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No Princípio (Ler um Livro; Ver uma série)

Falamos hoje pela manhã que o capítulo inicial de Gênesis nos leva diretamente a um
mundo de espaço e tempo. A frase inicial de Gênesis e a estrutura que segue, enfatizam que
estamos lidando com História tanto quanto se falássemos sobre nós mesmos nesse momento
particular do tempo. Ao dizer isso, é claro, consideramos o conceito judaico de verdade.
De fato, quando examinamos o conceito grego de verdade em relação ao conceito judaico,
descobrimos uma diferença. Muitos dos filósofos gregos viam a verdade como expressão de um
sistema metafísico corretamente equilibrado, muito semelhante a um móbile. Ou seja, enquanto o
sistema estivesse equilibrado, poderia ser deixado sozinho e considerado verdadeiro.
O conceito judeu sobre a verdade se preocupa com o que está aberto a discussão, aberto
à racionalidade, não sendo apenas um salto existencial. Está enraizado no que é histórico. Por
exemplo, vemos Moisés insistindo: “Vocês viram! Vocês ouviram!”. Em Deuteronômio 4 e 5,
pouco antes de morrer, Moisés lembrou aos judeus diante dele que, quando jovens, eles tinham
visto e ouvido o que ocorrera no Sinai, na história espaço temporal, então tudo isso é verdade.
Seus pais morreram no deserto, mas eles, os filhos, viram e ouviram a história. Josué falou
da mesma forma um pouco depois, em Josué 23.3ss. Na realidade, vemos um paralelo exato
entre essas e outras passagens do Antigo Testamento e a explicação de João sobre por que ele
escreveu o Evangelho de João: “Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos
muitos outros sinais no espaço-tempo [essa é a ideia aqui], que não estão escritos neste livro.
Vimos também hoje a revelação sobre Deus como eterno, Triuno, pessoal, relacional,
que planejou a redenção do seu povo, que escolheu, decidiu, que age.

1. Agora olhamos e vemos um Deus que cria (Gn 1:1, 2)


Quando Deus fala, algo acontece! "Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo
passou a existir" (SI 33:9). Quando refletimos sobre os atos de Deus registrados em Gênesis 1,
não podemos deixar de nos curvar reverentemente em adoração, pois seus atos criadores
revelam um Deus de poder e de sabedoria, cuja palavra tem autoridade.
A Escritura usa a palavra criou poucas vezes. Isso é verdade principalmente quanto à
forma específica usada em Gênesis 1.1, 21, 27 e 5.1,2. No desdobramento da criação, a palavra
criou é usada em três pontos cruciais. O primeiro deles é o ponto no qual Deus criou a partir do
nada (Gn 1.1); o segundo, é aquele no qual Deus criou a vida consciente (Gn 1.21); e o terceiro, é
aquele em que Deus criou o homem (Gn 1.27).
Três livros da Bíblia abrem com "começos". Além de Gênesis 1:1 também encontramos em
Marcos 1:1 começando com as palavras: "Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus".
foi o princípio da proclamação da mensagem sobre Jesus Cristo de Nazaré (At 1:21, 22 e 10:37).
E em João 1:1. as palavras: "No princípio era o Verbo" (Jo 1:1) remetem-nos à eternidade
passada, quando Jesus Cristo, o Verbo vivo de Deus, existia como o Filho de Deus. Jesus Cristo
é o Filho eterno de Deus que existia antes de todas as coisas, pois fez todas as coisas (Jo 1:3; Cl
1:16, 17; Hb 1:2). Assim, o "começo" de João é anterior ao de Gênesis 1:1.
A frase: "No princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gn 1:1) refere-se a um passado
indeterminado, no qual Deus fez com que o Universo viesse a existir a partir do nada (SI 33:6; Rm
4:17; Hb 1:3). Gênesis 1:1, 2 é a declaração de que Deus criou o Universo. No capítulo 1, o Deus
criador é chamado trinta e duas vezes de Elohim, uma palavra hebraica que enfatiza sua
majestade e poder. O texto revela seu poder ao criar todas as coisas simplesmente ordenando-as
pela palavra falada. A matéria não é eterna; ela teve início quando Deus falou e tudo passou a
existir (Ef 3:9; Cl 1:16; Ap 4:11; 5:13)
As nações que cercavam o povo de Israel possuíam antigas tradições que "explicavam" a
origem do Universo e da humanidade. Esses mitos falavam de monstros que lutaram nas
profundezas dos oceanos e de deuses que guerrearam para que o Universo viesse a existir. O
Deus do Gênesis, o Deus das Escrituras, sozinho, criou todas as coisas e ainda está no controle
de sua criação. Se o povo de Israel tivesse prestado mais atenção ao que Moisés havia escrito,
jamais teria adorado os ídolos de seus vizinhos pagãos.

2. Um Deus Que Forma (vv 3-13).


Warren Wiersbe divide os dias da criação nessas duas categorias: Deus forma e Deus
preenche. Ele diz: “Existe um padrão nas atividades de Deus durante a semana da criação:
primeiro ele formou e depois encheu. Fez três esferas de atividade: os céus, a Terra e as águas
e, então, encheu-as com as formas de vida apropriadas.”
Esse segundo passo não deve ser confundido com o primeiro. Por um motivo: em quase
todo caso, esse dar forma e preencher é introduzido com haja. Por exemplo, “E disse Deus: Haja
luz; e houve luz” (Gn 1.3), ou “E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas… e assim
foi” (Gn 1.6,7). Em resumo, Deus diz algo como: “Assim seja”, um tipo de ato diferente da própria
criação.
A palavra haja tem uso ainda mais geral em alguns versículos. Por exemplo, em Gênesis
1.14, “E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus”, Deus prossegue dizendo: “sejam
eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos”. E na segunda porção do
versículo 26, diz: “e que eles [os homens] tenham domínio”. Ou seja, nesses lugares, Deus não
necessariamente traz algo à existência. Perceba, contudo, que na maioria dos usos da palavra
haja nesse capítulo, Deus ainda opera por fiat, assim como fez na criação. Diz “que isso
aconteça”, e acontece.
A vida como a conhecemos não poderia existir sem a luz do Sol. Desde o primeiro dia
(vv. 3-7) da criação, Deus estabeleceu o princípio da separação. Ele não apenas separou a luz
das trevas (Gn 1:4), mas também o dia da noite (v. 14). Sendo assim no primeiro dia (w. 3-5).
Deus disse Haja Luz e a luz brilhou e, depois, separou a luz das trevas.
No segundo dia (vv. 6-8). Deus colocou um firmamento entre as águas superiores e
inferiores e o chamou de "Céus". Firmamento não significa simplesmente “expansão”. É uma
palavra bastante ampla, como podemos observar no fato de que firmamento é onde a Lua, o Sol
e as estrelas estão (v. 14), mas firmamento também é onde os pássaros voam (v. 20).
No terceiro Dia (vv. 9-13), a diferenciação continua e concentra-se na própria Terra:
“Disse também Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça o
elemento seco; assim foi”. Agora, temos mar e terra. Há um refinar constante, por assim dizer, à
medida que seguimos esses passos. O versículo 11 contém uma quarta diferenciação: “E disse
Deus: Produza a terra relva, ervas que deem semente, e árvores frutíferas que, segundo as suas
espécies, deem fruto que tenha em si a sua semente, sobre a terra. E assim foi”. Assim, a terra
produz vegetação e temos aqui uma diferenciação entre não vida e vida de um tipo vegetal.

3. Um Deus que preenche (vv. 14-31)


No quarto dia (vv. 14-19) Wiersbe diz que Deus criou três "espaços" específicos: a terra,
os mares e o firmamento dos céus. Durante os três dias criativos que se seguiram, ele então
preencheu esses espaços. Deus faz os luminares no firmamento e, na Terra, separa o dia da
noite. Fez o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; fez
também as estrelas. Entretanto, a tônica principal é uma contínua diferenciação, enquanto a
existência parte do ser bruto para a luz (ou energia) e então para um espaço diferenciado, áreas
de água e terra, os seres inanimados, as plantas vivas, e dia e noite na terra.
O Quinto Dia (vv. 20-23) Resume uma das diferenciações mais importantes — entre a
vida consciente e a inconsciente. É nesse ponto particular que a palavra criou é usada em sua
forma especial: “E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves
acima da terra no firmamento do céu. Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres
viventes que se arrastavam, os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas
espécies; e toda ave que voa, segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era bom”. Assim,
surge a vida consciente em dois níveis — vida consciente nas águas e vida consciente no ar. Mas
nesse ponto, enfatiza‐se a singularidade da vida consciente.
O Sexto dia (vv. 24-31) chegamos à última diferenciação. Nessa divisão, a vida consciente
na terra é distinguida da vida consciente na água e no ar. Nesse ponto, tudo foi produzido e
diferenciado, com exceção de um ser — o homem. Assim, chegamos, finalmente, a distinção tão
importante para nós. Deus separa o homem do ser bruto, da vida vegetal e da vida consciente de
peixes, pássaros e animais. Ele diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança…”.
O homem aparece em contraste marcante com tudo o que foi criado antes. A palavra criou
é aplicada ao homem, e isso significa que Deus criou o homem de um modo especial. Ademais,
temos uma informação específica sobre esse modo especial: o homem foi feito “à imagem de
Deus”. Devemos observar essa passagem, em relação a Gênesis 2.7, que acrescenta mais
detalhes: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego
da vida; e o homem foi feito alma vivente”.
Para não valorizarmos demais a palavra alma, devemos perceber que ela também é usada
em relação a outros seres vivos com vida consciente. Assim, na verdade, a ênfase aqui não está
em alma em oposição a corpo, mas no fato de que, por um ato específico e definido, Deus criou o
homem para ser um ser vivo e consciente. Deus fez o homem à sua imagem, por um ato
específico de criação. Como vimos, Gênesis 1.27 e 5.1,2 enfatizam isso com vigor, usando a
palavra especial ‘criação’ (‘criou’, ‘criado’) três vezes.

CONCLUSÃO:
Algumas lições:
Em primeiro lugar, fomos criados por Deus. Não somos produto de algum acidente
galáctico nem ocupamos o degrau mais alto de uma cadeia evolutiva. Foi Deus quem nos fez, o
que significa que somos criaturas e dependemos inteiramente dele. "Pois nele vivemos, e nos
movemos, e existimos" (At 17:28).
Em segundo lugar, fomos criados à imagem de Deus. Diferentemente dos anjos e dos
animais, podemos ter um relacionamento muito especial com Deus. Não apenas nos deu
personalidade, a mente para pensar, emoções para sentir, arbítrio para tomar decisões, mas
também nos concedeu uma natureza espiritual interior que nos permite conhecê-lo e adorá-lo.
Em terceiro lugar, fomos criados para ter domínio sobre a Terra. Adão e Eva foram os
primeiros regentes da criação de Deus. "Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele
aos filhos dos homens" (Sl 115:16). No entanto, quando Adão acreditou na mentira de Satanás e
comeu do fruto proibido, perdeu seu domínio, e agora o pecado e a morte é que reinam sobre a
Terra.
Em quarto lugar, devemos ser bons despenseiros da criação. Isso significa que devemos
respeitar os outros seres humanos também feitos à imagem de Deus. Significa apreciar as
dádivas que recebemos da criação e não desperdiçá-las nem abusar delas. É válido observar que
não podemos honrar ao Deus da criação se desonramos aquilo que ele criou.
Quinto e último lugar, Jesus Cristo, o último Adão, veio à Terra, exerceu o domínio que o
primeiro Adão havia perdido. Demonstrou ter autoridade sobre os peixes, as aves e outros
animais. Quando morreu na cruz, venceu o pecado e a morte, de modo que agora, por meio de
Jesus Cristo podemos ter paz com Deus.
A Bíblia é muito eficiente. Devemos lembrar que é a mensagem de Deus ao homem caído.
O Antigo Testamento deu ao homem o que precisava, da Queda à primeira vinda de Cristo. O
Antigo e o Novo Testamento juntos fornecem tudo que precisamos, da Queda à segunda vinda de
Cristo.

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