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Da Criação (CFW, Cap.

4)

DA CRIAÇÃO
C onfi ssão de fé , cap. 4
1) Introdução
“Como Deus executa seus decretos eterno?” Já sabemos que Deus tem um plano, um
decreto eterno. Agora nos ocuparemos em saber como Ele executa esse plano. O
Breve Catecismo afirma que “Deus executa os seus decretos nas obras da criação e
da providência”1. Os capítulos 4 e 5 de nossa confissão nos mostrarão o que a Bíblia
ensina sobre estes dois tópicos: criação e providência.
1) A Criação
4.1 Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a
manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer
do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele
há, visíveis ou invisíveis. Ref. Hb 1:2; Jo 1:2-3; Gn 1.2; Jó 26.13, 33.4; Rm
1:20; Jr 10:12; Sl 104:24, 33.5-6; Gn 1; Hb 11.3; At 17:24; Cl 1:16.
a) Nada existia antes de Deus ter criado o universo

Segundo a Bíblia, nada, “quer em substância, quer em forma” 2, existia antes que
Deus tivesse criado o universo. Nada é auto existente ou eterno. Somente Deus o é.
A primeira afirmação bíblica é “No princípio, Deus...” (Gn 1.1).
b) A criação é obra da Trindade

O Pai, o Filho e o Espírito Santo estavam envolvidos na obra da criação. As Escrituras


atribuem a criação do universo:
a) A Deus (sem distinguir
pessoas): Gn 1.1,26.
b) Ao Pai: 1Co 8.6.
c) Ao através do Filho: Hb 1.2.
d) Ao Pai através do Espírito: Sl
104.30.
e) Ao Filho: Jo 1.2-3.
f) Ao Espírito: Gn 1.2; Jó 33.4.
c) A criação é para manifestar a glória de Deus

O principal propósito de Deus ter criado o mundo foi revelar a si mesmo ou


manifestar a “glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade”.

1
Breve catecismo de Westminster, pergunta 8.
2
Hodge, p. 117.

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Da Criação (CFW, Cap. 4)

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno


poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos
por meio das coisas criadas... (Rm 1.20)
Mesmo após a Queda, o universo ainda manifesta a glória de Deus (Sl 19.1-6).
Portanto, a criação é uma pregação sobre o caráter de Deus (Jr 10.12) e aqueles que
não o reconhecem se fazem objeto de sua justa ira. Entretanto, para os que creem, a
criação nos leva ao deleite no caráter glorioso de Deus manifestado no universo
criado e nos dá recursos para louvar o nosso Criador (Sl 104.24).
d) A criação é a partir do nada

O que a Bíblia nos diz é que Deus criou tudo a partir do nada. Não foi o nada criou
tudo, mas Deus que criou tudo do nada, ou seja, sem matéria pré-existente. Ele,
simplesmente chamou a existência as coisas e elas vieram a existir (Rm 4.17).
A criação aponta para um Criador, mas somente a Bíblia nos conta sobre o
princípio – o momento quando Deus da eternidade criou o próprio tempo, e
este mundo, do nada [...] Não é pela observação, mas como nos diz o escritor
de Hebreus, “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de
Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb
11.3)1.
2) A criação diz respeito às coisas visíveis e invisíveis

pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas
foram criadas por ele e para ele. (Cl 1.16)
Podemos dizer que há um universo invisível criado por Deus através de Jesus Cristo.
Existe um mundo espiritual que não podemos ver (pelo menos não agora). Um dia
todo esse universo se descortinará para nós. Se o que visível já nos leva ao louvor a
Deus, podemos imaginar o que aquilo que ainda não vemos, mas contemplamos pela
fé pode fazer por nossas almas?
3) A criação aconteceu em seis dias
O padrão do AT é usar dia ( ‫ י ֹום‬yôm) + “tarde e manhã” para referir-se a dias de 24
horas. Se o relato da criação em Gênesis 1 não corresponde a dias literais, isso seria
uma exceção e não a regra. Teríamos, então, que encontrar uma razão para essa
exceção. O quarto mandamento usa o parâmetro da criação para definir seis dias de
trabalho e um dia de descanso, o que sugere que os dias em Gênesis eram literais, ou
seja, de 24 horas.

1
Dixhoorn, p. 84

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Da Criação (CFW, Cap. 4)

4) Deus criou “tudo muito bom”


A conclusão do Criador ao terminar sua obra constatava sua perfeição. Cada item foi
atestado como sendo bom e a obra terminado ao sexto dia trouxe deleite ao Senhor,
que exclamou: “eis que tudo é muito bom”. Nós devemos, da mesma maneira,
encontrar prazer na criação de Deus e adorá-lo pela grandeza de sua obra.

Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia
está a terra das tuas riquezas. (Sl 104.24)

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Da Criação (CFW, Cap. 4)

DA CRIAÇÃO DO HOMEM
4.2 Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e
fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de inteligência, retidão e
perfeita santidade, segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita
em seus corações, e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de
transgredi-la, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era
mutável. Além dessa escrita em seus corações, receberam o preceito de não
comerem da árvore da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este
preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as
criaturas. Ref. Gn 1:27, 2:7; Sl 8:5; Ec 12:7; Mt 10:28; Rm 2:14, 15; Cl 3:10;
Gn 3:6.
5) O homem é parte da criação
É conveniente que sejamos lembrados disto por nossa Confissão: que, embora o ser
humano seja a coroa da criação, ele mesmo é criação como todo o resto do universo.
Há, portanto, um único Criador, Deus.
Assim, toda nobreza do ser humano criado à imagem de Deus, não se iguala à glória
do próprio Deus. Isso serve para nos colocar no devido lugar. Esse entendimento
estimula a humildade diante da Criação e do Senhor.
6) Deus nos criou assim
a) Sexualmente definidos

É uma boa notícia que Deus criou a humanidade masculina e feminina. Não
precisamos sofrer sob a angústia existencial da autodefinição. É Deus quem
nos define e Deus nos criou e nos chamou homem e mulher. (Colin Smothers)
e) Com alma racional e imortal

O fato de termos uma alma nos diferencia dos animais. Ela é racional, o que nos
confere a faculdade do raciocínio e do pensamento.
A alma também é imortal. Biologicamente pessoas e animais morrem e voltam ao pó
(Ec 3.18-22). Contudo, a morte não põe fim à existência humana, pois a alma voltará
a Deus que a deu (Ec 12.7). Tudo na criação morre e deixa de existir, menos o
homem1.
Ter uma alma traz consigo a implicação de sermos eternos, posto que ela é imortal.
Portanto, a eternidade é algo com que devemos nos preocupar (Hb 9.27; Lc 23.43).
f) Segundo à sua imagem
Nossos padrões associam a imagem de Deus em nós ao conhecimento, retidão e
perfeita santidade e domínio sobre a criação.

1
Dixhoorn, p. 87

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Da Criação (CFW, Cap. 4)

Esta, porém, não é uma doutrina simples. Há muito mais em sermos imagem de Deus
do que podemos perceber. Cada aspecto de nossa criação reflete essa imagem,
mesmo depois da Queda. De toda as coisas que nos distinguem do resto da criação,
sem dúvida, a imagem de Deus é a mais impressionante e a que mais carrega
implicações morais e éticas.
A imagem de Deus no homem é uma doutrina que tem implicações na forma
como vivemos, como Tiago observa em sua epístola (Tg 3.9). É uma doutrina
que fala, ainda hoje, àquelas pessoas que interrompem a gravidez, evitam a
companhia de pessoas de outra raça, defendem a superioridade de gênero sobre
o outro, ou se preocupam mais com chimpanzés do que com crianças. A
imagem de Deus é importante para ética: ela funciona mais como algo que
nivela os seres humanos do que nos eleva acima das outras criaturas. 1
Para finalizar esse tópico, convém apontar que a redenção opera para restaurar a
perfeição da imagem de Deus em nós. A influência santificadora do Espírito Santo
visa a nos conformar a imagem de Cristo e, na glorificação, essa obra finalmente
estará completa.

e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão


procedentes da verdade. (Ef 4.24)
g) Com sua lei em nosso coração

Deus, ao criar Adão e Eva, colocou em seus corações um registro da sua lei (Rm 2.14,
15). Desta forma, o Criador os fez seres morais, que respondem a uma lei. Não
apenas isso, Deus também os criou com “poder de cumpri-la”. Entretanto, Ele os
dotou de uma vontade livre e mutável. Por ter Deus deixado o homem “à liberdade
de sua própria vontade”, era possível a este transgredir a lei do Senhor.
h) A árvore proibida, uma revelação especial

Além da lei no coração, Adão e Eva receberam também um preceito externo e


objetivo da vontade de Deus. Ele lhes proibiu de comer da árvore do conhecimento
do bem e do mal. Enquanto fossem obedientes, seriam amigos de Deus, gozariam de
perfeita felicidade e teriam domínio sobre a criação.

1
Dixhoorn, p. 89.

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