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HEROÍSMO VERSUS NARCISISMO

Mensagem do Padre LUCAS – Capelão da AMAN


em 15 de maio de 2023

“Jesus chamou os doze e lhes disse:


‘Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós,
seja o vosso servidor;
e quem entre vós quiser ser o primeiro,
seja servo de todos.
Porque o Filho do Homem não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida
em redenção por muitos’”.
Evangelho segundo S. Marcos 10, 42-45
Essas solenes palavras do Divino Mestre
sempre lançaram luzes especiais sobre o serviço
da liderança nos últimos dois milênios. Assim, no
mês em que comemoramos a Arma de
Comunicações, o Dia da Vitória, as Armas de
Cavalaria e de Infantaria, bem como o Serviço de
Saúde, intuímos logo a magnitude dos assuntos e
dos exemplos de serviço abnegado, de tenacidade
competente, de habilidades e atitudes de
heroísmo ímpares, seja da parte dos patronos,
seja pela fidelidade dos integrantes de cada
fração. Vivemos, de fato, um mês
profissionalmente sugestivo e eticamente
glorioso!
Partindo do pressuposto que sofremos as
pressão de quatro características socioculturais
avassaladoras do nosso tempo, a saber: o
secularismo, o pluralismo, o individualismo e o
subjetivismo, é forçoso concluir que o serviço da
liderança segue afetado por esse quadrante
racionalista, obrigando quase todos os líderes a
inclinar-se para o lado sombrio do individualismo
e do brilhantismo pegajoso. Nesta densa
atmosfera cultural, nascem líderes super
ocupados e hiper preocupados consigo mesmos,
afastando-os daquela grandeza pleiteada pelo
autêntico heroísmo.
O heroísmo verdadeiro caracteriza-se,
sobretudo, pela primazia do bem coletivo. O
herói, mesmo sob o véu do anonimato, é o
indivíduo que sacrifica sua existência e seus
interesses particulares em prol do bem coletivo;
aquele que tomba para salvar quem persevera na
luta; o fidalgo, pelo vulgo; o justo, pelos injustos;
o santo, pelos pecadores. O heroísmo anônimo,
sobretudo se revestido da farda, será sempre
melhor padrão de um exército forte e servidor.
Erroneamente, pensam alguns que o contrário
do heroísmo seria a covardia. Senhores meus, o
contrário do heroísmo é o sorrateiro
NARCISISMO, tema que tem despertado a
atenção e interesses dos pesquisadores da
Psicologia Organizacional.
Será que temos consciência dos possíveis
influxos do NARCISISMO no itinerário formativo
de nossos jovens? Porventura temos, em família
ou no quartel, a desventura de conviver com
narcisistas? Percebemos o quanto esse fenômeno
pode alterar a densidade medular dos sistemas de
avaliação de desempenho profissional de líderes e
liderados, promoções, movimentações e
condecorações, bem como as nobres referências
elogiosas?
Ao educarmos os líderes do futuro,
redobremos o cuidado de não confundir a
liderança autêntica com o narcisismo serpentino,
pois líderes narcisistas andam livremente mundo
afora, sempre vazios de amor e do espírito de
serviço. Eles não conseguem ajudar nem a si
mesmos, pois visam a obter poder e controle
sobre os outros, dada a sua sede insaciável de
aprovação alheia. Eles não servem bem a Deus,
porque servem a si mesmos na qualidade de
“semideuses”. Costumam roubar friamente o
potencial dos outros e tendem a manipular para
anular quem se aproxima deles. Ora, os
narcisistas adoram encontrar pessoas capazes,
autênticas, criativas, empáticas para, então,
começar a furtar-lhes as ideias e as energias
psíquicas, subjugando-as segundo seus interesses
de brilho particular, como vagalumes iludidos
porque jamais brilham pelo esplendor cerebral.
Individualmente tomado, um líder narcisista
jamais possuirá brilho próprio na vida, nem
criatividade, nem grandeza ética ou moral digna
de menção honrosa. Como causa psíquica de sua
condição, provavelmente o narcisista nunca foi
amado suficientemente pelos genitores (assim
dizem os estudiosos) e, quando adulto, carrega
em si um vazio pessoal sensível e doloroso, um
“buraco negro” emocional profundo.
Caso se torne um líder, o narcisista nos
recordará simbolicamente aqueles antigos
bonecos plásticos de posto de gasolina, mexendo-
se muito, mas apenas por força do ar quente que
atravessa o seu incomensurável vazio interior.
Imaginem o potencial perigo de formarmos
oficiais narcisistas, conferindo-lhe o poder da
liderança institucional. Será certamente um
profissional de destacada autoridade, todavia
munido de gelados tentáculos de sucção
exploratória de todos quantos ingenuamente se
aproximem das armadilhas emocionais do
narcisista. Desta forma, nada tendo a oferecer de
si, ele sugará a energia psíquica de sua equipe,
provavelmente os verdadeiros heróis da história.
Por isso, retransmito aos senhores uma breve
lista dos sinais identificadores de um narcisista
clássico para que possamos nos prevenir e agir
com pedagogia formativa mais aguçada, seja no
quartel, seja no lar, seja no círculo de amizades.
1. Uma centralidade fortíssima em si mesmo:
líderes narcisistas julgam que seus problemas
são as realidades mais importantes do cosmos.
Falando sempre de si mesmos, quando sequer
são questionados, apresentam-se como
modelos de tudo... e de nada. Importa-lhe ser o
centro de muitas atenções!
2. Não olham integralmente as demais pessoas,
não escutam com empatia, senão para garantir
domínio e aumentar influência, fazendo-se
passar por pessoas indispensáveis e
insubstituíveis, quando, de fato, não fazem
assim tanta diferença.
3. São manipuladores frios: habilidosos em puxar
tapetes, ludibriam com discursos sedosos,
driblam com rapidez, levam os outros
exatamente aonde eles querem com perguntas
repentinas e dúbias, deixando sempre
perplexas suas pobres vítimas indefesas.
4. Os narcisistas tem uma emocionalidade muito
fria e superficial: parecem preocupar-se com os
outros com frases genéricas, mas, de fato, não
ligam para os problemas alheios; afastam-se
calculadamente de quem sofre, até chegar
aquele momento oportuno de retomar seu
garimpo de vantagens;
5. Vivem entre dois extremos: ou admiram
demais a alguém porque o querem superar ou
descartam os que não lhes servem mais de
trampolim para o sucesso. Até dos melhores
amigos fazem degraus de ascensão, pisoteando,
a olhos nus e com sorriso maroto a amizade
sincera e a camaradagem heroica.
6. Os narcisistas são controladores inveterados:
são habilidosos em fabricar micro conflitos ao
seu redor a fim de desestabilizar
emocionalmente os outros, enquanto seu plano
pessoal ganha tempo e terreno a cada passo, de
forma que, no fim da viagem, tudo chegue ao
porto seguro seguindo a rota que eles
calcularam e planejaram calmamente.
Tudo isso é deveras preocupante em espaços
corporativos de líderes ou em ambientes
educativos de futuras lideranças. Tudo isso clama
por árduos cuidados psicopedagógicos quando no
treino de pessoal.
Peçamos que o Bom Deus que, abençoando
nossas briosas equipes combatentes, livre-nos do
sinistro mal do narcisismo e de suas funestas
consequências, infundindo em nossos corações o
desejo sincero de amar e servir à nossa gente,
em autêntico espírito de dedicação heroica. Seja
esse nosso perpétuo lema de esperança e fé na
missão: cuidar do amado Brasil, proteger nossas
famílias e salvar os estimados amigos.

DEUS SEJA LOUVADO


Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz - Maj Capl SAREX
Capelão da AMAN

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