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Prédica 1 Pedro 3.

13-22 - DREHER

Irmãs e irmãos! Assim como vocês, estou cheio de sofrimentos. Não


posso dar abraços nem beijos. Aprendi que é importante dar as mãos, quando
se cumprimenta alguém. Não posso mais fazê-lo e não sei por quanto tempo.
Não posso sair de minha casa para visitar os que estão sós. Não posso ir
tomar chimarrão com os vizinhos, nem mesmo com os filhos. Não posso
abraçar o neto e as netas. Mas, estou tentando fazer o que é certo: busco
respeitar o mandamento que diz: “Não matarás”. Ao evitar contatos e saídas de
minha casa, não cometo suicídio e vejo a vida como presente dado por Deus
que deve ser preservado. Também respeito a vida dos outros, não querendo
transmitir-lhes a morte. Em relação aos que me procuram procuro manter
distância.
Tenho sofrido por não poder ir a velórios, nem a sepultamentos. Nos
últimos dias, não pude me despedir de dois colegas e de duas esposas de
pastores que me foram muito importantes ao longo da vida. No dia das mães
não pude levar flores a minha mãe no cemitério, no qual descansa. Devo,
porém, confessar que sofro mais quando vejo as cenas que me mostram que
os hospitais estão cheios de pessoas que não podem ser visitadas, que
morrem sós. Sofro, quando vejo que familiares não podem ver, velar, se
despedir de seus mortos, sepultados em valas comuns. Quando me despedi de
meus queridos, depositei-os em sepulturas individuais, enfeitei-as com flores e,
na cabeceira, coloquei uma cruz. Os que hoje sepultam seus mortos não o
podem fazer. Sofro quando vejo surgirem milhões de desempregados e vejo
pessoas minimizando os sofrimentos.
Sei que há pessoas que se lembram de mim e de minha esposa. Os
filhos nos trazem os alimentos. Para outros, vizinhos o fazem. Há pessoas me
enviando vídeos, mensagens, telefonando. (Confesso que, por vezes, fica até
demais). Mas sofro pela falta de comunidade, de confissão de fé em conjunto,
do partir do pão e da comunhão no cálice da Santa Ceia.
Por outro lado, sou grato por ter podido enviar mensagens a enlutados,
dizendo que seus falecidos agora veem no que creram. Sou grato pelas
pregações que tenho podido ouvir pela internet, pelos hinos que cantei,
sabendo que outros estariam cantando os mesmos hinos naquele momento e
confessando a mesma fé.
Lendo os textos previstos para o presente domingo, vejo que também
eles falam de sofrimento. O Salmo 66.8-20 me lembra que sofro porque muitas
vezes não quis ouvir a Deus nem viver a partir de sua graça. Ele nos coloca à
prova, nos mantém vivos, devemos louvá-lo e agradecer-lhe pela proteção e
pela vida que concedeu a nós e também às pessoas que têm chamado. Deus
não deixa de ouvir nossas orações e não nos nega seu amor. O texto de João
14.15-21 nos fala de dor de despedida, mas (mais importante!) diz que Jesus
não nos deixa abandonados. Sua ressurreição é garantia de ressurreição e
vida para nós e para os nossos. Porque ele vive, nós também viveremos! 1
Pedro 3.13-22 é texto escrito em meio a sofrimento. Foi pregação para pessoas
no dia de seu Batismo. Não desistiram de ser cristãs porque estavam sendo
perseguidas. O apóstolo as anima a serem fieis, a fazerem o bem, a não terem
medo. Pede que deem testemunho em meio ao sofrimento. Quando
perguntadas por que continuam seguindo a Jesus, devem testemunhar a
esperança que têm, devem falar daquele dia em que serão acolhidas no Reino,
no colo de Abraão, nos braços de Deus e dizer que essa esperança as deixa
ter esperança aqui e agora. Por isso podem colocar pequenos sinais de
esperança. Quem é e foi batizado tem compromisso com Deus. Por que?
Porque foi inserido na salvação dada pela ressurreição de Jesus Cristo. Ele
está à direita de Deus, governa anjos, todos os poderes e cuida de nós.
Numa época em que não nos podemos reunir, em que não podemos
comungar, partilhando do mesmo pão e do mesmo cálice, ouvir outros
confessando a fé como nós a confessamos, louvando em conjunto, é mais do
que importante, é fundamental sabermos que fomos batizados, que fomos
enxertados no corpo do Jesus ressurreto e que nele temos comunhão uns com
os outros e também com os que foram antes de nós. Louvado seja Deus.
Amém.
Obrigado, Senhor, que em meio a sofrimentos podemos ter a certeza
da tua ressurreição, de tua vitória sobre sofrimento e morte. Recebe nosso
louvor e adoração e deixa-nos ser instrumentos teus em relação aos que
sofrem. Louvado sejas! Amém.

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