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O custo do discipulado

O “custo do discipulado” é uma obra encantadora produzida por Jonas Madureira.


Feita essencial e necessariamente para os dias atuais, para reafirmar o processo de do
discipulado cristão na igreja de Cristo em dias tão conturbados. Não é sobre ressignificar,
mas é sobre trazer o verdadeiro significado do discipulado cristão para uma igreja
moderna, estruturada e carregada de técnicas, mas que, entretanto, possui uma essência
desvanecida no que é ser imitadora de Cristo. Em tempos de crises moral e teológica, essa
obra é posta à mesa para todo o cristão que deseja viver o discipulado genuíno, aquele
que promove uma transformação diária de renovação de mente, convergindo naquilo que
o autor afirma:

haja entre nós seguidores que possam dizer a outras


pessoas o que Paulo disse aos seus: “Sede meus imitadores,
como também eu sou de Cristo!”

As primeiras ideias sobre o livro foram emergidas a partir de palestras


apresentadas em uma conferência. A temática central que deu base ao estudo residiu
especialmente na distinção - e fusão - dos dois sentidos da palavra “discipulado” que é
uma hemomínia. No contexto da língua portuguesa, “discipulado” apresenta – ao mesmo
tempo – dois significados, a saber: o primeiro, como o ato pessoal de seguir Jesus; e o
segundo, como o ato de ajudar as pessoas a seguir a Jesus. Essa inferência dupla traz a
luz uma série de desdobramentos do que verdadeiramente significa seguir e imitar a
Cristo, especialmente atualmente.

Na primeira parte do livro (Parte 1: o custo do discipulado), o autor explora com


detalhes a relação que há entre os dois significados da palavra “discipulado” e, em
seguida, esclarece o conceito de “custo”, enfatizando aos leitores que a todo o tempo o
“custo” se faz presente no ser humano com base em suas decisões. Neste sentido, elas são
tomadas sempre após uma análise de custo, i.e., o ser humano sempre avalia o custo algo
- seja em toda e qualquer situação – do qual ele sempre estará susceptível a ganhar ou
perder em função da sua decisão.
Nesta perspectiva, esmera-se no custo “seguir Jesus”. Pois, o discipulado é uma
decisão que gera um custo, com alto valor. Tal custo é contextualizado pelo autor na
referência de Lucas 14.25-35, a seguir:

“Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se,


disse-lhe: Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu
pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda
também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E
qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim,
não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo
edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as
contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de haver posto os
alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem
comecem a escarnecer dele, Dizendo: Este homem
começou a edificar e não pôde acabar. Ou qual é o rei
que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se
assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil
pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte
mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe,
manda embaixadores, e pede condições de paz. Assim,
pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto
tem, não pode ser meu discípulo.”

Com base no texto acima, foram exploradas pelo autor três premissas para aqueles
que decidiram seguir a Jesus: a primeira, é que se exige um certo tipo de amor; a segunda,
um certo tipo de sofrimento; e a terceira, um certo tipo de desapego. Tais premissas
iniciam-se com uma condicional “se” declaradas por Jesus são evidentes nas palavras-
chave dos versos acima apresentados, sendo eles discutidos no parágrafo a seguir.

Para a premissa do amor exigido, tem-se no verso 26 que aquele que decidiu a
seguir a Jesus (Se alguém vier a mim) faz-se necessário que seu amor a Ele seja maior
do que qualquer conceito de amor no plano terrestre, ou seja, (amar pai e mãe, mulher e
filhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida) deve ficar em segundo plano, para que seja
considerado discípulo. Para a do sofrimento, fica claro no verso 27 que levar a sua cruz
implica em estar disposto a passar por lutas e aflições e, mesmo assim, olhar pra Cristo.
Já, para o desapego, o custo de seguir a Jesus mostra-se claro no verso 33, ao ponto de
que aquele que deseja ser discípulo dEle deve renunciar a tudo quanto possui.
Evidentemente, fica claro o alto custo de seguir a Jesus e, por isto, poucos grupos e/ou
classe de pessoas o seguem verdadeiramente.

Uma abordagem teórica é apresentada pelo autor sobre os grupos sociais no que
tange aos níveis de relacionamento com Jesus. O autor utilizou-se da classe de pessoas
propostas pelo Padre John Meier para expor estes grupos, conforme a seguir.

Com base na classificação de círculos interconectados tem-se três grupos de


seguidores: os do círculo externo, simbolizando as multidões; os do círculo intermediário,
os discípulos; e os do círculo interno, os doze. Estes grupos revelam o nível de
profundidade no relacionamento com Jesus, e da mesma forma que eles existiram naquela
época, eles existem hoje.

Iniciando-se com aqueles mais distantes, tem-se as multidões que necessariamente


foram compelidas a seguir Jesus mais por interesses pessoais e curiosidades alheias. Estes
estão no anonimato das multidões, são neutros, indefinidos, isentos de responsabilidades
e não buscam se comprometer com o discipulado, pois tem consciência que o seu valor é
demasiadamente elevado para eles. Este grupo é o exemplo verdadeiro daqueles que não
querem compromisso. Tem-se em seguida, o grupo dos discípulos, estes são aqueles que
estão até próximos de Jesus, conhecem o processo do discipulado, tem consciência do
alto custo e se esforçam para cumpri-los, mas por vezes, correm o risco de ser levado
pelas multidões. Por último, tem-se o grupo daqueles que verdadeiramente seguem a
Jesus e cumprem as três premissas acima apresentadas para estar com Ele a qualquer
custo.
O autor explora ainda o discipulado de baixo custo, que se faz muito presente na
realidade da igreja de hoje. Utilizando-se de Lucas 14.34-35, tem-se:

“O sal é bom, mas, se ele perder o sabor, como restaurá-


lo? Não serve nem para o solo nem para adubo; é jogado
fora. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça.”

Essa metáfora possui estrita relação com o custo do discipulado. Dentro da


classificação dos grupos, aquele discípulo que permanece no anonimato, i.e., decide
voltar para a multidão e não deseja mais ter compromisso de seguir a Cristo, ele perdeu
sua essência. É como o sal que perdeu aquilo pelo qual ele é e foi proposto. Quando o sal
perde o sabor, ainda que mantenha uma aparência de sal, contudo ele não cumpre mais
finalidade. Da mesma forma são aqueles que decidem deixar de seguir a Jesus, eles não
conseguem mais realizar o discipulado. E, quando o fazem, se perdem no seu próprio ego
e filosofias vãs, reproduzindo falsos discípulos e um igreja superficial, de baixo custo,
que atende a demanda da “clientela”, e não de Cristo.

Posto isto, faz-se mais do que necessário que a igreja seja restaurada ao
discipulado genuíno, não centrado nas pessoas, mas em Cristo e transformada e avivada
pelo Espírito Santo.

Em seguida, o autor explora a segunda parte do livro, intitulada como: “A doutrina


da imitação de Cristo”. O custo de seguir a Jesus, agora é redobrado com o custo de ajudar
o próximo a seguir a Jesus. Na doutrina da imitação de Cristo, a imitação dos apóstolos
não era limitada nos exemplos morais da vida de Jesus, mas no ato-síntese de sua
crucificação, e isto vai além de qualquer padrão ético e especulativo. Como o próprio
autor afirma:

A imitatio Christi, que nada mais é que “imitação de


Cristo”, não é um ato especulativo, mas mimético. O termo
“mimético” vem de mimesis, uma palavra de origem grega
e que, no contexto da filosofia, designa tudo o que é da
ordem da imitação. Ora, se o discipulado é mimético, então
pressupõe um modelo para nos servir de base à imitação.
Nós temos esse modelo? Sim, os apóstolos são o modelo da
imitatio Christi.
Neste sentido, o autor expõe que os apóstolos são o mais importante exemplo da
imitatio Christi e, por essa razão, devem ser imitados. Assim, se a sua conduta de imitação
a Cristo for diferente daquela exercida pelos apóstolos, então sua imitação não é verídica.
Inclusive, ele menciona o desafio que o apóstolo Paulo propôs aos cristãos da época, do
quais Paulo os convidou a serem seus imitados, como ele era de Cristo. Outros pontos
paralelos também foram apresentados pelo autor, contudo eles não se aprofundaram na
doutrina da imitação de Cristo.

Por fim, o autor deixa claro que o discipulado é uma maneira de influenciar as
pessoas e impactá-las através do seu exemplo, imitando a Cristo. Para isto acontecer, é
necessário fazer uso da arte do desaparecimento, ou seja, Cristo aparecer em seu lugar.
Esta é a cadeia de imitações de Cristo que têm possibilitado a igreja permanecer viva, e
ela só acontece, pois está cheia de amor, muito amor por Cristo, e jamais amor-próprio.

A única motivação pela qual o cristão deva ser modelo para os fiéis, é porque ser
um discípulo de Cristo desperta o interesse de mais pessoas em conhecer a Cristo. Neste
sentido, é necessário que a glória de Cristo seja vista na vida de cada um dos seus filhos.
E isto vai na contramão dos rudimentos deste mundo que, atualmente, é promovido pela
autoimagem, autossuficiência e hedonismo. Portanto, ser discípulo de Cristo, não é ser
visto pelo mundo, mas deixar a glória de Cristo ser vista na sua vida.

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