Deus (Jr 10.12) e a inteligência de Deus (Jr 10.12;
Pv 3.19). O Senhor “é o Criador de todas as coisas” (Jr 10.16; cf. Jo 1.3; Cl
1.16).
Quando afirmamos que Deus criou tudo o que existe, estamos expressando nossa fé e
confiança Nele: “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus,
de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hb 11.3 – NVI).
No Antigo Testamento, não existe uma palavra hebraica para “universo”. Os antigos
hebreus usavam a expressão “céus e terra” para se referirem à totalidade das coisas
criado por Deus, empregavam os termos gregos aion (“mundos”, “universo” – Hb 11.3)
ocorrida por acaso, mas sim, é resultado da ação poderosa do Deus justo e amoroso, que
criou todas as coisas segundo a sua vontade (Ap 4.11). O Universo não é regido por
forças cegas e impessoais, mas pela mão poderosa do Deus pessoal que controla todas
as coisas para que seus propósitos sejam plenamente cumpridos. E o Deus único
interage com sua criação, e espera que os homens se submetam à sua vontade.
existem leis e normas morais absolutas, que foram estabelecidas por esse mesmo Deus.
existisse Deus, ou se Deus simplesmente tivesse criado o mundo para ser governado por
leis próprias sem sua intervenção poderosa e milagrosa, então não haveria um padrão
supremo para estabelecer as normas da ética e da moral, e o homem mesmo é que seria
o autor dos valores morais.
A doutrina da criação também é importante porque ela aponta para a redenção. Criação
e redenção são duas doutrinas que não podem ser desvinculadas. A Bíblia começa
falando a respeito da criação (Gn 1.1), e terminando afirmando a nova criação (Ap
21.1), que será a consumação final da redenção de Deus. O profeta Isaías, nos capítulos
40 – 55, desenvolve tanto o tema da criação como o da redenção. Para ele, o Deus que
criou o mundo é o Deus que salva; o Deus que formou Israel é o Deus que pode redimir
Israel do cativeiro babilônico (Is 43.1; 44.24; cf. 44.1-8). O Deus Criador é o Deus
Redentor. Ele tem poder para salvar justamente porque ele tem poder para criar. No
final do seu livro, Isaías afirma que, se Deus criou os céus e a terra, ele também tem
poder para criar novos céus e nova terra (cf. Is 65.17). Assim, o Senhor nos estende o
seguinte convite: “Alegrem-se... e regozijem-se para sempre no que vou criar” (Is 65.18
– NVI).
A criação e a ciência
apresentam uma linguagem científica. Isso porque a Bíblia não foi escrita para
não fala sobre as leis da ciência, mas sobre o Deus criador. Além disto, a ciência e a
evidenciar como o Universo surgiu, a Escritura se preocupa em apresentar por que Deus
o fez.1
que normalmente acirra o debate entre a ciência e fé: a questão idade da terra. De
acordo com ciência, o Universo tem bilhões de anos. Mas, se procedermos com uma
4 Desde que os pressupostos do cientista não sejam controlados por filosofias humanistas
e/ou ateístas, e
desde que os pressupostos dos teólogos não sejam controlados por ideias que
preponderantemente querem
contagem literal das idades das pessoas apresentadas nas genealogias de Gn 5 e 10, e
relacionando essas genealogias com a criação do mundo em seis dias (Gn 1),
chegaremos à conclusão de que a terra tem aproximadamente seis mil anos. Entretanto,
é importante ressaltar que não existem informações suficientes na Bíblia que nos
não permitem uma datação exata da história da humanidade. Além disto, muito antes da
criação em seis dias (Gn 1.3 – 2.3), vários elementos já existiam: “céus e terra” (1.1),
“trevas” e “águas” (1.2). Ou seja, a criação dos céus e da terra (1.1) ocorreu em um
tempo não determinado. Na verdade, o que lemos em Gn 1.3 – 2.3 é a organização dos
tempo entre Gênesis 1.1-2 e Gn 1.3. Desse modo, não é possível datar a idade da terra
pela Bíblia. Portanto, nesse caso, afirmação da ciência sobre a antiguidade da terra não
É importante também considerar que os dados da ciência não podem ser considerados
como fixos e inalteráveis, pois, na verdade, eles são hipotéticos e sujeitos a serem
alterados por novas pesquisas. Por outro lado, a Bíblia é a Palavra de Deus que
A narrativa de Gn 1 foi escrita com o propósito de mostrar que a criação é obra do Deus
único e verdadeiro. O texto não foi escrito para confrontar a ciência e o naturalismo,
mas foi escrito para mostrar que o mundo não é resultado de uma briga entre os deuses
(como dizia a Enuma Elish, uma antiga narrativa babilônica a respeito da criação).
O Deus que é único criou todas as coisas. Ou seja, não existem deuses criadores.
A narrativa de Gn 1 afirma que todas coisas foram organizadas pela palavra de Deus.
Antes da fala criadora de Deus, a “terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a
face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” (Gn 1.2). As
expressões “sem forma e vazia” e “trevas” descrevem “a realidade que ainda não fora
luz e a separação entre luz e trevas são o primeiro ato criador de Deus, no primeiro dia
(v.3). Por toda a Escritura, podemos notar que a luz simboliza a presença de Deus, e as
trevas representam o mal praticado pelos homens (Sl 18.28; 82.5; 89.15; Pv 4.18,19;
criou ordem do caos, e separou a luz das trevas, e mesmo as trevas e o caos estão
Uma afirmação muito importante em Gn 1.2 é o poder absoluto de Deus sobre o caos. O
verbo “pairar” (hebr. rahap) transmite a imagem de uma águia cuidando dos seus
narrativas do Antigo Oriente Médio para denotar deuses maus que detinham o poder do
mal, e por extensão, referia-se àquilo que ameaça a existência humana. De acordo com
110.
essas narrativas mitológicas, o poder caótico era vencido pela luta dos deuses bons. A
revoltas não estão sendo controladas por deuses maus, mas pelo Espírito de Deus.
habitável. De fato, o Senhor não criou a terra “para ser um caos, mas para ser
habitada”
(Is 45.18).
elementos8
(v.3-4)
noite (v.14-19)
preenchem os céus e a terra. Podemos observar que a ordem emerge do caos por
meio
A relação entre o primeiro dia e o quarto dia. Será que o texto está ensinando que a
luz
surgiu antes do sol? Lembremos mais uma vez que o propósito do texto não é ensinar
ciência. “Se o primeiro dia narrou a criação da luz e seu resultado imediato – a
distinção
entre dia e noite – o quarto dia retorna ao mesmo evento, para narrar a obra da
criação
que estava por trás dos resultados do primeiro dia. Uma estrutura de recapitulação
explicaria porque os primeiros três dias parecem dias comuns, sem a inferência de
que
eles existissem sem o sol.”10 Bruce K. Waltke esclarece que os eventos da criação
não
são cronológicos, como se o evento do primeiro dia (criação da luz) viesse antes do
evento do quarto dia (criação do sol), e com isto, o autor bíblico quer enfatizar um ponto
teológico, qual seja, “Deus não depende dos luminares”.11 Bruce completa: “A
Deus quem criou tudo e exerce domínio sobre tudo, inclusive os oceanos, sol e lua.”12
Médio, que afirmavam que os astros celestes (sol, lua e estrelas) são seres divinos.
Para
o autor bíblico, esses astros são simplesmente criação de Deus. Eles não são seres
Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto
nela
há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército
dos
existência dela. Incluído aqui está o socorro de Deus para com os seus servos, que é
uma forma de preservação, mesmo em meio à dor e aflição”.22 A relação entre a ação
criadora de Deus e sua providência pode ser observada no salmo 104. Nos v.1-9, o
salmista descreve o ato criador de Deus. E nos v.10-15, ele descreve o constante
sede.
12 As aves do céu fazem ninho junto às águas e entre os galhos põem-se a cantar.
13 Dos seus aposentos celestes ele rega os montes; sacia-se a terra com o fruto das
tuas obras!
14 É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para
15 o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão
“Em tudo isso, o leitor pode ver a graça sustentadora de Deus, que não deixou suas
Senhor é o Rei que “domina sobre tudo o que existe” (Sl 103.19). Isso significa que
todas as coisas estão debaixo do poder soberano de Deus. Até mesmo o mal e as
ações
pecaminosas dos homens estão debaixo da soberania de Deus (Êx 4.21; 1Rs 22.19-
22;
Pv 16.4,9; 21.1; Is 10.15; 45.7; 63.17; Jr 10.23; Am 3.6; Mt 8.31; At 2.23; Rm 9.18), e
Deus pode usar até mesmo os ímpios para que seus propósitos sejam cumpridos (Is
48.28; 10.5; Hc 1.6; At 1.16; At 4.24,27). Misteriosamente isso ocorre sem anular o
livre arbítrio humano para ações pecaminosas (Êx 8:32; Dt 30.15-18; 31.18; Jr 2.17;
Am 2.4; At 2.23). Por isso, os homens são responsáveis por suas atitudes
pecaminosas
(Is 10.12; Jr 2.19; Am 1- 2). Portanto, Deus não é autor do mal e não induz ninguém à
tentação (Tg 1.13,14; cf. 1Jo 2.16). Millard J. Erickson acertadamente afirma que24:
Deus nem sempre impede o pecado (At 14.16; Rm 1.24,26,28; cf. Mt 19.8);
Deus pode direcionar o pecado para a consumação dos seus planos e pode
Deus pode limitar o pecado e os atos maus (Jó 1.12; 2.6; 1Co 10.13).
Alguns teólogos acham que Deus não tem pleno poder sobre mal. No entanto, como
afirma corretamente Jerry Bridges, “se existe um único evento em todo o universo que
é
capaz de acontecer fora do controle soberano de Deus, então não podemos confiar
nEle.”25 Bridges exemplifica isso da seguinte maneira: “Posso amar você e meu alvo
de
honrar sua confiança pode ser sincera, mas seu eu não tiver o poder ou habilidade de
O soberano controle de Deus sobre a criação, inclusive seu governo sobre o mal, traz
grande conforto e segurança para os crentes. “Sabemos que Deus age em todas as
coisas
para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu
propósito” (Rm 8.28 – NVI). Como afirma o profeta Isaías: “Desde os tempos antigos
ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti,
que trabalha para aqueles que nele esperam” (Isaías 64:4 – NVI).
Deus governa todas as coisas, para que seus propósitos eternos sejam plenamente
cumpridos. Nada acontece por acaso. Deus age a fim de que em todas as coisas o
“beneplácito de Sua vontade” seja cumprido (Ef 1.5), e a fim de que o seu supremo
propósito para esse mundo redunde em “louvor da Sua glória” (Ef 1.12).
De acordo com Gn 1.28, Deus abençoou o ser humano, e lhe deu a seguinte ordem:
sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” O
verbo
“sujeitar” (hebr. kabash) não tem o sentido de “escravizar” ou “violentar”, mas sim,
exercer o domínio sobre a criação. Isso é afirmado no verbo seguinte, “dominar”, que
e semelhança de Deus, foi colocado por Deus sobre a criação para representar Deus.
O
homem exerce o domínio e a autoridade de Deus sobre a criação, o que significa dizer
que ele representa os interesses de Deus sobre a criação, e não os seus próprios
Em Gênesis 2.15, lemos que Deus colocou o homem no jardim do Éden “para o lavrar
e guardar” (ARA). O primeiro verbo, “lavrar”, é a tradução do hebraico ‘abad, que
significa “servir” ou “trabalhar”. “No contexto de Gênesis 2, a palavra indica que o ser
que, “ao utilizar a terra para produzir o sustento, o homem devia ser prudente na forma
de usá-la”29
No entanto, conforme estudamos, Deus não somente criou todas as coisas, como
também sustenta todas as coisas com seu poder. Toda a criação está submetida ao
governo de Deus. Nada acontece por sorte ou acaso. A boa mão de Deus controla
todas
as coisas a fim de que seus propósitos sejam plenamente cumpridos e seu Nome seja
amplamente glorificado.
Deus é soberano. E por isso que podemos confiar nele. O Senhor que “fez os céus e a
terra” sempre está pronto para socorrer poderosamente aqueles que esperam por ele
(Sl
121.1,2).