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1ª Carta de Pedro

- Introdução

- A primeira Carta de Pedro é uma carta bastante pastoral, encorajando os


cristãos em face de problemas e crises reais que envolviam sua vida cotidiana. A
carta é pastoral pela escolha dos temas de exortação, nada menos que o querigma
da fé se destaca.

- Uma vez que essa fé foi posta em dúvida pelas crises da vida, o autor tenta
mostrar como Jesus é infalível modelo de pastor e de prática pastoral de vida: se
envolve na vida cotidiana dos cristãos e como Deus nos salva pontualmente
quando somos como Cristo, perseverantes, inclusive nos sofrimentos.

- A carta nos convida ver nossa vida mais claramente, sem ignorar os problemas,
à luz da verdade sobre um Deus redentor e sobre Jesus, a prova do poder e do
plano de Deus.

- O estilo grego, ainda que menos elegante do que aquele de Tiago, foi
considerado como uma séria objeção a que o apóstolo Pedro seja o seu autor.
Entretanto, como Tiago e Judas, e admite geralmente o uso de um secretário.
Com efeito, o autor diz expressamente que escreveu por meio de Silvano (5,12).

1- Autor

- A afirmação da epístola de ter sido escrita por Pedro (1,1) foi aceita desde
Eusébio de Cesareia (HE 4.14.9) até o séc. XIX. Muitos biblistas modernos,
porém, não aceitam a autoria petrina. Eles explicam a epístola ou como o
trabalho posterior de uma “escola” petrina ou como uma obra puramente
pseudoepígrafa.

- A designação de Babilônia dada à Roma (5,13) era conhecida na tradição


judaica e cristã (Ap 14,8; 16,9), mas não há prova de que estivesse em uso antes
de 70 d.C. A carta fala de uma perseguição que afeta ou afetará a Ásia Menor
(1,1) e é provável que se refira à última perseguição de Domiciano (81-96). De
modo geral a epístola parece pseudônima e datar do tempo de Domiciano.
- Mesmo assim, a questão da autoria desta carta fica totalmente aberta.
2- Propósito e destinatários

- Na saudação final (1Pd 5,12-14), escrita de próprio punho, indica o autor o


objetivo de sua obra: fortalecer na fé os destinatários. À semelhança de Hebreus é
um escrito de exortação (Hb 13,22) e, de maneira análoga, constrói a sua
parênese sobre a doutrina.

- Pedro se dirige a cristãos vindos em grande parte das fileiras dos pobres (1Pd
2,18s), uma carta de consolação e encorajamento. Os leitores são convidados a
suportar com firmeza e até com júbilo os sofrimentos e provações que lhes
sobrevieram e que deverão continuar. Estarão próximos da maledicência (1Pd
2,12; 3,16) por serem cristãos (1Pd 4,16). A melhor resposta a tais acusações de
hostilidades é levarem vida irrepreensível (1Pd 2,12.15;3,2.13-17). Serão
confortados e fortalecidos com o exemplo de Cristo, de sua mansidão diante do
sofrimento injustamente infligido (1Pd 2,21-23s).

- A carta é endereçada a estrangeiros da dispersão (1,1), estrangeiros e viajantes


(2,11), termos que indicam a condição precária dos cristãos no mundo pagão.
Eles eram principalmente de origem pagã (1,14.18; 2,9.10; 4,3-4), provavelmente
recém convertidos (1,14; 2,2; 4,12) e sob o risco de desistir da fé cristã face à
hostilidade pagã. A carta aconselha o respeito ao governo e ao imperador (2,13-
17).

- Ao lembrar a grandeza de sua vocação e ao mostrar que a perseguição é um


sinal de seu chamado, o escritor incentiva e exorta seus leitores a permanecerem
firmes (5,12). As pessoas que são vistas pelo mundo como estrangeiros e
viajantes encontram um lar na comunidade cristã. Enfim, do conteúdo podemos
somente perceber que o apóstolo desejava animar os cristão em tempo de
provações e voltar a acender a fé que estava sendo dolorosamente provada (4,12).

- Conjuntura social da carta

- O público para o qual se dirige é amplo e geral: cristãos da Ásia Menor que
vivem como “estrangeiros” entre os vizinhos pagãos. Incluidos ai estão muitas
classes sociais: escravos, famílias, dirigentes. É dada bastante atenção à maneira
como o cristão também pode ser bom cidadão. Embora haja certa ênfase na
conversão e na nova posição dos convertidos, a carta dirige-se a uma variedade
de pessoas e trata de muitos assuntos.

3- Data e local de composição

- Muitos admitem que a carta foi escrita em Roma. A alusão à Babilônia (5,13) é
vista como uma alusão à metrópole pagã que rivalizava com a antiga Babilônia
em esplendor material. Uma vez que Pedro moreu ali na perseguição de Nero e
essa perseguição ainda não fora mencionada, a epístola poderia ter sido escrita
antes do final do ano 64 d.C.

- Alguns biblistas, no entanto, preferem estabelecer a data desta carta pelo fim do
século I, provavelmente nos anos 90. As Igrejas das Cartas Católicas no fim do
século I estavam preocupadas com questões internas, com o relacionamento entre
a Igreja e o mundo pagão e com as grandes perseguições romanas.

4- Gênero literário
- Pesquisadores modernos admitem que muito material confessional e hínico foi
incorporado em 1Pedro, mas, veem nela uma carta autêntica com sua própria
unidade literária e propósito.

- Outros exegetas argumentam que muito do conteúdo da carta é, com efeito, o de


uma antiga catequese batismal utilizada por Sâo Pedro. Tal uso, fundado também
en outros escritos do NT, é indício do papel importante que desempenhou a
liturgia na formação do NT.

- Uso do AT

- O autor de 1Pedro usa textos explícitos do AT: Ex 19,5 / 2,5.9; Lv 19,2 / 1,16;
Sl 118,22 / 2,7; Is 52,3-12 / 2,22-25 etc.

- 1Pedro também contém tradições bíblicas sem citar textos concretos: por
exemplo, cita personagens do AT como Noé (3,20), Sara e Abraão (3,6). Faz
referência ao tema da construção da casa de Deus (2,5), utiliza temas do livro do
Êxodo (1,19), cingir-se para caminho (1,13), a condição de peregrino do cristão
(1.1.17; 2,11). Enfim, 1Pedro só pode ser entendida com o transfundo do AT
como ponto de referência fundamental.

5- Alguns temas

a- A Igreja

- A carta lembra aos cristãos sua livre eleição por Deus, sua conversão e sua vida
nobre e fecunda em Cristo. O caráter marvailhoso da Igreja e a maneira como a
vida em Cristo é superior à religião pagã, recebem grande ênfase. Como surgiu a
Igreja, como Deus a fundou, sua estrutura, sua dignidade, seu chamado à
santidade, suas relações com a sociedade pagã, enfim, tudo isso, é tratado com
muito zelo na carta.

b- Deus e Cristo

- Por outro lado, os membros da Igreja são lembrados que eles tem um novo
Deus que cuida deles, elege-os, exalta-os e julga-os. O Deus cristão é superior
aos seus antigos deuses pagãos. De maneira análoga, são relatados os atos
divinos sobre Jesus, como Ele foi libertado de seus sofrimentos e venceu a morte.
Em 1Pedro, a recordação da missão pascal de Cristo serve a um propósito
bastante pastoral, porque a experiência cristã é interpretada tendo em mente esse
modelo.

- A missão de Jesus é a missão da Igreja, com ênfase especial no sofrimento e na


justificação. Do mesmo modo que ressucitou Jesus sofredor, Deus dará amparo e
justificação a todos os convertidos que sofrem por sua nova fé em Deus e em
Jesus.

c- Visão pastoral

- 1Pedro é uma carta bastante pastoral, pois almeja precisamente encorajar os


cristãos em face de problemas e crises reais que envolvem sua vida cotidiana. A
carta é pastoral na escolha de materiais de exortação, nada menos que o querigma
da fé. Uma vez que essa fé fois posta em dúvida pelas crises da vida, o autor
tenta mostrar como Jesus é o infalível modelo pastoral de vida, se envolve na
vida cotidiana dos cristãos e como Deus nos salva pontualmente quando somos
como Cristo, inclusive nos sofimentos.

- A carta não ignora os problemas, nem os menospreza, mas nos convida a ver
nossa vida mais claramente à luz da verdade sobre um Deus redentor e Jesus, a
prova do poder e do plano de Deus.

6- Teologia

a- Deus
- A primeira saudação faz referência à estrutura trinitária do mistério de Deus.
Nesse sentido, se percebe uma maturidade teológica pouco comum. Deus é Santo
(1,15-16), é aquele que julga sem parcialidade (1,17), o único a quem devemos
temer (2,17). Deus é sempre no NT o criador, mas, de fato o único documento
que utiliza este vocábulo é precisamente 1Pedro (4,19).

- Deus é também aquele a quem chamamos “Pai” (1,17), o Deus de toda graça
(5,10), o qual, em sua grande misericórdia, nos gerou de novo (1,3).
Precisamente, por isso, somos chamados a fazer sua vontade (2,15; 3,17; 4,2.19)
por nele toda a nossa inquietude, porque cuida de nós (5,7; cf. 4,19).

- A vocação cristã é a de chegar a ser santo, como ele é Santo (1,15-16), honrar-
lhe de todo o coração (4,11.16; 2,9) e viver de tal maneira que os seres humanos
cheguem também a golrificá-lo (2,12). Deus quer fazer-nos entrar em sua glória
eterna (5,10), herança que nos reserva em relação com nosso segundo nascimento
(1,3).

b- Cristologia
- Jesus Cristo, ainda que existente desde a fundação do mundo, não se manifestou
ainda plenamente, até estes últimos tempos (1,20). O Espírito de Cristo já estava
nos profetas, predizendo os sofrimentos que lhe estavam reservados e a glória
que havia de seguir (1,11). Cristo sofreu e morreu em sua condição humana, mas
foi vivificado no Espírito (3,18b).

- Jesus Cristo se encontra na glória e está sentado á direita de Deus (3,18). Glória
quer dizer “vitória”. O fato de Deus ter ressuscitado a Jesus e lhe tenha conferido
glória (1,21) significa que podemos ter acesso a ele (2,4) e, portanto, que
podemos entrar na sua luz maravilhosa (2,9), da verdade (1,22) e da nova vida
(1,23). Mas, a glória de Cristo será manifestada em toda a sua plenitude (4,13;
5,1; 1,5.7.13). Uma herança nos espera no céu (1,4) e que nada poderá destruir ou
manchar (1,4). Esta manifestação plena nos conduzirá a uma alegria sem fim
(1,6; 4,13).

- Os sofrimentos de Cristo
- Há pelo menos quatro textos que fazem referência ao sofrimento de Jesus: 2,21;
2,22; (3,18); 4,la e 4,lb. Mas, os sofrimentos de Jesus são a base das exortações
aos seus discípulos para que suportem o sofrimento. Precisamente, por isso, se
explicita qual foi a atitude de Jesus diante do sofrimento injusto (2,21-25), a fim
de que o discípulo possa ser revestido da mesma atitude (4,1) quando for
perseguido injustamente pelo fato de ser cristão (4,15-16).

- A carta juntamente com outros documentos do NT se inspira na vida terrena de


Jesus, mas, apela de forma especialmmente forte ao sofrimento de Jesus como
fundamento da exortação aos cristãos. Por isso, esse ponto, constitui o verdadeiro
centro literário e teológico da carta.

c- Vida cristã

- Se trata de um documento muito mais prático do que doutrinal. As exortações e


diretrizes da vida cristã ocupam um lugar muito mais central do que as
fundamentações doutrinais que lhes acompanham.

- O exemplo de Cristo e do seu sofrimento subjaz como motivação de fundo para


a maioria das exortações da carta. E se o exemplo de Cristo é o núcleo
fundamental das seções parenéticas, não nos surpreende que a eclesiologia de
1Pedro tenha uma base cristológica.

d- Eclesiologia
- O Fundamento da comunidade é Cristo

- A comunidade tem uma forte experiência da eleição, como participação na


eleição de Cristo (2,4.6; cf. 1,1 e 2,9). Porque, ainda que centre na comunidade
através do batismo que comporta um novo nascimento (1,4) na realidade o acento
está na aquisição de uma nova identidade familiar: somos o povo de Deus (2,10;
4,17).

- Neste sentido, a comunidade é exortada a se aproximar de Cristo, pedra viva


(2,4), isto é, Cristo ressuscitado. Em Cristo, os membros da comunidade, eleitos
como Cristo, são constituídos em um edifício de pedras vivas, templo do
Espírito, para formar uma comunidade sacerdotal que ofereça vítimas espirituais
agradáveis a Deus (2,5).

- Os dirigentes da comunidade devem cuidar dos membros dela como pastores


com disponibilidade e generosidade em contraposição ao despostismo auoritário
(5,2-3). Em qualquer caso há um forte convite para serviço e o amor mútuos
(4,10-11).

- Divisão e Estrutura (uma proposta)

- A carta se abre com uma saudação inicial de tipo epistolar (1,1-2), depois segue
uma ação de graças doxológica, semelhante a outras que nos são familiares por
obras do NT (1,3-12). A partir de 1,13 temos uma exortação aos leitores para que
recordem seu chamado a uma vida nova, marcada pela eleição que lhes constitui
um novo povo de Deus (até 2,10).

- De 2,11-4,11 há uma série de exortações a diversos grupos, em situações


distintas, para que vivam conforme a vocação cristã. A partir de 4,12 a carta
adquire um tom mais urgente, no qual se recorda que uma situação,
especialmente dificil não pode fazer esquecer os ensinamentos recebidos. A carta
fechacom uma despedida de tom epistolar (5,12-14).
1,1-2. Introdução: destinatário e saudação

- Parte I: 1,3-2,10. A dignidade da vocação cristã e suas responsabilidades


a- 1,3-25. A vocação cristã
1,3-12. A salvação realizada pelo Pai, através do Filho, revelada pelo
Espírito
1,13-25. Exortação à santidade
b- 2,1-10. Responsabilidades da vocação cristã
2,1-3. Exortação: vivei como filhos de
Deus
2,4-10. A nova casa de Deus

- Parte II: 2,11-3,12. O testemunho da vida cristã


a- 2,11-12. A conduta em um mundo pagão
b- 2,13-3,7. Catequese tradicional

2,13-17. Concernente a autoridade civil


2,18-3,7. Código de con du ta d om éstica
3,8-12. Acima de tudo, am or e humildade

- Parte III: 3,13-5,11. O cristão e a perseguição


a- 3,13-4,11. A atitude cristã frente à perseguição
3,13-17. Confiança durante a perseguição
3,18-4,6. Cristo é a base da confiança
3,18-22. A vitória de Cristo (sobre o pecado) aplicada aos cristãos
pelo batismo
4,1-6. O cristão, através do sofrimento, renuncia ao pecado (4,1-6)
4,7-11. A vida cristã e a parúsia
b- 4,12-5,11. A perseguição enfrentada realisticamente
4,12-19. Alegria durante a perseguição
5,1-5. Exortação aos anciãos e aos fiéis

- Exortação final: 5,6-11. Confiai em Deus; do sofrimento, Ele vos leva à glória

- Conclusão: 5,12-14. Esta é a verdadeira graça de Deus: permanecei firmes


nela.

- Despedida

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