Você está na página 1de 6

1

Lição 3 – Os decretos de Deus


Perguntas 7 e 8 do Breve Catecismo de Westminster

Será que Deus sabe tudo o que há de acontecer desde a eternidade passada? Será que
ele previu, ou será que ele ordenou tudo o que acontece? Se ele ordenou, é possível Deus ter
decretado tudo o que acontece, inclusive minhas escolhas e ao mesmo tempo eu ser
responsável por elas? Na lição de hoje vamos responder essas perguntas. Na primeira parte
vamos falar sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana, na segunda vamos falar
sobre a predestinação e sobre a eleição.

1 A soberania Divina e a responsabilidade humana

Pergunta 7: O que são os decretos de Deus?


Os decretos de Deus são o seu eterno propósito1, segundo o conselho da sua vontade2,
pela qual, para a sua glória, ele predestinou tudo o que acontece3.

1, 3 – Deus determina tudo para sua glória. As grandes coisas: Deus faz todas as
coisas conforme o conselho da sua vontade, inclusive predestinar homens para propósitos
específicos. Inclusive, antes da fundação do mundo, ou seja, desde a eternidade passada, Deus
escolheu e predestinou em Cristo todos os que seriam “feitos herança, predestinados segundo o propósito
daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).

Deus determinou inclusive a morte de seu Filho Jesus: “sendo este [Jesus] entregue pelo

determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” . Deus ordenou que
Jesus fosse morto, mas os homens fizeram isso livre e responsavelmente.
Is 46:9,10 deixa muito claro como tudo o que acontece foi previamente decretado por
Deus e como ele mesmo está comprometido a fazer que aconteça tudo o que ele ordenou “... Eu
sou Deus[...] que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam;

que digo: meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” . Ele anuncia tudo que há de acontecer e
que ele fará acontecer tudo o que preordenou.

E também as pequenas coisas:


Em Mt 10:29 somos ensinados que até os dias de vida e a hora da morte dos pardais
estão contados e determinados por Deus. Nem os pardais caem dos céus enquanto Deus não
ordenar. E nem mesmo um fio de cabelo cai da cabeça de um homem se Deus não o houver
decretado: “Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça” Lc 21:18.
2 – Tudo o que Deus decreta é para cumprir seus eternos propósitos: Isso fica
claro em João 19.24. Sobre as roupas de Jesus os guardas decidiram: “Não a rasguemos, mas

lancemos sorte sobre ela para ver a quem caberá” . E eles fizeram isso porque no Sl 22.18, escrito cerca de
2

mil anos antes do nascimento de Cristo, Deus decretou que fosse assim. Tudo o que aconteceu
foi para que as Escrituras se cumprissem.

Mas ao decretar tudo o que deve acontecer, Deus se tornou autor do pecado?
A resposta é não. Não sabemos como essas duas verdades se conciliam, mas as
Escrituras afirmam que tanto os homens fazem o mal livremente, como também estão fazendo
aquilo que Deus ordenou. Atos 2.23 diz que Jesus foi “entregue pelo determinado desígnio e presciência de
Deus, vós o mataste, crucificando-o por mãos iniquas” . Quem determinou que Jesus fosse morto? Deus.
Quem a Bíblia diz serem os culpados pela crucificação de Cristo? os homens.
Em Habacuque 1:5-11 o profeta reclama com Deus por causa da disciplina que o Senhor
enviaria a Israel por meio dos caldeus. Deus diz: eu “realizo”, eu “suscito os caldeus” (v. 5,6). Mas a
seguir, dos versos 9 à 11, Deus deixa claro que eles fazem o mal por conta própria: “Eles todos
vêm para fazer violência... eles reúnem os cativos... eles escarnecem dos reis... tomam as terras... fazem-se culpados estes

cujo o poder é o seu Deus”. (v. 9-11). A Bíblia diz que Deus realiza por meio deles, mas os caldeus são
culpados. Já em Jeremias 51:20-24 Deus diz que a Babilônia “eras meu martelo... por meio de ti
despedacei nações, reis, cavalo, cocheiro, homem e mulher, o velho e o moço, o jovem e a virgem, pastor e rebanho, lavrador

e bois, governadores e vice-reis” (v. 20-23). E depois de dizer tudo isso, lemos no v. 24 “Pagarei... à

Babilônia... toda maldade que [eles] fizeram em Sião, diz o Senhor”. Mais uma vez, a Bíblia nos ensina que
Deus decretou e garantiu que acontecesse, mas os homens são os únicos culpados pelo mal
que praticaram.

Isso se aplica até as ações dos indivíduos:


Romanos 9.17-20 é um texto clássico sobre a soberania de Deus sobre nossas escolhas
individuais.
No texto Paulo diz que Deus endureceu o coração de faraó para não permitir que o
povo de Israel partisse para depois puni-lo por isso. E prevendo a indignação que isso causaria
no seu coração, assim como já causou no meu, Paulo trava um diálogo imaginário comigo e
contigo dizendo: “Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?” E no
v. 20 o apóstolo diz algo que humilha nossa pretensa arrogância de nos declararmos juízes
sobre Deus. “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por
que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para
desonra?”

Diante disso nós podemos sinceramente dizer: “Senhor... eu não entendo”, contudo, se
cremos que a Bíblia é a infalível revelação de Deus, jamais podemos dizer “eu não creio”.
3

Todos esses textos deixam expressamente claro que a responsabilidade humana é uma
doutrina Bíblica, como também mostra inexoravelmente que Deus decretou tudo o que
deveriam fazer. Mas então, por que não cremos na revelação bíblica?

Por que ainda não cremos na revelação Bíblica?


A razão é a nossa recusa em reconhecer que a compreensão de Deus excede em muito
as limitações da nossa mente. O motivo é porque estamos decididos a crer somente no que
entendemos, não aceitamos os mistérios de Deus. Se queremos ser fiéis as Escrituras,
precisamos deixar essas duas verdades coexistirem lado a lado como acontece na Bíblia. Tanto
a responsabilidade humana por suas ações como o soberano decreto de Deus a respeito
destas ações são duas verdades bíblicas que não se excluem.
Contudo, precisamos reconhecer que essa não é uma realidade fácil de aceitar. Por isso
concordamos com Steven Lawson quando diz: “a Bíblia não é difícil de entender, ela é difícil de
engolir”. Por isso precisamos colocar a

Responsabilidade humana e Soberania divina em equilíbrio.


Não podemos exaltar demasiado nem a soberania divina, nem a responsabilidade
humana. Devemos considerá-las em igual medida. Não devemos excluir nem a
responsabilidade humana, e tão pouco a soberania dos decretos divinos.
Os decretos de Deus e a responsabilidade humanas são duas realidades bíblicas. Elas
são como uma via de mãos dupla, se decidirmos trafegar por essas vias como se fosse uma
vida de mão única, em algum momento vamos nos chocar de frente contra uma destas
verdades como uma bicicleta se chocando contra uma carreta. Neste caso, nós seremos a
bicicleta e a verdade de Deus a carreta.
Tudo que aprendemos na primeira parte da nossa lição é bem resumido na Confissão
de Westminster da seguinte forma: “[...] Deus ordenou livre e inalteradamente tudo quanto
acontece (Ef 1:11, Mt 10:29-30). Isso, porém, de modo que nem Deus é o autor do pecado
(Tg 1:13), nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou a
contingência das causas secundárias, antes estabelecidas (At 2:23, 4:27-28)”. (CFW 3.1).
Isso significa que nada que acontece pega Deus de surpresa, porque tudo procede dos seus
decretos anteriormente estabelecidos. Isso é feito de uma forma misteriosa que excede nossa
compreensão finita, no entanto, a Bíblia afirma tanto os decretos de Deus quanto a
responsabilidade humana sem se preocupar em nos explicar como elas se conciliam. Agora
vamos tratar da segunda parte da doutrina dos eternos decretos de Deus:

2 A eleição para a salvação


4

Os objetos especiais dos decretos de Deus:


Os anjos e os homens, por terem sido feitos seres morais, ou seja, criados livres e
capazes de escolher entre o bem e o mal são os alvos especiais dos decretos de Deus. O
decreto especial para com os seres morais é chamado de predestinação.

Mas o que é a predestinação?


Predestinação é a decisão de Deus de designar parte das criaturas morais para a vida
eterna e parte para a perdição eterna. A predestinação se divide em eleição (para os crentes) e
reprovação (para os descrentes). Neste sentido, Deus predestinou para a salvação todos os
crentes em Cristo e para a condenação todos os incrédulos.

E o que é a eleição e a reprovação?


A eleição é o ato divino realizado antes da criação, no qual livre e graciosamente,
Deus escolheu as pessoas que serão salvas, baseado na sua vontade soberana. (Wayne Gruden p.
308). Já reprovação é propósito eterno do Senhor de ignorar alguns seres humanos, negando-
lhes à operação de sua graça especial e puni-los pela culpa de seus pecados.

Mas o Novo Testamento ensina essa doutrina da eleição?


Sim, o N.T. afirma claramente que Deus ordenou de antemão os que haveriam de ser
salvos. Em Atos 13:48 lemos: “Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor, e creram
todos os que haviam sido designados para a vida eterna”. Neste texto é importante respondermos as duas
perguntas. Primeiro: Quem creu? “Todos... designados para a vida eterna”. E segundo: Por que eles
creram? porque “haviam sido designados para a vida eterna”.
Mas talvez você pergunte: Quem os designou? Quando foram designados? E por que
foram designados? Paulo nos responde em Efésios 1:4-5, dizendo que Deus “nos escolheu (designou,
elegeu) nele (em Jesus) antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos

predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade”. Sendo
assim, quem elegeu e predestinou? Deus! Ele “nos escolheu”. Para quê? Para a salvação, “ser
santos e irrepreensíveis”. Quando? Na eternidade passada “antes da fundação do mundo”. E por quê?
Porque Deus livre e soberanamente quis eleger alguns para a vida eterna, ele o fez “segundo o
beneplácito (autoridade, querer, agrado) da sua vontade”.

Isso deixa claro que os eleitos foram predestinados para a vida eterna antes da
fundação do mundo. Paulo deixa isso ainda mais claro em Romanos 8:29,30, acrescentando o fato
de que os eleitos já estão infalivelmente salvos. Ali lemos que “Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a
5

esses também glorificou”. Aqui Paulo diz que os que Deus anteriormente conheceu, provavelmente
se referindo à eternidade passada, antes da fundação do mundo, foram predestinados,
eficazmente chamados, justificados e glorificados. Porém, na ordo salutis (ordem da
salvação), a glorificação só acontecerá na volta de Cristo, contudo, o apóstolo está afirmando
que os eleitos já estão glorificados diante da face de Deus.
E talvez você esteja pensado: “Mas isso é justo?”. Engraçado você pensar isso! Paulo
previu a sua indignação e perguntou: “que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? Paulo mesmo
responde: De modo nenhum!” Veja qual é a resposta de Deus para nossos corações justiceiros:
“Terei misericórdia de que me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter

compaixão”.

Segundo as Escrituras, todos já estão condenados (Ez 18:20; Rm 6:23; Ef 2:1). Neste caso,
chamaremos Deus de mau porque Ele quer ser bom com alguns? “ Porventura, não me é lícito fazer o
que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?” (Mt 20:15) . Pelo contrário, devemos
adorá-Lo. Precisamos lembrar e crer que ”Justiça e direito são o fundamento do teu trono (de Deus); graça e

verdade te precedem.” (Sl 89:14). Portanto, ainda que não compreendamos, todas as obras de Deus
são justas, precedidas por graça e verdade.

Adorando a Deus apesar do mistério.


Apesar da doutrina da eleição ser tão clara, notavelmente as Escrituras nos mostra que
as portas dos céus não estão fechadas para ninguém. Quem será salvo? Paulo nos diz que todo
“que com a boca confessares Jesus Como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo [...] pois não

há distinção entre judeus e gregos” (Rm 10:9,12) . O apóstolo ainda diz mais: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do

Senhor será salvo” (Rm 10:13). Como explicar o fato de num lugar a Escritura falar sobre a eleição, “os

que de antemão conheceu” e noutro dizer: “todo aquele que crê” será salvo? A resposta é que a bíblia ensina
as duas verdades, por isso, nós também a ensinamos e nelas cremos.
A Bíblia ensina que os condenados o serão porque livremente rejeitaram o evangelho
do Senhor. Mas a mesma Bíblia ensina que todo aquele que for salvo, somente herdará os
céus, porque Deus, em amor, “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua
própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1:9). A Bíblia afirma tanto a
soberania de Deus como também garante a responsabilidade humana . Se você rejeitar uma por
causa da outra estará rejeitando a própria verdade Bíblica.

Pergunta 8 – Como Deus executa seus decretos?


Deus executa os seus decretos nas obras da criação e da providência.
6

Isso significa simplesmente que Deus está, no tempo presente, pelo seu poder,
realizando a sua vontade na criação, levando a termo tudo o que na eternidade passada ele
decretou através de sua providência. Providência é o poder de Deus em ação para que todos os
seus decretos se cumpram. É Deus governando segundo a sua vontade.

Conclusão:
Na nossa mente isso parece irreconciliável não é verdade? Mas nas Escrituras a
doutrina da soberania de Deus não exclui a responsabilidade humana. A Bíblia afirma as duas
coisas, por isso, devemos decidir se vamos crer na religião da nossa mente ou na fé que nos
ensina as Escrituras. Não sabemos o porquê escolhe uns e rejeitar outros, contudo, sabemos
que essa é sua vontade e ela não pode falhar: “Eu sou Deus... que desde o princípio anuncio o que de
acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda

a minha vontade” (Is 46:9,10). Sabemos que a vontade soberana de Deus é sempre “boa, agradável e

perfeita” (Rm 12:2), fazendo sempre com que “todas as coisas cooperem para o bem daqueles que amam a Deus”

(Rm 8:28). Podemos não compreender as razões divinas, mas não podemos duvidar daquilo que
nos foi revelado: Deus decretou soberanamente tudo o que acontece, mas nós, seres humanos
somos totalmente responsáveis diante de Deus por cada uma de nossas ações.

Aplicação:
Não seja incrédulo porque não pode entender tudo de Deus: Deus é muito maior do que
nossa mente limitada. Se Deus reservou para si alguns mistérios, podemos dizer que não
entendemos, mas dissermos que não cremos, cairemos no desagrado de Deus, afinal, “sem fé
é impossível agradar a Deus”. Ore pedindo fé e decida crer, mesmo que não possamos
entender.

Tarefa:
1 – Memorizar Atos 2.23,
2 – Reescrever perguntas e respostas e fazer um desenho ilustrando a resposta.

Você também pode gostar