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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de

Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Licenciatura em História - EAD

UNIRIO / CEDERJ

AD2 – SEGUNDA AVALIAÇÃO À DISTÂNCIA – 2020.1

DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL

COORDENAÇÃO: MÁRCIA CHUVA

Nome: JUAN DA SILVA LEMOS


Matricula: 18216090044
Polo: MIGUEL PEREIRA

ATIVIDADE PROPOSTA:

Esta atividade tem como objetivo geral introduzir os alunos no intenso debate sobre os
sentidos da patrimonialização de sítios e lugares de memória sensível, em curso no campo do
patrimônio. Para sua realização, os alunos devem assistir ao vídeo Memórias do Cais do
Valongo (acessível no link: https://www.youtube.com/watch?v=l-tGBG9_zBg) e responder
às questões colocadas nos roteiros de observação e análise a seguir.
PARTE 1 – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO:

1 – O vídeo Memórias do Cais do Valongo retrata a história do Cais do Valongo e seus


desdobramentos históricos sociais, políticos e econômicos para a cidade do Rio de Janeiro e
para a nação brasileira. O Cais do Valongo foi construído durante o século XVIII para
receber o desembarque de todos os escravos do continente africano que antes aportariam no
porto onde se localiza atualmente a da Praça XV. Estima-se o desembarque de milhares de
escravos no Cais do Valongo até o ano em que foi proibido o tráfico negreiro, em 1831. O
porto desapareceu durante o "Bota Abaixo" de 1904 conduzido pelo Prefeito Francisco
Pereira Passos para modernização da cidade, sendo redescoberto em 2011, curiosamente,
quando a cidade passava novamente por um processo de modernização.

2 – Na construção de narrativa, a produção do vídeo recorre a entrevista de especialistas em


diversos assuntos relacionados ao Cais do Valongo e seu legado, essas entrevistas conduzidas
no próprio sítio do Cais do Valongo ou em lugares próximos que se desenvolveram a partir
da influência do Cais do Valongo, como a Pedra do Sal, no Memorial dos Petros Novos, por
exemplo. Além das entrevistas, que compõe a base do vídeo, ainda utilizam de trilhas sonoras
para corroborar com tese da influência negra na criação na vida carioca, o candomblé na
religião e o surgimento do samba, música que marca do Rio de Janeiro, com a formação
posterior de grupos de samba, além de ilustrações e pinturas tratando da localização do local,
como mapas do século XVIII e XIX e as possíveis influencias na culinária, linguística e na
vida cotidiana, como a capoeira.

3 – O vídeo se desenvolve em cima de diversos valores, como socias, políticos e


principalmente históricos e culturais. Por exemplo, o desenvolvimento do Cais do Valongo
não se restringiu apenas a área do sítio, que hoje conhecemos como a Praça Mauá, mas se
expandiu por toda zona portuária, chegando ao mangue, hoje Av. Francisco Bicalho,
Leopoldina, Estácio de Sá e Cidade Nova. Essa expansão ao longo do século XIX e início do
século XX contribui na construção da cultura afro-brasileira, mesmo libertos os escravos
continuavam a frequentar a área do Cais do Valongo, onde Heitor dos Prazeres deu a alcunha
a esta de Pequena África. As giras de candomblé, as rodas de sambas, a capoeira são produtos
que surgiram do intercâmbio cultural com os "filhos" do Valongo.

4 – O vídeo conduz entrevistas com personalidades, como o professor Luiz Antônio Simas
que é escritor e historiador, é mestre em História Social pela UFRJ além de ter sido consultor
do MIS-RJ, que no vídeo traduz a importância do Cais do Valongo para a Cultura e Religião,
as Professoras Martha Campos Abreu e Hebe Mattos, doutoras em história pela UFF e pela
UNICAMP, respectivamente, ambas professoras da UFF e coordenadores de projetos
relativos à História Pública da Escravidão e contribuem com a história do Cais do Valongo
relativas a construção e utilização. Também tivemos a colaboração do Professor da Fundação
Educacional de Duque de Caxias - FFCLDC/FEUDUC-RJ, ressaltando os aspectos
econômicos e os impactos políticos posteriores a 1888 e o início do século XX. Além do
professor do PPGHA/UERJ, Maurício Barros de Castro, doutor em História Social pela USP
que revela a importância da Arte e da Musica na formação da sociedade carioca e o papel da
Pequena África nesse processo, Milton Guran, que é antropólogo e fotógrafo, foi ele quem
coordenou a indicação do Cais do Valongo à UNESCO para título de Patrimônio Histórico da
Humanidade, alcançado em 2017 e a história da capoeira formada aqui contada pelo Mestre
Neco do Pelourinho, do grupo de capoeira Só Angola Capoeira Group.

5 – Além da diáspora negra e de ser um dos episódios mais horrendos da civilização, a


escravidão, a preservação do Cais do Valongo é justificada através da importância social, por
lá entraram mais de um milhão de escravos no Brasil, diversas culturas e sabedorias que
inevitavelmente iriam compor hoje o que conhecemos como cultura brasileira. Mas a razão
principal não pode ser sobreposta pelos aspectos positivos da intersecção cultural, essa
intersecção só aconteceu devido o processo de escravidão.

PARTE 2 – ROTEIRO DE ANÁLISE:

1 – Um sítio de memória sensível, são equipamentos patrimonializados que remetem a


tragédias humanas e episódios dolorosos na história da civilização, e que tem como o
objetivo de serem lembrados para impedir que episódios semelhantes voltem a acontecer.
Além do Cais do Valongo, essa seleta lista inclui os campos de concentração de Auschwitz
na Polônia ou a prisão de Robben Island, na África do Sul, onde Nelson Mandela foi preso.

2 – Sim, e a própria UNESCO definiu quando o jubilou como Patrimônio Mundial, o


pequeno ancoradouro de pedras do Valongo foi o destino de milhares de negros capturados
no continente africano e trazidos à força para a América do Sul, a Diáspora Negra. Foi a porta
de entrada para a exploração e sofrimento dos negros nos séculos XVIII e XIX, produzindo
memórias de dor que jamais devem ser esquecidas e repetidas.

3 – O papel do historiador é de contextualizar local com os fatos analisados na historiografia,


além de abordar seus possíveis desdobramentos, o patrimônio serve principalmente como
fonte histórica para embasar sua tese, transformando esse item em objeto de memória, tirando
o item de seu contexto de uso normal e atribuindo a ele uma nova forma, uma nova utilidade,
cria-se então um suporte material para produção do imaginário social que circundaram este
objeto no passado.

4 – O Cais do Valongo é a prova mais contundente da Diáspora Negra fora do continente


africano, sendo objeto de estudo até do projeto Rota dos Escravos de 2013, também da
UNESCO, e é prova do tráfico negro transatlântico dos séculos passados, hoje considerado
um crime contra a humanidade. O sítio representa o principal item de composição da
formação da identidade brasileira, milhares de africanos que chegaram aqui com sua cultura e
trabalho gerariam posteriormente a maior população negra fora da África e a constituição da
cultura brasileira, com samba e carnaval e capoeira, por exemplo.

5 – Num país como o Brasil que tem uma desigual social e racial tão latente, transformar o
Cais do Valongo em Patrimônio da Humanidade representa uma grande vitória para memória
de diversos africanos e seus descendentes. A população negra que viveu durante anos
marginalizada tem seu direito à memória reconhecido com o Cais do Valongo, e também a
valorização da matriz africana nas origens cidade do Rio de Janeiro que vem sofrendo uma
"europeização" ao longo dos séculos. O Rio tem um título vergonhoso, de ter sido o maior
porto escravista das Américas e é importante nos lembramos, para impedir que ocorra
novamente. O Cais do Valongo, assim como todo o complexo da Pequena África são
heranças de um passado nem tão distante, mas que assentaram as bases da sociedade
brasileira, jogam luz ao nosso passado escravista que muitos ainda hoje tentam negar ou
suavizar, algo que nos deixou marcas como nosso racismo estrutural e a desigualdade. O
reconhecimento da memória é uma forma de defini-los como integrantes da nação brasileira,
importante na luta antirracista, já que não é possível oferecer uma reparação direta para
escravidão.

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