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A IMPORTÂNCIA DA FÉ CORRETA EM JESUS CRISTO – EM 1JOÃO

Autor
As epístolas que trazem o nome de João são anônimas. Há, porém,
afinidades tão íntimas entre ela e o quarto Evangelho, no vocabulário e de
estilo, que a maioria dos estudiosos concordam que os quatro escritos tiveram
um só autor.
Os escritos dos pais da Igreja, de Inácio a Policarpo, também apontam
João como autor desta carta. Além disso, nos primeiros versículos da epístola
1 João 1.1-4, o autor se identifica como testemunha ocular da vida terrena
de Cristo, como alguém que literalmente teria visto e tocado a Palavra da vida.
Obviamente, essa descrição cabe a um apóstolo, mas não a um líder
eclesiástico de segunda geração. Por fim, o autor praticamente se
autodenomina apóstolo, o nós, em 1 João 1.1-3; 4-14, parece referir-se aos
apóstolos.
Não há razão para se rejeitar a tradição de ter sido o apóstolo João, filho
de Zebedeu, o autor dos quatro documentos.

Período em que foi escrito


Embora haja quem alegue que a carta tenha sido escrita antes de
Jerusalém ser destruída em 70 d.C., uma data mais para o final do século 1
possibilita a introdução das ideias que mais tarde se conjugaram no
gnosticismo, provavelmente as mesmas que João estava combatendo aqui.
Por outro lado, a carta não pode ter sido escrita depois do fim do primeiro
século, quando João faleceu. Além disso, os indícios dos autores do
segundo século, que conheciam a epístola e citavam partes dela, demonstram
que foi escrita antes desse tempo. Sendo assim, 1 João deve ter sido
escrita poucos anos antes de Apocalipse.
Ao determinar a data em que o texto foi escrito, devem-se considerar
diversos fatores:
Primeiro, o tom do livro e, especialmente, a postura do autor quanto aos
leitores sugerem que se trata de um idoso falando a uma geração posterior.
Segundo, Irineu assinala que João morou em Éfeso e escreveu às
igrejas da Ásia. As cartas de João às igrejas da Ásia em Apocalipse,
Apocalipse 2 e 3, reforçam o comentário de Irineu. A conclusão natural é de
que 1 João se dirige aos mesmos cristãos.
Terceiro, Paulo visitou Éfeso várias vezes entre 53 e 56 d.C., usando a
cidade como centro de seus empreendimentos evangelísticos. Timóteo esteve
em Éfeso com Paulo por volta de 63 d.C. e ainda estava lá quando Paulo lhe
escreveu por volta de 67 d.C. Não há indicativo de que Timóteo e João tenham
estado ao mesmo tempo em Éfeso; portanto, João deve ter visitado
Éfeso depois que Timóteo partiu. Isso fixaria a data da redação de 1 João
depois de 67 d.C., mas antes de 98 d.C. Parece razoável presumir uma data
por volta de 90 d.C.

Temas abordados
Na primeira parte da carta predomina o tema da comunhão, 1 João 1.5;
2.27, ao passo que o tema da certeza da salvação predomina na
segunda parte. Entre os conceitos mais importantes do texto estão a vida
eterna, o conhecimento de Deus e a obediência na fé. Além disso, João
desenvolve ideias teológicas nesta carta por meio de antíteses, temas
contrastantes, tais como o caminho da luz ou das trevas, filhos de Deus ou do
diabo, vida ou morte, amor ou ódio.
Esta epístola é orientada por dois grandes pensamentos acerca de
Deus-Deus é luz, 1 João 1.5 e Deus é amor 1 João 4.8-16. Deus é o sol do
firmamento espiritual, a fonte de luz para o espírito, e de calor para o coração
dos Seus filhos. É provável que João tenha escrito esta carta com dois
objetivos em mente: um pastoral e outro apologético. O objetivo pastoral de
João era incentivar a comunhão, 1 João 1.3. Entretanto, para os cristãos
alcançarem a comunhão, precisavam compreender a verdadeira natureza de
Deus, 1 João 1.5; 2.29; 4.7,8. Assim, o propósito pastoral naturalmente leva ao
propósito apologético, 1 João 2.26, que era proteger seus leitores contra as
ideias enganadoras dos falsos mestres.
A partir desses contrastes, João diferencia claramente os falsos mestres
dos verdadeiros. João escrevia a cristãos que lidavam com um tipo específico
de ensinamento deturpado, a heresia contagiosa do antigo gnosticismo. Ele
escreveu esta carta para incentivá-los a continuar obedecendo ao que ouviram
desde o princípio, a fim de que mantivessem sua comunhão com Deus e seu
amor pelos irmãos na fé. Em suma, ele os exortou a deixar evidente a todos
sua crença em Cristo, para que a doutrina correta fosse identificável pela vida
regrada e pelo amor integral que demonstrariam às outras pessoas.
O gnosticismo assumia muitas formas, porém sua ideia fundamental
parece que sempre foi a seguinte: a matéria é má, só o espírito é bom, porém
pelo saber, gnoses, de uma espécie só conhecida pelos iniciados, o espírito do
homem pode libertar-se de sua prisão material e erguer-se para Deus.
Em primeiro lugar, negava a possibilidade de uma real encarnação,
porque, sendo Deus bom, não Lhe era possível que viesse a entrar em contato
com a matéria má; e isto, por sua vez, afastava a possibilidade da expiação,
porque o Filho de Deus não podia ter sofrido na cruz.

Gnosticismo
O gnosticismo era um problema que ameaçava a igreja da Ásia Menor
ao longo do século 2 d.C. Tratava-se de um ensinamento que misturava
o misticismo oriental e o dualismo grego, que defendia que o espírito era
inteiramente bom, mas a matéria era inteiramente má. Essa perspectiva esteve
presente de forma seminal na Igreja nos últimos anos do primeiro século. Na
metade do secundo século, o gnosticismo já havia se tornado um sistema
teológico completamente desenvolvido, gerando até mesmo evangelhos e
epístolas gnósticos. João percebeu o perigo do gnosticismo e escreveu para
combater sua influência antes que se disseminasse pelas igrejas da Ásia
Menor.
A partir do conceito de que a matéria é má e o espírito é bom, alguns
gnósticos concluíram que, se Deus fosse bom mesmo, Ele não poderia ter
criado o universo material. Sendo assim, algum deus menor, demiurgo, deve
tê-lo criado. Segundo eles, o Deus do AT seria esse demiurgo. A visão dualista
do gnosticismo também gerou a difusão da crença de que Jesus não tinha um
corpo físico. Esse ensinamento, chamado de docetismo, alegava que
Jesus apenas parecia ter um corpo físico e nunca chegara a sentir dor nem a
morrer na cruz.
Outra heresia com que João lidou nesta carta e que enfrentou
pessoalmente em Éfeso foi a do cerintianismo. Essa corrente liderada por
Cerinto ensinava que Jesus era só um homem no qual o Espírito de Cristo teria
repousado ao ser batizado e que esse Espírito de Cristo teria saído de Jesus
pouco antes de Ele ser crucificado. Dessa forma, o Cristo espiritual não teria
sofrido nem morrido realmente pelos pecados da humanidade na cruz, mas
simplesmente aparentado fazê-lo.

Estrutura
A primeira carta de João é, sem dúvida, o livro bíblico mais difícil de
esquematizar. Ela está cheia de pensamentos e temas recorrentes, pois João
retorna diversas vezes às suas ênfases sobre a comunhão com Deus, a
verdade, o amor, a justiça e a fé. Este padrão levou a maioria dos comen-
taristas e crer que o livro não tem um plano lógico, e é marcado pela
associação destas ideias básicas.
Um estrutura proposta por Stephen S. Smalley, no seu volume sobre as
três cartas de João, na obra Word Biblical Commentary.
Primeira Epístola de João
I. Prefácio (1.1-4) A Palavra da Vida
II. A Vida na Luz (1.3-2.29)
(a) Deus é Luz (1.5-7)
(b) A Primeira Condição Para Viver na Luz: Renunciar ao Pecado
(1.8-2.2)
(c) A Segunda Condição: Ser Obediente (2.3-11)
(d) A Terceira Condição: Rejeitar as Coisas do Mundo (2.12-17)
(e) A Quarta Condição: Manter a Fé (2.18-29)
III. Viver Como Filhos de Deus (3.1-5.13)
(a) Deus é Pai (3.1-3)
(b) A Primeira Condição para Viver como Filhos de Deus: Renunciar
ao Pecado (3.4-9)
(c) A Segunda Condição: Ser Obediente (3.10-24)
(d) A Terceira Condição: Rejeitar as Coisas do Mundo (4.1-6)
(e) A Quarta Condição: Manter a Fé (5.5-13)
IV. Conclusão: A Confiança do Cristão (5.14-21)

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