O primeiro capítulo do evangelho de João fala bastante do pensamento do escritor sobre
Jesus. Ele reconhecia Cristo como Deus. João 1.14 resume bem o que o autor queria dizer: “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. Ao utilizar a figura do Tabernáculo no Antigo Testamento, na qual a glória de Deus era vista simbolicamente no meio do povo na forma da coluna de fogo e da nuvem, João diz que o Verbo (Jesus) veio e “armou seu tabernáculo” entre nós. Jesus tornou-se homem e, assim, foi possível ver nele a glória que pertencia unicamente a Deus (veja Êx 40.34; Nm 16.42; Jo 12.41; etc.). João ensina que Cristo leva as pessoas à adoração do Senhor, quando lhes revela a glória do Pai, mas esta majestade pertence também ao Filho (Jo 8.50-54; 11.4,4042; 14.13; etc.). Jesus já possuía a glória do Pai antes de nascer e recebeu novamente a plenitude da majestade, quando subiu ao Céu e foi exaltado à direita de Deus (Jo17.5, 24). João também ensina que, assim como Cristo honrou o Pai e tem sua própria glória, o Espírito viria e glorificaria o Filho (Jo 16.14). Provavelmente a preexistência de Jesus é mais claramente ensinada nos escritos de João do que em qualquer outro lugar do Novo Testamento. Ele existia desde a eternidade e não simplesmente a partir do momento em que encarnou (Jo1.1,4,14; 3.17; 17.5,24; 1 Jo 3.8; 4.9). Também esteve diretamente envolvido na própria criação, pois “todas as coisas foram feitas por meio dele... nele estava a vida” (Jo 1.3,4). Jesus “se manifestou” (1 Jo 1.2) e foi “enviado” por Deus Pai, com quem mantinha uma comunhão muito especial com o Senhor (Jo 8.42; 11.42; 1 Jo 4.14). Esta condição de “Filho de Deus” também é um tema importante no evangelho de João, por meio do qual a comunhão entre o Pai e o Filho é demonstrada em destaque. Na verdade, o próprio objetivo do evangelho, segundo João (Jo 20.31), é “que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. O autor afirma que o que Jesus disse destacava sua condição única de “Filho de Deus”. Por meio da insistência de Cristo de que as palavras que proferia e as obras que realizava eram provenientes do Pai (Jo 14.10; etc.) e em sua oração (Jo 17) vemos repetidamente sua comunhão com o Pai e a importância deste relacionamento no nosso entendimento sobre quem Ele é. É João quem relata a ocasião em que Jesus voltou-se para Filipe e disse: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9). Cristo prosseguiu: “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, nas as digo por mim mesmo. Antes, é o Pai que está em mim quem faz as obras” (v. 10). Era importante para João que seus leitores aceitassem a deidade de Jesus. A ênfase na autoridade de Cristo, como “Filho de Deus”, no fato de ter sido “enviado” por Deus e ser o Messias (Jo 1.41; 4.29; 20.31; etc.), seu ensino em João 14 a 17 sobre sua comunhão preexistente com o Pai, tudo isso proporciona um acúmulo de evidências de que Jesus é Deus. Para João, este ensino é resumido em declarações como as que são encontradas em João 1.14 e 20.31. O autor também chamou a atenção para as numerosas ocasiões em que Jesus fez declarações relativamente explícitas de que era Deus, as quais imediatamente fizeram com que os líderes religiosos o acusassem de blasfêmia. As mais importantes destas afirmações incluíam o uso da expressão “Eu sou” em certos contextos que o identificaram como Yahweh, o Deus “EU SOU” (veja Êx 3.14). Por exemplo, em João 8.58, lemos: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão nascesse, eu sou!”. Essa parece ser tanto uma declaração de preexistência como de divindade, pois assume o nome de Deus. O ensino mais distinto de João sobre Jesus é a descrição dele como “o Verbo” (gr. Logos). Embora haja debate sobre o pano de fundo do qual o autor extraiu esta descrição de Cristo, alguns pontos podem ser estabelecidos. No cap.1, “o Verbo” estava com Deus, era Deus e criou todas as coisas. Em Gênesis 1 Deus falou e o mundo foi criado. No Salmo 33.6 diz que “pela palavra do Senhor foram feitos os céus”. A palavra de Deus é ativa no AT. Quando o Senhor fala, algo acontece. Certamente este pano de fundo do Antigo Testamento está por trás de parte do que João ensinou, ao chamar Jesus de “o Verbo” (ou “a Palavra”). Talvez ele também pensasse num contraste entre Cristo e a Lei do AT, a qual é chamada de “a Palavra” de Deus. Esta comparação é feita em João 1.17, no final da seção na qual Jesus, “o Verbo”, é apresentado. O interesse principal de João era que seus leitores conhecessem Jesus como a Palavra criadora e reveladora, que veio da glória no Céu, tornou-se completa e genuinamente humana e viveu neste mundo. O Deus verdadeiro, Criador e preexistente tornou-se homem, pôde sentir fome como qualquer outro ser humano e experimentou genuinamente o sofrimento. Este Jesus, tão glorioso em toda a sua verdade e perfeição, pôde ser visto, tocado e ouvido (1 Jo 1.1). Por meio da fé nele e somente nele, é possível, segundo o ensino de João, que todas as pessoas recebam o perdão dos pecados e a vida eterna. Jesus, o sacrifício pelos pecados, trouxe salvação e libertação, a fim de que ninguém “pereça” sob o juízo de Deus (Jo 3.16,17). Qual maior amor pode haver, pergunta João, do que este demonstrado por Deus, que enviou seu único Filho como “propiciação” pelos nossos pecados? (1 Jo 4.9,10). Isso nos leva à visão de João sobre este mundo e o pecado. O termo “mundo” pode referir-se ao mundo geográfico ou a todas as pessoas do mundo; entretanto, é usada freqüentemente por João para descrever as pessoas que não reconhecem Jesus como o Filho de Deus e estão em rebelião contra Ele (Jo 1.10; 14.17; 1 Jo 2.15-17; Ap 12.9; etc.). Cristo “é a luz que resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela” (Jo 1.5). Satanás é descrito como “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31), que está cheio de transgressão e um dia será julgado. Os falsos profetas são apenas um sinal da grande extensão do pecado (1 Jo 4.1-6). Jesus precisou vir para trazer salvação ao mundo que estava sob o juízo de Deus e João mostrou que de fato Cristo venceu (1 Jo 2.13; 5.4; Ap 17.14; etc.). Sua vitória sobre o pecado, sobre o mundo e sobre Satanás foi conquistada na cruz e será finalmente revelada em sua segunda vinda (Ap 21; etc.).
Sobre o Espírito Santo
João também escreveu bastante sobre o ensino de Jesus concernente ao Espírito Santo. A terceira pessoa da Trindade desceu sobre Cristo no momento em que Ele foi batizado pelo Batista. Somente João, entre os escritores dos evangelhos, relaciona este batismo com o fato de que o próprio Jesus não batizará somente com água, mas com o Espírito Santo (Jo 1.31-34; veja Lc 3.16). Provavelmente João olhava tanto para o dia de Pentecostes como para a experiência no Cenáculo, após a ressurreição, quando Jesus surgiu entre os discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles aos quais perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20.22; veja também 7.39). Em João 3, o escritor fala sobre o encontro de Jesus com Nicodemos. A obra do Espírito Santo na salvação e na provisão da vida eterna é enfatizada, quando Cristo mostrou ao mestre de Israel que ele precisava “nascer de novo” e “nascer do Espírito”. A completa liberdade que o Espírito Santo exercita nesta obra de regeneração também foi evidenciada (Jo 3.3,6,8). O ensino mais interessante sobre o Espírito Santo nos escritos de João, e também o mais amplo, ocorre em João 14 a 16. Em cinco ocasiões o Espírito é chamado pelo termo grego “Paracleto” (o Consolador). Este vocábulo significa “aquele que fica ao lado”, mas também inclui a ideia de um representante legal ou advogado que argumenta em favor de alguém. Em João 14.16,17 “o Espírito da verdade” é chamado de “outro Consolador”. Ele viria para as pessoas quando o atual conselheiro, Jesus Cristo, fosse glorificado, ou seja, depois que retornasse ao céu. Sua presença permanente seria conhecida por todos os discípulos e pelos crentes e, assim, o próprio Jesus continuaria presente entre seu povo, por intermédio do Espírito. Além da obra do Espírito Santo como Deus presente entre seu povo, Ele também ensina sobre Jesus. Provavelmente, numa referência direta ao ministério apostólico de interpretar a vida, morte e ressurreição de Cristo para o mundo, Jesus disse aos discípulos: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). Sem dúvida esta declaração teve uma importância particular para João, que mais tarde escreveu para muitos, em diversas ocasiões, a fim de explicar que Jesus era o caminho da salvação, também porque, durante a vida de Jesus, conforme já vimos antes, ele não compreendeu plenamente qual era a missão de Cristo. João destacou, além disso, o ensino de Jesus de que o Espírito Santo daria poder aos crentes para serem testemunhas (Jo 15.26,27). Mais do que isso, entretanto, esses versículos destacam que, em tudo o que o Espírito Santo faz, Ele testifica sobre Jesus e o glorifica. Em João 16.5-11 a obra do Espírito é mais detalhada. Sua atuação trará convicção de pecado ao mundo e a advertência quanto ao julgamento de Deus e lembrará as pessoas da vitória de Cristo sobre Satanás. Novamente, a obra do Espírito é vista como uma continuação da do próprio Cristo; entretanto, também se desenvolverá a partir do que Jesus foi capaz de ensinar aos discípulos. O Espírito iria “guiá-los em toda a verdade” e também revelaria mais sobre a verdade sobre Jesus, para a glória de Cristo (Jo 16.12-15). João ensinou que o Espírito Santo está intimamente envolvido na obra de evangelização. Convence as pessoas do pecado, opera dentro delas para que possam nascer de novo, revela a verdade de Cristo e permanecerá com os convertidos até a volta de Jesus. Sua obra revela Cristo para as pessoas e as leva até Ele.
Sobre a vida eterna
A vida eterna é um tema importante no evangelho de João. Enquanto Mateus, Marcos e Lucas ensinam sobre o reino de Deus (ou do céu), ele usa a expressão “vida eterna”, a qual ocorre 22 vezes em seu evangelho e em 1 João. Para o apóstolo do amor, a vida eterna resume todas as bênçãos herdadas pelos que crêem e são salvos por Cristo. O conceito surge do ensino de que em Jesus há vida, que começa em João 1 (Jo 1.4; 5.21, 26; etc.). As pessoas podem permanecer nas trevas e sob o juízo ou podem crer em Jesus e no Pai e receber a vida eterna. Aquele que aceita a mensagem do Evangelho “passou da morte para a vida” (Jo 5.24; 8.12; 1 Jo 5.13). Quando os judeus pensaram que possuíam vida eterna por meio da obediência às Escrituras, Jesus demonstrou que a Palavra de Deus apontava para Ele próprio, em quem havia vida (Jo 5.39,40; 1 Jo 5.11, 20). Intimamente ligado a este ensino sobre a vida eterna está o fato de que Cristo morreu como um sacrifício em favor de outros. Ele renunciou à sua vida para que os que cressem pudessem viver eternamente (Jo 10.10-18, 28). Assim, a vida eterna é um dom de Deus recebido pelos que nascem de novo pelo Espírito (Ap 22.17). Existem muitas bênçãos e alegrias presentes, relacionadas ao ensino de João sobre a vida eterna. Embora todas as satisfações aguardem a plena realização na volta de Cristo, de qualquer maneira a experiência presente da vida eterna é suficientemente real. O medo da morte e do juízo não mais permanece sobre o crente, pois o verdadeiro amor de Deus já opera em nós (Jo 3.16,17, 36). Há alegria em compartilhar a vida eterna com outros e em conhecer a Cristo, que é a vida (Jo 4.36; 5.24). Há a alegria de conhecer o Deus Pai e o Deus Filho (Jo 17.3, 6,7) e existe o grande conforto de receber a unção do Espírito Santo, que habita no crente (1 Jo 2.25-27). Finalmente, o mais importante para João é que o propósito da vida eterna redundará na presença dos crentes num novo céu e numa nova terra, diante de Deus eternamente. A vida eterna, que começa agora por meio da obra do Espírito Santo nos corações, leva a este glorioso ápice, quando “eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 21.3). Naquele último dia, embora sejam perseguidos no presente, os cristãos receberão “a coroa da vida” (Ap 2.10). Embora tão pressionados neste mundo, serão “vestidos de vestes brancas” e seus nomes jamais serão riscados do livro da vida (Ap 3.5, etc.). PRÓLOGO 1 No princípio era aquele que é a Palavra (ou o verbo). Ele estava com Deus e era Deus. (ecoa em Gênesis 1:1 – No princípio Deus criou os céus e a terra através da palavra). 2 Ele estava com Deus no princípio. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. 4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. 5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram. (remete a Gênesis 1:3-5 / 14-18 / 20- 31). 6 Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João. 7 Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem. 8 Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz. 9 Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens. 10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. (Mas os seus não o receberam se refere ao povo judeu, os destinatários dos pactos de Deus, da lei e das promessas de um Messias. Romanos 9:4). 12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, 13 os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus. (A referência aos filhos de Deus baseia-se na caracterização de Israel no Antigo Testamento como os filhos de Deus. Deuteronômio 14:1 / Êxodo 4:22. Nâo nasceram do sangue... mas de Deus, deixa claro que os que nascem por meio da fe no Messias são filhos de Deus, isso abre caminho para os gentios se tornarem filhos de Deus. João 11:51-52). 14 Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade. 15 João dá testemunho dele. Ele exclama: "Este é aquele de quem eu falei: aquele que vem depois de mim é superior a mim, porque já existia antes de mim". (João Batista era seis meses mais velho do que Jesus e começou o seu ministério antes Dele. Mas a preexistência de Jesus no princípio de tudo teve vantagem sobre a precedência temporal de João. ). 16 Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça. 17 Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido.
Jesus define a si mesmo como:
● Pão da vida – 6:35, 48, 51 ● Luz do mundo – 8:12 ● A porta – 10:7,9 ● O Bom pastor – 10:11,14 ● A ressurreição – 11:25 ● O caminho – 14:6 ● A verdadeira videira – 15:1,5