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Prolegômenos necessários para a compreensão do Evangelho segundo escreveu o apóstolo

João

Propósito da escrita: Fazer com que os leitores creiam que Jesus é o Messias, o
Filho de Deus, e com que, por meio dessa fé, tenham vida (Jo 20:31).

Autor: O apóstolo João é comumente aceito como autor não apenas do


Evangelho, mas também das epístolas que levam seu nome e o Livro de Apocalipse.
Teólogos e estudiosos tem discutido ainda a autoria do evangelho segundo escreveu João.
Diferente de Paulo que ao escrever suas epístolas se identifica como o autor “Paulo, servo de
Jesus Cristo”, não tem o mesmo quando se refere a João. Então, como saber que João, o
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apóstolo amado, escreveu de fato esse Evangelho? Para solucionar esse problema utilizamos
de duas evidências:
1ª: evidência interna: se refere ao que encontramos dentro da própria escritura.
2ª: evidência externa: se refere às evidências históricas.

Porque não vos demos INTERNA João o Apóstolo Amado

a conhecer o poder e a
vinda de nosso Senhor 1

Jesus Cristo seguindo João foi uma testemunha ocular. Somente


uma testemunha ocular seria capaz de
fábulas, mas nós
dar detalhes tão claros:
mesmos fomos ● “acerca da décima hora” (Jo 1:39)

testemunhas oculares ● “seis jarros de água de pedra” (Jo 2:6)


● “153 grandes peixes” (Jo 21:11).
da sua majestade (2Pe
1:16). 2 Cinco vezes, o autor do Evangelho, chama a si mesmo de
“o discípulo a quem amava” – João 21:24; 13:23; 19:26;
20:2; 21:7,20. Também utiliza o termo “Outro discípulo”
(Jo 18:15; 20:2-3,8).
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EXTERNA

1- Evidência histórica – Tradição da Igreja Cristã: “Os três discípulos que eram mais íntimos do
Senhor Jesus (que são Pedro, Tiago e João), este último nunca é mencionado em todo o
Evangelho de João. Esta reserva confirma a tradição da velha igreja de que João, o discípulo do
Senhor, é o autor deste evangelho”. Irineu (140 a 202 d.C) foi aluno de Policarpo de Esmirna
(que ele próprio conheceu a João).
2-Teófilo de Antioquia citou o primeiro verso do Evangelho por volta de 180 d.C e nomeou
João como autor.

Quem foi João:


Filho de Zebedeu e Salomé, irmão de Tiago.
1)Zebedeu foi um próspero pescador na margem do lago da Galiléia e ele empregava
empregados contratados (Mc 1:19-20; 15:40)
2)Salomé, mãe de João e Tiago (Mt 27:55-56; Mc 15:40) havia ordenado ao Senhor Jesus que
seus dois filhos sentassem à sua direita e sua mão esquerda em seu Reino (Mt 20:20).
3)Chamado por Cristo: Mt 4:21-22; Mc 1:19-20; Lc 5:10-11.
4) João e seu irmão estavam cheios de zelo pelo Senhor Jesus. É provavelmente por isso que
Cristo os nomeou Boanerges (os filhos do trovão) Mc 3:17; Lc 9:49-50.
5)João chegou a ser representante dos apóstolos em Samaria (At 8:14) onde Paulo em sua
segunda viagem missionária para Jerusalém o encontrou (Gl 2:9), depois disso mudou-se para
Éfeso. Onde é provável que tenha permanecido até sua morte em uma idade muito avançada.
Por volta do ano 100 d.C aproximadamente, esta estadia foi interrompida por seu exílio na ilha
de Patmos (Ap 1:9) onde escreve a Revelação.
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COMENTÁRIO BÍBLICO PURITANO


Tradução utilizada: Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original

CAPÍTULO 1
Do verso 1 ao 5 revelação a respeito de Cristo
VERSO 1
“No princípio” – Esse princípio vai muito mais além do princípio criacional encontrado em
Gênesis 1:1, é “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4).
De acordo com Rubens Szczerbacki1 eternidade é tudo aquilo que tem dimensão espiritual, é
metafísico, subjetivo e infinito: não tem princípio nem fim. Pode-se dizer que não é
necessariamente um período indefinido de tempo, mas algo que a mente humana tem
dificuldade de conceber. A eternidade se divide em três eternidades no ambiente espiritual
(Kairós).

ETERNIDADE PASSADA ETERNIDADE PRESENTE ETERNIDADE FUTURA

Na esfera física temos (Kronos):


ETERNIDADE PASSADA TEMPO ETERNIDADE FUTURA

Princípio Criacional

Essa dimensão temporal só passou a operar depois da Queda.


Mostramos esses quadros definindo eternidade e tempo com o objetivo de mostrar que Cristo
existe antes mesmo do princípio criacional (do início da criação de todas as coisas).
“Era o verbo” – Refere-se ao próprio Cristo chamado pelo nome “Verbo de Deus” (Jo 1:1,14;
1Jo 1:1; Ap 19:13). Observação: A quem utilize o texto de Lucas 1:2 como uma expressão
divina de Cristo - “sejam ministros da palavra”, ou seja, que o termo “palavra” esteja se
referindo ao próprio Jesus.
“E o Verbo estava com Deus” – existência eterna de Cristo (Jo 1:2 cf. Mq 5:2; Jo 8:58; 17:5,24;
Cl 1:17; Hb 7:3; Ap 22:13), Ele não foi chamado a existir, mas já existia.

1
Rubens SZCZERBACKI, Revelando os mistérios da Criação, pg. 32
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Rev2. William Burkitt expõe o seguinte:

No começo, quando todas as coisas recebiam seu ser, então a Palavra era, e de fato subsistia,
mesmo desde toda a eternidade. Não no início do estado evangélico, mas no começo da criação,
como aparece nas seguintes palavras: Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do
que foi feito se fez. O que claramente mostra que o evangelista está falando aqui da criação,
ascensão ou começo de todas as coisas criadas.
Aprenda, portanto, que Jesus Cristo, não apenas antecedente à sua encarnação, mas mesmo
antes de todos os tempos, e o começo de todas as coisas, tinha um ser e uma existência reais.

“E o Verbo era Deus” – Divindade de Cristo declarada (Mt 16:16; Lc 22:69; Jo 10:30,37-38;
12:45; 14:7-10; 16:15). Logo encontramos três fatos sobre Cristo no verso primeiro: (1) sua
existência eterna; (2) sua coexistência pessoal com o Pai e (3) sua essência divina.
De acordo com John Trapp um antigo filósofo disse que “João compôs coisas mais estupendas
em três linhas do que fizemos em todos os nossos volumosos discursos”. E essa afirmação não
está errada, pelo contrário, é tão profunda quanto ao mar, em verdades. Não existe obra
maior que a encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. Nas palavras do apóstolo Paulo: Sem
dúvida, este é o grande segredo de nossa fé: Cristo foi revelado em corpo humano, justificado
pelo Espírito, visto por anjos, anunciado às nações, crido em todo o mundo e levado para o céu
em glória (1Tm 3:16 NVT). Se a Palavra de Deus nos diz a respeito da justificação, expiação,
propiciação, reconciliação, adoção, regeneração, santificação, glorificação é porque primeiro
houve uma encarnação, ou seja, Cristo encarnou em corpo humano (Is 7:14; 9:6; 11:1; Lc 1:31;
2:7; Jo 1:14; At 2:30; Rm 1:3; 8:3; Fp 2:7; 1Tm 3:16; Hb 2:14; 1Jo 4:2; 2Jo 7), e por meio dessa
encarnação tornou-se sacrifício trazendo benefícios salvíficos “nessa vontade é que temos sido

2
Abreviação de Reverendo.
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santificados, mediante a oferta do corpo3 de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hb 10:10). A
morte de Cristo não foi um assassinato, muito menos um martírio, foi sim, um sacrifício!

VERSO 2
“Ele estava no princípio com Deus” – apóstolo João está retificando aqui as verdades já
esboçadas no versículo 1, a respeito da preexistência e divindade de Jesus Cristo (1Jo 1:2). Isso
é, o verbo existiu no começo da criação e, conseqüentemente, desde a
eternidade. Ele foi quando todas as coisas começaram a ser; tudo teve um começo. E o Verbo
estava com Deus - Ou seja, antes de qualquer ser criado existir (cf. Sl 90:2; Pv 8:23).

O puritano Matthew Poole diz:

Essas palavras do evangelista são mais uma confirmação e uma explicação do que o evangelista
havia dito antes; afirmando a eternidade do Filho, e sua relação com o Pai, e unidade de
essência com o Pai. Quer o evangelista, avisado pelo Espírito de Deus, tenha acrescentado essa
repetição ao antepassamento dos cristãos contra os erros que depois causaram problemas na
igreja, não posso dizer; mas certo é que estas palavras efetivamente refutam os eunomianos, que
distinguiram entre a Palavra que no princípio era com Deus, e aquela Palavra pela qual todas as
coisas foram feitas; e os arianos, que fazem o Pai ter existido antes do Filho; como também os
Anomianos, que fariam o Pai e o Filho diversificar tanto na natureza como na vontade. Alguns
outros fazem deste verso uma transição para João 1: 4, e o sentido de ser, Este mesmo não foi
manifestado ao mundo desde o princípio do mundo, mas estava com Deus até que ele veio a ser
manifestado na carne: assim, 1 João 1: 2 , é dito, ele era com o Pai e foi manifestado a
nós. Ele foi manifestado na carne, 1 Timóteo 3:16

VERSO 3
“Todas as coisas” – referem-se a todos os elementos da criação (Os céus, a terra [Sl 146:6], o
universo [At 17:24], as estrelas [Gn 1:14,16], os anjos [Jó 38:4-7], o homem [Mc 10:6], os
elementos da natureza [Gn 1:11], os animais [Gn 1:20-25])
“Foram feitas” – ou seja, gerados, trazidos a existência (Jo 1:3,10; 1Co 15:45; Hb 4:3,11:3; Gn
2:4; Is 48:7).

3
Ou seja, sacrifício.
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“Por intermédio dele” – Cristo é Deus, e Deus é criador de todas as coisas (1Co 8:6; Ef 3:9; Cl
1:16; Hb 1:1-2; Gn 1:1; Êx 20:11; Ne 9:6; Jó 12:9; 26:7; Sl 24:2; 33:6; 95:5; 102:25;104:5; Is
40:28; 45:12;48:13; At 4:24; 7:50; 14:15; 17:24; Hb 11:3; Gn 1:26; 2:7; 5:2; Dt 4:32; Jó 33:4; Sl
8:5; 100:3; Is 51:13; Ml 2:10;At 17:28).
“E sem ele, nada do que foi feito se fez” – Conclui-se que Cristo é criador de tudo, e como
resultado disso, todas as coisas veio a existir pelo seu poder, caso contrário nada,
absolutamente nada viria à existência.

VERSO 4
“A vida estava nele” – Vida com o sentido de existência, e vida, em um sentido absoluto e sem
fim (Jo 5:26; Rm 6:4; Ef 4:18; Hb 7:16; 2Pe 1:3; 1Jo 1:1-2; Ap 2:7; 21:6; 22:1-2,14,17), não
simplesmente uma vida natural, mas a vida eterna que Jesus revelou ao mundo (2Tm 1:10).
Assim como criou também vivifica! O reverendo arminiano Adam Clarke expõe esse texto de
maneira muito clara quando diz:

Portanto, a expressão nele era a vida, não é para ser entendido da vida natural, mas daquela vida
eterna que ele revelou ao mundo, 2 Timóteo 1:10 , ao qual ele ensinou o caminho, João 14: 6.,
que ele prometeu aos crentes, João 10:28 , que ele comprou para eles, João 6:51,53-54, que ele
é designado para lhes dar, João 17: 2 , e para o qual ele vai levantá-los, João 5:29 , porque ele
tem a vida em si, João 5:26 .

“E a vida era luz dos homens” – Jesus é a luz do Mundo (Is 9:2; 42:6; Mt 4:16; Lc 1:79; Jo 1:4,9
8:12; 12:35,46; 2Co 4:6; Ef 5:14; 1Jo 2:8; Ap 21:23) a estrela da manhã (Nm 24:17; 2Pe 1:19; Ap
2:28; 22:16), sendo assim o único capaz de guiar os homens aos céus e trazer vida eterna, pois
o mundo pela própria sabedoria não tem esse conhecimento (1Co 1:21). Entenda que o
contexto que todos os homens se encontram é de total escuridão moral e espiritual “mortos
em delito e pecados”. E ninguém pode encontrar conhecimento salvífico por si mesmo, a não
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ser que Deus se revele, e Ele se revelou, iluminou por meio de Cristo o Único caminho da
salvação e verdade!
Charles Haddon Spurgeon declara que:. Você pode às vezes chamar as trevas, a ignorância dos
homens ou o pecado dos homens. Se preferir, pode chamar-lhe a sabedoria dos homens e a
justiça dos homens, pois isso é apenas outra forma da mesma escuridão.
Essa verdade se torna mais clara no versículo seguinte.

VERSO 5
“A luz resplandece nas trevas” – Como metonímia refere-se a respeito de pessoas em
escuridão moral e espiritual, mas a luz resplandece, ou seja, brilhar sobre algo. Como o sol que
começa a dar feixes de luz ao nascer, iluminando-nos trazendo o dia, Cristo em sua vinda
encarnada traz brilho que aparta toda escuridão moral e espiritual (Jo 5:35; Fp 2:15; 1Jo 2:8; Sl
18:28; 119:130; Pv 29:13; Is 29:18; 60:19; At 26:18; 2Co 4:6; Ef 1:18; 1Pe 2:9) inserida sobre a
humanidade (Jo 3:19; Mq 3:6; Mt 6:23; Rm 13:12; Ef 5:8; 1Ts 5:4).
“E as trevas não prevaleceram contra ela” – Nesse texto a tradução mais exata seria: “e as
trevas a não compreenderam”. Isso acontece pelo termo grego Katalambanō. No grego, o
texto se encontra da seguinte maneira:

καὶ τὸ φῶς ἐν τῇ σκοτίᾳ φαίνει καὶ ἡ σκοτία αὐτὸοὐ κατέλαβεν

Katalambanō – significa em sentido literal ou figurado: aprender, obter,


encontrar, compreender, achar, conseguir, perceber, tomar, dominar.

No versículo 5 o sentido é figurado: As trevas a não compreenderam, ou seja, não conseguiram


dominar com a mente, compreender, perceber (At 4:13; 10:34; 25:25; Ef 3:18). Em algumas
traduções: NVT o texto fica da seguinte forma: A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca
conseguiu apagá-la4;

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Ou e a escuridão não a entendeu.
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Rev. Albert Barnes explica da seguinte maneira o verso 5.

A escuridão não "recebeu" ou "admitiu" os raios de luz; as sombras eram tão espessas que a luz
não conseguia penetrá-las; ou, para deixar cair a figura, os homens eram tão ignorantes, tão
culpados, tão degradados que não apreciavam o valor de suas instruções; eles o desprezaram e o
rejeitaram. E assim ainda é. A grande massa de homens, mergulhados no pecado, não receberá
seus ensinamentos e será iluminada e salva por ele. O pecado sempre cega a mente para a beleza
e excelência do caráter do Senhor Jesus. Indica a mente a receber suas instruções, assim como a
“escuridão” não tem afinidade com a “luz”; e, se esta existe, a outra deve ser deslocada.

Podemos concluir que o sentido do texto, é que por mais que foi concedida aos homens, não é
estimada (ou conhecida) por eles devido a sua condição atual. Paulo aos Romanos expressa de
maneira digna essa ideia de reterem a injustiça no lugar da verdade: “A ira de Deus se revela
do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”
(Rm 1:18).
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Rev. John Gill diz:

Pela luz da natureza e os restos dela, os homens não poderiam chegar a qualquer conhecimento
claro e distinto das coisas acima; e muito menos a qualquer conhecimento do verdadeiro
caminho da salvação: a menos que, pela luz deveria ser entendida, a luz do Messias, ou do
Evangelho brilhando nas figuras, tipos e sombras da lei, e nas profecias e promessas do Antigo
Testamento: e, no entanto, tais eram as trevas sobre as mentes dos homens, que eles não podiam
distintamente apreendê-lo, e muito menos compreender plenamente, de modo que havia
necessidade de uma revelação fresca e mais completa; uma conta de que segue;

Uma das melhores explicação do versículo 5 do Evangelho de João capítulo 1 é trazida por
Coffman5 que diz:

Algumas das traduções favorecem "a escuridão não a superou"; no entanto, uma comparação
com expressões paralelas: "o mundo não o conheceu" ( João 1:10 b), e "o seu próprio não o
recebeu" ( João 1:11).b), justifica a entrega aqui. É claro que também é verdade que "a
escuridão não a superou", nem jamais o fará. A hostilidade básica entre luz e trevas, bem e mal,
o reino de Deus e o reino do mal, aparece neste verso. O mundo não regenerado odeia a Deus e
o conhecimento de sua verdade; mas o ódio e a oposição dos homens maus não podem impedir
que a luz brilhe. Ela brilha de sua própria glória inerente, independentemente de quão
inadequada a resposta humana possa ser. A história dos dois últimos milênios é aqui resumida
como a Luz brilhando nas trevas!

Lúcio Flávio Medeiros Filho

5
Coffman Commentary
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Ministração

A Palavra e seu efeito (1:1)

N
ossas palavras explicam nossas ideias aos outros, assim Jesus foi enviado para
revelar o pensamento de Seu Pai ao mundo pecador. Uma das definições do que é
ser cristão, é que o mesmo ama os mandamentos de Deus (Jo 14:21). Mas quais
são esses mandamentos? Por qual via eu posso conhecê-lo? Para o cristão, qual é a revelação
de Deus? Cristo! Cristo é o próprio Deus e a própria Palavra. Então, quando nos entregamos à
leitura diária da palavra de Deus, quando mergulhamos nas Escrituras para conhecer aquilo
que Deus tem a nos mostrar, logo, o Verbo vem e preenche a lacuna da alma, preenche com
alimento espiritual (Jo 6:48), mas não somente isso, Jesus sustém e ampara o crente (1Pe 5:7),
porque Cristo, Deus, é amor (1Jo 4:8). É o verbo que traz a verdade libertadora (Jo 8:23). É o
verbo que quebra os grilhões da ignorância. E como se não o bastasse é Jesus a luz da glória de
Deus. “O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam na
região e sombra da morte, A luz raiou” (Mt 4:16).
“O povo, que estava assentado em trevas” significa a nossa condição humana, ou seja,
totalmente depravado;
“Viu uma grande luz” significa a provisão de Deus em se revelar ao homem como Salvador por
intermédio de Jesus Cristo, seu Filho.
Luz é um atributo de Deus (Sl 27:1; 36:9; 84:11; 118:27; Is 60:20; Mq 7:8; Hc 3:4; 1Jo 1:5; Ap
22:5). A luz sempre é usada como um símbolo positivo, tal como de boa sorte (Jó 30:26);
vitória (Mq 7:9-9); justiça e retidão (Is 59:9); orientação (Sl 119:105); e alguém que traz
libertação (Is 49:6).

Em contraste ao que foi apresentado:

a. Cristo Jesus é a luz que ilumina o homem que está em trevas;


b. Cristo Jesus é a vitória para aquele que crê n’Ele para salvação;
c. Cristo Jesus é o exemplo de Justiça e retidão para o cristão;
d. Cristo Jesus é quem nos liberta do pecado;
e. Cristo Jesus é quem nos guia no caminho da verdade – Ele é o caminho e a verdade.

Conclui-se também que Cristo, sendo Deus e a Palavra (Jo 1:1), as Santas Escrituras são fontes
de Luz (Sl 19:8; 119:105; 130; Pv 6:23; 2Pe 1:19. Mas para que essas bênçãos espirituais sejam
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alcançadas temos que voltar às Escrituras, confessar que as Escrituras são suficientes (Veja,
Sola Scriptura Isaías 8:19-20). Se sua confiança não se deposita na Palavra, se não vive de
acordo com a Palavra, você está claramente adorando e confiando em um deus não revelado
pelas Escrituras, logo está idolatrando deuses criados pela sua própria imaginação. Façamos
como Josias “ouvindo o rei as palavras do livro da lei, rasgou suas vestes” (2Rs 22). Foi uma
atitude de humilhação e arrependimento, pois reconheceu que o livro tinha uma autoridade,
pois são as palavras do próprio Deus. É a Bíblia, e tão somente a Bíblia por meio do Espírito
Santo trazendo: alimento (Dt 8:3; Jó 23:12; Sl 119:103; Jr 15:16; Ez 2:8; 3:1; Mt 4:4; 1Pe 2:2);
luz (Sl 19:8; 119:105,130; Pv 6:23; 2Pe 1:19); força que dá vida (Ez 37:7; At 19:20); Poder
salvador (Rm 1:16); purificação (Sl 119:9; Jo 15:3; 17:17; Ef 5:26; 1Pe 1:22); esperança (Rm
15:4); conhecimento da vida eterna (1Jo 5:13) e muitas outras bênçãos incontáveis em Cristo
Jesus.
Leia as Escrituras até que seja mudado! Leias as Escrituras até que receba mais fé! Leia as
Escrituras até que se sinta alimentado! Leia as Escrituras até que se sinta amado! Leia as
Escrituras para que tenha conhecimento espiritual! Leia as Escrituras, alimente-se do Verbo
vivo de Deus, pois é Ele Jesus Cristo o pão da vida!
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João versículo 6 ao 8: João Batista

VERSO 6
O mensageiro de Deus tem por finalidade: (1) transmitir a Palavra de Deus (Is 25:4). (2) Ela
pode ser acompanhada de milagres e ações sobrenaturais como no caso de Moisés (Nm
16:28), ou não como no caso de João Batista (Jo 10:41), mas com milagres ou não, a
importância está no conteúdo da mensagem que o mensageiro traz. Obs:. Anjos também são
mensageiros de Deus (Lc 1:19). João Batista foi o mensageiro de Deus profetizado nas
Escrituras (Ml 3:1) que cumpriria o desígnio do Pai em preparar o caminho para a vinda do
Senhor, chamado precursor de Cristo (Mt 11:10;Lc 1:17,76).
“Enviado de Deus” – João não foi por seu próprio desejo ou porque quis assim. Não era a
vontade do homem sendo realizada, mas a de Deus. A obra de Deus a respeito de Cristo e sua
preparação ao mundo eram divinas, mostrando que Deus não lançou à sorte a sua promessa,
muito menos deixou de cumpri-la, mas sempre esteve trabalhando para que ela se cumprisse.
Deixando muito claro o domínio e governo de Deus sobre os homens, e “que nenhum dos teus
propósitos pode ser impedido” (Jó 42:2).

VERSO 7
“Este veio para testemunho” – Dar um depoimento. Assim que judicialmente encontramos
tribunal e pessoas depondo (Mc 14:55; cf. Jo 8:17).
“Todos”- diferente dos calvinistas, onde “todos” não são de fato todos. Isso em sua falsa
exegese, o termo “todos”, refere-se aqui a todas as pessoas literalmente.
“Cressem por ele” – esse era o objetivo de João, pregar a verdade.

VERSO 8
“Não era ele a luz” – por mais de sua estatura espiritual, o autor deixa bem claro quanto a
qualquer idolatria que pudesse vir sobre João Batista, mesmo sendo ele um homem abnegado
(Mt 3:4), valente (Mt 3:7; 14:4), obediente a Deus (Mt 3:15), pregador poderoso (Mc 1:5),
humilde (Mc 1:7; Jo 1:19-23), santo (Mc 6:20), ardentemente zeloso (Jo 5:35), honrado por
Cristo ( Mt 11:11; Lc 7:24-27) e cheio do Espírito Santo (Lc 1:13-17) ele não era a Luz no sentido
de Salvador, e tão somente a Luz era digna de receber adoração e reconhecimento como o
sendo o próprio Deus.
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Matthew Poole expressa o seguinte:

João Batista era uma luz, como todos os santos são luz no Senhor, Efésios 5: 8 ; não, em um
sentido peculiar, nosso Salvador dá-lhe testemunho de que ele era uma luz ardente e
brilhante; mas ele não era aquela Luz antes mencionada, João 1: 5 , que brilha nas trevas; e
novamente João 1: 9, que ilumina todo homem que vem ao mundo. Efésios 5: 8; João 1: 5,
9. João pegou sua luz emprestada daquela Luz original; que a Luz era Deus, ele era apenas um
homem enviado por Deus. Os homens do mundo estão ordinariamente em extremos, ou
rejeitando totalmente os ministros e testemunhas de Deus, ou então os adorando; como o mundo
está preocupado em dar atenção aos primeiros, assim os ministros de Cristo também estão
altamente preocupados em não admitir o último. Veja Lucas 7:33, Atos 14:13-14 ; mas tanto
João aqui quanto Paulo estavam muito cautelosos para não roubar o Mestre da honra que lhe era
devida. Atos 14:13

“Mas para que testificasse da luz” – mais uma vez o autor realça a incumbência que estava
sobre os ombros de João Batista: anunciar a todos a vinda eminente do Messias.
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DOUTRINA PURA, VIDA SANTA


Aplicação Prática
Verso 66

A
qui o evangelista prossegue declarando que Cristo é realmente Deus, porque ele
era aquele original, aquela luz essencial, que não tinha começo, não sofre
decadência, mas é tão difusa, e de alguma forma e em alguma medida, iluminar
cada homem que vem ao mundo. Alguns dos judeus tinham um conceito de que João Batista
era o Messias prometido, como aparece em Lucas 3:15. O povo estava em expectativa, e todos
os homens refletiam em seus corações sobre João, se ele era o Cristo ou não. Aqui, portanto,
para despertar os judeus, o evangelista acrescenta que João não era essa luz; João era uma
grande luz, uma luz ardente e brilhante, mas não tão leve quanto o Messias era para ser.

João foi uma luz instrumentalmente, Cristo eficientemente,


João era uma luz iluminada, Cristo era uma luz esclarecedora;
A luz de João era por derivação e participação, a de Cristo era essencial e original;
A luz de João era a luz de uma vela em uma casa particular, dentro e entre os judeus apenas:
mas a luz de Cristo era como a luz do sol, espalhando-se pela face de toda a terra.

Esta é a verdadeira luz, que ilumina todo homem que vem ao mundo; isto é, ele ilumina toda a
humanidade com a luz da razão e é o Autor de toda a iluminação espiritual neles que a
recebem. Cristo é chamado de luz em relação ao seu ofício, que era manifestar e declarar essa
salvação à sua igreja que estava escondida antes no propósito de Deus; e ele é chamado
a verdadeira luz , não tanto em oposição a toda a falsa luz, mas em oposição aos tipos e
sombras da dispensação mosaica.
Aprenda, 1. Que todo homem e mulher que vem ao mundo é iluminado por Cristo em algum
tipo e medida ou outro. Todos são iluminados com a luz da razão e da consciência natural:
alguns com a luz da graça e iluminação sobrenatural.
Aprenda, 5. Que Cristo sendo a Luz essencial, original e eterna, iluminando e animando toda a
criação, é uma demonstração evidente e inegável de que ele é verdadeiramente e realmente
Deus.

Reverendo Joseph Parker


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Notas expositivas com observações práticas sobre o Novo Testamento
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Ministração

Luz Primária e Secundária (1:6-13)

O
João falado no primeiro verso do texto é João Batista. O evangelista diz que João
foi enviado por Deus. A biografia ordinária começa em outro ponto. Neste caso,
parentesco, nascimento, treinamento, são omitidos por completo, e a própria
beleza de Deus ilumina a face do homem. Os homens têm maneiras diferentes de se
verem. Em alguns casos, eles olham para baixo, para "a lama e o barro" para que guardem na
memória "o buraco do poço do qual foram escavados"; em outros, vêem a vida humana
religiosamente e reivindicam a dignidade e o privilégio dos filhos de Deus. A influência dessa
visão sobre os usos da força e sobre a vida circundante deve ser intensa e salutar. Nós
degradamos a vida quando omitimos Deus de seu plano. Por outro lado, nós descemos sobre o
nosso trabalho com a plenitude do poder quando percebemos que é Deus que opera em nós a
vontade e a realização do seu bom prazer. Qual é a nossa visão da vida? Temos apenas uma
existência física, ou somos nós os mensageiros do Altíssimo? Quando Moisés foi para o seu
trabalho, ele foi capaz de dizer: "EU SOU me enviou a você". Assim, quando João assumiu sua
missão, ele corajosamente afirmou ser o servo designado de Deus. Nosso maior poder está no
lado religioso de nossa natureza: fisicamente, somos esmagados antes da
traça; religiosamente, temos a onipotência como fonte de nossa força.
"O mesmo veio para uma testemunha" - Deus revela-se a nós aos poucos como podemos
ser capazes de suportar a luz. Ele estabeleceu uma longa e maravilhosa procissão de
testemunhas, desde Moisés até João, que foi o último da linha ilustre. Está bem quando um
homem conhece distintamente o limite de sua vocação. Somos fortes dentro de nossos
próprios limites. João, como professo Salvador, teria sido fraco e desprezível; mas como
testemunha ele era uma luz ardente e brilhante. João Batista era como a estrela da manhã. Ou
(mudando a figura) ele era um homem de pé na montanha mais alta, que, tendo um vislumbre
do primeiro raio solar, exclama: "Eis o dia que vem!" E não é tal exclamação a única
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originalidade da qual somos capazes? Não há originalidade, exceto aquilo que é relativo, em
qualquer ministério ou em qualquer igreja.
"Ele não era a Luz" - ele era apenas um raio temporário: a luz mais brilhante que a mão do
homem pode acender é instantaneamente empalidecida quando o sol brilha em sua força - é
de fato a luz secundária quando brilhando sozinha, e não somente bela, mas preciosa para os
homens que, sem ela, estariam nas trevas; ainda assim poderia falar, diria: "Eu sou apenas
uma centelha de outro fogo; sua admiração pelo meu esplendor cessará quando você vir o
sol". Tal é o discurso dos homens mais luminosos. Nossa luz é lunar, não solar; ou solar apenas
porque Cristo está em nós e, de acordo com a medida de nossa capacidade, ele derrama sua
glória através de nossa vida.
"Essa foi a verdadeira Luz, que ilumina todo homem que vem ao mundo." Quando o sol
brilha para cada oração de Manassés, Jesus Cristo vive para todos os homens. A lâmpada da
casa pertence ao dono da casa: a lâmpada na rua é uma conveniência local: mas o sol jorra
pela manhã e pela tarde em todos os vales e na casa mais humilde; essa é a verdadeira luz: a
liberdade de toda oração de Manassés,- a propriedade privada de ninguém! E todo homem
sabe que o sol é a verdadeira luz - sente que é assim - e sem hesitação afirma que é
supremo. Não há debate sobre se o sol ou a lua é a luz do mundo. Imagine uma noite escura e
um observador que nunca viu o sol: uma estrela de repente se mostra, e o observador a louva
com prazer; atualmente a lua brilha com toda a sua força gentil, e o observador diz: "Este é o
cumprimento da promessa; pode ser mais bonito, o céu pode ser mais brilhante?" No devido
tempo, o sol surge; toda nuvem está cheia de luz; cada montanha é coroada com uma
estranha glória; cada folha da floresta é prateada; o mar se torna como vidro polido, e o
segredo é afugentado da face da terra: sob tal visão, o observador sabe que esta é a
verdadeira luz - a chama soberana dominadora. É assim na revelação de Jesus Cristo. Quando
os olhos dos homens se abrem para vê-lo em toda a sua graça, sabedoria e simpatia - em toda
a suficiência de seu sacrifício e no conforto de seu Espírito - o coração fica satisfeito, e toda luz
rival se perde no infinito esplendor de Deus o Filho.
"Veio para o que era seu e os seus não o receberam." Ele veio a suas próprias coisas
(ϊδια), e seu povo (ϊδιοι) não o recebeu. Não havia lugar para sua mãe na estalagem. Ele
mesmo não tinha onde reclinar a cabeça. Ele era como um chefe de família vindo para sua
própria casa e sendo mantido por seus próprios servos. O que é a terra, mas um apartamento
na grande casa de Deus! Sua mobília - (suas colinas e vales e rios, frutas e flores e campos de
colheita) - é de Jesus Cristo, pois aparte dele não foi feito nada que foi feito, mas quando ele
chegou à sua própria casa, sua propriedade foi negado pelos servos que tinham sido
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temporariamente possuídos pelo seu próprio poder e graça! "Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó
terra; porque o Senhor fala, eu tenho nutrido e criado filhos,
"Mas tantos quantos o receberam, deram-lhe poder para se tornarem filhos de

Deus."Tendo acreditado em seu nome, eles entraram em uma nova relação com seu Pai no
céu. Eles estavam vivendo uma vida de mera fraqueza; o sentido e a alegria da filiação haviam
sido perdidos e se tornaram irrecuperáveis, exceto pela fé, que é o dom de Deus. Regeneração
é tanto a obra de Deus como a criação. Um homem pode se desfazer de si mesmo, mas o
poder da restauração não está em sua própria mão. Nem há mistério ou injustiça nisso. A
mesma lei é válida no mundo físico, como no mundo espiritual: um homem pode se matar,
mas ele pode recuperar sua vida novamente? Ou ele pode esmagar uma flor, mas ele pode
curá-la e torná-la perfeita e bonita como antes? Ou ele pode destruir sua visão, mas ele pode
recuperar sua visão? Nós só podemos destruir; nós não podemos criar. "Israel, tu te destraste;
mas em mim está a tua ajuda." Vamos dar personalidade a duas flores e, a partir de sua
conversa, aprendamos algo sobre esse assunto: "Estou de pé nesta janela mês a mês, e declaro
que toda atenção possível me é dada; com a mesma regularidade que a manhã vem as raízes
são regadas, e não passa um dia sem que a janela seja aberta para que eu possa ser revivido
pelo ar fresco: assim, se alguma vez a flor tivesse motivo para contentamento e alegria, eu sou
aquela flor ". Por enquanto, tudo bem. Agora, a segunda flor, luxuriante e bela, diz: "Veja a
diferença entre nós! Eu sou do mesmo tipo que você; somos chamados pelo mesmo nome;
vivemos nos mesmos elementos; no entanto, eu sou forte e florescendo, e você é fraco e
incolor ". Como isso é então? A única flor está em uma janela sem sol, a outra está vivendo ao
sol! Pregue o evangelho da luz para aquela flor, e se o seu evangelho for recebido com fé, a luz
dará a ele "poder" para se tornar tão forte e bela quanto qualquer membro da mesma
família. É assim mesmo com a humanidade. Estamos tentando viver sem a luz - a verdadeira
Luz que ilumina todo homem que vem ao mundo - e nosso julgamento nos dá mais e mais ao
poder da morte. Sem luz nenhuma alma pode viver
"Que nasceram, não de sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade da oração

de Manassés,mas de Deus." Isso, mais uma vez, é mais enfaticamente no estilo de


John. Nunca pode perder de vista a espiritualidade perfeita da obra de Jesus Cristo. João
mostra a própria religiosidade da religião. O cristianismo é para ele mais que uma história,
mais que um argumento, mais que uma teologia - é uma revelação espiritual para a natureza
espiritual do homem: da parte do homem, não é uma atitude, mas uma vida - o próprio
mistério de seu espírito, sutil demais para a análise, forte demais para a repressão, divino
demais para ser tolerante com a corrupção.
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Verso 9 a 11: ignorância, rejeição e negligência dos judeus para com Cristo

VERSO 9
“Ali estava a luz verdadeira” – o autor reafirmou para que ninguém pensasse que João fosse
de fato o Cristo. Jesus Cristo é a luz do mundo (Is 9:2; 42:6; Mt 4:16; Lc 1:79; Jo 1:4; 8:12;
12:35,46; 2Co 4:6; Ef 5:14; Ap 21:23). Lembre-se das trevas citadas no verso 5, trevas espiritual
e moral. Todos nasceram debaixo dessa condição (Rm 3:23) por causa do pecado de Adão (Rm
5:12), “Mas há uma grande diferença entre o pecado de Adão e a dádiva de Deus. Pois o
pecado de um único homem trouxe morte para muitos. Ainda maior, porém, é a graça de Deus
e sua dádiva que veio sobre muitos por meio de um único homem, Jesus Cristo” (Rm 5:15 NVT).
“Que ilumina a todo o homem” – É antes, portanto, para ser entendido como a luz da
revelação do evangelho, que Cristo trouxe a todo o mundo (Mt 28:19; Mc 16:15).
“Que vem” – referem-se a todos aqueles que nascem carnalmente.
“Ao mundo” – o termo grego para mundo é Kosmos, e pode tomar vários sentidos, como
literal ou figurado dependendo do próprio contexto. Por exemplo, mundo pode significar um
ambiente moral, a sede de preocupações, tentações, desejos irregulares (pecaminosos), em
suma o sistema imoral (Jo 12:25; 18:26; 1Co 5:10; Ef 2:2; 1Jo 4:17). Mas aqui o sentido é literal,
significando o mundo onde as pessoas vivem: nascem, cresce e morrem (Mt 4:8; Mc 16:15; Jo
3:17,19; 16:21,28; 21:25; 1Tm 3:16; 1Pe 5:9; 2Pe 3:6).

VERSO 10
“Estava no mundo” – refere-se ao mundo físico onde vivemos (Jo 16:28; 2Pe 3:6).
“E o mundo foi feito por Ele” – não só destaca o poder de Cristo em criar, mas também mais
outra doutrina é exposta aqui: A doutrina da criação (Jo 1:3) e também a doutrina da
sustentabilidade em Cristo, ou seja, todas as coisas estão apoiadas sobre Ele (Cl 1:16-17; Hb
1:3).
“E o mundo não o conheceu” – Adam Clarke diz:

υτον ουκ εγνω - não o reconheceu; porque os governantes judeus sabiam muito bem que ele
era um professor vindo de Deus; mas eles não escolheram reconhecê-lo como tal. Os homens
amam o mundo e esse amor impede que conheçam quem o criou, embora ele tenha feito isso
apenas para se dar a conhecer. Cristo, por quem todas as coisas foram feitas, João 1: 3, e por
quem todas as coisas são continuamente apoiadas, Colossenses 1:16-17 ; Hebreus 1: 3 , tem
caminho em todo lugar, está continuamente se manifestando por sua providência e pela sua
graça, e ainda assim o coração insensato do homem não o considera! Veja a razão, João
3:19 ; (Nota).
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Em sua nota de João capítulo 3:19 Clarke aprofunda-se argumentando:

Esta é a condenação - Isto é, esta é a razão pela qual alguém será encontrado finalmente para
perecer, não que eles vieram ao mundo com uma natureza pervertida e corrupta, o que é
verdade; nem que eles viveram muitos anos na prática do pecado, o que também é verdade; mas
porque se recusaram a receber a salvação que Deus lhes enviara.

A luz vem - isto é, Jesus, o sol da justiça, a fonte da luz e da vida; difundindo suas influências
benignas em todo lugar, e favorecendo os homens com uma clara e completa revelação da
vontade Divina.

Os homens amavam a escuridão - preferiram o pecado à santidade, a Belial a Cristo e o inferno


ao céu. ‫ ךשך‬chashac , trevas, é freqüentemente usado pelos escritores judeus para o anjo da
morte e para o diabo. Veja muitos exemplos em Schoettgen.

Porque suas ações eram más - Uma alusão a ladrões e garimpeiros, que praticam suas
abominações na noite, por medo de serem detectados. O sol é uma bênção comum para a raça
humana - ela brilha para todos, não inveja, e chama todos para o trabalho necessário. Se alguém
preferir dormir durante o dia, para roubar e matar na estação da noite, ele faz isso a seu próprio
risco, e não tem desculpa: sua punição é a consequência necessária de suas próprias ações
irrestritas. Assim será a punição dos homens ímpios. Havia luz - eles se recusaram a entrar
nela. Eles escolheram andar nas trevas, para que pudessem fazer as obras das trevas - eles
quebraram a lei divina, recusaram a misericórdia oferecida a eles, foram presos pela justiça
divina, condenados, condenados e punidos. De onde vem então a danação deles? De si mesmos.

VERSO 11
“Veio para o que era seu” – o autor refere-se propriamente aos judeus, a qual a promessa foi
feita.
“E os seus” - ou seja, sua própria família, país, cidade.
“Não o receberam”- Receber no sentido de (1) conhecê-Lo como Messias prometido, onde
sobre Ele cairiam todos os pecados. Não só ter os pecados lavados por seu sangue, mas ter o
problema pecado sendo resolvido. O remédio sendo anunciado, e (2) de aceitar e obedecer ao
evangelho, tornando-se participante de sua santidade, sem a qual nenhum homem no plano
do evangelho poderá ver a Deus (Hb 12:14).

O puritano John Trapp diz:


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E o seu próprio não o recebeu - Não, eles peremptoriamente e pertinentemente "negaram o


santo e o justo; e desejavam que um assassino lhes fosse dado" Atos 3:14 . Pelo que sua
inexpugnável culpa, eles são, por assim dizer, expulsos do mundo por um consentimento
comum das nações, sendo um povo abatido e desprezado. No entanto, ansiamos e procuramos
diariamente a conversão deles, a ressurreição deles, como São Paulo a chama, Romanos
11:15 . E Agostinho argumenta a partir das palavras, Abba, Pai, que um dia haverá um
consentimento de judeus e gentios na adoração do único Deus verdadeiro. Há aqueles que dizem
de Daniel 12:11 que isso ocorrerá em 1650 dC Fiat, fiat. Faça faça.

Costumamos a julgar os judeus por terem rejeitado a Cristo, mas esquecemos de considerar
que naquele tempo havia um movimento chamado “messiânico”, aonde que uma série de
lideres começou a aparecer dizendo-se ser o Ungido (Cristo) prometido por Deus. William L.
Coleman7 diz o seguinte:

Jesus não foi o primeiro nem o último homem a afirmar que era o Ungido de Deus. Os
judeus aguardavam ansiosamente um libertador que restauraria a nação aos dias de
glória vividos quando dos reinados de Davi e Salomão. Desde então já se haviam
passado mil anos, e eles tinham enfrentado divisões, exílio e ocupações. Mas muito
aguardavam firmemente o cumprimento das promessas das Escrituras, esperando o
Messias com ansiedade.
Contudo a cultura judaica estava cheia de especulações a respeito da vinda dele, de
como seriam sua aparência e seu modo de agir. Alguns acreditavam que seria
necessário preparar o caminho para ele fazendo uma convocação à sanidade ou a uma
ação militar, ou a ambas. Outros já pensavam que nada se poderia fazer enquanto o
próprio Messias não se revelasse. É interessante notar que ainda hoje essas posições
opostas são defendidas por judeus e até cristãos.

7
William.L.Coleman, Manual dos tempos e costumes bíblicos, pg.247
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E a vinda do Messias foi um tema constante no ministério de Jesus. E ela não apenas
foi importante para ele, mas também teve importância vital para aqueles com quem
teve contato. Quando André foi procurar seu irmão Pedro, a primeira coisa que lhe
disse foi: “Achamos o Messias”(Jo 1:41).

Mas é claro que isso também não justifica o fato de rejeição, mesmo tendo dificultado um
pouco, Jesus Cristo comprovou mesmo assim ser o Messias (Lc 2:38), o que acontece de fato é
que rejeitaram Jesus, porque amaram mais a trevas do que a Luz (Jo 3:19).
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Salvação dos gentios: 12-13


VERSO 12
“Mas, a todos quantos o receberam”- o autor amplia o conceito de salvação. Cristo veio para
o povo judeu, mas pela teimosia de coração rejeitaram o autor e consumador da fé, e por isso
a oferta de salvação, que era de início aos judeus, ampliou-se a todos os povos “em ti serão
benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3); O próprio apóstolo Paulo (apóstolos dos
gentios) quando escreve aos gentios e judeus de Roma expressa essa verdade na expressão:
“Pela sua queda veio a salvação aos gentios”; “sua queda é a riqueza do mundo”; “sua
diminuição a riqueza dos gentios” (cf. Rm 11:11-15).
“Deu-lhes o poder” – a capacidade (Rm 1:16; 1Pe 2:6).
“De serem feitos” – de se tornarem
“Filhos de Deus” – doutrina da reconciliação e adoção espiritual por meio de Cristo (Os 1:10;
Jo 1:12; Rm 8:14; 2Co 6:18; Gl 4:7; Fp 2:15; 1Jo 3:1).
“Aos que crêem no seu nome” – ou seja, o resultado salvífico entre os gentios ocorre por
intermédio da fé em Cristo Jesus. Sem fé em Cristo não há salvação, por isso, antes de ser
perdoado, justificado, reconciliado, adotado e santificado por Deus em Cristo pelo Espírito
Santo, o homem tem que crer. Entendemos isso pelos seguintes fatos colocados pelo apóstolo
João: (1) “aos que crêem” – ou seja, confiam (pisteuō), tem de fato uma receptividade em
receber a Cristo como Salvador (Mt 10:40; Mc 9:37; Lc 8:40; 19:6; Jo 1:12). (2) “no seu nome” –
não é confiar em João Batista, nos apóstolos ou em alguém que se diga cristão, mas o autor
especifica por quem a salvação é obtida. É no nome de Cristo. Confiando e crendo nas Palavras
de Jesus “Respondeu-lhe, pois, a Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as
Palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivente” (Jo 6:68-69).
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CAPÍTULO 2

Jesus, O Filho do homem (Jo 2:1-10) – enquanto que no capítulo 1 João busca confirmar a
divindade de Cristo, no capítulo 2 esboça sua humanidade perfeita. De acordo com a Bíblia de
estudo Thompson, “Aparece como convidado de um casamento em Caná da Galileia. Mistura-
se com homens comuns em suas atividades sociais”.8

VERSO 1
“E estava ali a mãe de Jesus”

VERSO 2
“E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas” – Em conexão com o
versículo primeiro, Jesus e seus discípulos haviam sido convidados por causa de Maria. É bem
provável que ela fosse conhecida da família, até mesmo fizesse parte da família que realizava o
casamento, já que o fato de Maria ter ido até Jesus quando o vinho havia acabado, demonstra
certa preocupação com o casal (Jo 2:3).

8
Bíblia Thompson, pg. 1937

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