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PALMAS N. 4.156
FABIANO AOZANI
PALMAS-TO
2022
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA
NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
AOZANI, Fabiano
1
RESUMO
Este trabalho de instrução de grau tem por objetivo explorar uma melhor
compreensão do papel maçônico na proclamação da república do Brasil. A
pesquisa busca levar em conta aspectos históricos e normativos que
envolvem o movimento republicano em conjunto com o protagonismo dos
maçons nestes movimentos.
Palavras-chave: proclamação-república-Brasil-maçonaria
ABSTRACT
Keywords: proclamation-republic-Brazil-masonry
I- INTRODUÇÃO
2
momentos que antecederam o rompimento do Brasil com o antigo Império,
levando ao surgimento da proclamação da República no país. Como dito,
diante de lacunas existentes, sobre produções acerca da maçonaria no Brasil,
nosso estudo se ancora nos trabalhos desenvolvidos por doutrinadores
maçons, principalmente CASTELANI (1989) e CARVALHO (2007) e de
historiadores contemporâneos como BARATA (2002) e BARROS (1996) e de
artigos apresentados na internet, que procuram analisar de vários ângulos o
papel verdadeiro da Maçonaria e dos maçons neste prestigiado momento
histórico brasileiro.
1
HOLANDA, Sérgio B. de “Da Maçonaria ao Positivismo”. In: --. História Geral da Civilização Brasileira.
São Paulo: 4ª ed., São Paulo: Difel, 1985, T. II, v. 05, p. 289.
3
vinculou, à época, ao movimento da ”Ilustração brasileira” 2 que, não
obstante o respeito profundo ao melhor pensamento positivista, realçou a
Ordem Maçônica “a centros de formação de uma elite intelectual e política
atuante e protagonista das mudanças que iriam surgir, principalmente na queda do
Império e a posterior proclamação da República”3 e “como centros de
sociabilidade que contribuíram para a construção e mobilização das diversas forças
sociais não só como canal de divulgação do ideário liberal, mas sobretudo como
espaço de construção de uma cultura política marcada pelo debate, da
representação, da elaboração de leis, da substituição do nascimento pelo mérito
como fundamento da ordem social e política, se constituindo, portanto, em esteio
para a criação de uma esfera pública civil, fundamental dentro do contexto social
do mundo luso-brasileiro4.
2
BARROS, Roque S. M. “A ilustração brasileira e a idéia de Universidade”. São Paulo: Convívio. /Edusp,
1986. p.13.
3
CARVALHO, José Murilo de. “A formação das almas: o imaginário da República no Brasil”. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990. p. 129-140.
4
BARATA, Alexandre Mansur. “Império à República (Luzes e sombras: a ação da Maçonaria Brasileira,
1870-1910)”. Campinas, Ed. Unicamp, 2002.
4
Nessa linha, o historiador e professor paulista Nicolau Sevcenko
destaca que a palavra de ordem da “geração modernista de 1870” “ era
condenar a sociedade “fossilizada” do império e pregar as grandes reformas
redentoras: a abolição, a república e a democracia”5 e o liberalismo brasileiro
do final do século XIX, calcado em um conteúdo jurídico-político, modelado
no direito natural que condenava a escravatura, no poder Moderador e na
própria ordem imperial, encontrou resistência, como é cediço, em
instituições oficiais que nessa época representavam idéias
ultraconservadoras, principalmente a Igreja Católica.
5
SEVCENKO, N. Literatura como missão. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 78.
6
BARROS, Roque op. cit., p. 81.
5
Na primeira, no período de 1863 a 1883, o poder central estava
dividido em dois grupos: o Grande Oriente do Brasil da rua dos Beneditinos
(reconhecidos pelo pensamento republicado, que defendia o racionalismo e
a liberdade de consciência, liderados por Saldanha Marinho) e o Grande
Oriente do Brasil da rua do Lavradio (ligado ao pensamento monarquista e
regalista). A segunda fase, de 1883 a 1890, é marcada pela união oficial
entre o Grande Oriente do Lavradio e o Grande Oriente dos Beneditinos,
formando, novamente, o Grande Oriente do Brasil. E a terceira parte, a partir
de 1890, com formação dos Grandes Orientes estaduais, vinculados ou não
ao Grande Oriente do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.
6
ilustração e a liberdade das massas fere e derruba os
interesses ilegítimos dos fortes e dos espertos”. 7
Grifo nosso
7
Ver: Boletim do Grande Oriente do Unido e Supremo Conselho do Brasil. Rio de Janeiro, 2 (2-3): 104,
fev-mar/1873.
7
De forma paralela, inegavelmente se observa no período
compreendido entre 1870 a 1910 uma expansão quantitativa e espacial das
lojas atreladas à Ordem Maçônica no país, se verificou em um processo de
“nacionalização” e de “federalização” do movimento maçônico. Importante
lembrar que, se durante o Antigo Regime, as atividades maçônicas se
concentravam, principalmente, no Rio de Janeiro, o período republicano
presenciou o fortalecimento da maçonaria, não por acaso, em São Paulo, Rio
Grande do Sul, Minas Gerais Bahia e Pernambuco, estados que possuíam
significativas representações no Congresso Nacional.
8
HORBACH, Carlos Bastide: O parlamentarismo no Império do Brasil (II): representação
e democracia. Brasília-DF: Revista de Informação Legislativa, a. 44 n. 174 abr./jun., pp.
213-231, 2007
8
manifestações contra a “validade e representatividade das instituições
monárquicas”.
Obviamente que os liberais não ficaram quietos por conta do que
aconteceu a Zacarias e rebelaram-se através de seu Manifesto Liberal
Radical, exigindo amplas reformas eleitorais, descentralização, total
liberdade religiosa, ensino livre, Senado temporário e eletivo,
substituição do trabalho escravo pelo livre e extinção do Poder
Moderador de Dom Pedro II.
O término da Monarquia só ocorreria mais tarde, no ano de 1870
com a fundação do Partido Republicano e o lançamento de seu manifesto
que fomentou duras críticas aos poderes centralizados apenas no
Imperador, o que deixava o resto do país sem uma representação por si só
e ainda, essa forma de administração, governo e reinado era
completamente incompatível com o que se entende conceber como
legítima soberania popular.
9
sequer”9.
Seguindo o exemplo de vários clubes republicanos, várias lojas
maçônicas começaram a discutir sobre a República em si, sendo que até
mesmo os militares depois da Guerra do Paraguai entendiam que a
abolição da escravidão deveria ser levada adiante, sendo também a favor
de imigrantes, das indústrias e principalmente, tinham convicção de que a
Monarquia deveria sair de cena em nome do progresso.
No entanto, cotejando todos os atores envolvidos nesse movimento,
precisamos entender que com tantas pessoas de classes sociais e setores
tão diferentes, era natural que estas as mesmas entrariam em conflito
dentro de sua ideologia, sobre o que poderia ser a sua República perfeita,
uns com pensamentos parecidos com o modelo norte-americano, outros
com pensamento de que o povo deveria tomar o poder, a exemplo do
modelo jacobino (Revolução Francesa) e outros acreditavam na República
ligada ao primado da ordem e do progresso, na esteira do pensamento
positivo da época.
Apenas no ano de 1888 o Partido Republicano Fluminense foi
fundado na província do Rio de Janeiro, muito por conta da quantidade de
monarquistas que não estavam satisfeitos com o fato do Brasil não poder
mais contar com a mão de obra escrava e o pensamento maçônico, ainda
que tivesse aparecido ao público antes através de alguns folhetos, começou
mesmo a circular através de seus próprios órgãos impressos, o que antes
era censurado no regime monarca. Foi o suficiente para que os maçons da
época pudessem finalmente divulgar seus ideais com foco na civilidade e
no progresso. Segundo Barata “vários foram os maçons que fizeram da
imprensa uma verdadeira tribuna em defesa das ideias maçônicas”. (BARATA,
1999, p. 137), em defesa da liberdade de expressão, consciência, religiosa,
entre outras.
Em via paralela, a popularidade do Imperador Dom Pedro II
despencou junto aos intelectuais da época. Seu regime de governo não
representava mais os interesses de grande maioria da sociedade brasileira
e, somado a um pensamento considerado progressista por parte da
oposição maçônica, não demoraria muito tempo até que a República fosse
instaurada em 1889.
A Proclamação da República Brasileira acabou sendo realizada na
data de 15 de novembro de 1889, na praça da Aclamação (atual Praça da
9
GIMENES, João Dias: Ordem maçônica: preliminares da iniciação. 1ª Edição. São Paulo-SP: Fundação
Biblioteca Nacional, 2015.
10
República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império, ficando
instaurada a forma republicana federativa presidencialista de governo no
Brasil, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista e, por
conseguinte, pondo fim à soberania do imperador Dom Pedro II, que foi
embora do país junto com a sua família.
V- CONSIDERAÇÕES FINAIS
11
Ventre Livre, que determinava livre todos os filhos de mulheres escravas
(considerada a primeira lei abolicionista no Brasil).
12
“Quintino Bocaiuva foi o único civil a cavalgar, ao lado de Benjamin Constant e do
Marechal Deodoro da Fonseca, com as tropas que se dirigiram ao quartel-general do
Exército brasileiro, na manhã de 15 de novembro, quando da proclamação da República”.
Excerto extraído do link https://pt.wikipedia.org/wiki/Quintino_Bocaiuva
12
sinais, toques e passos, com sessões noturnas secretas,
tão prolongadas, para fins tão insignificantes
plenamente preenchidos, sem tantas formalidades, por
quantas associações, estrangeiras ou nacionais, que se
acham, para esse fim, estabelecidas entre nós. É esta a
contraprova da asserção, tantas vezes por mim
afirmada nesta Assembleia. – A Maçonaria é uma
associação altamente política. Mas qual é essa
política? Tendes o direito de perguntar-me.
Responderei, começando por definir os termos da
controvérsia: – Política é a arte de educar o povo e
dirigi-lo nas vias do progresso e do
engrandecimento, até a consecução dos seus fins no
seio da humanidade. É isto que nós maçons
chamamos de “alta política”; tal qual delineada na
nossa constituição. (…) A nossa política, tão grande
como a nossa instituição, é aquela que nos faz amar o
cristianismo, e detestar o jesuitismo, que nos impele a
estudar e ouvir socialistas e rebater anarquistas; que
nos obriga a aceitar e manter a República e repelir a
monarquia; que nos dá a diferença profunda entre o
jacobirismo e o patriotismo; pois este é um sentimento
de amor, e é aquele um mal sentimento de ódio,
contrário ao nosso lema de fraternidade universal, dos
homens e dos povos”. 13 Grifo nosso
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
13
Ver: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Rio de Janeiro, 22(3-4): 144, mai-jun/1897
13
1- HOLANDA, Sérgio B. de “Da Maçonaria ao Positivismo”. In: --. História
Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: 4ª ed., São Paulo: Difel, 1985, T. II,
v. 05, p. 289.
2- BARROS, Roque S. M. “A ilustração brasileira e a idéia de Universidade ”.
São Paulo: Convívio. /Edusp, 1986. p.13.
3- CARVALHO, José Murilo de. “A formação das almas: o imaginário da
República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 129-140.
4- BARATA, Alexandre Mansur. “Império à República (Luzes e sombras: a
ação da Maçonaria Brasileira, 1870-1910)”. Campinas, Ed. Unicamp, 2002.
5- SEVCENKO, N. “Literatura como missão”. 3 ed. São Paulo: Brasiliense,
1989. p. 78.
6- BARROS, Roque op. cit., p. 81.
7- Ver: “Boletim do Grande Oriente do Unido e Supremo Conselho do
Brasil”. Rio de Janeiro, 2 (2-3): 104, fev-mar/1873.
8- HORBACH, Carlos Bastide: “O parlamentarismo no Império do Brasil (II):
representação e democracia”. Brasília-DF: Revista de Informação Legislativa,
a. 44 n. 174 abr./jun., pp. 213-231, 2007
9- GIMENES, João Dias: “Ordem maçônica: preliminares da iniciação ”. 1ª
Edição. São Paulo-SP: Fundação Biblioteca Nacional, 2015.
10- Extraído do artigo encontrado no endereço eletrônico
https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/a-maconaria-
naproclamacao-da-republica/
11- CASTELLANI, José. “A Maçonaria e o Movimento Republicano
Brasileiro”. São Paulo: Contraponto, 1989, p.63 e 105.
12- Extraído do site “https://pt.wikipedia.org/wiki/Quintino_Bocaiuva”
13- Ver: “Boletim do Grande Oriente do Brasil.” Rio de Janeiro, 22(3-4):
144, mai-jun/1897
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