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HISTÓRIA DE ISRAEL
Rio de Janeiro/RJ
2018
HISTÓRIA DE ISRAEL
Rio de Janeiro/RJ
2018
1
INTRODUÇÃO
As obras literárias mais antigas que têm algum peso no estudo da Bíblia são
provenientes dos povos antigos da Mesopotâmia e do Egito. A data mais remota que
é possível atribuir a Moisés é o século XV a.C., enquanto os primeiros textos de
literatura suméria e egípcia procedem da primeira parte do terceiro milênio 1.
Entretanto, devemos considerar que Moisés “...foi educado em toda a
sabedoria dos egípcios e tornou-se um homem poderoso em palavras e obras” (At
7.22). Provavelmente ele conhecia mais acerca da história universal anterior e sem
dúvida alguma fez uso da escrita (Êx. 17:14, 24:4, 34:27, Nm. 17:2, 33:2, Dt. 6:9,
24:1,3, 27:3,4, 31:19,24).
Quanto ao Gênesis, parece que ele usou registros que vieram de gerações
anteriores2.
1
LONGMAN III, Tremper. Como ler Genesis. Tradução de Marcio Loureiro Redondo.
São Paulo – SP: Vida Nova, 2009. p. 82.
2
HALLEY, Henry H. Manual Bíblico: um comentário abreviado da Biblia. Tradução
de David A. de Mendonça; revisão de Gordon Chown. 4ª ed., São Paulo – SP: Vida Nova, 1994. p.
56.
2
3
MARQUES, Joaquim de Jesus. Literaturas do Próximo Oriente Antigo na Bíblia:
Origens, Aliança e Sabedoria. Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24157/1/ulfl212797_tm.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. p. 18.
4
Ibid. p. 20
3
2 – Enuma Elish
É composto por 7 tábuas de argila contendo a história da criação, foram
descoberto por Austen Henry Layard em 1849 nas ruínas da Biblioteca de
Assurbanípal em Nínive.
Apesar de existirem vários mitos mesopotâmicos sobre a origem do universo,
como é dito acima, o que apresenta maiores semelhanças com o relato do capítulo
primeiro do Gênesis é a epopeia de Enuma elish (Quando lá em cima), cuja
finalidade primária consistia em celebrar a ascensão de Marduk como o principal dos
deuses da Babilônia. Esta obra, descreve a eleição de Marduk para combater a
poderosa Tiamat, que ameaçava exterminar os deuses mais jovens porque o
marido, Apsu, os considerava demasiado tumultuosos. Marduk consegue levar a
melhor sobre Tiamat e o autor vai narrando, ao longo do texto, uma sequência de
obras criativas: o céu – uma abóbada sólida que sustém as águas celestes, foi
construído com uma das metades do corpo de Tiamat, dividido ao meio após a
vitória; foram impostos os limites às águas terrestres; foi designada a lua para
regular os tempos, em parceria com o sol e as estrelas; foram criados também os
cereais e as plantas, o protótipo da humanidade e, por fim, Marduk descansa e
comemora com um banquete5.
Uma síntese da Enuma Elish6:
Tábua I
Os vários deuses representam aspectos do mundo físico. Apsu é o Deus da
água doce e Tiamat, sua esposa, é a Deusa do mar e, consequentemente, do caos
e da ameaça. A partir deles, vários deuses são criados. Estes novos deuses são
demasiados tumultuosos e Apsu decide matá-los. Ea descobre o plano, antecipa-se
e mata Apsu. Posteriormente, Damkina, esposa de Ea, dá à luz Marduk. Entretanto,
Tiamat, enraivecida pelo assassínio de seu marido jura vingança e cria onze
monstros para executar a sua vingança. Tiamat casa com Kingu e coloca-o à frente
do seu novo exército.
5
MARQUES, Joaquim de Jesus. Literaturas do Próximo Oriente Antigo na Bíblia:
Origens, Aliança e Sabedoria. Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24157/1/ulfl212797_tm.pdf>. Acesso em: 27 abr.
2018http://zeecult.blogspot.com.br/2011/06/enuma-elish-e-o-mito-da-criacao.html.
6
ALVES, Wendell. Enuma Elish e o mito da criação. Disponível em:
<http://zeecult.blogspot.com.br/2011/06/enuma-elish-e-o-mito-da-criacao.html>. Acesso em: 27 abr.
2018.
4
Texto inicial:
“Quando no alto não se nomeava o céu, e em baixo a terra não tinha nome,
do oceano primordial (Apsu), seu pai; e da tumultuosa Tiamat, a mãe de todos, as
águas se fundiam numa, e os campos não estavam unidos uns com os outros, nem
se viam os canaviais; quando nenhum dos deuses tinha aparecido, nem eram
chamados pelo seu nome, nem tinham qualquer destino fixo, foram criados os
deuses no seio das águas”.
Tábua II
As forças que Tiamat reuniu preparam-se para a vingança. Entretanto Ea
descobre o seu plano e confronta-a. Numa zona danificada da tábua é aparente a
derrota de Ea. Anu desafia-a, mas tem o mesmo destino. Os deuses começam a
temer que ninguém será capaz de deter Tiamat.
Tábua III
Gaga, ministro de Anshar, é encarregado de vigiar as atividades de Tiamat e
de os informar da vontade de Marduk de a enfrentar.
Tábua IV
O conselho dos deuses testa os poderes de Marduk. Depois de passar o
teste, o conselho entregue o trono a Marduk e encarrega-o de lutar com Tiamat.
Com a autoridade do conselho, reúne as suas armas, os quatro ventos e ainda os
sete ventos da destruição, e segue para o confronto. Depois de prender Tiamat
numa rede, liberta o Vento do Mal contra ela. Incapacitada, Marduk mata-a com uma
seta no coração, capturando os deuses e monstros seus aliados. Marduk divide o
corpo de Tiamat, usando metade para criar a terra e a outra metade para criar o céu.
Tábua V
Marduk cria residências para os outros deuses. À medida que estes vão
ocupando o seu lugar vão sendo criados os dias, meses e estações do ano. As
fases da lua determinam o ciclo dos meses. Da saliva de Tiamat, Marduk cria a
chuva. A cidade da Babilônia é criada sobre a proteção do Rei Marduk.
5
Tábua VI
Marduk decide criar os seres humanos mas precisa de sangue para os criar,
mas apenas um dos deuses poderá morrer, o culpado de lançar o mal sobre os
deuses. Marduk consulta o conselho e descobre que quem incitou a revolta de
Tiamat foi o seu marido, Kingu. Ea mata Kingu e usa o seu sangue para criar o
Homem, de forma a que este sirva de criado dos deuses. Em honra a Marduk, os
deuses constroem-lhe uma casa na Babilônia, havendo um grande festim para os
deuses quando terminada.
Tábua VII
Continuação do louvor a Marduk como chefe da Babilônia e pelo seu papel na
criação. Instruções às pessoas para estas relembrarem os feitos de Marduk.
Fazendo um paralelo entre os textos, podemos observar:
O texto de Gênesis é monoteísta, e mais harmonioso
3- Egípcio
Base em uma antiga crença egípcia, segundo a qual o navio de Re (Rá), o
deus sol, fazia uma viagem por cima dos Céus durante o dia e por baixo dos céus
durante a noite. Mas, na viagem noturna, tinha de enfrentar sempre o perigo da
destruição por um demônio que se escondia por baixo da terra, chamado Apófis.
O manuscrito “O livro das criações de Re (Rá) e de Apófis destruidor”.
6
O deus Re (Rá) afirma-se como aquele que existe por si mesmo, Ele é
anterior aos outros seres. E, como se vê pelo contexto próximo, não está antes,
apenas por uma razão cronológica, mas por uma razão de causa: os seres são
criados por ele. — Os seres saíram da sua boca: a criação realizou-se pela força da
sua palavra. Para criar, basta dizer, como o Deus bíblico na primeira página do
Gênesis: faça-se, e assim se fez.
Criação do homem
1- Genesis
Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do
7
TAVARES, A. Augusto. A criação do homem nos mitos das origens. Disponível
em: <https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/13654/1/V00801-035-053.pdf>. Acesso em: 27 abr.
2018. p. 40.
7
2- Enuma Elish
Quando [Marduk] ouviu as palavras dos deuses, seu coração o
empurrou a criar maravilhas; e [abrindo] sua boca dirige sua palavra a Ea
para comunicar-lhe o plano que havia concebido em seu coração: “vou juntar
sangue e formar ossos; farei surgir um protótipo humano que se chamará
homem”. Vou criar este protótipo, este homem, para que lhe sejam impostos
os serviços dos deuses e que eles estejam descansados” (Tábua 6, linhas 1-
8). Ataram-no (Kingu) e o mantiveram coagido diante de Ea. Infligiram-lhe seu
castigo: cortaram-lhe o sangue. E com seu sangue (Ea) formou a
humanidade. Impôs sobre ela o serviço dos deuses, liberando a estes (Tábua
6, linhas 31- 34)8
No relato babilônico o ser humano foi feito para assumir as tarefas pesadas,
que eram atribuídas aos deuses, sendo assim escravos destes.
3- Egípcio
No manuscrito “O livro das criações de Re (Rá) e de Apófis destruidor”, são
das lágrimas de Rá que o homem é criado, porém em outras variações as lágrimas
criam os deuses Shu e Tefnut.
8
PONTES, Antonio Ivemar da Silva. A “INFLUÊNCIA” DO MITO BABILÔNICO DA
CRIAÇÃO, ENUMA ELISH, EM GÊNESIS 1,1—2,4a. Disponível em: <
http://www.unicap.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=495>. Acesso em: 27 abr. 2018.p.67.
8
Mito do diluvio
A antiga Mesopotâmia existem três importantes relatos de dilúvio (Gênesis
Eridu, Gilgamesh e Atrahasis) mais outros textos que mencionam também o dilúvio.
O dilúvio foi uma tradição bem atestada na Mesopotâmia antiga. Apesar do fato de
que o herói do dilúvio (o equivalente a Noé no texto bíblico) tinha um nome diferente
nessas composições (Ziusudra, Utnapishtim e Atrahasis), a história basicamente
continua a mesma, ainda que o relato mais completo esteja no épico de Gilgamesh.
Gilgamesh
9
MARQUES, Joaquim de Jesus. Literaturas do Próximo Oriente Antigo na Bíblia:
Origens, Aliança e Sabedoria. Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24157/1/ulfl212797_tm.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. p.30.
9
O épico de Gilgamesh não traz nenhum relato de criação, mas sua história de
dilúvio com as mais relevantes semelhanças com o relato bíblico do dilúvio.
Gilgamesh apenas narra o dilúvio no contexto de um enredo maior 10.
Resumo da epopéia de Gilgamesh
Gilgamesh é o rei de Uruk, porém impopular entre seus súditos descontes
com sua arrogância e luxúria. Como consequência, eles vão se queixar ao deus
Anu, que ordena a deusa da criação Aruru a criação de Enkidu. Este iria,
presumivelmente, ser rival de Gilgamesh e distraí-lo para que deixasse de lado seu
comportamento opressivo com os cidadãos de Uruk. De início, contudo, Enkidu não
entrou na cidade de Uruk. Enkidu foi criado inocente, longe da malícia da civilização,
vivendo entre as criaturas selvagens e compartilhando a natureza com elas. O rei
Gilgamesh, sabendo da existência de Enkidu, incube uma missão a uma das
prostitutas sagradas do templo da deusa Ishtar (deusa do amor e da fertilidade):
seduzir Enkidu e trazê-lo para dentro das muralhas de Uruk.
Enkidu deixou-se seduzir pela rameira e perdeu sua inocência, além de seu
poder selvagem, tornando-se conhecedor da malícia do homem. Uma vez ali, Enkidu
se encontra com Gilgamesh, e eles lutam. Em meio à luta ambos se tornam firmes
amigos e embarcam juntos numa série de feitos. Entre outras aventuras, derrotam
Huwawa, o protetor da floresta de cedros do Líbano. Durante esse período a grande
capacidade e beleza de Gilgamesh atraem a deusa Ishtar, que propõe se casar com
ele.
Gilgamesh, conhecedor do destino que tiveram seus amantes anteriores, a
rejeita, o que faz com que ela procure o pai, o deus Anu, em busca de vingança. Anu
não deseja matar Gilgamesh, mas, em vez disso, o castiga matando Enkidu.
Gilgamesh é bastante tocado pela morte de Enkidu, não apenas porque é seu
amigo, mas também, ao que parece, porque a morte de Enkidu o confronta com sua
própria mortalidade. O restante do conto é a história da procura, por Gilgamesh, de
uma resposta para a morte. E essa indagação que o leva até Utnapishtim, visto que
Utnapishtim é o único ser humano a não experimentar a morte. A pergunta de
Gilgamesh a Utnapishtim sobre por que ele não morreu é o que leva este último a
relatar sua experiência com o dilúvio (tábua 11 do épico).
10
LONGMAN III, Tremper. Como ler Genesis. Tradução de Marcio Loureiro Redondo.
São Paulo – SP: Vida Nova, 2009. p. 94.
10
11
LONGMAN III, Tremper. Como ler Genesis. Tradução de Marcio Loureiro Redondo.
São Paulo – SP: Vida Nova, 2009. p. 95-97.
11
Poema de Atrahasis
12
MARQUES, Joaquim de Jesus. Literaturas do Próximo Oriente Antigo na Bíblia:
Origens, Aliança e Sabedoria. Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24157/1/ulfl212797_tm.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. p.36
12
13
MARQUES, Joaquim de Jesus. Literaturas do Próximo Oriente Antigo na Bíblia:
Origens, Aliança e Sabedoria. Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24157/1/ulfl212797_tm.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. p.37.
14
Ibid. p. 39.
13
Conclusão
Ao contarem as origens do mundo e da humanidade, os autores bíblicos
recorreram às tradições do Próximo Oriente Antigo. Embora haja pontos de contato
com o Egito, as semelhanças parecem maiores com os textos da Mesopotâmia. Isto
não quer dizer necessariamente dependências literárias. As semelhanças podem ter
origem num estádio pré-literário de tradições comuns, em que havia várias maneiras
de apresentar a criação. A Bíblia está inserida no ambiente cultural do tempo e só
assim se pode compreender.
Os escritores bíblicos repensaram essas tradições comuns em função das
tradições específicas do seu povo, salvaguardando e sublinhando a sua fé
monoteísta.
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LONGMAN III, Tremper. Como ler Genesis. Tradução de Marcio Loureiro Redondo.
São Paulo – SP: Vida Nova, 2009.