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Lição 4 – Perguntas 9 e 10 do Breve Catecismo de Westminster

Introdução:
A questão da origem do universo, da terra e do ser humano, é ponto de controvérsia e
polêmica não só teológico, mas também filosófica e científica. A doutrina da criação traz
respostas a algumas das perguntas que movem a humanidade, tais como, de onde viemos, por
que existimos, existe algo além da matéria física? Muitas são as respostas apresentadas a estas
perguntas, mas a única reposta que tradição cristã aceita é a criação ex nihilo (a partir do
nada).
A doutrina da criação é tão importante que certa vez um teólogo disse: se uma pessoa
aceitar: “No princípio Deus”, será possível que ela venha a crer em todo o restante da revelação
bíblica pela fé. Por isso, passemos ao BCW.

Pergunta 9 – O que é a obra da criação?


A obra da criação é aquela na qual Deus fez todas as coisas do nada 1, no espaço de
seis dias2, e tudo muito bom3.

1 – Em Gênesis 1:1 lemos: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. E m todo o restante do
capítulo aprendemos que Deus é o autor de tudo o que existe. Mas aqui há algumas palavras
muitos importantes a serem observadas.

Tudo teve um início e foi criado do nada


O que significa a expressão “no princípio”? Que ao contrário do que ainda acredita
muitos cientistas, a terra e todo o universo não são eternos. Eles tiveram um começo.
E o que aprendemos com a palavra “criou”? A palavra hebraica barah revela o conceito
de criação ex nihilo, ou seja, do nada. Já expressão “céus e terra” complementa e explica porque
Deus “criou” (barah) do nada. A expressão “céus e a terra”, conforme explica um teólogo, “não
tem o propósito de designar somente esses elementos. É uma expressão idiomática que serve como
referência a tudo” que foi criado (T.S, Erickson p. 367). A Escritura, em diversos lugares nos ensina
com clareza que “nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra” (Cl 1:16, cf. Ef 3:9, Ap 4:11). Isso deixa
claro que a criação de todas as criaturas e de toda a matéria se deram no momento exato que
Deus começou a criar. E isso se confirma no Salmos 33:6 “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro
de sua boca, o exército dos céus”.

Já Hebreus 11:3, por sua vez, nos diz que todo o universo visível veio a existir do que não se via.
Tudo veio a existir da palavra de Deus e não de qualquer matéria preexistente, “[...] o universo foi formado
pela palavra de Deus, de maneira que o invisível veio a existir das coisas que não aparecem” .

Estes textos nos provam que o universo e tudo o que nele há, na terra e nos céus, as visíveis e
invisíveis, principados, soberanias e potestades (Cl 1:16), tiveram um começo a partir da palavra de
Deus. Portanto, o universo não criou a si mesmo, ele não é auto existente. Tudo o que há, deve a sua
existência a Deus. Tudo é dependente de Deus. Por isso, todas as tentativas do homem viver
independente de Deus são tolas e fracassadas. Tudo o que existe pertence a Deus, “pois, nele, foram criadas
todas as coisas [...] tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1:16). Mas não só isso, pois Deus não abandonou
sua criação, pelo contrário, ele continua a sustentando pela mesma palavra de poder com que criou
todas as coisas, “Ele [Jesus Cristo], que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser [de Deus], sustentando
todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1:3) . Sendo assim, o homem pode até dizer que não crê, pode
espernear e fazer beicinho, mas nada muda a verdade de que cada ser criado pertence a Deus que o
criou e é por Ele sustentado.

Mas, e a ciência e a teoria da evolução?


A teoria da evolução é algo relativamente novo, surgido somente no século XVIII.
Como o nome explica, essa é uma teoria e não um fato. Ela afirma que toda a vida harmônica
e complexidade que existem no universo surgiram como fruto do acaso. Os defensores desta
teoria dizem que a ordem, beleza e padrões que se se contempla no universo é fruto de
milhões ou bilhões de anos de evolução do caos para a ordem, porém, as Escrituras não falam
em termos evolutivos. Em Genesis 1:11,24 vemos que a árvores e os serem viventes deveriam
produzir sementes e frutos “segundo a sua espécie”, “Produza a terra relva, ervas que deem frutos segundo a sua

espécie [...] Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie” . Os seres não evoluíram, foram criadas
complexas como são.
É importante dizer que os cristãos não devem ter uma atitude contrária a ciência, pois,
estudar a criação é fazer ciência, e fazer ciência é conhecer a criação do nosso Deus e, por
conseguinte, conhecer ao próprio Criador. Tenha em vista que grandes cientistas do passado
foram cristãos responsáveis por muitas das maiores descobertas e invenções do mundo.
Porém, infelizmente, também é necessário dizer que a ciência moderna abandonou seu curso
investigativo e enveredou por caminhos ideológicos. Isso fica provado pelo fato de famosos
cientistas terem tentado forjar provas para sustentar a teologia da evolução. Casos famosos
são as falsas evidencias do homem de Neandertal e do homem de Java. Por isso devemos ter
alguma reserva.
Diante desse debate, como o cristão pode saber definitivamente que a descrição das
Escrituras sobre a criação é verdadeira? O autor de hebreus nos dá a resposta dizendo que :
“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que
não aparecem” (Hb 11:3).
Ainda que a própria ciência arqueológica esteja gradativamente provando todas as
verdades bíblicas, ainda sim, o fundamento da nossa convicção de que tudo veio a existir pela
obra poderosa, majestosa, livre e graciosa de Deus continua sendo a fé na Palavra de Deus.

Porque e para que Deus criou todas as coisas


Sabemos que Deus estava satisfeito em sua relação trinitária, e por isso, não precisava
criar, contudo criou. Porém, além da sua própria glória, Ele não nos apresentar outro motivo.
Contudo sabemos que Ele criou por boas e suficientes razões, e a criação cumpre seu
propósito.
Provérbios 16:4, por exemplo, nos diz que “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins” . Em
Romanos 1:20 Paulo nos explica que alguns dos propósitos de Deus ao criar eram manifestar seus
atributos invisíveis na criação, seu eterno poder e sua própria divindade para que todos os
incrédulos se tornassem indesculpáveis para o dia do juízo. Mas é quando lemos Apocalipse 4:11,
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas criaste, sim, por causa da

sua vontade vieram a existir e foram criadas” , que fica claro que Deus criou tudo o que há por sua livre e
graciosa vontade, e, por isso, tudo o que existe lhe deve glória, honra e louvor. Por isso o
salmista lembra a criação que “todo ser que respira, louve ao Senhor” (Sl 150:6).
Com isso aprendemos que Deus fez todas as coisas para Si mesmo, isto é, para
manifestar a Sua própria perfeição e glória a tudo o que foi criado, para que pudéssemos
participar da sua glória.

2 - A idade da criação
Quanto tempo Deus levou para fazer todas as coisas? As Escrituras nos ensinam que
tudo foi feito num espaço de seis dias. Esse é um tema disputado no meio cristão. Alguns
afirmam que foram seis dias literais de 24 horas de duração cada. Mas outros resistem a essa
ideia, visto que somente no quarto dia da criação é que o sol e a lua vieram a existir, portanto,
seria difícil entender um dia de 24 horas sem a existência do sol e da lua.
O sentido mais natural e provável para entendermos a palavra dia, seria o literal,
porém, cristãos ortodoxos e profundos estudiosos da Palavra defendem que “dia” (yom) é
algumas vezes usada para designar um longo período de tempo. Diz-se que para o Senhor um
dia é como mil anos e mil anos é como um único dia. Existem muitas teorias no meio cristão
tentando resolver essa questão. Vamos citar algumas apenas:
a) A teoria da lacuna – Ela propõe que houve uma criação original há bilhões de anos
(criação mencionada em Gn 1:1). Mas existe uma lacuna enorme de tempo entre o v.1 e o v. 2
de Gênesis. Nesta lacuna de tempo aconteceu uma catástrofe que deixou a terra sem forma e
vazia, o que levou Deus a reconstruir a terra. Alguns ligam isso a um meteoro gigante que
extinguiu os dinossauros. Há uma linha teológica que afirma que esse meteoro era o próprio
satanás e seus demônios quando caíram dos céus.
b) A teoria da criação recente – Esta posição afirma que Deus criou o universo
completamente desenvolvido em seis dias literais de 24 horas cada, entre 6 e 20 mil anos
atrás, contudo lhe deu aparência de antiguidade. Isso explicaria o fato de Adão,
aparentemente, nunca ter sido um bebê, mas já ter sido criado com uma idade ideal e não a
real. No século XVI os reformadores Lutero e Calvino entenderam como seis dias literais. No
século XVII os puritanos, ao escreverem nossos padrões de fé, também sustentavam a posição
de seis dias literais.
c) A teoria dos dias-era – Essa é a posição mais comum entre os evangélicos
atualmente. Ela tenta harmonizar Gênesis com a ciência. Essa teoria propõe que os dias não
eram literais, mas que representavam eras, que poderiam significar milhões de anos cada dia.
Em outras palavras, eles acreditam que Deus criou todas as coisas usando processos naturais
evolutivos que se aperfeiçoavam e não imediatamente pela palavra do seu poder.
Todos os nossos padrões de fé (CFW, CMW e o BCW) defendem a ideia de seis dias
literais. E essa parece ser a posição mais coerente com as Escrituras. Por isso ela se tornou a
posição da nossa confissão de fé.

3 - Tudo era muito bom


Em todo o relato de Gênesis um, vemos Deus recorrentemente dizendo que toda a
matéria física por ele criada era boa. E quando ele termina toda a sua obra, no v. 31 lemos:
“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Isso é importante para nós porque ao afirmar que
sua criação é boa, nós aprendemos duas coisas: 1) o mal nem sempre existiu na criação; 2)
que o suposto dualismo que afirma que as coisas espirituais são boas e as matérias sãos más,
simplesmente não existe. Tudo o que Deus fez é bom. É bem verdade que a criação se tornou
cativa da corrupção e a natureza humana corrompeu-se, contudo, em lugar nenhum nas
Escrituras Deus diz que a criação física deixou de ser boa.
Isso significa que tudo o que foi criado tem valor. Deus ama tudo o que criou, e não
apenas partes da criação, portanto, devemos amar toda a criação, para preservar, guardar,
governar e desenvolver o que Deus criou.

Pergunta 10 – Como criou Deus o homem?


Deus criou o homem macho e fêmea1, conforme a sua própria imagem, em
conhecimento, retidão e santidade, com domínio sobre as criaturas2.
Nós acabamos de ver a criação como obra de Deus. Tudo pertence a Deus por direito e
tudo foi feito para um determinado propósito e para a glória do seu Criador. Agora nossa
confissão nos fala sobre a origem da humanidade.

2 – Criados à imagem de Deus


Em Gênesis 1: 26,27 nos diz que Deus criou homem e mulher à sua imagem, “Também disse
Deus: façamos o homem à nossa imagem[...] Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e

mulher os criou”.

O Catecismo Maior de Westminster começa respondendo essa pergunta dizendo que:


Depois que Deus fez todas as outras criaturas, Ele criou o homem macho e fêmea.

Isso é importante porque existe uma marcante diferença entre a criação das outras
criaturas e do homem. “Deus simplesmente ordenou à existência das criaturas; mas quando o
homem foi criado, a Trindade decidiu que o homem deveria ser feito à imagem de Deus” . (Leonard Van
Horn p. 25). Por isso, o homem é a única das criaturas terrestres que possui consciência, isto é,
que pode refletir na sua própria existência e também ficar preocupado com o fim dela. As
outras criaturas agem por mero instinto reprodutivo e mecanismo de sobrevivência. Os
animais não fazem plano de saúde e nem seguro de vida porque não tem consciência da
morte.
Mas o que significa a expressão “conforme a sua própria imagem”? Vamos começar dizendo o
que não significa. Não significa que o homem foi feito à semelhança física de Deus. Como
vimos na resposta a 4ª pergunta, Deus é espírito e por isso não tem corpo. Então,
positivamente, o que significa ter sido feito à imagem de Deus? Colossenses 3:10 “e vos revestistes do

novo homem que se refaz pelo pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” e Efésios 4:24 “e vos revistais
do novo homem, criado segundo (imagem) Deus em justiça e retidão procedentes da verdade”, nos ensinam que ter
sido feito a imagem de Deus significa ter recebido alguns dos atributos comunicáveis de
Deus. Em outras palavras, ter sido feito a imagem de Deus significa ter recebido uma natureza
racional, moral e espiritual. O homem tem uma mente, consciência, capacidade de conhecer e
de amar ou odiar a Deus e, por isso, é responsável.
Mas o homem ainda tem essa imagem? Sim, porém não perfeita como antes da criação.
João Calvino nos explica isso dizendo que “[...] embora a imagem de Deus não fosse
absolutamente esvaziada e destruída [na queda], ainda assim se corrompeu de tal maneira que não
restou senão uma horrenda deformidade” (Institutas 1.15.4 p. 176). O que Calvino está dizendo é que a
imagem de Deus em nós, humanidade caída, está maculada pelo pecado, porém, ainda existe.
E é a reminiscência desta imagem de Deus em nós que limita e impede o homem de ser tão
perverso quanto poderia ser. Isso nós chamamos de graça comum, presente em todos os seres
humanos.

1 - Criados sem confusão


E por fim, uma última coisa que precisamos analisar são as palavras “homem e mulher”.

No original hebraico, as palavras homem (‫ זכר‬zakar) e mulher (‫ נקבה‬nᵉqebah) significam


respectivamente macho [que penetra] e fêmea [que é penetrada]. Com isso nós aprendemos
que o gênero humano, diferente do que ensina o mundo moderno, a mídia, a ciência, a política
e até mesmo alguns ditos cristãos que se desviaram da verdade, não é uma construção social,
não é fruto da vontade, tão pouco é uma questão de identidade pessoal. O gênero, isto é, ser
macho ou fêmea não é algo opcional, é uma questão criacional, biológica. Seres humanos
nascem macho ou fêmea. Qualquer coisa fora disso é o resultado do coração pecaminoso do
homem. Ninguém nasce mulher no corpo de um homem, ou vice-versa.
Dito isso, algo precisa ser explicado aqui. Por causa da corrupção do pecado que
entrou no mundo, pode acontecer, o que é raro, uma anomalia sexual causa por um distúrbio
fisiológico das gônadas sexuais chamado hermafroditismo. Neste caso, alguém pode nascer
simultaneamente com estrutura ovariana e testicular, possuindo ou não os órgãos masculino e
feminino. Todavia, mesmo nestes casos, a pessoa nasce geneticamente com seu gênero
definido, possui cromossomos femininos (XX), ou cromossomos masculinos (XY). Não
existe uma anomalia genética dos gêneros do tipo (XYX), ou (YXY) ou (GLBTQ+).
Por isso, sustentados pela Palavra e pela ciência, podemos afirmar sem sombra de
dúvida que o homossexualismo é uma questão moral, de escolha, e não de identidade interna
ou de genética. O fato de eu sinceramente acreditar que o dia é noite não prova que o dia é
noite, só prova que eu sou louco, porque a loucura é a sincera negação da realidade.

Conclusão: A doutrina da criação ex nihilo, conforme nos ensina as Escrituras, nos fornece
respostas as perguntas mais perturbadoras do universo, tais como, de onde nós viemos? Será
que meus tatatatatavós eram macacos? Qual é o propósito da existência? Por que o ser
humano é valioso? Existe algum motivo para a existência ou tudo não passa de um completo
absurdo? Existe algo além da matéria, ou tudo não passa de amontoado de átomos? Eu posso
viver de qualquer forma, criando minhas verdades ou existe um padrão, alguém a quem irei
prestar contas?
Na doutrina da criação encontramos em Deus repostas para todas essas perguntas.
Deus é nosso Criador, somos valiosos porque fomos feitos a sua imagem e nos deus padrões
sobre como viver. Eu vivo para sua glória e um dia, creia ou não, goste ou não da ideia,
estarei diante Dele para prestar contas pelo que fiz com a vida que ele me deu. Isso conduz a
uma vida responsável para com a criação, de amor a meu próximo e adoração ao meu Criador.

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