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Livro: Gênesis no Espaço-tempo - Francis A Schaeffer / Genesis 1.

Gênesis no Espaço-Tempo examina o fluxo da história bíblica começando da questão


fundamental da Criação. Para Schaeffer, o versículo inicial de Gênesis, “no princípio Deus criou
os céus e a terra”, bem como os demais versículos do capítulo inicial, formam a trama e o enredo
espaço-temporal relativas à posição histórica e geográfica do homem no cosmo “tanto quanto se
falássemos sobre nós mesmos neste momento particular do tempo, num local geográfico
específico”.
Warrem Wiersbe diz: “Apesar do nome "Gênesis", que significa "começos", e de sua
localização como o primeiro livro da Bíblia, o Livro de Gênesis não é o começo de tudo. Gênesis
1:1 nos lembra que: "No princípio, criou Deus". Assim, antes de estudar os fundamentos
apresentados em Gênesis 1-11, vamos nos familiarizar com o que Deus fez antes daquilo que se
encontra registrado em Gênesis.
Schaeffer está comprometido com a historicidade do relato de Gênesis, incluindo-se a
historicidade de Adão e Eva. Adão funciona em uma variedade de maneiras:
1. A partir de um componente em listas genealógicas (Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos
ao começar o seu ministério. Era, como se cuidava, filho de José, filho de Eli; Lc 3:23; Cainã, filho de Enos,
Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus. 38; Quanto a estes foi que também profetizou Enoque,

o sétimo depois de Adão Jd 14);

2. Como uma verdadeira figura da ressurreição de Cristo (Pois assim está escrito: O
primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro
o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo
homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e,
como é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno,

devemos trazer também a imagem do celestial. 1 Co 15:45-49).

3. Na associação dominante que o NT faz entre Adão e Eva e a origem do pecado. A


imputação a Adão da origem do pecado e a propagação da morte: “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em
conta quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não
pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir. Todavia, não é
assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça
de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos. O dom,
entretanto, não é como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa,
para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação. Se, pela ofensa de um e por
meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão
em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os
homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se
tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Sobreveio a
lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o
pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus

Cristo, nosso Senhor”. Romanos 5:12-21; “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu,

de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado”. 7.25).

4. Paulo contrasta Adão e Cristo. Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele
as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a
ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão

vivificados em Cristo. 1 Co 15:20-22. O autor das Epístolas Pastorais atribuiu o pecado a Eva:

“...pois porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão”. 1 Tm 2:13,14.

Gênesis fornece o conjunto de pressupostos para uma cosmovisão sólida e coerente,


começando pelo Deus pessoal, triúno e infinito. A negação disso resultou na queda da
humanidade, e os problemas decorrentes da queda são percebidos no desespero do homem
contemporâneo. Schaeffer mostra que história e fé andam juntas, a fé cristã não é supra histórica,
o Deus vivo não está em silêncio: revela-se e está aí.
A mentalidade de toda a Escritura é de que a criação é tão historicamente real quanto a
história dos judeus e nosso próprio momento presente do tempo. Tanto o AT quanto o NT
deliberadamente plantam suas raízes nos capítulos iniciais de Gênesis, insistindo em que eles
são um registro de eventos históricos. Qual é o princípio hermenêutico envolvido aqui? Os
primeiros capítulos de Gênesis devem ser vistos integralmente como História, assim como os
registros a respeito de Abraão, Davi, Salomão ou Jesus Cristo.

Antes do Princípio
Embora Gênesis se inicie com “no princípio”, isso não significa que não tenha havido nada
antes desse “princípio”. Em João 17.24, Jesus ora a Deus Pai, dizendo: “Tu me amaste antes
da fundação do mundo”. E em João 17.5, Jesus pede ao Pai que o glorifique, ao próprio Jesus,
“com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”. Há, portanto, uma
realidade que remonta à eternidade antes da frase “no princípio”. Cristo existia, tinha glória com o
Pai, e foi amado pelo Pai antes de “no princípio”.
Em Efésios 1.4, lemos: “… [Deus] nos elegeu nele [Cristo] antes da fundação do
mundo…”. Portanto, antes de “no princípio”, existiu uma realidade diferente de uma situação
estática. Uma escolha foi feita e essa escolha demonstra pensamento e vontade. Fomos
escolhidos nele antes da criação do mundo. A mesma verdade é enfatizada em 1 Pedro 1.18-20,
afirma: “sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém

manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” . Da mesma forma, em Tito 1.1-3 lemos: “Paulo, servo
de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da
verdade segundo a piedade, na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos
tempos eternos e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por

mandato de Deus, nosso Salvador” . Esse fato impressiona. Como uma promessa pode ser feita antes

da criação do mundo? Quem poderia fazer e a quem poderia ser feita?


A Escritura fala de uma promessa feita pelo Pai ao Filho ou ao Espírito Santo, porque,
afinal, nesse ponto específico da sequência não havia ninguém mais a quem prometer.
Finalmente, a mesma ideia é apresentada em 2 Timóteo 1.7-10 “ Porque Deus não nos tem dado
espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. Não te envergonhes, portanto, do testemunho de
nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor
do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as
nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos
tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só

destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” .

Assim, estamos diante de uma questão muito interessante: quando começou a história? Se
alguém está pensando dentro do conceito moderno de contínuo espaço-tempo, então está
bastante óbvio que o tempo e a história não existiam antes de “no princípio”. Mas se pensamos
na história em contraste com uma outra, eterna e filosófica, ou em contraste com uma eternidade
estática, então ela começou antes de Gênesis 1.1.
Esse tema não é mera teoria. O que está envolvido é a realidade do Deus pessoal em toda
a eternidade. A realidade do Deus pessoal, em contraste com um motor teórico imóvel fixo, um
big bem ou a projeção da raça humana e das espécies por meio de uma evolução natural, ou
ainda de seres estra terrestres que povoaram esse mundo, teorias puramente subjetiva do
pensamento do homem.
Quando lemos “No princípio criou Deus os céus e a terra”, não somos deixados com algo
suspenso no vácuo: algo existia antes da criação e esse algo era pessoal, não estático; o Pai
amava o Filho; havia um plano; havia comunicação; e fizeram-se promessas antes da criação dos
céus e da terra.

PODEMOS APREDER AGUMAS LIÇÕES:


1. Deus é eterno. Ele não tem começo nem fim. Assim, é totalmente auto-suficiente, não
precisa de nada além dele mesmo para existir e agir. De acordo com A. W. Tozer: "Deus tem
uma relação voluntária com tudo o que criou, mas não tem uma relação necessária com
coisa alguma além dele próprio". Deus não precisa de nada, nem do Universo material e nem
da raça humana, e, no entanto, criou os dois.
2. Nessa verdade está o conceito da realidade da Triunidade. Sem a Triunidade, o
cristianismo não teria as respostas de que o homem precisa. Contemplar a natureza e o caráter
do Deus Trino que sempre foi, que é, e que sempre será, daquele que nunca muda, é uma tarefa
grande demais para nós. O mesmo Moisés que escreveu "No princípio, criou Deus"; também
escreveu: "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade, tu és Deus" (SI 90:2). Frederick Faber expressou esse fato da
seguinte maneira: “Além do tempo, do espaço, único e só. / E, no entanto, Três em sua
sublimidade, / Tu és, grandiosamente / e para sempre, somente / Deus em unidade!” . A
doutrina da Trindade não foi revelada claramente no Antigo Testamento, pois a ênfase dessa
parte das Escrituras é sobre o fato de que o Deus de Israel é um só Deus, que não foi criado e
que é o único e verdadeiro Deus.
3. O Deus de Gênesis é o único Deus verdadeiro. Ele não tem "deuses rivais" para
contender com ele, como acontece nas fábulas e mitos do mundo antigo ( Que estas minhas
palavras, com que supliquei perante o Senhor, estejam presentes, diante do Senhor, nosso Deus, de dia e de
noite, para que faça ele justiça ao seu servo e ao seu povo de Israel, segundo cada dia o exigir, para que todos

os povos da terra saibam que o Senhor é Deus e que não há outro. 1 Re 8:59,60 ; Tendo Ezequias recebido a
carta das mãos dos mensageiros, leu-a; então, subiu à Casa do Senhor, estendeu-a perante o Senhor e orou
perante o Senhor, dizendo: Ó Senhor, Deus de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente

és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra. 2 Re 19:14,15; Pois quem é Deus, senão o

Senhor? E quem é rochedo, senão o nosso Deus? Sl 18:31). Adorar os falsos deuses dos povos que

viviam a seu redor foi a grande tentação e o pecado no qual Israel caiu repetidamente, de modo
que Moisés e os profetas bateram sempre na tecla da unidade e da singularidade do Deus de
Israel. Até hoje, o adorador judeu devoto recita o Shema todos os dias: "Ouve, Israel, o Senhor,
nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de toda a tua força" (Dt 6:4,5). O Deus revelado nas Escrituras não tem semelhantes
nem rivais.
4. O Deus Triuno planejou a redenção. O maravilhoso plano de redenção não foi algo
improvisado para o povo de Deus escolhido em Cristo que é o que lemos em Mt 25.31-34
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da
sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor
separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei
aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado

desde a fundação do mundo”; e até mesmo para aqueles que não foram escolhidos, como lemos em
Ap 17:8 “E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a

fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá. A morte sacrificial do
Filho não foi um acidente, mas sim um compromisso ( Varões israelitas, atendei a estas palavras:
Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio
Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado

desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos ; At 2:22,23; porque
verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e
Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito

predeterminaram; At 4:27,28).

Esse Deus Eterno, Triúno, único e verdadeiro, sendo ele pessoal e infinito planejou a
nossa redenção por meio da escolha de seu povo em Cristo “antes da criação do mundo”. Assim,
a história não tem início no fiat lux, mas a história “começou antes de Gênesis 1.1”.
Por que isso é importante? Porque o Deus Triúno escolheu comunicar-se também no
tempo e no espaço e isso aponta para o Deus do cristianismo em contraste infinito com as
perspectivas filosóficas do século XX, em especial os conceitos de uma divindade impessoal.
O Deus que se revela é pessoal em toda a eternidade e ele escolheu comunicar-se
conosco. Ele não estava estático antes da Criação, pois o Pai amava (e ama) o Filho, e o Espírito
Santo é o Espírito do Pai. “Havia um plano; havia comunicação; e fizeram-se promessas antes da
criação dos céus e da terra”.
O importante não é saber tudo sobre tudo, ou saber tudo o que Deus sabe, mas obedecer
a tudo o que ele nos ordena.

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