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FACULDADE EVANGÉLICA DE TECNOLOGIA, CIÊNCIAS E

BIOTECNOLOGIA DA CGADB - FAECAD

Karl Barth, Paul Tillich, Emil Brunner e Dietrich Bonhoeffer

Rio de Janeiro/RJ
2018
Karl Barth, Paul Tillich, Emil Brunner e Dietrich Bonhoeffer

Trabalho apresentado como exigência


da disciplina de Teologia Contemporânea do
curso de Teologia, sob orientação do Prof.
Jansen.

Rio de Janeiro/RJ
2018
1

INTRODUÇÃO

Para falarmos de Karl Barth, Paul Tillich, Emil Brunner e Dietrich Bonhoeffer
precisamos entender as ideias da época e suas influências no desenvolvimento de
suas teologias.
A neo-ortodoxia não é um sistema unificado de ideias, é uma abordagem
teológica que surge após a I guerra com a rejeição do escolasticismo protestante e a
negação do movimento liberal.
O liberalismo, na época do surgimento da neo-ortodoxia, havia reduzido a
Bíblia a um livro de religião comum, cheio de erros e contradições de toda sorte,
onde encontramos apenas o registro da fé dos israelitas e da fé da Igreja cristã
primitiva. Os neo-ortodoxos se levantaram contra a aridez e o ceticismo do
liberalismo porque, ao final, ele não nos deixava mais ouvir a voz de Deus através
da Bíblia. Para a neo-ortodoxia em geral, o erro dos liberais não foi empregar a
crítica bíblica para mostrar que a Escritura está cheia de erros e contradições, mas
de pensar que isso era um empecilho para que Deus nos falasse hoje. O maior de
todos os milagres é exatamente que Deus nos fala através das palavras imperfeitas,
erradas, imprecisas e equivocadas desse livro. A neo-ortodoxia, portanto, desejava
manter a relevância da Bíblia sem descartar as afirmações dos liberais, a neo-
ortodoxia se afastou da ortodoxia, que apesar de analisar a Bíblia como literatura,
não negava sua autenticidade, integridade, historicidade e a veracidade de seus
relatos. Enquanto para a ortodoxia a Bíblia é infalível, a neo-ortodoxia mantém a
posição crítica do liberalismo, que a Bíblia está cheia de erros e contradições. A neo-
ortodoxia vai mais além do liberalismo em dizer paradoxalmente que, apesar disso,
Deus fala infalivelmente através desse livro às pessoas de hoje 1.
Para os neo-ortodoxos a Bíblia não é infalível e muito menos inerrante. Ela é
o registro humano da reação de fé que as pessoas tiveram diante da revelação de
Deus, Cristo.

1
LOPES, Augustus Nicodemus. A Voz é de Jacó, porém as
mãos são de Esaú. Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com.br/2006/05/voz-de-jac-porm-
as-mos-so-de-esa.html>. Acesso em: 15 abr. 2018.
2

Karl Barth
Karl Barth nasceu em Basel, foi um teólogo de confissão calvinista. Em 1911
começou a pastorear uma pequena igreja do interior da Suíça e aí ficou até 1925.
Estudou em Berna, Berlim, Tuebingen, Marburgo. Algum tempo pastor em
Genebra e em Safenwil. A partir de 1921 passou a ensinar teologia na universidade
alemã de Goettingen; em 1925, na de Muenster; em 1930, na de Bonn. Em 1935,
por sua atitude antinazista, foi obrigado por Hitler a refugiar-se em Basiléia, de cuja
universidade foi professor, onde lecionou até 1961. Na Alemanha, deu ainda, na
qualidade de professor estrangeiro, lições em Bonn, em 1946 e 1947.
Karl Barth faz parte da chamada teologia dialética ou da crise, junto a J.
Moltmann, E. Brunner, R. Bultmann, F. Gogarten e outros. Barth deu nome a um
movimento: o barthismo, que propõe uma total e coerente adesão à Palavra de
Deus, equivalente ao objetivismo da revelação bíblica e ao fato histórico da
encarnação, contra o imanentismo da cultura moderna geral e em particular do
“protestantismo liberal”. Procurou renovar a teologia desvinculando-a da tradição
fideísta de Schleiermacher, para recolocá-la na reforma do século 16. A teologia de
Barth é uma reação frente a Schleiermacher e, em geral, contra a cultura do
Romantismo e do Iluminismo. Barth rejeitou a analogia entre Deus e a criatura, para
destacar a transcendência divina, advertindo que somente é válida a via negativa de
acesso a Deus, de acordo com a expressão de Kierkegaard sobre a infinita diferença
qualitativa entre o tempo e a eternidade.
Com o destaque da transcendência divina abriu largo espaço entre Deus e o
homem. Abandonado o homem existencialmente a si mesmo, não tendo senão a fé
como caminho para o alto. Cristo é o intermediário, como se diz na Epístola aos
Romanos, e comentada por Barth. A teologia de Barth recebe muitos nomes:
teologia da crise, teologia dialética, teologia kerigmática, teologia da Palavra.
Podemos sintetizar sua teologia nos seguintes pontos:
1) Barth destaca a absoluta transcendência de Deus.
Deus é o único positivo, o ser. O homem, no entanto, da mesma forma que o
mundo, é a negação, o não ser. Justamente por não ser nada, o homem não tem a
possibilidade de autorredenção; nem ao menos de conhecer Deus, mas somente de
saber que não o conhece.
2) A iniciativa vem de Deus, que irrompe no mundo do homem através de sua
revelação e palavra.
3

A revelação de Deus é o objeto da teologia. Barth centra toda a sua atenção


na revelação e palavra de Deus na Bíblia.
3) Barth vê a revelação de Deus na Bíblia como algo dinâmico, não estático.
A palavra de Deus, diz Barth, não é um objeto que nós controlamos. Na
realidade é como um sujeito que nos controla e atua sobre nós. E essa Palavra é
capaz de nos fazer reagir de um jeito ou de outro.
4) A Palavra de Deus é o acontecimento mediante o qual Deus fala e se revela
ao homem através de Jesus Cristo.
A Bíblia, Palavra escrita de Deus, é a testemunha do acontecimento da
Revelação de Deus. O Antigo e o Novo Testamento coloca Jesus Cristo como o
“Cordeiro de Deus”, anunciado por João Batista.
5) Através da Palavra proclamada, a Igreja é testemunha da Palavra revelada.
Sua proclamação baseia-se na palavra escrita, a Bíblia. Deus serve-se desta palavra
proclamada e escrita, e se transforma em palavra revelada de Deus, quando ele
quer falar-nos através dela.
A ênfase da teologia de Barth está na revelação de Deus em Jesus Cristo.
Toda relação de Deus com o homem se dá em Cristo e através de Cristo. O pecado
original não pode ser entendido independentemente de Cristo. A fé também não é
fruto de um raciocínio nem está fundamentada em um sentimento subjetivo 2.

Emil Brunner
Emil Brunner foi um eminente e altamente influente teólogo suíço. Junto com Karl
Barth, ele é comumente associado à neo-ortodoxia ou ao movimento da teologia dialética.
Depois de ser educado na Europa e nos Estados Unidos, Brunner tornou-se professor
de teologia sistemática na Universidade de Zurique e logo desenvolveu uma forte reputação
por seu desafio à teologia liberal vigente de seus dias. Enquanto rejeitava a fé cega do
fundamentalismo, Brunner enfatizou a necessidade de arrependimento pessoal e um encontro
direto com Deus, através de Jesus Cristo. Ele, assim, reafirmou a fé cristã básica, ao mesmo
tempo em que enfrentava os desafios intelectuais que haviam produzido o que ele via como
uma grande crise na civilização.

2
SILVA, Gilberto Ribeiro e. Karl Barth (1886 - 1929).
Disponível em: <http://teologia-contemporanea.blogspot.com.br/2008/02/karl-barth-1886-1969.html>.
Acesso em: 15 abr. 2018.
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Brunner rejeitou o retrato de Jesus Cristo da teologia liberal como algo menos que
Deus encarnado, insistindo que tanto a Encarnação quanto a morte e ressurreição de Jesus
eram centrais para a salvação. Assim, ele se opunha às proposições tanto de Schleiermacher
quanto de Ritschl, ao mesmo tempo em que se unia a Karl Barth na promoção da neo-
ortodoxia.
Mais tarde, ele quebrou com Barth, no entanto, sobre a questão da graça, afirmando
que os seres humanos não foram totalmente depravados pela Queda, e que um ponto de
contato permaneceu entre Deus e os seres humanos, mesmo sem a graça da salvação através
de Jesus. Alguns observadores veem a teologia da graça de Brunner como uma tentativa de
encontrar uma posição intermediária dentro do contínuo debate arminiano e calvinista,
sustentando que Cristo estava entre a abordagem soberana de Deus à humanidade e a livre
aceitação do dom de salvação de Deus3.

Dietrich Bonhoeffer
Foi um líder religioso alemão e participante do movimento de resistência contra o
nazismo. Um pastor e teólogo luterano, ele desempenhou um papel fundamental na liderança
da Igreja Confessante, se opôs publicamente ao antissemitismo e continuou organizando e
educando jovens ministros da Igreja Confessante, mesmo depois de tais atividades terem sido
declaradas ilegais pelo regime nazista. Embora ele já tenha sido um pacifista, durante a
Segunda Guerra Mundial.
Bonhoeffer também deixou um importante legado em seus escritos teológicos. O
centro de sua teologia é Cristo, em quem Deus e o mundo estão reconciliados. Ele fala de
Deus como um Deus sofredor, cuja manifestação é encontrada no amor por todas as pessoas.
Bonhoeffer acreditava que a Encarnação de Deus em carne tornava inaceitável falar de Deus e
do mundo em termos de duas esferas - um ataque implícito à doutrina de Lutero dos dois
reinos. Ele enfatizou a piedade pessoal e coletiva e reviveu a ideia de imitação de Cristo. Ele
argumentou que os cristãos não deveriam se retirar do mundo, mas agir dentro dele. Para
Bonhoeffer, a verdadeira fé consiste em dois elementos: a implementação da justiça e a
aceitação do sofrimento divino. Ele então insistiu que a igreja, como os primeiros cristãos, a
fim de ser uma verdadeira igreja de Cristo. Ecoando a epístola de Tiago, ele enfatizou que a fé

3
Enciclopédia Novo Mundo. Emil Brunner. Disponível em:
<http://www.newworldencyclopedia.org/p/index.php?title=Emil_Brunner&oldid=955404
5

sem obras está morta exortando os cristãos a evitar o que ele chamava de graça barata, mas
em vez de tomar a cruz de Cristo amando os vizinhos mesmo à custa da vida se necessário4.

Paul Tillich
Paul Tillich foi um teólogo protestante do início do século XX, admirado e
combatido principalmente pelo seu método de correlação, um esforço de apresentar
a mensagem cristã de modo relevante e aceitável à mentalidade moderna, hábil no
diálogo do pensamento humano, sistemático na interpretação das questões
humanas.
O objetivo de Tillich era recriar um vínculo significativo entre o cristianismo e a
sociedade contemporânea. Como Karl Barth, ele pretendia fazê-lo reintroduzindo a absolutez
de Deus e a mensagem cristã, e a mensagem cristã à justiça social e ao movimento socialista.
Diferentemente de Barth, no entanto, Tillich não acreditava que uma mera insistência no
caráter absoluto da fé em Deus fosse uma solução viável. Ele achava que era preciso procurar
maneiras de mostrar como a religião era uma dimensão necessária de qualquer sociedade e
como o Deus absoluto estava ao mesmo tempo presente em toda a vida cultural relativa.
Para Tillich, a existência humana, a de um ser finito, significa inevitavelmente uma
alienação do Ser. Em contraste com a doutrina cristã tradicional, Tillich realmente entendeu a
queda humana da graça como sendo a própria existência da humanidade, sua criação como
um ser limitado. No entanto, existem momentos na história, onde o divino entra na existência
humana e se realiza, embora nunca perfeitamente.
Para Tillich a teologia é uma função da igreja cristã e sua finalidade é servir
as necessidades da igreja. Há duas necessidades básicas que um sistema teológico
deve abordar: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a interpretação desta
verdade para cada nova geração. A teologia oscila entre dois polos da verdade
eterna da mensagem cristã e interpretação da presente verdade em cada novo
contexto, situação, evitando o risco de enfatizar ou excluindo um em detrimento do

4
Enciclopédia Novo Mundo. Dietrich Bonhoeffer. Disponível
em: <http://www.newworldencyclopedia.org/p/index.php?title=Dietrich_Bonhoeffer&oldid=1007341 >.
Acesso em: 15 abr 2018.
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outro. A teologia “querimática” 5 enfatiza a natureza imutável da mensagem, mas


precisa de teologia apologética para a sua conclusão.
A teologia é a interpretação metódica dos conteúdos da fé cristã. A tarefa da
teologia apologética é que a reivindicação cristã também tem validade fora do círculo
teológico, e mostrando que as tendências iminentes em todas as religiões e culturas
são compreendidas na resposta cristã.
A teologia explora um objeto tendo em conta os pressupostos ontológicos
comuns das ciências e da filosofia, os dois podem ser incorporadas; além disso, as
descobertas científicas são classificadas como preocupações preliminares até que o
significado de tais achados para seres humanos é solicitado.
Centralizando, o método de correlação elimina as dificuldades até certo ponto
e funciona como o princípio organizador para a teologia sistemática, permitindo todo
o tipo de questão filosófica a surgir naturalmente dentro do desenrolar do sistema
teológico. A Teologia Prática é outra parte importante da atividade teológica, além de
as partes históricos e sistemáticos. A organização da teologia prática corresponde
às funções da igreja, e cada tal função necessita de uma disciplina prática de
interpretar e reformar essas funções como eles operam em tradições eclesiais e
contextos.
A Bíblia não é a única fonte de teologia sistemática, pois a Palavra de Deus
não se limita a um livro e revelação não se limita a inspirar um livro. No entanto, a
Bíblia é a base fonte de teologia sistemática, pois é o testemunho original para os
eventos em que o cristianismo se funda. A história da Igreja é outra fonte de teologia
sistemática.
A experiência é o meio de revelação, através do qual os seres humanos
participar das fontes da revelação6.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5
Kerygma é uma palavra grega que significa “proclamação”.
Kerix é o mensageiro, o que traz a boa notícia. Por isso se dá o nome de kerigma ao anúncio do
evangelho (cf. Mt 12,41; Lc 11,32 ; Rm 16,25; 1Cor 1,21; 2,4; 15,14; 2Tm 4).
6
TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. In: Introdução. 5ª ed.
[tradução: Getúlio Bertelli e Geraldo Korndörfer]. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2005. p.78-81.
7

SILVA, Gilberto Ribeiro e. Karl Barth (1886 - 1929). Disponível em: <http://teologia-
contemporanea.blogspot.com.br/2008/02/karl-barth-1886-1969.html>. Acesso em: 15
abr. 2018.

LOPES, Augustus Nicodemus. A Voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú.


Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com.br/2006/05/voz-de-jac-porm-as-
mos-so-de-esa.html>. Acesso em: 15 abr. 2018.

TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. In: Introdução. 5ª ed. [tradução: Getúlio


Bertelli e Geraldo Korndörfer]. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2005.

Enciclopédia Novo Mundo. Dietrich Bonhoeffer. Disponível em:


<http://www.newworldencyclopedia.org/p/index.php?
title=Dietrich_Bonhoeffer&oldid=1007341 >. Acesso em: 15 abr 2018.

Enciclopédia Novo Mundo. Emil Brunner. Disponível em:


<http://www.newworldencyclopedia.org/p/index.php?title=Emil_Brunner&oldid=955404

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