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5 Ibid., p. 336.
6 Cf. ibid., p. 337.
7 Cf. ibid., p. 338.
8 Ibid.
com a morte acidental deste, o novo imperador, Marciano, aceita a convocação de Leão e um novo
concílio é marcado. Para ter acontecido em Nicéia, por questões de logística, o concílio é transferido
para Calcedônia, mais próximo de Constantinopla, e no ano de 451 realiza-se a reunião dos bispos.
Enfim, o tomo escrito por Leão a Flaviano ganha relevância. E qual é, então, o conteúdo desta carta
e o que de tal relevância disse Leão para ter posto uma pedra sobre a questão cristológica?
Acompanhemos.
Leão inicia a carta denominando o acontecido em Éfeso de “escândalo (...) contra a
integridade da fé”. Prossegue acusando Êutiques de “mestre do erro” e afirmando que seus erros
são provenientes de sua falta de bom senso, por não ter ouvido os profetas, as escrituras, os
evangelhos, os apóstolos e, por fim, algo muito relevante, o sensus fidei, isto é, “a profissão de
todos os fiéis”, que seria: “Creio em Deus Pai todo poderoso e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor, concebido pelo poder do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria.”9. Esta formula
será a tese desenvolvida ao longo de sua carta. Mais adiante, Leão afirma que o pecado e o seu
autor, o demônio, só poderiam ser vencidos se Jesus, o Filho legitimo de Deus, assumisse
verdadeiramente a natureza humana, pois o pecado e a morte não poderiam contaminar tal pessoa
divina.10 Prossegue trazendo comprovações escriturísticas sobre a natureza humana do Filho,
citando termos como “segundo a carne” (Rm 1,1), “descendência” (Gn 12,3; 22,18), “Deus conosco”
(Is 7,14), “nasceu-nos um menino (...) cujo nome é: (...) Deus forte...” (Is 7,5) entre outras citações.
Leão afirma que a concepção de Jesus foi obra divina, mas que sua concepção não gerou
um novo gênero de humanidade, mas a mesma que deveria ser redimida11, aquela afirmada no
prologo de João: “o Verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Enfim, um mesmo mediador
entre Deus e o homem. O que garantiu a ausência do pecado em Jesus, ainda que feito
completamente homem, foi justamente ter permanecido completamente divino, pois neste não
poderia haver tal mancha. Sua humanização se deu por pura compassividade, não por “deficiência
de poder”. 12 Leão mescla, com erudição, argumentos e meditações a respeito das duas naturezas,
fala da divindade e humanidade com poesia. Cita novos argumentos escriturísticos demonstrando
que, segundo a ação competente, uma natureza agia, e a outra participava passivamente. Quanto
aos milagres, agia a divindade, quanto os opróbios recebidos, agia a humanidade.13 Como uma
conclusão de uma primeira parte, Leão resume seus argumentos da seguinte maneira: “não é
próprio de uma só e mesma natureza chorar por comiseração o amigo morto e após a remoção da
pedra do sepulcro de um defunto de quatro dias, despertá-lo redivivo, somente emitindo uma
ordem.”14
Concentrado a demonstrar a distinção das naturezas em Jesus, passa agora a demonstrar
a coabitação das duas naturezas, distintas, em uma única pessoa, a de Jesus Cristo. Para isso,
Entretanto, a decisão deste concílio não ficará sem opositores ao longo da história,
permanecendo ainda por várias décadas uma discussão quase interminável sobre a linguagem e
sobre o conteúdo do dogma, causando à Igreja universal verdadeiros cismas, permanentes até os
REFERÊNCIAS
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2005, §150. Disponível em: < https://apostoladonovosmares.files.wordpress.com/2016/05/compc3aandio-dos-
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