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Oração Inicial
CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO
Quando rezamos o Creio, falamos Creio em Deus Pai criador do céu e da
Terra.
Já ouvimos alguém dizer: Sou criacionista, aceito a Bíblia logo, não aceito a
evolução. Outros dizem: aceito a evolução, logo questiono a Bíblia e tenho
problemas com o Cristianismo.
O papa João Paulo II afirmou em 1996 que não há oposição entre evolução e a
doutrina da fé católica [1] . Os conceitos de criação e evolução se explicam
mutuamente. A criação é um artigo da fé dos que crêem que alguém criou, mas
criou de tal modo que o pensamento científico pode representar a criação em
uma série de estágios definidos. É por meio da evolução que a criação se
“desdobra dentro da vontade e da orientação de Deus”. Quanto mais se leva em
conta que as diferentes formas de vida não surgiram ao mesmo tempo, que é o
que se deve aceitar baseado no conhecimento científico atual, mais
inevitavelmente chega-se ao reconhecimento de que Deus não criou tudo de
uma vez. Ele está continuamente criando algo novo.
Evolução é artigo da ciência e pode ser provado, enquanto a CRIAÇÃO é um
artigo da fé, que exige crença para ser afirmada. O importante é que ambas
podem ser aceitas sem contradição tanto pelo cientista que crê como pelo
religioso que busca uma visão científica do Universo.
Gênesis é uma palavra grega que significa nascimento, origem. O primeiro livro
da Bíblia foi assim chamado porque nele encontramos as narrativas sobre as
origens do mundo, da humanidade e do povo de Deus.
O conteúdo do livro tem o aspecto de uma verdadeira “colcha de retalhos”
formada por lendas, “causos”, historinhas mais ou menos desenvolvidas,
genealogias, materiais diferentes que foram alinhavados. Podemos dizer que o
livro levou quase mil anos para chegar à forma com que nós o conhecemos hoje.
No início do Gênesis encontramos duas narrativas sobre a criação. Pertencem
a épocas diferentes e refletem situações e problemas diferentes. Nenhuma das
duas pretende ser um relato científico das origens do mundo e do homem.
Elas estão preocupadas em responder a determinadas perguntas e problemas
dentro de um determinado tempo e situação. Não foram os primeiros escritos da
Bíblia e não são obras de um mesmo autor.
Gênesis 1-11 foi escrito para trazer vida e esperança para recomeçar e ser
criativo nas situações mais “caóticas” da existência. Não é uma teoria científica
sobre a origem da vida e do ser humano. A forma literária dessa narração bíblica
tem semelhança com a linguagem usada nas culturas mesopotâmicas, egípcias
e canaanitas.
Embora colocada depois, esta segunda narrativa sobre a criação é muito anterior
à primeira. Ela foi redigida no tempo de Salomão (971-931 A.C) e reflete uma
preocupação com a fertilidade do solo, certamente do agricultor. O próprio Deus
é quem faz, modela o Homem e a Mulher. O ser humano é colocado num jardim
(paraíso), dá nome aos animais que significa ter senhorio, por isso deve guardar
e cuidar da criação. Neste capítulo estão misturados o ideal popular (solo fértil)
e a ideologia do rei (paraíso) para justificar a situação política, econômica e social
do povo no tempo da monarquia.
A função das narrativas da criação, portanto, não é dar uma explicação científica
para as origens do mundo e da humanidade. Elas estão preocupadas em
responder a determinadas perguntas e problemas dentro de um determinado
tempo e situação.
O autor sagrado utilizou a imagem do Deus-oleiro, que era muito comum para
os povos antigos. Por exemplo, no poema babilônico de Gilgamesh conta-se
que, para criar Enkidu, a deusa Aruru “plasmou argila”.
A metáfora que mostra Eva “extraída de Adão” apenas quer dizer que ela teve o
mesmo princípio do homem. A afirmação de Adão: “Esta é osso dos meus ossos
e carne da minha carne” (Gn 2,23); é metafórica e significa que a mulher tem a
mesma natureza e dignidade do homem, diferente dos demais seres.
Santo Agostinho diz que a metáfora quer nos ensinar que a mulher foi
tirada “do lado” do homem, assim como a Igreja nasceu do lado de Jesus
aberto na cruz. Ela não foi tirada do pé do homem, pois não devia ser-lhe
escrava; mas também não foi tirada da cabeça, pois não devia ser-lhe
chefe. Foi tirada “do lado”, para ser companheira.
O que importa é afirmar que os primeiros pais foram elevados à filiação divina
(justiça original) e que, submetidos a uma prova, não se mantiveram no estado
de amizade com Deus (cometeram o pecado original).
Seria falso, porém, dizer que Adão e Eva nunca existiram ou que são fábula ou
alegoria: são tão reais quanto o gênero humano é real; o texto sagrado nos diz
que Deus tratou com o homem nas suas origens,… com o homem real, e não
com um ser fictício. E a história referente aos primeiros pais é história real,
embora narrada em linguagem figurada (serpente, árvore, fruta…).