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2ª Carta de Pedro

Introdução

- Se a primeira carta de Pedro é um escrito prático e pastoral com uma


preponderância clara por exortações e que apela ao querigma cristológico, por
outro lado, a segunda carta de Pedro é um escrito muito mais doutrinal, com um
forte enfoque na retidão da doutrina e com uma parênese claramente subordinada
aos fragmentos didáticos. Se 1Pedro se dedica mais à exortação, 2Pedro se dedica
mais ao ensinamento.

- O clima de opressão e perseguição que aparece em 1Pedro, não desempenha


papel algum em 2Pedro. Aqui há um outro contexto: o da discussão doutrinal que
tem múltiplas implicações no estilo de vida de um grupo da comunidade que está
conseguindo que muitos sigam as suas diretrizes e imitem o seu comportamento.

- O autor está empenhado em que seus leitores não percam sua prometida entrada
no reino eterno de Jesus Cristo e escreve para fortalecê-los na fé, entrando
particularente em desacordo com os falsos doutores que poderiam
desemcaminhá-los. É sobretudo no capítulo 2 que aparece os falsos doutores: sob
esse aspecto se parece muito com a carta de Judas. A carta dá a entender que esse
grupo zomba da esperança da Parusia.

- Desse erro fundamental surgiram outros: o Senhor da parusia é negado e


ignorando a expectativa do juízo, põem de lado, também eles, a ordem moral.
Contra essas falsas doutrinas, o autor insiste na expectativa da Parusia. Ensina a
divina soberania de Jesus e exorta-os insistentemente a viverem segundo os
ditames da moral.
1- Autor, data e destinatário

- Os biblistas contemporâneos consideram 2Pedro um escrito pseudônimo


atribuído a Pedro. As provas para esse critério são as seguintes:
a- O autor cita muito a carta de Judas incluindo muito do conteúdo daquela
adaptando-a e incorporando-a livremente.
b- Alude às diversas cartas de Paulo. Isso supõe uma data tardia porque as
cartas paulinas não foram reunidas antes do fim do século I.
- O autor deixa claro que a primeira geração cristã já passou e pede dos apóstolos
como se não fosse um deles (3,3). Há notáveis diferenças entre essa e 1Pedro: de
vocabulário, estlo e ideias. Em 1Pedro a Cristologia é tema dominante e Cristo é
o modelo dos cristãos, ao passo que em 2Pedro ele é simplesmente objeto da
profissão de fé.

- De modo geral, parece que 2Pedro não é apenas um dos últimos escritos do NT,
talvez seja o último, pois foi escrito no início do século II. Alguns situam a
redação até por volta de 120. O autor, identificndo-se com o apóstolo Pedro,
mostra que sua intenção é transmitir o ensinamento apostólico.

- Quanto aos destinatários, a carta não apresenta nenhuma indicação para quem
foi escrita.

2- Temas
- Embora ambas as epístolas afirmem que está próximo o Dia do Senhor. Em
1Pedro a proximidade da vinda não sofre contestação, ao passo que em 2Pedro a
esperança encontra séria oposição. Outra diferença: 1Pedro faz mais referências
ao AT.

- É de particular importância o fato de que em 2Pd 3,15s o autor coloque os


escritos de Paulo a par com as outras escrituras. Isso mostra que o cânon da
Escritura já vai tomando forma.

- A figura de Pedro é importante como porta-voz das tradições que a carta


defende. Os adversários atacam a parusia e a providência divina, temas
tradicionais que precisam da confirmação das pessoas que tiveram conhecimento
pessoal direto de Jesus e suas palavras. O testemunho do autor tem o propósito de
estabelecer essas questões em uma época muito mais tardia. Relembra os
primeiros tempos da Igreja a partir de uma época bem mais tardia e preocupa-se
com a ortodoxia na Igreja.
- A cristologia sintetizada, mas, claramente querigmática de 1Pedro cede lugar a
uma cristologia mais formal e doutrinal em 2Pedro: Jesus Cristo é objeto de
conhecimento e de aceitação, não o modelo que é preciso imitar baseando-se em
seguir a sua caminhada.

3- Situação da Igreja

- A Igreja para a qual a carta se dirige reflete uma mistura de judeus-cristãos com
cristãos convertidos do paganismo. Os capítulos 2-3 contém exemplos de textos
de literatura pagã fora da Bíblia. Essa preocupação pastoral de tornar as tradições
de escatologia inteligíveis para judeus e pagãos igualmente, sugere um cenário
urbano de antecedentes étnicos e religiosos heterogêneos, em diálogo com a
cultura pagã circundante e que retrata a longa herança da Igreja.

- O número de autores bíblicos reconhecidos por ela torna essa carta incomum.
Alega conhecer tradições evangélicas sobre a transfiguração, a parusia, algumas
das cartas de Paulo e a carta de Judas, além de demonstrar vasto conhecimento de
tradições biblicas. Poderíamos dizer que o autor é um membro de alta posição da
Igreja que argumenta contra a heresia de um modo que reflete o melhor da
cultura judeu-cristã e pagã.

4- Teologia

- Existem referências a Deus como Pai (1,17), ao Espírito como inspirador dos
profetas e dos escritores sagrados (1,21). Jesus Cristo é apresentado como Senhor
e Salvador.

a- A doutrina dos adversários: A carta visa refutar a doutrina dos falsos


mestres. Trata-se de um grupo que pertence à comunidade (2,2). Um grupo que
tem numerosos seguidores (2,3). Inclusive, se afirma que compartlham de
banquetes com os destinatários da carta (2,13). Os adjetivos que lhe são
dedicados são bastante impressionantes: míopes até a cegueira (1,9), arrogantes,
impuros, viciados com os olhos cheios de adultério (2,14) etc.

- A acusação mais forte que lhes é dirigida é a de negar o Senhor Jesus (2,1).
Citações muito parecidas são encontradas em 1João 2,22-23; 4,1-2.
b- Fé como conhecimento e a resposta aos que se queixam da demora da
parusia

- Para manter firme a fé, isto é, a piedade e o correto conhecimento, é preciso


procurar o fundamento nos atos salvíficos de Jesus e do AT, interpretados pelo
Espírito (1,21), tanto nas Escrituras do AT como nas do NT. A 2ª Carta de Pedro
nos fornece um pequeno tratado sobre a Sagrada Escritura e a Tradição como
fonte da revelação e da teologia.

- A fé aparece como algo a ser conhecido. É provável que os adverários perteçam


a um grupo gnóstico que apelam à gnose como virtude fundamental. A resposta
do autor é: a gnose é um momento do processo da fé que conduz ao amor (1,5-8),
mas, é preciso chegar aos frutos do amor na santidade.

- Estrutura Literária (uma proposta)


1,1-2. Saudação inicial
1,3-21. A verdade que nos foi transmitida
2,1-22. Os falsos mestrres
3,1-16. Contra o desânimo e a vigilância: Deus virá
3,17-18. Exortação final

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