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CLASSE DE FUNDAMENTOS

QUEM É
JESUS CRISTO
DOUGLAS SANTARELLI
QUEM É JESUS CRISTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• COMPREENDER OS CONCEITOS DAS NATUREZAS DIVINA E HUMANA DE


CRISTO
• IDENTIFICAR OS ERROS HISTÓRICOS NA COMPREENSÃO DA DUPLA
NATUREZA DE CRISTO
• ENTENDER A IMPORTÂNCIA DAS IMPLICAÇÕES DA UNIDADE DAS
NATUREZAS, DIVINA E HUMANAS, PRESENTES EM CRISTO, PARA NÓS

O CREDO NICENO E SUA ORIGEM


O Credo Niceno deriva-se do credo de Nicéia (composto pelo Concílio de Nicéia (325 AD), com
pequenas modificações efetuadas pelo Concílio de Calcedônia (451 AD) e pelo Concílio de
Toledo (Espanha, 589 AD). Este credo expressa mais precisamente a doutrina da Trindade,
contra o arianismo. Eis o texto do Credo de Nicéia, conforme aceito por católicos e protestantes:

Creio em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as


coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de
Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância
com o Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e por
nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem
Maria, e foi feito homem; e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos.
Ele padeceu e foi sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras;
e subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória
para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim. E no Espírito Santo,
Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho
conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. Creio na
Igreja una, universal e apostólica, reconheço um só batismo para remissão dos
pecados; e aguardo a ressurreição dos mortos e da vida do mundo vindouro.

Quatro declarações devem ser compreendidas e afirmadas a fim de se obter uma imagem
completamente bíblica da pessoa de Jesus Cristo:
1. JESUS CRISTO É PLENA E COMPLETAMENTE DIVINO.
2. JESUS CRISTO É PLENA E COMPLETAMENTE HUMANO.
3. AS NATUREZAS DIVINA E HUMANA DE CRISTO SÃO DISTINTAS.
4. AS NATUREZAS DIVINA E HUMANA DE CRISTO ESTÃO
COMPLETAMENTE UNIDAS EM UMA PESSOA.

A DIVINDADE DE CRISTO
Muitas passagens da Escritura demonstram que Jesus é plena e completamente Deus:

João 1.1,14; João 1.18; João 20.28; Romanos 9.5; Filipenses 2.5-7; Tito 2.13;
Hebreus 1.3; Hebreus 1.8,10; 2Pedro 1.1

O ENTENDIMENTO DE JESUS ACERCA DA SUA PRÓPRIA DIVINDADE


Embora as passagens citadas acima claramente ensinem a divindade de Cristo, essa verdade é
frequentemente desafiada. Alguns dizem que Jesus jamais reivindicou ser Deus e que tais
versículos foram escritos por seus discípulos, que o divinizaram por causa do impacto que ele
causara em suas vidas. Jesus, é dito, via a si mesmo tão somente como um grande mestre moral
semelhante a outros líderes religiosos. Todavia, o entendimento de Jesus acerca da sua própria
divindade nos Evangelhos não dá suporte a essa perspectiva. Ele claramente via a si mesmo
como Deus. Isso pode ser visto primariamente de seis maneiras.

1. JESUS ENSINAVA COM AUTORIDADE DIVINA

Ao final do sermão do monte, “estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina;


porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas”
(Mateus 7.28-29). Os mestres da lei no tempo de Jesus não tinham qualquer autoridade
própria. A sua autoridade vinha do seu uso de autoridades anteriores. Mesmo Moisés e os
demais profetas do AT não falavam por sua própria autoridade; antes, diziam: “Assim diz o
Senhor”. Jesus, por outro lado, interpreta a lei dizendo: “Ouvistes o que foi dito aos
antigos. […] Eu, porém, vos digo” (ver Mateus 5.22, 28, 32, 34, 39, 44). Essa
autoridade divina é demonstrada com surpreendente clareza quando ele fala de si mesmo como
o Senhor que julgará toda a terra e dirá aos ímpios: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de
mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Não é de admirar que as multidões
estavam maravilhadas ante a autoridade com a qual Jesus falava. Jesus reconhecia que as suas
palavras carregavam o peso divino. Ele admitia a autoridade permanente da lei e punha suas
palavras no mesmo nível dela: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra
passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”
(Mateus 5.18); “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não
passarão” (Mateus 24.35).

2. JESUS TINHA UM RELACIONAMENTO ÚNICO COM DEUS O PAI


Quando era um jovem menino, Jesus se assentou com os líderes religiosos no templo,
maravilhando as pessoas com as respostas que dava. Quando seus pais distraídos finalmente
encontraram o seu adolescente “perdido”, ele respondeu dizendo: “Por que me procuráveis?
Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2.49). A referência
de Jesus a Deus como “seu Pai” é uma declaração radical do relacionamento único, íntimo com
Deus, acerca do qual ele já tinha plena consciência. Uma afirmação semelhante feita por um
indivíduo não tinha precedentes na literatura judaica. Jesus ainda levou esse tratamento pessoal
singular a um outro nível ao dirigir-se a Deus o Pai usando a afetuosa expressão
aramaica “Abba”.

3. A MANEIRA PREFERIDA DE JESUS REFERIR-SE A SI MESMO ERA O


TÍTULO FILHO DO HOMEM
A expressão “um filho de homem” podia significar simplesmente “um ser humano”. Mas Jesus
referia-se a si mesmo como o Filho do Homem (sugerindo o singular, bem-conhecido Filho do
Homem), o que indicava que ele via a si mesmo como o Filho do Homem messiânico de Daniel
7, o qual haveria de governar o mundo inteiro por toda a eternidade:

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens
do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram
chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos,
nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio
eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7.13-14)
Jesus estabelece a sua autoridade divina como o glorioso Filho do Homem messiânico ao
declarar que ele tem o poder de perdoar pecados e que é o senhor do Shabbath: “Ora, para
que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar
pecados — disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai
para tua casa” (Marcos 2.10-11); “E acrescentou: O sábado foi estabelecido por
causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho
do Homem é senhor também do sábado” (Marcos 2.27-28).

4. O ENSINO DE JESUS ENFATIZAVA A SUA PRÓPRIA IDENTIDADE


Jesus veio ensinando o reino de Deus, no qual ele é o Rei. O seu ensino lidava com muitos
tópicos, mas era, sobretudo, acerca de si mesmo que ele ensinava. A sua pergunta aos
discípulos, “Quem dizeis vós que eu sou?” (Mateus 16.15), é a questão primordial do
seu ministério.

5. JESUS ACEITOU ADORAÇÃO


Talvez a mais radical demonstração da certeza de Jesus quanto à sua divindade estava no fato
de que, ao ser adorado, como às vezes ele foi, ele aceitava tal adoração (Mateus 14.33;
28.9,17; João 9.38; 20.28). Se Jesus não acreditasse que ele era Deus, ele deveria ter
veementemente rejeitado ser adorado, como Paulo e Barnabé fizeram em Listra (Atos 14.14-
15). O fato de um judeu monoteísta como Jesus aceitar adoração de outros judeus monoteístas
mostra que Jesus estava consciente de possuir uma identidade divina.

6. JESUS SE IGUALOU AO PAI, E COMO RESULTADO DISSO OS LÍDERES


JUDEUS ACUSARAM-NO DE BLASFÊMIA

Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso,
pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a
Deus. (João 5.17-18)

Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão


existisse, EU SOU [uma clara alusão ao nome sacro e divino de Yahweh; cf. Êx
3.14]. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e
saiu do templo. (João 8.58-59)

Eu e o Pai somos um. Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar.
[…] Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim
por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. (João
10.30-33)

Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo


sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu:
Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e
vindo com as nuvens do céu [uma referência a Daniel 7; ver ponto 3]. Então, o
sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de
testemunhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de
morte. (Marcos 14.61-64)

IMPLICAÇÕES DA DIVINDADE DE CRISTO


Porque Jesus é Deus, as seguintes coisas são verdadeiras:

1. Deus pode ser conhecido definitiva e pessoalmente em Cristo: “Ninguém


jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”
(João 1.18); “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9).

2. A redenção é possível e foi realizada em Cristo: “Porquanto há um só Deus e


um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5).

3. No Cristo ressurreto, assunto e entronizado nós temos um Sumo Sacerdote


que simpatiza conosco que tem um poder infinito para suprir nossas
necessidades: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-
se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15).

4. Adoração e obediência a Cristo são apropriadas e necessárias.

ERROS HISTÓRICOS ACERCA DA DIVINDADE DE CRISTO


A mais antiga e radical negação da divindade de Cristo é chamada ebionismo ou adocionismo,
a qual foi ensinada por uma pequena seita judaico-cristã no primeiro século. Eles acreditavam
que o poder de Deus veio sobre um homem chamado Jesus para habilitá-lo a cumprir o papel
messiânico, mas que Cristo não era Deus. Uma heresia cristológica posterior e mais influente foi
o arianismo (início do século IV), o qual negava a natureza eterna e plenamente divina de Cristo.
Ário (256-336 d.C.) acreditava que Jesus era o “primeiro e maior dos seres criados”. A negação
ariana da divindade plena de Jesus foi rejeitada pelo Concílio de Nicéia em 325. Naquele concílio,
Atanásio demonstrou que, segundo a Escritura, Jesus é plenamente Deus, sendo da mesma
essência do Pai.

A HUMANIDADE DE CRISTO
Desde o momento da concepção virginal de Jesus no ventre de Maria, a sua natureza divina foi
permanentemente unida à sua natureza humana em uma e a mesma pessoa, o agora encarnado
Filho de Deus. A evidência bíblica para a humanidade de Jesus é forte, mostrando-nos que ele
possuía um corpo humano, uma mente humana, e experimentou a tentação humana.

Jesus teve um nascimento humano e uma genealogia humana: “vindo, porém, a plenitude
do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para
resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de
filhos” (Gálatas 4.4-5).

Jesus possuía um corpo humano que experimentou crescimento (Lucas 2.40, 52), assim
como suscetibilidades físicas, a exemplo de fome (Mateus 4.2), sede (João 19.28), cansaço
(João 4.6) e morte (Lucas 23.46).

Como um homem velho, o apóstolo João ainda estava maravilhado ante o fato de que a ele fora
dado experimentar Deus o Filho em carne. Como uma criança exultante, ele continua repetindo
para si mesmo à medida que descreve a encarnação:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os
nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com
respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela
damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai
e nos foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós
outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. (João 1.1-3)
João sabia acerca da encarnação há mais de 50 anos quando escreve essa carta, mas, ainda
assim, ele escreve com maravilhado assombro à medida que reflete sobre o caminhar nas praias
da Galileia, pescar, comer, rir e ter os seus pés lavados por um carpinteiro que era Deus em
carne!

Jesus continua a ter um corpo físico em seu estado ressurreto, e ele esforçou-se sobremaneira
para assegurar que os seus discípulos entenderiam isso: “Vede as minhas mãos e os
meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não
tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24.39; cf. Lucas 24.42;
João 20.17, 25-27). Após a sua ressurreição, Jesus voltou para o Pai, ascendendo em seu
corpo divinamente reanimado perante os olhos maravilhados dos seus discípulos, assim
testificando a sua plena e contínua humanidade física (Lucas 24.50-51; Atos 1.9-11). A
ascensão tem sido incluída em cada credo relevante da igreja porque ela ensina a completa e
permanente humanidade de Jesus como o único mediador entre Deus e o homem.

Jesus tinha uma mente humana, a qual, segundo a vontade do Pai, possuía limitações em
conhecimento: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos
no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32). A sua mente humana crescia e
amadurecia em sabedoria (Lucas 2.52), e ele até mesmo “aprendeu a obediência” (Hebreus
5.8-9). Dizer que Jesus “aprendeu a obediência” não significa que ele se moveu da
desobediência para a obediência, mas que ele cresceu em sua capacidade de obedecer à
medida que suportou os sofrimentos.

Jesus experimentou tentação humana: “Porque não temos sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as
coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15; cf. Lucas 4.1-2).
Embora Jesus tenha experimentado toda sorte de tentação humana, ele nunca sucumbiu ao
pecado (João 8.29, 46; 15.10; 2Coríntios 5.21; Hebreus 7.26; 1Pedro 2.22; 1João
3.5).

Jesus praticava disciplinas espirituais. Ele regularmente orava com paixão (Marcos 14.36;
Lucas 10.21; Hebreus 5.7), adorava nos cultos na sinagoga (Lucas 4.16), lia e
memorizava a Escritura (Mateus 4.4-10), praticava a disciplina da solidão (Marcos 1.35;
6.46), observava o Shabbath (Lucas 4.16), obedecia às leis cerimoniais do AT (João 8.29,
46; 15.10; 2Coríntios 5.21; Hebreus 4.15), e recebia a plenitude do Espírito (Lucas
3.22; 4.1). Essas atividades religiosas eram desempenhadas com diligência (Hebreus 5.7) e
habitualidade (Lucas 4.16) como os meios de um processo de crescimento espiritual
verdadeiramente humano.

Dada a natureza divina de Jesus, a normalidade da maior parte de sua vida terrena é
surpreendente. Aparentemente, Jesus passou os primeiros 30 anos de sua vida em relativa
obscuridade, fazendo trabalhos manuais, cuidando de sua família e sendo fiel em qualquer coisa
que o seu Pai o chamasse a fazer. Em seu ministério público, Jesus operou sinais miraculosos
e dispensou ensino autoritativo que poderia vir apenas de Deus, e isso foi chocantemente
ofensivo para as pessoas de sua cidade natal, as quais viam a simplicidade e humildade de
Jesus como incompatíveis com a sabedoria e o poder messiânicos:

“E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se


maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes
miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e
seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas
irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém,
lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa” (Mt
13.54-57).
Jesus não deixou de ser plenamente humano após a ressurreição. Ele será homem eternamente,
à medida que ele representa a humanidade redimida por toda a eternidade (Atos 1.11; 9.5;
1Coríntios 9.1; 15.8; 1Timóteo 2.5; Hebreus 7.25; Apocalipse 1.13).

IMPLICAÇÕES DA HUMANIDADE DE CRISTO


É evidente que os homens têm sido continuamente pecaminosos desde a queda. Portanto, é
fácil assumir que ser pecaminoso é uma parte essencial e necessária de ser um “ser humano”.
Mas isso não é verdade. Jesus era humano e, ainda assim, ele não pecou. O fato de que ele se
tornou homem REVELA A NATUREZA DA VERDADEIRA HUMANIDADE. A sua
humanidade nos dá um vislumbre de como seria a nossa humanidade, caso ela não houvesse
sido manchada pelo pecado. Ele nos mostra que o problema com a humanidade não está em
sermos humanos, mas em sermos caídos. A natureza humana de Jesus mostra o potencial da
humanidade tal como Deus intencionou. Essa demonstração da humanidade sem pecado
reafirma a declaração de Deus de que a criação em todas as suas dimensões originais (material
e espiritual), incluindo a humanidade, é, por definição divina, muito boa (Gênesis 1.31).

A humanidade de Jesus HABILITA A SUA OBEDIÊNCIA REPRESENTATIVA EM NOSSO


FAVOR. “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça
sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também,
por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Romanos 5.18-19).
Porque Jesus é verdadeiramente humano, a sua vida perfeita de obediência e triunfo sobre todas
as tentações – culminando em sua perfeita morte substitutiva – pode tomar o lugar da rebelião e
do fracasso humanos.

Por causa da humanidade de Jesus, ele pode verdadeiramente ser um sacrifício substitutivo pela
raça humana. “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse
semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas
referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus
2.17). Um homem morreu na cruz quando Jesus morreu, e a sua morte verdadeiramente é a
expiação pelo pecado de seres humanos, de cuja natureza ele participou.

A humanidade de Jesus FAZ DELE O ÚNICO MEDIADOR EFICAZ ENTRE DEUS E O


HOMEM: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5). As naturezas divina e humana de Jesus o habilitam
a se colocar na brecha entre homens caídos e um Deus santo.

A humanidade de Jesus O HABILITOU A TORNAR-SE UM SUMO SACERDOTE


EMPÁTICO, que experiencialmente entende a difícil condição da humanidade em um mundo
caído: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto
ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para
socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.15-16; cf. Hebreus 2.18).
A humanidade de Jesus significa que ele é um verdadeiro exemplo e modelo para o caráter e a
conduta dos homens. “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que
também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os
seus passos” (1Pedro 2.21; cf. 1João 2.6).

ERROS HISTÓRICOS ACERCA DA HUMANIDADE DE CRISTO


Uma heresia do segundo século chamada docetismo negava a verdadeira humanidade de
Cristo. O docetismo (do verbo grego dokeō, “aparentar, parecer-se com”) baseava-se nas
pressuposições do gnosticismo, o qual sustentava uma dicotomia radical entre os reinos físico e
espiritual, bem como uma visão muito negativa da ordem física como sem valor e desprezível.
Essas crenças conduziram a uma negação de que houvesse qualquer substância física real na
humanidade de Jesus. A cristologia docética ensinava que a humanidade física de Jesus era
apenas uma ilusão; uma de suas afirmações era que “quando Jesus caminhava na praia, ele não
deixava pegadas”. O docetismo tem efeitos devastadores sobre uma correta visão de Cristo, da
salvação, da revelação e da criação. Nessa perspectiva, Cristo não representa a humanidade
em sua obra expiatória, tampouco nos revela Deus em forma humana. Tal ensino também destrói
uma visão biblicamente positiva da criação, conduzindo a uma perspectiva negativa ou
indiferente acerca da vida no corpo. O NT refuta as sementes do que viria a se tornar o
gnosticismo, com a sua visão docética de Cristo. João condena severamente qualquer visão que
negue a humanidade plena, física de Cristo: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo
espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1João 4.2).
O apolinarianismo foi outra heresia primitiva que negava a humanidade plena de Cristo.
Apolinário (século IV d.C.) acreditava que os seres humanos possuíam corpos, almas animais e
espíritos racionais. Ele ensinava que o logos divino em Cristo tomou o lugar do espírito racional
presente nos homens. Essa visão foi refutada de modo bem-sucedido no quarto século por
Gregório de Nisa e Atanásio, bem como rejeitada no Concílio de Constantinopla em 381 d.C. O
concílio demonstrou que se Jesus fosse apenas, digamos, dois terços humanos, a plena
redenção de pessoas plenamente humanas não seria possível. Na citação célebre de Gregório,
“aquilo que Ele não assumiu Ele não curou; mas aquilo que está unido à Sua Divindade também
está a salvo”. Jesus deveria assumir cada elemento da natureza humana a fim de redimir
completamente a humanidade.

Essas duas heresias ensinam os crentes a apreciarem a importância da humanidade de Cristo,


bem como proporcionam uma lição acerca do método teológico. Ambas essas visões se
aproximam da Bíblia com pressuposições acerca da humanidade e conformam o ensino bíblico
a elas, ao invés de permitirem que a Escritura governe todas as coisas, incluindo as
pressuposições. O método teológico evangélico deve sempre permitir que o ensino da Escritura
molde as conclusões teológicas, ao invés de distorcer o seu ensino com base em assunções
estranhas a ela. Inúmeros erros teológicos têm ocorrido pela imposição de ideias humanas à
Bíblia.

A DISTINÇÃO E A UNIDADE DAS DUAS NATUREZAS DE CRISTO


Paralelamente à plena divindade e humanidade de Jesus, a terceira e a quarta afirmações
necessárias da cristologia bíblica são que na encarnação, as naturezas divina e humana
permanecem distintas, e as naturezas são completamente unidas em uma pessoa. A melhor
evidência dessas duas realidades são as passagens da Escritura nas quais a glória divina e a
humildade humana de Jesus são apresentadas conjuntamente:

Isaías 9.6; Lucas 2.11; João 1.14; Romanos 1.3-4; 1Coríntios 2.8; Gálatas 4.4-5
Esses versículos apresentam o profundo mistério do eterno e infinito Filho de Deus adentrando
no tempo e no espaço e assumindo a natureza humana. Não existe pensamento mais grandioso
no qual possamos ponderar do que esse.

IMPLICAÇÕES DAS DUAS NATUREZAS DE CRISTO


A crença de que Jesus é uma pessoa com duas naturezas, humana e divina, tem um grande
significado para a possibilidade de pessoas caídas entrarem em um relacionamento com Deus.
Cristo deve ser ao mesmo tempo Deus e homem para que possa ser o mediador entre Deus e o
homem, fazer expiação pelo pecado, e ser um Sumo Sacerdote empático:

Colossenses 1.19-20; 1Timóteo 2.5; Hebreus 2.17


Em sua obra seminal Por Que Deus Se Tornou Homem, Anselmo da Cantuária (1033 – 1109
d.C.) sintetizou a importância das duas naturezas de Cristo para a sua obra expiatória ao dizer:
“É necessário que a mesma e a própria Pessoa que há de realizar essa
satisfação [pelos pecados da humanidade] seja perfeito Deus e perfeito homem,
uma vez que Ele não pode fazê-lo a menos que seja de fato Deus, e a Ele não
convém fazê-lo a menos que seja de fato homem” (Livro II, cap. 7).

ERROS HISTÓRICOS ACERCA DA UNIDADE DAS NATUREZAS DE CRISTO


Há seis heresias históricas relacionadas à pessoa de Cristo. As primeiras quatro heresias estão
descritas acima. O nestorianismo enfatizava a distinção entre as naturezas de Cristo de tal modo
que fazia parecer que Cristo era duas pessoas em um corpo. O eutiquianismo enfatizava a
unidade das naturezas ao ponto em que todas as distinções entre elas se perdiam, e Cristo era
visto como alguma entidade nova, com uma única natureza, maior do que meramente homem,
sendo plenamente Deus em um novo modo.

Em 451 d.C., líderes da igreja se reuniram na Calcedônia (fora da antiga Constantinopla) e


escreveram um credo afirmando tanto a plena humanidade como a plena divindade de Jesus,
com as suas duas naturezas unidas em uma pessoa. Esse credo, formulado na Calcedônia,
tornou-se a afirmação fundamental da igreja acerca de Cristo. O Credo Calcedônico é lido como
segue:

“Nós, portanto, seguindo os santos pais, todos perfeitamente unânimes,


ensinamos que se deve confessar um só e o mesmo Filho, nosso Senhor Jesus
Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, possuindo alma racional e corpo; consubstancial com
o Pai, segundo a divindade, e consubstancial conosco, segundo a humanidade;
em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado antes de
todos os séculos pelo Pai segundo a divindade, e, nestes últimos dias, por nós
e por nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a
humanidade; um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve
confessar em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis,
inseparáveis e indivisíveis; a distinção da naturezas de modo algum é anulada
pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem
intactas, concorrendo para formar uma só Pessoa e Subsistência; não dividido
ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus o
Verbo, Jesus Cristo o Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito
testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos
transmitiu”.

IMPLICAÇÕES DA CRISTOLOGIA CALCEDÔNICA


O Credo Calcedônico ensina a igreja como falar acerca das duas naturezas de Cristo sem cair
em erro. Em particular, ele ensina a igreja a afirmar que:

1. Uma natureza de Cristo às vezes é vista fazendo coisas das quais a outra natureza não
compartilha.
2. Qualquer coisa que uma das naturezas fizer, a pessoa de Cristo a faz. Ele, o Deus
encarnado, é o agente ativo em todo o tempo.
3. A encarnação significa que Cristo adquire atributos humanos, não que ele abriu mão dos
atributos divinos. Ele se despiu da glória da vida divina (2Coríntios 8.9; Filipenses
2.6), mas não a possessão dos poderes divinos.
4. Nós devemos olhar primeiro para os relatos do ministério de Jesus nos Evangelhos, a
fim de vermos a encarnação em atividade, ao invés de seguirmos especulações
moldadas por assunções humanas errôneas.
5. A iniciativa para a encarnação veio de Deus, e não do homem.

Embora esse credo não resolva todas as questões acerca do mistério da encarnação, ele tem
sido aceito por católicos romanos, ortodoxos e pelas igrejas protestantes ao longo da história, e
nunca necessitou de qualquer alteração significativa porque ele eficazmente articula a tensão
bíblica entre as duas naturezas de Cristo, completamente unidas em uma pessoa.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ADAPTADO DE HTTPS://VOLTEMOSAOEVANGELHO.COM/BLOG/2012/12/A-PESSOA-
DE-CRISTO-AS-DUAS-NATUREZAS-DOUTRINA-BIBLICA-33/

PAULO ANGLADA, SOLA SCRIPTURA: A DOUTRINA REFORMADA DAS


ESCRITURAS (SÃO PAULO: OS PURITANOS, 1998), 179 -80.

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