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JESUS PERMITIU QUE A LEGIÃO DE DEMÔNIOS DO GADARENO ENTRASSE NA MANADA DE PORCOS

11 de Janeiro de 2023

Análise Textual de Mateus 8:28-34


Expulsada por Jesus, a legião de demônios entrou numa manada de porcos. A escolha desse animal não é
casual no conto evangélico. Outro elemento que ajuda a entender melhor esse detalhe é o fato que os
discípulos, com Jesus, navegaram, de barco, à outra margem do lago. Isso quer dizer: foram para uma terra
estrangeira. De fato, os porcos são considerados, segundo a lei do Deuteronômio, animais impuros e não
existem em Israel, pois os judeus não podem comer a sua carne. Portanto o porco como personagem da
história é muito importante. Para nós, leitores modernos, não diz muito. Mas um leitor contemporâneo dos
evangelistas, lendo porcos sabia imediatamente que Jesus estava numa terra estrangeira.
Análise do Texto:
Mateus 8:28–34. Nessa passagem, por que os demônios pedem permissão a Jesus para entrarem nos porcos,
se aqueles porcos morreriam afogados logo depois? Para onde mais eles podiam ter ido? E para onde eles
foram depois que ‘toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e nas águas
pereceram’?
Antes de irmos para as partes da história que são menos claras e que nos deixam perplexos, tenhamos
certeza de não deixar passar o que está bem claro. Vamos as razões:

1. Os demônios sabem quem Jesus é. Eles o chamam de “Filho de Deus” (Mateus 8:29).
2. Eles sabem que Jesus possui poder absoluto sobre eles, e que pode escolher se os expulsará ou não,
e pode decidir para onde eles irão. Não há negociação aqui, como se fossem sócios do mesmo nível
em uma mesa de negociação; Jesus é superior, e eles sabem disso.
3. Eles sabem que, no futuro, serão destinados a um tormento final. Eles se perguntam se Jesus veio
para começar o julgamento final. Eles dizem: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus
8:29). Nós sabemos que há um momento iminente no qual entraremos no tormento final, mas ainda
não, Jesus. Ou será agora mesmo?
4. O fato de que há uma manada de porcos por perto indica que eles estavam em território gentio,
uma vez que os porcos eram impuros para os judeus, e eles não os criavam para alimento, nem para
nada (Deuteronômio 14:8). Em outras palavras, este é um daqueles raros momentos em que Jesus
buscava alcançar os gentios, como um indicador de que seu ministério resultará em uma missão
global para alcançar todos os povos do mundo (Mateus 28:19–20).
5. O número de porcos não é mencionado em Mateus, diferente de Marcos 5:13, que diz que eram
“cerca de dois mil”, mas é dito que a manada era grande, de modo que, quando os demônios saíram
daqueles dois homens e foram aos porcos e estes pereceram, podemos claramente entender quão
grande e séria era a escravidão desses homens, e como isso não era um grande problema para Jesus.
6. O fato de que os demônios imploraram para serem mandados aos porcos mostra o quanto eles
odiavam vagar pelo mundo sem lugar para habitar. Isso parece apontar para o quão maus eles são,
e para quanto seu mal é maximizado por entrar em qualquer ser vivo que seja possível, a fim de
destruir suas vidas.
7. Os demônios não podiam prever que seu novo lar, os porcos, de repente pulariam do penhasco e
se afogariam, pois, se soubessem disso, não teriam pedido para ir aos porcos. Não era isso que eles
queriam fazer; eles queriam um novo lugar para morar e causar danos, não um lugar para ser
destruído no mar.
E, a partir do que sabemos de Jesus nos Evangelhos, ele sabia o que estava prestes a acontecer, de modo
que o que eles temiam — ou seja, que seu julgamento final começasse antes da hora — era, de fato, verdade.
Ele não os deixou escapar para um ser menor por causa da miséria que causaram aos dois homens, mas, no
fim das contas, ele os destinou a partir sem nenhuma habitação. O fato de que se perderam no mar
provavelmente aponta para a sentença de serem destinados ao abismo.
Bem, tudo isso parece mais ou menos claro, mas há algo mais que pode ser dito sobre por que Jesus
provocaria a destruição dos porcos? Os últimos dois versos são surpreendentes, e penso que eles nos
encorajam a ir adiante em nosso raciocínio: “Fugiram os porqueiros e, chegando à cidade, contaram todas
estas coisas e o que acontecera aos endemoninhados” (Mateus 8:33). Não é dito que contaram “e o que
acontecera aos porcos”. O texto traz: “e o que acontecera aos endemoninhados”. Em outras palavras, eles
destacaram a libertação, o livramento, a liberdade e a cura. “Então, a cidade toda saiu para encontrar-se
com Jesus; e, vendo-o, lhe rogaram que se retirasse da terra deles” (Mateus 8:34).
Duas coisas extraordinárias de repente aconteceram nessa região gentia, e pelo poder de Jesus. A primeira
coisa extraordinária que ocorreu é que dois endemoninhados agora estavam libertos, e a humanidade lhes
foi restaurada. Seus relacionamentos foram restaurados. Uma vez eu escrevi um poema imaginando que
talvez eles fossem casados e tivessem filhos. Suas vidas estavam destruídas; a vida de suas famílias, em
ruínas — talvez, não posso afirmar. Eles estavam arruinados, e agora não estão mais. A humanidade deles
foi devolvida.
A segunda coisa extraordinária que ocorreu foi a destruição da grande manada de porcos. Isso me faz
lembrar de outro episódio na Bíblia em que Satanás tentou negociar com Deus — isto é, nos dois primeiros
capítulos de Jó. Satanás pede permissão para atormentar Jó, e Deus o concede, o que provou ser um teste
da fidelidade de Jó a Deus. Jó enfrentaria uma escolha: ele podia amar a Deus e confiar nele, ou poderia
amar suas posses, sua família e sua saúde mais do que a Deus, amaldiçoando-o por tirar tudo isso dele. Em
outras palavras, Deus usou Satanás para testar Jó.
Bem, me parece que é mais ou menos isso o que acontece aqui: Jesus vai até a terra dos gentios. Ele domina
o diabo. Ele liberta os cativos. Ele se apresenta como o grande libertador, capaz de restaurar a vida e a
esperança. Mas ele também tira deles uma manada de porcos — o sustento e a riqueza de algumas pessoas
daquele lugar. Ele força a escolha: prosperidade ou amor, dinheiro ou Jesus, recursos humanos ou poder
divino? — ou seja, o poder e a graça de Jesus para dar vida e esperança, ou o amor aos bens e à riqueza
vinda desses porcos? E, para nos espantar ainda mais, eles pedem que Jesus, aquele que dá a vida, que vence
o diabo, que produz e concede esperança, se retire de sua região.

Penso que essa história tenha vários níveis de significado.

• Jesus é o Filho de Deus.


• Jesus triunfa sobre espíritos impuros.
• Jesus liberta os cativos e dá esperança aos desesperados, mesmo que sejam gentios.
Mas Jesus exige uma escolha: amar a ele e sua salvação, ou amar a prosperidade e a riqueza, ou seja, seus
porcos. Eles não passaram no teste. Penso que Mateus relata esse episódio na esperança de que nós sejamos
aprovados nesse teste.

Pr Éder Santos
ADTAG Sede
Mestre em Teologia

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