Você está na página 1de 4

De Abel a Billy Grahan-EBD-Mec-CCC- 21/09/2013

Dietrich Bonhoeffer

Por: Todd Kappelman


Tradução: Emerson de Oliveira

O Homem e sua missão

Desde sua morte em 1945, e especialmente nos últimos dez anos, os escritos de Bonhoeffer têm tido
notável interesse entre os cristãos, tanto jovens como velhos. Assim, vamos examinar os méritos da
leitura das obras de Dietrich Bonhoeffer. Vamos examinar o homem e seu lugar particular no cânon dos
escritores cristãos, seu fundo e contexto histórico e, finalmente, três de suas obras mais importantes e
influentes.

A importância de Bonhoeffer começa com sua oposição ao partido nazista e sua influência na igreja alemã
durante a ascensão de Hitler. Este interesse o guiou nas áreas de interesses ecumênicos cristãos que
seriam depois importantes à fundação de nossos movimentos ecumênicos contemporâneos. Muitas
facções sectárias e vários grupos o afirmam como seu porta-voz, mas é sua notável vida pessoal, e sua
autoria de difíceis obras devocionais e acadêmicas, que o fizeram ganhar um lugar na história da teologia
do séc. XX.

Bonhoeffer nasceu em 4 de fevereiro de 1906 em Breslau, Alemanha (agora parte da Polônia) e teve uma
irmã gêmea chamada Sabine. Em 1933, antes de Hitler ascender ao poder, Bonhoeffer, ministro na igreja
luterana, já estava atacando os nazistas em radiodifusões de rádio. Dois anos depois, ele era o líder de
um seminário secreto com mais de vinte jovens seminaristas. Este seminário é freqüentemente visto
como um tipo de monastério protestante, e foi responsável por muitas das considerações sobre a vida
cristã relativa a comunidade. Depois, o seminário foi fechado pela Polícia Secreta. Em 1939, por arranjos
feitos por Reinhold Niebuhr, ele fugiu para os Estados Unidos, mas voltou à Alemanha depois de uma
curta permanência. Ele acreditava que era necessário sofrer com seu povo, se fosse buscar um ministério
efetivo depois da guerra. Os últimos dois anos de sua vida foram gastos em uma prisão de Berlim. Em
1945, ele foi executado por sua cumplicidade em um plano de matar Hitler.

Durante o tempo que Bonhoeffer estava na prisão, ele escreveu um livro chamadoCartas e Documentos
da Prisão. O manuscrito foi contrabandeado da cadeia e publicado. Estas cartas contêm a consideração de
Bonhoeffer da secularização do mundo e a partida da religião no século XX. Segundo Bonhoeffer, a
dependência na religião organizada tinha minado a fé genuína. Bonhoeffer pediria um novo cristianismo
livre de individualismo e supernaturalismo metafísico. Deus, dizia Bonhoeffer, deve ser conhecido neste
mundo como ele opera e interage com o homem na vida diária. O Deus abstrato da especulação filosófica
e teológica é inútil ao homem comum na rua, e são eles que mais precisam ouvir o Evangelho.

Examinaremos três das obras mais influentes e importantes de Bonhoeffer nas quatro seções seguintes. O
primeiro trabalho em ser considerado será O Custo do Discipulado, escrito em 1939. Esta obra é uma
interpretação do Sermão da Montanha. É uma chamada para um viver radical, se o cristão quer ser um
discípulo autêntico de Cristo. A Ética, escrita de 1940-1943, é a mais técnica exposição teológica de
Bonhoeffer. Detalha os problemas de se tentar construir um fundamento ética em bases filosóficas ou
teóricas. Então examinaremos Cartas e Documentos da Prisão mais completamente, uma das obras mais
pessoais e comoventes de Bonhoeffer.

O Custo do Discipulado

O trabalho mais famoso de Bonhoeffer é O Custo do Discipulado, publicado em 1939. Este livro é uma
exposição e interpretação rigorosa do Sermão no Monte, e Mateus 9:35-10:42. A maior preocupação de
Bonhoeffer é graça barata. Esta é a graça que se tornou tão diluída que já não se assemelha à graça do
Novo Testamento, a graça carados Evangelhos.
Pela frase graça barata, Bonhoeffer quer dizer a graça que trouxe caos e destruição; é o consentimento
intelectual a uma doutrina sem uma real transformação na vida do pecador. É a justificação do pecador
sem as obras que devem acompanhar o novo nascimento. Bonhoeffer diz da graça barata:

"É o pregação do perdão sem requerer arrependimento, o batismo sem a disciplina da igreja, a Comunhão
sem a confissão, a absolvição sem a confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça
sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado".{1}

A verdadeira graça, segundo Bonhoeffer, é uma graça que custará a vida de um homem. É a graça feita
custosa pela vida de Cristo, que foi sacrificado para comprar a redenção do homem. A graça barata surgiu
do desejo do homem de ser salvo, mas sem converter-se em discípulo. O sistema doutrinal da igreja, com
suas listas de códigos de comportamento, se torna um substituto para o Cristo Vivo, e isto abarata o
significado de discipulado. O verdadeiro crente tem que resistir a graça barata e tem que entrar na vida
de discipulado ativo. A fé não pode significar ficar sentando e esperar; o cristão tem que ressucitar e tem
que seguir o Cristo. {2}

É aqui onde Bonhoeffer faz uma de suas mais duradouras afirmações sobre a vida do verdadeiro cristão.
Escreve que "só aquele que crê é obediente, e só aquele que é obediente crê". {3} Os homens se
tornaram suaves e complacentes na graça barata e, portanto, se distanciaram da graça cara da
abnegação e humilhação pessoal. Bonhoeffer acreditava que o ensino da graça barata era a ruína de mais
cristãos que qualquer mandamento de realizar obras. {4}

O discipulado, para Bonhoeffer, significa adesão rígida para Cristo e seus mandamentos. É, também, uma
adesão rígida a Cristo como o objeto de nossa fé. Bonhoeffer comenta esta firme obediência no capítulo
três de O Custo do Discipulado. Neste capítulo, o chamado de Levi e Pedro é usado para ilustrar a própria
resposta do crente para o chamado de Cristo e o Evangelho. {5} A única exigência que estes homens
entenderam era que em cada caso o chamado era confiar na palavra de Cristo, e se agarrar a ela como
algo que oferece mais segurança que todas as seguranças do mundo. {6}

No décimo nono capítulo do Evangelho de Mateus temos a história do jovem rico que pergunta sobre a
salvação e é respondido por Cristo que ele tem que vender todas suas posses, levar sua cruz e seguí-lo.
Bonhoeffer enfatiza a confusão dos discípulos, que perguntam: "Quem então pode ser salvo"? {7} A
resposta que recebem é que é extremamente duro ser salvo, mas com Deus todas as coisas são
possíveis.

Bonhoeffer e o Sermão do Monte

A exposição do Sermão no Monte é outro elemento importante de O Custo de Discipulado. Nele,


Bonhoeffer coloca ênfase especial nas beatitudes por entender ao Cristo encarnado e crucificado. É aqui
que os discípulos são chamados "bem-aventurados" por uma lista extraordinária de qualidades.

Os pobres de espírito aceitam a perda de todas as coisas, especialmente a perda de si, de forma que eles
podem seguir o Cristo. Os que choram são pessoas que vivem sem a paz e prosperidade deste mundo.
{8} O choro é a rejeição consciente da alegria na qual o mundo se regozija, e encontrar a própria
felicidade e realização na pessoa de Cristo.

Os mansos, diz Bonhoeffer, são aqueles que não falam em defesa de seus próprios direitos. Subordinam
continuamente seus direitos e eles mesmos para a vontade de Cristo primeiro e, por conseguinte, para o
serviço dos outros. Igualmente, os que tem fome e sede de justiça também renunciam a expectativa que
o homem pode fazer do mundo um paraíso. Sua esperança está na justiça que só o reino de Cristo pode
trazer.

Os misericordiosos deixaram sua própria dignidade e se consagram aos outros, ajudando os necessitados,
os fracos, e os desterrados. O puros de coração já não estão preocupados pelo chamado deste mundo;
eles se resignaram para o chamado de Cristo e Seus desejos para suas vidas. Os pacificadores detestam a
violência que se usa freqüentemente para resolver problemas. Este ponto seria de significado especial
para Bonhoeffer, que escrevia às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Ospacificadores mantêm a
comunhão onde os outros encontrariam uma razão para romper uma relação. Estes indivíduos sempre
vêem outra opção. {9}

Os que são perseguidos por causa da justiça estão dispostos a sofrer pela causa de Cristo. Qualquer e
toda causa justa se torna sua causa porque é parte da obra geral de Cristo. O sofrimento se converte em
forma de comunhão com Deus. {10} A esta lista se junta a bênção final pronunciada àqueles que são
perseguidos para causa da justiça. Estes receberão uma grande recompensa no céu e serão comparados
aos profetas que também sofreram.

A ênfase de Bonhoeffer no sofrimento est diretamente ligada ao sofrimento de Cristo. A igreja é chamada
para suportar todo o fardo de Cristo, especialmente no tocante ao sofrimento, senão, irá se desmoronar
sob o peso do fardo. {11} Cristo sofreu, diz Bonhoeffer, mas seu sofrimento é eficaz para a remissão dos
pecados. Nós também podemos sofrer, mas nosso sofrimento não é para propósitos redentores. Nós
sofremos, diz Bonhoeffer, não só porque é o que corresponde à igreja, mas de forma que o mundo possa
nos ver sofrer e entender que há uma forma em que os homens possam suportar os fardos da vida, e que
esse caminho é só através de Cristo.

O discipulado, para Bonhoeffer, não foi limitado ao que nós podemos compreender - tem que transcender
toda a compreensão. O crente tem que mergulhar nas águas profundas, mais além da compreensão e
ensino cotidiano da igreja, e isto deve ser feito individualmente e coletivamente.

A Ética de Bonhoeffer

A Ética, a obra de Dietrich Bonhoeffer, foi escrita de 1940-1943. Escrita em forma de conferências, este é
sua obra mais madura e é considerada sua maior contribuição a teologia. {12} A ética cristã, ele diz, deve
ser considerada com referência ao homem regenerado cujo principal desejo deveria ser agradar a Deus, e
não com relação a um sistema filosófico hermético. Homem não é, e não pode, ser o árbitro final do bem
e do mal. Isto só reservado para Deus. Quando o homem tenta decidir o que é certo e errado, seus
esforços são fadados ao fracasso. Bonhoeffer escreveu que "em vez de conhecer só ao Deus que é bom
para com ele e em vez de conhecer todas as coisas nEle, [o homem] só se conhece a si mesmo como a
origem do bem e do mal". {13} Com esta declaração, Bonhoeffer entrou em um dos problemas filosóficos
e teológicos mais difíceis na história da igreja: o problema do mal.

Bonhoeffer acreditava que o problema do mal só poderia ser entendido levando em conta a Queda da
humanidade. A Queda causou a desunião entre o homem e Deus, com o resultado de que o homem é
incapaz de discernirentre o bem e o mal. {14} Os homens modernos têm uma vaga inquietude sobre sua
capacidade de conhecer o bem e o mal. Bonhoeffer afirmou que isto é, em parte, devido ao desejo para
certeza filosófica. Porém, Bonhoeffer instou ao cristão a ocupar-se de viver segundo a vontade de Deus,
em vez de buscar um conjunto de regras que não possa seguir. {15} E, enquanto Bonhoeffer não
defendia uma revelação direta e individual em todo dilema ético, ele acreditava que o homem pode ter
conhecimento da vontade de Deus. Ele disse que "se um homem pede a Deus humildemente, Deus lhe
dará certo conhecimento de sua vontade; e então, depois de toda esta busca fervente, haverá a liberdade
para tomar verdadeiras decisões, e [isto] com a confiança de que não é o homem mas o próprio Deus
que, através desta busca, põe em efeito sua vontade'. {16}

Talvez nossa primeira resposta a Bonhoeffer é que ele parece ser algum tipo de místico. Porém, é
imperativo entender o tempo em que estava escrevendo, e alguns dos problemas específicos que estava
tratando. A Segunda Guerra Mundial estava em curso e as maiores questões éticas do século estavam
confrontando a igreja. Os homens bons, e até mesmo cristãos comprometidos, se encontravam em lados
opostos da guerra. Seria absurdo supor que o bem e o mal, em níveis individuais ou nacionais, fossem
óbvios, e que havia um acordo universal entre os cristãos. No meio de toda esta confusão, um jovem
pastor-teólogo e membro da Resistência só poderia aconselhar que os crentes se voltassem a Cristo com
a expectativa de que era possível obter verdadeiras respostas. Este tipo de confiança é sumamente
necessário entre cristãos que enfrentam um mundo destituído de respostas.
A força da Ética de Bonhoeffer está não em sua resolução sistemática dos problemas que enfrentam a
igreja, mas no reconhecimento que a vida é complexa e todos os sistemas fora da humilde submissão à
Palavra de Deus estão condenados ao fracasso. Por perturbadora que seja a Ética de Bonhoeffer, é um
chamado refrescante para a igreja contemporânea a arrepender-se e voltar a uma vida caracterizada pela
oração, a marca tradicional da igreja primitiva.

A correspondência da prisão de Dietrich Bonhoeffer

Nossa consideração final da obra de Dietrich Bonhoeffer, que foi enforcado em 1945 por sua parte em
uma tentativa de assassinato de Hitler, se centrará em suas Cartas e Documentos de Prisão, que começou
em 1942. Estas cartas representam algumas das obras mais maduras de Bonhoeffer, assim como
observações perturbadoras relacionadas à igreja nos turbulentos anos da metade do século vinte.

O ensaio inicial se intitula Depois de Dez Anos. Aqui Bonhoeffer se identifica com o mal dos vezes, e
especialmente a guerra. Ele fala das situações irracionais que as pessoas racionais têm que enfrentar. Ele
adverte contra àqueles que são enganados pelo mal que é disfarçado como bom, e ele clama contra
fanáticos morais equivocados e os escravos das tradições e regras.

Vendo os horrores de guerra, Bonhoeffer nos recorda que o que nós menosprezamos nos outros nunca
está completamente ausente de nós mesmos. {17} Esta advertência contra desprezo pela humanidade é
muito importante, levando em conta autores como Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre e Albert Camus,
cujo desprezo para a guerra se transformou em desilusão com a humanidade. Este é um contraste
notável entre várias testemunhas da guerra que chegaram a conclusões muito diferentes. As conclusões
de Bonhoeffer foram o resultado direto de uma relação pessoal com Cristo. As conclusões de Hemingway,
Sartre, e Camus foram observações pessimistas de quem não tem uma esperança final.

Bonhoeffer enfrentou a morte diariamente por muitos anos e chegou a algumas conclusões corajosas com
relação a que postura poderiam adotar os crentes a este último evento. Ele argumentava que se pode
experimentar o milagre de vida enfrentando a morte diariamente; a vida poderia ser vista de fato como o
dom de Deus que é. Somos nós, e não nossas circunstâncias externas, que fazemos a morte ser
potencialmente positiva. A morte pode ser voluntariamente algo aceita. {18}

A questão final afirmada neste ensaio inicial é se é possível que homens comuns e simples prosperarem
novamente depois da guerra. {19} Bonhoeffer não oferece uma solução clara, que pode ser vista como
uma perspectiva dos verdadeiros horrores da guerra como também uma questão em aberto projetada
para provocar a participação individual no problema.

Muito antes de filmes como a Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan ou Além da Linha Vermelha,
Bonhoeffer informou sobre as atrocidades da guerra. Algumas das cartas comentam a brutalidade e
horrores da vida nos campos de concentração, e podemos ver a a expectativa de execução em muitas de
suas cartas. O que faz estas cartas mais importantes que os filmes populares são que as cartas são
indubitavelmente confissões de alguém que está olhando a guerra como um cristão. Bonhoeffer pôde
simpatizar com os problemas enfrentados pelos cristãos que viviam em tempos tão turbulentos.

O significado de Bonhoeffer é difícil de avaliar completamente e com precisão, mas há duas observações
que podem nos ajudar ao chegar ao final da análise de suas obras. {20} Sempre temos que ter em mente
a época de seus escritos. Isto explica muito do que não poderíamos entender no princípio. Finalmente,
qualquer cristão faria bem em ler as obras de alguém que deu sua vida em conexão direta com suas
convicções cristãs. Houve muitos mártires por este século, mas poucos que tem registrado tão
vividamente as circunstâncias que levaram a seu martírio com sagacidade teológica e com uma visão para
a posteridade futura.

Sobre o Autor Todd A. Kappelman é um membro de campo da Probe Ministries. Ele é diplomado pela Universidade Batista de Dallas (B.A. e
M.A.B.S., religião e grego), e pela Universidade de Dallas (M.A., filosofia/humanidades). Atualmente ele obtêm um Ph.D. em filosofia na
Universidade de Dallas. Ele serviu como diretor assistente do Trinity Institute, um centro de estudos dedicados ao pensamento Cristão e
investigação. Ele foi o editor administrador de The Antithesis, uma publicação bi-mensal dedicada à crítica de filmes estrangeiros e
independentes. Sua área principal de trabalho é filosofia Continental (especialmente do século XIX e XX) e pensamento pós-moderno.

Você também pode gostar