Você está na página 1de 4

Pregação Efésios 5.

15-20

A palavra de Efésios 5.15-20 nos é anunciada justamente numa época


de polarizações e extremismos, quando pessoas se agridem mutuamente,
sobretudo, nas redes sociais. Essa agressividade acaba se manifestando
também na vida comunitária, o que causa sofrimento, abre feridas e
compromete nossa credibilidade cristã. As pessoas costumam reagir a tudo
isso de várias formas. Dentre elas, destacam-se: a forma ruidosa, quando
pessoas “compram a briga” e defendem fortemente suas convicções; ou a
forma silenciosa, quando pessoas sofrem caladas e se afastam gradativamente
da vida comunitária, por descontentamento ou pressão.
O texto bíblico nos lança um desafio e nos faz avaliar o nosso
comportamento e as nossas atitudes. Afinal, somos cristãos, pertencemos a
uma comunidade e se espera de nós que tenhamos um jeito bem característico
de ser e de agir: O jeito de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Para tanto,
Efésios 5.15-20 nos propõe alguns passos a serem seguidos, os quais nos
ajudarão a enfrentar com firmeza e forte testemunho estes tempos difíceis que
estamos atravessando.
Somos convidados a não julgar precipitadamente o nosso próximo, a
não condenar preconceituosamente quem pensa e age diferente, mas, pelo
contrário, devemos olhar para dentro de nós mesmos, fazer uma autoanálise,
uma espécie de retiro espiritual, e examinar nosso jeito de ser e de (re)agir, e
descobrir se ele corresponde ou não ao que Jesus Cristo espera de nós. Esta
autoanálise é necessária para identificarmos nossas fraquezas e nossos
pecados e, consequentemente, pedirmos perdão a Deus e transformarmos
nossa vida. Não podemos querer avaliar a vida das outras pessoas e não
consertar a nossa própria vida (Mateus 7.3).
O texto bíblico afirma: “Cuidem da maneira como vocês vivem. Não
sejam tolos, mas sábios”. A nossa maneira de viver deve refletir a nossa fé e a
nossa pertença a Jesus Cristo. Certa vez, alguém disse que o nosso jeito de
ser, muito mais do que nossas palavras, é o primeiro e muitas vezes o único
evangelho que as pessoas leem. Se houver contradição e descompasso entre
nossas palavras e a maneira como nós nos comportamos, certamente nosso
testemunho será em vão. Conforme Provérbios 1.7, “O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria”. Ser uma pessoa sábia é perguntar e se orientar
primeiro pela vontade de Deus. Esse olhar para dentro de si mesmo/a é o
primeiro passo importante, que norteia o jeito cristão de ser, de falar e de agir.
Essa necessidade de autoanálise faz lembrar-nos da história daquela
mulher, que diariamente fazia comentários negativos sobre a roupa suja
pendurada no varal da vizinha. Certo dia, ela comentou com o marido: “Hoje
finalmente a roupa da vizinha está limpa no varal”. Ao que o marido respondeu:
“É que hoje eu lavei os vidros da janela de nossa casa”. Este conselho bíblico é
fundamental, pois nós vivemos numa época em que as informações vêm muito
rápido e nos atropelam, o que dificulta passarmos as mesmas pelo crivo do
evangelho – lembramos aqui das três peneiras de Sócrates: Verdade, bondade
e necessidade. Sem esses critérios, reproduzimos e compartilhamos
informações, que nem sempre são verdadeiras e cujo único objetivo é
confundir e espalhar o mal. Se não tomarmos cuidado, acabamos nos tornando
instrumentos da disseminação de mentiras e ódio, o que contradiz nossa vida
cristã. Por isso, é tão importante examinar e cuidar da nossa maneira de viver.
Descobriremos que o problema nem sempre está no varal dos outros, mas que
é necessário primeiro lavar nossas própria vidraça, que é preciso rever nossos
conceitos e eliminar nossos preconceitos. Descobriremos que todos nós somos
igualmente dependentes da misericórdia e do perdão de Deus. Nosso critério
de sermos “pessoas de bem” não devem ser os defeitos das outras pessoas,
mas o evangelho de Jesus Cristo.
Outro conselho que o texto bíblico nos dá é sabermos aproveitar bem o
tempo, sobretudo nesses dias maus e difíceis. Tem muita gente que pensa que
“aproveitar o tempo” é correr contra o relógio, aproveitar o máximo possível
para ganhar dinheiro, para produzir mais ou para se divertir muito. É o famoso
ditado latino “carpe diem”. Esse tipo de pensamento e de atitude facilmente nos
tornam egoístas, porque pensar nos outros e se preocupar por eles seria
prejuízo e perda de tempo. Em seu original grego, o texto de Efésios 5.15-20
usa o termo KAIRÓS para a palavra tempo. Kairós é o tempo de Deus e não é
ligado ao tempo cronológico (o correr contra o relógio). Kairós é a
oportunidade, o tempo exato, que Deus nos oferece para praticarmos a sua
vontade. Também os dias maus, os tempos difíceis, são Kairós –
oportunidades – para testemunharmos e vivenciarmos o amor de Deus. Ao
invés de reclamarmos sobre as dificuldades, de reagirmos negativamente, de
desanimarmos e nos resignarmos diante do mal que nos rodeia, especialmente
neste tempo de pandemia, nós somos chamados a agir, aproveitar o tempo, as
oportunidades que Deus nos oferece para colocar o seu amor em prática.
Efésios 5.15-20 também nos diz que não devemos deixar que o vinho
nos domine, mas permitir que o Espírito Santo tome conta de nós (Atos 2.13: O
Espírito Santo nos “embriaga” com o poder de Deus). Nós sabemos que a
dependência de bebida alcoólica turba nossos pensamentos, trava nossas
decisões e nos faz cair cada vez mais fundo. Tal qual a bebida alcoólica,
existem muitas outras coisas que também nos viciam, dominam, confundem e
provocam nossa perdição: Entre outras, o extremismo e o fanatismo impedem
que enxerguemos direito; o egoísmo nos vicia; os preconceitos turbam nosso
coração. Tornamo-nos pessoas más, rancorosas e amarguradas. A referência
aos efeitos da bebida alcoólica é um comparativo para tudo isso. Se é para ser
dominado por algo, que seja pelo Espírito Santo, diz o texto bíblico. O Espírito
Santo nos enche de coragem para o testemunho, ele nos faz viver em
comunidade, ele nos aproxima do evangelho, ele desperta a nossa fé
(explicação do 3º Artigo do Credo Apostólico – Lutero) e nos anima para
praticarmos o amor de Deus. O Espírito Santo nos faz enxergar a verdade. Em
João 15.26, 16.13, Jesus Cristo diz: “Quando vier o Consolador, o Espírito da
verdade, ele dará testemunho de mim… ele os guiará em toda a verdade…”.
Nós não estamos sozinhos, abandonados. O Espírito de Deus nos arranca da
imobilidade, do torpor, do vício, do medo, do erro e do preconceito e nos
encoraja para a vivência compartilhada da fé.
Nós também somos convidados a animar uns aos outros com salmos,
hinos e louvor a Deus. O cântico é uma forma de alimentar nossa
espiritualidade. Abre-se assim o coração para que Deus opere o milagre da fé
em nossa vida. Muitas famílias cristãs cantam enquanto realizam seu trabalho.
O canto contagia as pessoas e é uma ótima oportunidade de evangelização.
Com o cântico, nós expressamos a nossa gratidão a Deus, reconhecendo o
seu amor por meio de Jesus Cristo. Atribui-se a Martim Lutero a famosa frase:
“Onde se canta, ali te assenta, pois não há espaço para o mal”. Com a
repetição de versículos bíblicos, sobretudo de salmos conhecidos,
internalizamos a palavra de Deus e preparamos nosso coração para perceber o
agir de Deus em nossa vida. Deus faz chegar a nós a sua palavra e desperta a
nossa fé através do Espírito Santo. Ele prepara a nossa mente e o nosso
coração para que neles habite somente a sua vontade e saibamos discernir
entre aquilo que promove a Cristo e aquilo que confunde, atrapalha e
compromete a comunhão e o testemunho da comunidade.
Portanto: Cuidemos da maneira como vivemos, busquemos a
sabedoria que vem do alto, libertando-nos de tudo que atrapalha nosso
testemunho e nossa vivência comunitária.
Saibamos abraçar as oportunidades que Deus coloca diante de nós
para vivenciarmos a fé de forma amorosa e compartilhada.
Permitamos que o Espírito Santo aponte qual deve ser o nosso Norte e
nos conduza numa vida equilibrada e coerente com o evangelho de Cristo.
E que os cânticos e hinos de louvor, que reproduzem de forma cantada
a palavra de Deus, possam ser também uma forma de edificação de nossa vida
de fé e comunitária. – E que a boca fale do louvor que preenche o nosso
coração. Amém

Você também pode gostar