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sexta-feira, 13 de maio de 2011

AS "PALMADAS" QUE D. PEDRO II LEVOU

Charge do Jornal "O Mosquito" publicada em 1875

Um dos  maiores desafios após o processo de independência do Brasil em 1822,  era


elaborar as leis que embasariam a nova nação. Sendo assim, em 1824, era promulgada
a nossa 1ª constituição e dentre as diversas curiosidades expressas naquele documento,
destacaria uma, que embasaria de forma competente as reflexões propostas nesta
postagem. O artigo de número 5 do título 1º regia:

Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio.


Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em
casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo.

Desde então a relação entre Estado Brasileiro e Igreja perpetuaria por longos anos de
forma pacífica e legitimadora, até que em meados do século XIX, alguns fatores
contribuíram para que esta parceria estremecesse, resultando futuramente num
rompimento. É bem verdade, que a essas alturas (segunda metade do século XIX), a
monarquia brasileira estava mergulhada em uma grave crise que culminaria anos
depois na proclamação da República (1889).

Para melhor entendermos a charge proposta e o seu contexto histórico de produção, é


necessário destacarmos dois aspectos: O primeiro deles, refere-se aos Regimes de
Beneplácito e Padroado. O primeiro deles, o Regime de Padroado dava,
constitucionalmente falando, ao imperador brasileiro (no caso D. Pedro II), plenos
direitos de intervir na nomeação de bispos e cargos eclesiásticos no Brasil, já o Regime
de Beneplácito, que também era um direito constitucional do imperador,  concedia a
ele o poder de autorizar ou não a aplicabilidade das orientações vindas do Vaticano
para a Igreja brasileira. O segundo aspecto a ser destacado, refere-se a generosa e
harmoniosa relação entre boa parte do clérigo brasileiro e os maçons, uma vez que as
duas instituições (Igreja e Maçonaria) antagonizam-se até hoje no que diz respeito
a questões doutrinárias. É justamente neste ponto que a relação entre Igreja e Estado
se abalaria e o Brasil daria o seu primeiro e decisivo passo rumo a laicização.

Diante da grande participação do clérigo brasileiro na maçonaria e vice-versa, e das


fortes críticas tecidas pelos maçons a Igreja Católica (isso a nível mundial), é que em
1864 através da  Bulla Syllabus, o papa Pio IX proibe a participação do clero católico
brasileiro junto a maçonaria. Como na época boa parte da elite econômica, religiosa e
política, inclusive o próprio D. Pedro II, fazia parte da maçonaria, a medida não foi
bem recebida aqui no Brasil. D. Pedro II, na condição de imperador brasileiro, não dá o
beneplácito. Sendo assim, a confusão estava armada porque diante da proibição da
execução da medida papal aqui no Brasil, dois bispos brasileiros, o D. Vital da cidade
de Olinda/PE e D. Antônio de Macedo de Belém/PA, decidem seguir seus votos de
fidelidade ao papa Pio IX aplicando a tal medida vinda do Vaticano.

Assim que a “rebeldia” destes bispos chegaram ao conhecimento do governo brasileiro,


foi instituída uma ação criminal levando os religiosos a julgamento em 1874 que
acabou por resultar em uma penalidade de quatro anos de prisão. Apesar do veredicto,
depois de muita pressão do papa Pio IX, o governo brasileiro concede o perdão aos
bispos rebeldes, o que não fora o suficiente para apaziguar a conturbada relação já
instalada entre governo e Igreja Católica. Dessa forma a Igreja retira seu apoio a
monarquia brasileira engrossando, ainda que de forma indireta, o crescente ideário da
onda republicana que crescera consideravelmente nos últimos anos nos quatro cantos
do império brasileiro.

É ai que entra a charge proposta:

Ela foi publicada em 1875 pelo jornal “O Mosquito” e procurava satirizar a  QUESTÃO
RELIGIOSA exposta até aqui.

Os personagens em destaque na cena são nada mais nada menos que D. Pedro II e o
papa Pio IX. A direita encontra-se o papa Pio IX, muito bem simbolizado pelas chaves
que carrega na cintura, seriam as chaves do céu, numa alusão ao apóstolo São Pedro,
"detentor das chaves do céu". O personagem em destaque da esquerda é D. Pedro II,
que prepara-se para receber um castigo, e por que não dizer “umas palmadas” do papa
Pio IX.

Prosseguindo com nossa análise, ressalto que no canto inferior direito, mais
precisamente aos pés do papa, encontram-se os dois bispos brasileiros envolvidos na
confusão, que parecem expulsar os maçons (vestidos de negros), já do lado oposto,
encontram-se maçons atrás do imperador. Este último gesto nos remete ao simbolismo
de proteção, o que de fato acontecera, quando o  governo brasileiro se posiciona a
favor da Maçonaria, agravando ainda mais a relação entre este e a igreja.

Aguçado pelo questionamento e pela curiosidade de saber se O Mosquito era um


periódico do movimento republicano ou não, encontrei o texto “A república nos traços
do humor: imprensa ilustrada e os primeiros anos da campanha republicana no Brasil”
que revela-me a imparcialidade do jornal. Na verdade se analisarmos bem, as duas
instituições (Estado e Igreja)  ai representadas estão sendo ridicularizadas pelo
períodico.

Ficamos por aqui. Um forte abraço e saudações históricas!

Hermes Júnior às 20:06

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Um comentário:

Unknown 13 de março de 2019 às 19:44


Essa página me ajudou muito ! Obrigada.
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Quem sou eu
Hermes Júnior
Hermes Júnior, 35 anos, Graduado em História (UNOPAR) e Especialista em
História Social (UNOPAR).
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