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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO RIO DE JANEIRO – UNIRIO

CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS


LICENCIATURA EM HISTÓRIA – EAD
POLO MIGUEL PEREIRA / RJ

SEGUNDA AVALIAÇÃO A DISTANCIA – AD2


HISTÓRIA DO BRASIL II
PERÍODO: 2020.1

ALUNO: JUAN DA SILVA LEMOS


MATRÍCULA: 18216090044
RESENHA

CARVALHO, José Murilo de. República, democracia e federalismo Brasil, 1870-


1891. Varia hist. [online]. 2011, vol.27, n.45, pp.141-157.

A construção da República Brasileira: utopias e realidades nacionais

Juan da Silva Lemos

Republica, democracia e federalismo: Brasil. 1870 – 1891, é um artigo do


conceituado professor e historiador José Murilo de Carvalho e que tem como função
relatar os acontecimentos que precederam a proclamação da república nacional e alguns
anos após, observando aspectos históricos, sociais, políticos e filosóficos referente à
constituição da república e seus desdobramentos.

O autor, José Murilo de Carvalho, é professor titular do Departamento de


História da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, natural do estado de Minas
Gerais é bacharel em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG, Mestre e Doutor em Ciência Política pela Universidade de Stanford, nos
Estados Unidos e possui Pós-Doutorado na Universidade de Londres. Também é
membro da Academia Brasileira de Letras – ABL e do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – IHGB, autor de algumas obras aclamadas como Os bestializados: Rio de
Janeiro e a República que não foi e A Construção da Ordem – Teatro de Sombras, e
diversas outras que o caracterizam como uma personalidade e principal referência para
estudos de Brasil Império e República.

No artigo, o autor induz um debate sobre as origens do movimento


republicanista brasileiro nos idos do século XIX, analisando as diversas formas de
propaganda e manifestos dos partidos republicanos ali constituídos e suas principais
ideias. Partindo da premissa de república, democracia e federalismo, José Murilo
conduz o debate em seu artigo através de 5 tópicos, ele tenta explicitar a mudança dos
ideários radicais em republicanistas, no qual o autor considera como um grande
retrocesso em vista das mudanças políticas e sociais que foram deixadas de lado, e a
forma que desenhavam a construção da nação, da utopia o qual dá título à essa análise e
as especificidades que estariam estreitamente ligadas a construção da república
brasileira.

O autor tece críticas à forma em que o debate ficou concentrado após a


publicação do Manifesto Republicano de 1870, na forma de governo, entre república ou
monarquia malogrando outros temas de igual ou maior importância. Nesse mesmo ano
de 1870 foi fundado o Partido Republicano com dissidentes do movimento dos liberais
radicais convencidos que não conseguiriam pôr em práticas as reformas que ansiavam.
O grupo surgiu e desenvolveu em maior e menor escala nos estados do Rio de Janeiro e
São Paulo, além dos estados do Sul e do Norte respectivamente, se caracterizando por
uma base sólida de atuação principalmente no estado de São Paulo, com forma
propriamente dita de partido, mantendo livros, conferencias públicas, imprensa,
panfletos, além da organização partidária e disciplina semelhantes ao partido
monárquico.

Entre os principais teóricos republicanos que José Murilo aborda estão Alberto
Sales, Assis Brasil e Silva Jardim e inclui os positivistas Miguel Lemos e Teixeira
Mendes, já que doutrina que os influencia era a o que justificava a fundação da
república. Para eles, a república era uma síntese da ideia de Comte e Stuart Mill, o
positivismo, e inspirava-se no ideal do progresso contínuo da humanidade,
fundamentado na ordem e no conhecimento para alcançar o progresso.

Algumas pautas dos liberais radicais foram incorporadas ao ideário da


república, como a separação da Igreja e do Estado, além do fim do Poder Moderador e a
expansão do sufrágio (voto) para sociedade. As propostas de cunho social foram
relegadas a segundo plano, e alguma delas causavam embaraço aos republicanos, como
a ideia da abolição dos escravos, tanto que o manifesto de 1870 ignorou solenemente o
tema. Entre os republicanos, houve adesão em massa de fazendeiros escravocratas das
lavouras de café, produto em plena exportação no período e base da economia nacional,
logo, uma pauta abolicionista afastaria do movimento esses grupos, tal qual pautas que
promovessem políticas de utilização de terra, a reforma agrária. Embora sendo tratado
como virtude inalienável da democracia, a abolição não foi pautada até a constituinte de
1887, pouco antes da instituição da Lei Áurea, e muitos participantes havia de denunciar
o desvirtuamento dos ideais democráticos, no qual a liberdade se sobrepunha a
escravidão, em detrimento ao privilégio de alguns. Mesmo constituindo um grupo
menor, haviam republicanos abolicionistas, como Luís Gama, Rangel Pestana, Américo
de Campos e Silva Jardim.

Analisando os manifestos e publicações da época, o autor discorre sobre o


principal ponto do debate dos republicanistas, qual a forma de governo a ser adotada?
Nas obras de Assis Brasil e Campos Sales existem também o debate de quem poderia
votar e de toda a construção do processo eleitoral, fica clara uma idealização exacerbada
da forma que o projeto político deveria funcionar, um longo exercício de teorias sem um
teste na prática. Praticamente não faziam distinções as ideias de república e democracia,
o que denota que o imaginário da época ambas seriam convergentes, ficando claro no
Manifesto de 1870.

Em oposição a república estaria a monarquia, o autor cita que os republicanos,


a instituição monárquica era recheada de absurdo e contradições e que não estariam em
consonância com os ideais democráticos. A convergência de república e democracia dó
foi desfeita, segundo José Murilo de Carvalho, no Manifesto de 1888, após a abolição e
redigido por Aníbal Falcão com influencias de Júlio de Castilhos e Silva Jardim. Fica
clara a distinção entre a república e a democracia, sendo esta última, na concepção
comteana, como uma das fases de transição no progresso humano em direção ao estado
positivista.

Um povo que se autogovernasse, argumentando o isolamento do Brasil em


meio aos outros países da américa que já estavam assentados nos ideais republicanos.
Fica bem claro que os republicanos brasileiros em muito inspiravam-se na construção da
uma república tal qual a dos Estados Unidos, o que justifica posteriormente o autor
discutir a narrativa do federalismo na pauta dos republicanos.

O federalismo já pautava entre os republicanos desde o Manifesto de 1870, o


autor destaca o trabalho de Tavares Bastos na luta pela descentralização do poder desde
1860, mesmo ao final do império o federalismo era uníssono entre os republicanos que
divergiam apenas na forma qual deveriam instituir o federalismo. Os paulistas, na
pessoa de Alberto Sales, defenderam o regime como única forma que ofereceria
governabilidade, e com bases filosóficas spencerianas, acreditaram que a evolução
social se assemelharia a evolução biológica, essa preponderância incomodou as demais
províncias, como o Rio Grande do Sul e seu impresso A Federação, com publicações
redigidas por seu mentor Júlio de Castilho, tinha propostas mais enérgicas, como o
separatismo, caso a descentralização de poder não ocorresse. O Federalismo emergiu
com força na constituinte e mais uma vez elencou os exemplos dos Estados Unidos,
Alemanha e até da Argentina, mas ainda com entendimentos bastantes confusos, ora se
apresentando como descentralização, ora confederação, e ora como federação.

Não demorou para que começassem os movimentos para convergir a ideia de


federação com a de democracia, para os conservadores a iniciativa federalista ameaçava
a soberania e união nacional, porém, no Manifesto invertia colocação dos conservadores
alegando, segundo José Murilo, que a federação seria a única garantia da possível
unidade no país, fechando assim o tripé político desenvolvido pelo autor: república –
democracia – federação.

O autor é enfático ao estabelecer que houve uma redução nos temas dentro do
republicanismo, muitos foram deixados de lado na metamorfose dos liberais radicais
para os republicanos, destacando a abolição dos escravos e a reforma agrária,
destacando assim que a principal preocupação no grupo republicano, em seu ponto de
vista e analise de fontes, era o estabelecimento de projeto político, este que era
concorrente ao projeto vigente, no caso a monarquia bragantina. É fato também que os
ideais republicanos brasileiros estavam impregnados do positivismo comteano e do
evolucionismo spenceriano, trocando as influências de liberais radicais por diversos
filósofos do individualismo e do biologismo. Comte foi muito atraente para os
republicanos, justamente por sua filosofia positivista e evolucionista, e que poderia ser
interpretada facilmente colocando a república num patamar acima da monarquia. Do
outro lado, Spencer, adepto a filosofia individualista e uma visão de república que seria
alcançada através da representação, divergindo de Comte, que pautava a república na
forma como se apresentava para sociedade.

José Murilo de Carvalho conclui seu artigo com os desdobramentos da


consolidação da república, a utopia no qual se refere o título de nosso texto, os
primeiros anos da república brasileira em nada se assemelharam as propagandas feitas
por todos os manifestos, a utopia da federação – republica – democracia caiu por terra.
Primeiro, foram os militares que proclamaram a república, desferindo um golpe na
política, talvez o primeiro da república, esta que em menos duma década teve três
presidentes (dois militares e um civil), constantes guerras, instabilidade política e
financeira. A utopia republicana se transformou em última hora em república à
brasileira, trazendo ela a realidade nacional, sendo Campos Sales, responsável por esse
feito, a qual José Murilo de Carvalho se refere como um ato de “fazer política”. Ele
compôs um governo impopular e que nada se assemelhava as propostas republicanas,
mas que estabilizou o regime político.

Nas palavras do autor, o tripé do manifesto perdeu umas das pernas, restando
apenas a república e o federalismo, a democracia foi deixada de lado, Campos Sales se
apoiou nos governadores, resumidamente, nos estados para garantir a governabilidade,
ele tinha plena noção da utopia da democracia, os cidadãos foram substituídos pelos
estados, no que autor se refere como o federalismo engolindo a democracia. Foi
necessário deixar de lado de as utopias republicanas e as sociologias comteanas e
spencerianas para se recorrer uma verdadeira sociologia da realidade brasileira. O autor
deixa claro em sua análise, através da leitura das fontes históricas, que muito se pensou
em relação a república, tomando diversos exemplos externos e de outros países, tal qual
diversas correntes filosóficas e sociológicas, divergentes e convergentes, mas que
nenhuma delas representou êxito na prática, toda a teleológica da república dos
republicanistas brasileiros deve ser substituída por aspectos condizentes à realidade
brasileira, para construir uma república brasileira.

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