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TIPOLOGIA E GENEROS TEXTUAIS

MUNDO DE MENTIRA
Paulo Pestana
Tem muita gente que implica com mentira, esquecendo -se de que as melhores histórias do mundo
nascem delas: algumas cabeludas, outras mais inocentes, sempre invenções da mente, fruto da criatividade —
ou do aperto, dependendo da situação.
Ademais, se fosse tão ruim estaria na lista das pedras que Moisés recebeu aos pés do monte Sinai,
entre as 10 coisas mais feias da humanidade, todas proibidas e que levam ao inferno; ficou de fora.
A mentira não está nem entre os pecados capitais, que aliás eram ofensas bem antes de Cristo nascer,
formando um rol de virtudes avessas, para controlar os instintos básicos da patuleia. Eram leis. E é preciso
lembrar também que ninguém colocou a mentira entre os pecados veniais; talvez, seja por isso que o mundo
minta tanto, hoje em dia.
E tudo nasceu na forma mais poética possível, com os mitos — e não vamos falar de presidentes aqui
— às lendas, narrativas fantásticas que serviam para educar ou entreter. Entre tantas notícias falsas, há muitas
lendas que, inclusive, explicam por que fazemos tanta festa para o ano que começa.
Os japoneses, por exemplo, contam que um velhinho, na véspera do ano -novo, não conseguiu vender
os chapéus que fabricava e colocou -os na cabeça de seis estátuas de pedra; chegou em casa coberto de neve e
sem um tostão. No dia seguinte, recebeu comida farta e dinheiro das próprias estátuas, para mostrar que a
bondade é sempre reconhecida e recompensada.
Os brasileiros vestem roupas brancas na passagem do ano, mas poucos sabem que esta é uma tradição
recente, de pouco mais de 50 anos, e que veio do candomblé, mais precisamente da cultura yorubá, com os
irúnmolés’s funfun — as divindades do branco. E atenção: para eles, o regente de 2019 é Ogum, o guerreiro,
orixá associado às forças armadas, ao mesmo tempo impiedoso, impaciente e amável. Ogunhê!
Mas na minha profunda ignorância eu não conhecia a lenda da Noite de São Silvestre, que marca a
passagem do ano. E assim foi -me contada pelo Doutor João, culto advogado, entre suaves goles de vinho —
um Quinta do Crasto Douro (sorry, periferia, diria o Ibrahim Sued).
Disse -me ele: ao ver a Virgem Maria desolada contemplando o Oceano Atlântico, São Silvestre se
aproximou para consolá -la, quando ela disse que estava com saudades da Atlântida, o reino submerso por
Deus, em resposta aos desafios e à soberba de seu soberano e dos pecados de seu povo. As lágrimas da
Virgem Maria — transformadas em pérolas — caíram no oceano; e uma delas deu origem à Ilha da Madeira —
chamada Pérola do Atlântico, na modesta visão dos locais — ao mesmo tempo em que surgiram misteriosas
luzes no céu, que se repetiriam por anos a fio; e é por isso que festejamos a chegada do ano - novo com fogos
de artifício.
Aliás, agora inventaram fogo de artifício sem barulho para não incomodar os cachorros. A próxima
jogada politicamente correta será lançar fogos sem luz para não perturbar as corujas buraqueiras. E isso está
longe de ser lenda: é só um mundo mais chato.

QUESTÃO 01 - Quanto a tipologia textual predominante no texto assinale a alternativa correta.

A) Narrativa.
B) Descritiva.
C) Argumentativa.
D) Expositiva.

CIRCUITO FECHADO
Ricardo Ramos
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel,
espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio,
maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis,
canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro,
fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,
cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadronegro, giz,
papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de
cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel,
cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro,
fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e
caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras,
pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona.
Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama,
travesseiro.

QUESTÃO 02 - A respeito da tipologia desse texto, é correto afirmar que ele é:

A) dissertativo-argumentativo.
B) dissertativo-expositivo.
C) descritivo.
D) narrativo.

VIVER EM SOCIEDADE
Dalmo de Abreu Dallari
A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a
fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. Sem vida em sociedade, as
pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir
alimentação e abrigo.
E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade, com hábitos que tornam
necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. Mas
as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os
meios de transportes e os cuidados de saúde.
Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e
sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano
tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças.
Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida,
mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse
apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande
quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a
tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada de dar e receber afeto. E muito
provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo.
Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é
preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida
social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de
apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as
pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem,
têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos.
Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam
que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais.

QUESTÃO 03 - Quanto à tipologia, o texto apresenta as características de um(a):

A) Carta.
B) Artigo de opinião.
C) Debate.
D) Crônica.
O MEDO QUE DIVIDE OS DOIS BRASIS
A primeira reação à estridência em torno do banditismo é o medo. Do medo à defesa pessoal o passo é
pequeno. E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos
guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos.
Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a
polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser. O que não se explica é como será o país que
se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada
vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. Não existe país
viável baseado na exclusão de uma categoria de cidadãos. [...] A segregação e a exclusão não podem ser as vigas
mestras para fazer uma civilização democrática.
As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente,
é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou
de triliardários. Os problemas das grandes cidades do Brasil não são simplesmente policiais ou urbanos. São
problemas sociais. A concentração de renda, os desníveis nas condições de vida, os extremos de riqueza e pobreza
abrem um fosso dividindo o país. Fazendo com que uma parte tenha medo da outra. O desafio, portanto, é de outra
natureza: em vez de separar com muros, é preciso juntar os Brasis, fazê-lo justo e democrático.

QUESTÃO 04 - O texto, “O medo que divide os dois Brasis”, é quanto ao gênero textual classificado como:

A) Argumentativo.
B) Expositivo.
C) Injuntivo.
D) Narrativo.

O CINZEIRO
Mário Viana
Procura -se um martelinho de ouro. Aceitam -se indicações de profissionais pacientes e com certa
delicadeza para restaurar um cinzeiro que está na família há mais de cinco décadas. Não se trata de joia de
valor financeiro incalculável, mas de uma peça que teve seus momentos úteis nos tempos em que muita gente
fumava. Hoje, é apenas o símbolo de uma época.
Arredondado e de alumínio, o cinzeiro chegou lá em casa porque meu pai o ganhara de presente de
seu patrão, o empresário Baby Pignatari – como ficou mais conhecido o napolitano Francisco Matarazzo
Pignatari (1917 - 1977). Baby misturou na mesma medida as ousadias de industrial com as estripulias de
playboy. No corpo do cinzeiro destaca -se um “P” todo trabalhado em relevo.
Nunca soube direito se meu pai ganhou o cinzeiro das mãos de Baby ou de sua mulher, a dona Ira – era
assim que a princesa e socialite italiana Ira von Furstenberg era conhecida lá em casa. Só muitos anos depois,
já adulto e jornalista formado, descobri a linha de nobreza que fazia de dona Ira um celebridade internacional.
[...]
Pois esse objeto que já passou pelas mãos de uma princesa – italiana, mas principessa, que diacho –
despencou outro dia do 12º andar até o térreo. Amassou, coitado. A tampa giratória ficou toda prejudicada E o
botão de borracha que era pressionado também foi para o devido beleléu.
Mesmo assim, não acredito em perda total. Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e
devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de
uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.
Praticamente aposentado – a maioria dos meus amigos e eu deixamos de fumar –, o cinzeiro ocupava
lugar de destaque na memorabilia do meu hipotético museu pessoal. Aquele que todos nós criamos em nosso
pensamento mais secreto, com um acervo repleto de pequenos objetos desimportantes para o mundo.
Cabem nessa vitrine imaginária o primeiro livro sério que ganhamos, com a capa rasgada e meio
desmontado; o chaveiro que alguém especial trouxe de um rolê mochileiro pelos Andes; o LP com dedicatória
de outro alguém ainda mais especial; uma caneca comprada na Disney; o calção usado aos 2 anos de idade... e
o velho cinzeiro carente de reparo.
QUESTÃO 05 - Assinale a alternativa que apresenta corretamente o gênero textual do texto acima.

A) Anúncio.
B) Narração.
C) Conto.
D) Crônica.

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CAXIAS DO SUL


Publicidade Infantil: perigoso artifício
Uma criança imitando os sons emitidos por porcos já foi atitude considerada como falta de educação. No entanto,
após a popularização do programa infantil "Peppa Pig", essa passou a ser uma cena comum no Brasil. O desenho
animado sobre uma família de porcos falantes não apenas mudou o comportamento dos pequenos como também
aumentou o lucro de uma série de marcas que se utilizaram do encantamento infantil para impulsionar a venda de
produtos relacionados ao tema. Peppa é apenas mais um exemplo do poder que a publicidade exerce sobre as
crianças.

Os nazistas já conheciam os efeitos de uma boa publicidade: são inúmeros os casos de pais delatados pelos
próprios filhos − o que mostra a facilidade com que as crianças são influenciadas. Essa vulnerabilidade é maior até os
sete anos de idade, quando a personalidade ainda não está formada. Muitas redes de lanchonetes, por exemplo,
valem-se disso para persuadir seus jovens clientes: seus produtos vêm acompanhados por brindes e brinquedos.
Assim, muitas vezes a criança acaba se alimentando de maneira inadequada na ânsia de ganhar um brinquedo.

A publicidade interfere no julgamento das crianças. No entanto, censurar todas as propagandas não é a solução. É
preciso, sim, que haja uma regulamentação para evitar a apelação abusiva − tarefa destinada aos órgãos
responsáveis. No caso da alimentação, a questão é especialmente grave, uma vez que pesquisas mostram que os
hábitos alimentares mantidos até os dez anos de idade são cruciais para definir o estilo de vida que o indivíduo terá
quando adulto. Uma boa solução, nesse caso, seria criar propagandas enaltecendo o consumo de frutas, verduras e
legumes. Os próprios programas infantis poderiam contribuir nesse sentido, apresentando personagens com hábitos
saudáveis. Assim, os pequenos iriam tentar imitar os bons comportamentos.

Contudo, nenhum controle publicitário ou bom exemplo sob a forma de um desenho animado é suficiente sem a
participação ativa da família. É essencial ensinar as crianças a diferenciar bons produtos de meros golpes
publicitários. Portanto, em se tratando de propaganda infantil, assim como em tantos outros casos, a educação
vinda de casa é a melhor solução. - Redação de Larissa Freisleben, nota mil no Enem.

QUESTÃO 06 - O texto segue uma linha de um gênero em que o autor tece uma ideia a partir de um ponto de vista.
Esse tipo de texto, é denominado:

A) Dissertação.
B) Descrição.
C) Injuntivo.
D) Narrativo.

ÍNDIO
Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras
e metais preciosos, especiarias.
Tudo isso passou a ter um valor extraordinário para os europeus do século XV (a canela chegou a valer mais do
que o ouro!). E assim as grandes navegações para a Ásia se tornaram financeiramente atrativas.
O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam
isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem
à Índia.
Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre
adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a
Terra era redonda.
Acertou na forma, mas errou no cálculo do diâmetro. Colombo chega às Bahamas, em 12 de outubro, e acha
que alcançou a Índia. Por isso, ao ver uns selvagens locais, Colombo os chama de índios. Pronto, o nome ficou e o
erro se consagrou: a partir daí, todo selvagem, nu ou seminu, passou a ser chamado de índio.

QUESTÃO 07 - O texto acima pertence ao gênero

A) informativo.
B) publicitário.
C) didático.
D) normativo.

MORRA BEM
Um dos meus textos mais conhecidos chama-se A morte devagar, que publiquei na véspera de Finados de 2000 e
que logo ganhou o mundo com o título Morre Lentamente. No início foi equivocadamente atribuído a Pablo Neruda,
por isso o espalhamento e seu sucesso. Passado tanto tempo, já me devolveram a autoria e hoje esse texto virou
canção na França e entrou no roteiro de um filme italiano – sem falar nas traduções para o espanhol, que alguns
desconfiados ainda acreditam ser seu idioma de origem.

Na época, aproveitando a proximidade do Dia dos Mortos, escrevi puxando as orelhas (não os pés) daqueles que
morrem em vida: os que evitam o risco, a arte, a paixão, o mistério, as viagens, as perguntas - apenas atravessam os
dias respirando.
Hoje, dia de Finados, 17 anos depois, reitero: não morra lentamente. Morra rápido, de uma vez só, sem delongas.
Morra quantas vezes for necessário.

Quando fiz meu mapa astral, ouvi da astróloga: “Você tem dificuldade de lidar com ambivalências, gosta das coisas
esclarecidas, para o bem ou para o mal”. E ela concluiu: “Morrer é algo que você faz bem. Ficar em banho-maria,
não”.
Sombrio? Soturno? Ao contrário. Entendi com clareza sobre o que ela falava. Morte é a antessala da luz. Não a
morte definitiva, que encerra o assunto, mas as diversas mortes em vida, os vários falecimentos a que somos
submetidos. É preciso morrer bem enquanto se vive.

Cada final de amor é uma pequena morte, por exemplo. Morre lentamente quem fica alimentando fantasias de
retorno, planejando vinganças, cultivando lembranças com naftalina. Sei que dói, mas não deixe esse amor
definhando na UTI, dê logo a extrema-unção, acabe com isso, morra rápido, morra de vez, para que possa renascer
ligeiro também.

Finais de carreira, finais de amizade, finais de ciclo: mortes que acontecem aos 30, aos 40 anos, em qualquer idade.
Dói, dói demais, não estou negando a dor, mas o que você prefere? As dúvidas, as ilusões, o apego? Prefere a
sobrevida a uma vida nova? Confie na experiência de quem já se enterrou algumas vezes. Morra. Morra bem
morrido, baby.

Final de juventude, final da faculdade, final de uma viagem de intercâmbio: vai ficar agindo como se tivesse 18 anos
para sempre? Mate o garoto, renasça adulto.

A morte daqueles que amamos é trágica, mas nossa própria morte, não. Ela é uma contingência de nossa longa
existência, e essa não é uma frase cínica, simplesmente é assim. Nossos sonhos morrem. Nosso passado morre.
Nossas crenças, nossas fases. Fazer o quê? Morra bem. Morra com categoria. Com dignidade. O menos lentamente
possível. Morra de morte bem arrematada, uma, duas, três mil vezes, morra em definitivo sempre que for exigido,
para sobrar tempo.

Tempo para a vida em frente.

QUESTÃO 08 - O texto acima é classificado como:

A) reportagem.
B) conto
C) editorial.
D) crônica.

MESTRE CAMISA: DEDICAÇÃO À CAPOEIRA


Baiano radicado no Rio, Mestre Camisa levou a capoeira a mais de 60 países
RIO - “Não tem erro. É só dirigir até Itaboraí e pegar a estrada para Cachoeiras de Macacu. Me liga quando estiver
chegando que eu espero vocês na segunda queijaria”, diz o Mestre Camisa, pelo telefone, informando as
coordenadas do sítio onde ele mora e organiza encontros nacionais e internacionais e aulas de capoeira. O sotaque é
a mistura equilibrada de um baiano radicado no Rio que, há 16 anos, foi morar no interior do estado. Encontramos o
capoeirista na RJ-116 e seguimos sua picape numa estradinha de barro espremida entre uma encosta e um charco.
Logo depois de um enorme pé de açaí, fica a entrada do sítio, um lugar idílico, onde pavões, araras, gansos e
papagaios ficam soltos o tempo todo. Voam embora, mas voltam. Há uma capelinha de São Jorge no pé de um
pequeno morro e, espalhados num imenso gramado, amplos quiosques construídos para o treino da arte que, como
define Camisa, “engravidou na África e nasceu no Brasil”.

— Este lugar é um quilombo moderno, de resistência contra o estresse da cidade grande — explica José Tadeu
Carneiro Cardoso, de 58 anos, que batizou o local de Centro Educacional Mestre Bimba, em homenagem ao criador
da chamada capoeira regional e seu mentor na adolescência em Salvador. — Luto para preservar a memória dele. A
capoeira é patrimônio imaterial do Brasil. A melhor forma de manter sua história é cuidar do legado dos mestres.

Camisa deixa seu pequeno paraíso e vem ao Rio pelo menos duas vezes por semana, para acompanhar aulas e
participar de reuniões. Está sempre confabulando algo. No momento, organiza o recém-criado Instituto Mestre
Camisa e trabalha na produção do festival que, em agosto, vai comemorar os 25 anos da Associação Brasileira de
Apoio e Desenvolvimento da Arte-Capoeira (Abadá-Capoeira), criada por ele. Mais de cinco mil “seguidores” estarão
na Fundição Progresso, na Lapa, para três dias de shows e atividades envolvendo as artes da capoeira (dança, luta,
música, artesanato etc.).

Vai ser uma celebração da própria vida de Camisa. Ele tinha 16 anos quando veio parar no Rio ao final de uma turnê
que costurou o país com apresentações de capoeira e música baiana. Antes de criar seu próprio método de ensino e
filosofia, o nordestino integrou o Grupo Senzala durante anos. O primeiro aluno foi um gaúcho que tinha visto o
show do “Furacões da Bahia”. Na época, Camisa ainda morava num quartinho da academia em Laranjeiras onde
dava aulas. Hoje, ele bate no peito ao dizer que ensinou capoeira a milhares de pessoas no mundo.

O capoeirista já esteve em mais de 60 países para ministrar palestras e cursos. Este ano, foi inaugurado o Complexo
Residencial Mestre Camisa, conjunto habitacional na cidade de Romilly-sur-Seine, na França. Por causa do seu
trabalho de pesquisa e divulgação da cultura brasileira, recebeu até título de doutor honoris causa da Universidade
Federal de Uberlândia. Além disso, a Abadá-Capoeira está envolvida em mais de 150 projetos sociais. São cerca de
15 mil pessoas beneficiadas com aulas gratuitas. Há ainda campanhas sociais, com nomes como “Capoeirista sangue
bom”, de doação de sangue para o Hemorio, e “Meu berimbau pede paz”, contra a violência. Mestre Camisa virou
uma espécie de diplomata da cultura nacional.

— Pessoas de vários países aprendem a jogar e querem saber como surgiu nossa arte. A história da capoeira é mais
importante que o jogo. O que é mais bonito que o homem lutar pela liberdade? — argumenta Camisa, referindo-se
ao nascimento da luta, criada por escravos para se defender dos feitores dos engenhos. — Como eu só falo
português nas aulas, os gringos aprendem até o idioma. Não tem tradução para palavras como ginga e manha.
Sob a perspectiva da divulgação da capoeira, o sociólogo e professor Muniz Sodré atribui ao baiano lutador a
sucessão do Mestre Bimba, de quem também foi pupilo.

— Camisa tem uma cabeça universitária sem nunca ter passado por faculdade. Sabe misturar a prática do jogo com o
sentido de preservar a cultura. Além disso, é um “poliartista”, que luta, canta, compõe e toca bem o berimbau —
elogia Sodré. — A capoeira faz mais pela cultura brasileira no exterior do que adidos culturais em embaixadas.

Em suas viagens, sempre como convidado para eventos, Camisa viveu de tudo. Terremotos no Japão a bombardeios
em Israel. Durante um voo doméstico em Angola, ficou sabendo que o aeroporto da cidade de Benguela, para onde
estava indo, havia sido atacado (o país africano estava em guerra civil). Hoje, a frequência das viagens diminuiu
bastante. O mestre prefere ficar perto da mulher e dos três filhos, com idades de 33, 23 e 13 anos, todos de
casamentos diferentes.

— Eles moram no Rio, mas passam o fim de semana comigo. Chega de viajar tanto. Sem gastar um centavo do meu
bolso, percorri o mundo. Agora, deixo as pessoas virem ao meu quilombo respirar ar puro.

QUESTÃO 09 - De acordo com o gênero textual, o texto acima é classificado como:

A) biografia.
B) entrevista.
C) crônica.
D) conto.

A NOVA JUVENTUDE

O que não falta é frase satirizando a primeira etapa da vida. Exemplo: A juventude é um defeito facilmente superável
com a idade. Outro: A juventude é uma coisa maravilhosa, pena desperdiçá-la em jovens. Quem ultrapassou essa
fase dourada hoje olha para ela com certo desprezo - Não de todo equivocado: a maturidade, de fato, se não é nosso
período mais fértil, certamente é o mais sabido. Algum benefício tinha que haver nessa tal passagem do tempo.

No entanto, em vez de fazer coro com a soberba habitual dos maduros, vale dar uma espiada mais generosa para a
garotada. Afora os neorretardados que proliferam nas redes esbanjando pobreza de espírito, a geração atual tem
uma postura mais humanizada em relação a questões importantes da vida. Vale a pena escutá-los.

O tema da homossexualidade, ainda debatido à exaustão na mídia, já saiu de pauta entre os adolescentes. Nada
mais natural do que meninos e meninas namorarem parceiros do mesmo sexo. Ser favorável ou desfavorável à causa
gay? Concordo com eles: chega a ser constrangedor a gente se declarar a favor ou contra o que não nos diz respeito.
É muita arrogância.

Quanto à busca por uma profissão, mudanças visíveis também. O dinheiro continua sendo uma preocupação, mas já
não ocupa o topo das paradas. O que se deseja é fazer diferença para a sociedade, trabalhar no que se gosta,
personalizar sua atuação, deixar marcada uma ideia, uma consciência, um caminho diferente, um novo olhar. Nem
que para isso se invente uma profissão que nunca existiu, que se formalizem atividades que antes não eram
consideradas. O estudar segue fundamental, mas a sequência colégio-vestibular-faculdade vem ganhando
bifurcações. Se a felicidade não estiver na vida sólida e estável que os pais sonharam, paciência. Os sonhos dos
velhos terão que se adaptar a uma realidade menos regrada.

Sim, ainda existem os adolescentes convencionais, que sonham com casamentos convencionais e empregos
convencionais e que querem enriquecer, consumir e ser “alguém”. A diferença é que esse “alguém” padrão, que se
amparava em hierarquias para estabelecer juízos de valor, não representa o jovem moderno que quer construir uma
sociedade mais horizontalizada. A noção de riqueza está mudando de foco: ir para o trabalho de bicicleta pode dar
mais status a um profissional do que conquistar uma vaga no estacionamento reservado aos patrões.
Outro dia falava sobre tatuagens com duas garotas e me peguei aplicando o velho discurso a respeito do cuidado
que elas deveriam ter antes de tomar decisões definitivas. Foi quando me dei conta de que até o definitivo mudou
de configuração. Elas não veneram o “pra sempre” – o que acho ótimo, mas então por que fazer uma tatuagem?
Simplesmente para homenagear uma etapa da vida. Não haverá arrependimento se o assunto não for levado com
tanto drama. Tatuagem deixou de ser uma condecoração vitalícia. Nada mais é vitalício.

Basta que seja sustentável.

QUESTÃO 10 - De acordo com o gênero textual, o texto acima é classificado como:

A) parábola.
B) conto.
C) crônica.
D) editorial.
GABARITO

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
C C B A D A A D B C

Em caso de solicitação de recurso para alguma QUESTÃO, envie para o e-mail:


bizuconcursop@gmail.com
Nossa ouvidoria terá até dois dias úteis para responder à solicitação.

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