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INSTITUTO SUPERIOR MARIA MÃE DE ÁFRICA

Departamento de Ciências Sociais e jurídicas


Licenciatura em Filosofia e Ética

Domingos Nganhane
Jhon Americo
Nelson dos Santos Frederico Custódio

Concílio de Éfeso

Cadeira: Catequética Dogmática


Docente: Ana Dorca

Maputo, 2023
Índice
INTRODUÇÃO.................................................................................................................3

Concílio de Éfeso..............................................................................................................4

A encarnação do Filho de Deus.........................................................................................4

A união das naturezas em Cristo.......................................................................................5

Os adversários de Nestório................................................................................................6

BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................9

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INTRODUÇÃO
Como as pedras que formam uma bela Catedral, assim são as verdades da Doutrina
Católica. De fato, os mistérios da Fé Cristã se coadunam harmonicamente, como um
sistema completo, um edifício sublime. Essa harmonia é tão íntima, que quando se
subestima algum ensinamento de Fé, todo o castelo doutrinal da Igreja é impugnado de
forma implícita. Entretanto, sempre que o vento do erro tentou minar os fundamentos da
Fé, a Igreja soube manter-se firme, ereta e sobranceira. Foi precisamente o que
aconteceu  num dos maiores lances da História da Igreja: o Concílio de Éfeso,
convocado em face do erro do nestorianismo.

Podemos aqui compreender que houve aqui um debate forte a cerca da divindade ou
seja da natureza de Jesus e da sua Mãe. São Cirilo defendeu arduamente a questão da
divindade de Jesus Cristo.

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Concílio de Éfeso
O concílio de Éfeso foi um concílio de bispos Cristãos convocados em Éfeso (actual
Selçuk Turquia) Asia menor, realizado em 431 pelo imperador Teodósio II, na qual pela
sua vez, reprovou sobretudo a heresia de Nestório.

Este terceiro Concílio Ecuménico, debateu-se sobre os ensinamentos Cristológicos e


Mariológicos. Estiveram presentes no concílio 250 bispos. O mesmo ocorreu nos meses
de Junho e Julho de 431 e teve como local a igreja sede de Maria em Éfeso.

O homem que deu nome a esta heresia chama-se Nestório. Em sua mocidade fora
monge nos arredores de Antioquia, sua terra natal. Eleito patriarca desta cidade aplicara
a reforma do clero; era tão eloquente e erudito que foi cognominado pelos seus
contemporâneos de “o segundo Crisóstomo”. Sua fama valeu-lhe ser chamado pelo
Imperador ao Patriarcado de Constantinopla, a capital do Império. Apesar de muito
inteligente, o prelado possuía um caráter rude, orgulhoso e autoritário.

A encarnação do Filho de Deus


Não dizemos, de fato, que a natureza do Verbo foi transformada e se fez carne, mas
também não que foi transformada em um homem completo, composto de alma e corpo;
antes, porém, que o Verbo uniu segundo a hipóstase a si mesmo uma carne animada por
alma racional e veio a ser homem, de modo inefável e incompreensível, e foi chamado
filho do homem, não só segundo a vontade ou o beneplácito, nem tampouco como
assumindo somente a pessoa.

No que diz respeito à cristologia propriamente dita, a defesa pautava-se na distinção


entre Deus (Logos) e Jesus (homem), pois se imaginava uma separação entre a realidade
humana e a realidade divina de Cristo, na condição de dois atores distintos. Essa
clivagem, de igual modo, era marcada por atributos e condições distintas, mas que, por
vezes, eram impercetíveis. Teodoro de Mopsuéstia defendia a ideia de que Deus (Logos)
e Jesus (homem) eram compostos por realidades plenas que integravam naturezas
distintas (divina e humana respetivamente). Em um de seus escritos, o bispo afirma:

[Jesus] nasceu de Maria e foi crucificado nos dias de Pôncio Pilatos (...).
Ele nasceu da virgem Maria como um homem, de acordo com a lei da
natureza humana, criado de uma mulher (...) Ele entrou no mundo por

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uma mulher segundo a lei dos filhos dos homens: "Ele estava sob a lei,
para remir os que estavam sob a lei, a fim de que fôssemos adotados
como filhos" (...). [o apóstolo disse] que ele foi feito a partir de uma
mulher para nos mostrar que foi formado da própria natureza humana,
nascendo de acordo com a lei da natureza (...) Ele veio a Terra como uma
semente de Abraão e por meio de quem Ele realizou tudo (...). Ele foi
quem primeiro ressuscitou dentre os mortos, sendo transferido para uma
vida imortal e imutável, tornando-se a cabeça e o renovador de toda a
criação.

Nestório, Patriarca de Constantinopla, defendiam que Cristo não seria uma pessoa
única, mais que nele haveria uma Natureza humana e outra divina, distintas uma da
outra, e por conseguinte argumentava que maria deveria ser chamada de Cristótoco
(portadora de Cristo) e não Teótoca (portadora de Deus).

A divina Escritura, sempre que lembra a economia da senhorial salvação, atribui o


nascimento e a paixão não à divindade mas à humanidade de Cristo, de modo que, em
termos mais correctos, a santa Virgem é chamada Cristípara e não Deípara. Escuta,
portanto o que proclamam os evangelhos: “Livro”, dizem, “da origem de Jesus Cristo,
filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). Ora, é evidente que Deus, o Verbo, não era
filho de Davi.

A união das naturezas em Cristo


É importante salientar que a doutrina católica sobre a união das naturezas de Cristo
ainda não estava inteiramente explícita. Contra a doutrina ariana, a Igreja somente havia
declarado que Jesus Cristo era verdadeiro Deus, consubstancial ao Pai, eterno como Ele
e sem princípio no tempo. Contra os apolinaristas, havia definido que a natureza
humana de Cristo era completa, como a dos demais homens AQUINO (2008, p3).

Nestório acreditava que em Cristo havia duas pessoas: uma divina e outra humana,
unidas por uma habitação da divindade na natureza humana, como em um templo, ou
de uma túnica que estivesse unida ao corpo. Desta maneira, como o Verbo Eterno
passou a habitar na carne humana formada no claustro materno, Maria só poderia ser
chamada “Mãe dessa carne humana ou da pessoa humana na qual o Verbo habitava”
NESTORIUS (1995, P. 168). Portanto, não lhe competiria o título de Mãe de Deus, mas

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sim, Mãe de Cristo homem, distinguindo assim em sua doutrina a pessoa humana da
divina. Daí, o termo grego imposto por Nestório, anthropotókos, Mãe do homem. 

Nestório se recusava a aceitar, portanto, que Deus tivesse sofrido, morrido e


ressuscitado. Para ele, Jesus - homem - foi o único a ter passado por isso. Ele
acrescenta, ainda, que o nascimento de Jesus não tinha um caráter divino, porquanto
tivesse vindo ao mundo naturalmente por meio de Maria, uma simples mulher. Assim,
no pensamento do bispo, Maria havia dado à luz, simplesmente, a um ser humano
chamado Jesus.

Atanásio, um dos grandes expoentes dessa vertente, em sua obra Sobre a encarnação do
verbo, não só confirmou a fé da ortodoxia nicena, foi além: para o bispo, a encarnação
seria o clímax do trabalho criativo de Deus, a espinha dorsal da história sagrada. Por
meio de tal ato, Cristo teria recebido a mesma substância que o Pai, apresentando uma
mente e uma alma divina, motivo pelo qual não habitava verdadeiramente um corpo
humano ALTANER & STUIBER (1966, p. 338).

Os adversários de Nestório
São Cirilo, Patriarca de Alexandria, considerou isto inaceitável, porque entendiam que
Nestório estaria a destruir a união perfeita e inseparável da Natureza Divina e humana
em Jesus Cristo, acusava Nestório de heresia.

Cirilo e Mémnon apresentaram protestos contra João de Antioquia por convocar o


concílio separado. O concílio ecuménico emitiu uma intimação. Depois da última sessão
que decorreu a 31 de Julho foram apontados cânones seguintes:

 Se alguém confessar que o Emanuel é Deus no sentido verdadeiro e que,


portanto, a santa Virgem é deípara (pois gerou segundo a carne o Verbo que é de
Deus e veio a ser carne), seja anátema.
 Se alguém não confessar que o Verbo saído do Pai é unido segundo a hipóstase à
carne e que Cristo é um só com sua própria carne, quer dizer, Deus e homem
juntamente, seja anátema.
 Se alguém dividir, no único Cristo, depois da união, as hipóstases, coligando-as
com a simples conexão da dignidade ou da autoridade ou do poder, e não, antes,
pela conjunção segundo a união de natureza, seja anátema.

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 Se alguém repartir entre duas pessoas ou hipóstases as expressões contidas nos
escritos evangélicos e apostólicos, ou ditas pelos Santos sobre o Cristo, ou por
ele sobre si mesmo, e alguma delas atribui ao homem, considerado distinto do
Verbo de Deus, outras, ao contrário, como dignas de Deus, só ao Verbo que é de
Deus Pai, seja anátema.
 Se alguém ousar dizer que o Cristo é um homem portador de Deus e não, antes,
Deus na verdade, como Filho único e por natureza, visto que o Verbo veio a ser
carne e, de modo semelhante a nós, participou do sangue e da carne, seja
anátema.
 Se alguém disser que o Verbo provindo do Pai é Deus ou senhor do Cristo, e não
antes confessar que ele é Deus e homem ao mesmo tempo, porquanto segundo as
Escrituras o Verbo veio a ser carne, seja anátema.
 Se alguém afirmar que Jesus como homem foi movido no seu agir pelo Verbo
que é de Deus e que a dignidade de unigénito lhe foi atribuído como a um outro
existindo ao lado dele, seja anátema.
 Se alguém ousar dizer que o homem assumido pelo Verbo deve ser co-adorado
com Deus, o Verbo, con-glorificado e con-denominado Deus, como de um com
o outro (de fato, o “com” que sempre se acrescenta faz pensar nisso) e não honra
com uma única adoração o Emanuel, atribuindo-lhe um único e mesmo louvor,
visto que o Verbo veio a ser carne, seja anátema.

 Se alguém disser que o único Senhor, Jesus Cristo, foi glorificado pelo Espírito
no sentido de ter usado a força que dele recebera como uma força alheia, e que
dele recebeu a capacidade de operar contra os espíritos imundos e de realizar
para os homens os sinais divinos, em vez de dizer que lhe é próprio o Espírito
pelo qual operou os sinais divinos, seja anátema.

 A divina Escritura diz que o Cristo se fez apóstolo e sumo-sacerdote da fé que


nós professamos (cf. Hb 3,1) e se ofereceu por nós em odor de suavidade a Deus
Pai [cf. Ef 5,2]. Por isso, se alguém disser que quem se fez nosso sumo-
sacerdote e apóstolo, quando se fez carne e homem como nós, não é o próprio
Verbo que é de Deus, mas como se fosse outro, distinto dele, especificamente
um homem nascido de mulher; ou se alguém disser que ofereceu o sacrifício

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também para si e não somente por nós (pois quem não conhece o pecado não
tem necessidade de sacrifício), seja anátema.

 Se alguém não confessar que a carne do Senhor é vivificante e própria do Verbo


mesmo que provém do Pai, mas como que de um outro, distinto dele, coligado a
ele pela dignidade ou só por ter recebido a divina habitação, e não, antes, que ela
é vivificante, como dissemos, por ter sido própria do Verbo que pode vivificar
todas as coisas, seja anátema.

 Se alguém não confessar que o Verbo de Deus sofreu na carne, foi crucificado
na carne, sofreu a morte na carne e se tornou o primogénito dentre os mortos,
visto que, como Deus, é vida e é vivificante, seja anátema.

Quando a imagem de Maria é evocada ao longo das homilias, na maior parte das vezes,
está associada a dois ou mais atributos, como vimos nos excertos selecionados,
demonstrando que Cirilo tinha a necessidade de cercá-la de elementos simbólicos que
garantissem a ampla defesa de Theotókos, mesmo porque a cristologia do bispo estava
para além de simplesmente solidificar uma doutrina, perpassando o âmbito da liturgia
eclesiástica, pois a mesma Maria deveria ser honrada pelos cristãos, mas não na forma
deificada

Enquanto Nestório intentou desconstruir a imagem de Maria, Cirilo, em completa


oposição, buscou consolidar um marianismo em vias de domesticação. É preciso
considerar que tanto a apoteose de Maria quanto sua depreciação estavam envoltas em
um discurso de poder forjado por aqueles que diziam proclamar a verdade da fé e
combater uma doutrina dita desviante e um suposto herege. Para além de uma disputa
entre episcopados, a controvérsia entre os bispos de Alexandria e de Constantinopla
ganhará ampla projeção política e religiosa, acabando por irromper no Concílio Éfeso.

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BIBLIOGRAFIA
Denzinger, Heinric. (2005). Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e
moral da Igreja católica. 40ª Edição. Loyola, São Paulo.

NESTORIUS. Homilies fragments. (1995). Tradução de Acta Patristica et Byzantina 6,


262. In: STANDER, H. F.

ALTANER, Berthold & STUIBER, Alfred. (1966). Patrologia: vida, obras e doutrinas


dos padres da Igreja. São Paulo: Paulinas.

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