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Regina Abreu
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/
Programa de Pós-Graduação em Memória Social
abreuregin@gmail.com
Resumo:
Abstract:
We intent to reflect and debate, in this article, about the relationship between the
Sambaqui archaeological museum of Tarioba in Rio das Ostras and Rio de
Janeiro. These museums are administrated by the Rio das Ostras Cultural
Foundation. The Sambaqui were found casually when they started to make
archaeological work to build a theater. When they realize about the importance
of the things that were found the government started to support the museum.
The duality between the Cultural House and the Regional Museums gives the
opportunity to the visitors to have a guided visitation to de expositions, the
historical places that are regional and local. We will develop some reflections
about the interviews that were taped in videos. *The interviews explains the
relationship between the person that are talking with/and the valorization about
the histories. The utilization of audiovisual issue provides the construction of new
refletions and brings up to light new questions and new perspectives.
Key words: memory and patrimony, history and archeological museum
INTRODUÇÃO
Inicio este texto com uma citação de Walter Benjamin (1989) em uma
tentativa de introduzir e explicitar o contexto em que este trabalho se insere:
movimento, percursos pelo estado do Rio de Janeiro, percepção das
ressonâncias e dos agenciamentos proporcionados pela pesquisa de campo.
Sendo assim, foi necessário decidir uma metodologia a ser seguida para
a realização do projeto e então, iniciamos uma “etnografia dos percursos” pelo
estado “onde vivenciamos a experiência do viajante que percorre uma região,
buscando exercitar um olhar que estranha, que inquire, que indaga, que procura
novos ângulos, novas perspectivas, novas faces de paisagens já vistas e
consagradas”. (ABREU, mimeo).
Foi assim que registramos os percursos que nos levaram a perceber a
valorização e ressignificação da memória e da história indígena no estado:
filmando, fotografando, observando, “flanando” e descobrindo personagens, que
podem ser pessoas, ruas, estradas e, sobretudo, museus, nossos personagens
principais, grandes narradores das cidades. Segundo Janice Caiafa (2007,
p.135), “A etnografia é ao mesmo tempo um tipo de investigação e um gênero
de escritura que se desenvolveu na tradição antropológica. Mas ela surge de
fato com outras tradições e experiências, sobretudo os relatos de viagem”.
Até o final do século XX, Rio das Ostras era um local de refúgio de
moradores de grandes cidades durante o verão. Segundo informações de um
vídeo produzido pela Prefeitura de Rio das Ostras2, até a década de 80 do
1
Dados do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para maiores informações acessar:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=330452# - Acesso em: 16/06/2010.
2
PREFEITURA DE RIO DAS OSTRAS. Fundação Rio das Ostras de Cultura. Sambaqui da Tarioba:
Preservar é Preciso. Rio das Ostras, 2004. (30 min)
século passado, a população local oscilava de acordo com as estações do ano:
grande número de pessoas durante o verão, enquanto no inverno reduzia a
menos da metade se comparada à outra estação. No entanto, com a virada do
século, o cenário da cidade se alterou: enquanto na década de 70 a população
chegava a cinco mil habitantes, no ano de 2004 chegou a quarenta e cinco mil
pessoas com residência fixa. Tal fato se deu devido a prospecção e extração de
petróleo na Região Norte Fluminense, que levou grande número de funcionários
da Petrobrás e de diversas empresas nacionais e estrangeiras a se instalarem
na cidade. Assim, a economia de Rio das Ostras, que antes era basicamente
voltada para o turismo, conquistou novas vertentes, fazendo com que a
prefeitura investisse em mudanças na infra-estrutura da cidade.
3
Em pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 07 de setembro de 2010, constatei que Jorge Pinheiro
é a única pessoa que realiza a visita guiada no museu. Segundo ele, quando há a necessidade de se ausentar
ou volume intenso de trabalho, outros funcionários do museu realizam a visita com informações relatadas
pelo “guia oficial”, sem capacitação prévia.
Em visita guiada pelo Coordenador de eventos da Fundação, Jorge
Pinheiro na primeira etapa da pesquisa de campo realizada em abril de 2009, foi
possível perceber que o momento da história da Casa as quais são feitas mais
referências e norteadas a maioria das exposições refere-se a permanência do
Dr. Bento Costa Jr. que se deu a partir de 19404. Deste modo, ao longo da
visita, nota-se a construção de uma imagem heróica concedida ao médico por
ter sido membro da tropa de saúde enviada em 1918 à I Guerra Mundial,
quando milhares de pessoas eram mortas pelo vírus da Gripe Espanhola no
mundo. Sendo segundo tenente do corpo de saúde do exército brasileiro e por
ocupar a condição de médico e cientista foi diretor do antigo centro de estudos
dos médicos do Banco do Brasil. Na Casa existem móveis e objetos originais da
época em que o médico ali vivia, sendo uma sala dedicada a apresentar sua
memória, contendo objetos pessoais, reportagens de jornais que o exaltam
perante a sociedade local e alguns de seus documentos.
4
Existem contrapontos a essa construção heróica sobre o médico Bento Costa Júnior contada por antigos
moradores da cidade.
por serem famílias “ricas”, mas, por sua importância na história da região.
Segundo Mônica Pereira5, que estagiou em um projeto educacional realizado no
Museu de Arqueologia Sambaqui da Tarioba em 2008, tais pinturas retratam as
parteiras da cidade.
“Na ocasião, a equipe parou na Praça São Pedro, que era bem
mais ampla, sem muitas das construções que hoje circundam a
referida praça, contando somente com a casa que hoje abriga a sede
da Fundação Rio das Ostras de Cultura. Verificaram neste local um
5
Em entrevista realizada em pesquisa de campo no dia 7 de setembro de 2010.
6
Instituição privada de caráter científico localizada em uma fazenda de café do século XVIII, na av
Suburbana, no Rio de Janeiro
7
Entre eles: Sítio Santa Luzia, Sítio Casa da Pedra, Sítio Arqueológico Serramar, Sítio Arqueológico do
Salgado, Sítio da Jaqueira, Sítio Casa Rosa, Sítio Pasto do Cemitério, Sítio Massangana, Sambaqui de
Itapebus
monte de terra preta com muitas conchas e observaram que se tratava
de um sambaqui. A equipe tratou de batizar o sambaqui, já que não
havia um nome para identificar aquele local. Indagou-se sobre o nome
daquela concha específica encontrada no sambaqui – Anomalocardia –
que é conhecida pela população local como Tarioba. Daí o nome
8
Sambaqui da Tarioba.” (TRINDADE, 2004, 37-38)
8
Segundo Trindade (2004), em escavações mais recentes foi encontrada uma quantidade maior de Ostra e
a Tarioba (Anomalacardia) aprece com menor freqüência, no entanto, o IAB reconheceu e registrou como
Sítio Arqueológico Sambaqui da Tarioba, pois havia a preocupação de preservar o nome local.
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Transcrito de: PREFEITURA DE RIO DAS OSTRAS. Fundação Rio das Ostras de Cultura. Sambaqui
da Tarioba: Preservar é Preciso. Rio das Ostras, 2004. (30 min)
Após o contato entre a Fundação Rio das Ostras de Cultura e o Instituto
de Arqueologia Brasileira
“Essa parceria vai se dar por muito e muito tempo porque todo o
material exposto precisa de uma manutenção constante, com técnicos
e museólogos do Instituto, que vem sendo feito periodicamente em
vitrine, nos enterramentos, em todo o material.” (Juber Decco –
10
Técnico em Pesquisa Arqueológica/IAB)
10
Idem 7
11
Idem 7
12
Mais informações sobre povos indígenas e sambaquianos ver: GASPAR (2004), TENÓRIO (2004),
GASPAR, BUARQUE, CORDEIRO e ESCÓRCIO (2007).
“O processo de escavação foi feito da seguinte forma: um longo corte,
com todo o comprimento necessário, acompanhando um muro alto
(atualmente existente), que divide o sítio ao meio e o separa das casas
vizinhas, utilizado como parede do museu. Afastado um metro e meio
de tal parede, o corte tem a largura de dois metros e toda a
profundidade do sítio, onde necessário. Como de praxe, para
localização do material, foram divididos setores identificados em 4m².
Objetivando a mostra ao público, nos setores onde ocorreram
estruturas e evidências de importância, a escavação foi – total ou
parcialmente – paralisada, permanecendo as mesmas em campo,
submetida às mesmas medidas de segurança que foram julgadas
necessárias.” (TRINDADE, 2004, 40)
13
Idem 7
14
Idem 7
Nunca um continente foi esvaziado com tanta violência e com tanta
rapidez como o nosso.” (José Ribamar Bessa Freire)
Neste mesmo dia, após tentar diversas vezes contato sem muito sucesso,
encontrei Mara Moreira Fróes, antiga presidente da Fundação Rio das Ostras de
Cultura, no momento do processo de musealização do sambaqui da tarioba.
Apresentou um relato com conteúdo denso e muito importante para esta
pesquisa, principalmente no que se refere à musealização do sambaqui. A
questão que mais afligia e que eu necessitava tentar esclarecer se dava no
sentido de que eu precisa saber sobre os motivos da “mudança de planos”,
afinal, anteriormente nos fundos da Casa de Cultura Bento Costa Júnior seria
contruído um teatro ao ar livre. Segundo Mara Fróes, este seria um “teatrinho”,
pequeno, que seria construído porque naquele momento, na cidade, ainda não
haviam outros equipamentos culturais, que acabaram sendo construídos
posteriormente (entre eles uma concha acústica e um teatro), no entanto, ao ser
descoberto o sambaqui, eles decidiram construir um museu “in situ” juntamente
com o IAB. Este foi o momento da entrevista que neste trabalho, deve ser
destacado, no entanto, ressalto que esta entrevista possui muitos outros pontos
importantes a serem analisados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LIMA, Maria da Glória d’Almeida. Pérola entre o rio e o mar: História de Rio das
Ostras. 3.ed. Rio das Ostras: Poema, 1998.
FONTES ÁUDIOVISUAIS
FONTES DA WEB