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GRANDE ORIENTE DO BRASIL – G.O.B.

AUG.´E RESP.´.LOJ.´. AREÓPAGO DE

PALMAS N. 4.156

FABIANO AOZANI

A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

PALMAS-TO

2022

A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA

NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

AOZANI, Fabiano

1
RESUMO

Este trabalho de instrução de grau tem por objetivo explorar uma melhor
compreensão do papel maçônico na proclamação da república do Brasil. A
pesquisa busca levar em conta aspectos históricos e normativos que
envolvem o movimento republicano em conjunto com o protagonismo dos
maçons nestes movimentos.

Palavras-chave: proclamação-república-Brasil-maçonaria

ABSTRACT

This degree instruction work aims to explore a better understanding of the


Masonic role in the proclamation of the republic of Brazil. The research seeks
to take into account historical and normative aspects that involve the
republican movement together with the role of Freemasons in these
movements.

Keywords: proclamation-republic-Brazil-masonry

I- INTRODUÇÃO

Este trabalho investiga qual foi a real participação dos maçons e da


maçonaria, enquanto instituição, no movimento que culminou na
proclamação da República do Brasil.
Desde já, se faz necessário aclarar que o presente trabalho não
possui a pretensão de esgotar o assunto, mas servir de convite ao estudo
mais aprofundado de um tema não tão comentado, quanto se merece, e
não tão debatido, quanto se devesse, justamente pela falta de um acervo
histórico e documental mais robusto, fazendo-se necessário então, a fim de
subsidiar satisfatoriamente o presente trabalho, bebermos da rica fonte
doutrinária maçônica e de estudos acadêmicos mais recentes a fim de
fortificar o entendimento que se passa a aduzir.
Para sua feitura, nos basearemos em uma pesquisa bibliográfica, na
qual delinearemos o papel desempenhado pelos maçons e a maçonaria nos

2
momentos que antecederam o rompimento do Brasil com o antigo Império,
levando ao surgimento da proclamação da República no país. Como dito,
diante de lacunas existentes, sobre produções acerca da maçonaria no Brasil,
nosso estudo se ancora nos trabalhos desenvolvidos por doutrinadores
maçons, principalmente CASTELANI (1989) e CARVALHO (2007) e de
historiadores contemporâneos como BARATA (2002) e BARROS (1996) e de
artigos apresentados na internet, que procuram analisar de vários ângulos o
papel verdadeiro da Maçonaria e dos maçons neste prestigiado momento
histórico brasileiro.

Inicialmente, se impõe afirmar que a maçonaria teve atuação basilar


no movimento que culminou na proclamação da república do Brasil, assim
como em muitos processos históricos do país, como na abolição da
escravatura, Independência, Inconfidência Mineira e na Revolução
Farroupilha, muito por conta dos seus ideais centenários de liberdade,
igualdade e fraternidade, que regem as ações da Ordem e dos Irmãos que a
compõem até os dias atuais.

De outro giro, as passagens nos livros de história do Brasil não


adentram de forma mais aprofundada no papel que a maçonaria exerceu de
fato nesta época histórica de nosso país, apenas de limitando a informar que
determinado personagem teria sido maçom, como por exemplo o primeiro
Presidente da chamada “República da Espada”, ex-Grão-Mestre, Marechal
Deodoro da Fonseca ou seu vice Marechal Floriano Peixoto, assim como os
ilustres ministros Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Ruy Barbosa,
Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo
Wandenkolk.

Pelo contrário, a majoritária historiografia tradicional, inclusive


capitaneada por doutrinadores clássicos como, por exemplo, o Professor
Sérgio Buarque de Holanda, coloca a Maçonaria, diferentemente do papel
desempenhado na Independência do Brasil, “ em franca decadência no período
de 1870 a 1910, em função da ascensão da doutrina positivista de Conte (baseada
na ciência)”1, atribuindo, de maneira reducionista, a maçonaria a uma
instituição “provedora exclusivamente de causas filantrópicas” o que
entendemos, data máxima vênia, tratar-se de um entendimento equivocado,
pois a Ordem Maçônica, não se despindo de suas aspirações filantrópicas se

1
HOLANDA, Sérgio B. de “Da Maçonaria ao Positivismo”. In: --. História Geral da Civilização Brasileira.
São Paulo: 4ª ed., São Paulo: Difel, 1985, T. II, v. 05, p. 289.

3
vinculou, à época, ao movimento da ”Ilustração brasileira” 2 que, não
obstante o respeito profundo ao melhor pensamento positivista, realçou a
Ordem Maçônica “a centros de formação de uma elite intelectual e política
atuante e protagonista das mudanças que iriam surgir, principalmente na queda do
Império e a posterior proclamação da República”3 e “como centros de
sociabilidade que contribuíram para a construção e mobilização das diversas forças
sociais não só como canal de divulgação do ideário liberal, mas sobretudo como
espaço de construção de uma cultura política marcada pelo debate, da
representação, da elaboração de leis, da substituição do nascimento pelo mérito
como fundamento da ordem social e política, se constituindo, portanto, em esteio
para a criação de uma esfera pública civil, fundamental dentro do contexto social
do mundo luso-brasileiro4.

Ao seu passo, no transcorrer do presente trabalho, adentraremos nas


razões que embasam a exposição inicial, tecendo, ao cabo, nossas
impressões finais em direção à ativa e influente participação maçônica na
proclamação da república no Brasil que trouxeram consequências marcantes
na historicidade brasileira.

II- AS TRANSFORMAÇOES DA SOCIEDADE BRASILEIRA NO


PERÍODO ANTERIOR À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

A partir do ano de 1870, o país começou a conhecer profundas


transformações, acentuado na crise do escravismo e no crescimento da
propaganda republicana festejada por uma elite intelectual que se propunha
a “ilustrar” o Brasil, ou seja, liberalizar a nação através do poder das idéias
(liberalismo brasileiro do século XIX), como mola propulsora para as
transformações efetivas em nossa sociedade.

Nesse interim, buscou-se afastar das velhas bandeiras atreladas à


herança ibérica, da cultura arcaica colonial e a tudo que era vinculada a eles
e alinhar-se de fato ao ideário integrativo ocidental, centrado na filosofia
progressista da história, através de uma verdadeira mudança de pensamento
sobre a identidade nacional.

2
BARROS, Roque S. M. “A ilustração brasileira e a idéia de Universidade”. São Paulo: Convívio. /Edusp,
1986. p.13.
3
CARVALHO, José Murilo de. “A formação das almas: o imaginário da República no Brasil”. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990. p. 129-140.
4
BARATA, Alexandre Mansur. “Império à República (Luzes e sombras: a ação da Maçonaria Brasileira,
1870-1910)”. Campinas, Ed. Unicamp, 2002.

4
Nessa linha, o historiador e professor paulista Nicolau Sevcenko
destaca que a palavra de ordem da “geração modernista de 1870” “ era
condenar a sociedade “fossilizada” do império e pregar as grandes reformas
redentoras: a abolição, a república e a democracia”5 e o liberalismo brasileiro
do final do século XIX, calcado em um conteúdo jurídico-político, modelado
no direito natural que condenava a escravatura, no poder Moderador e na
própria ordem imperial, encontrou resistência, como é cediço, em
instituições oficiais que nessa época representavam idéias
ultraconservadoras, principalmente a Igreja Católica.

Nesse trilho, entende Roque Spencer, verbis:

“Os liberais clássicos, tipo dominante na “Ilustração


brasileira”, segundo Roque Spencer, fundados em uma
visão jurídica do homem, possuíam, como ponto de
partida teórico, a crença fundamental na liberdade
humana. Se discordavam quanto à forma de governo
(república ou monarquia constitucional) mais adequada
para realização do ideal liberal, todavia eram unânimes
na critica à excessiva centralização do sistema imperial
brasileiro via Poder Moderador, na defesa da abolição
do trabalho escravo e na defesa da livre manifestação
do pensamento. “Sua tarefa era libertar o trabalho, a
consciência e o voto.”6

Ao seu turno, a Maçonaria no final do século XIX e início do século XX


vincula-se à “Ilustração brasileira”, como uma instituição formadora de
opinião dentro das oficinas, além de que a maior parte dos atores que
protagonizaram a derrocada do Império e deram ensejo à República eram
irmãos maçons.

III- A EXPANSÃO QUALITATIVA E ESPACIAL DA MAÇONARIA NO


PERÍODO DE 1863 A 1910

A estrutura organizacional da Ordem Maçônica em nosso país, neste


período anterior a Proclamação da República, apresentou, com base nas
pesquisas feitas, basicamente três fases bastante distintas.

5
SEVCENKO, N. Literatura como missão. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 78.
6
BARROS, Roque op. cit., p. 81.

5
Na primeira, no período de 1863 a 1883, o poder central estava
dividido em dois grupos: o Grande Oriente do Brasil da rua dos Beneditinos
(reconhecidos pelo pensamento republicado, que defendia o racionalismo e
a liberdade de consciência, liderados por Saldanha Marinho) e o Grande
Oriente do Brasil da rua do Lavradio (ligado ao pensamento monarquista e
regalista). A segunda fase, de 1883 a 1890, é marcada pela união oficial
entre o Grande Oriente do Lavradio e o Grande Oriente dos Beneditinos,
formando, novamente, o Grande Oriente do Brasil. E a terceira parte, a partir
de 1890, com formação dos Grandes Orientes estaduais, vinculados ou não
ao Grande Oriente do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.

A grande divisão nas fileiras do Grande Oriente do Brasil ocorreu


durante o Grão-Mestrado do Visconde do Cayru, em 1863. Sete lojas, com
aproximadamente 1500 membros, formaram uma nova Obediência (o
Grande Oriente dos Beneditinos) e elegeram para Grão-Mestre o gaúcho
Joaquim Saldanha Marinho, político e jornalista bastante conhecido por suas
posições anti-clericais e pela defesa do regime republicano, ressaltando-se
que o grupo liderado por Saldanha Marinho sofria grande influência da
corrente maçônica francesa e entendia que a maçonaria não era destinada
apenas a filantropia.

Esta perspectiva pode ser apreendida no artigo de A. F. Amaral


publicado no Boletim do Grande Oriente, editado pelo círculo dos
Beneditinos em 1873, verbis:

“A Maçonaria é mais alguma coisa do que uma


companhia de socorro mútuo; é uma instituição
filantrópica no sentido mais lato da palavra. (…)
Compreendeu, pois, a Maçonaria criada para proteger a
humanidade e dar-lhe pleno desenvolvimento, que a
sua missão era dupla, como dupla é a natureza do
homem. Para realizá-la cumpria-lhe, portanto, não só
dar pão aos famintos, vestir os nus e abrigar os que
não tivessem teto, como também procurar dar toda
expansão às faculdades morais do homem – a
inteligência, o livre-arbítrio -, dons sagrados que o
elevam acima da natureza criada, e o tornam elo
visível entre ela e a divindade. (…) Mas cultivar a
inteligência das massas, ensinar-lhes os seus direitos,
dizer ao ínfimo dos párias, ao último dos hilotas, ao
mais degradado dos vilões, – tu és homem, e portanto
és livre -, foi sempre coisa grave e perigosa; a

6
ilustração e a liberdade das massas fere e derruba os
interesses ilegítimos dos fortes e dos espertos”. 7
Grifo nosso

Apesar dessas divergências, em 1872, ocorreu uma breve união entre


os dois círculos (Lavradio e Beneditinos), a fim de confrontar a Igreja Católica
que na época sofria uma reorganização interna que condenava os chamados
“erros modernos”: o progresso, o racionalismo, o liberalismo e a liberdade
religiosa.

Nesse contexto, a Maçonaria que, até então, poderia ser considerada


uma das instituições mais organizadas do país, passava a sofrer fortes
ataques. Em razão disso, na data de 20 de maio de 1872, o Grande Oriente
do Lavradio, presidido pelo Visconde do Rio Branco, e o Grande Oriente dos
Beneditinos, presidido por Saldanha Marinho, fundiram-se numa única
Obediência: o “Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brasil”.

Por outro lado, a derrota do Visconde do Rio Branco, no pleito para a


escolha do Grão-Mestre da nova Obediência, foi suficiente para o retorno à
situação anterior, o que se prolongaria até 1883.

Em março de 1882, Saldanha Marinho pediu demissão do cargo de


Grão-Mestre do círculo dos Beneditinos, o que facilitou as negociações para
a fusão definitiva dos dois Grandes Orientes que acabou ocorrendo na data
de 18 de janeiro de 1883, sob a direção do então ex-comandante do
Exército Brasileiro, Francisco José Cardoso Júnior, que na época da
Proclamação da República também teve posição de destaque no cenário
nacional junto ao Primeiro Presidente Marechal Deodoro da Fonseca.

A partir da década de 90 do século XIX, uma nova etapa


organizacional da Maçonaria brasileira tomaria corpo através da instalação
da ordem republicana federalista e, concomitantemente, inúmeras Lojas
passaram a questionar a autoridade do Grande Oriente do Brasil, além de
uma federalização da maçonaria brasileira com a criação de vários Grandes
Orientes estaduais autônomos e independentes, como o Grande Oriente
Paulista (1893); o Grande Oriente e Supremo Conselho do Rio Grande do Sul
(1893) e Grande Oriente Mineiro (1894).

7
Ver: Boletim do Grande Oriente do Unido e Supremo Conselho do Brasil. Rio de Janeiro, 2 (2-3): 104,
fev-mar/1873.

7
De forma paralela, inegavelmente se observa no período
compreendido entre 1870 a 1910 uma expansão quantitativa e espacial das
lojas atreladas à Ordem Maçônica no país, se verificou em um processo de
“nacionalização” e de “federalização” do movimento maçônico. Importante
lembrar que, se durante o Antigo Regime, as atividades maçônicas se
concentravam, principalmente, no Rio de Janeiro, o período republicano
presenciou o fortalecimento da maçonaria, não por acaso, em São Paulo, Rio
Grande do Sul, Minas Gerais Bahia e Pernambuco, estados que possuíam
significativas representações no Congresso Nacional.

IV- O PROTAGONISMO DA MAÇONARIA NA PROCLAMAÇÃO DA


REPÚBLICA

Nesse caldeirão efervercente, nasce a ideia da República, logo após a


queda do gabinete de Zacarias de Góis em 1868 aos conservadores. De
forma mais clara dentro de seu artigo, Professor Carlos Horbach detalha
que, verbis:

A oposição no Senado era combativa, sendo famosa a


fiscalização que faziam os senadores dos atos do ministério.
Zacarias de Góis e Vasconcelos, que dividia com Nabuco de
Araújo a liderança do Partido Liberal, entrou para a história
parlamentar do Império não somente pelos três gabinetes
que comandou, mas principalmente pela oposição firme que,
da tribuna do Palácio do Conde dos Arcos, impôs a seus
êmulos conservadores.8

Ocorre que o Senador Zacarias de Góis e Vasconcelos, que já havia


sido inclusive Primeiro-Ministro, Presidente da Câmara dos Deputados e
Presidente do Conselho de Ministros no Império, questionando o poder
Moderador monárquico e, por via obliqua, o Antigo Regime, caiu e, o
Visconde de Itaboraí, político fluminense conservador e aliado da
Monarquia, junto com seus pares assumiram o poder de seu gabinete a
mando do Imperador Dom Pedro II.
Por sua vez, o senador e Grão-Mestre maçom Saldanha Marinho,
retratou este movimento do Imperador como uma manobra que ficou
conhecida como “estelionato político” e, isto deu abertura para

8
HORBACH, Carlos Bastide: O parlamentarismo no Império do Brasil (II): representação
e democracia. Brasília-DF: Revista de Informação Legislativa, a. 44 n. 174 abr./jun., pp.
213-231, 2007

8
manifestações contra a “validade e representatividade das instituições
monárquicas”.
Obviamente que os liberais não ficaram quietos por conta do que
aconteceu a Zacarias e rebelaram-se através de seu Manifesto Liberal
Radical, exigindo amplas reformas eleitorais, descentralização, total
liberdade religiosa, ensino livre, Senado temporário e eletivo,
substituição do trabalho escravo pelo livre e extinção do Poder
Moderador de Dom Pedro II.
O término da Monarquia só ocorreria mais tarde, no ano de 1870
com a fundação do Partido Republicano e o lançamento de seu manifesto
que fomentou duras críticas aos poderes centralizados apenas no
Imperador, o que deixava o resto do país sem uma representação por si só
e ainda, essa forma de administração, governo e reinado era
completamente incompatível com o que se entende conceber como
legítima soberania popular.

Para muitos dos republicanos, incluindo maçons, os interesses da


sociedade, fosse garantindo liberdades dos brasileiros ou realizar o bem,
dentre outros exemplos não eram mais representados pela Monarquia, o
que para os Monarquistas resistentes, incluindo alguns maçons, o segundo
reinado ainda era próspero, o que se denotaria por ser o mais longevo, até
então, em toda a América do Sul.
Em suma, o Manifesto Republicano considerava o federalismo a
solução definitiva para o Brasil, uma vez que o centralismo era atribuído a
uma má administração.
Um dos homens históricos protagonistas nesta cena histórica, foi
Saldanha Marinho, que entre 1879 e 1881, era o único Deputado
Republicano que trabalhou pela liberdade total de quaisquer cultos. Tal
qual Saldanha Marinho, o jornalista e também irmão maçom Quintino
Bocaiúva também foi um dos idealizadores do Manifesto Republicano e foi
preso em um golpe em 1891 depois de ter lutado a favor das liberdades
nacionais e a favor da constituinte.
E ainda segundo o Doutrinador Maçom João Dias Gimenes, dentro
do primeiro Governo Republicano, “Deodoro da Fonseca, Aristides Lobo, Rui
Barbosa, Benjamin Constant, Eduardo Wandenkolk, Demétrio Ribeiro e como já
mencionado anteriormente, Quintino Bocaiúva, foram maçons, enfatizando-se que
a maçonaria lutou pela República do Brasil sem derramar uma gota de sangue

9
sequer”9.
Seguindo o exemplo de vários clubes republicanos, várias lojas
maçônicas começaram a discutir sobre a República em si, sendo que até
mesmo os militares depois da Guerra do Paraguai entendiam que a
abolição da escravidão deveria ser levada adiante, sendo também a favor
de imigrantes, das indústrias e principalmente, tinham convicção de que a
Monarquia deveria sair de cena em nome do progresso.
No entanto, cotejando todos os atores envolvidos nesse movimento,
precisamos entender que com tantas pessoas de classes sociais e setores
tão diferentes, era natural que estas as mesmas entrariam em conflito
dentro de sua ideologia, sobre o que poderia ser a sua República perfeita,
uns com pensamentos parecidos com o modelo norte-americano, outros
com pensamento de que o povo deveria tomar o poder, a exemplo do
modelo jacobino (Revolução Francesa) e outros acreditavam na República
ligada ao primado da ordem e do progresso, na esteira do pensamento
positivo da época.
Apenas no ano de 1888 o Partido Republicano Fluminense foi
fundado na província do Rio de Janeiro, muito por conta da quantidade de
monarquistas que não estavam satisfeitos com o fato do Brasil não poder
mais contar com a mão de obra escrava e o pensamento maçônico, ainda
que tivesse aparecido ao público antes através de alguns folhetos, começou
mesmo a circular através de seus próprios órgãos impressos, o que antes
era censurado no regime monarca. Foi o suficiente para que os maçons da
época pudessem finalmente divulgar seus ideais com foco na civilidade e
no progresso. Segundo Barata “vários foram os maçons que fizeram da
imprensa uma verdadeira tribuna em defesa das ideias maçônicas”. (BARATA,
1999, p. 137), em defesa da liberdade de expressão, consciência, religiosa,
entre outras.
Em via paralela, a popularidade do Imperador Dom Pedro II
despencou junto aos intelectuais da época. Seu regime de governo não
representava mais os interesses de grande maioria da sociedade brasileira
e, somado a um pensamento considerado progressista por parte da
oposição maçônica, não demoraria muito tempo até que a República fosse
instaurada em 1889.
A Proclamação da República Brasileira acabou sendo realizada na
data de 15 de novembro de 1889, na praça da Aclamação (atual Praça da
9
GIMENES, João Dias: Ordem maçônica: preliminares da iniciação. 1ª Edição. São Paulo-SP: Fundação
Biblioteca Nacional, 2015.

10
República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império, ficando
instaurada a forma republicana federativa presidencialista de governo no
Brasil, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista e, por
conseguinte, pondo fim à soberania do imperador Dom Pedro II, que foi
embora do país junto com a sua família.

Foi instituído, naquele mesmo dia, um governo provisório republicano,


composto por personagens republicanos históricos, todos membros
regulares da maçonaria brasileira, tendo o marechal Deodoro da Fonseca
como presidente da república e chefe do Governo Provisório, o marechal
Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamin Constant
Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales,
Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos
irmãos maçons.

Não menos importante, na onda do fenômeno do constitucionalismo


exaltado no mundo, a primeira Constituição republicana foi promulgada em
1891, consagrando, de forma categorica e final, os princípios liberais
clássicos, tais como o direito de associação, de pensamento e de expressão,
e a garantia de um governo eleito pelo voto majoritário10.

V- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seja no brado retumbante da Independência, na Proclamação da


República ou destruindo as correntes da escravidão, a Maçonaria sempre
exerceu seu papel de protagonista na luta pelo progresso e evolução social
na história do Brasil.

Os maçons brasileiros, que estavam envolvidos no processo da


Proclamação da República já atuavam por intermédio de suas lojas na
imprensa, ou mesmo nas tribunas, para demonstrar a preocupação sobre a
ainda vigente escravatura no Brasil e com a hipótese de um terceiro reinado.

Em 1869, uma loja maçônica da cidade de Sorocaba, no estado de


São Paulo, propôs a libertação de crianças da escravidão e, em abril de 1870,
o maçom e eminente jurista Ruy Barbosa apresentou, em São Paulo, um
projeto de abolição obrigatório para toda a Maçonaria nacional. Já em 1871,
o estadista e maçom Visconde de Rio Branco articulou e promulgou a Lei do
10
https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/a-maconaria-na-proclamacao-da-republica/

11
Ventre Livre, que determinava livre todos os filhos de mulheres escravas
(considerada a primeira lei abolicionista no Brasil).

A partir dessas iniciativas, cresceu o número de movimentos


republicanos em todo o país, sempre com a forte presença maçônica.

Nesse diapasão, a fim de fortificar esse entendimento, colacionamos


um fragmento da obra do insigne doutrinador maçom José Castellani, acerca
da relação direta da maçonaria com o movimento republicano, verbis:

“A maçonaria brasileira, filha espiritual da maçonaria


francesa e imbuída, portanto, de todo o liberalismo que
marcou as atividades desta, a partir de meados do
século XVIII, sempre teve atuação política e até,
revolucionária marcante, nos episódios fundamentais
da história do Brasil colonial, imperial e republicano.
Assim, a ideia de república, nos meios maçônicos,
estava plenamente madura a partir de 1870, não
tendo sido uma resolução repentina, impensada ou
extemporânea. Apenas se aguardava uma
oportunidade de sucesso e isso ocorreu através do
movimento dos militares. A muitos dos quais não era
estranho o pensamento maçônico, já que maçons eles
também eram”. 11 Grifo nosso

Por derradeiro, para entender de forma cabal o papel da Maçonaria


na Proclamação da República, é necessário ter ciência de que essa Instituição
nunca foi apenas uma instituição exclusivamente filantrópica, mas uma
associação altamente política em sua essência (formadora de opinião na
sociedade), como bem expressou exemplarmente Quintino Bocaiuva 12 em
1897, por ocasião de sua posse no cargo de Grão-Mestre Adjunto do
Grande Oriente do Brasil, verbis:

“(…) se nós nos limitássemos a fazer a caridade, a dar


pensões, a ser sociedade de beneficência, cairíamos no
ridículo de uma organização tão complicada e tão
aparatosa, com cerimonial tão minucioso de palavras,

CASTELLANI, José. A Maçonaria e o Movimento Republicano Brasileiro. São Paulo:


11

Contraponto, 1989, p.63 e 105.

12
“Quintino Bocaiuva foi o único civil a cavalgar, ao lado de Benjamin Constant e do
Marechal Deodoro da Fonseca, com as tropas que se dirigiram ao quartel-general do
Exército brasileiro, na manhã de 15 de novembro, quando da proclamação da República”.
Excerto extraído do link https://pt.wikipedia.org/wiki/Quintino_Bocaiuva

12
sinais, toques e passos, com sessões noturnas secretas,
tão prolongadas, para fins tão insignificantes
plenamente preenchidos, sem tantas formalidades, por
quantas associações, estrangeiras ou nacionais, que se
acham, para esse fim, estabelecidas entre nós. É esta a
contraprova da asserção, tantas vezes por mim
afirmada nesta Assembleia. – A Maçonaria é uma
associação altamente política. Mas qual é essa
política? Tendes o direito de perguntar-me.
Responderei, começando por definir os termos da
controvérsia: – Política é a arte de educar o povo e
dirigi-lo nas vias do progresso e do
engrandecimento, até a consecução dos seus fins no
seio da humanidade. É isto que nós maçons
chamamos de “alta política”; tal qual delineada na
nossa constituição. (…) A nossa política, tão grande
como a nossa instituição, é aquela que nos faz amar o
cristianismo, e detestar o jesuitismo, que nos impele a
estudar e ouvir socialistas e rebater anarquistas; que
nos obriga a aceitar e manter a República e repelir a
monarquia; que nos dá a diferença profunda entre o
jacobirismo e o patriotismo; pois este é um sentimento
de amor, e é aquele um mal sentimento de ódio,
contrário ao nosso lema de fraternidade universal, dos
homens e dos povos”. 13 Grifo nosso

Portanto, a mesma Maçonaria que ajudou a construir o Brasil, norteada


pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sempre seguiu viva.
Como maçons que somos, entendemos nossa herança histórica e a
responsabilidade que carregamos em lutar pela construção do mundo que
queremos.

VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

13
Ver: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Rio de Janeiro, 22(3-4): 144, mai-jun/1897

13
1- HOLANDA, Sérgio B. de “Da Maçonaria ao Positivismo”. In: --. História
Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: 4ª ed., São Paulo: Difel, 1985, T. II,
v. 05, p. 289.
2- BARROS, Roque S. M. “A ilustração brasileira e a idéia de Universidade ”.
São Paulo: Convívio. /Edusp, 1986. p.13.
3- CARVALHO, José Murilo de. “A formação das almas: o imaginário da
República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 129-140.
4- BARATA, Alexandre Mansur. “Império à República (Luzes e sombras: a
ação da Maçonaria Brasileira, 1870-1910)”. Campinas, Ed. Unicamp, 2002.
5- SEVCENKO, N. “Literatura como missão”. 3 ed. São Paulo: Brasiliense,
1989. p. 78.
6- BARROS, Roque op. cit., p. 81.
7- Ver: “Boletim do Grande Oriente do Unido e Supremo Conselho do
Brasil”. Rio de Janeiro, 2 (2-3): 104, fev-mar/1873.
8- HORBACH, Carlos Bastide: “O parlamentarismo no Império do Brasil (II):
representação e democracia”. Brasília-DF: Revista de Informação Legislativa,
a. 44 n. 174 abr./jun., pp. 213-231, 2007
9- GIMENES, João Dias: “Ordem maçônica: preliminares da iniciação ”. 1ª
Edição. São Paulo-SP: Fundação Biblioteca Nacional, 2015.
10- Extraído do artigo encontrado no endereço eletrônico
https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/a-maconaria-
naproclamacao-da-republica/
11- CASTELLANI, José. “A Maçonaria e o Movimento Republicano
Brasileiro”. São Paulo: Contraponto, 1989, p.63 e 105.
12- Extraído do site “https://pt.wikipedia.org/wiki/Quintino_Bocaiuva”
13- Ver: “Boletim do Grande Oriente do Brasil.” Rio de Janeiro, 22(3-4):
144, mai-jun/1897

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