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Pregação João 6.

51-58 - Pedro Puentes Reyes

Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome” (João 6. 35a)

O relato do evangelho nos narra que a primeira vez que Jesus foi procurado
pela multidão não rejeitou sua a busca pelo pão e a alimenta. Mas, quando é
novamente procurado pelo milagre do pão ele se resiste e aponta para o fato
que há outras fomes tão mortais, daninhas e perigosas quanto à da falta de
alimento.

Jesus o pão da vida (v.35)

O que significa “pão da vida”? O pão era um dos alimentos fundamentais das
culturas do mediterrâneo.

Por isso é possível dizer que o pão era o sustento da vida e existência
daqueles povos. Pela centralidade do pão parte do judaísmo colocou o pão
como um símbolo da Torah, a Lei de Moisés. Por essa razão o pão oferecido
pela Sabedoria, em Provérbios 9.5, é identificado como o “Pão da Torah”: ([A
Sabedoria] disse às pessoas sem juízo: venham, comam do meu pão....Deixem
a companhia dos tolos e vivam. Sigam o caminho do entendimento. (Pr 9.5-6)).
Então, assim como o pão que sustenta, preserva e nutre a vida, a Torah, a Lei,
a Palavra de Deus, também sustenta, preserva e nutre a vida com sua
orientação.
Para o evangelista João essa “Palavra de Deus”, se fez tão próxima das
pessoas que inclusive chegou a morar entre nós (“A Palavra se tornou um ser
humano e morou entre nós” 1.14a). Jesus Cristo, diz o apóstolo João, é a nova
“Palavra-Pão” que sustenta, preserva e nutre a vida pela orientação do nosso
viver. A Palavra de Cristo Jesus nos inspira para criar novas relações entre as
pessoas. Relações fundamentadas pelo amor.

Comer o pão da vida


Entretanto, como entender a frase: “se alguém comer desse pão viverá para
sempre”. (João 6. 51b)?

Antigamente “se reunir para comer” era muito mais forte do que hoje. Ninguém
comia sozinho, porque este era sempre um ato de reunião, encontro e partilha.
“Comer com” significava “fazer parte de”, por isso Jesus era questionado por
comer junto com pessoas de reputação duvidosa (cobradores de impostos,
pecadores e prostitutas).

Mas, também o comer referia-se ao ato de apropriação, de assimilação, de


fazer própria alguma coisa. Assim, por exemplo, o relato do jardim do Éden
proíbe comer do fruto de uma árvore, porque comer desse fruto significava
conhecer o bem e o mal. O profeta Jeremias escreve: “Achadas as tuas
palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram de alegria para o coração”.
(Jr 15.16a). E, o profeta Ezequiel diz: “Filho do Homem (...) come este rolo, vai
e fala à casa de Israel” (Ez 3.1b). Nestes profetas comer a palavra e rolo
significa conhecer, assimilar. Da mesma maneira, comer o “pão da vida”, que é
Jesus Cristo, significa conhecer as palavras de Cristo ao ponto de assimilar, de
se apropriar, ao ponto de que suas palavras sejam as minhas palavras. Isso
não significa decorar os evangelhos ou palavras de Jesus. Tampouco falar
versículos bíblicos a cada duas palavras de uma conversação. Isso pode até
tornar ridícula a palavra de Jesus Cristo. Como discípulos e discípulas de
Cristo fazemos nossas as suas palavras quando orientamos, dirigimos e
conduzimos o nosso viver, o nosso dia-a-dia segundo os seus ensinos. Por
isso é importante o estudo do texto bíblico. E, como foi dito, o centro dos
ensinamentos de Jesus é o amor.

Mas, Como traduzir o amor para nosso mundo particular? Como fazer nossas
as suas palavras no nosso dia-a-dia?

Algumas das coisas que Jesus ensinou nos dizem que:


- o cumprimento da lei depende da nossa motivação interior, sem amor tudo é
invalidado;
- que a comunhão com Deus não é possível quando não há comunhão,
entendimento e reconciliação entre os irmãos e irmãs;
- que é necessário resistir às pessoas más para não responder ao mal com o
mal, mas com o bem;
- que devemos fazer o bem a quem nos odeia. Desejar o bem a quem nos
amaldiçoa. Orar em favor de quem nos maltrata;
- que não devemos usar o religioso para nos auto-justificar (como sou bom!) e
auto-promover (quando progredi!);
- que a oração deve estar isenta de hipocrisia e da pretensão de manipular
Deus;
- que é necessário investir a nossas energias em projetos duráveis porque
neles se vá a nossa vida;
- que é importante refletir onde o nosso coração (como centro da nossa vida)
confia e descansa. Porque naquilo que o nosso coração descansa isso é o
nosso Deus;
- que viver angustiado, aflito e agitado pelo dia de amanhã é sinal de falta de fé
no cuidado de Deus. Por isso, concentre-se nas responsabilidades que
demanda o dia de hoje, que é o fundamento para o amanhã;
- que os nossos olhares são sempre carregados de experiências prévias,
preconceitos e maldade, por isso o único critério, ou medida, certa para julgar a
algum irmão ou irmã é aquele posto por Deus: a indulgência que nasce do
amor;
- Que a bondade é uma semente que produz frutos inesperados para quem a
semeou. Quer dizer, “façam aos outros o que querem que eles façam a vocês”:
este é o sentido da Lei de Moisés e dos ensinamentos dos profetas”. (Mt 7. 12).

Que Deus nos ajude a abrir nossa vida à orientação de Jesus Cristo.
Quando: em meio ao ódio, não conseguimos levar o amor;
Na ofensa, não levamos o perdão;
Na discórdia, não lutamos pela união;
Na dúvida, não motivamos à fé;
No erro, não orientamos para a verdade;
No desespero, não semeamos a esperança;
Na tristeza, não levamos a alegria;
Nas trevas, não ascendemos uma luz.

Quando não conseguimos nos mexer para a solidariedade (que reconforta e


anima) e para a luta pela mudança é hora de novamente nos alimentarmos do
pão da vida, que é Cristo. Amém.

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