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A Criação

“Podemos definir assim a doutrina da Criação: Deus criou todo o universo do nada; este
era inicialmente muito bom, e ele o criou para glorificar a si mesmo”.

A. DEUS CRIOU O UNIVERSO DO NADA


1. Evidências bíblicas a favor da Criação a partir do nada
“A Bíblia exige que acreditemos que Deus criou o universo do nada. (Às vezes se usa a
expressão latina ex nihilo, ‘do nada’; diz-se então que a Bíblia ensina a criação ex nihilo.)
Isso significa que, antes de Deus iniciar a criação do universo, nada existia além do
próprio Deus”.

2. A criação do universo espiritual


“A criação de todo o universo abarca a criação de um reino de existência invisível e
espiritual: Deus criou os anjos e outros tipos de seres celestiais, além dos animais e do
homem. Também criou o céu como lugar em que a sua presença é especialmente evidente.
A criação da esfera espiritual está certamente implícita em todos os versículos acima que
afirmam que Deus criou não só a terra, mas também ‘o céu e tudo o que nele há’ (Ap
10.6; cf. At 4.24), mas também está explicitamente confirmada em vários outros
versículos. [...] No Novo Testamento, Paulo especifica que em Cristo ‘foram criadas todas
as coisas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, quer tronos, quer dominações, quer
principados, quer poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele’ (Cl 1.16; cf. Sl 148.2-
5). Aqui a criação dos seres celestes invisíveis também é afirmada explicitamente”.

3. A criação direta de Adão e Eva


“A Bíblia [...] ensina que Deus criou Adão e Eva de um modo especial e pessoal. ‘O
Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida,
e o homem tornou-se criatura vivente’ (Gn 2.7). Depois disso, Deus criou Eva do corpo
de Adão: ‘Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem e, enquanto ele
dormia, tomou uma de suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor
Deus havia tomado do homem transformou-a numa mulher e a trouxe para o homem’ (Gn
2.21,22)”.
“A criação especial de Adão e Eva mostra que, embora sejamos como os animais em
muitos aspectos do nosso corpo físico, somos, no entanto, muito diferentes deles. Fomos
criados ‘à imagem de Deus’, o ponto culminante da criação divina, mais semelhantes a
Deus do que qualquer outra criatura, apontados para reger o restante da criação”.
4. A criação do tempo
“Outro aspecto da criação divina é a criação do tempo (a sucessão de momentos
consecutivos). Essa ideia já foi analisada juntamente com o atributo divino da eternidade
no cap. 11; aqui será suficiente um resumo. Quando falamos da existência de Deus ‘antes’
da criação do mundo, não devemos pensar que Deus existisse ao longo de uma infindável
extensão de tempo. Mais propriamente, a eternidade de Deus implica que ele tem uma
espécie diferente de existência, uma existência sem passagem de tempo, uma espécie de
existência que para nós é até difícil de imaginar (veja Jó 36.26; Sl 90.2,4; Jo 8.58; 2Pe
3.8; Ap 1.8)”.

5. O papel do Filho e do Espírito Santo na Criação


“Deus Pai foi o agente primordial, ao iniciar o ato da criação. Mas o Filho e o Espírito
Santo também estiveram ativos. O Filho muitas vezes é retratado como aquele ‘por
intermédio’ de quem a criação veio a existir. [...] O Espírito Santo também esteve
envolvido na Criação. Ele é geralmente retratado como aquele que completa, preenche e
dá vida à criação divina”.

B. A CRIAÇÃO É SEPARADA DE DEUS, PORÉM SEMPRE DEPENDENTE DELE


“O ensino bíblico a respeito do relacionamento entre Deus e a criação é singular entre as
religiões do mundo. A Bíblia ensina que Deus é distinto e separado da sua criação. Ele
não faz parte dela, pois ele a fez e a governa. O termo muitas vezes usado para dizer que
Deus é muito maior do que a criação é “transcendente”. Simplificando bastante, isso
significa que Deus está bem ‘acima’ da criação, no sentido de que é maior do que a criação
e independente dela”.
“Deus também está intensamente envolvido na criação, pois ela depende dele
continuamente para existir e continuar em funcionamento. O termo técnico usado para
exprimir o envolvimento de Deus na criação é “imanente”, que significa ‘permanecer na’
criação. O Deus da Bíblia não é uma divindade abstrata distante e desinteressada em sua
criação. A Bíblia é a história do envolvimento de Deus com a sua criação, especialmente
com as pessoas nela”.

C. DEUS CRIOU O UNIVERSO PARA REVELAR A SUA GLÓRIA


“É evidente que Deus criou o seu povo para a sua própria glória, pois ele fala dos seus
filhos e filhas como aqueles ‘que criei para minha glória, e que formei, e fiz’ (Is 43.7).
Mas Deus não criou somente os seres humanos para esse propósito. Toda a criação
destina-se a revelar a glória de Deus. Mesmo a criação inanimada — as estrelas, o Sol, a
Lua e o firmamento — dá testemunho da grandeza de Deus. ‘Os céus declaram a glória
de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos’”.

D. O UNIVERSO QUE DEUS CRIOU ERA “MUITO BOM”


“Mesmo que o pecado tenha entrado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos
de Deus e também deve ser vista como ‘boa’ por nós. Esse conhecimento nos liberta de
um falso ascetismo que considera errado usar e desfrutar da criação material”.

E. A RELAÇÃO ENTRE AS ESCRITURAS E AS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA MODERNA


“Em qualquer análise a respeito da relação entre as Escrituras e a ciência moderna,
precisamos reconhecer em primeiro lugar que, ao longo da história, a fé cristã sincera e a
firme confiança na Bíblia com frequência levaram os cientistas à descoberta de novos
fatos a respeito do universo de Deus, e essas descobertas trouxeram imensos benefícios
à humanidade. [...] Por outro lado, houve momentos em que a opinião cientifica
estabelecida entrou em conflito com o que as pessoas pensavam que a Bíblia dizia”.
Vejamos “alguns princípios segundo os quais é possível abordar a relação entre a
Criação e as descobertas da ciência moderna”.

1. Quando todos os fatos forem corretamente compreendidos, não haverá “nenhum


conflito final” entre as Escrituras e a ciência natural
“A expressão “nenhum conflito final” foi extraída de um livro muito proveitoso escrito
pelo influente apologista cristão Francis Schaeffer, No final conflict [Nenhum conflito
final]. A respeito de questões da criação do universo, Schaeffer arrola diversos pontos em
que, segundo ele, há margem para discordância entre cristãos que acreditem na completa
veracidade das Escrituras”:
a. Há a possibilidade de Deus ter criado um universo “adulto”.
b. Há a possibilidade de um intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2, ou entre 1.2 e 1.3.
c. Há a possibilidade de um dia longo em Gênesis 1.
d. Há a possibilidade de que o Dilúvio tenha influenciado as informações geológicas.
e. O sentido da palavra “espécie” em Gênesis 1 pode ser bem amplo.
f. Há a possibilidade da morte de animais antes da Queda.
g. Nos trechos em que a palavra hebraica bārā’ não é utilizada, há a possibilidade de uma
sequência a partir de coisas previamente existentes.
2. Teorias puramente seculares sobre a criação são claramente incompatíveis com
os ensinamentos das Escrituras
“Uma teoria ‘secular’ é qualquer teoria acerca da origem do universo e da vida que não
enxerga um Deus infinito-pessoal por trás da criação do universo por design inteligente.
Assim a teoria do ‘big bang’ (em uma forma secular em que Deus é excluído) ou teorias
que pressupõem que a matéria sempre existiu são incompatíveis com o ensino das
Escrituras de que Deus criou o universo do nada e que ele o fez para a sua própria glória”.

3. Objeções científicas à teoria darwiniana da evolução


“A palavra evolução pode ser usada de maneiras diversas. Às vezes é usada como
referência à microevolução, pequenos desenvolvimentos no âmbito de uma única espécie
[...]. Mas não é esse o sentido em que a palavra evolução é geralmente usada na análise
de teorias de criação e de evolução”.
“O termo evolução é mais comumente utilizado para referir-se à macroevolução —
ou seja, a ‘teoria geral da evolução’, ou o que às vezes é denominado de teoria da evolução
neodarwiniana”. Segundo essa teoria, “a história do desenvolvimento da vida começou
quando uma mistura de elementos químicos presentes na terra produziu espontaneamente
uma forma de vida muito simples, provavelmente unicelular. Essa célula viva se
reproduziu e, com o passar do tempo, houve algumas mutações ou diferenças nas novas
células produzidas. Essas mutações levaram ao desenvolvimento de formas de vida mais
complexas. [...] Com o passar do tempo, cada vez mais mutações se desenvolveram em
cada vez mais variedades de seres vivos, de modo que, a partir do organismo mais
simples, todas as formas de vida complexas na terra com o passar do tempo se
desenvolveram por meio desse processo de mutação aleatória e seleção natural”.
a. A evolução não tem o poder de criar novas informações genéticas. “As
mutações aleatórias e a seleção natural (os dois processos fundamentais para a evolução
darwiniana) não têm o poder criativo de gerar a nova informação genética necessária para
a criação de novas proteínas e novas formas de vida”.
b. A intuição humana reconhece acertadamente que a evolução é impossível.
“[O]s seres humanos reconhecem de modo intuitivo quando uma alegada sequência de
acontecimentos altamente improvável se torna não só improvável, mas efetivamente
impossível”. É o que ocorre com a teoria da evolução.
c. Mutações aleatórias são avassaladoramente prejudiciais. Estudiosos defendem
que “mutações reais são muito raras e dificilmente benéficas”.
d. Matéria inanimada não contém a informação necessária para a vida e não
pode gerá-la. “[É] impossível que a matéria bruta inanimada encontrada na natureza
tenha criado a informação necessária para qualquer organismo vivo. A informação é tão
complexa e tão enorme que precisa ter vindo de outro lugar, de uma causa inteligente da
informação”.
e. Criar novas formas de vida exigiria mudanças mais amplas do que somente
mutações no DNA. “O fato de que essa informação epigenética [que direciona boa parte
do desenvolvimento do embrião que determina a colocação dos órgãos no corpo e a forma
geral do corpo do organismo vivo] é necessária implica que quaisquer tentativas de
defensores da evolução para explicar a criação da vida a partir de matéria inanimada ou
a mutação de uma forma de vida para outras precisa explicar até mais do que as (supostas)
ocorrências de mutações benéficas no DNA”.
f. O desenvolvimento do embrião exige a ação coordenada de milhares de genes.
“O desenvolvimento de um embrião para um corpo totalmente formado e um processo
extremamente complexo que exige a coordenação precisa de múltiplos fatores. Em
decorrência disso, ‘Experimentos que geram mutações nos genes agindo no plano
corporal tendem a produzir embriões avassaladoramente defeituosos ou letais’, segundo
a bióloga do desenvolvimento Sheena Tyler”.
g. A “complexidade irredutível” da célula viva desafia a explicação evolutiva.
Segundo Michael Behe, “Um sistema irredutivelmente complexo não pode ser produzido
diretamente [...] por modificações discretas e sucessivas de um sistema precursor, visto
que qualquer precursor para um sistema irredutivelmente complexo que esteja faltando é
por definição não funcional”.
h. O registro fóssil está repleto de lacunas e é caracterizado pelo surgimento
repentino e, na sequência, pela continuidade de tipos reconhecíveis de animais.
“Darwin não conseguiu encontrar fósseis de ‘espécies intermediárias’ para preencher as
lacunas entre as diferentes espécies de animais — fósseis exibindo algumas
características de um animal e outras características da espécie evolutiva seguinte, por
exemplo. Na verdade, muitos fósseis antigos tinham uma semelhança absoluta com os
animais atuais — mostrando que (segundo as suposições cronológicas de sua perspectiva)
vários animais têm continuado por milhões de anos essencialmente sem mudanças.
Darwin percebeu que a ausência de ‘espécies transicionais’ no registro fóssil enfraquecia
sua teoria, mas imaginava que isso decorria do fato de que não havia fósseis suficientes
ainda descobertos. Ele estava confiante de que descobertas posteriores revelariam muitas
espécies transicionais de animais. Contudo, os 160 anos subsequentes de intensa atividade
arqueológica não conseguiram encontrar essas espécies transicionais necessárias”.
i. Semelhanças em estrutura e aparência são compreendidas de maneira mais
adequada como evidências que apontam para o mesmo arquiteto, e não como
evidências que apontam para o mesmo ancestral. Segundo Bechly e Meyer, “A
semelhança entre diferentes genes e proteínas em diferentes organismos também pode ter
surgido de modo independente em decorrência de um designer inteligente que optou por
fornecer capacidades funcionais semelhantes ao nível molecular em diferentes
organismos”.
j. A arqueologia aponta para o surgimento abrupto dos humanos na terra,
claramente diferente de outros animais simiescos. Segundo Luskin “Hominídeos
conhecidos são classificados em dois grupos diferentes: semelhantes a macacos e
semelhantes a humanos com uma lacuna clara entre eles. O gênero Homo aparece de um
modo abrupto, não darwiniano, sem evidências de uma transição evolutiva a partir de
hominídeos semelhantes a macacos. [...] Muitos pesquisadores têm reconhecido uma
‘avalanche’ de cultura moderna semelhante a humanos nos registros arqueológicos há
cerca de 35 mil a 40 mil anos, mostrando o surgimento abrupto da criatividade, da
tecnologia, da arte e até da pintura humanas — mostrando o surgimento rápido do
autoconhecimento, da identidade de grupo e do pensamento simbólico”.
k. Os seres humanos são muito diferentes dos chimpanzés. Ann Gauger e Colin
Reeves fazem uma comparação entre humanos e chipanzés. Eles relatam: “Nosso cérebro
é maior e continua se desenvolvendo por muito tempo após o nascimento. [...] Nossa
musculatura é mais fraca, com pontos de inserção óssea menores. Nosso metabolismo
hormonal da tireoide e diferente. [...] Nosso sistema imune é diferente. Nossa alimentação
é diferente e nossos intestinos refletem essa diferença. [...] Por fim, há todas as diferenças
de cultura e de comportamento. Planejamos. Refletimos sobre o passado e pensamos no
futuro. Tomamos decisões intencionais. Podemos retardar a gratificação por períodos
longos”.
l. A diversidade genética na raça humana poderia ter surgido de um casal
originário. “Ola Hossjer, Ann Gauger e Colin Reeves argumentam que, se supuséssemos
um casal originário em que as pessoas fossem geneticamente diferentes entre si, ainda
assim poderíamos ter uma gama de diversidade que vemos hoje”.
m. A pressuposição não provada subjacente à teoria evolutiva é o “naturalismo
metodológico”. “Apesar das evidências factuais contra a evolução neodarwiniana
mencionada acima, é trágico que a opinião comum, perpetuada por muitos livros-texto de
ciência hoje, é que a evolução é um ‘fato’ estabelecido cientificamente. Por trás desse
ponto de vista está uma pressuposição central, chamada de ‘naturalismo metodológico’”.
n. E se os cientistas, em um futuro remoto, efetivamente criarem vida? Se isso
ocorrer os cientistas partem de algum tipo de matéria existente, o que seria diferente da
criação “do nada”. As tentativas de “criar vida” estão dando apenas passos iniciais muito
pequenos para criar vida de materiais não viventes. Mas ainda que criassem vida, isso não
provaria que Deus não criou a vida no passado.
o. Crer em tudo, menos na Bíblia. “Muitos cientistas incrédulos têm sido tão
influenciados pela força cumulativa das objeções levantadas contra a evolução que têm
adotado abertamente novas posições para uma parte ou outra da proposta do
desenvolvimento evolutivo dos seres vivos”.
p. A influência destrutiva da teoria da evolução no pensamento moderno. “Se
efetivamente a vida não foi criada por Deus, e se os seres humanos em particular não
foram criados por Deus e não prestam contas a ele, mas meramente são o resultado de
acontecimentos aleatórios no universo, qual é, então, o significado da vida humana?
Somos somente o resultado da soma de matéria com tempo com oportunidade. Desse
modo, imaginar que temos alguma importância eterna, ou alguma importância em
absoluto diante de um universo imenso é simplesmente ilusório. Uma reflexão franca
sobre essa ideia deveria levar as pessoas a um profundo senso de desespero”.
4. A evolução teísta não está em harmonia com os ensinamentos das Escrituras
“[D]iversos cristãos têm sugerido que organismos vivos surgiram pelo processo de
evolução que Darwin propôs, mas que Deus guiou esse processo de modo que o resultado
foi justamente o que ele queria que fosse. Essa visão é chamada de evolução teísta porque
defende a crença em Deus (é ‘teísta’) e a crença na evolução”.
Grudem entende que essa visão confunde criação com providência. Para ele a criação
original é diferente do que a sustentação do universo e de tudo o que nele há. O autor
também insiste que a humanidade teve dois antepassados e não milhares deles e que, em
virtude disso, essa proposta negaria diversos acontecimentos narrados em Gênesis 1—3.
Além disso, essa visão abalaria a confiabilidade histórica de outros livros do Novo
Testamento que consideram o relato de Gênesis 1—3 um relato histórico.

5. A teoria do “intervalo” entre Gênesis 1.1 e 1.2 é altamente improvável


“Alguns evangélicos propõem que há um intervalo de milhões de anos entre Gênesis 1.1
(‘No princípio, Deus criou os céus e a terra’) e Gênesis 1.2 (‘A terra era sem forma e
vazia e havia trevas sobre a face do abismo’). Segundo essa teoria, Deus teria feito uma
criação anterior, mas acabou havendo uma rebelião contra ele (provavelmente ligada à
própria rebelião de Satanás), e Deus julgou a terra, de modo que ‘ela ficou sem forma e
vazia’ (uma tradução alternativa, mas questionável, proposta para Gn 1.2)”.

F. A IDADE DA TERRA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES


“Até aqui, as análises deste capítulo defenderam conclusões que, assim esperamos,
encontram ampla aceitação entre os cristãos evangélicos. Mas agora, finalmente,
chegamos a uma pergunta desconcertante, diante da qual os cristãos que creem na Bíblia
vêm divergindo há anos, às vezes de modo bastante veemente. A pergunta é
extremamente simples: qual é a idade da terra?”.
“As duas opções a escolher sobre a idade da terra são a teoria da ‘terra antiga’, que
se alinha com o consenso da ciência moderna, defendendo que a terra tem 4,5 bilhões de
anos; e a teoria da ‘terra jovem’, que afirma que a terra tem dez mil ou talvez vinte mil
anos, e que os sistemas seculares de datação científicos estão incorretos. A diferença entre
essas duas concepções é imensa: 4.499.990.000 anos!”.

1. Há lacunas nas genealogias da Bíblia


Algumas pessoas entendem que diante de uma lista de nomes, ao lado das idades das
pessoas, podem somar as idades das pessoas e alcançar uma data aproximada da criação
da Terra. “Mas uma investigação mais detida das listas paralelas de nomes nas Escrituras
mostrará que a própria Bíblia indica que as genealogias relacionam somente os nomes
que os autores bíblicos consideravam importantes registrar para os seus objetivos. Na
realidade, algumas genealogias incluem nomes omitidos por outras genealogias da
própria Bíblia”, ou seja, as genealogias trazem lacunas, o que torna a datação incerta.

2. A idade da raça humana


O debate aqui está relacionado aos métodos de datação: até que ponto são confiáveis e
como relacionar as prováveis datas com base nas genealogias (em torno de seis mil anos)
ou então os estudos baseados nas evidências providenciadas pela criatividade, a
tecnologia e a arte que colocaria os seres humanos há aproximadamente quarenta mil anos
sobre a terra.
3. Houve animais que morreram antes da Queda?
“Com base nas informações que temos nas Escrituras, não podemos saber se Deus criou
os animais sujeitos ao envelhecimento e à morte desde o início, mas trata-se de uma
possibilidade real”.

4. E quanto aos dinossauros?


Os defensores da terra jovem diriam que os dinossauros foram criados no mesmo dia que
os seres humanos e assim poderiam ter sido extintos no Dilúvio. Os adeptos da terra antiga
entendem que os dinossauros já poderiam estar extintos antes da criação de Adão.

5. Os dias da Criação tinham 24 horas?


Há argumentos fortes tanto para que os dias sejam considerados de 24 horas como longas
épocas. “Deus decidiu não nos dar informação suficiente para chegarmos a uma conclusão
clara a respeito dessa questão”.

6. Múltiplos tipos de evidências indicam que a Terra e o universo têm bilhões de


anos
Várias descobertas indicam que a Terra é bem mais antiga do que os adeptos da terra
jovem admitem: o ritmo da expansão do universo; a luz das estrelas de bilhões de anos
passados, a idade das anãs brancas, o ciclo de combustão de estrelas, a estabilidade atual
do Sol, as temperaturas de radiação cósmica de fundo; as camadas de gelo, as camadas
de corais, camadas de sedimentos no fundo dos lagos etc.

7. Tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para
os cristãos hoje
“Depois de analisar várias considerações preliminares a respeito da idade da Terra,
chegamos finalmente aos argumentos específicos a favor das teses da terra antiga e da
terra jovem”.

a. As teorias da criação da “terra antiga”. “Nessa primeira categoria, relacionamos


quatro pontos de vista defendidos por aqueles que creem numa terra antiga, com cerca de
4,5 bilhões de anos, e num universo de cerca de 13,8 bilhões de anos”.
(1) Tese do dia-era (ou teoria “concordante”). “A vantagem evidente dessa
concepção é que, se a atual estimativa científica de uma idade de 4,5 bilhões de anos para
a Terra estiver correta, ela explica como a Bíblia é coerente com esse fato. Entre os
evangélicos que defendem a tese da terra antiga, essa é uma posição comum. Essa tese é
às vezes chamada ‘concordante’, pois busca acordo ou ‘concordância’ entre a Bíblia e as
conclusões científicas sobre a datação”.
“A concepção do dia-era certamente é possível. Uma objeção comum é que a
sequência de acontecimentos de Gênesis 1 não corresponde exatamente a certas
explicações científicas do desenvolvimento da vida. [...] Ross argumenta que o passo
interpretativo crucial para entender Gênesis 1 é reconhecer que o autor escreve do ponto
de vista de um observador que está na superfície das águas que cobrem a terra. [...] Em
resposta à objeção de que Gênesis 1 coloca, de modo equivocado, a vegetação (terceiro
dia) antes dos animais marinhos (quinto dia), Ross cita pesquisas científicas recentes que
afirmam ter descoberto evidências de vida vegetal na Terra (terceiro dia) muito antes do
que se cria previamente”.
“Outra objeção à tese do dia-era é que ela aparentemente situa o Sol, a Lua e as
estrelas (quarto dia) milhões de anos depois da criação das plantas e das árvores (terceiro
dia). Isso não faz absolutamente sentido algum segundo a opinião científica corrente, que
afirma que as estrelas foram formadas bem antes da Terra ou de qualquer ser vivo da
Terra. Também não faz sentido em face do modo que a Terra hoje funciona, pois a
vegetação não cresce sem a luz do Sol. Ademais, como as águas da Terra permaneceriam
sem congelar por milhões de anos — ou mesmo por alguns segundos — sem a luz do
Sol?”.
“Em resposta, aqueles que sustentam a tese do dia-era afirmam que o Sol, a Lua e as
estrelas foram criados antes do primeiro dia, quando ‘no princípio, Deus criou os céus e
a terra’ (Gn 1.1), e que o Sol, a Lua e as estrelas somente foram tornadas visíveis ou
reveladas no quarto dia, talvez pelo afinamento ou a remoção de uma barreira de névoa
que antes havia sido translúcida”.
(2) A tese de que houve longos períodos entre os dias de 24 horas. “A ideia de que
os dias de Gênesis têm 24 horas separados por milhões de anos é uma variação da tese da
terra antiga”.
(3) A tese dos “dias analógicos”. “C. John Collins propôs que Gênesis 1 está usando
a semana comum de trabalho de um trabalhador hebreu como uma analogia para ensinar
os antigos leitores hebreus que Deus (de um modo parecido com um trabalhador israelita)
trabalhou para concretizar a criação. Assim, a palavra dia não implica uma extensão
específica de tempo, mas somente que Deus executou sua obra de uma maneira sensata e
pensada, assim como um artesão habilidoso".
(4) A tese da estrutura literária. “Outra forma de interpretar os dias de Gênesis 1
vem ganhando apoio significativo entre os evangélicos. Como ela argumenta que Gênesis
não apresenta informações sobre a idade da Terra, ela seria compatível com a atual
concepção científica de que a Terra é bastante antiga. Essa tese defende que os seis dias
de Gênesis 1 não pretendem indicar uma sequência cronológica de acontecimentos, nada
mais sendo que uma ‘estrutura’ literária que o autor usa para nos relatar a ação criadora
de Deus. A estrutura está construída com destreza, de modo que haja uma
correspondência entre os primeiros três dias e os três dias restantes.
Dias de formação Dias de preenchimento
Dia 1: luz e trevas Dia 4: separação de Sol, Lua e estrelas (luminares
no céu)
Dia 2: separação de firmamento e águas Dia 5: peixes e aves
Dia 3: separação de terra seca e mares, plantes e Doa 6: animais e homem
árvores

Há argumentos a favor e contra essa tese.

b. As teorias da criação da “terra jovem”. “Outro grupo de intérpretes evangélicos


rejeita os sistemas de datação que atualmente atribuem uma idade de milhões de anos à
Terra, sustentando, ao contrário, que a Terra é bem jovem, talvez menos de dez mil anos.
Os adeptos da terra jovem formularam vários argumentos científicos a favor da criação
recente da Terra. Aqueles que defendem a tese da terra jovem geralmente advogam uma
das seguintes concepções, ou ambas”:
(1) Criação com aparência de antiguidade (criacionismo maduro). “O surgimento
de Adão e Eva como adultos maduros é um exemplo óbvio. Se alguém presumiu que eles
nasceram como bebês, eles apareceram como se já tivessem vivido talvez vinte ou vinte
e cinco anos, tendo se desenvolvido desde a infância como os seres humanos comuns,
mas na verdade tinham menos de um dia de vida. Do mesmo modo, provavelmente já
viram as estrelas na primeira noite de vida, mas a luz da maior parte das estrelas levaria
milhares ou mesmo milhões de anos para alcançar a Terra. Isso indica que Deus criou as
estrelas com raios de luz já a caminho”.
“Mas o verdadeiro problema da aparência de antiguidade é não poder explicar
facilmente algumas coisas do universo. Todos concordarão que Adão e Eva foram criados
já adultos, não crianças recém-nascidas, e, portanto (caso não soubéssemos a respeito de
sua criação), já tinham uma aparência madura. [...] Assim, parece que as únicas
explicações plausíveis para os registros fósseis são: (a) os atuais métodos de datação estão
incorretos em proporções colossais, em virtude de pressupostos equivocados ou de
modificações radicais nas leis e nos elementos constantes da física introduzidos pela
Queda ou pelo Dilúvio; ou (b) os atuais métodos de datação estão aproximadamente
corretos e a Terra tem muitos milhões ou mesmo bilhões de anos”.
(2) A geologia do Dilúvio. “Outra tese comum entre os evangélicos é o que podemos
chamar de ‘geologia do Dilúvio’. Ela propõe que as tremendas forças naturais
desencadeadas pelo Dilúvio no tempo de Noé (Gn 6—9) alteraram significativamente a
superfície da Terra, provocando a produção de carvão e diamantes, por exemplo, num
intervalo de só um ano, e não de centenas de milhões de anos, em função da pressão
extremamente alta que a água exerceu sobre a terra”.

8. Conclusões sobre a idade da terra: ambas as posições são aceitáveis


“Meu forte incentivo para toda a comunidade cristã é que ambas as posições, a da terra
antiga e a da terra jovem sejam aceitáveis para líderes em igrejas e organizações
paraeclesiásticas evangélicas. [...] Os argumentos a favor da terra antiga que estão
baseados em muitos tipos de dados científicos de diferentes disciplinas parecem (ao
menos para mim) convincentes. Isso é especialmente válido para argumentos baseados
em evidências cumulativas de diversos aspectos da astronomia e disciplinas relacionadas,
bem como das evidências das rochas contendo fósseis, recifes de corais, deslocamento
dos continentes e a similaridade de resultados de diversos tipos de datação radiométrica.
Todos esses fatores parecem fornecer evidências convincentes de um universo de 13,8
bilhões de anos e uma terra de 4,5 bilhões de anos”.
“Não penso que a Bíblia nos informe ou pretenda nos informar a idade da terra ou a
idade do universo”.

9. E então, o que faremos?


“Precisamos afirmar muito claramente que a idade da Terra é uma questão que a Bíblia
não aborda diretamente, mas algo sobre que podemos especular fazendo inferências mais
ou menos prováveis das Escrituras”. Nesse sentido, não deveria haver embates entre
adeptos das diferentes visões a respeito da idade da Terra.

G. APLICAÇÃO
“A doutrina da criação tem muitas aplicações para os cristãos de hoje. Ela nos leva a
perceber que o universo material é bom em si mesmo, pois Deus o criou bom e quer que
o utilizemos de modos que lhe sejam agradáveis. Portanto devemos procurar ser como os
primeiros cristãos, que ‘recebiam o seu alimento com corações alegres e generosos’ (At
2.46), sempre dando graças a Deus e confiando nas suas provisões”.

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